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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO GEOGRÁFICO A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DO PARQUE ECOLÓGICO PAULO GORSKI,

MUNICÍPIO DE CASCAVEL-PR

Sirlei Fogaça1 Leandro Neri Bortoluzzi2

Resumo: Este trabalho é resultado da aplicação de um projeto de ensino e pesquisa no Colégio Estadual Mario Quintana, localizado no município de Cascavel – Paraná, no ano de 2014, e teve relevância pedagógica no sentido em que os estudantes se reconheceram como sujeitos atuantes e integrados no meio em que vivem, em especial, tomando como recorte as proximidades ao Parque Ecológico Paulo Gorski. Nesta perspectiva, buscou-se também a compreensão do espaço geográfico e das inter-relações que nele acontecem, possibilitando contextualizar o passado e os reflexos no presente, assim também unindo a teoria dos conteúdos e conceitos abordados com a prática em atividade de reconhecimento em campo e reflexões sobre a real vivência dos educandos. Desta forma, ao aproximar conceito geográfico à realidade dos estudantes, possibilitou-se a estes meios e ferramentas para melhor compreender as questões socioambientais estabelecidas perante a ação do homem sobre a natureza nas mais variadas espacialidades, e principalmente, observando a realidade local dos envolvidos.

Palavras - chave: Espaço Geográfico; Parque Ecológico; Meio Ambiente; Sociedade.

1. Introdução

O parque ecológico Paulo Gorski, localizado no município de

Cascavel, mesorregião Oeste do estado do Paraná, possui inúmeras funções.

É considerado um atrativo importante dentro do núcleo urbano de Cascavel. A

construção do parque está atrelada ao processo de expansão urbana da

cidade, se configurando como um importante elemento deste espaço

geográfico.

O espaço geográfico é um espaço histórico e cultural, no qual o

homem com suas ações, o trabalho, e com o auxilio de suas ferramentas

produz e reproduz o espaço de acordo com as necessidades que tem, assim

cria os elementos que cada sociedade possui, para desenvolver e adaptar o

local em que vive. Desta maneira, a paisagem evidencia o sistema

1 Professora do Quadro Próprio de Magistério da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da turma de 2013. 2 Professor orientador PDE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Marechal Cândido Rondon.

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socioeconômico, a finalidade, e utilidade que o homem determina a cada lugar

(SAVIANI, 2013).

Para Dollfus (1978), espaço geográfico é localizável e útil aos

homens, e apresenta peculiaridades por vocação, hoje com a possibilidade

técnica, o espaço é organizado de acordo com os interesses e necessidades

humanas. Estas técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais,

com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo cria

espaços com os quais idealiza, inventa e aprimora lugares (SANTOS, 2006).

Segundo Lefebvre apud Corrêa (2003) “o espaço é entendido como

espaço social vivido, em estreita correlação com pratica social não deve ser

visto como espaço absoluto, “vazio e puro”, lugar por excelência dos números e

das proporções”. Evidenciar as relações dos lugares em rede exige

conhecimento do modo de vida local e as interligações dos recursos humanos

e materiais. É no espaço social que o homem, se faz homem, com isso “é

preciso incorporar ao espaço a crítica da vida cotidiana, que põe acento na

reprodução das relações sociais” (DAMIANI, 2002).

Cada espaço é distinto pelos recursos naturais, que oferecem ao

homem, Dantas (1978) ressalta que:

Espaço é também espaço diferenciado. Por sua localização e pelo jogo de combinações que preside a sua evolução, todo elemento do espaço […] constituem fenômenos únicos que jamais podem ser encontrados exatamente iguais em outros locais ou em outros momentos. [...] O espaço geográfico se acha impregnado de história […] a ação humana tende a transformar o meio natural em meio geográfico, isto é, em meio moldado pela intervenção do homem no decurso da história. (DANTAS,1978).

O espaço é marcado pelas relações conflitantes que nele acontecem

como explica Moreira (1988) “Numa sociedade estruturada em classes, a

exemplo da sociedade capitalista, o espaço tem por conteúdo as relações

contraditórias dessas classes. O conteúdo do espaço é o mesmo da sociedade:

as lutas de classe”. Desta forma o sistema socioeconômico, a cultura, o clima,

a religião, e a forma que o homem se relaciona, com o meio que o cerca, ficam

expressos na paisagem.

3

De acordo com Santos (2006) a paisagem e espaço não são

sinônimos, a paisagem é o conjunto de formas, num dado momento, exprimem

as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem

e natureza. Já a paisagem passa a ser espaço geográfico, a partir da utilização

desta realizada pelo homem.

A natureza apresenta diferentes elementos em estado de

interdependência entre eles:

Os conteúdos da natureza são enormemente variados. Cada grupo humano culturalmente diferenciado tem sua própria nomenclatura para lidar com esta variedade. Entretanto, nas partes do mundo, as pessoas reconheceram poucas substâncias básicas ou elementos que se destacam da multiplicidade de fenômenos [...] O ser humano é levado pelas sensações para além do limite normal; ele é possuído por uma força, cuja origem coloca fora de si mesmo, na natureza, e na sociedade. Assim o símbolo, um produto cultural supra orgânico3, está intimamente ligado às experiências orgânicas corporais em seus estágios iniciais (TUAN, 1980).

A problemática desse estudo esta relacionada às consequências

ambientais geradas pelas transformações do espaço geográfico, a partir da

construção do Parque Ecológico Paulo Gorski, no município de Cascavel -

Paraná, e os agentes que fazem parte da (re) organização desse espaço.

O presente artigo visa apresentar a experiência da implementação

de um projeto vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)

da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, que teve como escopo a

análise e compreensão geográfica de contextualização de impactos ambientais

ocasionados a partir da evolução da ocupação do município de Cascavel-

Paraná, de forma com que estas questões fossem abordadas também junto ao

ambiente escolar, tratando o assunto com alunos do ensino regular.

3Termo usado pelo positivismo para indicar o que está além da vida orgânica, vale dizer, a vida psíquica ou a vida social, especialmente esta última.

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2. Métodos e estratégias

O projeto de intervenção, denominado "As Transformações do

Espaço Geográfico a partir da construção do Parque Ecológico Paulo Gorski,

Município de Cascavel - Paraná" foi desenvolvido para alunos do 1º ano do

Ensino Médio sendo aplicado no Colégio Estadual Mario Quintana, também

localizado no município de Cascavel - Paraná.

Para a organização e sistematização dos conteúdos e estratégias de

ação foi necessário inicialmente realizar uma fundamentação teórica a respeito

da colonização do Oeste do Paraná, tendo como foco o município de Cascavel.

A partir de leituras sobre a temática envolta neste projeto, também foram

elaboradas as metodologias, que foram adaptadas para a aplicação com os

alunos da série destinada, neste caso o 1º ano do ensino médio, para uma

carga horária de 32 horas/aula, como é exposto no quadro a seguir (Quadro 1).

Quadro 1- Sequência metodológica de conteúdos desenvolvidos para a implementação didática do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).

ETAPAS CONTEÚDO HORA/AULA

Etapa 1 Atividade: 1 e 2

- Apresentação do projeto; - Representação Gráfica.

02

Etapa 2 Atividade: 1, 2 e 3

-Localização, Orientação e Leitura de Mapas. 02

Etapa 3 Atividade: 1 e 2

- História de formação e produção do espaço geográfico do município de Cascavel-PR; - Paisagem; - Lugar.

06

Etapa 4 Atividade: 1

- Problemas ambientais do Lago Municipal do Parque Ecológico Paulo Gorski Cascavel-PR

06

As atividades realizadas foram multissignificativas, nas quais

utilizaram-se de imagens de livros, revistas, fotografias, computador, internet,

televisor e pen-drive (vídeos), exercícios elaborados pela professora, seminário

e análises de imagens, assim como uma visita técnica. Essas aulas foram

estruturadas seguindo a linha metodológica da Pedagogia Histórico Crítica,

proposta por Saviani (1992).

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3. Resultados

3.1. Colonização do Oeste do Paraná/Cascavel

A disputa por essa região entre portugueses e espanhóis teve o

objetivo não só do domínio das terras, mas de todas as riquezas que

continham nela, inclusive os povos indígenas, que eram capturados para

trabalharem como escravos, lavrando terras, caçando, pescando e extraindo a

erva mate. A luta dos indígenas contra os dominadores foi tanta que o rei

Felipe III foi aconselhado a confiar na pacificação dos indígenas um meio mais

propício para dominá-los, então os jesuítas são chamados a desempenhar

esse trabalho, que junto a isso trouxe transformações significativas para a

região Oeste (PORTAL DO MUNICÍPIO, 2014; SPERANÇA ,1992). Com a

vitória dos portugueses a região passa a ser esquecida. Em 1853 é criada a

província do Paraná, o governo imperial concede terras a companhias

estrangeiras na busca de colonizar a região e abrir estradas, mas este espaço

é dominado por estrangeiros novamente, argentinos e ingleses exploram os

recursos naturais tais como, a erva-mate e madeira, as obrages4 o que

acarretou em pouco retorno financeiro para essa região (SPERANÇA, 1992).

O governo brasileiro enviou militares para averiguar como estava a

região, que constatou a presença estrangeira no território, assim, procuraram

assegurar a soberania nacional instalando colônias militares em lugares

estratégicos, como por exemplo, em Foz do Iguaçu. (PREFEITURA DE

CASCAVEL, 2014; SPERANÇA,1992).

O quadro a seguir (Quadro 2) resume alguns fatos referentes a

colonização da região oeste e Cascavel, aos encaminhamentos dos fatos.

Quadro 2- Colonização do Oeste do Paraná/ Cascavel, adaptado de SPERANÇA (1992).

1514 Época em que portugueses e espanhóis disputavam o domínio das terras e dos índios do espaço que veio a tornar-se o Estado do Paraná.

1853 Criação da província do Paraná;

1889 Inicio do desbravamento do Oeste do Paraná. (Grande estrada da erva-mate);

1895 A trilha foi aberta pela família Gomes de Oliveira;

1946 Chegam os primeiros colonizadores da região oeste do atual Estado do

4Exploração da erva mate e madeira

6

Paraná

1930 Chegada de José Silvério de Oliveira e família a Encruzilhada dos Gomes, o entroncamento das trilhas. Que mais tarde viria a ser o município de Cascavel-Pr;

1932 Institui-se a primeira escola estadual o atual Colégio Estadual Eleodoro Ébano Pereira;

1934 Cria-se o primeiro Distrito Policial;

1936 A população refere-se ao povoado pelo nome de Cascavel;

1938 Decreto lei cria o Distrito de Cascavel;

1951 Em 14 de novembro de 1951, a lei estadual 790/51 emancipava, dentre outros municípios o de Cascavel. (livro ouro de Cascavel.);

1968 Conclusão da BR 277;

1972 Construção da Fecivel, atual Unioeste;

1974 O Lago artificial do Parque Ecológico Paulo Gorski começa a ser idealizado;

1975 Esgotamento do ciclo da madeira e o destaque para a agricultura.

Sperança (1992) comenta que “os ervateiros pousavam a margem

do rio (que futuramente veio a ser denominado rio Cascavel) que ficava dentro

da invernada de animais da empresa argentina Domingos Barthe, anos antes

da construção [...] da encruzilhada”.

O tropeiro é um personagem de grande importância para a

colonização do Oeste e também do povoado de muitas cidades. Assim ao

longo de todo o percurso, as tropas faziam inúmeras paradas, para descansar

e engordar os animais [...] (BETTES et al., 1996).

Corrobora para esse fato, a forma de colonização de Cascavel, que

em meio à mata subtropical de araucária, militares, ervateiros e tropeiros

abrem a picada5 a facão, formando um ponto de encontro de vários caminhos,

por onde os viajantes passavam em meados do século passado (SPERANÇA,

1992).

Com o fim do ciclo da erva-mate, inicia o ciclo da madeira, a qual

desperta o interesse dos colonos de origem polonesa, italiana, e alemães do

Rio Grande do Sul e Santa Catarina que, vem para este lugar. A existência de

solos férteis e trabalhos como serrador, boiadeiro, carroceiro, maquinista ou

empilhador de madeira, etc, atraíram essas pessoas que formam a base da

populacional do município de Cascavel (PREFEITURA DE CASCAVEL, 2014).

Segundo Hermógenes (2003), entre outras madeiras de lei, o

pinheiro é todo aproveitado:

5Caminho aberto no meio do matagal

7

Com sapé, cascas e galhos faz-se fogo, com o nó produz-se carvão, com a serragem são feitos aglomerados, cola e papel, com a sua madeira constroem-se casas. Era tanta casa de madeira que muitas eram apelidadas de “cidades de pau”. [...] em torno do pinheiro organizou-se a maior indústria de madeira do país. [...] a própria safra dos porcos, nos primórdios, acontecia no tempo dos frutos do pinheiro. [...] A Gralha Azul faz parte da historia do pinheiro e do pinhão pois tem o habito esconder alguns pinhões após a refeição que esquecidos normalmente germinam (HERMÓGENES, 2003. p.251).

A vila começou a tomar formas em 28 de março de 1928, quando

José Silvério de Oliveira, o Nhô Jeca, arrendou as terras do colono Antônio

José Elias nas quais se encontrava a Encruzilhada dos Gomes, localizada no

entroncamento de várias trilhas abertas por ervateiros, tropeiros e militares,

onde montou seu armazém. Seu espírito empreendedor foi fundamental para a

chegada de novas pessoas, que traziam ideias e investimentos (PREFEITURA

DE CASCAVEL, 2014).

Antes do nome do município de Cascavel ser oficializado, este teve

outras denominações, como Encruzilhada dos Gomes, Encruzilhada de

Aparecida dos Portos, Encruzilhada de Aparecida dos portos de Cascavel

(SPERANÇA, 1992).

A primeira forma de ocupação urbana no município ocorreu próximo

ao rio Cascavel, por ser uma cidade que surge "espontaneamente", tendo

como causa o crescimento populacional rápido, houve a necessidade de

planejamento em busca de superação dos vazios urbanos (DIAS, 2005).

O Parque Paulo Gorski está localizado na bacia hidrográfica do rio

Cascavel. Em 1974 ocorreu à criação da secretaria de planejamento, bem

como os primeiros estudos urbanísticos que constatou o problema de

abastecimento de água na cidade em função do crescimento populacional,

assim para suprir essa necessidade foi criado uma represa artificial dentro do

parque aproveitando o curso fluvial existente no local (SECRETARIA DO MEIO

AMBIENTE DE CASCAVEL-PR, 2013).

Em 1977, assume uma nova gestão municipal e esta contrata uma

consultoria para a realização do Plano Diretor. A partir de pesquisa

socioeconômica foi constatada que no município carecia em opção de lazer,

mas também pela necessidade de aumentar a área verde no município, que

8

segundo Dias (2005, p.73) o índice de área verde na época seria de

1,08m²/hab, mas o mínimo ideal seria de 12,00m²/hab.

Nas margens do Lago artificial foi preservada uma área de

amenização. Que veio a formar o Parque Paulo Gorski, mas mesmo assim foi

inundada uma área de 41,12 ha. Os objetivos da criação do parque foram de

disponibilizar uma área de lazer a comunidade, atividade turística, garantir a

preservação de área verde ao redor do Lago, de acordo com o objetivo

principal para a criação deste, servir como reservatório de água para o

abastecimento da cidade (MUKAI, 2003).

Em 1988, por meio da Lei nº 2.019/88, no artigo primeiro unificado, a

área compreendida pelo Parque Danilo Galafassi, Parque Ecológico Paulo

Gorski, e o Lago municipal de conformidade com memorial passa a fazer parte

às áreas com as seguintes atividades a serem desenvolvidas no complexo:

Conservação e reflorestamento da mata natural, Horto Florestal, Jardim

zoológico, Biblioteca e museu de História Natural, Piscicultura, Lazer,

Laboratório de pesquisas. Área reconhecida como sítio ecológico natureza

cultural, com um olhar voltado a preservação de fundo de vale e áreas

ambientais (PREFEITURA DE CASCAVEL, 2014).

O parque ecológico Paulo Gorski possui mirante, lanchonete,

estacionamento, playground, pista para caminhada com iluminação. Nele estão

localizados o Teatro Barracão, Igreja do Lago, Kartódromo, Chafariz, Fonte

dos Leões e o Zoológico.

3.2. Resultado da implementação do Projeto de intervenção

A aplicação do projeto PDE, ocorreu entre o período de 17/03/2014

a 26/05/2014. Inicialmente foi apresentado para a comunidade escolar o projeto

PDE e em seguida iniciou-se o desenvolvimento das atividades com os alunos.

Na etapa 1 com o apoio da TV pendrive, foi exibida a imagem do

mapa mais antigo que se tem notícia e registro pela humanidade, o Mapa de

Ga-Sur (Fig. 1) o que proporcionou aos alunos o conhecimento e as

contribuições a respeito deste documento cartográfico para representação,

colaboração e formação histórica do espaço geográfico, o mapa foi encontrado

na cidade de Ga-Sur nas cercanias da antiga Babilônia.

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Figura 1- Mapa mais antigo que se tem notícia (Ga-Sur).

Fonte: Secretaria da Educação (SEED).

A partir da observação do mapa de Ga-Sur, os alunos puderam

verificar que o mapa havia sido feito de argila, pois era o material e técnica que

os habitantes daquela região possuíam para a época, sendo uma das primeiras

formas de comunicação da posição geográfica para a humanidade. Assim,

conhecer a história dos mapas e relacionar com as mudanças na geografia dos

espaços traz a comprovação da importância da localização desde os tempos

primórdios. Na atualidade, a localização tem um significado bastante

diferenciado e que pode ser representado de formas distintas e mais

dinâmicas, assim sendo em decorrência de novas configurações da mobilidade

humana proporcionadas pelos avanços técnicos/tecnológicos e de

comunicação, assim como pela evolução dos meios de representação

cartográfica.

Com o objetivo de mostrar as fases do desenvolvimento da

cartografia foi exibido o vídeo “A História da Cartografia”, visando ampliar os

aspectos cognitivos dos estudantes, posteriormente, ocorreu uma discussão

sobre o tema. Com essa atividade, os alunos puderam identificar que o mapa

Ga-Sur pode ser considerado um patrimônio histórico da ciência geográfica e

de grande valia desde as grandes navegações até hoje. O aluno G. M. (14

anos) colocou: “Que com essa atividade percebeu a importância da história e

da geografia para a humanidade”.

A Etapa 2 deste trabalho consistiu na localização e orientação por

meio de análise de mapas do município de Cascavel-PR em diferentes épocas.

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Durante o desenvolvimento da atividade, os educandos identificaram as

mudanças e permanências no espaço geográfico da planta de Cascavel-

Paraná, do ano de 1889, assim perfazendo um paralelo com o mapa do mesmo

município do ano de 2013 (Fig. 2).

Ao analisar os dados fornecidos pelos documentos, concluíram que

a única semelhança entre eles são o entroncamento das trilhas na planta do

terreno, a configuração da rodovia “BR 277” e os rios/cursos d’água. Desta

forma, demonstraram a compreensão que no passado existia muita vegetação

e recursos naturais, os quais ao longo da história foram sendo extraídos para

dar lugar a casas, prédios e plantações. Com esta atividade os alunos

conseguiram exercitar a concentração e observação de detalhes.

A atividade foi desenvolvida com o apoio do mapa do município de

Cascavel-PR e dos municípios vizinhos e a confecção da rosa-dos-ventos.

Além disso, os alunos receberam um caça-palavras no qual tiveram de

procurar e destacar os nomes dos municípios que fazem limites com o

município de Cascavel-PR. Em seguida colocaram a rosa-dos-ventos sobre o

mapa, observando para cada município encontrado no caça-palavras a sua

localização geográfica. Ao desenvolver esta atividade os alunos despertaram

interesse pelo conteúdo, tornando a aula proveitosa e eficaz.

Figura 2 - Primeira planta do terreno de Cascavel-PR.

Fonte: Adaptado de (SPERANÇA, 1992).

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Na etapa 3 foi trabalhado com os alunos o resgate da história de

formação e produção do espaço geográfico do município de Cascavel-PR,

associando à criação e construção do Lago Municipal no Parque Ecológico

Paulo Gorski.

Esta etapa foi realizada por meio de seminários, análises de fotos

antigas (Fig. 3) e elaboração de cartazes (Fig. 4). A turma foi dividida em

grupos, tendo como material de apoio referências bibliográficas de pesquisas,

livros, revistas e internet.

Como base para realização da atividade foi feito um sorteio de

questões para a posterior elaboração da apresentação dos grupos conforme o

tema que lhes coube. Desta forma, os alunos conseguiram resgatar e

conhecer a história de ocupação do município de Cascavel-PR, com a

apresentação dos aspectos históricos sobre a região oeste do Paraná e a

formação do espaço geográfico cascavelense. Os alunos concluíram que com

a vinda dos colonos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, de origem

polonesa, italiana, e alemães para morar nessa região, a paisagem do

município passou a ser modificada com maior intensidade, como exemplo,

através da instalação de várias serrarias que foram dispostas neste espaço.

Além disso, entre as reflexões postas em debate, constatou-se que a

formação do município de Cascavel-PR foi marcada por diversas questões

econômicas e políticas conflituosas. Relações conflitantes que são decorrentes,

principalmente, de uma construção histórico-social-política e econômica

pautadas na organização de uma sociedade capitalista.

Os estudantes tiveram a percepção de que a história e a

urbanização do município de Cascavel-PR estão intensamente ligadas ao rio

deste lugar, que traz o mesmo nome da cidade. Na bacia hidrográfica deste

curso de água foi idealizado o Lago artificial com o objetivo de abastecimento

de água deste local, fato que ocorreu devido ao crescimento populacional da

região. Desta forma, houve a necessidade de opção de lazer e área verde,

onde as margens do lago foram preservadas, como uma área de amenização,

que deu origem ao Parque Ecológico Paulo Gorski.

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Figuras 3: Fotos antigas do Município de Cascavel-Paraná. Fonte: Museu da arte e do som de Cascavel-PR. Figura 3a: Primeiras moradias do município.

Figura 3b: Primeiros meios de transporte.

Figura 3c: Foto da capela dos motoristas do ano de 1959.

Figura 3d: Foto da Igreja Santo Antonio.

Figura 3e: Foto região do Lago. Figura 3f: Foto região do Lago.

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Figura 4: Desenvolvimento das atividades. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 4a – Produção de Cartaz.

Figura 4b – Produção de Cartaz.

Dando continuidade aos estudos, os alunos se dirigiram ao

laboratório de informática onde, utilizando-se de computador e navegação na

internet, foi realizado um passeio virtual por meio do “Google Earth"6. Nesta

atividade os estudantes tomaram como ponto de referência o Colégio Estadual

Mario Quintana, observando o deslocamento até o Lago municipal de

Cascavel-PR, no Parque Ecológico Paulo Gorski, localizado na região Leste do

município. Por meio desta navegação possibilitada pelo software, os alunos

observaram a paisagem em estudo e descreveram o caminho no qual

percorreram, descrevendo as ruas e avenidas do percurso.

No decorrer do percurso virtual foi possível verificar elementos

naturais e de origem antrópica. Os alunos perceberam certa facilidade em

reconhecer os elementos artificiais e culturais do trajeto.

Devido à falta de infraestrutura não foi possível atender a demanda

dos alunos no mesmo horário, para acesso a internet. A turma foi dividida em

grupos e atendida em horários diferenciados, fator que dificultou o

desenvolvimento desta atividade, porém os alunos atingiram o objetivo,

demonstraram interesse e participaram com atenção da atividade proposta.

A etapa 4 se deu com a saída a campo, feita com os alunos do 1º

ano do ensino médio do colégio Estadual Mario Quintana, no dia 19/05/2014,

no período da manhã. O trajeto percorrido foi o mesmo visualizado virtualmente

no laboratório de informática.

6 Software de navegação em imagens de satélite.

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Anterior à saída, os alunos receberam orientações acerca das

atividades que seriam realizadas durante a aula de campo. Dentre as

orientações, pediu-se que fosse observado o espaço geográfico do lugar,

procurando compreender as suas configurações que possibilitam a vivência

social e as manifestações e implicações destas no espaço. Para isso, solicitou-

se também que fossem registradas fotografias que exprimissem e registrassem

as percepções do lugar.

Com esses registros realizados, os alunos colaram as imagens em

cartazes, utilizando-se da sequência dos fatos e associação reflexiva. Os

cartazes foram apresentados aos colegas, com explanação das observações e

assimilações individuais concebidas durante a atividade. Percebeu-se que a

atividade ocorreu de forma satisfatória, pois foi possível observar, através das

falas e registros dos alunos que os mesmos contemplaram e construíram o

conceito de paisagem, espaço e lugar, contextualizando com o tema

trabalhado.

Desta forma, em discussão com a turma eles deduziram que lugar

pode ser o local onde a pessoa expressa algum sentimento, e que de acordo

com a necessidade, e ou as consequências pela falta deste, o ser humano cria

e inventa os espaços. Os alunos destacaram a existência de algumas

construções próximas ao Parque que agregam várias pessoas, como a

presença de uma Igreja, instituição de ensino superior, praça e colégio; fatores

estes que podem ocasionar uma pressão ecológica sobre o Parque (Fig. 5).

Também foi mencionando pelos alunos a falta de calçadas no trajeto e a

presença de lixo jogado na rua (Fig. 6).

A visita técnica ao Parque Ecológico Paulo Gorski com os alunos do

1º ano do ensino médio do colégio Estadual Mario Quintana se deu no dia

20/05/2014.

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Figura 5: Construções próximas ao Parque Ecológico Paulo Gorski. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 5a: Instituição de ensino superior.

Figura 5b: Igreja.

Figura 5c: Praça.

Figura 5d:Colégio

Figura 6: Falta de infraestrutura e lixo observados ao longo da saída de campo. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 6a: Falta de Calçamento.

Figura 6b - Lixo nas ruas.

Num primeiro momento, foi realizada uma discussão prévia com a

turma sobre os possíveis problemas ambientais do entorno do Lago no Parque

Ecológico. Entre as reflexões, os alunos elencaram alguns fatores e atividades

que podem ser prejudiciais a este ambiente. Para isto, a turma foi dividida em

grupos e foram sorteados temas distintos para cada equipe. Coube alertá-los

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antes da realização da atividade, que cada grupo tinha a responsabilidade com

o tema que recebeu, mas isso não os impedia de realizar registros fotográficos

e buscar informações sobre alguma curiosidade correlacionada ao conteúdo

que foi trabalhado e outras observações que julgassem pertinentes. Assim,

munidos de máquina fotográfica, água, protetor solar, chapéu, roupa e sapato

confortável, realizaram a visita técnica (Fig. 7).

Figura 7 - Visita técnica. Fonte: Arquivo pessoal.

Cada grupo escolheu a foto que melhor representou a atividade, deu

um título e realizou a pesquisa bibliográfica sobre o problema encontrado.

Desta forma, cada grupo narrou sobre possível(eis) solução(ões) que daria(m)

para a problemática. E, a partir disso, elaboraram cartazes e identificaram os

pontos benéficos e maléficos em relação à questão ambiental do Lago

Municipal durante a pesquisa realizada no local do estudo.

O lago artificial apresenta várias funções. A Figura 8 mostra algumas

das funções existentes no Parque e a Figura 9 evidencia o assoreamento do

reservatório e a urbanização ao redor do Parque Ecológico Paulo Gorski.

Para finalizar a prática pedagógica, os alunos discutiram e

responderam às questões propostas, relatando algumas das consequências

ambientais geradas pela transformação do espaço geográfico do Parque

Ecológico Paulo Gorski. Entre os agentes e fatores de transformação, os

alunos destacaram alguns fatores e atividades humanas, dentre eles: o

desmatamento, a impermeabilização do solo, assoreamento, trânsito

acentuado de veículos, poluição sonora, poluição visual, urbanização e

acúmulo de lixo.

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Figura 8: Funções existentes no parque. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 8a: Reservatório de água. Figura 8b: Refugio de animais.

Figura 8c: Refugio de animais.

Figura 8d: Reserva da flora.

Figura 9: Pressão urbana e o assoreamento. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 9a: Assoreamento.

Figura 9b: Urbanização.

Dentre as considerações finais registradas nos diálogos e debates

entre os alunos, salientou-se que as transformações do ambiente que

compreende o Parque Ecológico Paulo Gorski possuem origem não somente

internas, mas também externas, diante da influência do entorno do parque,

com algumas atividades que geram impactos nocivos ao ambiente. Desta

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forma, perceberam também que o espaço geográfico é dinâmico, e não se

(re)configura de maneira isolada, pois é composto de diversas inter-relações

entre seus elementos e seus sujeitos.

4. Considerações finais

A necessidade de fazer com que haja compreensão do espaço

estudado pode ser despertado no aluno por diversos meios e com o auxílio de

variadas ferramentas, entre elas, a exemplo do que foi utilizado durante este

projeto, temos o uso de mapas, que podem aguçar a curiosidade e a vontade

de explorar o espaço por meio deste instrumento. Este é também um

instrumento que oportuniza uma melhor compreensão quanto a orientação e

localização espacial, além de permitir a compreensão de sua evolução em um

dado recorte temporal, através da comparação entre mapas de distintos

períodos.

Os recursos tecnológicos mais modernos, a exemplo da internet e

dos softwares de navegação por imagens de satélite, podem ser utilizados

como importantes aliados nas aulas da disciplina de geografia, com o intuito de

formar um cidadão sensível a perceber as noções espaciais, bem como, as

transformações que ocorrem não só na paisagem e no lugar onde vivem, mas

também, abrindo uma janela para o mundo desconhecido.

A saída a campo e a visita técnica são formas do professor, no

papel de mediador do conhecimento, discutir com os educandos as

transformações ocorridas no espaço geográfico e torna-las visualmente

compreensíveis aos olhos do educando. Estas são atividades que possibilitam

também a construção de um olhar crítico do aluno perante a realidade que ele

observa, pois conseguem visualizar na paisagem os reflexos das

transformações geográficas que somente eram constatadas em conteúdo

abordado em sala de aula.

É inegável que a realização destas atividades, muitas vezes podem

apresentar dificuldades, entre elas, relacionadas à acessibilidade e aos custos

com transporte para deslocamento dos educandos. Porém, apesar das

dificuldades que possam serem encontradas, os esforços medidos para a sua

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concretização, resultam em proveitosos momentos de melhor compreensão de

conceitos e conteúdos, além de se configurarem como importantes e saudáveis

momentos de interação entre alunos e professores, bem como com o espaço

local observado.

Este trabalho teve relevância pedagógica para que os estudantes se

percebessem como sujeitos atuantes e integrados no meio em que vivem,

percebendo o espaço e as inter-relações que nele acontecem, podendo

contextualizar o passado com o presente, unindo a teoria com a prática e

refletindo sobre as transformações geográficas e as consequências ambientais

acarretadas pelas atividades humanas.

A execução deste projeto também teve êxito ao buscar realizar uma

experiência educativa para além dos muros da escola, em que os alunos

puderam perceber o real/a realidade espaço em que se vivem e os problemas

que nele existentes, refletindo sobre possíveis soluções em busca da melhoria

da qualidade de vida e ambiental do seu lugar.

5. Referências

BETTES, Hamilton Júnior; ORDONEZ, Marlene; SALES, Geraldo. Meu Estado Paraná. São Paulo: Scipione, 1996. DAMIANI, Carlos; ALESSANDRI, Ana Fani (Org.). Novos Caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 2002. 161 p. DANTAS, Heloisa Lima de (tradução.).O Espaço Geográfico. Rio de Janeiro -São Paulo: Difel,1978 .09- 29p. DIAS, Caio Smolarek, et al., Cascavel: Um Espaço no Tempo. A história do planejamento urbano. Cascavel: Sintagma Editores, 2005.73 p.

DOLFFUS, Olivier. O Espaço Geográfico. 3ª Ed. Trad. Heloysa de Lima Dantas. Rio de Janeiro: Difel, 1978.

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