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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · produção de alimentos, por força da natureza, mas sim, como problema de distribuição de tudo o que o homem produzir. (CASTRO,

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR NA PERCEPÇÃO DOS EDUCANDOS E

EDUCADORES: UM ESTUDO DE CASO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS

E ADULTOS

Autora: Janete da Silva Melo¹

Professora orientadora: MS Cristian Carla Volski Cassi²

RESUMO

O presente artigo expõe os resultados de uma pesquisa de intervenção pedagógica intitulada “A alimentação escolar na percepção dos educandos e educadores: um estudo de caso na educação de jovens e adultos”, vinculada ao Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná - PDE/PR. A pesquisa foi realizada no decorrer do ano letivo de 2014, em um centro estadual para educação de jovens e adultos, na cidade de Curitiba, bairro CIC. Teve como objetivo conceber bases teóricas que possam contribuir nas formulações pedagógicas no sentido da incorporação da Alimentação Escolar, como questão pedagógica, no Projeto Político Pedagógico da escola e inserir esta temática no currículo das disciplinas ofertadas aos educandos, bem como entender como a alimentação escolar é percebida pelos envolvidos, em como proporcionar tanto aos educandos como educadores, informações e análises para avançar na consolidação de um direito a uma alimentação de qualidade. A pesquisa de intervenção pedagógica contribuiu com os educadores e educandos deste centro estadual oferecendo referenciais teóricos para o desenvolvimento do Projeto Político Pedagógico vinculado ao exercício da cidadania e as práticas sociais como eixo o direito a alimentação adequada e saudável.

Palavras–chave: Políticas Públicas, Alimentação Escolar, Projeto Político Pedagógico.

ABSTRACT This article presents the results of a survey of pedagogical intervention entitled "School feeding the perception of students and educators: a case study in youth and adult education", linked to the program of the State of Paraná Educational Development - PDE / PR . The survey was conducted during the school year 2014, in a state center for education of youth and adults in the city of Curitiba, CIC neighborhood. Aimed to develop theoretical bases that can contribute in pedagogical formulations towards the incorporation of the School Feeding as a pedagogical issue, the Pedagogical Political Project of school and enter this subject in the curriculum of courses offered to students as well as understand how school feeding is perceived by those involved in providing as much to students as educators, information and analysis to advance in the consolidation of a right to quality food. A survey of pedagogical intervention contributed to the teachers and students of this state center offering theoretical frameworks for the development of the Educational Policy Project linked to citizenship and social practices as the shaft right to adequate and healthy food.

Keywords: Public Policy, School Food, Political Pedagogical Project.

__________________________________

¹Professora da Rede Estadual do Paraná – Graduada em Pedagogia, pela UFPR, em 1999.

²Professora mestre em educação. Vinculada ao Departamento Teoria e Prática de Ensino da UFPR.

Orientadora do PDE/UFPR.

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1 INTRODUÇÃO

Atualmente temos presenciado cada vez mais pesquisas apontando para um

aumento de peso da população mundial, especialmente na América. Isto

provavelmente em decorrência de hábitos alimentares inadequados. Nossos jovens,

adolescentes e adultos estão sendo induzidos pelas publicidades a consumir

produtos industrializados ou comidas prontas (fast food), além do estilo de vida

sedentário da modernidade. Com isto, percebe-se um agravamento do número de

crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade infantil, além de problemas

relacionados a doenças como a diabetes, hipertensão e problemas

cardiovasculares. Por isso, a escola em parceria com a família busca o envolvimento

de todos no que se refere aos hábitos alimentares dos alunos, estimulando-os a uma

alimentação mais saudável. Existem estudos que demonstram para um futuro de

problemas de saúde, com riscos ocupacionais e de óbito precoce inclusive. Para

isto, as políticas públicas vem propor ações que minimizem os futuros problemas,

dentre elas destacamos o PNAE.

Este trabalho teve a intenção de conceber bases teóricas que possam

contribuir nas formulações pedagógicas no sentido da incorporação da Alimentação

Escolar, no Projeto Político Pedagógico da escola e inserir este temática no currículo

das disciplinas, bem como entender como a Alimentação Escolar é percebida por

educandos e educadores do CEEBJA CIC, proporcionando aos envolvidos,

subsídios teóricos e análises para avançar na consolidação de um direito a uma

alimentação de qualidade.

Este trabalho não teve o propósito nem a intenção de desestimular o programa

e sim oportunizar uma reflexão crítica da ação e possibilitar o acesso a informações

que poderão corroborar com diagnósticos para consolidar o direito alimentar mais

adequado para o público alvo.

Ouvimos falar quase que diariamente sobre a importância de hábitos de

alimentação saudáveis para manutenção da saúde e qualidade de vida. Porém,

pesquisas revelam que os brasileiros estão cada vez mais obesos e outra parcela da

população está desnutrida. É um paradoxo falar que a população está engordando e

ficando desnutrida ao mesmo tempo, pois há uma discrepância entre a quantidade e

a qualidade do que se come. Segundo a FAO (2012) aproximadamente 925 milhões

de pessoas no mundo não comem o suficiente para serem considerados saudáveis.

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No documentário: Criança, a alma do negócio, dirigido pela cineasta Estela

Renner e produzido por Marcos Nisti (2008), vemos como a grande mídia tem

influência, atingindo o pensamento da criança imatura e vulnerável. A mídia usa a

criança para atingir adulto. Com uma publicidade focada nas crianças, ensinando

valores fúteis, e estimulando apenas a competição não saudável. O documentário

traz um alerta acerca da forma como as crianças são usadas pela publicidade para

obter lucros. Assim, visualizam-se produtos gordurosos com alto teor de açúcares e

gorduras incessantemente sendo oferecido às crianças, ao invés de alimentos

saudáveis e nutritivos, prejudicando deste modo, a saúde das mesmas.

Há que se refletir sobre como a sociedade de consumo e as mídias de massa

impactam na formação de crianças e adolescentes, nos dias de hoje, porém os pais

não devem esquecer do seu importante papel, educar é também dizer não.

Josué de Castro, destacado médico, nutrólogo, cientista social, escritor,

ativista brasileiro que dedicou sua vida ao combate à fome em 1939, escrevendo

sobre a fome mundial. Já a considerava não como um problema de limites na

produção de alimentos, por força da natureza, mas sim, como problema de

distribuição de tudo o que o homem produzir. (CASTRO, 1939). O alimento não é

apenas uma necessidade para a manutenção da vida, mas também uma mercadoria

e está, portanto, indissoluvelmente ligado às formas de organização econômica.

(ROSEN, 1994).

Para combater distúrbios nutricionais, como o sobre peso e a obesidade,

sabe-se que é necessário o investimento em medidas de saúde que dependem dos

interesses dos gestores de políticas públicas. Essas medidas incluem mudanças nas

propagandas de alimentos direcionadas ao público infantil, modificações no teor de

gordura e açúcar dos alimentos, estímulo às famílias à prática de atividades físicas

e, principalmente, a utilização da escola como local no qual as temáticas sobre

alimentação possam ser incluídas no currículo das disciplinas e no Projeto Político

Pedagógico.

2. A POLÍTICA PÚBLICA DO PROGRAMA NACIONAL DA ALIMENTAÇÃO

ESCOLAR – PNAE

A alimentação escolar no Brasil, como instrumento de política pública de

alimentação e nutrição, originou-se a partir de uma necessidade maior do Estado de

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solucionar o problema da fome, embora de maneira suplementar e setorial. Segundo

afirmava Josué de Castro, 1937, já na primeira metade do século XX, a fome era um

problema endêmico, e não epidêmico, pois se associava à pobreza extrema e a

práticas alimentares e serviços públicos inadequados. Logo, sua natureza era

política e econômica. Assim, a partir dessa percepção, o combate à fome passou a

ser objeto de políticas governamentais com a elaboração de diversos planos e

programas visando implantar uma política nacional de alimentação e nutrição que

sanasse, pelo menos em parte, os problemas na área social e de saúde pública. Um

destes programas é o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Este

programa pode ser considerado um dos maiores programas de alimentação escolar

do mundo, dado ao o tempo de atuação, a continuidade, o compromisso

constitucional desde 1988, o caráter universal, o número de alunos atendidos e o

volume de investimentos já realizados. (VALENTE, 1997).

Conforme relata o art 4º da lei 11947/09, “O Programa Nacional de

Alimentação Escolar - PNAE tem por objetivo contribuir para o crescimento e o

desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a

formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de

educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas

necessidades nutricionais durante o período letivo.” (LEI 11947/09, art. 4º).

Este Programa prevê também entre seus benefícios indiretos, a contribuição

para a mudança no hábito alimentar dos beneficiários do programa e de suas

famílias. O PNAE tem por finalidade atender a 15% das necessidades nutricionais

diárias de crianças, da rede pública e filantrópica de todo o Brasil, inclusive nas que

abrigam alunos indígenas e quilombolas. (disponível em

http://www.fnde.gov.br/index.php/historico, acessado em 19/05/2014).

Para Josué de Castro (1957), o Programa Nacional de Alimentação Escolar é

um elemento essencial para a luta contra a fome e subnutrição. O estabelecimento

desse Programa, segundo ele, permitiria racionalizar os programas de alimentação

escolar já existentes e estendê-los a todo o país, dando-lhes orientação técnica e

assistência econômica. Além da suplementação alimentar, a alimentação serviria

para o desenvolvimento de atividades educacionais.

Na década de 80 o PNAE, no âmbito nacional, foi submetido a um processo

de redefinição estratégica com os objetivos de regionalizar os cardápios,

descentralizar o processo de compra, promover a articulação com a Secretaria

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Especial de Abastecimento e Preços e implantar sistema de qualidade dos alimentos

(BATISTA FILHO & BARBOSA, 1988).

A descentralização da merenda escolar foi concretizada em julho de 1994, por

meio da Lei Federal 8.913 de 12/07/1994. Essa lei, em seu Artigo 4º, determina que

a elaboração dos cardápios dos programas de alimentação escolar, sob a

responsabilidade dos estados e municípios, através de nutricionista, seja

desenvolvida em acordo com o Conselho de Alimentação Escolar (CAE) e

considerando as preferências alimentares locais e incentivasse a formação dos

hábitos alimentares sadios, valorizando os espaços educativos. Tem como uma de

suas diretrizes “o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para

aquisição de gêneros alimentícios diversificados, preferencialmente produzidos e

comercializados em âmbito local”. Estes Conselhos de Alimentação Escolar (CAE),

teriam como função principal fiscalizar e controlar a aplicação dos recursos do

PNAE, formalizando denúncias no caso de irregularidades. (Resolução FNDE/CD nº.

32, de 10/08/2006).

Ainda que o apoio à pequena produção não esteja explícito, a representação

dos trabalhadores rurais no CAE bem como as determinações de respeito aos

hábitos alimentares de cada localidade e à sua vocação agrícola, além da

recomendação de dar preferência aos produtos in natura, priorizando a produção

local, que já vinham sendo introduzidas nos anos anteriores de forma isolada e

algumas vezes indireta, acabaram se perpetuando na legislação até os tempos

atuais e transformaram-se em elementos cruciais para estimular, principalmente os

gestores municipais, a usar o PNAE no apoio à produção familiar. O Conselho de

Alimentação Escolar (CAE) atua como colegiado deliberativo, instituído no âmbito

dos estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (disponível em:

http://www.fnde.gov.br/index.php/programasalimentacao-escolar, acessado em

19/05/2014).

A exigência da criação legal do CAE em todos os municípios foi ratificada por

meio da MP nº. 1.979-19/00, que instituiu, em cada município brasileiro, o CAE não

só como órgão fiscalizador, mas também deliberativo e de assessoramento,

responsável por zelar pela qualidade dos produtos da alimentação escolar (Medida

Provisória nº 1.979-19 de 02/06/2000).

O PNAE pode utilizar o espaço educativo em que está inserido, no sentido de

promover o diálogo com a comunidade escolar sobre os fatores que influenciam

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suas práticas alimentares diárias, possibilitando questioná-la e modificá-las, por

meio de temas incorporados no currículo das escolas. Criando assim um ambiente

estimulador e favorável ao desenvolvimento de práticas de alimentação que levem a

uma vida mais saudável (DIAS, 2011).

3. CAMINHO METODOLÓGICO E DISCUSSÃO

A intervenção pedagógica ocorreu no CEEBJA CIC (Centro Estadual de

Educação Básica para Jovens e Adultos - CIC), com educandos e educadores que

se dispuseram a colaborar com esta intervenção.

Primeiramente foi apresentado a equipe pedagógica e direção do

estabelecimento escolar este projeto de intervenção. Na semana pedagógica, foi

apresentada aos educadores, agentes educacionais, esta proposta de trabalho que

foi desenvolvida durante o primeiro semestre do ano 2014.

Na seqüência foi realizado uma pesquisa com os educadores e educandos,

participaram da pesquisa 57 educadores e destes, participaram no projeto 38

educadores das disciplinas de Educação Física, Ciências, Biologia, Química,

Sociologia e pedagogos e 112 educandos do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Foi utilizado para realização da pesquisa a ferramenta Google drive e um

questionário. Os participantes teriam de responder uma única pergunta: “Para você

o que é a Alimentação Escolar?”.

Foi distribuído aproximadamente 220 questionários da pesquisa aos

educandos, destes retornaram 112 respondidos e obtivemos respostas como:

''…a alimentação escolar que é oferecida na escola, é muito boa e ajuda a enganar a fome para quem vem direto do trabalho. '' C.A.S. Ensino Médio

“... é importante e a vontade, muito boa, podia ser servida logo na chegada, às 18h30.” E.S. Ensino Médio.

“...deve ser propaganda deste governo, este ano tem eleição, vamos ver se continua. Devia ser melhor, tomar sopa às 10 horas da manhã não é muito bom.” E. B. S. Ensino Fundamental.

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Analisando estas e outras respostas que os educandos deram, percebemos

que a maioria deles não entendem a alimentação escolar como uma medida que

visa complementar a alimentação de casa, nem como política pública e menos ainda

como um direito do educando a alimentação escolar de qualidade.

Do grupo de educadores obtivemos respostas como:

“... A alimentação escolar é uma política pública, assistencialista e necessária para a camada mais carente da população.” O.H. Professor de Química.

“... Aqui no CEEBJA a alimentação que é servida, não é muito boa, uma vez que repetidamente é oferecido biscoitos e barra de cereais, mas entendo que devido as condições estruturais da escola, é o que se pode fazer e servir.” S.A.T. Professora de Sociologia.

“... A alimentação escolar é um Programa do Governo Federal, presente em todas as escolas em que trabalhei, diferenciando apenas no cardápio servido, uns mais elaborados outros nem tanto, percebo que em algumas escolas é desenvolvido com alguns professores e alunos uma horta, com hortaliças e verduras que ajudam a melhorar a qualidade da merenda. M.A.G. Pedagoga.

“... Muito importante, mas deveria ser baseada em frutas e verduras e alimentos saudáveis, que estimulasse aos alunos comerem mais corretamente, percebo que o índice de massa corporal destes vem aumentado ano a ano, e isso pode ser resultado de uma alimentação incorreta e a escola deveria ser um lugar onde se ensinasse a se alimentar corretamente também. C.C.N. Professor de Educação Física.

Percebemos que os educadores entendem que a alimentação escolar é uma

política pública e social, que tem um Programa Federal que cuida da questão, que é

necessária e que precisa ser de qualidade, porém nenhum dos educadores apontou

que a alimentação escolar pode fazer parte do currículo da disciplina que leciona e

através dela trabalhar os conteúdos pertinentes, objetivo deste projeto.

Diante do exposto, com o grupo de educadores foi proposto que assistissem

ao documentário “Muito além do peso”, dirigido por Estela Renner, lançado em 2012.

Em seguida foram elencados alguns conteúdos das disciplinas representadas que

poderiam ser abordados através deste documentário e elaborado um quadro com

estes conteúdos e disciplinas, disposto ao final deste tópico.

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As agentes educacionais, que são responsáveis pela preparação da

alimentação dos educandos durante o período que estes permanecem na escola

também tiveram sua participação no projeto. A elas foi apresentado um texto sobre

alimentação escolar. As três agentes envolvidas contribuíram com as discussões,

destacando e apontando questões importantes a serem analisadas e repensadas.

Essas pessoas estão diretamente ligadas aos educandos no momento do

servimento desta alimentação e ouvem os comentários dos mesmos.

Num segundo momento de reunião com os educadores que estavam

corroborando no projeto foi lançada a seguinte pergunta: “É possível através de a

alimentação escolar trabalhar os conteúdos das disciplinas que ministram?” Alguns

se posicionaram favorável e disseram que sim, uma das professoras da disciplina de

Química relatou por exemplo que na sua disciplina é possível fazer análise da

composição dos alimentos que são ofertados através da alimentação escolar. Na

sequência à esta discussão estudamos um texto sobre o PNAE (Programa Nacional

da Alimentação Escolar).

Como tínhamos a intenção de colocar a alimentação escolar no Projeto

Político Pedagógico da Escola, estudamos um texto sobre o PPP da autora Ilma

Passos com as pedagogas e alguns educadores e agentes que se dispuseram a

participar. Desta etapa, destaca-se a importância de que todos entendam que o PPP

é um documento que pode ser entendido como o principal e a identidade da escola,

e é um documento de construção coletiva. Tarefa esta que precisa ser melhorada

nesta escola, pois ainda é muito forte o pensamento que PPP é um documento que

as pedagogas devem construir para que a escola obtenha a autorização de

funcionamento, e não necessário e útil a ser consultado.

Para o encerramento das atividades do projeto na escola foi realizado um

encontro com os educadores, agentes educacionais, equipe pedagógica e alguns

educadores relataram que desenvolveram algumas propostas sugeridas nos

encontros com os educandos e foi um momento de bastante aprendizado para

todos.

Em consonância com as atividades desenvolvidas com estes sujeitos no

interior da escola, era discutido virtualmente através do GTR (Grupo de Trabalho em

Rede), estratégia utilizada pelo Programa de Desenvolvimento Educacional do

Estado do Paraná – PDE, para socializar, com os demais professores da rede, os

estudos que os professores que estão no PDE realizam no Programa, por meio de

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encontros virtuais, para a discussão e socialização da temática de sua área de

formação e/ou atuação com outros educadores de outras realidades, pertencentes

ao quadro de professores do estado do Paraná.

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4. CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos, conclui-se com este trabalho que os

diferentes aspectos relacionados à alimentação escolar abordados neste estudo

foram referidos positivamente pela maioria dos participantes e que, apesar disso, a

oferta dessa alimentação não é condição para que os educandos freqüentem a

escola. Percebeu-se, ainda, que embora o PNAE (Programa Nacional da

Alimentação Escolar) tenha surgido como medida compensatória e assistencialista,

esta característica não foi observada no grupo pesquisado, ressalto que a escola

está inserida num bairro industrial de Curitiba, capital do estado do Paraná.

Os instrumentos desenvolvidos para a realização deste estudo conseguiu

medir os aspectos que se objetivou estudar, relativos à alimentação escolar. Diante

do exposto, pretendeu-se com este trabalho, utilizando-se da importância do

ambiente educativo, presente na escola, que as informações e conhecimentos

adquiridos em sala de aula sejam concretizados e estendidos até as famílias dos

participantes. Os educadores devem auxiliar os educandos a optar pelo melhor,

instruindo sobre os efeitos que cada tipo de alimento pode causar ao organismo,

visando evitar, por exemplo, que um alimento menos nutritivo se transforme na

principal refeição. Nesse contexto, destaca-se o serviço de alimentação presente

nas escolas: o Programa de Alimentação Escolar.

A escola é um ambiente privilegiado para a promoção da saúde e

desempenha papel fundamental na formação valores e hábitos alimentares, para

tanto a educação nutricional deve estar presente nos currículos das disciplinas para

consolidação destes bons hábitos. Ressalta-se, no entanto, a importância de

programas de educação nutricional que envolva educandos para consolidação de

hábitos alimentares saudáveis.

É importante instrumentalizar os educadores com conhecimentos e

estratégias metodológicas que permitam inserir no currículo das disciplinas este

tema. O aporte sobre a alimentação contribui para que o educador se sensibilize e

auxilie a fomentar escolhas de alimentos saudáveis. A formação dos agentes

responsáveis pelo preparo da alimentação escolar, também auxilia na criação de um

ambiente que favoreça a aquisição de práticas saudáveis em relação à escolha dos

alimentos. Observou-se que entre os participantes, que já passaram por formação

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continuada em relação a este tema, os mesmos apresentam melhor condição nas

escolhas nutricionais corretas.

O presente trabalho contribuiu para melhorar o conhecimento e a criticidade

dos educandos sobre as mensagens subliminares que estão imbuídas nas

propagandas de alimentos e de grandes redes de fast-foods, bem como mostrou aos

educadores como é possível abordar através dos conteúdos presente nas Diretrizes

Curriculares, a questão da alimentação saudável.

Os educandos obtiveram informações que promoveram hábitos de vida mais

saudáveis e que, a partir de então, possam estar sempre atentos na busca por

medidas que promovam a qualidade na alimentação e consequentemente buscar

uma vida mais saudável.

Este tema tem caráter interdisciplinar, e é essencial que todos estejam

envolvidos no processo de construção de hábitos alimentares saudáveis,

modificando o preocupante cenário de agravos a saúde relacionada à alimentação

inadequada coma a alta ingestão de alimentos industrializados e de valor nutricional

reduzido, por exemplo: bolachas recheadas, salgadinhos, refrigerantes, lanches fast

food e doces, provenientes de casa, também merece destaque, ao considerar que

tal consumo tem sido relacionado à obesidade, não somente quanto ao volume de

alimentos, mas também à composição e à qualidade da dieta. A mudança dos

padrões alimentares, caracterizados pelo pouco consumo de frutas e verduras e

pelo aumento no consumo de guloseimas, está relacionada com o aumento da

adiposidade na população e problemas de saúde. O que acaba acarretando um

aporte de valores bem maior por parte da saúde pública, do que seria gasto com

medidas preventivas.

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REFERÊNCIAS

BATISTA FILHO, M. Nutrição, alimentação e agricultura no Nordeste brasileiro: subsídios para uma política de extensão rural. ed. Brasilia: FAO/ EMBRATER/ CODEPLAN, 1988 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. Disponível em: http://www.senado.gov.br/legislacao/const/Acesso em: 01/04/2014. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. _____. BRASIL. Medida Provisória nº 1.979-19, de 02 de junho de 2000. 2000.

_____. BRASIL. Lei 11947/09, Art 4º. de 16 de junho de 2009, 2009. Disponível em:

http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/711767/lei-11947-09, acessado em

19/10/2014.

_____. BRASIL. Lei 8913/94, Art 4º. de 12 de julho de 1994, 1994. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8913.htm, acessado em 19/10/2014. CASTRO, J. de. A Alimentação brasileira à luz da geografia humana. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1937. CASTRO, J. de. O problema da alimentação no Brasil. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1939. CASTRO, J. de. Geografia da fome. 5ª ed. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1957. p.124, 1957.

_____. FNDE. Resolução/CD/FNDE nº 32, de 10 de agosto de 2006. disponível em: http://www.fnde.gov.br/fnde/legislacao/resolucoes. Acessado em 10/11/2014.

_____. Programa Nacional da Alimentação Escolar disponível em:

http://www.fnde.gov.br/index.php/programasalimentacao-escolar. Acessado em

19/05/2014.

ROSEN, G. Uma história da Saúde pública. trad: Marcos Fernando da Silva et al.. SãoPaulo, HUCITEC/Ed. da Universidade Estadual Paulista, 1994. VALENTE, F.L.S. Do Combate à Fome à Segurança Alimentar e Nutricional: O Direito à Alimentação Adequada. Campinas: PUCCAMP 10 (1): 20-36, Jan. Jun.1997.20-26.

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ANEXO I

POSSIBILIDADES DE TRABALHO COM O DOCUMENTÁRIO: MUITO ALÉM DO PESO

FILME(nome, dados, sobre o filme, ano.

Diretor, atores)

Linguagem

Temas abordados

Faixa etária

Conteúdos Atividades possíveis

Documentário: Muito além

do peso. Dirigido por

Estela Renner. Lançado em

2012. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=TsQDBSfgE6k.

Acessado em 12/03/2014.

Documentário

Obesidade infantil,

Capitalismo, Consumismo, Sedentarismo

Lógica do mercado, Saúde,

Publicidade

EJA

ED. FÍSICA: IMC, Metabolismo basal, gasto calórico, atividade física, alimentação ideal, discutir sobre qualidade de vida e hábitos saudáveis, discutir o tipo de alimentação que consomem, longevidade.

Pesar e medir os educandos, calcular o IMC, construir um cardápio diário ideal,

CIÊNCIAS/BIOLOGIA: Digestão, caloria/energia, pirâmide alimentar. Alimentos construtores.....(hortaliça, verdura....)

Entrevista com a merendeira, elaboração de um livro de receitas saudáveis, analisar o cardápio.

QUÍMICA: composição/decomposição dos alimentos, transformação dos estados (sólido, gasoso..)

Análise da composição alimentar, discutir o que é bom/ruim para a saúde

SOCIOLOGIA: capitalismo, consumismo, quem/o que está por trás disto, a influência da propaganda/mídia na alimentação.

Fazer um levantamento através de pesquisa (questionários) dos hábitos alimentares daquele público

(educandos da EJA)

HISTÓRIA: formação dos hábitos/cultura dos povos, construção histórica da alimentação,

Fazer uma pesquisa dos hábitos alimentares dos antepassados mais próximos, comparar com os hábitos

de hoje.

EQ. PEDAGÓGICA: articulação com os profº. para inclusão da alimentação Escolar no PPP.

MATEMÁTICA: relação custo benefício da cesta básica, comparação dos valores dos alimentos saudáveis e não saudáveis.

Gráficos, cálculos da calorias que consomem diariamente, calcular a quantidade ideal de caloria para seu organismo, gráfico do peso dos educandos, calculo (porcentagem) dos educando que estão com sobrepeso.

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ANEXO II

PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Pesquisa direcionada aos educandos do CEEBJA CIC

Caro educando, estou cursando o PDE (PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL)

oferecido pela Secretaria Estadual da Educação, aos professores do Quadro Próprio do Magistério, e

gostaria de contar com sua participação respondendo esta pesquisa.

Obrigada

Jane

Diretora Auxiliar

Para você o que é a Alimentação Escolar ou Merenda Escolar?

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