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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · Para tanto, o trabalho pauta-se na Teoria do Letramento Literário: teoria e prática, proposta por Rildo Cosson. ... devido as suas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O RECORTE SOBRENATURAL NOS CONTOS DE LYGIA

FAGUNDES TELLES

Vilma Maria Hey1

Orientador: Prof.ª Dr.ª Stela de Castro Bichuette2

Resumo

Este trabalho é parte integrante do processo de formação continuada desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, através do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). A proposta deste artigo é refletir sobre o conto, principalmente o conto sobrenatural, como forma de promover o letramento literário em sala de aula. Assim, tem como objetivo principal tecer algumas ponderações e sugestões de como se trabalhar narrativas cuja temática gire em torno do sobrenatural, por meio de três contos de Lygia Fagundes Teles: “A Caçada”, “As Formigas” e “Venha ver o pôr-do-sol”, buscando, deste modo, auxiliar os professores da Rede Estadual de Ensino Público do Estado do Paraná em sua prática pedagógica. O conto, por ter como principais características a brevidade, a velocidade e a intensidade têm possibilidade de concorrer com os meios de comunicação de massa, tão prejudiciais à relação do leitor com o universo cultural. Ademais, os contos de Lygia Fagundes Telles representam o lado sombrio de seus personagens que passam do real para o irreal revelando desejos ocultos, encaixando-se na temática gótica e constituindo-se em atrativos para os jovens. Para tanto, o trabalho pauta-se na Teoria do Letramento Literário: teoria e prática, proposta por Rildo Cosson. Trata-se da proposta denominada sequência expandida baseada em: motivação, introdução, leitura, primeira interpretação, contextualização, segunda interpretação e expansão.

Palavras-chave: Conto. Sobrenatural. Letramento literário. Lygia Fagundes Teles.

Abstract

This work is part of the continuing education process developed by the Ministry of Education of

Paraná State, through Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). The purpose of this

paper is to discuss the tale, especially the supernatural tale, as a way to promote the literary

literacy in the classroom. So, has the main objective to make some remarks and suggestions on

how to work narratives whose themes revolve around the supernatural, through three tales by

Lygia Fagundes Teles: “A caçada (The hunt)”, “As formigas (The ants)” and “Venha ver o pôr-

do-sol (Come and see the sunset)”, seeking thereby assist teachers of the State Network of

1 Professora PDE, atuante na Rede Estadual de Educação Básica do Paraná desde 2003, na

disciplina de Português. E-mail: [email protected] 2 Professora Doutora Orientadora. E-mail: [email protected]

Public Education of the State of Paraná in their pedagogical practice. The tale, having as main

characteristic brevity, the speed and the intensity are able to compete with the means of mass

communication, so damaging to the relationship of the reader to the cultural universe.

Additionally, the tales of Lygia Fagundes Telles represent the dark side of their characters that

pass the real to the unreal revealing hidden desires, fitting into the gothic theme and thus

becoming attractive to young people. To this end, the work is guided in Literacy Literary Theory:

Theory and Practice, proposed by Rildo Cosson. It is named after the expanded proposal based

on: motivation, introduction, reading first interpretation, contextualization, second interpretation

and expansion.

Keywords: Tale. Supernatural. Literary literacy. Lygia Fagundes Telles.

INTRODUÇÃO

Atualmente a escola pública brasileira tem dificuldades em formar

leitores. No ensino médio as atividades referentes à literatura são trabalhadas

de forma tradicional, então, esta não se torna atraente o que faz com que seja

indispensável para o professor buscar continuamente um aprofundamento de

novas formas de leituras, entre as quais está o conto gótico.

Assim, o presente artigo pautado na metodologia da sequência

expandida proposta por Rildo Cosson, tem como objetivo promover o

letramento literário dos alunos através do estudo dos contos: "A caçada", "As

formigas" e "Venha ver o pôr-do-sol", cuja temática é o sobrenatural nos contos

escritos por Lygia Fagundes Telles. O conto, por ter como principais

características, a brevidade, a velocidade e a intensidade têm possibilidade de

concorrer com os meios de comunicação de massa, prejudiciais à relação do

leitor com o universo cultural. Ademais, os contos de Lygia representam o lado

sombrio de seus personagens que passam do limite entre o real e o irreal para

revelar desejos ocultos encaixando-se na temática gótica e constituindo-se em

atrativo de leitura para os jovens.

Considerando que há certa dificuldade em trabalhar com literatura em

sala de aula no Brasil, Cosson (2011) salienta que as escolas trabalham com

os cânones da literatura, de forma tradicional e com a historicidade dos

períodos literários. Desse modo, os alunos consideram a literatura enfadonha,

indigesta e tediosa. O autor relata um fato que ilustra bem essa questão:

Uma das primeiras atividades que realizávamos com os alunos da disciplina de Teoria da Literatura consistia em um autorretrato de

leitor. Em um desses autorretratos, um aluno declarou que não gostava de ler literatura “séria” e explicou que isso se dava porque eram livros chatos e cansativos, que continham muita descrição e pouca história (COSSON, 2011, p. 77).

Dessa maneira, pode-se notar que os educandos sentem dificuldades

com os textos longos. De acordo com Cosson (2011, p. 20) "a literatura é

mantida na escola por conta da tradição e da inércia curricular, uma vez que a

educação literária é um produto do século XIX que já não tem razão der ser no

século XXI". A diversidade de textos, a onipresença das imagens, a variedade

das manifestações culturais, a televisão, as telas dos computadores repletas de

palavras e imagens, os vídeo games entre tantos outros, são características da

sociedade contemporânea que levam à premissa da recusa de um lugar à

literatura na escola atual.

No entanto, a literatura quando abordada de uma forma diferente pode

atrair a atenção dos alunos. De acordo com Cosson (2011, p.26), no ambiente

escolar a literatura é um "lócus de conhecimento e, para que funcione como tal,

convém ser explorada de maneira adequada".

O conto sobrenatural e também o gótico trabalham com a imaginação,

com o sonho e com a capacidade de despertar o interesse de jovens e

adolescentes tão imersos no mundo da tecnologia. Uma obra quando bem

escrita, oferece várias alternativas de trabalho consistente para o professor de

Literatura ou de Língua Portuguesa (MENON, 2008). Nesse contexto, está a

literatura gótica representada pelas figuras de horror/terror, suspense e

mistério, ambientadas em lugares medonhos, com mocinhas em perigo,

bandidos violentos, passando pelo sobrenatural ao fantástico.

1. A Origem da Literatura Gótica

Compreende-se por literatura gótica a espécie de narrativa produzida a

partir de meados do século XVIII, na Inglaterra. Ambientada em castelos,

mosteiros ou abadias, com um enredo que privilegiava figuras aristocráticas,

donzelas em perigo, os vilões cruéis e, muitas vezes, a presença do

sobrenatural, a literatura gótica logo ganhou espaço e se solidificou como uma

das categorias mais lidas na época. Por isso, sofreu ataques da crítica que a

classificava como uma literatura inferior, moldada simplesmente para fins

comerciais (MENON, 2007, p. 80).

Assim, como afirma Menon (2007), tais textos, mais particularmente as

narrativas, respondem aos ideais da Revolução Francesa, da Revolução

Industrial e do imergir das massas na Europa, no século XVIII, ao fazerem

apologia contrária à tirania exercida pelos nobres.

No entanto, durante a sua evolução, irão assumir um caráter

transgressor, parecendo entrar na contramão do romance de costumes, pois,

constituiu-se uma das primeiras reações às ideias pregadas pelos árcades ou

neoclássicos. Os neoclássicos "tentavam, à sua maneira, organizar

racionalmente o mundo, explicando-o à luz da razão e negando, quase sempre,

os aspectos ligados ao sobrenatural, à transcendência e ao desconhecido"

(MENON, 2007, p. 23).

Dessa maneira, o surgimento das produções literárias no século XVIII

constitui a negação da razão pregada pelo Iluminismo, constituindo-se como

uma necessidade do sagrado e do sobrenatural.

Como afirma Menon (2007), as produções literárias góticas formam uma

das primeiras manifestações do romantismo, opondo-se ao neoclassicismo,

essencialmente aristocrático. Em vista disso, o gênero era incoerente em

relação à literatura do período, assim, adjetivos como extravagantes, de mau

gosto, rude, logo ecoaram entre os críticos mais rigorosos.

Porém, aos poucos, os textos góticos não mais possibilitam ser

reconhecidos somente pela excentricidade de um gosto literário incerto e

passam a ser considerados categoria estética. No princípio, século XVIII, a

base da narrativa gótica era a literatura de pesadelo, geralmente ambientada

em abadias, castelos, cujos labirintos eram considerados o ambiente propício

para as cenas de terror/horror, nas quais, muitas vezes, havia a presença de

forças sobrenaturais, no qual o "texto gótico exprime também uma crise moral,

alternando momentos de angústias e depressão, idealizando a morte, o

erotismo, a confissão e a fantasia" (MENON, 2007, p. 24).

A partir do século XIX, foram introduzidos aperfeiçoamentos nas

histórias góticas, passando a demonstrar os conflitos do eu interior unidos à

emocionalidade, mostrando o lado sombrio dos seres e passando a explicar os

aspectos da decadência moral e social. Os castelos antigos são substituídos

por casarões misteriosos; as florestas dão lugar às ruas estreitas e escuras; "a

entidade sobrenatural, embora bem vinda, já não se faz necessária como no

princípio, pois passa a ser substituída por imagens assustadoras cuja origem

está na loucura, alucinações ou pesadelos" (MENON, 2007, p. 25).

O gótico, historicamente, como acentua Menon (2007, p.25), "foi

classificado como uma subcultura, devido as suas manifestações artísticas

opositoras e pouco aceitas pela sociedade, assim, esse conceito atravessou

séculos até a Era Contemporânea", porém, gradativamente, foi incorporando

outras peculiaridades que juntaram-se às regras primitivas. As bases da

criação gótica eram compostas por itens como o decadentismo, o romantismo

e o surrealismo, aliados a uma atmosfera sombria.

Nesse sentido, ainda conforme Menon (2007), as histórias de suspense,

a narrativa de caráter policial ou detetivesco e a ficção científica são

considerados seus herdeiros, assegurando ao gênero vivacidade até os dias

atuais. Essa espécie de narrativa confunde elementos do

fantástico/maravilhoso e do real e afirma que é real o que está narrando,

retirando o leitor de seu confortável e lhe mostrando um mundo incomum, onde

os assuntos estão ligados à invisibilidade, à transformação, ao dualismo e à

eterna luta entre o bem e o mal, e, geralmente, apresentando todo tipo de

agentes irracionais e sobrenaturais.

Contudo, importa salientar, que não é obrigatório ao texto de mistério

que ele seja de caráter detetivesco ou policial; sua composição pode ser

realizada de outra maneira. De acordo com Menon (2008), há um bom exemplo

disso na literatura brasileira: trata-se de uma série de contos da escritora Lygia

Fagundes Telles, enfeixados em um livro denominado de Mistérios (1981).

Nele estão reunidos os contos da autora que transitam pelo insólito, pelo

maravilhoso, pelo fantástico e pela própria realidade.

Conforme Ana Maria Lisboa de Mello (2003), em Caminhos do Conto

Brasileiro, o fantástico lygiano revela-se simbólico, na medida em que suas

histórias, quando penetram no território do sobrenatural, realizam uma

verdadeira síntese do diálogo do ser humano com o desconhecido e o

transcendente. O símbolo é o mediador que sugere os contornos e as vivências

da experiência no âmbito do supra-real, alcançado pelas personagens.

A dificuldade em se estabelecer um critério único para caracterizar o

fantástico e a multiplicidade de autores e obras que foram nomeados com a

palavra “fantásticos” leva a "uma convicção de que não há um caminho único e

delimitador de um gênero, mas sim um conjunto de temas e formas que são

recorrentes em algumas narrativas que costumam ser consideradas como

fantásticas" (MOREIRA, 2008, p. 26,27).

Assim, segundo Moreira (2008), assuntos como a solidão, a loucura, o

duplo, o medo, o sonho serão considerados como elementos importantes na

obra de Lygia e funcionarão como um elo com a literatura fantástica. Os

mistérios criados por Lygia Fagundes Telles demonstram a obscuridade de

seus personagens que passam do real para o irreal revelando desejos ocultos.

Portanto, trabalhar com essas categorias pode representar para o

professor mais uma alternativa da qual se pode fazer uso nas aulas de

literatura do Ensino Médio, uma vez que elas podem se constituir em atrativos

para os jovens, tendo em vista a linha temática em que se encaixam. Mas,

assevera Menon (2008), que ao explorar os textos não se deve levar em conta

apenas o gosto do jovem em relação a tais categorias, porém, deve-se priorizar

os elementos que transponham a mera história e que possam levar a uma

reflexão mais aprofundada sobre o fazer artístico do texto em questão, bem

como sua capacidade de dialogar com outras esferas do conhecimento.

2. A Teoria da Sequência Expandida de Rildo Cosson

Em sua obra, Letramento literário: teoria e prática, Rildo Cosson (2011)

propõe o ensino da leitura literária na escola básica para docentes que

desejam fazer do ensino da literatura uma prática significativa para si e para

seus alunos.

De acordo com Cosson (2011, p. 12), o seu "livro trata do letramento

literário referindo-se ao processo de escolarização da literatura. A proposta se

destina a reformar, fortalecer e ampliar a educação literária que se oferece no

ensino básico". Em outras palavras, ela busca formar uma comunidade de

leitores que reconheça os vínculos que unem seus integrantes no espaço e no

tempo. Uma comunidade construída na sala de aula, mas que transpõe a

escola, pois proporciona a cada aluno e ao grupo uma maneira própria de

vivenciar o mundo.

Para tanto, a obra divide-se em três partes: nos pressupostos, o autor

discute o valor social da literatura e de sua escolarização, bem como analisa o

processo de leitura sob o olhar de suas várias teorias. No momento seguinte, o

autor expõe práticas do letramento literário, em sala de aula, através de

exemplos de uma sequência didática básica e uma sequência expandida e, por

fim, diversas oficinas são apresentadas com a finalidade de prover o professor

de mais ferramentas para um trabalhar em sala de aula.

O autor defende que o processo de letramento literário é diferente da

leitura literária por fruição, na verdade, esta depende daquela. No letramento

literário não se pode exigir que o aluno leia a obra e ao final faça uma prova ou

ficha, pois a leitura é construída a partir dos mecanismos que a escola

desenvolve para a proficiência da leitura literária. Cosson, na construção de

seus pressupostos teóricos, "trabalha com teorias linguísticas sobre o

processamento sociocognitivo da leitura, discutindo questões importantes como

a decodificação, interpretação, construção de sentido de um texto" (BOTELHO,

2010, p. 02).

Logo após a apresentação teórica, Cosson expõe as etapas da

sequência básica, porém, o propósito deste trabalho é compreender a

sequência expandida. Conforme Cosson (2011, p. 76) a sequência expandida

vem deixar mais evidente as articulações entre experiência, saber e educação

literários inscritos no horizonte do letramento na escola.

Inicia-se a sequência expandida com as seguintes etapas: motivação,

introdução, leitura, primeira interpretação, contextualização (teórica, histórica,

estilística, poética, crítica, presentificadora e temática) segunda interpretação e

expansão.

A motivação consiste no ato que antecede a leitura a ser realizada; é

essencial, pois deve provocar a curiosidade dos alunos. Incide em uma

atividade de preparação, de introdução dos alunos no universo da obra a ser

lida.

A próxima etapa é a introdução e pressupõe a apresentação do autor,

detectar onde se encontra no campo literário e histórico, isto é, um simples e

breve comentário sobre o autor e a obra, que segundo Cosson (2011, p. 80),

pode ser a atividade mais adequada. A primeira é a entrada temática, que toma

a motivação como eixo. Convém que esse tipo de entrada temática seja breve,

porque seu papel é apenas sugerir uma porta para o texto e não determinar a

interpretação, ou seja, ela serve para despertar o interesse do aluno pela obra

e não conduzir sua leitura.

A segunda introdução vem do aproveitamento do acervo da Biblioteca.

Neste caso, a proposta é que o professor selecione três ou quatro edições e

faça com os alunos uma leitura da edição do livro. O objetivo é chamar a

atenção para o que elas indicam sobre o conteúdo, a imagem de leitor e as

condições propostas de circulação. Pode-se destacar, por exemplo, que se

"trata de uma edição didática pela presença de suplementos de leitura ou de

uma edição de coleção indicada pela capa dura" (COSSON, 2011, p. 80).

Como terceira possibilidade, sugere-se a leitura das primeiras páginas

em sala de aula para apresentação das personagens principais. “O professor

não precisa ler o texto por inteiro, basta que destaque os trechos centrais à

descrição do espaço e das personagens” (COSSON, 2011, p. 80). Todas essas

possibilidades podem ser ampliadas com a leitura de prefácios, orelhas e

outros textos que constituem a apresentação do livro.

Na fase da leitura, esta convém ser feita prioritariamente extraclasse. O

professor e os alunos buscarão acertar, em conjunto, os prazos de sua

finalização. Nesse sentido, alerta o autor:

Independentemente do tipo de acerto feito e das suas condições, o tipo de leitura precisa ter um limite claro. Nesse sentido, é importante levar em consideração que se tende a despender mais tempo nos capítulos iniciais, quando as personagens e situações básicas da narrativa são introduzidas, do que nos últimos, posto que para isso concorre tanto para o conhecimento que já se tem das linhas gerais da história quanto para a proximidade do desenlace. Além disso, há sempre a possibilidade de um colega ter lido um pouco mais do que o outro, o que tende a acelerar o tempo da leitura da turma (COSSON, 2011, p. 81).

Desse modo, cabe ao professor estabelecer um sistema de verificação,

que pode ser feito por meio dos intervalos de leitura. Esses intervalos também

são momentos de enriquecimento do texto principal. Isto significa que se pode

relacionar uma música ou até mesmo uma imagem com o texto principal. A

participação dos alunos e as relações que eles conseguem fazer entre os

textos demonstram a efetividade da leitura que está sendo feita extraclasse e,

assim, procura-se dialogar com a obra em diferentes enfoques.

Quanto a primeira interpretação, esta destina-se a uma apreensão global

da obra. O objetivo desta etapa é levar o aluno a traduzir a impressão geral do

título, o impacto que ele teve sobre sua sensibilidade de leitor. De acordo com

Cosson (2011, p. 83), a produção de um ensaio ou mesmo de um depoimento

pode ser o registro ideal dessa primeira interpretação. Ou seja, nesta fase o

aluno fala livremente sobre a sua experiência de leitura, suas impressões

acerca do que foi lido.

Após a execução dos encaminhamentos acima descritos deve-se fazer a

contextualização da obra, isto é, aprofundar a leitura através do estudo de

elementos que a desvendem. A saber:

Contextualização teórica: procura tornar explícitas as ideias que

sustentam ou estão encenadas na obra. Não se trata como salienta Cosson

(2011, p. 86), de traçar a história das ideias a partir da literatura, mas sim de

verificar como em certas obras determinados conceitos são fundamentais.

Contextualização histórica: consiste na abertura da obra para o período

que ela apresenta ou a época de sua publicação objetivando relacionar o texto

com a comunidade que lhe deu origem ou com a qual ele sugere mencionar

internamente.

Contextualização estilística: está centrada nos estilos de época ou

períodos literários e procura analisar o diálogo entre a obra e o período. Porém,

Cosson (2011, p. 87) adverte que ela precisa ir além da identificação de traços

ou características dos movimentos em recortes textuais. São as obras que

informam os períodos e não o inverso. Ademais, nenhuma obra se identifica

inteiramente com o período.

Contextualização poética: é a leitura da obra de dentro para fora, do

modo como foi constituída em termos de estrutura verbal, quais as regras de

sua organização.

Contextualização crítica: trata da recepção do texto literário. Neste caso,

ela pode tanto se ocupar da crítica em suas diversas vertentes ou da história

da edição da obra. Enfim, é o estudo de textos diversificados com o intuito de

ampliar os horizontes de leitura dos alunos da turma.

Contextualização presentificadora: é a contextualização que busca a

correspondência da obra com o presente da leitura: trata-se da atualização.

Conforme Cosson (2011, p. 89), o aluno é convidado a descobrir no seu mundo

social elementos que o identifiquem com a obra lida e assim, mostrar a

atualidade do texto.

Contextualização temática: trata do tema da obra, do qual assevera

Cosson (2011, p. 90), não pode entreter-se apenas com o tema em si, mas sim

com a repercussão dele dentro da obra.

Segunda interpretação: objetiva a leitura aprofundada de um dos

aspectos do texto que pode estar centrada em uma personagem, um tema, um

traço estilístico, abordando questões contemporâneas, históricas, outras

leituras, e assim por diante, de acordo com a contextualização realizada;

E, finalmente a expansão: que consiste no movimento de ultrapassagem

do limite de um texto para outros textos, quer visto como extrapolação dentro

do processo de leitura quer visto como intertextualidade no campo literário,

buscando destacar os diálogos possíveis de articulação entre a obra e outros

textos que lhe sejam antecessores, contemporâneos ou posteriores. Além

disso, segundo Cosson (2011), sempre que possível, as atividades realizadas

devem ser registradas por escrito.

3. Implementação – Relato de uma Experiência

Elaborado o Plano de Trabalho, assistidas as aulas e palestras previstas

no cronograma e à medida que as leituras iam sendo realizadas, o

desenvolvimento metodológico do plano de trabalho se concretizou.

Através dos encontros com a Professora Orientadora houve a leitura de

artigos, reportagens, livros e fichamento de textos – tanto os sugeridos pela

professora quanto aqueles que são frutos de pesquisa bibliográfica sobre o

tema abordado.

O trabalho de implementação da proposta na escola ocorreu no terceiro

período concomitante ao trabalho desenvolvido com os demais professores da

Rede Estadual de Ensino no GTR (Grupo de Trabalho em Rede), orientação a

grupos de professores realizados de forma virtual. Desse modo, através do

ambiente de aprendizagem Moodle, estiveram conectados à discussão e

execução de atividades de formação continuada acerca do presente objeto de

estudo, o que significa que o conhecimento foi compartilhado entre o professor

PDE e os professores da rede, e que estes puderam discutir a base teórica

selecionada para o objeto de estudo da área do professor PDE.

A Implementação da Proposta de Intervenção na escola deu-se por

meio da seleção de três textos, os quais foram trabalhados com os alunos da

1ª série, período vespertino, do Ensino Médio do Colégio Estadual Profª. Júlia

H. de Souza- EFM. Os textos, referentes aos contos: "A caçada", "As formigas"

e "Venha ver o pôr do sol", escritos por Lygia Fagundes Telles3, abordam o

sobrenatural e o onírico.

A produção do Caderno Pedagógico e a Implementação da Proposta

de Intervenção na escola tem como objetivo promover o letramento literário,

tendo os contos como alternativa didática. Julio Cortázar define o conto de

acordo com o conceito de Poe: “um conto é uma verdadeira máquina literária

de criar interesse”, ou, indo mais além: no conto vai ocorrer algo, e esse algo

será intenso (Cortázar, apud Gotlib, 2006, p.21.). O conto pode se constituir em

interesse para os jovens e adolescentes, uma vez que possui certas

características que o tornam interessante para essa faixa etária, bem como:

brevidade, nesse sentido é necessário ao conto causar efeito ou impressão

geral no leitor; a tensão que corresponde à inquietação de “todo contista no

sentido de provocar no espírito do leitor numa só impressão, seja de pavor,

piedade, ódio, simpatia, ternura, indiferença, etc. seja o contrário delas”

(MOISÉS, 1983, p. 23).

O método utilizado foi o da sequência expandida proposto por Rildo

Cosson no livro Letramento Literário: Teoria e Prática, 2011, considerando a

motivação, introdução, leitura, primeira interpretação, contextualizações:

teórica, histórica, estilística, poética, crítica, presentificadora e temática,

seguidos da segunda interpretação e da expansão para facilitar o estudo dos

contos citados.

Desse modo, iniciaram-se as primeiras aulas com a fase da Motivação.

Para tanto, como forma de motivar os alunos e inserir o assunto “gótico”, foi

levado para a sala de aula um painel com figuras representando o sentimento

do “medo”.

O painel com as figuras góticas parece ter cumprido o seu papel, pois

causou impacto e provocou curiosidade nos alunos. Logo em seguida, alguns

3 TELLES, Lygia Fagundes. Antologia: Meus Contos Preferidos. Rio de Janeiro: Rocco,

2004.

alunos começaram a contar histórias de filmes de terror e histórias que seus

pais e avós contavam.

Fonte: Arquivo Pessoal da autora.

Após, na fase da Introdução, eles foram informados que estudariam, em

sala de aula, três textos de Lygia Fagundes Telles. E foram questionados:

Vocês já ouviram falar desta autora? Será que ela é contemporânea? Que tipo

de literatura vocês imaginam que ela escreve e para qual público?

Em seguida, os alunos foram conduzidos ao laboratório de Informática

onde assistiram a entrevista concedida por Lygia Fagundes Teles4, na qual ela

fala sobre sua obra. Além disso, a Professora PDE levou para sala de aula os

livros da autora, principalmente os títulos onde estão inseridos os contos para

que os alunos entrassem em contato com eles, sendo que demonstraram

grande interesse em pesquisar alguns contos para lê-los ou simplesmente

acharam interessante o título dos contos escritos pela autora.

Na fase da Leitura do conto "Venha ver o pôr-do-sol", como não houve

voluntários entre os alunos, a professora fez a leitura e estes a ouviram e

acompanharam, em silêncio e com atenção, inclusive mudavam a fisionomia do

rosto de acordo com os acontecimentos relatados no texto.

A primeira atividade escrita referente ao conto “Venha ver o Pôr-do-sol”

foi realizada na biblioteca, pois nesta atividade os alunos deveriam completar o

4 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=xZtdITd_fvs. Acesso em: 20/11/2013.

quadro dando o significado das palavras destacadas dentro do contexto em

que estavam inseridas. Desse modo, os alunos tinham que trabalhar em

conjunto, discutindo entre si as palavras encontradas no dicionário e que

melhor se encaixavam no texto.

Durante as demais atividades os educandos tiveram algumas

dificuldades referentes à compreensão desse conto, como por exemplo, eles

conseguiram perceber que "a fechadura fora trocada" porque estava explícito

no texto, mas levaram algum tempo para perceber outros indícios de que

haveria uma tragédia: à distância, o fato de estar abandonado, a própria

distância do túmulo dentro do cemitério e o significado do termo “pôr-do-sol”

dentro do texto.

Eles compreenderam o sentido pôr-do-sol quanto ao significado de

“encontro amoroso” atribuído por Raquel, porém, tiveram certa dificuldade para

compreender o sentido de “fim” atribuído por Ricardo. Esta dificuldade foi

observada, principalmente, quando os educandos passaram a resolver a

atividade a seguir:

A ironia está presente no título do conto, pois, o "pôr-do-sol" tem

significado diferente para os personagens, assim, escreva o significado

atribuído por:

Raquel Ricardo

Fonte da imagem: Site consultado: http://www.papeisdeparedehd.com/view-sol_no_campo-

hd.html. Acesso em: 17/10/2013.

Além disso, houve debate sobre a relação entre os crimes passionais e o

conto trabalhado em sala de aula. Nesse sentido, refletiu-se sobre a questão

de que nem sempre as pessoas correspondem ao que pensamos delas, por

isso a necessidade de tomar cuidado com as amizades e com os lugares que

frequentamos.

Para finalizar as atividades sobre o conto “Venha ver o pôr-do-sol”

solicitou-se aos alunos que representassem o momento de maior intensidade

do conto. Como exemplo dessa atividade segue duas ilustrações.

Desenho 1:

Autor: Gean de Jesus Almeida

Desenho 2:

Autora: Aline Cristina Dias Chodoba

O próximo conto trabalhado em sala de aula foi “A Caçada”. Seguindo a

teoria da sequência expandida de Rildo Cosson, como motivação, foram

mostradas, via multimídia, algumas figuras referentes à caçada. Essas figuras

foram amplamente discutidas e a maioria dos alunos conheciam as leis que

proíbem a caça e a pesca em determinados períodos, aquelas realizadas pelos

homens primitivos, visando à sobrevivência e também aquelas predatórias e

esportivas, feitas atualmente. A discussão foi muito proveitosa e com a

participação de todos.

Na segunda fase, a da leitura, os alunos assistiram no multimídia ao

vídeo em que ator Antonio Abujamra narra5 o conto "A caçada" de Lygia

Fagundes Telles e, logo após, o Professor PDE conduziu-os até a sala de aula

e propôs a leitura oral do texto.

Durante as atividades os alunos resolveram as questões relacionadas à

descrição de espaço dos acontecimentos, a pesquisa de vocabulário e

denominação de personagens. Em relação à descrição de espaço, segue o

exemplo de uma das atividades que foram desenvolvidas:

A narrativa acontece em dois espaços, ou seja, em dois lugares onde se

sucedem os acontecimentos: a loja de antiguidades e a própria tapeçaria.

a) Com base no texto, descreva o espaço do antiquário e da tapeçaria.

b) Qual dos espaços acaba ganhando mais ênfase dentro do texto?

Comente.

Porém, apresentaram maiores dificuldades nos pontos relativos à

compreensão do que estava implícito no texto; ou seja, raras vezes entendiam

as frases que estavam subtendidas como, por exemplo, no caso da

ambigüidade do título do texto “A Caçada”, pois, a autora colocou este nome

justamente devido ao seu personagem principal não saber se era a “caça” ou o

"caçador".

5 O vídeo está disponível em: www.youtube.com/watch?v=386fuVrjjw4. Acesso em 13/10/2013.

Para finalizar a atividade referente ao Conto “A Caçada” a professora

solicitou aos educandos que realizassem uma Ilustração representando o

espaço da tapeçaria. Um dos alunos ilustrou o desenho abaixo:

Autor: Vanilson Leal Corrêa

O terceiro conto estudado foi “As Formigas”. Como motivação o

Professor PDE iniciou a aula mostrando na TV pendrive slides de formigas aos

alunos e solicitou que eles fizessem um desenho representando o que a figura

lhes sugerisse (formigueiros, folhas cortadas, formigas enfileiradas etc.). Em

seguida, pediu a eles que mostrassem aos colegas o que ilustraram e

comentassem sobre o desenho. A partir deste momento, a palavra ficou aberta

para comentários, para a contação de histórias, filmes ou textos que conheciam

pertinentes ao assunto. Os educandos lembraram-se da famosa fábula "A

Cigarra e a Formiga", de La Fontaine.

Na fase da leitura foram informados de que estudariam o conto “As

Formigas” de Lygia Fagundes Teles e foram encaminhados para o laboratório

de informática onde assistiram ao vídeo, no multimídia, sobre o conto "As

formigas". Trata-se de um vídeo6 produzido por alunos e que retrata a visão

deles sobre o conto. Em sala de aula foi realizada a leitura oral do conto. Todos

os alunos participaram da leitura e se prontificaram a ler o texto para o restante

da sala.

6 O vídeo está disponível no endereço eletrônico:

http://www.youtube.com/watch?v=kMcWFLpAZxw. Acesso em 24/11/2013.

Quanto às atividades, estes resolveram melhor aquelas relacionadas à

definição de personagens, pois já haviam feito essa atividade no conto anterior.

Pode-se observar que tiveram maior dificuldade nas questões relacionadas à

interpretação de texto. No entanto, a descrição dos espaços, as figuras de

linguagens, o foco narrativo, a produção de textos e os elementos

sobrenaturais do conto foram bem resolvidos e de forma criativa.

Considerando a atração que o sobrenatural exerce sob os

jovens/adolescentes foram desenvolvidas atividades enfocando esse caráter,

bem como:

1) Durante a narrativa, a narradora vai dando pistas de que a história

pode ser uma história sobrenatural. Liste os componentes presentes

no texto que passam esta ideia.

2) No texto, há um elemento mais significativo que desperta o

sobrenatural no conto. Relate qual é e faça um comentário.

3) Apesar dos elementos visíveis que levam as estudantes a

experimentar o sentimento de temor na nova moradia, no plano

invisível há um outro elemento que funciona como indício de possível

existência maligna que se aproxima. Descubra qual é e relate quando

ele é percebido pelas personagens.

4) A estudante de medicina logo demonstra interesse pelo caixote de

ossos. Escreva sobre os ossos do anão.

5) Durante o sono a estudante de direito sonha com o anão. Relate,

com suas palavras, os acontecimentos dos sonhos da universitária.

6) Qual fato presenciado pela estudante de medicina faz com que ela

resolva que ambas devem ir embora da pensão, naquele instante,

mesmo sendo madrugada?

7) No conto em estudo é mencionado um anão, através do esqueleto, e

também o antigo morador do quarto, mas não se tem informações a

respeito deles que possam responder as seguintes questões:

Qual é a história do anão? Quem era? O que aconteceu com ele? Por

que seus ossos estão guardados em um caixotinho no quarto? Qual é a

história do antigo morador do quarto? Quem era ele? Se ele foi embora,

por quê? O que aconteceu com ele?

Produção de texto:

Produza um texto narrativo contando a história do anão e do antigo

morador do quarto: pode ser uma história em que apareçam os dois

personagens, pode ser a história só do anão ou só do antigo morador.

Exemplo da atividade de produção de texto realizado por uma aluna:

Autora: Bruna Rayane Campanharo da Luz

Na fase da expansão a professora PDE retomou os contos para que os

alunos conseguissem entender a sua estrutura e as suas nomenclaturas.

Iniciou a aula perguntando: Quem se lembra dos contos escritos por Lygia F.

Telles que foram estudados em sala de aula? Alguém poderia contar? Além

disso, informou que, nas atividades seguintes seriam trabalhados os três

contos simultaneamente.

A primeira atividade consistia em que os alunos escrevessem a

“essência” dos três contos. Essa atividade apresentou certo grau de

dificuldade, pois os educandos não conseguiam abstrair as histórias e resumi-

las. As atividades referentes aos elementos específicos da narrativa, bem como

fatos, personagens, tempo, espaço e narrador foi realizada com êxito, pois já

haviam feito outras questões semelhantes.

Na última atividade a Professora PDE dividiu a turma em dois grupos,

cada grupo ficou responsável por reler um conto. A Professora trabalhou com

toda a turma o conto “Venha ver o pôr-do-sol”, como modelo para que os

grupos realizassem a atividade. Cada grupo deveria reler o conto que lhe foi

destinado e escrever os elementos da narrativa: enredo, conflito, introdução,

complicação, clímax e desfecho. A maioria da turma se sobressaiu durante a

realização da atividade, a professora circulou entre os grupos esclarecendo as

principais dúvidas.

Para concluir e a título de avaliação, a Professora PDE dividiu-os em

grupos, procurando encaixar o aluno no conto que mais gostou. Depois,

solicitou que eles produzissem um texto da continuação dos contos que foram

lidos em sala de aula e, posteriormente, partes dos textos originais contados

para os demais estudantes do turno vespertino. Abaixo exemplo de um texto

produzido por um aluna:

Autora: Adriele Sebot Korczak

REFERÊNCIAS

BOTELHO, Laura Silveira. Resenha - Letramento Literário. Disponível em: http://www.ufjf.br/fale/files/2010/06/Letramento-liter%C3%A1rio.pdf. Acesso: 17/07/14. COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2011. GOTLIB, Nádia Battela. Teoria do Conto. São Paulo: São Paulo, 2006. MELLO, Ana Maria Lisboa de. Caminhos do Conto Brasileiro. In: Ciências e Letras. Revista da Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras. Porto Alegre, n. 34. p. 20. Jul/dez 2003. MENON, Maurício César. A Narrativa de Mistério/Suspense, Terror/Horror no Ensino Médio: Ponderações e Esclarecimentos. In: OLIVEIRA, Vanderléia da Silva. Educação Literária em Foco: entre Teorias e Práticas. Cornélio Procópio: Grupo de Pesquisa Crítica e Recepção Literária, p. 78 a 87, 2008. ________. Figurações do gótico e de seus desmembramentos na Literatura Brasileira de 1843 a 1932. 2007. 257 f. Tese (Doutorado) - Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2007. Cap. 1. MOREIRA, Alexandre Guimarães. O Fantástico e o Medo: Uma Leitura de Mistérios, de Lygia Fagundes Telles. Dissertação de Mestrado: Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ. 2008. Disponível em: http://www.letras.ufrj.br Consultado em: 03/07/13. TELLES, Lygia Fagundes. Antologia: Meus Contos Preferidos. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.