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Aline Horst Luciane Heffel de Oliveira Talita Fassini Barili

Gêneros textuais marcuschi

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Page 1: Gêneros textuais   marcuschi

Aline Horst

Luciane Heffel de Oliveira

Talita Fassini Barili

Page 2: Gêneros textuais   marcuschi

Capítulo 2: Gêneros Capítulo 2: Gêneros textuais no ensino de textuais no ensino de

LínguaLíngua

Luiz Antônio Marcuschi

Aluna: Aline Horst

Page 3: Gêneros textuais   marcuschi

2.1. O estudo dos gêneros não é novo, mas está na moda

O estudo dos gêneros não é novo. O que hoje se tem é uma nova visão do mesmo tema.

Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula apenas à literatura, mas “para

referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com os

sem aspirações literárias”(p. 147)

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Para Aristóteles há três elementos compondo o discurso:

aquele que fala;

aquilo sobre o que se fala e;

aquele a quem se fala.

Num discurso operam três tipos de ouvinte:

como espectador que olha o presente;

como assembléia que olha o futuro;

como juiz que julga sobre coisas passadas.

A esses três julgamentos associa três gêneros de discurso retórico:

discurso deliberativo;

discurso judiciário;

discurso demonstrativo (epidítico)

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DISCURSO DELIBERATIVO: aconselhar/desaconselhar, voltado para o futuro por ser exortativo por

natureza;

DISCURSO JUDICIÁRIO:

acusar ou defender e reflete-se sobre o passado;

DISCURSO DEMONSTRATIVO:

caráter epídico, ou seja, de elogio ou censura, situando-se na ação

presente.

Page 6: Gêneros textuais   marcuschi

Carolyn Miller (1984): gêneros são uma “forma de ação social”. Um

“artefato cultural” importante como parte integrante da estrutura

comunicativa de nossa sociedade.

Objetivo hoje é distinguir as idéias de que gênero é: uma categoria

cultural, um esquema cognitivo, uma forma de ação social, uma estrutura textual, uma forma de organização

social, uma ação retórica.

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2.2. O estudo dos gêneros mostra o funcionamento da sociedade

Charles Bazermann (2005: 19-46) trabalha a noção de fato social: “é aquilo em que as pessoas acreditam e passam a tomar como se fosse verdade, agindo de acordo com essa crença. Muitos fatos sociais são realidades constituídas tão-somente pelo discurso situado.”(p. 150)

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Pergunta: Por que os membros de comunidades discursivas específicas usam a língua da maneira

como o fazem?

Bhatia (1997: 629): “(...) há aí ações de ordem comunicativa com estratégias

convencionais para atingir determinados objetivos”(p. 150). Cada

gênero textual tem um propósito bastante claro que o determina e lhe dá

uma esfera de circulação. A variação dos entendimentos existentes é um

problema atual nos estudos de gêneros .

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“Na realidade, o estudo dos gêneros textuais é hoje uma fértil área interdisciplinar, com atenção especial para a linguagem em funcionamento e para as atividades culturais e sociais. Desde que não concebamos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social (Miller, 1984) corporificadas na linguagem, somos levados a ver os gêneros como entidades dinâmicas, cujos limites e demarcação se tornam fluidos” (p. 151)

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2.3. Algumas perspectivas para o estudo dos gêneros

No Brasil:

1- linha bakhtiniana: com a perspectiva vygotskyana socioconstrutivista da Escola de Genebra (Schneuwl/Dolz) e com o interacionismo sociodiscursivo de Bronckart. (PUC-SP)

2- “swalesiana”: linha da escola norte-americana mais formal e influenciada por John Swales (1990).

3- sistêmico-funcional: Escola Australiana de Sydney, alimentada pela teoria de Halliday com interesses na análise lingüística dos gêneros.

4- mais geral: influência de Bakhtin, Adam, Bronckart, Bazermann, Miller, Kress, Fairclough.

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Perspectivas pelo mundo:

1- sócio-histórica e dialógica (Bakhtin);

2- comunicativa (Steger, Gülich, Bergmann, Berkenkotter);

3- sistêmico-funcional (Halliday): texto e contexto...;

4- sociorretórica de caráter etnográfico voltado para o ensino de segunda língua (Swales, Bhatia): estágios na estrutura do gênero;

5- interacionista e sociodiscursiva de caráter psicolingüístico e atenção didática voltada para a língua materna (Bronckart, Dolz, Schneuwly): perspectiva geral de caráter psicolingüístico ligado ao sociointeracionismo;

6- análise crítica (Fairclough, Kress): Gênero como tipo particular de atividade social;

7- sociorretórica/sócio-histórica e cultural (Miller, Bazermann, Freedman): gênero com atenção para a compreensão do funcionamento social e histórico, bem como sua relação com o poder.

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2.4. Noção de gênero textual, tipo textual e domínio discursivo

A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual;

Bronckart (1999; 103) “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (p. 154)

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ConceitosTipo textual: designa uma espécie de

construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo). O tipo caracteriza-se muito mais como seqüências lingüísticas (retóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar. Quando predomina um modo num dado texto concreto, dizemos que esse é um texto argumentativo ou narrativo etc.

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Gênero textual: são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. São entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio listagens abertas. São formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas. Exemplos: telefonema, sermão, carta pessoal, carta comercial, resenha, cardápio de restaurante, bate-papo no computador...

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Domínio discursivo: não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles. São práticas discursivas nas quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e instauradoras de relações de poder (discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.).

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“Não se pode tratar o gênero de discurso independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades humanas” (p. 155)

Gêneros e tipos não são opostos, não formam uma dicotomia. São complementares e integrados, formas constitutivas do texto em funcionamento.

Carta pessoal: possui uma variedade de seqüências tipológicas, em que predominam descrições e exposições.

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Barros (2004): sobre o domínio pedagógico

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“Gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas em que predominam os aspectos relativos a funções, propósitos, ações e conteúdos. A tipicidade de um gênero vem de suas características funcionais e organização retórica” (p. 159).

Carolyn Miller (1984): “os gêneros são formas verbais de ação social estabilizadas e recorrentes em textos situados em comunidades de práticas em domínios discursivos específicos. Assim os gêneros de tornam propriedades inalienáveis dos textos empíricos e servem de guia para os interlocutores, dando inteligibilidade às ações retóricas. São entidades dinâmicas, históricas, sociais, situadas, comunicativas, orientadas para fins específicos, ligadas a determinadas comunidades discursivas, ligadas a domínios discursivos, recorrentes e estabilizadas em formatos mais os menos claros”(p. 159).

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Por serem sócio-históricos e variáveis, tornou-se muito difícil fazer uma classificação de gêneros, o que deixou de ser preocupação dos estudiosos. Hoje procura-se explicar como eles se constituem e circulam socialmente.

Maingueneau (2204) propôs uma divisão dos gêneros em três grandes conjuntos partindo do seu regime de generecidade:

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Gêneros autorais: mantêm um caráter de autoria pelos traços de estilo. Situam-se na literatura, no jornalismo, na filosofia...

Gêneros rotineiros: comuns no dia-a-dia. Realizam-se em entrevistas radiofônicas, consultas, médicas... Não mudam muito de situação para situação e suas marcas autorais de manifestam menos.

Gêneros conversacionais: gêneros de menor estabilidade e sem organização temática previsível como as conversações.

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O próprio autor mudou a classificação pela inadequação do termo “rotineiro”. Ele defende que se distinga:

- Regime de gêneros conversacionais

- Regime de gêneros instituídos (conteria gêneros autorais e rotineiros)

“Todos os textos realizam um gênero e todos os gêneros realizam seqüências tipológicas diversificadas (...) os gêneros são em geral tipologicamente heterogêneos”(p. 160). Exemplo: telefonema.

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2.5. Gêneros textuais como sistema de controle social

“Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder”(p. 161).

O aspecto discursivo vai muito além do objetivo de comunicação e de informação. É muito mais uma forma de vida e uma forma de ação (Wittgenstein).

A linguagem está presente na vivência cultural humana. Todos os nossos textos situam-se nas vivências estabilizadas em gêneros. A língua é uma atividade sociointerativa de caráter cognitivo, sistemática e instaurada de ordens diversas na sociedade. O funcionamento de uma língua é um processo de integração social. (p. 163)

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2.6. A questão da intergenericidade: que nomes dar aos gêneros?

É difícil nomear cada gênero de texto, pois eles se imbricam e interpenetram para constituírem novos gêneros.

Gêneros são nomeados com base em alguns critérios. Muitas vezes o nome surge em atenção ao propósito comunicativo ou função.

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Intergenericidade -> um gênero com a função de outro;

Heterogeneidade tipológica -> um gênero com a presença de vários tipos.

Na imprensa: contaminação de gêneros e hibridização para chamar mais a atenção e motivar a leitura.

Livro didático: constitui um todo feito de partes que mantêm suas características. Autor defende a posição de que o livro didático é um suporte e não um gênero. (p.170)

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Capítulo 2: Gêneros Capítulo 2: Gêneros textuais no ensino de textuais no ensino de

LínguaLíngua

Luiz Antônio Marcuschi

Aluna: Talita F. Barili

Page 26: Gêneros textuais   marcuschi

2.7 A questão intercultural “A escolha de um gênero que pode ser usado para

servir a uma certa função interativaem nossa cultura

pode se tornar inadequada numa situação cultural

diferente. Um sinólogo alemão, que trabalhava como

intérprete em encontros de negócios entre

comerciantes chineses e alemães, apontou a

preferência dos comerciantes alemães por contar

piadas em negociações comerciais. Para os chineses,

é considerado inapropriado contar piadas durante

encontros de negócios, e as piadas não são esperadas

neste contexto.”

Da mesma forma, o uso de provérbios tanto na

oralidade como na escrita chinesa é um sintoma de

boa educação.

Page 27: Gêneros textuais   marcuschi

Um aspecto importante a tratar é o problema da

variedade cultural dentro de um mesmo país e como

isso deveria ser encarado pelo próprio livro didático.

Estes deveriam oferecer um ensino culturalmente

sensível, tendo em vista a pluralidade cultural. Não

se deveria privilegiar o urbanismo elitizado, mas

frisar a variação lingüística, social, temática, de

costumes, crenças valores etc.

A vivência cultural humana está envolta em

linguagem e todos os textos situam-se nessas

vivências estabilizadas simbolicamente. Isto é um

convite claro para o ensino situado em contextos

reais da vida cotidiana.

Page 28: Gêneros textuais   marcuschi

2.8 A questão do suporte de gêneros textuais Equivocam-se os manuais quando falam no dicionário

como portador de gênero, pois ele próprio é um

gênero. Enquanto que a embalagem é um suporte e

não um gênero.

A idéia central é que o suporte não é neutro e o

gênero não fica indiferente a ele.

O suporte é imprescindível para que o gênero circule

na sociedade e deve ter alguma influência na

natureza do gênero suportado.

Suporte -> Um locus físico ou virtual com

formato específico que serve de base ou

ambiente de fixação do gênero

materializado como texto.

Page 29: Gêneros textuais   marcuschi

Suporte é um lugar (físico ou virtual)

Suporte tem formato específico

Suporte serve para fixar e mostrar o texto.

É muito difícil contemplar o contínuo que surge na

relação entre gênero, suporte e outros aspectos, pois

não se trata de fenômenos discretos e não se pode

dizer onde um acaba e outro começa.

Exemplo:

Carta pessoal (GÊNERO) –> Papel-carta (SUPORTE) –>

Tinta (MATERIAL DA ESCRITA) -> Correios (SERVIÇO DE

TRANSPORTE)

Page 30: Gêneros textuais   marcuschi

Não é fácil estabelecer a mesma cadeia para todos

os gêneros, mas isso serve para pensar as unidades

componentes dessa cadeia.

O suporte firma ou apresenta o texto para que se

torne acessível de certo modo e, não deve ser

confundido com o contexto nem com a situação,

nem com o canal em si, nem com a natureza do

serviço prestado. O suporte não é neutro e o gênero

não fica indiferente a ele.

O outdoor, durante muito tempo foi classificado

como gênero porém, hoje é claramente identificado

como suporte público para vários gêneros, com

preferência para publicidades, anúncios,

propagadas, comunicados, convites,

declarações, editais.

Page 31: Gêneros textuais   marcuschi

Tipos de SUPORTE:

• Convencionais -> típicos ou característicos,

produzidos para esta finalidade.

Livro Telefone

Livro didático Quadro de avisos

Jornal (diário) Outdoor

Revista (semanal/mensal) Encarte

Revista Científica (boletins e anais)

Folder

Rádio Luminosos

Televisão Faixas

Page 32: Gêneros textuais   marcuschi

• Incidentais -> podem trazer textos, mas não são

destinados a esse fim de modo sistemático nem

na atividade comunicativa regular.

Embalagens Paradas de Ônibus

Muros Estações de Metrô

Roupas Calçadas

Corpo Humano Fachadas

Paredes Janelas de Ônibus

Pára-choques e pára-lamas de caminhão

(Meios de Transporte em geral)

Page 33: Gêneros textuais   marcuschi

Serviços em função da atividade comunicativa

Não devem ser situados entre os suportes textuais,

sejam os incidentais ou convencionais, mas sim

como SERVIÇOS.

Correios

(Programa de) E-mail

Mala-direta

Internet

Homepage e site

Page 34: Gêneros textuais   marcuschi

2.9 Análise dos gêneros na oralidade

A relevância da investigação dos gêneros textuais

reside no fato de serem usados pelos participantes

da comunicação lingüística como parte integrante

de seu conhecimento comum.

Um gênero seria uma noção cotidiana usada pelos

falantes que se apóiam em características gerais e

situações rotineiras para identificá-lo. Tudo indica

que existe um saber social comum pelo qual os

falantes se orientam em suas decisões acerca do

gênero de texto que estão produzindo ou que

devem produzir em cada contexto comunicativo.

Page 35: Gêneros textuais   marcuschi

Os falantes lançam mão de conhecimentos de três

grandes sistemas cognitivos (que agem

interativamente) para processar seus textos:

- Saber lingüístico

- Saber enciclopédico

- Saber interacional

Com base nestes conhecimentos os interlocutores

especificam o gênero de texto que estão sendo

produzidos durante sua fala.

Os gêneros são modelos comunicativos – servem

muitas vezes para criar uma expectativa no

interlocutor e prepará-lo para determinada reação.

Page 36: Gêneros textuais   marcuschi

Os interlocutores seguem em geral três critérios

para designarem seus textos:

Canal / meio de comunicação

Critérios formais

Natureza do conteúdo

A máxima da adequação tipológica – deveria haver,

em cada gênero textual, uma relação estreita entre:

Natureza da informação

Tipo de situação

Relação entre os participantes

Natureza dos objetivos

Page 37: Gêneros textuais   marcuschi

Os gêneros textuais não são fruto de invenções

individuais, mas formas socialmente maturadas em

práticas comunicativas na ação linguageira.

Também poderia ser estabelecida uma certa

correlação entre gêneros textuais e formas de

condução dos tópicos discursivos. Assim, no caso de

um debate ou de uma conferência caberiam

observações do tipo:

“Gostei porque ele se ateve ao tema do começo ao

fim.”

“Não gostei porque ele divagou demais e toda hora

entrava em outros temas.”

No entanto, já não se poderia dizer o mesmo a

respeito de uma conversa realizada durante um

encontro casual num bar da esquina.

Page 38: Gêneros textuais   marcuschi

E, como os gêneros textuais não só refletem,

mas constituem as práticas sociais, é de supor

que também haja variações culturalmente

marcadas quanto às formas produzidas, já que

as culturas são diversas em sua constituição.

Page 39: Gêneros textuais   marcuschi

2.10 A análise de gêneros textuais

na relação fala e escrita

Os gêneros textuais ancoram na sociedade e nos

costumes e ao mesmo tempo são parte dessa

sociedade e organizam os costumes, podem variar

de cultura para cultura.

Os gêneros são apreendidos no curso de nossas

vidas como membros de alguma comunidade.

Os gêneros são padrões comunicativos socialmente

utilizados, que funcionam como uma espécie de

modelo comunicativo global que representa um

conhecimento social localizado em situações

concretas.

Page 40: Gêneros textuais   marcuschi

Sociedades tipicamente orais desenvolvem certos

gêneros que se perdem em outras tipicamente

escritas e penetradas pelo alto desenvolvimento

tecnológico.

- Ex: cantos medicinais, benzeções das rezadeiras,

lamentos das carpideiras.

Tudo isso surge naquelas sociedades como práticas

culturais rotineiras, tal como editorial de um jornal

diário ou uma bula de remédio em nossas sociedades.

O gráfico a seguir representa as mesclagens dos

gêneros na relação fala-escrita, considerando-se as

condições de produção (concepção) e recepção oral e

escrita (aspecto medial, gráfico ou fônico).

Page 41: Gêneros textuais   marcuschi

• Em (A) – o domínio

tipicamente falado quanto ao

meio e quanto à concepção,

que é a produção original. Em

(C), o domínio escrito.Tanto

(B) quanto (D) seriam

domínios mistos das

mesclagens de

modalidades.

– Exemplos:

• (A) Conversação

espontânea;

• (C) Texto científico;

• (D) Noticiário de TV;

• (B) Entrevista publicada

na Veja

+Concepção

(oral)

Concepção (escrita)

Meio (sonoro)

Meio (gráficos)

A B

D C

Concepção = aponta para a natureza do meio em que o

texto foi originalmente expresso ou exteriorizado.

Page 42: Gêneros textuais   marcuschi

2.11 Domínios discursivos e gêneros textuais na

oralidade

Domínio discursivo – uma esfera da vida social ou

institucional na qual se dão práticas que organizam

formas de comunicação e respectivas estratégias de

compreensão.

Os domínios discursivos produzem modelos de ação

comunicativa que se estabilizam e se transmitem de

geração para geração com propósitos e efeitos

definidos e claros.

Pelas distintas práticas sociais desenvolvidas nos

diversos domínios discursivos que sabemos que

nosso comportamento discursivo num circo não

pode ser o mesmo que numa igreja (por exemplo)

Page 43: Gêneros textuais   marcuschi

Os domínios discursivos operam como enquadres globais

de superordenação comunicativa, subordinando práticas

sociodiscursivas orais e escritas que resultam nos

gêneros.

Há domínios discursivos mais produtivos em diversidade

de formas textuais e outros mais resistentes.

- Ver quadro p. 194 - 196

Parece que hoje há mais gêneros textuais na escrita do

que na fala, mas se a análise for feita em outras

culturas, possivelmente essa situação se inverteria

totalmente.

Page 44: Gêneros textuais   marcuschi

Capítulo 2: Gêneros Capítulo 2: Gêneros textuais no ensino de textuais no ensino de

LínguaLíngua

Luiz Antônio Marcuschi

Aluna: Luciane H. Oliveira

Page 45: Gêneros textuais   marcuschi

2.12. Distribuição dos gêneros no

continuum da relação fala-escrita

No círculo intermediário estão alguns gêneros intermodais, que são de difícil localização em uma ou outra modalidade.*

pág.197

*

Page 46: Gêneros textuais   marcuschi

2.13. Os gêneros emergentes na

mídia virtual e o ensino

Crystal escreveu em seu livro A

linguagem e a internet, sobre “o papel

da linguagem na internet e o efeito da

internet na linguagem”. Para ele três

aspectos podem ser frisados: Linguagem: pontuação minimalista,

ortografia bizarra, abundância de

abreviaturas não convencionais,

estruturas frasais pouco ortodoxas e

escrita semi-alfabética. Natureza enunciativa: integram-se

mais semioses que o usual. Gêneros realizados: transmuta alguns

gêneros existentes e desenvolve alguns

novos. Todos os gêneros ligados à

internet são gêneros textuais baseados

na escrita.

Page 47: Gêneros textuais   marcuschi

Ainda segundo Crystal(2001), o

discurso eletrônico pode ser

considerado ainda em estado

selvagem e indomado sob o ponto

lingüístico e organizacional. Estado

de anonimato dos bate-papos

favorece o lado instintivo, desde a

escolha do apelido até as decisões

lingüísticas, estilísticas e

liberalidades quanto ao conteúdo.

A comunicação mediada por

computador abrange todos os formatos

de comunicação e os respectivos

gêneros que emergem nesse contexto.

Analisa de modo particular, um

conjunto específico de novos gêneros

textuais, desenvolvidos no contexto da

mídia virtual.

Page 48: Gêneros textuais   marcuschi

É importante tratar esses gêneros

textuais por , pelo menos, quatro

aspectos: gêneros em franco desenvolvimento e

fase de fixação cada vez mais

generalizados. apresentam peculiaridades formais

próprias, não obstante terem

contrastes em gêneros prévios. oferecem a possibilidade de se rever

alguns conceitos tradicionais a respeito

da textualidade. mudam sensivelmente nossa relação

com a oralidade e a escrita, o que nos

obriga a repensá-la.

Page 49: Gêneros textuais   marcuschi

Listagem de gêneros textuais

emergentes no domínio da mídia

virtual: e-mail chat em aberto chat reservado chat agendado chat privado entrevista com convidado

e-mail educacional aula chat vídeoconferência interativa lista de discussão endereço eletrônico weblog …

Page 50: Gêneros textuais   marcuschi

Os gêneros textuais mais utilizados

são os e-mails, chats, listas de

discussão e weblogs. Em todos eles a

comunicação se dá pela linguagem

escrita, mas a escrita tende a ser mais

informal, menor monitoração e

cobrança pela fluidez do meio e rapidez

do tempo.

Embora haja um sistema lingüístico

subjacente a cada língua, ele não

impede a variação. As variações não são

aleatórias, mas sistemáticas, no caso

dos usos lingüísticos.

Page 51: Gêneros textuais   marcuschi

Todos os gêneros aqui tratados dizem

respeito a interações entre os

indivíduos, mesmo sendo relações em

geral virtuais. Diante de tudo isso, é

possível indagar-se:

QUE TIPO DE PRÁTICA SOCIAL EMERGE COM

AS NOVAS FORMAS DE DISCURSO VIRTUAL

PELA INTERNET?

Podemos chamar de letramento digital,

como foi inicialmente sugerido?

Page 52: Gêneros textuais   marcuschi

Os gráficos 1 e 2 trazem uma relação

que tenta eliminar a visão dicotômica e

ao mesmo tempo mostra que há uma

certa diferença entre o ambiente

sonoro/impresso e o meio digital.

Interação um a umInteração

em grupo

Comunicação assíncrona

Comunicação síncrona

Interação face a face

conferências

memorandos

Cartas impressas

Page 53: Gêneros textuais   marcuschi

Há uma ordem muito clara entre os

gêneros na comunicação digital

mediada por computador e sua relação

se dá de forma não aleatória e sua

criação obedece a critérios bastante

rigorosos.

Page 54: Gêneros textuais   marcuschi

Considerando apenas a natureza das

relações entre os participantes e os

gêneros aqui vistos, podemos dizer que

ali se dão interações entre indivíduos

no seguinte leque geral:

Page 55: Gêneros textuais   marcuschi

2.14. A QUESTÃO DOS GÊNEROS E O

ENSINO DA LÍNGUASerá que há algum gênero ideal para

tratamento em sala de aula?Existem gêneros mais importantes que

outros? Há gêneros mais adequados à leitura

do que outros e há outros que são mais

adequados à produção, pois em

determinados momentos somos

confrontados apenas com um consumo

receptivo e em outros casos temos que

produzir os textos.

Page 56: Gêneros textuais   marcuschi

Há muito mais gêneros na escrita do

que na fala, devido ao papel que a

escrita desempenha em nossa

sociedade: nas tarefas do dia-a-dia, no

comércio, na indústria e produção do

conhecimento. Tudo isso tende a

diversificar de maneira acentuada as

formas textuais utilizadas.

Além da diversidade textual, ainda

temos a visão de Bakhtin(1979) que

aponta os gêneros textuais como

esquemas de compreensão e facilitação

da ação comunicativa interpessoal.

A distribuição da produção discursiva

em gêneros tem como correlato a

própria organização da sociedade, o

que nos leva ao núcleo da perspectiva

sociointeracionista.

Page 57: Gêneros textuais   marcuschi

2.15. Visão dos PCNs a respeito da

questão dos gêneros língua falada e língua escrita não se

opõem de forma dicotômica, nem são

produções em situações polares. LF e LE se dão relacionadas ao contexto

do contínuo dos generos textuais. Circulam na escola a respeito da relação

entre a modalidade oral e a escrita a idéia

de que a escrita é mera transposição da

fala, ou tratar as especificidades de cada

modalidade como polaridades. Parece que fala e escrita se oporiam, pelo

interesse pedagógico, como se a fala fosse

a vernacular, a forma de comunicação

espontânea e a escrita, a forma culta

referente à norma padrão e socialmente

prestigiada.

Page 58: Gêneros textuais   marcuschi

Preconceitos que a escola deveria se

livrar: existe uma única forma certa de falar. a fala certa é a de determinada região. a fala certa se aproxima do padrão da

escrita. o brasileiro fala mal. é preciso consertar a fala do aluno

para evitar que ele escreva errado.

A escola deveria evitá-las mostrando

que há diversas formas de se expressar

de acordo com as situações, os

contextos e os interlocutores. A questão não é de correção da forma, mas de

sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja,

de utilização adequada da linguagem.

Page 59: Gêneros textuais   marcuschi

2.16. GÊNEROS TEXTUAIS NA LÍNGUA FALADA E

ESCRITA DE ACORDO COM OS PCNS

Não se faz uma distinção sistemática

entre tipos textuais e gêneros textuais. Consideram-se apenas os gêneros com

realização lingüística mais formais e

não os mais praticados nas atividades

lingüísticas cotidianas. Confusão entre oralidade e escrita,

não há clareza quanto a critérios que

seriam usados para estabelecer essas

distinções.

Page 60: Gêneros textuais   marcuschi

Quadro I – p 40

Gêneros previstos para a prática de

compreensão de textos

Page 61: Gêneros textuais   marcuschi

Quadro 2 – p 43

Gêneros previstos para a prática de produção

de textos

LINGUAGEM ORAL LINGUAGEM ESCRITA

LITERÁRIOS LITERÁRIOS Conto

Poema

DE IMPRENSA

Entrevista

Debate

Depoimento

DE IMPRENSA

Notícia

Editorial

Carta do leitor

Entrevista

DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Exposição

Seminário

Debate

DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Relatório de experiência

Esquema e resumo de artigos ou verbetes de enciclopédia

Page 62: Gêneros textuais   marcuschi

Os PCNs não negam que tenham mais

gêneros, mas estes não são lembrados.

Por que não trabalhar telefonemas,

conversações espontâneas, consultas,

discussões, etc? Por que não analisar

formulários, cartas, bilhetes,

documentos, receitas, bulas, anúncios,

horóscopos, diários, atas de

condomínios, etc para a escrita?

O fato é que para planos desta ordem dever-se-ia

operar ao nível conceitual e não de conteúdos. Noções,

estratégias e processos com suas respectivas

exemplificações são mais importantes do que

conteúdos específicos.

Page 63: Gêneros textuais   marcuschi

2.17. Os gêneros textuais na sala de aula: as

‘seqüências didáticas’

Dolz e Schneuwly desenvolvem a

noção de gênero concebido como

instrumento de comunicação, que se

realiza empiricamente em textos.Schneuwly chamou os gêneros textuais

de mega-instrumentos. Como se acham

sempre ancorados em alguma situação

concreta, particularmente os orais, os

autores julgam plausível partir de

situações claras para trabalhar a

oralidade. Seguem a posição bakhtiniana de que “ Para possibilitar a comunicação , toda

sociedade elabora formas relativamente

estáveis de textos que funcionam como

intermediários entre o enunciador e o

destinatário, a saber, gêneros.”

Page 64: Gêneros textuais   marcuschi

Segundo os autores, “o gênero é um

instrumento semiótico constituído de signos

organizados de maneira regular; este instrumento é

complexo e compreende níveis diferentes; é por

isso que o chamamos por vezes mega-instrumento,

para dizer que se trata de um conjunto articulado de

instrumentos à moda de uma usina; mas,

fundamentalmente, trata-se de um instrumento que

permite realizar uma ação numa situação

particular. E aprender a falar é apropriar-se de

instrumentos para falar em situações discursivas

diversas, isto é, apropriar-se de gêneros.”

Dimensões essenciais do gêneros segundo

Bakhtin:

1. Os conteúdos que se tornam decidíveis

no gênero.

2. A estrutura comunicativa particular do

textos que pertencem ao gênero.

3. As configurações específicas de

unidades lingüísticas como traços da

posição enunciativa do enunciador e de

tipos discursivos que formam essa

estrutura.

Page 65: Gêneros textuais   marcuschi

Modelo de trabalho em seqüências didáticas de Joaquim

Dolz, Michèle Noverraz e Bernard Schnewly para o

ensino de gêneros nas séries fundamentais.

Os procedimentos têm um caráter

modular e levam em conta tanto a escrita

como a oralidade . O trabalho distribui-se ao longo de todas

as séries do ensino fundamental. A idéia central é de que devem criar

situações reais com contextos que

permitam reproduzir em grandes linhas e

no detalhe a situação concreta de

produção textual incluindo sua circulação,

ou seja, com atenção para o processo de

relação entre produtores e receptores. Seqüência didática = conjunto de

atividades escolares organizadas, de

maneira sistemática, em torno de um

gênero textual ou escrito.

Page 66: Gêneros textuais   marcuschi

A finalidade de trabalhar com seqüências

didáticas é proporcionar ao aluno um

procedimento de realizar todas as tarefas e

etapas para a produção de um gênero.

Esquema de seqüência didática

Produção inicial

Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3Produção

finalApresentação da situação

Page 67: Gêneros textuais   marcuschi

Procedimentos envolvidos no modelo de seqüências

didáticas.

1. Apresentação da situação

1. Tarefa a ser desenvolvida pelos alunos.

Define-se a modalidade: oral ou escrita.

2. Qual gênero a ser produzido, para

quem ele é produzido, qual sua

modalidade, a forma q terá a

produção(rádio, televisão, papel, jornal

etc.

3. Conteúdos a serem desenvolvidos,

devem ter relação com o gênero a ser

trabalhado. De que área se trata e

sobre o que falarão, Apresentar

exemplares do genero a ser realizado.

Ler ou ouvir textos do mesmo genero.

Os alunos podem discutir sobre a

questão. O primeiro encontro com o

genero pode ter o acompanhamento do

professor para discutir aspectos de sua

organização.

Page 68: Gêneros textuais   marcuschi

2. A primeira produção

1. A produção inicial é a primeira formulação do

texto que pode ser individual ou coletiva. É

avaliada pelo professor recebendo nota ou

conceito.

2. Pode ser um esboço geral, posteriormente

serão feitos os ajustes até a produção final. É o

primeiro contato com o gênero.

3. Os Módulos

1. Podem ser vários, até que se tenha treinado

suficientemente a elaboração final do texto.

Não são fixos, mas seguem uma seqüência do

mais complexo ao mais simples para, no final,

voltar ao mais complexo que é a produção

textual.

2. Primeiro trabalham-se os problemas que

surgiram na produção inicial. Ex.: Como foi a

representação da situação de comunicação?

Como foi a elaboração dos conteúdos?

Planejamento do texto? Realização do texto?

3. Pode-se fazer atividades de observação e

análise de textos. (p 216)

4. Num terceiro módulo, o aluno deve adquirir a

linguagem técnica para se expressar sobre o

que está fazendo. Elaborar glossário. Momento

de capitalizar todas as aquisições feitas ao

longo dos outros módulos.

Page 69: Gêneros textuais   marcuschi

4. Produção final1. O aluno põe em prática o que

aprendeu ao longo dos módulos,

após análise da produção inicial.A

avaliação deve levar em conta tanto

os progressos do aluno como tudo o

que lhe falta para chegar a uma

produção efetiva de seu texto

segundo o gênero pretendido.

Page 70: Gêneros textuais   marcuschi

Observações sobre os procedimentos apresentados.

Não separa a oralidade da escrita como se fossem

dois domínios dicotômicos. A produção textual é considerada uma atividade

que se situa em contextos da vida cotidiana e os

textos são produzidos para alguém com algum

objetivo. Ensina-se a produzir textos e, em conseqüência de

uma conscientização do processo, aprende-se

também algo a respeito da teoria do texto e do

gênero. As produções consideram as características de cada

gênero e suas necessidades. A estratégia da modularidade com que é

desenvolvido o trabalho situa as ações no contexto

da realidade e não naturaliza o trabalho com a

língua. A produção do aluno é valorizada. A modularidade permite que os casos de insucesso

sejam retrabalhados e recebam atenção especial

sem que isso ocasione transtornos. A oralidade e a escrita devem ser tratadas de forma

clara e o centro da atenção é o gênero. Há textos

que se prestam para um trabalho mais efetivo na

oralidade e outros na escrita. O produto final é o resultado de um processo que

pode passar por muitas revisões. O texto escrito pode ser considerado como uma

forma permanente , exteriorizada, do próprio

comportamento de linguagem.

Page 71: Gêneros textuais   marcuschi

Uma perspectiva textual

1. Questões gramaticais: problema da

organização da frase, tempos verbais,

coordenação e subordinação,

pontuação, paragrafação e assim por

diante.

2. Questões de ortografia: não deve

sobrepor-se ao trabalho efetivo com a

produção textual, mas os problemas de

pontuação podem ser tratados dentro

dos módulos.

Page 72: Gêneros textuais   marcuschi

Agrupamento dos gêneros e progressão:

Page 73: Gêneros textuais   marcuschi
Page 74: Gêneros textuais   marcuschi

2.18. A Proposta de Bronckart Os textos são um objeto legítimo de

estudo e que a análise de seus níveis de

organização permite trabalhar a maioria

dos problemas relativos à língua em

todos os aeus aspectos. Para elaborar uma série didatica para

trabalhar generos textuais, Bronckart

sugere uma atividade de quatro fases:

1. Elaborar um modelo didático. (p 222)

2. Identificar as capacidades adquiridas (p

222)

3. Elaborar e produzir atividades de

produção ( 222)

4. Avaliar as novas capacidades adquiridas

(p 222)

(ver modelo didático – p 223)