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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
ÁREA PDE: História Nome da professora PDE: Susana Lisboa Gavassi Professor Orientador: Dr. Ricardo Tadeu Caires Silva
GUAIRAÇÁ 2014/2015
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNESPAR -UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ CAMPUS DE PARANAVAÍ
O Impacto do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA na Escola (1990-2015): um estudo de caso
Autora: Susana Lisboa Gavassi1 Orientador: Ricardo Tadeu Caires Silva2
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a complexa relação que se estabeleceu entre o
Estado, a escola e a família, após a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ou seja, entre 1990 a 2014. Para compreensão e análise das políticas de atendimento infanto-juvenil relacionadas no ECA, realizou-se uma reconstituição histórica da trajetória da institucionalização da infância no ocidente e no Brasil, destacando algumas das principais políticas e concepções de infância, bem como aos apontamentos feitos pela mídia e pelos docentes sobre os principais problemas e desafios enfrentados pela escola pública na contemporaneidade. Com base nesta problemática, desenvolveu-se a elaboração de uma unidade didático-pedagógica denominada “O Impacto do Estatuto da Criança e do Adolescente – Eca na Escola (1990-2014)”, cuja implementação ocorreu no Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco – EFM junto aos professores e equipe pedagógica. A apresentação do material didático propiciou aos participantes um aprofundamento referente a Lei 8.060, que propõe uma doutrina de Proteção Integral à Criança e ao Adolescente bem como demonstrou o quanto a escola está desapercebida quanto ao seu papel de integrante do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente.
Palavras-chave: Estatuto da Criança e do Adolescente, escola, História Social da Infância, Políticas Públicas.
Introdução
A promulgação da Constituição Federal, em 1988, garantiu às crianças e
adolescentes brasileiros o direito à prioridade absoluta nas políticas de Estado,
reparando, assim, séculos de omissão e descaso para com estes. Segundo determina o
Art. 227 da Carta Magna,
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
1 Professora de História do Ensino Básico do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco – EFM, Guairaçá - PR. Especialista em Competências e Habilidades para o Ensino de História do Brasil pela FAFIPA e Métodos e Técnicas de Ensino pela UFTPR. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Pinhais e Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE 2014). 2 Doutor em História pela UFPR. Professor do curso de História da Unespar - Campus de Paranavaí.
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL: 1988).
Dessa forma, a nova Constituição estabeleceu as bases para que nossas
crianças e adolescentes passassem a ser prioridade nas políticas públicas. Seguindo esta
premissa, anos mais tarde, mais especificamente em 1990, foi aprovado o Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA. Considerado um dos estatutos mais avançados do
mundo, o ECA foi elaborado sob a doutrina da proteção integral e explicitou os direitos e
deveres das crianças e adolescentes brasileiros.3
Passadas duas décadas de sua aprovação, os defensores do Estatuto – tais
como Edson Sêda, Irene Rizzini, Murilo José Digiácomo, entre outros - continuam na luta
para fazer valer suas normas. Dentre outras medidas, eles reivindicam que o Estado
brasileiro envide esforços e invista mais recursos na implantação da rede de serviços
necessária para tirar do papel as políticas públicas capazes de atender aos dispositivos
do ECA. Por sua vez, seus opositores - entre eles muitos políticos, jornalistas,
apresentadores de programas policiais, etc. -, tecem críticas cada vez mais duras e
clamam por uma urgente reforma, sobretudo no que diz respeito à punição de “menores
infratores”.4 Para estes, o ECA superprotege nossas crianças e adolescentes, retirando
das famílias e instituições qualquer poder sobre estas.
Visando contribuir para com este importante debate, este artigo tem por objetivo
analisar a relação que se estabeleceu entre a escola, a família e o Estatuto da Criança e
do Adolescente. Para tanto, realizamos um estudo de caso junto aos professores e equipe
pedagógica do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco – EFM, em
Guairaçá-Pr. A ideia nasceu a partir das constantes críticas feitas por estes profissionais
ao estatuto, fato notado também na mídia televisiva e nas redes sociais. Como exemplo
do que estamos falando, basta o leitor dar uma rápida passada pelos canais que exibem
3 Para Edson Sêda, um dos idealizadores do ECA, a doutrina de Proteção Integral consiste na busca da justiça quando o Direito de alguém (no caso criança ou adolescente) for violado ou ameaçado. Segundo Sêda, a possibilidade de justiça (ou injustiça) não está mais disposta apenas ao Poder Judiciário, mas distribuída em todo o complexo social. Sendo assim, uma das medidas propostas pela nova Constituição foi a de transferir parcelas do poder da União para os municípios, realizando a descentralização da política social do país. Um desses processos de municipalização foi a criação dos Conselhos Municipais de Direito e Conselhos Tutelares, que são responsáveis pelo cumprimento das leis referentes à criança e ao adolescente na sociedade (SÊDA, 1995). 4 Dentre os parlamentares a favor da redução da maioridade penal está o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
programas policiais - tais com o Cidade Alerta, da TV Record ou o Brasil Urgente, da
Band - para presenciarmos críticas implacáveis ao ECA por conta de uma suposta
superproteção aos “menores”.
Para melhor compreender nosso objeto e efetivar a pesquisa, realizamos uma
revisão bibliográfica sobre a História da Infância no ocidente e no Brasil. O referencial
teórico utilizado foi pautado nos autores da chamada Nova História Cultural, em especial
na obra do historiador marxista britânico E. P. Thompson (BURKE: 2008; PESAVENTO:
2005). O objetivo foi o de entendermos o longo caminho percorrido até se chegar às
atuais políticas de atendimento às crianças e adolescentes. Em seguida, elaboramos um
Unidade Didática para ser aplicada aos professores e equipe pedagógica. A
implementação da proposta foi desenvolvida por meio de um curso de extensão,
abordando a temática: O impacto do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA na
escola (1990-2014).
História e historiografia da infância no ocidente
A primeira referência que lembramos ao falarmos da história da infância é o
clássico História Social da Criança e da Família (1978), do historiador francês Philippe
Ariés. Nesta obra, Ariés nos mostra a descoberta da infância no período de transição da
sociedade medieval para a sociedade moderna, a partir do surgimento do sentimento de
infância e de família. Para o autor, a partir do século XVII a classe burguesa europeia
passa a perceber a existência da criança como um ser encantador, frágil, que necessitava
de cuidados físicos e morais. Surgia, assim, o sentimento de família. (ARIÈS, 1978. p.
105).
Visão alternativa à de Ariés nos é apresentada por Colin Heywood. Em Uma
história da infância (2004), Heywood defende que a infância não era desconhecida na
Idade Média. Pelo contrário, tal sentimento existia e era próprio ao período por tratar-se
de uma construção social e histórica. Por outras palavras, para o autor, a ideia de infância
tem significados próprios a cada época e contexto social, haja vista que são
compreendidos de formas diferenciadas, influenciados por questões culturais, filosóficas,
econômicas e religiosas. Dessa forma, pode-se afirmar que “a imaturidade das crianças é
um fator biológico, mas a forma como ele é compreendida e se lhe atribuem significados é
um fato da cultura (HEYWOOD: 2004, p.12). Partindo dessa premissa, Colin Heywood
propõe uma periodização diversa para as várias infâncias presentes ao longo da história
ocidental: do século VI ao VII; do século XII ao XIV; do século XVI ao XVII; do século XVIII
ao início do XIX; e, finalmente, do final do XIX ao início do século XX (HEYWOOD: 2004).
Para fins específicos da nossa pesquisa, interessou-nos delimitar o advento das
primeiras políticas de atendimento à infância. E estas começam a surgir com o aumento
da pobreza e consequentemente o abandono de crianças. É então que irrompe a primeira
forma de assistência aos “expostos” que foram os hospitais, entre os séculos XII e XIII.
Eram pequenas instituições, gerenciadas pela Igreja que assistiam e abrigavam
andarilhos, doentes, mendigos e crianças abandonadas onde muitas vezes, coabitavam
nesses hospitais ou hospícios no mesmo quarto com os doentes adultos. Começava
assim, no século XIII, a fase da caridade pública de proteção à criança desvalida
(MARCÍLIO, 2006). Nestes hospitais foi instaurada a Roda, sistema com que se evitava
que os enjeitados fossem abandonados em qualquer lugar e assegurava-se o anonimato
do expositor. As amas de leite mercenárias eram o pilar do sistema de assistencialismo
dos expostos. Com o passar dos séculos, a Europa adotou novas formas de assistência
pela filantropia higiênica, mas foi somente após a Segunda Guerra Mundial que o Estado
assumiu a responsabilidade pela assistência e proteção à criança desvalida, dando início
à fase denominada Bem-estar Social. (HEYWOOD: 2004)
E no Brasil, como esse processo ocorreu? É o que veremos a seguir.
História e historiografia da infância no Brasil
A assistência à criança abandonada no Brasil seguiu os moldes de
assistencialismo praticado em Portugal, nação europeia que nos colonizou. Conforme
aponta Marcilio (2006), esse assistencialismo também ocorreu em três fases: caritativo,
filantrópico eugênico e Estado de Bem-estar social. A fase caritativa teve início no século
XVI perdurou até meados do século XIX. Em linhas gerais, apresentava três formas de
atendimento: as Câmaras Municipais, a Roda de Expostos e a adoção informal dos
expostos por famílias. Em toda a colônia as Câmaras foram omissas em sua obrigação.
Nunca houve uma preocupação com mudança social, o que gerou um aumento de
expostos na mendicância, prostituição e criminalidade pelas cidades brasileiras. As Rodas
dos Expostos foram instituições essencialmente urbanas, administradas pelas Casas de
Misericórdia. Segundo Marcílio (2006) no Brasil a Roda dos Expostos está diretamente
relacionada a um fator predominante que era a preservação da ordem familiar, da moral
pública e hegemonia social, devido principalmente a exploração pelo senhor branco da
mulher índia ou negra.
Cabe destacar que esse modelo de atendimento perdurou até o final do século
XIX. Contudo, com o advento da República (1889), ganharam força as políticas de cunho
higienista e moral. A partir de então, médicos, juristas e o próprio governo se esforçam em
oferecer às crianças pobres desamparadas um espaço onde elas pudessem ser
preparadas para que se “transformassem em cidadãos úteis e produtivos para o país,
assegurando a organização moral da sociedade” (RIZZINI, 1995 p. 112). E é nesse
contexto que os juristas criam uma designação diferente para o termo “criança”. Criança
passa a ser o termo designado aos filhos da classe burguesa, refletindo o que já havia na
Europa: “o sentimento de infância será diferente entre os filhos da classe burguesa e os
filhos da classe trabalhadora” (ARIÉS, 1978). Para os filhos dos pobres e da classe
trabalhadora começa a ser empregado o termo “Menor”.
Segundo Londoño, (1991: p.135), os juristas brasileiros “descobriram” o menor
nas crianças pobres e abandonadas nas cidades, que ao cometer delitos eram levadas à
cadeia, sendo chamados então de “menores criminosos”. O desamparo moral e material
em que viviam essas crianças abandonadas e infratoras deixou de ser caso de polícia e
passou a ser uma questão de assistência e proteção garantida pelo Estado com a
aprovação do Código de Menores, em 1927. Dessa forma, com a formulação do Código
de Menores a problemática do “menor” foi assumida oficialmente pelo Estado
(VIOLANTE: 1986, p. 15).
Durante a era Vargas (1930-1945) surgiram várias instituições de caráter social
destinada às classes trabalhadoras. A criança pobre e sua família passaram a ser objeto
de algumas ações sociais do governo, na tentativa de compensar as mazelas pelas quais
passavam o trabalhador. Tal política paternalista tinha por intuito evitar possíveis
manifestações e revoltas populares. Assim, o foco das políticas públicas da era Vargas
será o fortalecimento da assistência social aos grupos que apresentavam
“desajustamento social”, pois tornavam-se uma ameaça a própria nacionalidade
(RIZZINI:1995).
Porém, com o golpe militar de 1964 estabeleceu-se a Política do Bem Estar do
Menor (PNBEM), que introduziu na rede nacional a Fundação do Bem Estar do Menor
(FUNABEM), a partir da criação das FEBEM´s. Nesse período, o Brasil passava por um
processo mais acentuado de urbanização devido ao acelerado ritmo de exclusão do
homem do campo, o chamado êxodo rural. Essas famílias saiam do campo e de seus
locais de origem e iam para as periferias das grandes cidades em busca de padrões de
vida melhores, enaltecidos pelas políticas de desenvolvimento nacional. (FUNABEM,
1976, p.14, apud RIZZINI). Contudo, diante da falta de emprego, muitas famílias
acabavam se empobrecendo ainda mais e, por conseguinte, alguns acabavam na
marginalidade. Portanto, advinha desse segmento a maioria das crianças e adolescente
atendidos pelas FEBEM´s. assim, as políticas adotadas pela FUNABEM reforçavam e
reproduziam a condição marginal do menor, tanto econômica, como social e
psicologicamente. (VIOLANTE: 1989).
No ano de 1968 o governo brasileiro firmou com o Fundo das Nações Unidas para
a Infância (UNICEF) um acordo pelo qual assumiria os preceitos da Declaração Universal
dos Direitos da Criança. Porém, na prática, o que ocorreu foi a aprovação um novo
Código de Menores (de 1979), mais repressivo, baseando-se na mesma doutrina da
situação irregular que pautava o código anterior (1927). Ou seja, as crianças continuaram
a ser tratadas como problema e a repressão continuava a ser a tônica das políticas
públicas.
A partir da década de 1980, com a crise do regime militar, o Brasil começa a
passar por uma série de transformações políticas, as quais vão impactar
significativamente as políticas pública para a infância.
O nascimento das políticas de proteção Integral à criança e ao adolescente no
Brasil
Foi apenas a partir da década de 80 do século XX, no bojo da redemocratização
política do país, que o Brasil passou a conhecer novas maneiras de se pensar a infância.
Ao longo desta década houve uma crescente organização de diversos setores da
sociedade brasileira, pressionando por maior abertura política, pela redemocratização e
por uma nova Constituição. Em 1985, inicia-se o processo de abertura, e mesmo que
indiretamente, um presidente civil foi eleito. Em 1988 foi promulgada a nova Constituição
Federal, consolidando o Brasil como país democrático. (NAPOLITANO: 2014).
Nesse novo contexto, era visível para a sociedade o fracasso do Código de
Menores de 1979 e, como consequência, era preciso rever o papel do Estado e a
responsabilidade da sociedade como um todo. As crianças, chamadas de “pivetes”,
“trombadinhas”, “menores abandonados”, “infratores”, entre outros, tornam-se objeto de
atenção e visibilidade por parte da sociedade civil organizada e pelos meios de
comunicação, demonstrando ser um dos problemas sociais mais graves do país.
(RIZZINI: 1995).
A articulação do setor público federal com organizações da sociedade civil atingiu
seus objetivos em 1988, com a aprovação do Artigo 227 da nova Constituição Brasileira.
Esta, tomando por base os postulados da Declaração Universal dos Direitos da Criança,
fundamentou a Doutrina de Proteção Integral à Criança, determinando a família, o
Estado e a sociedade como responsáveis pela defesa e promoção dos direitos da
criança (BRASIL:1988). Dois anos mais tarde, mais especificamente em 13 de julho de
1990, foi promulgado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Reconhecendo a
criança na sociedade como sujeito de direitos e objeto de proteção integral, a Lei 8.069
substituiu o repressivo Código de Menores de 1979 “e instaurou novas referências
políticas, jurídicas e sociais. O país baniu a categoria ‘menor’ do arcabouço conceitual e
jurídico, introduzindo a moderna noção de adolescência [...]” (PEREZ e PASSONE, 2010
p. 666).
Ao reconhecer a criança e o adolescente como sujeitos de direitos e pessoas em
pleno desenvolvimento, o ECA estabeleceu parâmetros e conceituou o que é criança e o
que é adolescente. Segundo versa o estatuto:
Art. 2º Criança, [...] a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade. Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade [...]. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento (BRASIL, 1990).
Para melhor cumprir seus propósitos, o Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA foi dividido em duas partes. Na primeira, são elencados os princípios norteadores do
Estatuto, tais como proteção integral, direitos fundamentais e prevenção. Na segunda,
que é a parte especial, são abordadas as políticas de atendimento, medidas de proteção,
a prática do ato infracional, as medidas pertinentes aos pais ou responsáveis, o conselho
tutelar, o acesso à justiça, a apuração de infração administrativa, os crimes e as infrações
administrativas. Dessa forma, o livro I destina-se a todas crianças e adolescentes,
enquanto o livro II é voltado às crianças e adolescentes em situação de risco.
Para que os princípios de Proteção Integral sejam efetivados é preciso que todos
os entes da federação façam a sua parte. Os municípios, por exemplo, devem implantar
dois importantes conselhos, que são: o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, que delibera e toma decisões de grande envergadura, tais como o desenho
das políticas públicas; e o Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, responsável por
atender os casos concretos de crianças e adolescentes ameaçados ou violados em seus
direitos. (SÊDA, 1995b p. 71)
O ECA é sem dúvida uma grande conquista no que concerne à proteção das
nossas crianças e adolescentes. Porém, decorridos 25 anos de sua criação, percebemos
que o processo de sua implementação é lento e enfrente muitos percalços e
contratempos; tendo em vista que em todos estes anos a maioria dos municípios
brasileiros não investiu o suficiente em políticas públicas capazes de atender
satisfatoriamente os preceitos contidos no Estatuto, tais como acesso à educação, saúde,
moradia, etc. Por isso, não sobram crítica quanto à eficácia do mesmo, seja por parte dos
que o defendem seja por parte do que o condenam. Vejamos, a seguir, como o ECA
impactou a relação entre as crianças, suas famílias e a escola.
O ECA e a escola: garantindo direitos
Analisando mais detidamente o ECA, observamos que o direito à educação e, por
conseguinte, o acesso à escola e à escolarização, são tratados no Capítulo IV: Do Direito
à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer. Além de preconizar a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola, o artigo 53 estipula que as crianças e
adolescente tenham acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência (ECA:
1990). Por sua vez, o artigo 54 determina que as escolas ofereçam atendimento
educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino e também ofertem atendimento em creche e pré-escola às crianças de
zero a seis anos de idade. Tal fato implica que os poderes públicos devem construir mais
creches e escolas e contratar profissionais capacitados para atender a demanda.
Visando assegurar o direito à educação, o Estatuto obriga os pais matricularem seus
filhos na rede regular de ensino (Art. 55). Outra medida importante é a prevista no Art. 56,
que determina que os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão
ao Conselho Tutelar os casos de:
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares; III - elevados níveis de repetência (BRASIL: 1990)
Esta medida implica necessariamente uma interação entre a escola e o Conselho
Tutelar. A intenção dos legisladores é a de que os diretores (as) das escolas auxiliem a
protegem as crianças que são vítimas de maus tratos no ambiente familiar bem como
garantir que estas tenham acesso ao direito de escolarização. Porém, muitas autoridades
escolares se furtam de realizar estes comunicados por temer conflitos com os pais e/ou
responsáveis pelas crianças.
Todas estas medidas sinalizam que a escola tem que se adaptar à nova Lei para
tornar-se parte integrante na Rede de Proteção à Infância e Adolescência. Contudo, na
prática, o que se nota é que a maioria de nossas escolas ainda não estão integradas à
rede de proteção. Pelo contrário, parecem andar na contramão do que preconiza o
Estatuto, na medida em que o responsabilizam pelo agravamento dos problemas
enfrentados em seu cotidiano como a indisciplina escolar.
O ECA e o aumento da indisciplina escolar: uma relação causal?
Um dos maiores problemas enfrentados pelos estabelecimentos escolares no
Brasil na atualidade, quer sejam eles públicos quer sejam privados, é a indisciplina
escolar (VASCONCELLOS: 2009). Segundo o psicólogo Yves de La Taille:
se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações. (LA TAYLLE: 1996, p. 10).
Ou seja, a indisciplina é o descumprimento de normas fixadas pela escola e pelas
legislações em vigor. Tal conduta atrapalha o aprendizado escolar e acarreta diversos
problema no ambiente escolar, os quais atingem não só os alunos, mas também a equipe
pedagógica, os professores e os demais agentes escolares.
Dados do Sindicato dos Professores do Estado do Paraná apontam que em 2012,
dos aproximadamente 76 mil professores do Quadro Próprio do Magistério (QPM), 9,55
mil foram afastados por transtornos mentais ou comportamentais, o que representa 12%
do efetivo. Outros 5 mil profissionais se afastaram por doenças do sistema osteomuscular
e tecido conjuntivo.5 Segundo o sindicato, a principal causa desses afastamentos dos
docentes das salas de aula tem ligação estreita com a indisciplina escolar.
Mas o que explica esse fenômeno? Quais as suas causas? Por que a indisciplina
e a violência no âmbito escolar aumentaram nos últimos anos? Para muitos professores e
professoras, a resposta pode em parte ser encontrada na vigência do Estatuto da Criança
e do Adolescente. No entendimento de grande parte dos profissionais da educação a Lei º
8.069 outorgou muitos direitos à criança e ao adolescente ao passo que deixou de
contemplar seus deveres e obrigações. Com isso, abriu-se espaço para que estas se
sentissem onipotentes diante dos professores e demais agentes escolares. Ou seja, o
ECA passou a proteger qualquer atitude de violência e indisciplina por parte das crianças
e adolescentes. Mas será que isto é verdade? Será que o Estatuto de fato não reserva
espaço para a punição dos atos considerados violentos ou impróprios? Será que a escola
e seus profissionais estão de fato desamparados legalmente?
Para o pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa6 o ECA chegou às escolas de
uma forma distorcida, haja vista que não houve um trabalho com as redes de ensino para
entender o Estatuto:
5 Relatório Estatístico de Doenças da Secretaria Estadual de Administração e Previdência - PR (SEAP) 2012. 6 Antônio Carlos Gomes da Costa foi oficial de projetos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e auxiliou na redação da Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
É porque ela (a escola) não foi trabalhada para isso. Quando o Estatuto foi lançado, as forças sociais que estavam por trás do Estatuto se dirigiram muito mais para a polícia, para a Justiça da Infância e da Juventude, para o Ministério Público, para os internatos que privavam de liberdade as crianças por pobreza e não por cometimento de delito. Então havia tantos desafios que a escola ficou com uma lateralidade. Nenhum ator social importante se empenhou em fazer o Estatuto chegar à escola de forma não distorcida. (grifos meus) (COSTA:2007).
A dificuldade em compreender que o estatuto estabelece direitos, mas também
obrigações, e que nele constam, inclusive, as medidas que cabem ao adolescente que
comete ato infracional, propaga entre os educadores a concepção de “impunidade” a qual
estão submetidos as crianças e os adolescentes. Entretanto, segundo Antônio de Mello
Júnior o que ocorre é a falta de informação dos agentes escolares ao não saber discernir
o ato de indisciplina do ato infracional. Para ele é necessário saber diferenciar tais
condutas para saber quais medidas devem ser aplicadas. No caso de ato indisciplinar as
sanções devem estar previstas no Regimento Escolar. O autor afirma que não há lei que
proíba a aplicação de sanções às crianças e adolescentes que comprovadamente,
pratiquem atos antissociais no ambiente escolar (MELLO JUNIOR: 2013, p.26). Assim,
para os autores acima citados, é a falta de informações referentes ao ECA o principal
responsável pelos equívocos e mal-entendidos acerca do Estatuto e da doutrina que o
mesmo consagra. E tal fato tem origem na falta de capacitação dos agentes escolares,
pois constata-se que faltou mais investimentos na formação e capacitação dos
professores, equipe pedagógicas, diretores, etc.
Mas se o ECA não é o principal responsável pelo aumento da indisciplina escolar,
quais seriam os responsáveis por esse fenômeno? Existiriam outros fatores ou causas a
contribuir para a crise de autoridade enfrentada pelas escolas? A resposta a esta questão
pode estar na própria escola. Buscando entender as mudanças pelas quais a escola
brasileira passou nas últimas décadas, a antropóloga Gilda de Castro (2003), constatou a
progressiva deterioração da imagem do professor (a), a qual foi seguida do aumento da
indisciplina e da violência nas escolas. Para além dos fatores sócio econômicos que
interferiram nesse quadro - tais como a democratização do acesso à escola às camadas
populares e a desvalorização salarial dos agentes escolares-, a autora aponta duas
mudanças que comprometeram profundamente a qualidade da educação brasileira na
segunda metade do século XX: “a transformação da professora em tia e a definição de
uma linha pedagógica denominada aprender brincando” (CASTRO:2003, p. 50). Segundo
ela, essas duas proposições comprometeram severamente a interação entre professor e
aluno, pois a escola tornou-se um lugar de brincadeira e não de trabalho. Ela argumenta
que a desvalorização do papel do professor (a) foi muitas vezes incentivada pelos pais e
reforçado pelos governantes por meio da imposição de um sistema de ensino falho em
qualidade e que só piorou nas últimas décadas do século XX. A escola, uma instituição
até então de elite, foi obrigada a receber os alunos de classes subalternas, cujos valores
culturais estavam ausentes no sistema curricular vigente até então. Assim, estes alunos
passam a sofrer rejeição por não conseguir responder as exigências de uma instituição
tradicionalmente burguesa. Todos estes problemas e muitos outros contidos no entorno
das escolas contribuíram para os conflitos no ambiente escolar, aumentando as situações
de indisciplina e desrespeito à figura do professor (a).
Percebe-se, portanto, que o problema da indisciplina escolar é um problema
complexo e que tem raízes mais profundas do que imaginamos. Por isso, devemos
analisar a questão à luz de múltiplos fatores ao invés de achar um único culpado. Certo
mesmo é que a escola e seus profissionais devem atuar para fazer valer as disposições
do ECA, pois ambos se complementam. Cabe aqui lembrar que em toda escola deve ter
seu próprio Regimento. Neste instrumento, devem estar previstas as sanções aplicáveis
aos alunos, desde a advertência até as providências de mais rigor. Para que uma escola
funcione com educação de qualidade, além de um currículo com propostas relevantes e
adequadas bem como de abordagens pedagógicas precisas, deve dispor de um
Regimento Escolar abrangente, com regras claras, conhecido por todos os integrantes da
comunidade escolar, para se garantir, no que tange à disciplina, as condições para que o
processo de ensino e de aprendizagem tenha um livre percurso.
Dessa forma, os problemas envolvendo indisciplina de alunos devem ser resolvidos
no âmbito da própria escola, através de mecanismos internos destinados à (re)
conciliação e à mediação de conflitos. Um destes mecanismos é a rede de proteção à
criança e ao adolescente, pois, muitas vezes, um ato de indisciplina é um indicativo de
graves problemas no ambiente familiar.
Em suma, acreditamos que a partir do momento em que a escola estabeleça
parcerias com os demais entes públicos encarregados de zelar pelos direitos e deveres
das crianças e adolescentes muitos dos problemas que estão presente no seu cotidiano
serão solucionados a contento e a harmonia reinará no ambiente escolar.
Feitas estas considerações, vejamos agora como ficou estruturado o curso de
extensão para os professores e equipe pedagógica e quais os resultados colhidos.
A Implementação da Proposta de Intervenção Pedagógica na Escola
A implementação do projeto de intervenção pedagógica na escola abordando a
temática “O impacto do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA na escola (1990-
2014)” foi desenvolvido de duas maneiras distintas, obedecendo às instruções propostas
pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2014. Num primeiro momento
ofertou-se um curso de formação continuada, na modalidade presencial, aos professores
e equipe pedagógica do Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco - EFM –
Guairaçá. Na sequência, realizou-se a oferta do aludido curso na modalidade de
Educação a Distância - EAD, visando estender os resultados da presente pesquisa aos
demais professores da rede pública estadual de ensino por meio do Grupo de Trabalho
em Rede (GTR).
O curso foi estruturado em 32 aulas, as quais foram divididas em 08 encontros.
Nestes, foram discutidos temos como: a História Social da Criança no Brasil; o advento do
Estatuto da Criança e do Adolescente –ECA; e a relação que se estabeleceu entre o
Estatuto, a família e a escola; e por fim as representações dos docentes e equipe
pedagógica acerca do ECA.
O material utilizado para a realização da implementação foi a Unidade Didático-
Pedagógica, da qual os participantes receberam uma cópia. Avaliamos que a
receptividade e assiduidade do curso pelo público alvo foi satisfatória, haja vista que no
decorrer das aulas houve acaloradas discussões e debates sobre o ECA e as dificuldades
encontradas pelos professores em entender a relação do Estatuto com os problemas
vivenciados na escola.
Com a implementação foi constatado que os professores, em sua maioria, fazem
uma interpretação equivocada do Estatuto. Na visão destes, o ECA é responsável em
parte pela indisciplina gerada na escola na medida em que tiram desta a autonomia para
discipliná-las. Estes entendem que a escola, mesmo tendo um Regimento, não tem
autonomia para tomar medidas em relação a criança ou adolescente que causam a
indisciplina. O desconhecimento e a visão pelo senso comum são fatores usuais em
relação ao ECA, confirmando assim a fala do presidente da Conanda, José Fernando da
Silva:
[...] os professores, assim como a maioria da população, não conhecem o Estatuto. O desconhecimento leva à ideia de que a lei serve como uma arma para os adolescentes, quando na verdade se trata de um escudo (SILVA: 2011).
Uma possível explicação para essa falta de conhecimento e má interpretação dos
professores (as) em relação ao ECA pode estar na falta de capacitação e/ou formação.
Analisando os cursos de formação que são ofertados pela SEED, percebemos que
embora esta Secretaria tenha disponibilizado alguns materiais referente ao Estatuto, tais
como o caderno temático “Enfrentando a Violência na Escola” (2008), são poucas as
oportunidades de uma formação mais consistente. Muitos dos cursos ofertados são de
caráter optativo e de curta duração. Por exemplo, na “Formação em Ação”, de 2015, foi
oferecido aos Agentes Educacionais a opção de leitura de alguns textos e a assistência
vídeos bem sucintos sobre o tema “ECA na escola”. Também no “Portal Dia a dia
Educação” estão disponibilizados alguns materiais para leitura. E, mais recentemente, o
programa PDE criou uma Linha de Estudos que tem permitido que vários professores
desenvolvam trabalhos utilizando como tema de estudo o Estatuto da Criança e do
Adolescente. É claro que estas ações são importantes, mas por si só são insuficientes
para mudar a percepção que os professores (as) possuem do Estatuto, haja vista que
dependem muito do interesse e esforço individual de cada docente em se qualificar.
Nesse sentido, os participantes argumentaram que somente o acesso a uma formação
mais aprofundada, onde além de materiais pedagógicos sejam ofertados cursos de média
e longa por profissionais que atuam no cumprimento do ECA, pode vir a dotá-los de mais
subsídios para atuar com segurança e aplicar o estatuto às situações vividas na escola.
Também houve muita discussão em relação ao ato infracional e ao ato indisciplinar.
A maioria dos professores e da equipe pedagógica reconheceu que a escola ainda não
consegue tomar as medidas cabíveis para resolver os conflitos mais graves. Muitas vezes
o medo de retaliação por parte do aluno infrator ou de sua família faz com que os
professores recuem em tomar as medidas precisas, pois se sentem inseguros e
desamparados frente à violência que tem se instalado nas escolas de um modo geral.
Em linhas gerais avaliamos que o curso foi muito produtivo e consegui despertar
nos participantes o sentimento de valorização do Estatuto enquanto um importante
instrumento na defesa dos direitos e deveres de nossas crianças e adolescentes.
Considerações finais
A aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA representou um
importante avanço legal na proteção e garantia de direitos à infância. Contudo sabemos
que as leis, por si só, não têm o poder de mudar a realidade. Para que estas cumpram a
função pela qual foram criadas é preciso que os responsáveis pela administração pública,
em diferentes níveis, façam a sua parte. No caso do ECA, é fundamental que se invistam
recursos na construção das instituições educativas e na formação de profissionais para
pôr em prático aquilo que o Estatuto preconiza em seus artigos. Deste modo, sem a
adoção de políticas públicas capazes de fazer valer os direitos e deveres das nossas
crianças e adolescentes a norma legal perde eficácia e cai no descrédito popular.
Tal é o caso que se passa com o ECA, decorridos 25 anos de sua criação. São
muitas as críticas feitas cotidianamente na mídia contra vários dos seus dispositivos,
sobretudo no que se refere à punição dos atos infracionais. A sensação de impunidade,
provocada por falta de instituições sócio educativas capazes de atender os adolescentes
infratores, causa revolta e alimenta o desejo de vingança naqueles que querem a justiça a
todo preço. Tal sentimento, comum nas páginas e programas policiais, se disseminam por
diversos setores da sociedade, inclusive na escola.
O aumento da indisciplina e da violência no ambiente escolar tem afetado a saúde
de muitos profissionais da educação, fazendo com que parte destes compartilhem do
entendimento de que o Estatuto é o culpado pelo advento destes problemas. Entretanto,
ao se analisar de perto o conhecimento destes profissionais acerca do ECA, como
fizemos na presente pesquisa, o que se constata é o desconhecimento ou o
conhecimento superficial da lei. As múltiplas leituras e a vivência no cotidiano escolar nos
permitiram concluir que a implantação do ECA ocorreu de modo precipitado e sem o
devido preparo dos agentes potencialmente responsáveis por sua realização, quais
sejam: professores, assistentes sociais, pedagogos, família, etc. Muitos docentes, por
exemplo, se espantam ao saber que o Estatuto também impõe deveres às crianças e
adolescentes e pais.
Por isso, concluímos este texto reforçando a necessidade e a obrigatoriedade de a
comunidade escolar ter conhecimento do ECA pois, muitas vezes, por falta de
conhecimento, esta pode estar violando, omitindo ou ameaçando direitos que são
assegurados por Lei à criança e ao adolescente. De igual maneira, tornar os pais
conhecedores de suas responsabilidades, tal como expresso no Estatuto, também é algo
urgente para que atuem em consonância com seu compromisso - não delegando à escola
um papel que é particularmente deles.
Também é preciso destacar que não há formulas exatas para resolver todos os
conflitos surgidos no ambiente escolar. Diante disso, cabe à escola adotar novas posturas
que conscientizem a comunidade escolar acerca do cumprimento das regras por todos
envolvidos bem como promover a atualização do Regimento Escolar e adoção de práticas
restaurativas a fim de atender as necessidades que surgem no dia a dia; cumprindo,
assim, seu papel de formadora de cidadãos críticos e ativos na sociedade.
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