Aline Horst
Luciane Heffel de Oliveira
Talita Fassini Barili
Capítulo 2: Gêneros Capítulo 2: Gêneros textuais no ensino de textuais no ensino de
LínguaLíngua
Luiz Antônio Marcuschi
Aluna: Aline Horst
2.1. O estudo dos gêneros não é novo, mas está na moda
O estudo dos gêneros não é novo. O que hoje se tem é uma nova visão do mesmo tema.
Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula apenas à literatura, mas “para
referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com os
sem aspirações literárias”(p. 147)
Para Aristóteles há três elementos compondo o discurso:
aquele que fala;
aquilo sobre o que se fala e;
aquele a quem se fala.
Num discurso operam três tipos de ouvinte:
como espectador que olha o presente;
como assembléia que olha o futuro;
como juiz que julga sobre coisas passadas.
A esses três julgamentos associa três gêneros de discurso retórico:
discurso deliberativo;
discurso judiciário;
discurso demonstrativo (epidítico)
DISCURSO DELIBERATIVO: aconselhar/desaconselhar, voltado para o futuro por ser exortativo por
natureza;
DISCURSO JUDICIÁRIO:
acusar ou defender e reflete-se sobre o passado;
DISCURSO DEMONSTRATIVO:
caráter epídico, ou seja, de elogio ou censura, situando-se na ação
presente.
Carolyn Miller (1984): gêneros são uma “forma de ação social”. Um
“artefato cultural” importante como parte integrante da estrutura
comunicativa de nossa sociedade.
Objetivo hoje é distinguir as idéias de que gênero é: uma categoria
cultural, um esquema cognitivo, uma forma de ação social, uma estrutura textual, uma forma de organização
social, uma ação retórica.
2.2. O estudo dos gêneros mostra o funcionamento da sociedade
Charles Bazermann (2005: 19-46) trabalha a noção de fato social: “é aquilo em que as pessoas acreditam e passam a tomar como se fosse verdade, agindo de acordo com essa crença. Muitos fatos sociais são realidades constituídas tão-somente pelo discurso situado.”(p. 150)
Pergunta: Por que os membros de comunidades discursivas específicas usam a língua da maneira
como o fazem?
Bhatia (1997: 629): “(...) há aí ações de ordem comunicativa com estratégias
convencionais para atingir determinados objetivos”(p. 150). Cada
gênero textual tem um propósito bastante claro que o determina e lhe dá
uma esfera de circulação. A variação dos entendimentos existentes é um
problema atual nos estudos de gêneros .
“Na realidade, o estudo dos gêneros textuais é hoje uma fértil área interdisciplinar, com atenção especial para a linguagem em funcionamento e para as atividades culturais e sociais. Desde que não concebamos os gêneros como modelos estanques nem como estruturas rígidas, mas como formas culturais e cognitivas de ação social (Miller, 1984) corporificadas na linguagem, somos levados a ver os gêneros como entidades dinâmicas, cujos limites e demarcação se tornam fluidos” (p. 151)
2.3. Algumas perspectivas para o estudo dos gêneros
No Brasil:
1- linha bakhtiniana: com a perspectiva vygotskyana socioconstrutivista da Escola de Genebra (Schneuwl/Dolz) e com o interacionismo sociodiscursivo de Bronckart. (PUC-SP)
2- “swalesiana”: linha da escola norte-americana mais formal e influenciada por John Swales (1990).
3- sistêmico-funcional: Escola Australiana de Sydney, alimentada pela teoria de Halliday com interesses na análise lingüística dos gêneros.
4- mais geral: influência de Bakhtin, Adam, Bronckart, Bazermann, Miller, Kress, Fairclough.
Perspectivas pelo mundo:
1- sócio-histórica e dialógica (Bakhtin);
2- comunicativa (Steger, Gülich, Bergmann, Berkenkotter);
3- sistêmico-funcional (Halliday): texto e contexto...;
4- sociorretórica de caráter etnográfico voltado para o ensino de segunda língua (Swales, Bhatia): estágios na estrutura do gênero;
5- interacionista e sociodiscursiva de caráter psicolingüístico e atenção didática voltada para a língua materna (Bronckart, Dolz, Schneuwly): perspectiva geral de caráter psicolingüístico ligado ao sociointeracionismo;
6- análise crítica (Fairclough, Kress): Gênero como tipo particular de atividade social;
7- sociorretórica/sócio-histórica e cultural (Miller, Bazermann, Freedman): gênero com atenção para a compreensão do funcionamento social e histórico, bem como sua relação com o poder.
2.4. Noção de gênero textual, tipo textual e domínio discursivo
A comunicação verbal só é possível por algum gênero textual;
Bronckart (1999; 103) “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (p. 154)
ConceitosTipo textual: designa uma espécie de
construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo). O tipo caracteriza-se muito mais como seqüências lingüísticas (retóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. O conjunto de categorias para designar tipos textuais é limitado e sem tendência a aumentar. Quando predomina um modo num dado texto concreto, dizemos que esse é um texto argumentativo ou narrativo etc.
Gênero textual: são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. São entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações diversas, constituindo em princípio listagens abertas. São formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas. Exemplos: telefonema, sermão, carta pessoal, carta comercial, resenha, cardápio de restaurante, bate-papo no computador...
Domínio discursivo: não abrange um gênero em particular, mas dá origem a vários deles. São práticas discursivas nas quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que às vezes lhe são próprios ou específicos como rotinas comunicativas institucionalizadas e instauradoras de relações de poder (discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.).
“Não se pode tratar o gênero de discurso independentemente de sua realidade social e de sua relação com as atividades humanas” (p. 155)
Gêneros e tipos não são opostos, não formam uma dicotomia. São complementares e integrados, formas constitutivas do texto em funcionamento.
Carta pessoal: possui uma variedade de seqüências tipológicas, em que predominam descrições e exposições.
Barros (2004): sobre o domínio pedagógico
“Gêneros não são entidades formais, mas sim entidades comunicativas em que predominam os aspectos relativos a funções, propósitos, ações e conteúdos. A tipicidade de um gênero vem de suas características funcionais e organização retórica” (p. 159).
Carolyn Miller (1984): “os gêneros são formas verbais de ação social estabilizadas e recorrentes em textos situados em comunidades de práticas em domínios discursivos específicos. Assim os gêneros de tornam propriedades inalienáveis dos textos empíricos e servem de guia para os interlocutores, dando inteligibilidade às ações retóricas. São entidades dinâmicas, históricas, sociais, situadas, comunicativas, orientadas para fins específicos, ligadas a determinadas comunidades discursivas, ligadas a domínios discursivos, recorrentes e estabilizadas em formatos mais os menos claros”(p. 159).
Por serem sócio-históricos e variáveis, tornou-se muito difícil fazer uma classificação de gêneros, o que deixou de ser preocupação dos estudiosos. Hoje procura-se explicar como eles se constituem e circulam socialmente.
Maingueneau (2204) propôs uma divisão dos gêneros em três grandes conjuntos partindo do seu regime de generecidade:
Gêneros autorais: mantêm um caráter de autoria pelos traços de estilo. Situam-se na literatura, no jornalismo, na filosofia...
Gêneros rotineiros: comuns no dia-a-dia. Realizam-se em entrevistas radiofônicas, consultas, médicas... Não mudam muito de situação para situação e suas marcas autorais de manifestam menos.
Gêneros conversacionais: gêneros de menor estabilidade e sem organização temática previsível como as conversações.
O próprio autor mudou a classificação pela inadequação do termo “rotineiro”. Ele defende que se distinga:
- Regime de gêneros conversacionais
- Regime de gêneros instituídos (conteria gêneros autorais e rotineiros)
“Todos os textos realizam um gênero e todos os gêneros realizam seqüências tipológicas diversificadas (...) os gêneros são em geral tipologicamente heterogêneos”(p. 160). Exemplo: telefonema.
2.5. Gêneros textuais como sistema de controle social
“Os gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder”(p. 161).
O aspecto discursivo vai muito além do objetivo de comunicação e de informação. É muito mais uma forma de vida e uma forma de ação (Wittgenstein).
A linguagem está presente na vivência cultural humana. Todos os nossos textos situam-se nas vivências estabilizadas em gêneros. A língua é uma atividade sociointerativa de caráter cognitivo, sistemática e instaurada de ordens diversas na sociedade. O funcionamento de uma língua é um processo de integração social. (p. 163)
2.6. A questão da intergenericidade: que nomes dar aos gêneros?
É difícil nomear cada gênero de texto, pois eles se imbricam e interpenetram para constituírem novos gêneros.
Gêneros são nomeados com base em alguns critérios. Muitas vezes o nome surge em atenção ao propósito comunicativo ou função.
Intergenericidade -> um gênero com a função de outro;
Heterogeneidade tipológica -> um gênero com a presença de vários tipos.
Na imprensa: contaminação de gêneros e hibridização para chamar mais a atenção e motivar a leitura.
Livro didático: constitui um todo feito de partes que mantêm suas características. Autor defende a posição de que o livro didático é um suporte e não um gênero. (p.170)
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2.7 A questão intercultural “A escolha de um gênero que pode ser usado para
servir a uma certa função interativaem nossa cultura
pode se tornar inadequada numa situação cultural
diferente. Um sinólogo alemão, que trabalhava como
intérprete em encontros de negócios entre
comerciantes chineses e alemães, apontou a
preferência dos comerciantes alemães por contar
piadas em negociações comerciais. Para os chineses,
é considerado inapropriado contar piadas durante
encontros de negócios, e as piadas não são esperadas
neste contexto.”
Da mesma forma, o uso de provérbios tanto na
oralidade como na escrita chinesa é um sintoma de
boa educação.
Um aspecto importante a tratar é o problema da
variedade cultural dentro de um mesmo país e como
isso deveria ser encarado pelo próprio livro didático.
Estes deveriam oferecer um ensino culturalmente
sensível, tendo em vista a pluralidade cultural. Não
se deveria privilegiar o urbanismo elitizado, mas
frisar a variação lingüística, social, temática, de
costumes, crenças valores etc.
A vivência cultural humana está envolta em
linguagem e todos os textos situam-se nessas
vivências estabilizadas simbolicamente. Isto é um
convite claro para o ensino situado em contextos
reais da vida cotidiana.
2.8 A questão do suporte de gêneros textuais Equivocam-se os manuais quando falam no dicionário
como portador de gênero, pois ele próprio é um
gênero. Enquanto que a embalagem é um suporte e
não um gênero.
A idéia central é que o suporte não é neutro e o
gênero não fica indiferente a ele.
O suporte é imprescindível para que o gênero circule
na sociedade e deve ter alguma influência na
natureza do gênero suportado.
Suporte -> Um locus físico ou virtual com
formato específico que serve de base ou
ambiente de fixação do gênero
materializado como texto.
Suporte é um lugar (físico ou virtual)
Suporte tem formato específico
Suporte serve para fixar e mostrar o texto.
É muito difícil contemplar o contínuo que surge na
relação entre gênero, suporte e outros aspectos, pois
não se trata de fenômenos discretos e não se pode
dizer onde um acaba e outro começa.
Exemplo:
Carta pessoal (GÊNERO) –> Papel-carta (SUPORTE) –>
Tinta (MATERIAL DA ESCRITA) -> Correios (SERVIÇO DE
TRANSPORTE)
Não é fácil estabelecer a mesma cadeia para todos
os gêneros, mas isso serve para pensar as unidades
componentes dessa cadeia.
O suporte firma ou apresenta o texto para que se
torne acessível de certo modo e, não deve ser
confundido com o contexto nem com a situação,
nem com o canal em si, nem com a natureza do
serviço prestado. O suporte não é neutro e o gênero
não fica indiferente a ele.
O outdoor, durante muito tempo foi classificado
como gênero porém, hoje é claramente identificado
como suporte público para vários gêneros, com
preferência para publicidades, anúncios,
propagadas, comunicados, convites,
declarações, editais.
Tipos de SUPORTE:
• Convencionais -> típicos ou característicos,
produzidos para esta finalidade.
Livro Telefone
Livro didático Quadro de avisos
Jornal (diário) Outdoor
Revista (semanal/mensal) Encarte
Revista Científica (boletins e anais)
Folder
Rádio Luminosos
Televisão Faixas
• Incidentais -> podem trazer textos, mas não são
destinados a esse fim de modo sistemático nem
na atividade comunicativa regular.
Embalagens Paradas de Ônibus
Muros Estações de Metrô
Roupas Calçadas
Corpo Humano Fachadas
Paredes Janelas de Ônibus
Pára-choques e pára-lamas de caminhão
(Meios de Transporte em geral)
Serviços em função da atividade comunicativa
Não devem ser situados entre os suportes textuais,
sejam os incidentais ou convencionais, mas sim
como SERVIÇOS.
Correios
(Programa de) E-mail
Mala-direta
Internet
Homepage e site
2.9 Análise dos gêneros na oralidade
A relevância da investigação dos gêneros textuais
reside no fato de serem usados pelos participantes
da comunicação lingüística como parte integrante
de seu conhecimento comum.
Um gênero seria uma noção cotidiana usada pelos
falantes que se apóiam em características gerais e
situações rotineiras para identificá-lo. Tudo indica
que existe um saber social comum pelo qual os
falantes se orientam em suas decisões acerca do
gênero de texto que estão produzindo ou que
devem produzir em cada contexto comunicativo.
Os falantes lançam mão de conhecimentos de três
grandes sistemas cognitivos (que agem
interativamente) para processar seus textos:
- Saber lingüístico
- Saber enciclopédico
- Saber interacional
Com base nestes conhecimentos os interlocutores
especificam o gênero de texto que estão sendo
produzidos durante sua fala.
Os gêneros são modelos comunicativos – servem
muitas vezes para criar uma expectativa no
interlocutor e prepará-lo para determinada reação.
Os interlocutores seguem em geral três critérios
para designarem seus textos:
Canal / meio de comunicação
Critérios formais
Natureza do conteúdo
A máxima da adequação tipológica – deveria haver,
em cada gênero textual, uma relação estreita entre:
Natureza da informação
Tipo de situação
Relação entre os participantes
Natureza dos objetivos
Os gêneros textuais não são fruto de invenções
individuais, mas formas socialmente maturadas em
práticas comunicativas na ação linguageira.
Também poderia ser estabelecida uma certa
correlação entre gêneros textuais e formas de
condução dos tópicos discursivos. Assim, no caso de
um debate ou de uma conferência caberiam
observações do tipo:
“Gostei porque ele se ateve ao tema do começo ao
fim.”
“Não gostei porque ele divagou demais e toda hora
entrava em outros temas.”
No entanto, já não se poderia dizer o mesmo a
respeito de uma conversa realizada durante um
encontro casual num bar da esquina.
E, como os gêneros textuais não só refletem,
mas constituem as práticas sociais, é de supor
que também haja variações culturalmente
marcadas quanto às formas produzidas, já que
as culturas são diversas em sua constituição.
2.10 A análise de gêneros textuais
na relação fala e escrita
Os gêneros textuais ancoram na sociedade e nos
costumes e ao mesmo tempo são parte dessa
sociedade e organizam os costumes, podem variar
de cultura para cultura.
Os gêneros são apreendidos no curso de nossas
vidas como membros de alguma comunidade.
Os gêneros são padrões comunicativos socialmente
utilizados, que funcionam como uma espécie de
modelo comunicativo global que representa um
conhecimento social localizado em situações
concretas.
Sociedades tipicamente orais desenvolvem certos
gêneros que se perdem em outras tipicamente
escritas e penetradas pelo alto desenvolvimento
tecnológico.
- Ex: cantos medicinais, benzeções das rezadeiras,
lamentos das carpideiras.
Tudo isso surge naquelas sociedades como práticas
culturais rotineiras, tal como editorial de um jornal
diário ou uma bula de remédio em nossas sociedades.
O gráfico a seguir representa as mesclagens dos
gêneros na relação fala-escrita, considerando-se as
condições de produção (concepção) e recepção oral e
escrita (aspecto medial, gráfico ou fônico).
• Em (A) – o domínio
tipicamente falado quanto ao
meio e quanto à concepção,
que é a produção original. Em
(C), o domínio escrito.Tanto
(B) quanto (D) seriam
domínios mistos das
mesclagens de
modalidades.
– Exemplos:
• (A) Conversação
espontânea;
• (C) Texto científico;
• (D) Noticiário de TV;
• (B) Entrevista publicada
na Veja
+Concepção
(oral)
Concepção (escrita)
Meio (sonoro)
Meio (gráficos)
A B
D C
Concepção = aponta para a natureza do meio em que o
texto foi originalmente expresso ou exteriorizado.
2.11 Domínios discursivos e gêneros textuais na
oralidade
Domínio discursivo – uma esfera da vida social ou
institucional na qual se dão práticas que organizam
formas de comunicação e respectivas estratégias de
compreensão.
Os domínios discursivos produzem modelos de ação
comunicativa que se estabilizam e se transmitem de
geração para geração com propósitos e efeitos
definidos e claros.
Pelas distintas práticas sociais desenvolvidas nos
diversos domínios discursivos que sabemos que
nosso comportamento discursivo num circo não
pode ser o mesmo que numa igreja (por exemplo)
Os domínios discursivos operam como enquadres globais
de superordenação comunicativa, subordinando práticas
sociodiscursivas orais e escritas que resultam nos
gêneros.
Há domínios discursivos mais produtivos em diversidade
de formas textuais e outros mais resistentes.
- Ver quadro p. 194 - 196
Parece que hoje há mais gêneros textuais na escrita do
que na fala, mas se a análise for feita em outras
culturas, possivelmente essa situação se inverteria
totalmente.
Capítulo 2: Gêneros Capítulo 2: Gêneros textuais no ensino de textuais no ensino de
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Aluna: Luciane H. Oliveira
2.12. Distribuição dos gêneros no
continuum da relação fala-escrita
No círculo intermediário estão alguns gêneros intermodais, que são de difícil localização em uma ou outra modalidade.*
pág.197
*
2.13. Os gêneros emergentes na
mídia virtual e o ensino
Crystal escreveu em seu livro A
linguagem e a internet, sobre “o papel
da linguagem na internet e o efeito da
internet na linguagem”. Para ele três
aspectos podem ser frisados: Linguagem: pontuação minimalista,
ortografia bizarra, abundância de
abreviaturas não convencionais,
estruturas frasais pouco ortodoxas e
escrita semi-alfabética. Natureza enunciativa: integram-se
mais semioses que o usual. Gêneros realizados: transmuta alguns
gêneros existentes e desenvolve alguns
novos. Todos os gêneros ligados à
internet são gêneros textuais baseados
na escrita.
Ainda segundo Crystal(2001), o
discurso eletrônico pode ser
considerado ainda em estado
selvagem e indomado sob o ponto
lingüístico e organizacional. Estado
de anonimato dos bate-papos
favorece o lado instintivo, desde a
escolha do apelido até as decisões
lingüísticas, estilísticas e
liberalidades quanto ao conteúdo.
A comunicação mediada por
computador abrange todos os formatos
de comunicação e os respectivos
gêneros que emergem nesse contexto.
Analisa de modo particular, um
conjunto específico de novos gêneros
textuais, desenvolvidos no contexto da
mídia virtual.
É importante tratar esses gêneros
textuais por , pelo menos, quatro
aspectos: gêneros em franco desenvolvimento e
fase de fixação cada vez mais
generalizados. apresentam peculiaridades formais
próprias, não obstante terem
contrastes em gêneros prévios. oferecem a possibilidade de se rever
alguns conceitos tradicionais a respeito
da textualidade. mudam sensivelmente nossa relação
com a oralidade e a escrita, o que nos
obriga a repensá-la.
Listagem de gêneros textuais
emergentes no domínio da mídia
virtual: e-mail chat em aberto chat reservado chat agendado chat privado entrevista com convidado
e-mail educacional aula chat vídeoconferência interativa lista de discussão endereço eletrônico weblog …
Os gêneros textuais mais utilizados
são os e-mails, chats, listas de
discussão e weblogs. Em todos eles a
comunicação se dá pela linguagem
escrita, mas a escrita tende a ser mais
informal, menor monitoração e
cobrança pela fluidez do meio e rapidez
do tempo.
Embora haja um sistema lingüístico
subjacente a cada língua, ele não
impede a variação. As variações não são
aleatórias, mas sistemáticas, no caso
dos usos lingüísticos.
Todos os gêneros aqui tratados dizem
respeito a interações entre os
indivíduos, mesmo sendo relações em
geral virtuais. Diante de tudo isso, é
possível indagar-se:
QUE TIPO DE PRÁTICA SOCIAL EMERGE COM
AS NOVAS FORMAS DE DISCURSO VIRTUAL
PELA INTERNET?
Podemos chamar de letramento digital,
como foi inicialmente sugerido?
Os gráficos 1 e 2 trazem uma relação
que tenta eliminar a visão dicotômica e
ao mesmo tempo mostra que há uma
certa diferença entre o ambiente
sonoro/impresso e o meio digital.
Interação um a umInteração
em grupo
Comunicação assíncrona
Comunicação síncrona
Interação face a face
conferências
memorandos
Cartas impressas
Há uma ordem muito clara entre os
gêneros na comunicação digital
mediada por computador e sua relação
se dá de forma não aleatória e sua
criação obedece a critérios bastante
rigorosos.
Considerando apenas a natureza das
relações entre os participantes e os
gêneros aqui vistos, podemos dizer que
ali se dão interações entre indivíduos
no seguinte leque geral:
2.14. A QUESTÃO DOS GÊNEROS E O
ENSINO DA LÍNGUASerá que há algum gênero ideal para
tratamento em sala de aula?Existem gêneros mais importantes que
outros? Há gêneros mais adequados à leitura
do que outros e há outros que são mais
adequados à produção, pois em
determinados momentos somos
confrontados apenas com um consumo
receptivo e em outros casos temos que
produzir os textos.
Há muito mais gêneros na escrita do
que na fala, devido ao papel que a
escrita desempenha em nossa
sociedade: nas tarefas do dia-a-dia, no
comércio, na indústria e produção do
conhecimento. Tudo isso tende a
diversificar de maneira acentuada as
formas textuais utilizadas.
Além da diversidade textual, ainda
temos a visão de Bakhtin(1979) que
aponta os gêneros textuais como
esquemas de compreensão e facilitação
da ação comunicativa interpessoal.
A distribuição da produção discursiva
em gêneros tem como correlato a
própria organização da sociedade, o
que nos leva ao núcleo da perspectiva
sociointeracionista.
2.15. Visão dos PCNs a respeito da
questão dos gêneros língua falada e língua escrita não se
opõem de forma dicotômica, nem são
produções em situações polares. LF e LE se dão relacionadas ao contexto
do contínuo dos generos textuais. Circulam na escola a respeito da relação
entre a modalidade oral e a escrita a idéia
de que a escrita é mera transposição da
fala, ou tratar as especificidades de cada
modalidade como polaridades. Parece que fala e escrita se oporiam, pelo
interesse pedagógico, como se a fala fosse
a vernacular, a forma de comunicação
espontânea e a escrita, a forma culta
referente à norma padrão e socialmente
prestigiada.
Preconceitos que a escola deveria se
livrar: existe uma única forma certa de falar. a fala certa é a de determinada região. a fala certa se aproxima do padrão da
escrita. o brasileiro fala mal. é preciso consertar a fala do aluno
para evitar que ele escreva errado.
A escola deveria evitá-las mostrando
que há diversas formas de se expressar
de acordo com as situações, os
contextos e os interlocutores. A questão não é de correção da forma, mas de
sua adequação às circunstâncias de uso, ou seja,
de utilização adequada da linguagem.
2.16. GÊNEROS TEXTUAIS NA LÍNGUA FALADA E
ESCRITA DE ACORDO COM OS PCNS
Não se faz uma distinção sistemática
entre tipos textuais e gêneros textuais. Consideram-se apenas os gêneros com
realização lingüística mais formais e
não os mais praticados nas atividades
lingüísticas cotidianas. Confusão entre oralidade e escrita,
não há clareza quanto a critérios que
seriam usados para estabelecer essas
distinções.
Quadro I – p 40
Gêneros previstos para a prática de
compreensão de textos
Quadro 2 – p 43
Gêneros previstos para a prática de produção
de textos
LINGUAGEM ORAL LINGUAGEM ESCRITA
LITERÁRIOS LITERÁRIOS Conto
Poema
DE IMPRENSA
Entrevista
Debate
Depoimento
DE IMPRENSA
Notícia
Editorial
Carta do leitor
Entrevista
DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Exposição
Seminário
Debate
DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Relatório de experiência
Esquema e resumo de artigos ou verbetes de enciclopédia
Os PCNs não negam que tenham mais
gêneros, mas estes não são lembrados.
Por que não trabalhar telefonemas,
conversações espontâneas, consultas,
discussões, etc? Por que não analisar
formulários, cartas, bilhetes,
documentos, receitas, bulas, anúncios,
horóscopos, diários, atas de
condomínios, etc para a escrita?
O fato é que para planos desta ordem dever-se-ia
operar ao nível conceitual e não de conteúdos. Noções,
estratégias e processos com suas respectivas
exemplificações são mais importantes do que
conteúdos específicos.
2.17. Os gêneros textuais na sala de aula: as
‘seqüências didáticas’
Dolz e Schneuwly desenvolvem a
noção de gênero concebido como
instrumento de comunicação, que se
realiza empiricamente em textos.Schneuwly chamou os gêneros textuais
de mega-instrumentos. Como se acham
sempre ancorados em alguma situação
concreta, particularmente os orais, os
autores julgam plausível partir de
situações claras para trabalhar a
oralidade. Seguem a posição bakhtiniana de que “ Para possibilitar a comunicação , toda
sociedade elabora formas relativamente
estáveis de textos que funcionam como
intermediários entre o enunciador e o
destinatário, a saber, gêneros.”
Segundo os autores, “o gênero é um
instrumento semiótico constituído de signos
organizados de maneira regular; este instrumento é
complexo e compreende níveis diferentes; é por
isso que o chamamos por vezes mega-instrumento,
para dizer que se trata de um conjunto articulado de
instrumentos à moda de uma usina; mas,
fundamentalmente, trata-se de um instrumento que
permite realizar uma ação numa situação
particular. E aprender a falar é apropriar-se de
instrumentos para falar em situações discursivas
diversas, isto é, apropriar-se de gêneros.”
Dimensões essenciais do gêneros segundo
Bakhtin:
1. Os conteúdos que se tornam decidíveis
no gênero.
2. A estrutura comunicativa particular do
textos que pertencem ao gênero.
3. As configurações específicas de
unidades lingüísticas como traços da
posição enunciativa do enunciador e de
tipos discursivos que formam essa
estrutura.
Modelo de trabalho em seqüências didáticas de Joaquim
Dolz, Michèle Noverraz e Bernard Schnewly para o
ensino de gêneros nas séries fundamentais.
Os procedimentos têm um caráter
modular e levam em conta tanto a escrita
como a oralidade . O trabalho distribui-se ao longo de todas
as séries do ensino fundamental. A idéia central é de que devem criar
situações reais com contextos que
permitam reproduzir em grandes linhas e
no detalhe a situação concreta de
produção textual incluindo sua circulação,
ou seja, com atenção para o processo de
relação entre produtores e receptores. Seqüência didática = conjunto de
atividades escolares organizadas, de
maneira sistemática, em torno de um
gênero textual ou escrito.
A finalidade de trabalhar com seqüências
didáticas é proporcionar ao aluno um
procedimento de realizar todas as tarefas e
etapas para a produção de um gênero.
Esquema de seqüência didática
Produção inicial
Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3Produção
finalApresentação da situação
Procedimentos envolvidos no modelo de seqüências
didáticas.
1. Apresentação da situação
1. Tarefa a ser desenvolvida pelos alunos.
Define-se a modalidade: oral ou escrita.
2. Qual gênero a ser produzido, para
quem ele é produzido, qual sua
modalidade, a forma q terá a
produção(rádio, televisão, papel, jornal
etc.
3. Conteúdos a serem desenvolvidos,
devem ter relação com o gênero a ser
trabalhado. De que área se trata e
sobre o que falarão, Apresentar
exemplares do genero a ser realizado.
Ler ou ouvir textos do mesmo genero.
Os alunos podem discutir sobre a
questão. O primeiro encontro com o
genero pode ter o acompanhamento do
professor para discutir aspectos de sua
organização.
2. A primeira produção
1. A produção inicial é a primeira formulação do
texto que pode ser individual ou coletiva. É
avaliada pelo professor recebendo nota ou
conceito.
2. Pode ser um esboço geral, posteriormente
serão feitos os ajustes até a produção final. É o
primeiro contato com o gênero.
3. Os Módulos
1. Podem ser vários, até que se tenha treinado
suficientemente a elaboração final do texto.
Não são fixos, mas seguem uma seqüência do
mais complexo ao mais simples para, no final,
voltar ao mais complexo que é a produção
textual.
2. Primeiro trabalham-se os problemas que
surgiram na produção inicial. Ex.: Como foi a
representação da situação de comunicação?
Como foi a elaboração dos conteúdos?
Planejamento do texto? Realização do texto?
3. Pode-se fazer atividades de observação e
análise de textos. (p 216)
4. Num terceiro módulo, o aluno deve adquirir a
linguagem técnica para se expressar sobre o
que está fazendo. Elaborar glossário. Momento
de capitalizar todas as aquisições feitas ao
longo dos outros módulos.
4. Produção final1. O aluno põe em prática o que
aprendeu ao longo dos módulos,
após análise da produção inicial.A
avaliação deve levar em conta tanto
os progressos do aluno como tudo o
que lhe falta para chegar a uma
produção efetiva de seu texto
segundo o gênero pretendido.
Observações sobre os procedimentos apresentados.
Não separa a oralidade da escrita como se fossem
dois domínios dicotômicos. A produção textual é considerada uma atividade
que se situa em contextos da vida cotidiana e os
textos são produzidos para alguém com algum
objetivo. Ensina-se a produzir textos e, em conseqüência de
uma conscientização do processo, aprende-se
também algo a respeito da teoria do texto e do
gênero. As produções consideram as características de cada
gênero e suas necessidades. A estratégia da modularidade com que é
desenvolvido o trabalho situa as ações no contexto
da realidade e não naturaliza o trabalho com a
língua. A produção do aluno é valorizada. A modularidade permite que os casos de insucesso
sejam retrabalhados e recebam atenção especial
sem que isso ocasione transtornos. A oralidade e a escrita devem ser tratadas de forma
clara e o centro da atenção é o gênero. Há textos
que se prestam para um trabalho mais efetivo na
oralidade e outros na escrita. O produto final é o resultado de um processo que
pode passar por muitas revisões. O texto escrito pode ser considerado como uma
forma permanente , exteriorizada, do próprio
comportamento de linguagem.
Uma perspectiva textual
1. Questões gramaticais: problema da
organização da frase, tempos verbais,
coordenação e subordinação,
pontuação, paragrafação e assim por
diante.
2. Questões de ortografia: não deve
sobrepor-se ao trabalho efetivo com a
produção textual, mas os problemas de
pontuação podem ser tratados dentro
dos módulos.
Agrupamento dos gêneros e progressão:
2.18. A Proposta de Bronckart Os textos são um objeto legítimo de
estudo e que a análise de seus níveis de
organização permite trabalhar a maioria
dos problemas relativos à língua em
todos os aeus aspectos. Para elaborar uma série didatica para
trabalhar generos textuais, Bronckart
sugere uma atividade de quatro fases:
1. Elaborar um modelo didático. (p 222)
2. Identificar as capacidades adquiridas (p
222)
3. Elaborar e produzir atividades de
produção ( 222)
4. Avaliar as novas capacidades adquiridas
(p 222)
(ver modelo didático – p 223)