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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
Ficha para Catálogo de Artigo – Trabalho Final Professor PDE 2014-2015
Título A teoria das múltiplas inteligências e sua possível contribuição para a formação
do sujeito crítico
Autor Rinaldo Teruhiko Nishimura
Escola de Atuação C.E.E.P. Manoel Moreira Pena
Município da Escola Foz do Iguaçu
Núcleo Regional de Educação Foz do Iguaçu
Orientador Marco Antonio Batista Carvalho
Instituição de Ensino Superior UNIOESTE
Área do conhecimento Estudo das inteligências múltiplas
Relação Interdiciplinar Todas as disciplinas e equipe pedagógica
Público alvo Docentes da escola
Localização Av. General Meira, 391 – Jardim Social II
Resumo
Esse projeto foi desenvolvido como parte das atividades do PDE turma 2014-2015, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. As atividades foram desenvolvidas tendo, como público-alvo, docentes do CEEP Manoel Moreira Pena, localizado na cidade de Foz do Iguaçu. Buscou-se estimular os professores a pensarem seus conteúdos a partir da perspectiva da Teoria das Inteligências Múltiplas, elaborada pelo pesquisador Howard Gardner. O trabalho oportunizou também discutir sobre a formação do sujeito crítico, tendo como referencial teórico a contribuição de Paulo Freire. Participaram também do trabalho, um grupo de professores que interagiram na modalidade de EaD em uma atividade denominada de GTR. Discutiu-se, em ambos os grupos, se seria possível que o estudo dos diferentes módulos de inteligência, propostos por Howard Gardner, pudessem contribuir para que o professor planejasse melhor as suas aulas de maneira a estimular seus alunos quanto à utilização de suas inteligências múltiplas e, com isso, pudesse ser partícipe de uma formação crítica.
Palavras-chave Inteligências múltiplas; Educação crítica; Educação Pública
A TEORIA DAS MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS E SUA POSSÍVEL
CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DO SUJEITO CRÍTICO
Rinaldo Teruhiko Nishimura1
Marco Antonio Batista Carvalho2
Resumo: Esse texto é produto do projeto que foi desenvolvido como parte das atividades do PDE turma 2014-2015, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. As atividades foram desenvolvidas tendo, como público-alvo, docentes do CEEP Manoel Moreira Pena, localizado na cidade de Foz do Iguaçu. Buscou-se estimular os professores a pensarem seus conteúdos a partir da perspectiva da Teoria das Inteligências Múltiplas, elaborada pelo pesquisador Howard Gardner. O trabalho oportunizou também discutir sobre a formação do sujeito crítico, tendo como referencial teórico a contribuição de Paulo Freire. Participaram também do trabalho, um grupo de professores que interagiram na modalidade de EaD em uma atividade denominada de GTR. Discutiu-se, em ambos os grupos, se seria possível que o estudo dos diferentes módulos de inteligência, propostos por Howard Gardner, pudessem contribuir para que o professor planejasse melhor as suas aulas de maneira a estimular seus alunos quanto à utilização de suas inteligências múltiplas e, com isso, pudesse ser partícipe de uma formação crítica. Ao longo das atividades com os dois grupos de professores, bons debates ocorreram e também muitas contribuições, de ambos os lados, que provocaram os participantes a pensarem na possibilidade de aprofundamento dos estudos referentes às múltiplas inteligências e de sua aplicabilidade no cotidiano da ação docente.
Palavras-chave: Inteligências múltiplas. Educação crítica. Educação Pública
INTRODUÇÃO
Esse projeto, desenvolvido a partir de um programa de formação continuada,
ofertado a professores da rede pública do Estado do Paraná, chamado de Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), na área da Educação Profissional e Formação
Docente, teve, como público-alvo, docentes do Centro Estadual de Educação Profissional
Manoel Moreira Pena, localizado na cidade de Foz do Iguaçu, Região Oeste do Estado do
Paraná. Também foi projetado para atender aos demais professores da rede pública de
ensino interessados na temática voltada para o estudo das inteligências múltiplas e a sua
possível aplicabilidade no processo ensino-aprendizagem.
A proposta de trabalho com esse grupo de professores foi idealizada e executada a
partir de unidades didáticas onde se buscou estimular os professores a pensarem seus
conteúdos a partir da perspectiva da Teoria das Inteligências Múltiplas. Essa teoria foi
proposta inicialmente pelo pesquisador e professor norte americano ligado a Universidade
de Harvard, Howard Gardner. Seus trabalhos na área da cognição, voltados para área
educativa, tem, na atualidade, movido outros pesquisadores, em muitos países, a analisar
1 Professor da disciplina de Pecuária da Rede Pública Estadual – NRE de Foz do Iguaçu/PR – Professor do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE – SEED/IES) turma 2014-2015. [email protected]
2 Professor Adjunto do Curso de Pedagogia da UNIOESTE – Campus de Cascavel. Membro do Grupo de Pesquisa HISTEDBR,
Região Oeste do Paraná. [email protected]
e a aplicar seus postulados em sala de aula.
Exemplo disso é a obra do pesquisador Thomas Armstrong, que em 2001 publicou
o livro “Inteligências múltiplas na sala de aula”, que tem prefácio de Howard Gardner,
onde afirma que esta obra constitui-se uma das primeiras publicações a levar a teoria de
Howard Gardner para o contexto da sala de aula. No Brasil, entre outros pesquisadores
que estão estudando essa teoria, cabe destacar o pesquisador e professor Celso Antunes,
que tem produzido vasto material utilizando a teoria das inteligências múltiplas em sala de
aula.
Assim, no transcurso do PDE, objetivou-se um trabalho que se pudesse aprofundar
os estudos realizados por esses pesquisadores, fazendo um cotejo entre o que
encontramos nos livros e as experiências práticas dos professores participantes do
projeto, no sentido de identificarem uma possível aproximação de suas atividades
didáticas com os pressupostos estudados à luz da teoria da respectiva teoria.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Em tempos de globalização, fruto também de todo o desenvolvimento da
sociedade que, por meio do trabalho, ao produzir sua subsistência, tem dinamizado não
somente as relações de produção da sociedade, mas também tem alterado
comportamentos, posturas e todo o acervo cultural de muitas outras sociedades, de fato,
mudanças radicais tem ocorrido em intervalos cada vez menores de tempo. Assim, é
oportuno lembrar que “o que é certo, portanto, é que estamos em tempos de repensar a
compreensão que temos de nós mesmos como seres humanos, o tipo de sociedade e
mundo que estamos construindo, o tipo de sociedade e mundo que queremos construir”
(NETO; FRANCO, 2010).
Logo, a forma como os homens produzem conhecimento e o meio pelo qual
disseminam esses saberes têm modificado a forma de ser do próprio homem, em
espaços de tempo cada vez mais reduzidos, ou seja, temos vivenciado transformações
profundas no espaço de uma única geração. Essas mudanças perpassam todo o tecido
social de forma diferenciada, contudo, é inegável a sua forte presença e atuação no
espaço escolar.
Uma das provas disso é que, na atualidade, estamos alterando antigas
classificações etárias que determinavam inclusive o ingresso obrigatório no espaço
escolar. Muito pouco tempo atrás dizíamos que nossa sociedade era composta de
crianças, jovens, adultos e idosos. Hoje, temos estudos que diferenciam essas gerações
de acordo com o tempo histórico de nascimento, como, por exemplo, a chamada geração
Z, jovens de uma faixa que, outrora, seriam subclassificados como adolescentes. Essa
classificação de adolescentes se dava levando-se em conta somente o aumento da faixa
etária e de fatores do desenvolvimento físico e emocional dos jovens. Contudo, para essa
geração Z, cuja faixa etária é a dos adolescentes, temos a seguinte observação:
A geração Z é composta por indivíduos que nasceram a partir de 1993. Os indivíduos a ela pertencentes, mais do que a anterior, são aqueles do mundo virtual: internet, videogames, baixar filmes e músicas da internet, redes sociais, etc. A tendência é que estejam com o fone nos ouvidos a todo instante, ao mesmo tempo em que estão realizando outras atividades e assistindo TV. Por isso, alguns chamam esta geração de “geração silenciosa”. Rápidos e ágeis com os computadores, têm dificuldades com as estruturas escolares tradicionais e, muitas vezes, com os relacionamentos interpessoais, uma vez que a comunicação verbal é dificultada pelas tecnologias presentes a todo o momento. (NETO; FRANCO, 2010, p. 14, grifos dos autores).
Embora essa citação se configure como uma possível definição de uma geração
específica, é importante dizer que um marco cronológico, é sim, um ponto referencial de
uma geração, contudo, não deve servir como única base para que se estabeleçam os
limites e as formas de agir de um determinado grupo etário em sua totalidade. Afinal,
“afirmar que um jovem pertence à geração Y ou Z porque nasceu depois de 1978/1982 é
simplificar o conceito e a compreensão da ideia de geração, pois é preciso que se
reconheçam os fatos históricos marcantes de uma época e/ou região” (OLIVERIA et all,
2012, p. 553).
O que é um fato marcante dessa nova geração Z, como diz Neto e Franco (2010),
é que ela sofre devido à ruptura brusca nas formas de como se percebe e de como se
relaciona com o mundo a sua volta. Essa observação, que é de ordem pessoal feita por
Neto e Franco e que tem embasamento empírico, está baseada na experiência dos
autores como professores, que têm contato diário com os jovens que recém terminaram o
ensino médio e também é resultado de leituras sobre o avanço tecnológico e sua
influência nessa geração.
Essa geração Z, fortemente influenciada pelo avanço da tecnologia da informação,
vê-se seduzida pela atratividade que os meios midiáticos o sintonizam com o mundo.
Neto e Franco argumentam ainda que:
[...] as crianças e jovens navegam na rede livremente, seduzidas por sua estrutura, que é uma metáfora de nosso pensamento fluido e não-linear. Por isso é tão doloroso para muitos jovens, hoje, a leitura de um livro. Ela é limitada, engessada, não faz hiperlinks diretos. Por exemplo, imaginemos um jovem que está lendo o capítulo de um livro no qual em um parágrafo lê sobre o suicídio de baleias. O jovem quer saber mais sobre o tema, mas o livro não lhe dá a possibilidade do link
direto. A internet, sim. Em menos de um minuto, ele não só saberá muito sobre o tema, como poderá ver as imagens e ouvir os sons de muitos casos desses suicídios em um site como o Youtube, e daí poderá dar novos saltos. E, note-se, muitas vezes não retornando ao assunto/tema inicial de sua pesquisa/navegação. (NETO; FRANCO, 2010, p. 15, grifos dos autores).
Eis, portanto, um desafio para a escola de nosso tempo: como tornar o simples ato
de ler, uma tarefa atrativa? Mas o simples ato de ler pode, de fato, sintonizar o jovem com
o mundo que o cerca? É isso que significa a chamada leitura crítica? O que faz a leitura, o
estudo sistêmico das disciplinas escolares, ganharem esse sentido de situar o jovem no
seu tempo histórico e ajudá-lo a compreender-se no mundo e com os outros sujeitos no
mundo?
A resposta possível a esses questionamentos é: uma educação, uma formação
escolar crítica. Mas o que é essa educação crítica? Como pode a escola, o professor
atuar nessa formação que se espera crítica, a fim de posicionar o aluno frente ao mundo?
Primeiramente parece certo que a escola, seus gestores, sua equipe pedagógica, os
demais funcionários, os alunos e seus responsáveis, entendam e definam o que vem a
ser uma formação crítica que, aliás, deveria transparecer em seu currículo escolar. Sobre
a necessidade de o currículo transparecer essa compreensão, Freire (1990) nos ensina
que:
[...] o currículo é uma outra instancia de uma política cultural cujas práticas significativas contêm não só a lógica da legitimação e da dominação, mas também a possibilidade de formas transformadoras e empowering de pedagogia. Além de tratar o currículo como uma narrativa cujos interesses devem ser postos a descoberto e examinados criticamente, os professores radicais devem desenvolver condições pedagógicas em suas salas de aula que permitam as diversas vozes dos alunos sejam ouvidas e legitimadas. (FREIRE, 1990, p. 20).
Cabe a necessária observação de que as vozes dos alunos, para Freire, devem ser,
na mesma medida em que são respeitadas pelos professores, ponto de partida para que
discutam com os alunos como suas falas podem, e o são, permeadas por outras vozes,
algumas ideologicamente preparadas para que a visão de mundo deles seja ofuscada,
mesmo utilizando-se dos mais avançados recursos tecnológicos.
O desenvolvimento dessas condições pedagógicas, que hoje são dinamizadas pela
tecnologia, tende a permitir, para aqueles professores que buscam oportunizar a seus
alunos uma educação crítica, que o aluno explore sua capacidade criativa.
[...] uma pedagogia crítica não deve reprimir a criatividade dos alunos (a repressão à criatividade vem sendo uma verdade no correr de toda a história da educação). A criatividade precisa ser estimulada, não só no nível da individualidade do aluno, mas também no nível de sua individualidade num contexto social. [...] Os educadores jamais deveriam negar a importância da tecnologia, [...] Na verdade, a
tecnologia representa a criatividade humana, a expressão da necessidade do risco. (FREIRE, 1990, p. 38).
A forma como nossos alunos têm expressado sua criatividade também tem sofrido
forte influência do mundo midiático. Obviamente que essa afirmação também cabe aos
professores, porém, em diferentes medidas e ações. Como já se disse, desde a
Antiguidade, o homem tem se deparado com formas diferenciadas de apreensão do
conhecimento, que tem se manifestado por meio de diferentes ações criativas. Essa
criatividade é empregada na forma com que nos colocamos diante do objeto a ser
conhecido e também, de quais mecanismos físicos e mentais empregamos para, do
objeto a ser conhecido, fazermos as análises possíveis.
Assim, é pertinente discutir que na atualidade muitos estudos têm se dedicado a
pesquisar diferentes formas de apreensão do conhecimento que, em alguns
pesquisadores, recebe no nome de módulos de inteligência. Entre os pesquisadores que
se destacam nessa área, está Howard Gardner.
Em seu trabalho, Gardner diz que:
Embora todos os seres humanos possuam todas as inteligências em algum grau, certos indivíduos são considerados “promissores”. Eles são extremamente bem-dotados com as capacidades e habilidades essenciais daquela inteligência. Esse fato se torna importante para a cultura como um todo, uma vez que, em geral, esses indivíduos excepcionalmente talentosos realizarão notáveis avanços nas manifestações culturais daquela inteligência. (GARDNER, 1995, p. 31, grifo do autor).
Percebe-se, somente por esse enunciado, que para Gardner há diferentes
inteligências, dai sua obra dedicar-se ao estudo do que chama de múltiplas inteligências e,
mais importante ainda, é que o autor é enfático em afirmar sobre a possibilidade de, ao
serem estimuladas, essas múltiplas inteligências, poderem responder positivamente para
o desenvolvimento do próprio indivíduo e, claro, por extensão, para toda a sociedade.
Provavelmente essa provocação, no sentido de olhar para essa teoria com a
possibilidade de estimular diferenciadas áreas de nosso potencial neuronal e sua
possibilidade de direcioná-las para o aprendizado escolar, é o que esteja levando
pesquisadores brasileiros a se debruçarem por essa temática. Para citar um desses, a
pesquisadora Édna Bührer sintetiza os sete módulos de inteligência propostos por
Gardner.
- Inteligência linguística verbal: é a habilidade que o ser humano tem para expressar-se por meio da escrita e da oralidade. Ex.: poetas, políticos, jornalistas e professores; - Inteligência lógico-matemática: é evidenciada pela habilidade em usar os
números, o raciocínio lógico. Ex.: bancários, contadores, programadores de computador e matemáticos; - Inteligência corporal cinestésica: representa a habilidade em usar o corpo para expressar ideias, sentimentos e solucionar problemas. Ex.: dançarinos, atletas e atores; - Inteligência musical: caracteriza-se pela sensibilidade ao ritmo, entonação, melodia, e pela facilidade em distinguir ritmo, tempo musical e a cadência em canções. Ex.: compositores, músicos, instrumentistas e cantores; - Inteligência espacial: possui sensibilidade para a forma, espaço e cor e na habilidade de representar ideias visuais e espaciais graficamente. Ex.: Artistas gráficos, arquitetos, cartógrafos, pintores e escultores; - Inteligência interpessoal: é a habilidade em compreender o humor, os sentimentos, as motivações e as intenções dos outros e responder efetivamente a outras pessoas na resolução de problemas e conflitos. Ex.: professores, psicólogos, terapeutas, líderes religiosos, pais e pessoas que se destacam em trabalhos em grupo; - Inteligência intrapessoal: tem a habilidade de compreender a si mesmo, suas forças, fraquezas, desejos e intenções. Ex.: romancistas, psicólogos, filósofos e terapeutas. (BÜRHER, 2005, p, 11).
Reconhecer o papel desses estudos na contemporaneidade como possíveis
recursos a se somarem com as ferramentas midiáticas que temos hoje à disposição para
o emprego no processo educativo, é reconhecer que estamos procurando viver à altura
do desenvolvimento de nossa época. É também, minimamente, por parte do professor,
uma postura de quem procura dinamizar sua práxis pedagógica na medida em que
compreende essa ação como uma busca em estreitar a relação que estabelece com o
mundo e sua dinâmica procurando sua compreensão e a necessária e constante
readaptação.
Uma coisa é certa: vivemos hoje em uma dessas épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem das representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento de regulação social ainda pouco estabilizados. Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, quer dizer, uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado. (LÉVY, 1993, p. 17).
Portanto, não basta somente admitir que vivemos em tempos de profundas
mudanças, nem tampouco de que a escola necessita absorver essas mudanças e que o
professor necessita identificá-las como potenciais ferramentas tecnológicas a serviço da
educação. Também temos que superar o simples discurso que torna imperativo que
essas mudanças, ou o que pretendemos com elas, façam parte bem escrita de nossos
currículos escolares. Antes, necessitamos desenvolver atitudes práticas para podermos
propor e executar essas mudanças, compreendendo porque a propomos e, inclusive,
porque, na maioria das vezes, não as executamos.
Provavelmente, uma atitude primeira em busca de se atingir a esses objetivos seja
a predisposição para o diálogo sobre essa temática. Sim, todos os envolvidos com a
educação pública devem se disponibilizar, na medida de seu possível, para podermos
tematizar essas mudanças, discuti-las, debatê-las, teorizá-las.
Essa disponibilidade para o diálogo, que não significa somente dizer que
estaremos presentes, deverá nos levar a uma primeira tomada de consciência sobre
nossa responsabilidade diante da temática, para, na sequência, e é o que se espera, a
conscientização de nossa responsabilidade no ato educativo, que, nesse caso, implica o
possível reconhecimento e o aprofundamento da discussão de como, em tempos
midiáticos, a teoria das múltiplas inteligências pode dinamizar a atividade nuclear da
escola, a saber, oportunizar ao aluno o saber científico, elaborado socialmente, e como
esses saberes lhes são, e continuarão sendo, úteis em suas vidas.
Com esse pano de fundo, ancorado no desejo de poder, de alguma forma,
contribuir para a melhoria da educação publica, por meio da provocação aos professores
que nela atuam, quanto a aproximarem-se dessa teoria e discutirem a possibilidade de
sua aplicação, é que se idealizou e se realizou um trabalho de pesquisa e de intervenção
em uma escola pública.
A REALIZAÇÃO DO PROJETO
O público-alvo do projeto de implementação foram os professores do
estabelecimento de ensino CEEP Manoel Moreira Pena. O projeto teve como objetivo
básico responder ao seguinte questionamento: podem os professores, sensibilizados pela
teoria das múltiplas inteligências, preparar aulas diversificadas que estimulem os
diferentes módulos de inteligência?
Estava previsto o início da implantação do projeto no primeiro semestre de 2015,
porém devido a greve dos professores da rede estadual de ensino, essa fase executiva
iniciou-se somente no segundo semestre, momento que estaria destinado somente a
escrita do artigo final.
Para a formação do grupo, foram feitas várias divulgações, entre elas a produção
de cartazes e comunicados verbais durante as reuniões pedagógicas, e mesmo a
abordagem pessoal aos professores. Posteriormente foi feita uma reunião com os
professores interessados, para divulgação detalhada do projeto e esclarecimentos de
eventuais dúvidas. Também se aproveitou para a definição das datas dos encontros.
Esses encontros iriam acontecer sempre nas terças-feiras, com início às 19:00h e término
às 23:00h, totalizando 4:00h de trabalho em cada encontro. Ao final dessa fase foi
formado o grupo de professores que iriam participar da fase executiva do projeto de
implementação, num total de 7 (sete) professores. Foi definida a data de 28 de julho como
a data de início do projeto, mas devido aos fatores climáticos, houve necessidade de
adiarmos por duas semanas o seu início, pois 4 (quatro) professores tiveram problemas
respiratórios que impossibilitaram os encontros.
Na data de 11 de agosto se iniciaram os encontros. No primeiro encontro procurou-
se provocar o grupo por, de início, coloca-los diante da teoria das inteligências múltiplas
propostas por Howard Gardner, bem como das ideias de Paulo Freire quanto à formação
do sujeito crítico. Também, neste momento, detalhamos, ainda que com um grau de
superficialidade, o que são os 8 (oito) módulos de inteligência, propostos pelo
pesquisador Howard Gardner, sendo elas: linguística verbal, lógico matemática, espacial,
musical, cinestésico corporal, naturalista, interpessoal e intrapessoal. Esses módulos
seriam, doravante, o mote central das discussões que seriam realizadas nos demais
encontros para podermos, num processo dialógico e com a contribuição de outros
pesquisadores e profissionais que iriam participar dos trabalhos, discutir, analisar e
teorizar como essa abordagem pode contribuir com o processo educativo escolar.
No segundo encontro assistimos ao filme “O Milagre de Anne Sullivan”, que narra a
história verídica de Helen Keller. Essa personagem da vida real, criança surda-muda que
tem sua vida transformada quando sua família contrata Anne Sullivan como sua
professora. Após o filme foi promovido um debate, onde foram levantados vários pontos
interessantes, que chamaram a atenção dos professores participantes. Um destes foi a
tenacidade com que a professora Anne Sullivan manteve o seu foco, ou seja, não desistiu,
apesar das grandes dificuldade no início de seu relacionamento com a menina Helen
Keller. Também chamou a atenção dos participantes a busca incessante de meios e
técnicas empregadas por Anne para ensinar e alfabetizar a aquela jovem menina, com os
recursos que tinha.
O terceiro encontro foi uma oficina com o prof. Jadir Steiger, de Foz do Iguaçu, que
é professor da rede estadual de ensino na área da Educação Especial. Esse professor
atua como escriba de alunos com paralisia cerebral. O professor iniciou suas atividades
narrando suas experiências com alguns alunos e seu desenvolvimento, e ao final fez
algumas dinâmicas com os demais professores.
No quarto encontro foi uma oficina com a neuroeducadora Suzane Morais, que tem
experiência profissional da educação infantil a superior, passando pela supervisão escolar
e também na gestão de escolas. Em sua oficina, apresentou algumas teorias quanto a
neurofisiologia, neuroquímica e neuroanatomia. Além da aplicação de algumas dinâmicas
com o grupo de professores. Todos foram unânimes, ao final do encontro, ao dizerem da
importância de que essas informações também sejam compartilhadas com o restante da
equipe de professores, quiçá, toda a rede de professores pudesse ter contato com essas
informações.
Nos encontros seguintes foram trabalhados detalhadamente os oito módulos de
inteligência, onde se apresentou uma introdução da teoria de cada um e foram
desenvolvidas dinâmicas que abordavam as especificidades de cada módulo. Como
exemplo, quando da abordagem da inteligência musical, foram convidados alunos da
escola para algumas apresentações. Fato marcante nesse trabalho foi a apresentação de
um aluno da APAE, que demonstrou com muito entusiasmo, seus saberes musicais que
lhe servem de meio para melhor interagir com a sociedade, apesar de sua deficiência.
Nesse encontro foi possível comentar sobre uma experiência vivida em um dos
eventos organizados pelo PDE que foi o Seminário Temático: Diversidade e Currículo.
Realizado em 2014, na Cidade de Francisco Beltrão, Sudoeste do Paraná. Nesse evento
os participantes foram brindados com a apresentação de um grupo de alunos da APAE de
Francisco Beltrão que criaram uma banda chamada de “Banda Entre Amigos”. Relatei ao
grupo que um dos componentes da banda disse que antes de integrar a banda, ele não
falava, e foi esse contato, esse estímulo, ou seja, podemos aludir, o estímulo de sua
inteligência musical, que o fez, agora, interagir melhor com o mundo.
Para trabalhar a inteligência cinestésico, corporal foi convidada a pedagoga e
bailarina Pamela Jaquelina Naibo da Silva, de Foz do Iguaçu, para ministrar uma oficina
para os professores. Nessa oficina os professores participantes foram informados
antecipadamente da necessidade de se utilizar calçado adequado e roupas confortáveis,
pois essa atividade seria inteiramente prática e sem convidados externos, a pedido dos
professores participantes. Em sua oficina a professora Pamela utilizou-se de recursos
musicais diversos, de ritmos dos mais variados o que tornou o trabalho bastante
agradável e forneceu comentários interessantes sobre o uso do ritmo, da importância da
expressão corporal durante algumas atividades docentes.
O GTR (Grupo de Trabalho em Rede)
O Grupo de Trabalho em Rede – GTR, é uma modalidade de curso EaD
(Educação a Distância) promovido pela Secretaria de Estado da Educação, e que faz
parte do PDE. O GTR é aberto a todos os docentes em atividade na Secretaria de Estado
da Educação, tanto concursados quanto temporários. Esses professores podem escolher
a temática que lhe interessar, tendo como critério apenas que seja da sua área de
concurso ou formação, ou então cursos na área da Gestão, que são abertos a todos.
O GTR teve a participação de 20 (vinte) professores, em maior parte de
professores pedagogos que atuam na formação de docentes. Outra parcela importante de
professores também com experiência na educação especial fez parte do grupo.
Os professores que participaram do GTR fizeram contribuições importantes no
decorrer do curso on-line. A professora H.V., por exemplo, citou o caso dela,
coordenadora do curso Técnico em Informática modalidade subsequente, que tem
clientela bem heterogênea, tanto na idade cronológica quanto na formação educacional.
Ela relatou que suas experiências envolvem alunos de 17 anos, portanto, recém formados,
até alunos com mais de 50 anos, ou seja, que já concluíram seus estudos de a muito
tempo. Alunos com bom conhecimento já adquirido na área da informática, como também
alunos com quase nenhuma experiência na área. E viu, disse ela, nas inteligências
múltiplas, uma tentativa de diminuir essa diferença grande entre os indivíduos.
O professor L. S. sugeriu a leitura do texto “Análise Comparativa: Paulo Freire e
Howard Gardner”, de Marco M. da Silva, que traça paralelos entre as ideias desses dois
pensadores.
Freire na própria linha de combate – dada sua intensa atuação política -, e Gardner no meio acadêmico, fornecem as bases para uma renovação e aprimoramento do trabalho escolar, no sentido de fazer da Escola um espaço efetivamente democrático, no qual todas as inteligências devem ter espaço, bem como relevante para a vida, capaz de abolir de sua prática a improfícua educação bancária que lhe tem caracterizado. (Silva, 2007, p. 8)
E o autor ainda traça outro paralelo entre os dois autores,
ambos estabelecem caminhos similares: a valorização da realidade do aluno – que só assim seria capaz de desenvolver as inteligências que lhe são potenciais enquanto ser humano (Gardner), passando a reconhecer a cultura local como legítimo objeto do conhecimento escolar (Freire); o trabalho em equipe, - visto que ninguém aprende sozinho (Freire) e só a conjunção das inteligências individuais (Gardner) pode dar conta da complexidade implicada nos problemas concretos a serem solucionados; a abolição da aula como transmissão estéril de teorias – como educação bancária em síntese (Freire), já que só contato com problemas concretos (Gardner) possibilitaria o desenvolvimento das inteligências pontuais. (Silva, 2007, p. 8)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho foi desenvolvido com o objetivo de se aprofundar conceitos da teoria
das inteligências múltiplas. Os professores participantes mantiveram-se motivados e
participaram com dedicação das atividades propostas, tanto do grupo que se reuniu na
escola quanto do Grupo de Trabalho em Rede – GTR.
No período em que se realizou o projeto foram trabalhados diversos materiais
complementares que produziram gráficos mostrando o grau de desenvolvimento em cada
um dos módulos de inteligência propostos por Howard Gardner. Esses materiais também
foram preenchidos pelos alunos que participaram da oficina sobre inteligência musical. O
resultado, previsível, mostrou que esse módulo de inteligência é bem desenvolvido neles.
A análise desses gráficos também serviu como demonstração prática de que nossos
alunos possuem, cada um, diferentes módulos de inteligência desenvolvidos. Isso deu
uma demonstração de que, de acordo com esses gráficos, cada aluno possui suas
entradas sensoriais preferenciais. Sendo assim, demonstra-se a necessidade de se
planejar aulas que possibilitem, na medida do possível, estímulos diferentes para que
essa mesma aula possa atender a essas diferentes necessidades.
Com relação aos professores que participaram do GTR, chamou a atenção o
público-alvo atendido: professores que atuam no curso de formação de docentes e
professores com experiência na educação especial. Esses profissionais interessaram-se
pelo aprofundamento da teoria das inteligências múltiplas. Esses profissionais, de acordo
com relatos dos próprios profissionais no decorrer das atividades EaD, têm buscado em
sua prática docente diferentes métodos de ensino, que possam atender as suas
diferentes necessidades. Alguns profissionais inclusive já tinham incluído a teoria das IM
na ementa da disciplina de Psicologia da Educação do curso de Formação de Docentes.
Ambos os grupos concordam que a teoria das IM precisa ser melhor explorada
pelos professores. Todos incluíram em seus comentários finais a necessidade de se fazer
atividades tanto para professores quanto para alunos, no sentido de tornar essa teoria
mais acessível a todos da comunidade escolar. Alguns professores inclusive escreveram
nas atividades do GTR que irão realizar atividades com alunos do primeiro ano, até como
ferramenta para se fazer o devido diagnóstico do perfil intelectual individual, de cada
aluno, e também do perfil médio de cada turma. Os resultados desse trabalho poderiam
auxiliar na escolha das metodologias e ferramentas a serem utilizadas durante o ano
letivo pelos professores. E também auxiliar os alunos na escolha da sua sistematização
de estudos.
REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Manual de técnicas de dinâmica de grupo de sensibilização de ludopedagogia. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987. ARMSTRONG, Thomas. Inteligências múltiplas na sala de aula. 2 ed. Porto Alegre:
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