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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O USO DO BLOG NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE
CIÊNCIAS
JOSIANE DE FATIMA LACERDA SOFKA 1
NILSON BUENO KOMINEK 2
RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir a importância da pesquisa, contextualização
e utilização da Internet como ferramenta de trabalho no processo ensino-aprendizagem de Ciências. O presente texto demonstra resultados obtidos com o trabalho da implementação de atividades contextualizadas, descritas na produção didático pedagógica e da construção do blog educativo: Matéria e Energia. A intervenção foi realizada baseando-se nos pressupostos do construtivismo e teve como público alvo os alunos do 9º ano do ensino fundamental. A metodologia centrou-se na pesquisa bibliográfica e na observação ativa da pesquisadora como membro do grupo na construção do espaço virtual cooperativo. A análise dos resultados aponta que práticas contextualizadas, fazendo o uso de tecnologias, pesquisa cientifica orientada e trabalho coletivo chamam a atenção dos educandos e, ainda que em pequena escala, propicia discussões e aumenta a participação, contribuindo para a aprendizagem significativa e para a
construção do conhecimento. PALAVRAS-CHAVES: Internet; Contextualização; Pesquisa; Ciências; Blog Educativo.
1 Professora de Ciências e Química, QPM, lotada no Colégio Estadual Dr. Décio Dossi, pós
graduada em Ciências Matemática. 2 Professor da UTFPR. Engenheiro Eletricista. Doutor em Educação pela Universidade de Salamanca – Espanha.
INTRODUÇÃO
Diante das inúmeras notícias a respeito do cenário educacional brasileiro,
o que se verifica atualmente é que a escola, mais precisamente o professor, tem
enfrentado uma série de dificuldades com relação ao desinteresse dos alunos
em aprender o conteúdo escolar. Independentemente da classe social, como
afirma Reis (2012), é muito comum ouvir dos professores a descrição de
aprendizes profundamente desinteressados e alheios ao conhecimento que lhes
é apresentado diariamente em sala. Pezzini (2007) compactua dessa mesma
afirmação e ainda descreve que “parte dos alunos frequentam as aulas por
obrigação, sem, contudo, participar das atividades básicas”. Ficando apáticos
diante de qualquer iniciativa dos professores e estes, por sua vez, tornam-se
cada vez mais desmotivados e frustrados com o trabalho docente.
No Colégio Estadual Dr. Décio Dossi, local de intervenção desse trabalho,
alunos do 9º ano desatentos e totalmente adversos ao conteúdo trabalhado não
eram novidade para a equipe pedagógica. Diariamente, uma quantidade
significativa desses educandos era encaminhada pelos professores às
pedagogas, com o intuito de aplicação de advertências ou, então,
aconselhamentos que os levassem a refletir sobre a indiferença, falta de
comprometimento e respeito ao professor. Entretanto, na maioria das vezes,
quando iniciávamos uma conversa com o discente o que se constatava é que o
desestímulo às aulas tinha uma razão. Apesar de tanto falarmos a respeito da
contextualização, inovação, incentivo e adequação da realidade local,
verificávamos ainda que, infelizmente, pouca coisa havia mudado.
Em sala, as aulas continuavam sendo aplicadas de forma tradicional,
conteudista e com auxílio de tecnologias extremamente básicas. Não que isso
fosse totalmente errado. Como ressalta Teixeira (2002, p. 43), “a utilização das
novas tecnologias na escola não quer significar que os tradicionais recursos
utilizados devam ser terminantemente deixados de lado”, porém, o ensino focado
somente nos saberes dos professores, totalmente desvinculado à necessidade
do aprendiz e com a agregação de pouco ou nenhum recurso que desperte à
curiosidade, geralmente levava ao desestimulo. O que, para Silveira (2008),
acaba causando a frustração dos dois lados. Dessa forma, situações em que
alunos distraídos e desatentos às aulas se envolviam em conversas paralelas e
indisciplina eram uma constante. O que acabava gerando uma série de
transtornos para os mesmos, como a redução da média bimestral e a
aprendizagem insatisfatória.
Somadas a essas ocorrências, tínhamos ainda, reclamações constantes
dos professores a respeito dos alunos estarem costumeiramente utilizando
celulares em sala de aula para entrar em redes sociais, mandar torpedos, jogar,
colar nas provas ou simplesmente navegar na internet, sem ter qualquer intuito
pedagógico. E, por fim, a reclamação dos alunos a respeito das aulas não serem
bastante motivadoras ou desafiadoras, o que para os próprios alunos é motivo
de desestimulo e descaso com as disciplinas.
Tomando por base estas situações, sentimos a necessidade de
diversificar o ensino de Ciências, propondo como alternativa de estudo o ensino
contextualizado e pautado na pesquisa e construção do conhecimento. Mas
como despertar o interesse dos alunos da geração “net” pelas aulas, de modo
que lhes apresentem significado? Seria possível um projeto reverter à forma de
como o conhecimento pode ser assimilado pelo aluno, passando da passividade
para a construção cognitiva?
Estes questionamentos foram os propulsores da realização dessa
intervenção, que teve como objetivo geral o desenvolvimento, na internet, de um
blog educativo para hospedar informações, endereços e assuntos ligados ao
conteúdo Matéria e Energia, com o intuito de estimular os alunos às práticas de
pesquisa e investigação para o desenvolvimento do saber através da construção
do conhecimento e utilização pedagógica da tecnologia.
Para discutir o tema proposto, a primeira medida adotada fora a busca da
fundamentação teórica necessária para o embasamento da intervenção e
efetivação do projeto no ambiente escolar. Assim, as atividades desenvolvidas
para a concretização do estudo foram elaboradas dentro de uma proposta que
evidenciasse o desafio e a problematização como princípios básicos para a
edificação do saber científico. Nessa perspectiva, os alunos tiveram a
oportunidade de participar da construção do conhecimento durante todas as
etapas de elaboração e concretização das atividades sugeridas.
A implementação foi realizada com os alunos do 9° ano A, do Colégio
Estadual Dr. Décio Dossi, de Fazenda Rio Grande, no período de fevereiro a
maio de 2014, contando com o trabalho cooperativo entre as professoras regente
de classe e do PDE e consolidou-se por proporcionar aos participantes o
aprendizado de Ciências através da contextualização, pesquisa e uso da Internet
como instrumento auxiliar no processo ensino-aprendizagem.
CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
A Importância da Inovação, Contextualização e Pesquisa no Ensino de
Ciências
Em uma sociedade cujos conhecimentos e demandas formativas mudam
constantemente, é primordial que os futuros cidadãos sejam aprendizes eficazes
e flexíveis, com procedimentos e capacidades de aprendizagem que lhes
permitam adaptarem-se eficazmente às novas exigências e realidades
pleiteadas tanto pela sociedade como pelo mercado de trabalho. Sob essa ótica,
pode-se dizer que inovar a maneira de ensinar, utilizando-se de tecnologias e
encaminhamentos metodológicos que propiciem a significância e a construção
do conhecimento por parte do educando, poderá constituir-se em um dos
caminhos necessários para alavancar a qualidade do ensino.
Atualmente, o ensino de Ciências vem ganhando um novo formato,
preocupando-se em fazer com que o processo de ensino-aprendizagem desta
matéria seja mais contextual. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica
(DCE), elaboradas em 2008 pela Secretaria de Educação do Paraná são um
exemplo dessa atenção, recomendando, entre outras indicações, que os
conteúdos disciplinares sejam tratados de modo contextualizado, inseridos em
uma relação interdisciplinar e apresentados sem verdades imutáveis e
desprovidos da tradicional rigidez que se apresentam.
A preocupação em adaptar os conteúdos científicos a um formato mais
significativo ao entendimento do aluno não expressa uma vontade de mudança
movida apenas pela inovação dos pensadores de educação, mas traduz a
necessidade de tornar as matérias repassadas em sala de aula tão interessantes
a seu público alvo quanto às demais informações que lhe são apresentadas fora
dela.
Freire (2002), ao defender um ensino de significância, descreve que a
inibição da curiosidade do educando é uma prática que desfavorece a formação
intelectual do indivíduo. Os PCN (1998) também corroboram desse mesmo
argumento e enfatizam que a abordagem dos conteúdos de maneira mecânica
e descontextualizada, em que o estudante fica à mercê da repetição automática
de textos e atividades decoradas, sugere a aprendizagem arbitrária e não
significativa.
Assim como uma máquina, a mente humana precisa de estímulo para o
seu funcionamento. Paralelamente a um equipamento que necessita de
combustível ou energia para realizar suas atividades, para desenvolvermos a
capacidade de raciocínio, argumentação e debate sobre determinado assunto,
precisamos ser estimulados para tal fim.
Almeida e Junior (2000, p.94), ao abordarem a necessidade de os
professores instigarem constantemente seus alunos a fim de leva-los à
necessidade da pesquisa e investigação do assunto em questão, descrevem:
O aluno adquire autoconfiança ao ser perguntado sobre seus processos mentais e ao ser valorizado enquanto os realiza. O aluno aprende que as suas ideias se tornam imensamente enriquecidas quando ele ouve a do outro, mesmo que seja para duvidar do que ele disse.
Indiscutivelmente, o grande desafio da escola contemporânea é
apresentar seus conteúdos de forma dinâmica, atual e contextualizada à
realidade do aluno, como todas as fontes de informação que despertam o
interesse do indivíduo moderno os são.
A inserção de novas tecnologias na educação, que ao encontro a uma
abordagem de construção e contextualização do conhecimento, venham
desenvolver aprendizagens significativas e a melhoria dos indicadores de
desempenho do sistema educacional como um todo, é um dos principais
objetivos da educação contemporânea. Freire (2000) descreve sobre a
necessidade de estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares
fundamental aos alunos e a experiência social que os mesmos têm enquanto
cidadãos. As DCE (2008, p.30) também legitimam esse argumento, entretanto,
fazem uma ressalva com relação à contextualização, descrevendo: “É preciso,
porém, que o professor tenha cuidado para não empobrecer a construção do
conhecimento em nome de uma prática de contextualização”.
É necessário que tenhamos cuidado para não reduzir a abordagem
pedagógica somente aos limites da vivência do aluno. A educação deve levar
em conta os saberes pré-concebidos dos alunos na sociedade, porém, é
necessário que esses sejam apenas o ponto de partida para os próximos
processos, que vinculam o desenvolvimento do pensamento abstrato e a
sistematização do conhecimento como um todo.
A Utilização da Informática na Educação
Não se pode negar que a utilização de recursos tecnológicos associados
às práticas diferenciadas podem produzir bons efeitos no processo ensino-
aprendizagem, redefinindo a atividade pedagógica e ajudando na construção do
conhecimento pelos educandos.
O uso massivo de mídias por parte da população em geral, tem mudado
a concepção de muitas pessoas e, em consequência, da escola também. Para
Caldas (2005), a divulgação do conhecimento científico na mídia acelera o
contato da sociedade com o mundo da ciência. No entanto, este contato
superficial não garante o conhecimento necessário para uma educação científica
aceitável. Para alcançar esta totalidade, é preciso preparar nossos alunos para
que saibam tirar um proveito dessas tecnologias de forma consciente.
De acordo com Heide (2000, p. 16):
A educação será a chave para resolver problemas econômicos e entre culturas, e as gerações mais jovens é que precisarão encontrar soluções. Estamos todos cientes de que temos a responsabilidade de oferecer aos alunos de hoje as habilidades que eles precisarão para ter sucesso no ambiente de trabalho que, cada vez mais, baseia-se nas informações.
A escola contemporânea tem um grande desafio pela frente: Educar os
alunos de hoje para que sejam capazes de “sobreviver” no mundo cada vez mais
competitivo de amanhã. Como as tecnologias estão presentes no nosso dia a
dia, propor um ensino que não esteja conectado com essa realidade é, no
mínimo, utópico.
A Internet é uma ferramenta que, devido a seu dinamismo e eventualidade
de interação, geralmente impressiona os adolescentes. Nela os alunos
aprendem a definir suas necessidades de aprendizagem através da pesquisa e
construção do conhecimento.
Moran (1997, p. 5) em seu artigo como utilizar a Internet na Educação,
descreve que a motivação dos alunos na web ocorre devido às possibilidades de
pesquisa e novidade. Motivação esta, aumentada quando o professor utiliza-se
dessa ferramenta por intermédio de uma abordagem contextualizada,
interessante e dinâmica. O fato de ver seu nome na internet ligado à divulgação
de trabalhos e pesquisas estimula o adolescente de tal modo, que a tendência é
aumentar a sua participação em outros trabalhos.
Segundo Teixeira (2002), a utilização das tecnologias de informação no
ambiente escolar, é necessária. Entretanto, não no sentido de oferecer o mesmo
ensino com outras ferramentas, mas o de desenvolver novos caminhos de
interação e aprendizagem. Assim, a escola sai da situação de produtora e passa
para a condição de reprodutora do conhecimento.
A tecnologia quando empregada de modo planejado e para objetivos bem
definidos, é uma forte aliada no processo ensino-aprendizagem. Kalinke (2003,
p.16) afirma: “É fundamental que, além de se apropriar da tecnologia, o professor
saiba como direcionar o seu uso, bem como o dos seus recursos. Entendê-los e
dominá-los é o primeiro passo para utilizá-los com sucesso”. Moran (1997, p.
152) também corrobora dessa afirmação e descreve:
Ensinar utilizando a Internet pressupõe uma atitude do professor diferente da convencional. O professor não é o “informador”, o que centraliza a informação. A informação está em inúmeros bancos de dados, em revistas, livros, textos, endereços de todo o mundo. O professor é o coordenador do processo, o responsável na sala de aula. Sua primeira tarefa é sensibilizar os alunos, motivá-los para a importância da matéria, mostrando entusiasmo, ligação da matéria com os interesses dos alunos, com a totalidade da habilitação escolhida.
É evidente que, frente ao emprego da internet como ferramenta de
trabalho, o papel do professor em sala de aula passará por uma mudança. De
acordo com Delors (2003), nos dias atuais o professor tem função decisiva na
educação, visto que a ele cabe a responsabilidade de formar o caráter e o
espírito das novas gerações. Nesse sentido, os professores não se tornarão
obsoletos, pelo contrário, serão cada vez mais necessários. Sobre isso, Heide
(2000, p.24) descreve:
Quando professores e alunos estão conectados ao mundo, as estratégias de ensino e de aprendizagem mudam. (...) os professores mudam sua maneira de ensinar, passando de “fornecedores do
conhecimento” a “companheiros do processo de aprendizagem”.
Com o acesso à internet, os professores tornar-se-ão direcionadores do
processo de ensino e, como tal, deverão estar sempre em alerta com o rumo
tomado pelos alunos durante as pesquisas e construção do conhecimento.
Uso do Blog como Ferramenta Pedagógica no Ensino de Ciências
Os blogs ou blogues, conhecidos como sites de atualização rápida, são
espaços interativos onde não há restrições específicas para a publicação e
expressão de conteúdo, tampouco limite de espaço ou discernimento de
usuários. Quaisquer pessoas ou comunidades, podem criar um blog e nele
postar informações que julguem necessárias ou interessantes.
Apesar das características semelhantes a de um diário, no que tange ao
aspecto estrutural de publicação, o blog se apresenta como uma página de
notícias ou jornal. A dinâmica de suas postagens, como observa Araújo (2009),
é apresentada de forma cronológica e seus textos, também chamados de posts,
podem ser escritos (postados) apenas pelo autor do blog ou por uma lista de
membros que ele convide e autorize a postar mensagens. Esses textos,
geralmente, são acompanhados de data e horário de postagem e de links para
acesso direto a um texto específico, o que possibilita a discussão e maior
interação entre os participantes.
Outras características relevantes dessa ferramenta são a mobilidade de
sua configuração, que pelo fato de ser aberta propicia ao autor ou autorizado o
ajuste ou alteração da página a qualquer momento e a gratuidade do serviço, à
qual garante o acesso à todas as classes sociais, abrindo espaço para que
qualquer pessoa ou instituição possa desenvolver e manter o site sem a
necessidade de pagar pelo serviço.
Na área educacional, os blogs podem ser considerados importantes
aliados no processo ensino-aprendizagem e seu uso como ferramenta educativa
vem sendo discutido por vários autores, entre eles: Senra e Batista (2011),
Mantovani (2006), Moran (2007), Araújo (2009).
Por apresentar linguagem de programação simples e disposição de uma
série de artifícios tecnológicos, tais como: sons, imagens e vídeos, o blog pode
constituir-se em um grande recurso atrativo para os jovens, pois como observa
Gutierrez (2003, p.12), “são aplicativos fáceis de usar que promovem o exercício
da expressão criadora, do diálogo entre textos, da colaboração”, o que favorece,
em muito, a aplicação dos mesmos, tanto em sala de aula como em atividades
extra classe.
Outra grande vantagem no uso do blog na educação, segundo Senra e
Batista (2011), é a facilidade do professor fazer intervenções, acompanhando e
orientando todas as postagens dos educandos segundo o ritmo de cada um.
Assim o aluno trabalha de acordo com a sua agenda e disposição, ficando livre
das pressões impostas pelo horário de sala de aula. Araújo (2009, p.64) também
descreve a importância do blog na esfera educativa, comentando: “Os blogs
potencializam a construção de redes sociais e de saberes. Mas é a criatividade
de professores e alunos que vai determinar sua otimização”.
Assim, o que podemos constatar de antemão, é que essa ferramenta
quando bem direcionada pode constituir-se num interessante recurso de apoio à
aprendizagem, formação científica e criticidade. Sem contar a facilidade de
aproximação e de contato professor x aluno e aluno x aluno, o que certamente
desencadeia laços de fraternidade e de respeito cotidiano.
PERCURSO METODOLÓGICO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Levando-se em conta o plano de análise delineado pelo Projeto de
Intervenção e consequente implementação das atividades em sala de aula, a
proposição desse estudo baseou-se na utilização da Internet como ferramenta
de pesquisa, construção e aprimoramento do processo ensino-aprendizagem do
ensino de Ciências. E baseando-se na afirmação de Ramos e Ramos (2005, p.
37), de que: “A pesquisa se realiza quando temos um problema e não temos
informações para solucioná-lo”, seu foco principal foi obter informações
referentes ao problema central da pesquisa e revelar situações não assimiladas
durante a análise bibliográfica.
Os dados apresentados neste artigo foram obtidos por meio da
observação participante baseada na pesquisa-ação. A escolha desse tipo de
abordagem se deu por concordarmos que essa interpelação tenta “resolver ou
pelo menos esclarecer os problemas da situação observada.” (GAYA, 2008, p.
113). E por corroborarmos com Silva (1986, p.153), ao afirmar que o pesquisador
“pode (...) juntamente com os grupos, elaborar e desenvolver, conjuntamente,
uma proposta de investigação ou, ainda, a proposta pode se originar do
investigador e contar com a participação dos grupos interessados”. O que,
avigorou veementemente a proposta desse estudo.
O Colégio Dr. Décio Dossi, local de realização desse estudo, possui um
laboratório de informática climatizado e equipado com 40 computadores
conectados à internet e com software livre, projetor multimídia com tela para
projeção e ainda dois outros ambientes propícios à pesquisa virtual; cada um
com aproximadamente 10 computadores. Entretanto, apesar de bem equipados,
os laboratórios são pouco utilizados pelo Ensino Básico.
Os sujeitos da pesquisa, um total de 29 alunos, foram escolhidos segundo
a proposta do próprio Projeto de Intervenção, com base em estudos verificados
anteriormente pela equipe diretiva do colégio.
A intenção do trabalho com blog surgiu da necessidade de propormos aos
alunos uma nova metodologia de abordagem que veiculasse o prazer de
“navegar” na internet e a utilização de equipamentos tecnológicos com a
construção e aprimoramento do conhecimento aprendido na sala de aula. Pois,
segundo Heide (2000, p. 23), “Utilizando a Internet como uma ferramenta, os
alunos podem explorar ambientes, gerar perguntas e questões, colaborar com
os outros e produzir conhecimento, em vez de recebê-los passivamente.”
A escolha do aplicativo usado para a efetivação desse estudo, Blogger da
Google, foi fundamentada com base em dois adjetivos principais: o primeiro, por
ser uma versão livre e disponibilizada em rede. E o segundo, pela facilidade de
acesso aos conteúdos, dispensando conhecimentos técnicos para a realização
e postagem das atividades no ambiente.
O trabalho de implementação iniciou com a apresentação do Projeto de
Intervenção aos professores e funcionários do colégio e posterior capacitação
da professora regente, na primeira semana pedagógica de 2014. Tal formação
foi necessária para apresentar os passos e mecanismos necessários para a
efetivação do estudo no decorrer do tempo. Pois, de acordo com Heide (2000,
p. 27), “Com acesso à Internet, a sala de aula torna-se um ambiente de
aprendizagem colaborativa ainda maior, na qual o professor fornece a direção,
a orientação e a inspiração.”
O primeiro encontro com os estudantes se deu na sala de aula, na
abertura do período letivo de 2014, sendo apresentado o projeto com a
explanação de todos os requisitos necessários para a concretização do estudo,
como: concepção de um blog educativo, pesquisa e apresentação do
conhecimento na internet, agentes responsáveis pela conduta do estudo e
produção das informações, formatação de trabalhos científicos e
responsabilidades autorais.
As próximas duas aulas foram realizadas no laboratório de informática do
colégio, dando início à criação e à liberação dos e-mails dos alunos no blog. O
principal intuito dessas ações foi vincular os alunos como participantes ativos na
construção e caracterização das atividades propostas, assim como,
disponibilizar o ambiente de interação (fórum) a todos os discentes inscritos no
ambiente virtual.
A próxima medida adotada foi a capacitação dos alunos para começo das
pesquisas e postagem das informações produzidas no decorrer da
implementação. Nessa fase, além da distribuição de uma apostila, previamente
elaborada para facilitar a compreensão dos alunos e da professora regente a
respeito do uso do ambiente web, houve ainda a cooperação daqueles
estudantes que já tinham fluência tecnológica nessa ferramenta para
compartilharem conhecimentos com os demais integrantes da pesquisa e com a
professora regente.
Como o intuito principal desse estudo era a produção de conhecimento
através da mediação dos saberes pelo professor regente e PDE, o layout inicial
do blog, assim como os conteúdos base previamente inseridos não foram
alterados no decorrer da implementação.
Apresentada a ferramenta aos alunos, o próximo passo foi o início das
atividades propostas na unidade I – Estudo da Matéria. Definida como fase
preambular, as primeiras produções colaborativas foram concebidas a partir da
abertura do fórum de discussão e deram continuidade durante todo o processo
de construção das atividades sugeridas.
Nessa fase, a tarefa requerida propunha uma produção audiovisual a
respeito do consumo responsável de materiais de papelaria e informática no
interior do colégio. Para a realização dessa atividade, os alunos deveriam
organizar-se em grupos, previamente definidos entre eles próprios e a
professora e, a partir daí, iniciar a pesquisa. O trabalho em si exigia uma série
de investigações por parte dos estudantes e a sua produção final culminava com
a elaboração de um vídeo, de no máximo 5 minutos, sobre o tema. O material
audiovisual supunha a produção de um documentário, o qual deveria apresentar
uma analogia entre a necessidade de consumo desse material e o impacto
ambiental por ele provocado, se descartado irresponsavelmente no meio
ambiente.
Dentre todos os 29 participantes do estudo, cerca de 6 alunos (21%), não
realizaram a atividade envolvendo o vídeo. A alegação, segundo os próprios
estudantes é que não conseguiram produzir o material devido à falta de recurso
tecnológico. Entretanto, após fazermos uma rápida averiguação, descobrimos
que todos os 6 participantes possuíam celulares com câmeras digitais de
excelente resolução e, o fato de não terem realizado a tarefa proposta não tinha
haver com a falta de recurso, mas sim, com a inexperiência e falha de
comunicação entre os participantes.
A inexperiência provém do fato de que os educandos não estavam
acostumados a tomar atitudes dentro do processo ensino-aprendizagem. Até
aquele momento, os discentes recebiam a grande maioria dos conteúdos de
forma pronta, raramente eram instigados a preparar algo diferente do
convencional. E, quando esta instigação ocorria, era para a produção de
trabalhos científicos requeridos de forma amena, sem a obrigatoriedade de
pesquisa ou construção do conhecimento, restringindo-se a uma breve leitura e
interpretação ou então o famoso “copiar e colar” da web.
A falha de comunicação ocorre porque durante o processo de pesquisa e
formatação das atividades, os mesmos não relataram, em momento algum, às
professoras envolvidas no projeto ou demais colegas de turma, dificuldades de
acesso ou indisponibilidade de aparelhos tecnológicos para a realização da
tarefa proposta.
No que se refere à participação dos alunos no fórum da unidade I,
percebemos certa resistência dos discentes no quesito contato virtual, conforme
demonstrado no gráfico abaixo.
Gráfico 1 - Acesso e interação no Fórum – Fase I (Porcentagem de Alunos)
A principal hipótese para o comportamento receoso e desvinculado dos
alunos está pautada no fato de a tarefa (fórum de discussão) envolver o debate
de um tema científico com alguém visto como “desconhecido” por grande parte
dos alunos. Haja vista que nesse momento apenas a professora PDE interagia
com os mesmos, no ambiente.
Entretanto, como a proposta do Projeto visava o ensino contextualizado e
pautado na construção colaborativa do conhecimento, optamos pela mudança
de estratégia. E, a partir do próximo fórum de discussão, ainda na unidade I, ao
invés de trabalharmos os conteúdos propostos na implementação apenas no
ambiente virtual, passamos a adotar uma nova metodologia de intervenção, em
que as questões foram abordadas inicialmente em sala e somente depois
levadas para discussão na web. Os textos sobre curiosidade científica e “você
sabia”, inseridos no blog sob a forma de notas de rodapé, também foram
trabalhados no formato de debates e pesquisa, rendendo uma série de questões
relevantes e pertinentes ao ensino de Ciências de forma lúdica, prática e criativa.
A mudança na forma de abordagem foi, sem dúvida alguma, um grande
passo para aumentarmos a participação e contribuição dos alunos nos debates
propostos nos fóruns.
A próxima fase do estudo, unidade II, abordava o conteúdo energia e tinha
como proposta de trabalho duas atividades de produção coletiva. Enquanto a
primeira envolvia um trabalho de pesquisa a respeito de energia limpa,
economicamente viável e sustentável, a segunda propunha a simulação de um
tribunal de júri em que moradores e construtores de uma hipotética usina
Hidrelétrica, denominada Hidrix, disputavam na justiça a legitimidade da
construção da usina. Nessas duas atividades, além de trabalharmos o tema
energia e sustentabilidade de forma científica e contextualizada, aproveitamos
também para dar enfoque ao ensino de ciências de forma descontraída e
dramatizada.
Diferente da primeira parte, em que os alunos apresentavam uma série
de limitações na realização das atividades e na participação ativa nos fóruns,
essa segunda etapa teve a adesão da maioria dos discentes.
Gráfico 2 - Acesso e interação no Fórum – Fase II (Porcentagem de Alunos)
No que se refere à integração do grupo com a internet enquanto
tecnologia da informação, observou-se que as dificuldades de acesso e trabalho
identificadas na fase anterior foram naturalmente superadas com o decorrer das
atividades. Os problemas encontrados na primeira fase serviram para conhecer
as dificuldades dos alunos em assimilar o novo conceito de ensino-
aprendizagem apresentado, gerando uma mudança de abordagem, que pode
ser considerada em projetos futuros: a mudança de metodologia deve ser
gradual, conectando as aulas expositivas com as atividades participativas (blog),
primeiramente em uma dosagem equilibrada entre a duas e, aos poucos,
enfatizando a segunda em detrimento da primeira. Isto permitirá que o aluno vá
se acostumando e se interessando pelo novo método de ensino.
As implicações decorrentes da mudança de posição, de mero receptor de
conhecimento para uma postura mais voltada à pesquisa e produção de saberes
puderam ser claramente observadas no processo de realização das atividades
e durante a comunicação nos fóruns de debate e participação. O
amadurecimento teórico-científico, o interesse pela pesquisa e o aumento da
participação dos educandos nas atividades foram os principais diferenciais
notados durante todo o período de trabalho. Os fatores responsabilidade e
comprometimento com o estudo também foram bastante evidentes, visto a
qualidade e o número de postagens efetuadas no blog nesse interim.
Durante o desenvolvimento dos encontros, pôde-se observar a
potencialidade da internet como aliada ao processo de ensino-aprendizagem,
conforme descrito por
Kalinke (2003, p.16), na medida em que os educandos assumiram o papel de
produtores e emissores ativos e autônomos de saberes científicos. Nesta etapa,
além da pesquisa, produção das atividades e disponibilização de informações,
os estudantes ainda tiveram a oportunidade de interagir com os colegas e
professores não somente em sala de aula como também no ambiente virtual,
além de apropriar-se de novas formas de linguagem e expressão científica.
Finalmente, percebe-se que, mesmo diante de todos os desafios impostos
pela implementação desse Projeto, o Blog deu um novo direcionamento ao
ensino de Ciências da turma. Após a intervenção, os alunos passaram a ter
maior comprometimento com o estudo e suas contribuições no ambiente virtual
e em sala tornaram-se mais frequentes. O comportamento em sala e as notas
da disciplina também apresentaram mudanças significativas, o que comprova a
importância da contextualização e do envolvimento dos alunos na pesquisa dos
temas abordados.
Gráfico 3 - Desempenho dos Alunos – Média Trimestral
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização da presente intervenção, pôde-se evidenciar que a
internet pode ser uma grande ferramenta na complementação do método de
ensino tradicional pela aprendizagem participativa, através da qual o aluno deixa
de ser mero receptor do conhecimento para fazer parte da busca de informações
sobre os temas abordados em sala. Esta transformação é a mesma defendida
por Teixeira (2002, p. 117): “... tão importante quanto o acesso ao conhecimento
intelectual na sociedade da informação é a possibilidade de o indivíduo contribuir
ativamente no processo de construção do conhecimento. “
Entretanto, ao lançar mão do blog ou de qualquer outro recurso
tecnológico, o professor deve utilizá-lo como complemento da aula presencial e
não substituto dela. Na conjugação desses expedientes, a aula expositiva passa
a ter, além do caráter de embasamento, a prerrogativa de criar no aluno dúvidas
que serão respondidas durante sua pesquisa e debate no ambiente web, fazendo
da aula presencial um direcionador natural das atividades desenvolvidas no blog,
corroborando com Silva (2007, p. 11), “É certo que o blog não é a solução para
resolver os problemas em sala de aula, também não deve assumir o lugar da
aula presencial, mas pode funcionar como um instrumento de apoio da aula
presencial.”
Deve-se ainda atentar ao fato de que a simples criação do blog não é uma
fórmula “mágica” para alcançar os objetivos de interação entre os alunos. Como
em qualquer outra abordagem, nada funcionará corretamente se não tivermos
engajamento e persistência suficiente para acompanhar todos os desafios
pertinentes a construção e manutenção do blog. Pois, apesar de ser um
instrumento bastante interativo, se não for muito bem planejado e
sistematicamente acompanhado em todos os processos de sua formatação e
periodicidade, pode gerar uma série de transtornos tanto para o professor quanto
para o aluno, tais como: desinteresse, perda de foco, desinformação (busca em
fontes incorretas), entre outros. Apesar do apelo de participação dos alunos na
montagem das postagens e na interação nos fóruns de discussão, cabe ao
professor planejar os temas abordados, acompanhar o resultado das pesquisas
e direcionar os debates online, tornando-se o principal responsável pelo sucesso
ou fracasso do uso desta ferramenta na escola.
Em última análise, se bem implementadas, as atividades propostas neste
projeto, através do uso do blog, instigarão a pesquisa autônoma, porém dirigida,
de informações que complementem os conceitos recebidos, o debate de ideias
sobre o que se descobriu e a divulgação compilada do conhecimento resultante,
contribuindo para a inclusão digital dos alunos e seu aprimoramento no uso da
internet como ferramenta de pesquisa. Além disso, contribuirá para o
desenvolvimento da capacidade de busca e compartilhamento da informação,
comportamento tão valorizado na sociedade moderna.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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