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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · propostas por Rildo Cosson e Magda Soares, como forma de contribuir para a construção de ... “Letramento: um tema em três

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma

2013

Título:

Do mundo da leitura para leitura do mundo: uma viagem pela crônica

Autor: Dalila Ferreira de Jesus Santos

Disciplina/Área:

Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Professor Francisco Zardo

Município da escola: Curitiba

Núcleo Regional de Educação: Curitiba

Professor Orientador:

Elisiani Vitória Tiepolo

Instituição de Ensino Superior: UFPR

Relação Interdisciplinar:

História, sociologia e filosofia

Resumo:

O presente material didático foi elaborado com o objetivo de buscar estratégias que possam dar sentido ao momento de leitura para o aluno. Para isso, foi escolhido o gênero crônica, que permite ao aluno vivenciar, a partir de um acontecimento singular da vida, a beleza da literatura e do poético oculto nas palavras do cronista. Além disso, as crônicas permitem reflexões importantes que podem levar ao pensamento e à visão crítica da realidade. A proposta de interpretação será a partir das propostas por Rildo Cosson e Magda Soares, como forma de contribuir para a construção de um leitor protagonista da sua própria leitura e do meio em que vive.

Palavras-chave:

leitura; crônica; formação do leitor

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Formato do Material Didático: Caderno pedagógico

APRESENTAÇÃO

Existe no Brasil uma situação bastante alarmante a respeito da formação de

leitores, conforme afirma Rojo e Cordeiro (2004: p.10): “as práticas escolares

brasileiras tendem a formar leitores, com apenas capacidades mais básicas de

leitura, ligadas à extração simples de informação de textos relativamente simples”.

Este contexto é uma preocupação que sempre esteve em evidência na

educação. Por isso, muitas teorias surgiram numa tentativa de colaborar com esses

processos de formação de leitor. Pensar nisso e refletir sobre a prática do professor

na educação, hoje, e em qualquer disciplina, permitem avaliar o estudante que está

se construindo no cotidiano escolar.

Segundo as DCEs,

É nos processos educativos, e notadamente nas aulas de Língua Portuguesa, que o estudante brasileiro tem a oportunidade de aprimoramento de sua competência linguística, de forma a garantir uma inserção ativa e crítica na sociedade, é na escola que o aluno, deveria encontrar espaço para as práticas de linguagem que lhe possibilitem interagir na sociedade, nas mais diferentes circunstâncias de uso da língua, em instâncias públicas e privadas. Nesse ambiente escolar, o estudante aprende a ter voz e fazer uso da palavra, numa sociedade democrática, mas plena de conflitos e tensões. (2008, p.38)

Pensando na criação deste espaço de aprendizagem, fundamentado pelo projeto

de pesquisa, realizado no primeiro semestre de 2013, este material pedagógico tem

como objetivo geral desenvolver a leitura crítica e participativa no cotidiano escolar e

social.

Portanto, as atividades elaboradas foram pensadas conforme as abordagens

sobre letramento literário de Magda Soares, “Letramento: um tema em três gêneros” e

Rildo Cossom, “Letramento literário: teoria e prática” que defendem a formação de um

aluno-leitor que ultrapasse a linearidade do texto, apropriando-se plenamente das

práticas sociais de leitura e de escrita.

Diante desse contexto, fica evidente a importância do planejamento em

atividades com a leitura visando, dessa forma, a formação de leitores críticos, como

sendo aquele que ultrapassa os limites das linhas e vai para as entrelinhas,

questionando o quê, como e qual a natureza do objeto, assim como quais as pistas

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linguísticas deixadas pelo enunciador que levam à interpretação do texto e à

atribuição de uma intencionalidade do autor.

Dessa maneira, operando com textos literários clássicos ou não, o professor

pode atuar no sentido de promover alterações no olhar do leitor, cabendo-lhe um

importante papel de substituir a prática de leitura monológica pela da compreensão

ativa de bases dialógicas (BAKHTIN, 1997).

Para desenvolver a leitura crítica, escolhi o gênero crônica, porque sua leitura,

assim como afirma Marquesi, pode configurar-se como estratégia extremamente

adequada a uma metodologia de ensino de leitura:

Ao lermos uma crônica, envolvemo-nos pelo prazer da leitura e pela proximidade com o gênero, o que nos permite ampliar nosso universo de conhecimento, pois

somos instigados à interpretação e, assim avançamos como leitores. (2005, p. 35 e 36)

O gênero crônica é uma mistura de jornalismo e literatura; é jornalística

quando busca no cotidiano os fatos da vida real que são noticiosos e é literária

quando se permite utilizar elementos literários (ex: criação de personagens,

linguagem solta,coloquial e poética, ao fazer uso das figuras de linguagens, etc.).

Diferente do conceito de crônica do passado, hoje a crônica alimenta-se da

estética literária, pois sua construção demanda sensibilidade ficcional e imaginação

criativa para contar uma situação óbvia ou cotidiana, que ultrapasse a linearidade da

informação jornalística. Esse fato, permite ao aluno degustar da criatividade do

cronista, por explorar a função poética da linguagem, ao mesmo tempo que é

instigado a contextualização da crônica, indo portanto, além da linearidade da obra.

O exercício que a crônica propõe é mostrar a grandiosidade no miúdo, no singular e

no inesperado, trazendo e gerando reflexões no leitor em formação.

Na opinião do cronista Sant'Anna, em entrevista ao Jornal da Biblioteca

Pública do Paraná, o escritor precisa ter responsabilidade sobre o que escreve,

porque a crônica interfere na realidade. Exemplo disso foi a crônica que ele

escreveu: “Nós, os que matamos Tim Lopes” (ver anexo 1), levou várias pessoas a

pararem de consumir drogas.

A leitura de qualquer texto - entendida enquanto ato de compreensão ativa -,

leva o leitor a perceber as vozes que falam no seu interior, a que formação

ideológica elas se vinculam e a que tipos de interesses elas servem. Nessa

perspectiva, qualquer discurso (dada a sua natureza essencialmente dialógica) não

é nunca a manifestação de uma só voz, mas um conceito polifônico que revela a

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pluralidade de formações discursivas presentes no texto, inclusive a do próprio leitor

(BAKHTIN, 1997).

A implementação deste caderno pedagógico ocorrerá durante 1º semestre de

2014.

Ele está dividido em 4 unidades desenvolvidas a partir das propostas de

letramento literário apresentadas por Rildo Cossom: motivação, introdução, leitura e

interpretação. Para cada atividade de leitura o aluno contará com um diário para o

registro e acompanhamento de sua evolução como leitor.

A unidade 1 será um ambiente de motivação para adentrar ao tema da leitura

da crônica, e colaborar na interação professor e aluno. Usarei para isso uma

atividade com ilusão de ótica, de forma a conduzir o aluno à observação detalhada

da realidade, seguida de reflexão. Após este momento será apresentado um trecho

da crônica “Você quer me irritar” de Mário Prata, tendo como proposta a

continuidade das ideias da crônica, a partir dos sentimentos de irritação que nascem

no cotidiano do aluno.

A unidade 2, explorará a temática da construção da crônica, de onde vem a

inspiração para sua produção. A motivação ocorrerá com a dinâmica do espelho, o

aluno verá sua face refletida no livro-espelho e a partir desta inspiração resgatará

sua história de leitor escrevendo uma crônica e compartilhando sua experiência

através da leitura. Em seguida se introduzirá a crônica de Fernando Sabino: “A

última crônica”, que tematiza o surgimento da inspiração para o cronista ao observar

o comportamento de uma família num botequim. Além disso, nesta unidade se fará

a relação do título e com a crônica.

Depois de formado o conceito de crônica intermediado pelas propostas de

atividades das unidades 1 e 2, a unidade 3 permitirá um trabalho completo que

passará por todas as estratégias da leitura literária: motivação, introdução, leitura e

interpretação. A crônica selecionada é “Laranjas de ontem e hoje” de Carlos Heitor

Cony.

Finalmente a Unidade 4 dará algumas propostas para o trabalho com as

sequências básicas e expandidas e também para que a partir desta implementação

se forme leitores protagonistas. A intenção é que haja continuidade nas oficinas de

leitura intermediadas pelo professor, permitindo que o aluno avance como leitor

motivando-se para os momentos de leitura criados na escola e expandidos além

dos muros da escola.

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Unidade 1 – Interação professor e aluno

- Objetivo:

* Promover um ambiente de motivação e interação entre professor e aluno para o mundo da

leitura de crônicas, provocando uma forma de olhar para além do que está evidente.

Esta unidade oportunizará a você, professor, conhecer e interagir com seus alunos, seja

na atividade com a ilusão de ótica ou na leitura da crônica “Você quer me irritar” do escritor e

jornalista Mário Prata. Aproveite este momento para instigar seus alunos a observar todos os

detalhes da imagem refletida. Providencie, para isso, a multimídia ou projete pela TV pendrive.

Diagnostique se nas observações expressadas os alunos não ficam apenas na

superficialidade da figura, mas conseguem interpretar além do óbvio. Por exemplo, na figura 2

desta atividade, a primeira imagem que se vê é uma árvore, um rio, um casal, mas esta natureza

que é metáfora da vida, também esconde uma vida, um bebê surge pelos traços dos galhos da

árvore, os pés estão próximos do tronco e a cabeça desenhada pelas ramificações da árvore em

sua extensão, o corpo parece estar deitado no rio, metáfora de um bebê dentro da barriga

envolvido pelo líquido amniótico, um casal de namorados contemplam a natureza e também são

índices de geradores da vida. O bebê está conectado à árvore, esta que lhe dá a vida, a seiva, sem

ela o bebê não sobrevive, não nasceria dos seus traços, portanto é um fruto da natureza. Esta

imagem reflete a harmonia que pode existir entre o homem e a natureza.

Você pode expandir este momento contextualizando a reflexão com a problemática do

desequilíbrio ecológico e destruição do planeta. Porém, como se trata de uma introdução e

motivação para o estudo da crônica e não ao tema, meio ambiente, é preciso cuidar para não se

estender demais no tema ecológico.

Além da imagem do bebê e a natureza sugiro que apresente outras e desenvolva um

diálogo com os alunos: www.humorbabaca.com

Observe atentamente a imagem, registre no diário o que vê e o

que a imagem sugere, após as suas anotações, compare com o que

seus colegas escreveram e compartilhe com a turma:

Figura 1

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Figura 2

Além da imagem que viu, divirta-se com mais ilusões de óticas, acessando: http://www.youtube.com/watch?v=ZxAt3CRP56I http://www.youtube.com/watch?v=BDwnhdZe2NA

Será que na leitura que fazemos no dia a dia deixamos de contemplar certos detalhes a nossa volta? Muitas vezes levados pelo ativismo, ficamos na linearidade e superficialidade dos fatos, até mesmo de uma boa leitura, sem dar importância para onde nossos pensamentos são guiados numa enxurrada de valores e escolhas.

Na literatura há um gênero que mostra detalhes do cotidiano. A este gênero denominamos C R Ô N I C A.

A crônica é um gênero do jornalismo contemporâneo, cujas raízes localizam-se na história e

na literatura, constituindo suas primeiras expressões escritas. Por meio dos assuntos, da composição aparentemente solta, ela se ajusta à sensibilidade de todo dia. Principalmente, porque elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural.

Figura 3

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Leia o significado etimológico de crônica:

“Do grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo latim chronica, o

vocábulo “crônica” designava, no início da era cristã, uma lista ou relação

de acontecimenos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é, em

sequencia cronológica. Situada entre os anais e a história, limitava-se a

registrar os eventos sem aprofundar-lhes as causas ou tentar

intrpretá-los. Em tal acepção, a crônica atingiu o ápice depois do século

XII, graças a Froissar, na França, Geoffrey of Monmouth, na

Inglaterra, Fernão Lopes, em Portugal, Alfinso X, na Espanha, quando se aproximou estreitamente

da historiografia, não sem ostentar traços de ficção literária. A partir da Renascença, o termo

“crônica cedeu vez a “história, finalizando, por conseguinte, o seu milenar sincretismo” Massaud

Moisés (2003, p. 101)

Depois de apresentar conceito de Crônica, prepare os alunos para a leitura de um trecho da

crônica de Mário Prata, “Você quer me irritar”, (escolha o trecho que vai ler ) motive este

momento com a pergunta: O que irrita mais você no dia-a-dia? E após discussão apresente a

música “Tic Nervoso” de Kid Vinil & Verminose. Baixe o vídeo em:

http://www.youtube.com/watch?v=Cf5iaMFofCk.

Realizada a escuta da música, conduza uma discussão/partilha com a indagação oral: Você se

identifica com alguma situação narrada na música que o deixa irritado? Em um segundo

momento distribua cópias individuais da Crônica “Você quer me irritar”? Fale um pouco do

escritor Mário Prata (http://marioprata.net/cronicas/) e após o encaminhamento da leitura da

crônica inicie uma “discussão/partilha” orientada pela indagação oral: Você se identifica com

alguma situação que deixa o autor irritado? Após este momento peça aos alunos para dar

continuidade à crônica mas expressando as situações que o irritam. Oriente-os para que a

linguagem utilizada e a estrutura das frases se assemelhem ao estilo do cronista. Aproveite para

mostrar que a linguagem da crônica se aproxima ao da oralidade, ao fazer uso da linguagem

coloquial,imprimindo um tom de humanidade ao relato, consequentemente aproximando texto de

leitor. Você pode criar atividades que explorem a linguagem formal e informa, aproveite as

expressões usadas pelo cronista. Lembre-se de criar um momento para a leitura dos textos

escritos.

Vamos assistir a um clip da música “Tic Nervoso” de Kid Vinil e

após escutá-la anote no diário se você se identifica com alguma

situação narrada na letra da música. Em seguida, compartilhe o

que escreveu com a turma.

Figura 4

Figura 5

Pense e discuta: Que situação mais o irrita no seu dia-a-dia?

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Faça a leitura de um trecho da crônica de Mário Prata,

“Você quer me irritar”. Observe que ele dialoga com a letra da

música “Tic Nervoso”, ao tratar do mesmo tema, mas usa o

gênero crônica para expressar suas emoções.

Você quer me irritar?

Meu velho amigo e jornalista Melchiades Cunha Junior, o popular "Capitão", costuma

usar esta frase "Quer me irritar é...", e acrescentar a irritação do momento. Murilinho

Felisberto, mestre da DPZ, sempre que se encontra comigo, referindo-se ao "Capitão",

também vem com o "Quer me irritar"... Ficou uma brincadeira entre nós três. Na posse

do presidente Fernando Henrique, no Itamaraty, encontrei com o "Capitão" comendo

em pé, como todos, aliás. Lá veio ele: "Quer me irritar é me fazer comer em pé".

Mas têm coisas que realmente me irritam. Algumas.

O jogador bater escanteio curtinho para o companheiro. Me irrita. Vou morrer sem

entender o porquê daquilo.

E por falar em futebol, nada me irrita mais que técnico brasileiro de terno. Não

entendo. Este verão danado. Quem inventou isso foi o técnico da seleção argentina de

78, o Menotti. Só que era julho e o inverno castigava Buenos Aires. Os europeus

gostaram da idéia e os daqui copiaram.

Mulher de batom, também. Aliás, mulher toda maquiada. Homem também. Batom

devia ser proibido.

Me irrita quando a pessoa que foi anteriormente ao banheiro e acabou com o papei

higiênico não coloca outro no lugar. Que estranha lei é essa, que decidiu que o próximo

é que tem que trocar?

E, por falar em banheiro, existe coisa pior do que você sair da ducha e perceber que a

empregada tirou a toalha antiga e não colocou a nova? E você, irritado e molhando a

casa toda, ter que ir até o armário do quarto, tiritando de frio?

Teatro começar com atraso. Sempre de 15 minutos. Por que eles querem irritar a

gente?

E, por falar em teatro e cinema, quer coisa mais irritante que os "guardadores" de

carros? Tem muitas salas de teatro que eu não freqüento mais justamente por isso.

Tradução de filmes da TV. Com meu parco inglês, percebo barbaridades.

Quer me ver irritado é quando eu chego em casa e sei que lá na geladeira tem uma

última cerveja, geladinha, me esperando. Só que o meu filho ou algum amigo dele

bebeu.

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Saiba mais sobre o escritor Mario Prata em seu site:

http://marioprata.net/sabe-o-mario/

https://www.youtube.com/watch?v=oYucg0hW7d0

1- Responda em seu Diário: Você se identifica com alguma

situação descrita na crônica?

2- Continue escrevendo a crônica de Mário Prata, expressando

as situações do dia a dia que o irritam. Siga o modo de escrever do

escritor. Após isso, reúna-se com outro colega e leia o que escreveu.

Como você percebeu a crônica é um gênero que nasce do cotidiano, portanto, apresenta algumas marcas próprias dele, dentre elas destaca-se o uso da linguagem informal, aproximando o leitor da realidade apresentada pelo cronista, por exemplo, na crônica que acabou de ler, o cronista usa a expressão: “Me irrita quando a pessoa que foi anteriormente ao banheiro e acabou com o papel

higiênico não coloca outro no lugar:”O cronista inicia a frase com o pronome oblíquo “me”, uso informal da linguagem. A crônica não possui um conjunto de regras a seguir para quem deseja lê-la ou até mesmo praticá-la. Mas lembre-se: conhecer seus modos de criação e sua história é fundamental porém nada substitui a degustação na fonte.

E, por falar em geladeira, quando você acorda e tem certeza que está lá aquele Gatorate

de limão, fresco e refrescante? Mas não está mais. Você tem que tomar água.

E quando acaba o último cigarro no meio da madrugada e você tem certeza que tem

ainda mais um no pacote? E não tem. Tá lá o pacote com o formato de que tem, mas

não tem. E você de pijamas em casa.

E as mulheres, quando resolvem discutir a relação? Geralmente é quando a gente está

assistindo a um jogo de futebol pela TV. Mulher adora discutir a relação.

Quer me irritar é você pedir um uísque no bar e o garçom trazer servido.

E aqueles chuveiros difíceis de acertar a temperatura ideal da água? Geralmente

acontece em hotéis. Você fica ali uns dez minutos até conseguir não ficar nem quente

nem fria. E, depois que você está lá, numa boa, de repente fica frio, de repente fica

quente. Nunca se consegue o ideal. Tem que começar tudo de novo e a gente lá, todo

ensaboado, no frio.

Tem coisa que irrita mais que banheiro de bar no Brasil? Por que estão sempre

inundados?

Quer me irritar è me chamar de Doutor.

Confesso que fico meio irritado quando dizem que o Romário ainda joga futebol.

Tem coisa mais irritante que papo de barbeiro? Uma vez, o Tom Jobim foi cortar o

cabelo e o barbeiro perguntou: "Como o senhor vai querer?". E o Tom respondeu: "Sem

papo".

Extraído do Livro: PRATA, Mario. 100 Crônicas. São Paulo: Cartaz Editorial, 1997

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Unidade 2 - O nascimento da crônica

- Objetivo:

* Entender como pode surgir a temática de uma crônica e a relação que existe entre o

título e o texto.

A atividade de leitura da crônica pode ser lida ou apresentada em forma de vídeo pelo site dia a

dia educação: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=17670

ou encontrada na íntegra: http://cariricaturas.blogspot.com.br/2009/10/ultima-cronica-

fernando-sabino.html (acesso em 26/11/2013). Como motivação que antecede à leitura da crônica,

proporcione a seguinte dinâmica a ser realizada na biblioteca: leve para esta aula um livro

confeccionado por você, cuja página inicial será um espelho. Para isso utilize uma pasta com

grampos, crie a capa com o título: “Histórias da minha vida” e na contracapa cole um espelho. Peça

que cada aluno manuseie o livro. Ao abrir não haverá histórias, mas verão refletido a própria

imagem. Solicite que depois de aberto o livro, não se revele o que viu. Depois de todos terem

aberto o livro, diga que em cada um existe uma história de leitor, se não, ela começará hoje.

Convide-os a produzir uma crônica, expressando suas experiências como leitor. Após este

momento se fará a leitura das crônicas produzidas pelos alunos e também professor. O livro deve

ficar na biblioteca e ainda o professor pode coletar outras histórias em momentos variados

estendendo para outros professores e alunos.

Após este momento, sugiro que haja a leitura de outros cronistas que expressem as experiências

de formação de leitor, dentre eles indico a leitura da crônica “Nas bibliotecas da vida” p. 36,

contida no livro de Marta Morais da Costa: Mapa do Mundo – crônicas sobre leitura, vide o

trecho em anexo (ANEXO 2).

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Figura 6

Dirija-se à biblioteca com seu professor e colegas para conhecer um

livro diferente que precisa existir, mas dependerá apenas de você! Siga

as instruções do seu professor e permita a existência do livro!

Leia/assista a crônica de Fernando Sabino: “ A última crônica”.

A Última Crônica - Fernando Sabino

"A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão.

Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de

estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório

no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso

conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao

circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de

esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples

espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e

tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o

meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar

fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de

mármore ao longo da parede de espelhos ... ... ...

O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do

sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele

se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o

olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu queria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso”

Trecho extraído do livro “A Companheira de Viagem”, Editora do Autor – Rio de Janeiro,

p.174, 1965.

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1- Discuta com seus colegas e registre em seu Diário os

aspectos do cotidiano que são encontrados nesta crônica.

2- Registre em seu Diário o fato que para você serviu de

inspiração para o cronista escrever.

3- Associe o título da crônica com a mensagem transmitida

pelo cronista.

Saiba mais sobre Fernando Sabino e outras crônicas dele em: http://fernandosabino.com.br/fernando-sabino-90-anos/

Unidade 3 – Crônica de Carlos Heitor Cony: Laranjas de ontem e hoje

- Objetivo:

*Proporcionar aos alunos/leitores não só a leitura linear da crônica, mas a vivência do

letramento literário na leitura da crônica.

Para motivar o trabalho com a leitura da crônica, pergunte aos alunos: “O que eles fariam se

encontrassem uma carteira cheia de dinheiro e identificada?” Solicite que em dupla discutam

essa questão. Após as manifestações de cada um, apresente o vídeo que narra o comportamento

de um homem ao encontrar um boleto e o dinheiro da conta:

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/33860/Homem-encontra-boleto-bancario-com-

dinheiro-vivo-e-paga-a-conta.html#.Un_1OTVTt1s. Finalize a motivação com a leitura da

história “A flor da Honestidade” e ou em vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=DbwO4b0ku9M , solicitando em seguida que criem uma moral

para esta história:

O que você faria se encontrasse uma carteira cheia de dinheiro?

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Registre no Diário o que faria neste caso e discuta com seus colegas e

professor a resposta de cada um.

Agora, acompanhe a reportagem que noticia o comportamento de

uma pessoa que encontrou um boleto bancário e junto o dinheiro.

Veja o que aconteceu e reflita com seus colegas:

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/33860/Homem-

encontra-boleto-bancario-com-dinheiro-vivo-e-paga-a-

conta.html#.Un_1OTVTt1s (acesso em 14/11/2013)

Conheça também outras notícias que tematizam a honestidade,

dentre elas a de um mendigo devolve uma mochila com dólares:

http://sonoticiaboa.band.uol.com.br/index.php?option=com_content

&view=article&id=3810:mendigo-devolve-mochila-com-dolares-e-

recebe-r-230-mil-&catid=63:bem-&Itemid=31 (acesso em 14/11/2013)

Ouça a leitura do texto “ A flor da honestidade” – autor desconhecido-

, que ilustra bem o tema da honestidade e registre em seu Diário qual é

a moral da história:

Figura 7

Conta-se que por volta do ano 250 A.C., na China antiga, um príncipe da

região norte do país estava às vésperas de ser coroado imperador mas, de

acordo com a lei, ele deveria se casar.

Sabendo disso, ele resolveu fazer uma "disputa" entre as moças da corte ou

quem quer que se achasse digna de ser sua esposa. No dia seguinte, o príncipe

anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e

lançaria um desafio.

Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários

sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha

nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.

Ao chegar em casa contou à jovem e desesperou-se ao ver que ela pretendia ir

à celebração, indagando preocupada:

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_ Minha filha, o que você fará lá ? Estarão presentes todas as mais belas e ricas

moças da corte. Tire esta ideia insensata da cabeça, eu sei que você deve estar

sofrendo, mas não torne esse sofrimento uma loucura.

E a filha respondeu:

_ Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca. Eu sei que jamais

poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns

momentos perto do príncipe, e isto já me torna feliz.

Na hora marcada, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais

belas moças, com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais

determinadas intenções.

Em determinado momento, o príncipe anunciou o desafio:

_ Darei a cada uma de vocês, uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me

trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China.

A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que

valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo.

O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da

jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que

se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se

preocupar com o resultado. Mas passaram-se três meses e nada surgiu.

A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia

nascido, Dia após dia. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado.

Consciente do seu esforço e dedicação a moça comunicou a sua mãe que,

independente das circunstâncias retornaria ao palácio, no prazo combinado, pois

não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.

Na data e hora marcada, lá se apresentou, com seu vaso vazio, bem como todas as

outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais

variadas cores e formas. A jovem ficou admirada, nunca havia presenciado tão bela

cena.

Finalmente, chegou o momento esperado e o príncipe passou a observar a flor

trazida por cada uma das pretendentes, com muito cuidado e atenção. Após

analisar todas elas, ele anunciou um resultado surpreendente, indicando a bela mas

humilde jovem, do vaso vazio, como sua futura esposa.

O público presente, perplexo, quis saber o motivo, afinal, o desafio previa que se

casaria com a moça que lhe trouxesse a mais bela flor e ele escolhera, justamente, a

que não cultivara flor alguma.

Então, calmamente, o príncipe esclareceu:

_ Esta jovem foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma

imperatriz: A Flor da Honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram

estéreis.

O texto foi extraído da fonte:

http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Barra_Escolha/A_FlorDaHonestidade.

htm (acesso em 14/11/2013)

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Após o momento de motivação, introduza a crônica apresentando o cronista

Carlos Heitor Cony. Acesse para isso as indicações sugeridas neste material. E

para conhecer seu estilo e temas preferidos leia também outras crônicas do

escritor. Como Cony escreve na Folha de São Paulo, leve um jornal para sala e leia

outras de suas crônicas ou leve seus alunos a acessar pela internet as crônicas

semanais pelo site: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/

Além disso, apresente outros gêneros produzido pelo escritor levando para sala

outras de suas obras. A leitura integral da crônica se encontra no site:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u159.shtml

Acesso em (30/10/2013)

Depois de apresentar o cronista, escreva o título da crônica no quadro e peça que

respondam à pergunta sugerida pela atividade em relação ao título e somente

depois entregue a folha com o texto para ser lido. Leve também, os alunos a

observar o diálogo que se instaura entre leitor e cronista, como forma de

aproximar o leitor do tema em questão. Por exemplo, na expressão: “Passou-se o

tempo e, por ironia, temos hoje outro tipo de laranjas que nos acompanham,...”.

Antes de ler a crônica “Laranjas de ontem e hoje”, vamos

conhecer um pouco sobre o escritor e jornalista Carlos Heitor

Cony acessando a Folha de São Paulo online .

Biografia

Carlos Heitor Cony nasceu no Rio de Janeiro em 1926, fez humanidades e curso de

filosofia no Seminário de São José. Estreou na literatura ganhando por duas vezes

consecutivas o Prêmio Manuel Antônio de Almeida (em 1957 e 1958) com os

romances “A Verdade de Cada Dia” e “Tijolo de Segurança”. Cony trabalha na

imprensa desde 1952, inicialmente no Jornal do Brasil, mais tarde no Correio da

Manhã, do qual foi redator, cronista e editor. Depois de várias prisões políticas

durante a ditadura militar e de um período no exterior, entrou para o grupo

Manchete, no qual lançou a revista Ele e Ela e dirigiu as revistas Desfile e

Fatos&Fotos. Atualmente, é colunista da Folha de S.Paulo, comentarista da rádio

CBN. Como diretor da teledramaturgia da Rede Manchete, apresentou os projetos e

as sinopses das novelas “A Marquesa de Santos”, “Dona Beija” e “Kananga do

Japão”. Em 1998, o governo francês, no Salão do Livro, em Paris, condecorou-o

com a L'Ordre des Arts et des Lettres. Foi eleito para a Academia Brasileira de

Letras em março de 2000. “O Ventre” romance de estréia de Cony fez em 2008

cinquenta anos.

Fonte: http://www.carlosheitorcony.com.br/ (acesso em 14/11/2013)

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Você sabia que Cony escreve suas crônicas para o jornal, mas

também escreveu livros de crônicas? Ele reuniu algumas de

suas crônicas e formou um livro.

Conheça algumas delas:

Crônicas pra ler na escola; Livro – o ato e o fato - crônicas de 64 (Reunião Dos

Artigos Publicados No Correio Da Manhã Do Rio), entre outros.

Leia também as crônicas semanais direto na folha online e conheça mais sobre o

estilo do jornalista e escritor além de buscar formação e informação lendo:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/

http://www.carlosheitorcony.com.br/

Há também outros cronistas importantes. Converse com seu professor e

enriqueça ainda mais sua leitura de mundo, emprestando a lente destes

escritores. Sugestões: Affonso Romano de Sant'Anna, Fernando Sabino, Carlos

Drummond de Andrade, entre outros.

Encontre-se com seus amigos para compartilhar das leituras que gostou!

1- O título: “Laranjas de ontem e hoje” trazem algum significado

para você? Escreva e depois, compare com a crônica que vai ler.

2- Leia a crônica e registre em seu diário o fato do cotidiano que

O que você entende quando ouve dizer que alguém é um laranja?

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Carlos Heitor Cony ilustra para falar de um assunto sério:

Laranjas de ontem e de hoje (Publicada em27/07/2004)

Quando era criança e ia de trem para o interior do antigo Estado do Rio, ao passar por

Nova Iguaçu, logo na saída do ex-Distrito Federal, sentia o cheiro das laranjas que, de um

lado e de outro da via férrea, invadia os vagões que perdiam o cheiro de fumaça das velhas

locomotivas e ganhavam aquele perfume de sumo, de fruta fresca e encantada, dos

imensos laranjais que nos acompanhavam por algum tempo.

Era um cheiro bom, e além do cheiro, também era bom ver as laranjeiras verdes e pejadas

de frutos cor de ouro. Tínhamos a impressão de que os laranjais nunca terminavam, eram

imensos e eram eternos.

Passou-se o tempo e, por ironia, temos hoje outro tipo de laranjas que nos acompanham,

que estão em toda a parte, no governo e fora dele, no empresariado, na economia, na

política, nos esportes, quase que na vida diária e pessoal de cada um de nós. É uma

invasão de laranjas, mas laranjas mal cheirosas, de péssimo aspecto, que transformam a

realidade num truque de mágica, gente que é o que não é e gente que não é e passa a ser

para efeito de lei e moralidade pessoal e pública.

Tudo e todos parecem ser laranjas uns dos outros. Onde há dinheiro grosso, ou poder

grossíssimo, há concentração de laranjas que espionam e são espionados, gravam-se fitas e

vídeos, aparecem documentos que são e não são legais. O emaranhado que se cria entre o

laranja e o seu produtor, ou seja, aquele que o contrata e o paga, é difícil de ser avaliado e

dificílimo de ser punido.

Qualquer jogada de peso no mercado cria um imenso laranjal que, ao contrário das

laranjas da antiga Nova Iguaçu não perfumam o trem em que viajamos. Pelo contrário.

Nos enojam com o cheiro de sua podridão.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u159.shtml

Acesso em (30/10/2013)

3- Selecione os vocábulos que não entender e pesquise no

dicionário.

4- Destaque do texto algumas expressões que revelam um diálogo

com o leitor.

5- Escreva um quadro com as expressões usada pelo cronista que

remetem ao uso da linguagem coloquial.

6- Nesta crônica há dois tempos: um no passado outro no presente. Explique o

significado da palavra “laranja” para o cronista nestes dois tempos.

Justifique sua resposta separando as expressões associadas para cada

tempo e observe o sentido que o poeta quis dar para cada palavra.

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7- Agora pesquise no dicionário o significado da palavra laranja. Copie em seu

Diário e responda em qual tempo o cronista usou a expressão laranja

conforme a explicação que encontrou no dicionário.

8- Escreva o que você concluiu sobre o sentido da palavra laranja no texto.

9- Pesquise a origem da expressão “laranja” e seu uso em várias situações

como na política, futebol, etc.

Explique aos alunos o uso figurado de algumas expressões que aparecem em

textos literários ou na fala do dia-a-dia. No texto o cronista inspira-se para

produzir a crônica a partir da fruta: “laranja”, em seu sentido real, e

criativamente lhe atribui outro sentido. Dando continuidade a este significado

figurado é um momento apropriado para refletir que o texto dialoga com outras

situações do cotidiano e também com outros gêneros, vivencie com seus alunos a

intertextualidade, instigando para que expressem seus conhecimentos de mundo

sobre “os laranjas” da sociedade”. Você pode levar os alunos a pesquisar sobre o

assunto da crônica na internet ou jornais trazidos para sala, previstos com

antecedência. Reflita com os alunos o fato de que há, na sociedade

contemporânea brasileira, um indivíduo, nem sempre ingênuo, que participa de

práticas ilícitas, em diversos contextos. É um momento de confrontação, em que

o leitor relaciona texto lido com dados da realidade. Afim de confirmar.

Também mostre as diferenças textuais: a crônica tem um caráter mais literário,

fazendo uso de linguagem mais leve envolvendo poesia, lirismo e fantasia.

10- Diferencie a visão de sociedade descrita por Cony ao falar dos

Laranjais da Nova Iguaçu com os imensos laranjais de hoje.

11- Para a próxima aula, pesquise notícias, charges, ou tiras que

retratem o contexto apresentado na crônica de Carlos Heitor Cony com

base na expressão: “Passou-se o tempo e, por ironia, temos hoje outro tipo

de laranjas que nos acompanham, que estão em toda a parte, no governo e

fora dele no empresariado, na economia, na política, nos esportes, quase

que na vida diária e pessoal de cada um de nós.”

11- A partir da notícia que você trouxe para sala de aula, encontre os seguintes

dados e responda:

1- O que aconteceu?

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2- Onde?

3- Quando?

4- Quem?

5- Como ?

12- Sobre a crônica de Cony, responda:

1- Qual o assunto?

2- Qual o ponto de vista do escritor?

3- Que recursos literários são usados?

4- O que há de comum entre uma notícia e a crônica?

Como você viu, a crônica é uma narrativa breve cuja linguagem é a

soma do estilo literário e jornalístico. De um recebe a observação

atenta da realidade cotidiana e, do outro, a construção da

linguagem, o jogo verbal. O cronista pretende, através da crônica,

uma provocação, uma atitude e uma resposta do leitor ativo.

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Figura 7

Laranja: fruta ou cobaia para práticas ilegais?

Atualmente é muito comum ouvir nos noticiários a respeito dos laranjas que são pessoas que disponibilizam seu nome, conta bancária, para que outra, utilizando tais dados, faça negociações ilícitas sem expor sua identidade. Essa prática é muito usada por corruptos que encontram nos laranjas a escapatória para seus negócios irregulares, dinheiro sujo,

licitações irregulares, e diversas outras transações comerciais. Por isso, o “laranja” está,

muitas vezes, ligado a procedimentos ilegais.

Muitas pessoas se enganam pensando que apenas as pessoas que contratam os “laranjas” detidas, mas se enganam, pois aquele que se submete a tais práticas também é enquadrado nos artigos pertencentes ao código penal, quando estão envolvidos em práticas criminosas. Normalmente é o valor oferecido que faz com que uma pessoa aceite ser “laranja”

(emprestar nome, número dos documentos pessoais, conta bancária, etc.) para outro indivíduo, pois é uma forma de obter dinheiro sem muito esforço. Por isso, não se preocupam em saber o que o outro irá fazer com tais informações, podem ser envolvidos

em práticas criminosas sem nem tomar conhecimento.

No Brasil, infelizmente, há notícias de que essa prática existe e que é utilizada por grandes empresários, inclusive pelos grandes políticos, para práticas ilegais. Um bom exemplo disso

é o mensalão, que utilizava dados de “laranjas” para encobrir o caixa dois de alguns

partidos envolvidos no esquema de corrupção.

É preciso estar atento, pois na maioria dos casos a pessoa que quer contratar um laranja pode estar envolvida em práticas ilegais e isso faz com que todos os envolvidos sofram o

vigor da lei.

http://www.mundoeducacao.com/curiosidades/os-laranjas-as-praticas-ilicitas.htm

acesso em (29/10/2013)

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Figura 8

Publicado por: Tiago Dantas em Política

CPI

CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é um tipo de comissão parlamentar que serve para

discutir, ouvir depoimentos, e tomar informações diretamente a respeito de um assunto, com base no interesse público. Em outras palavras, serve para investigar e analisar indícios de

corrupção no governo, para examinar irregularidades, etc. A CPI é conduzida pelo poder Legislativo. Assim, é composta pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados. Para a

maioria dos historiadores, a CPI surgiu na Inglaterra em 1571, na época da rainha Elisabete I. No Brasil, as comissões foram feitas pela primeira vez na época do Império. Em 1934, a

criação das CPIs foi garantida pela constituição brasileira. Vale ressaltar que o objetivo de uma CPI é unicamente investigar, não é de sua competência,

aplicar penas. Entretanto, a comissão dispõe de certos poderes de investigação semelhantes ao de uma autoridade judicial, podendo inclusive, solicitar quebra de sigilo bancário; requisitar

informações e documentos sigilosos; ouvir testemunhas, sob pena de condução coercitiva; etc. Todavia, esses poderes não são idênticos aos dos magistrados, visto que a comissão não pode

efetuar prisões, quebra de sigilo telefônico, nem ordenar busca domiciliar. Para se instaurar uma CPI, é necessário que a idéia tenha a aprovação de, no mínimo, um

terço dos parlamentares, fora outros requisitos exigidos na legislação. Quando a comissão envolve as duas casas, Senado e Câmara, é chamada de CPMI (Comissão Parlamentar Mista

de Inquérito) Geralmente, a CPI tem um tempo determinado de 120 dias, que pode ser estendido. O

relatório final das investigações é de responsabilidade exclusiva do relator, escolhido por votação. Após o mesmo ser aprovado pela Comissão, é encaminhado para o Ministério

Público, órgão responsável por tomar as providências necessárias e encaminhar o caso para o Judiciário.

http://www.mundoeducacao.com/politica/cpi.htm (29/10/2013)

Você sabe o significado de CPI e como funciona? Leia o artigo abaixo para saber!

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Pesquise algum caso de CPI e compartilhe com a turma. Em seguida, leia um texto escrito pela ótica do Padre Zezinho a respeito do tema :

ARRECADAÇÃO E DESPERDÍCIO (data de publicação 14/06/2012)

Ao pagar seis mil e duzentos reais de impostos, exclamou a irônica mãe de família:-“ Eu saberia

onde gastá-los sem desperdiça-los. Duvido que o Governo faça o mesmo!”

Semanalmente somos colocados diante de mais um escândalo de dinheiro público desviado de

particulares. É o ralo por onde escapam os impostos, porque são muitos…Mas o Governo não

fica sem o dinheiro do cafezinho, do pão de queijo, da meia ou da frauda que a mãe comprou

para o seu bebê.

Fazemos parte de um país cujo Governo se acostumou a arrecadar e a não devolver. Ele

emprega mal e paga mal, porque em alguns casos paga menos que deveria e, em outros, paga

em excesso. A presidente da República tem salário menor do que alguns funcionários de

segundo escalão. A casuística em geral rima com desperdício..

Certamente seríamos muito mais que a sexta economia do mundo se não fôssemos um dos dez

países mais corruptos do planeta. Não é verdadeiro o slogan que “o brasileiro rouba, mas faz”.

...

Entre eles e os traficantes, a única diferença é o tipo de tráfico. Mas ambos traficam: ou com

tóxicos ou com dinheiro desviado do povo. Não sentem o menor remorso: coisa de psicopata. O

Brasil é uma nação ferida pela corrupção endêmica. O agente arrecadador lembra o sujeito que,

cada vez que senta à mesa, precisa de cinco pratos para saciar seu enorme apetite e nunca está

satisfeito. Somos o país do desperdício: desperdiçamos água, cereais, comida e impostos muito

bem recolhidos e muito mal preservados ou aplicados.

Um dia talvez votaremos nas pessoas certas. E elas vencerão a máquina de desviar fundos

municipais e nacionais. Mas enquanto não votarem pró reformas vai ser difícil votarmos nas

pessoas certas. Não votam por quê? Você sabe?

Fonte: http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/artigos-pe-zezinho-

social/arrecadacao-e-desperdicio (Acesso em 27/11/2013)

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Unidade 4 – OFICINAS DE LEITURA

A partir deste trabalho, pode-se sugerir a leitura do livro ”Laranja Mecânica”, ou

assistir ao filme, o qual dialoga com o tema em destaque.

Também como sugestão para expandir o trabalho com a leitura literária, leve um filme

para sala, apresente a parte do filme que melhor tematizar o assunto e solicite que

produzam uma crônica a partir daquilo que mais chamou atenção.

Sugestão: Filme: Central do Brasil. Segue a crônica de Affonso Romano de Sant Anna:

Lendo Brasil (Central do Brasil, Filme) para que o professor leia após assistir ao filme

com seus alunos e perceba que é possível fazer uma reflexão sobre um aspecto seja de

um filme, como este da Central do Brasil, seja do cotidiano da escola, do bairro, da

cidade, do país, do mundo. Lembro que o trabalho de leitura com a crônica despertará o

interesse para a escrita. Sugiro ampliar estes momentos usufruindo-se dos meio de

comunicação do bairro, como jornais, boletins, ou ainda criar um blog que promova as

produções dos alunos e debates. Ainda é possível a criação de um livro com os textos dos

alunos, sejam no gênero crônica ou não, desde que o aluno desperte o leitor de mundo

adormecido em seu ser.

Além disso, crie momentos de leitura do mundo, utilizando para isso os diversos gêneros

literários, promova discussões, saia da linearidade dos textos lidos, indo em direção à

intertextualidade e contextualização da obra. Desta forma, se estará formando leitores

críticos e ativos para a vivência em sociedade. Segue em anexos alguns exemplos de

textos para as oficinas. Use sua criatividade para motivação ao mundo da leitura.

Use e abuse da intertextualidade!

Durante a implementação do projeto avalie o progresso do aluno por meio das atividades

realizadas e o diário.

LENDO O BRASIL (CENTRAL DO BRASIL, FILME

Publicação: O Globo, 24/4/1998

Acabo de assistir ao filme Central do Brasil e venho para casa com a alma esfrangalhada.

Que país, meu Deus! Que país! E entrando na garagem do meu edifício pergunto a um

funcionário o que houve com o filho de um dos trabalhadores do condomínio. Ouço que

morreu por descaso num de nossos hospitais, e que para enterrá-lo o pai teve de passar

uma lista entre os moradores.

Que país! Não sei o que é pior, se o que eu vi na tela ou o que me impingem no

cotidiano. Será isto realmente um país?

Uma coisa é um país,

Outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,

Outra o aviltamento.

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Terei de publicar continuamente certos poemas denunciadores, sobretudo um

intitulado “Sobre a atual vergonha de ser brasileiro”?

Saio do filme do Waltinho com uma cena gravada na cabeça. Entre tantas, tão

cruelmente brasileiras, uma, rápida, rapidíssima, instala-se em mim como uma bruta

metáfora da brasilidade. É aquela em que o vagão do trem de subúrbio é filmado vazio

e, de repente, pelas suas janelas mais que pela porta, despeja-se uma horda de

bárbaros barbarizados. Entram com velocidade e perícia, como atletas da miséria

cotidiana, e ocupam, em silêncio, imediatamente todos os lugares.

Imagino, diante disso, o pasmo dos alemães que deram o premio a esse filme em

Berlim. Devem ter pensado que era um truque surrealista do Waltinho para

impressioná-los. Não é assim que se entra num trem. Nem mesmo quando ele vai para

Auschwitz. E aquele, ia. Imaginem o que sentiriam os gringos se tivessem sido filmados

os malabaristas suburbanos que fazem “surfe” no teto dos trens desviando-se das

“ondas” de fios elétricos. Waltinho foi discreto, só filmou aquele assassinato a sangue-

frio do pivete, que faz contraponto com o assassinato a sangue-frio por bandidos,

nesses dias, da estudante Ana Carolina e do comerciante alemão na Barra. A vida aqui

não vale nada. Mata-se como quem pisa em baratas ou espreme formiga com os dedos.

Este é um país onde se entre a pela janela. Ou porque a porta é estreita ou

porque não há lugar para todos no vagão. O Brasil subverteu um versículo bíblico, que

diz; “Entrai pela porta estreita que largo é o caminho da perdição”. Aqui se a porta não

dá, arromba-se a janela, tanto no vagão quanto no serviço público,ou na lei eleitoral, do

mesmo modo que se ultrapassa pelo acostamento e se enriquece construindo edifícios

de areia. Essa a nossa bíblica e histórica perdição.

Tenho ouvido pessoas dizerem dos momentos que mais as emocionaram nesse

filme. Ele é rico de cenas miseráveis. Mas o que é pior para nós é que o diretor não faz

demagogia nem comício. È a força pictórica do que é mostrado com cruel perícia que

nos toca. Há uma tristeza, uma fatalidade, um remorso, uma denúncia naquelas cenas de

multidão compacta marchando para o nada, diariamente, nos vão e desvãos da Central

do Brasil. Da mesma maneira que há uma solidão, um exílio, um desgarramento da

história naqueles ônibus que vão para o interior levantando poeira e desesperança.

Nesse filme a paisagem seca nos assola e a arquitetura nos oprime. Nos oprime a

arquitetura social da Central do Brasil, nos rebaixa a arquitetura dos conjuntos

habitacionais de ontem e hoje.

Mas será que o Brasil é só isso?

Estou na Sala Cecília Meireles assistindo ao suave e belíssimo concerto do Les

arts florissants, em que a música barroca de Haendel sublima o drama pastoril da ninfa

Galateia e do pastor Acis perseguidos pelo monstro de um só olho Polefemo. Ali

estamos, beatificamente também, com um só olho. Somos uns privilegiados. O olhar

monstruoso, o deixamos na miséria humana que recomeça tão logo saímos do teatro. Por

isso, tento prolongar o estado de beatitude comprando vários discos do conjunto, para

enfrentar as balas do cotidiano.

Deve have um outro Brasil, que não aquele corporificado no filme. É preciso

urgentemente que haja esse outro país. Na esteira de Central do Brasil que conta

(também) a estória de analfabetos que pedem à personagem de Fernando Montenegro

que escreva cartas a seus familiares, vejo nos jornais que o governo FHC não resolve os

problemas da educação, não tem sequer projeto para os chamados “analfabetos

funcionais”. Aliás, teve, mas jogou-o criminosamente na lata de lixo, conforme a

história do Proler.

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ANEXOS

E porque acho que a leitura é que pode transformar esse país, voou a Juíz de Fora e

faço à Biblioteca Municipal Murilo Mendes a doação de cerca de mil livros do meu

acervo. Vou também para a inauguração de uma rua com o nome de meu pai, que

aprendeu a ler sozinho e sozinho aprendeu francês e esperanto. Na agora rua Jorge

Firmino de Sant Anna, a presidente da associação de moradores diz,

espontaneamente, que quer instalar ali uma sala de leitura. E, coincidentemente, um

ex-colega de ginásio, e agora doutor Ronaldo Tournel, ali me conta uma estória

comovente. Há tempos começou a comprar livros para seus pacientes, e constatando

que isso fazia bem à saúde deles, fez uma pequena biblioteca.

E coisas surpreendentes começaram a acontecer. Ia, por exemplo, dar alta a um

paciente e este lhe pediu para adiar a alta porque precisava saber o fim de uma

estória que estava lendo. O médico achou interessante o pedido, mas alguém chamou

sua atenção comentando que aquilo parecia mentira, pois o referido doente era

analfabeto. Ronaldo, então, vai a ele, pergunta-lhe se é analfabeto e o doente

confirmando se explica: “É doutor, sou analfabeto mesmo, mas o paciente do leito 12

lê para mim... e eu leio na leitura dele”

A doença do Brasil é da falta de leitura. A dos analfabetos, a dos

analfabetos funcional é, sobretudo, a dos políticos e da elite que leem errado o país.

O Globo, 24/4/1998

Fonte: Livro Ler o Mundo – Affonso Romano de Sant Anna

ANEXO 1

Nós, que matamos Tim Lopes (Publicada em 16/6/2002 - especial para O Estado de Minas, O Globo e...Uma Coisa e Outra)

Você que, numa festa, vai ao banheiro cheirar uma carreirinha de pó, você matou Tim

Lopes.

Você que dá festas elegantes servindo êxtase em bandejas para seus sorridentes

convidados, você matou Tim Lopes.

Você que se encontra com sua turma no bar, fica ali pela calçada com um copinho na mão,

mas dá suas cafungadas, porque isto faz parte da"nite", você matou Tim Lopes.

Você, ator de teatro e televisão, que manda ver nas drogas, você matou Tim Lopes.

Você artista e intelectual que curte seu pozinho e faz elogio de um equivocado conceito

de marginalidade estética, você matou Tim Lopes.

Você jornalista, que curte sua droguinha de vez em quando, você matou Tim Lopes.

Você músico, que para embalar seus shows entra no barato, você matou Tim Lopes.

Você policial, que pactua com o crime, que faz vista grossa e que recebe propinas do

tráfico, você matou Tim Lopes.

Você advogado, que defende traficantes, que faz de tudo para tirá-los de trás das

grades, você matou Tim Lopes.

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Você juiz relapso, que neglicencia processos de traficantes, você matou Tim Lopes.

Você político demagogo e clientelista, que só se aproxima da favela para tirar votos,

você matou Tim Lopes.

Vocês que fizeram essa política recessiva, que abre empregos no tráfico, vocês

mataram Tim Lopes.

Enfim, matamos Tim Lopes todos nós que de maneira direta e indireta pactuamos

com o crime. Porque chegamos a um tempo em que a participação indireta tornou-se

tão infamante quanto a prática direta do próprio crime.

E não se trata de um exercício do famoso complexo de culpa judaico-cristão. Trata-

se, isto sim, de fazer uma auto-crítica pessoal e do sistema que engendramos.

O fato é este. Estamos numa guerra. O governo por inépcia custou a reconhecer isto.

Esta guerra já tem mais de 30 anos. Era como se os nazistas tivessem já invadido a

França e o governo francês levasse 30 anos para perceber . Há 22 anos, por exemplo,

eu e outros dizíamos que isto já era uma guerra. E há muito, correndo o risco de ser

mal interpretado, dizia que as Forças Armadas tinham que entrar neste conflito,

antes que virássemos Colômbia.

Numa guerra não há meio termo. Quem fornece munição ao inimigo está ajudando o

outro lado a vencer. Quem dá o seu "tapinha" eventual está não só fortalecendo o

traficante como ajudando a que tombem outras vítimas - os drogados. Do mesmo

modo que há que traçar novas estratégias bélicas associadas a maciças ações sociais,

temos também que rever nossas posturas éticas e até estéticas.

Dou-lhes um exemplo. No dia em que Tim Lopes foi assassinado, estava eu no MAM

vendo uma exposição de arte contemporânea, que incluía trabalhos de Hélio Oiticica,

artista da vanguarda e da marginalidade artística nos anos 60 e 70. Na parede, entre

suas obras, uma bandeira amarela com a reprodução da foto do bandido Cara de

Cavalo morto e, em cima, uma frase do artista: "Seja marginal, seja herói".

Houve, portanto, um tempo, tempo recente, quando esta guerra estava começando em

que, em nossa cultura, era um charme louvar o marginal. O artista se julgava um

marginal, um guerrilheiro e procurava neles pactos ideológicos, éticos e estéticos.

Surgiu toda uma cultura "underground", que se opondo, às vezes heroicamente, ao

sistema, fez uma perigosa aliança com o submundo das drogas. Por contaminação

semântico-ideológica, chegou-se até a criar um tipo de literatura que se chamou de

"literatura marginal". Claro, havia a ditadura para justificar certas posturas. Mas a

contaminação estava feita. E nos dois sentidos. Mesmo os guerrilheiros presos na

Ilha Grande, nos anos 70, reconheceriam que passaram conhecimentos e táticas de

guerrilha para os presos comuns.

Havia ainda a visão romântica de que se poderia cooptar o marginal para a revolução.

Na verdade, estava ocorrendo o contrário. Os marginais estavam nos cooptando e

expandindo seu mercado, corroendo pelas drogas o sistema até chegarem a se

intitular de "partido revolucionário". Hoje, reconhece-se, são um "estado paralelo".

Elias Maluco e os comparsas que organizam bailes funks onde as letras das músicas

recomendam torturar e queimar opositores, esses, para nosso constrangimento,

adotando a técnica da "apropriação" tão cara à modernidade, jubilosamente acenam

sua bandeira no topo da miséria: "Seja marginal, seja herói".

E-mail para esta coluna: [email protected]

Fonte: http://www.umacoisaeoutra.com.br/cultura/affonso3.htm

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ANEXO 02

Nas bibliotecas da vida

Sempre tive curiosidade para saber como começaram a se formar as

bibliotecas particulares. Talvez seja porque não tive em casa, quando pequena,

livros, a não ser os didáticos. A duras penas fui acumulando esses objetos na

infância a adolescência. Como presentes de aniversário dados por tios, que

descobriram na criança uma incomum atração por livros. Presentes de

aniversário dados em dinheiro, convertidos quase que imediatamente em

romances, antologias poéticas, textos de histórias. Assim começou meu acervo

bibliográfico.

O maior investimento veio com o primeiro emprego. Separada por uma pequena

quantia para os ingressos de cinema, todo o mais era convertido em papel

impresso. Livros comprados eram livros lidos. O vil metal se convertia em rio metal. ...

Minha biblioteca adolescente era meu espelho adolescente. Moldura em cores

alegres, com retratos de ídolos, prensados entre o vidro e a madeira, a

imagem embaçada ansiosa por definição e contornos identitários: esse

espelho projetava de volta um fundo composto por volumes desejados,

curtidos, inebriantes – talvez desprezíveis no estágio de leitura atual.

Revejo volumes encapados de verde papel tigre, com etiquetas manuscritas,

irmanados em rude prateleira de meus irmãos, com bolas de gude e brinquedos

de corda, com bonecas e bibelôs de porcelana. Comparados, a pequena

biblioteca em seu chamariz verdejante parecia sóbria, imponente.

O tempo amadureceu o verde das capas e dos conteúdos. O processo de

maturação foi expulsando aqueles textos despretensiosos e repetitivos,

criando espaço para livros com textos mais respeitáveis, valorizados por

critérios criados por comunidades leitoras mais abalizadas e preceptivas.

Vieram os romances e poemas dos anos dourados do Romantismo, os sisudos e

densos realistas e naturalistas... ...

A biblioteca preserva as vozes com as quais nosso pensamento e saber

conversam interminavelmente. Representa a comunidade que dá suporte e

identidade cultural. Com ela dividimos saberes e somamos descobertas. São

retratos encadernados da vida interior de seu proprietário. Duplicam em papel

a nem sempre confessada, e muitas vezes oculta e silenciosa, vida intelectual.

Os livros possuídos convertem-se em proprietários, pois se mostram como

documento visível, assinado por seu dono com a tinta invisível de uma história

pessoal de leitura.

A curiosidade pela origem da biblioteca particular assemelha-se, portanto, a

caminhar ao encontro de sujeitos leitores de vida enriquecida.

Trecho extraído do livro de Marta Morais Costa Mapa do Mundo – crônicas

sobre leitura, p. 36, Nas bibliotecas da vida.

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ANEXO 3

Os que nos ensinam a ver (Publicação: O Globo – 30/06/2001)

É comum, diante de uma situação estranha, absurda, labiríntica e sem solução,

as pessoas dizerem que essa é uma situação kafkiana.

É comum, em certos momentos em que as pessoas revisitam afetivamente seu

passado motivadas por um reencontro, uma palavra, um perfume ou uma foto,

dizerem que estão numa situação proustiana.

É comum, quando não se sabe se o vivido já estava escrito ou se o escrito foi

vivido antes, de tal modo que a realidade parece ser um grande livro ou

biblioteca que remete interminavelmente para si mesmo, dizer que essa

situação é borgeana.

Franz Kafka.

Marcel Proust.

Jorge Luis Borges.

Três escritores da modernidade (século passado), três nacionalidades

diferentes, três modos diferentes de ver o mundo.

Mas não são únicos.

É possível, diante de uma situação que se descreve como de uma luminosa

angústia e ansiedade, em que pontos luminosos furam a opacidade do instante,

dizer que essa é uma atmosfera típica dos textos de Clarice Lispector.

É possível, em situações urbanas e cotidianas, quando o patético e o cômico se

fundem cruelmente, onde a cena, sendo kitsch e grotesca, é também crítica

do grotesco e do próprio kitsch, reconhecer que a cena é típica de Nelson

Rodrigues.

É quase certo e muito frequente que diante de uma cena infernal, mórbida,

terrível e torturante só nos reste classificá-la de dantesca.

Outros exemplos poderiam ser aqui adicionados, incluindo Dostoiévski e

Charles Dickens. Enquanto a imaginação e a memória de cada leitor/leitora

elaboram essas associações, tomo um atalho para uma observação convergente

e complementar.

Dizer kafkiano, borgeano, proustiano, clariciano, rodrigueano ou dantesco não

é simplesmente criar um adjetivo. Há aí algo mais sutil e relevante. E aqui

estou querendo assinalar como a literatura nos ajuda a recortar e interpretar

a realidade. É como se certos autores tivessem disponibilizado um

instrumento, uma lente, para se ver alguns aspectos do real e do simbólico.

Depois do surgimento da obra de Kafka aprendemos a olhar as coisas e as

pessoas de outra forma. Ele disponibilizou uma tecnologia de apreensão da

realidade. Depois de Kafka ninguém entra numa repartição pública e fica ali,

exposto ao absurdo barroco da burocracia da mesma maneira. O cenário foi

todo montado por ele.

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De igual modo, em relação a Proust, é como se ele tivesse descoberto um

microscópio, uma máquina do tempo de uso pessoal, que nos possibilita recuperar

filigranas do nosso passado.

Isto é diferente de estilo. Estilo é um “modo de escrever”. Esses autores

inventaram um “modo de ver”. Eles nos ensinaram a configurar certas situações, a

organizar o sentido disperso em nossa angústia e ansiedade diante do caos.

Isto é também diferente da criação de tipos e personagens que passaram a

habitar nossa cultura como símbolos e referências, a exemplo de Hamlet ou Dom

Quixote.

É como se eles tivessem descoberto uma fórmula cientifica, que passa a ser de

uso comum. É como se tivessem mapeado algo novo no genoma da gente. Há algo

do “ovo de Colombo” nisto. Depois que eles viram as coisas daquele jeito passamos

a vê-las com facilidade como se sempre tivessem existido.

E quando digo que eles criaram ou desvelaram um “modo de ver” ou quando digo

que eles nos emprestaram uma “lente” de observação e classificação do real,

penso também na metáfora da janela e da transparência.

Muitos autores bons e clássicos nos fazem ver cenas como se estivéssemos

diante de uma janela. Eles nos mostram personagens, ações, o mundo. Mas aqueles

autores a que me referi não abriram simplesmente uma janela. Como que nos

emprestaram para sempre uns óculos para reconhecer realidades diante das quais

seríamos míopes ou teríamos algum tipo de astigmatismo.

Enfim, aqueles autores, não são só autores, são “modos de ver” e enquadrar o

mundo.

Isto ocorre em outros gêneros também. Depois que as pinturas de Juan Bosch e

Pieter Brueghel entraram em nossos olhos, estamos preparados para reconhecer

situações que eles configuraram. Igualmente no cinema, vejam o que Luis Buñuel

criou com O anjo exterminador.

Recentemente isso ocorreu até num gênero literário aparentemente infenso: a

crítica e o ensaio. Roland Barthes disponibilizou um modo de ver a textualidade

do mundo. Depois de lê-lo já não lemos qualquer texto ou realidade do mesmo

modo. À maneira de Borges, há uma lente, um dispositivo barthesiano de leitura

do mundo. E aqui não se trata apenas de meia dúzia de conceitos. Muitos críticos

e ensaístas criaram conceitos, terminologias úteis, e nem por isso modificaram

nossa maneira de acercarmo-nos das coisas.

Enfim, para radicalizar, atualizar e dizer melhor o que talvez não tenha dito, em

termos de informática, hoje isto é o equivalente a dizer que certos autores criam

softwares para nosso imanente hardware.

Crônica extraída do Livro: Ler o Mundo, p. 46, 2006 de Affonso Romano de Sant Ana.

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ANEXO 4

ler a natureza (Publicado no Estado de Minas/Correio Braziliense, 9/1/2005

Vocês viram. Todos vimos as fotos e lemos as notícias. Os animais nos deram

lições de sabedoria nessa catástrofe do tsunami lá na Ásia. É que os animais

sabem ler o livro da natureza. Eles estão na natureza, eles pertencem à

natureza, interagem com a natureza, nunca leram Descartes – o que seria

perdição deles para sempre.

Elefantes, leopardos, coelhos – e eu tenho a impressão que insetos e aves de

todos os tipos – pressentiram o que estava para acontecer e se mandaram

para lugares seguros quando as enormes ondas – os tsunamis – vieram

enlouquecidas para matar mais de 150 mil pessoas numa dezena de países ao

redor do oceano Índico.

Diz uma das notícias que “cientistas não sabem explicar a causa exata da

espantosa sobrevivência dos animais. Mas não a atribuem a nenhuma

capacidade extrassensorial e sim ao fato de que os animais têm olfato e

audição muito mais aguçados do que os seres humanos”.

Ou será que nós, civilizados, é que embotamos os nossos sentidos?

Assim, no Parque Nacional de Yala, no Sri Lanka, os elefantes se mandaram

antes que as águas chegassem. Em Khao Lak, na Tailândia, oito elefantes

salvaram a vida de doze turistas e de seus donos ao arrebentarem as

correntes que os prendiam e se dirigiram para a colina.

Até o cão cingalês Selvakumar, lá no Sri Lanka, deu lições de argúcia

interpretativa da natureza ao salvar do afogamento um menino da família a

que pertencia.

Os que dialogam com a natureza tiveram mais chance de se salvar. Não só os

animais, mas também uma tribo de pescadores de Morgan, no sul da Tailândia,

conhecidos como “ciganos do mar”. Todos os 181 habitantes do vilarejo

escaparam porque, como narrou o chefe Khatalay, “nossos ancestrais nos

ensinaram que quando o mar recua depressa, volta depois com fúria”.

Os animais, os primitivos, e também as crianças. Nesse último caso, a pequena

Tilly Smith, inglesa de dez anos, salvou sua família pelo simples fato de ter

tido uma aula de geografia, duas semanas antes, em que lhe explicaram o que

eram ondas tsunamis. Assim, em Mijkao, na Tailândia, por causa da sabedoria

da menina, ninguém morreu afogado.

Ler a natureza. Ler o mundo.

De Descartes em diante estabeleceu-se pregação estupidamente racionalista

de que o homem é “superior” à natureza e que, por consequências, ela tem de

ser renegada. Isso teve reflexos em muitos setores. Não só na devastação

das florestas e extinção das espécies. Até na arquitetura moderna, chamada

funcionalista, houve uma ojeriza aos ornamentos e às formas que lembrassem

a natureza. Há um tipo de arte que anda por aí com manifesto horror a tudo o

que lembra a natureza. A modernidade apaixonou-se pela máquina e decretou

que identidade com a natureza é coisa de românticos e ultrapassados.

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Um índio na floresta saber ler árvores, pássaros e bichos que o cercam.

Nós, que de floresta nada entendemos, na cidade, cheia de letras, fingimos

entender as coisas.

Resultado: precisamos de intérpretes e mediadores para entender a

natureza. Os seres primitivos e os animais não precisam de bulas.

“Naturalmente” analfabetos, não sabemos mais ver e ler a natureza. Não

sabemos mais escutar a natureza. Não sabemos sequer decodificar as

mensagens que nosso corpo nos envia. Meu cão sabe mais de seu corpo que

eu. Sabe que erva procurar no jardim quando não esta bem. Para ele a

natureza é uma imensa e variada farmácia grátis.

Já nós, não entendemos sequer o que o vento nos diz. E, no entanto, já dizia

Bob Dylan, as respostas a certas questões estão obviamente no sopro dos

ventos.

Crônica extraída do Livro: Ler o Mundo, p. 127, 2006 de Affonso Romano de Sant

Ana.

ANEXO 5

TERREMOTOS E CATÁSTROFES

Um amigo meu – acho que somos amigos – que gosta de questionar Deus e a

nós, pregadores da fé, sempre que pode, envia-me um e-mail para questionar

a nova catástrofe e os inocentes que nela morreram. Ele chama a isso de

crimes do Criador… Outra vez me escreveu exigindo que me explique sobre

mais este maremoto, este Tsunami e estes milhares de mortos no Natal de

2004. Terremotos, maremotos e catástrofes naturais ceifam milhares de

vidas. Só o terremoto de 28.07.1976 na China levou 240 mil mortos. Em

21.06.1990 foram 50 mil mortos no Irã. As bombas em Hiroshima e

Nagasaki mataram muito mais e as grandes guerras do mundo massacraram

milhões. Mas, aí, o meu amigo não questiona. A briga dele é contra o Deus

que pode controlar a natureza, já que controlar a fúria do ser humano ele

acha impossível. Calígula, Nero, Pol Pot, Hitler, Idi Amin, Átila e outros

terremotos humanos cruéis e insensíveis que mataram milhares de pessoas,

até por diversão, ele aceita. Deus, um pai lúcido e amoroso não pode fazer a

mesma coisa! Ele quer um Deus que faça o que ele acha que um Deus deve

fazer.

O que sabemos é que terremotos são ajustes de terra. Acontecem nas

montanhas que explodem, no mar que se eleva, na ilha que se ajusta. Se

alguém morar lá perto, sabendo ou não sabendo dos riscos, pode morrer.

Quando os governos deixam pessoas morarem ao pé de um vulcão ou à beira

do mar, sem nenhuma colina por perto, estão jogando com a chance de que

nunca aconteça uma catástrofe. Se o homem fosse de fato inteligente, não

moraria lá. A maioria dos acidentes acontece nesses lugares.

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Quem constrói lá ou nos morros, sabe que, um dia, a tragédia pode

acontecer. Culpamos a Deus, quando a culpa foi nossa. Se alguém cai de

um penhasco porque subiu lá, a culpa não é do penhasco nem de quem o

fez. Se namorados brincam à beira de um precipício e caem, a culpa não é

do precipício. Se pessoas moram em lugares perigosos porque são pobres

e não teriam onde morar, se os governos não facilitam a moradia em

lugares seguros, a culpa é do homem. Deus não fabrica pobres. Ele manda

repartir. Quem faz pobres e os mantém na pobreza são os que possuem

mais dinheiro, mais poder e não repartem nem que a “vaca tussa”.

... ...

A maioria das mortes, quem causou foram os homens. Muitos dos

escravocratas, dos guerreiros e dos grandes assassinos da História

massacraram e depois disseram que foi Deus quem os iluminou! Nunca

explicaremos todas as catástrofes, mas pôr a culpa em Deus não explica!

É um dos mistérios da vida. Estamos sempre sujeitos a perdê-la de um

jeito que não sabemos e em geral do jeito que não queremos. O mistério

existe e a vida continua sem explicação. Seu autor, ainda mais!

Fonte:

http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/artigos-pe-

zezinho-social/terremotos-e-catastrofes

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Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

CANDIDO, A. O direito à literatura. In: ______. Vários escritos, 3. ed. São Paulo:

Duas Cidades, 1995.

COSTA, Marta Morais da. Mapa do Mundo: crônicas sobre leitura. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2006

COSSOM, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. , Belo Horizonte:

Autêncica, 2004

MARQUESI, S.C Lendo crônicas: perspectiva para a formação de leitores críticos.

In: ANDRADE, C. A. B.; ROSSATO, e. (Orgs). Prática de Escrita: A Crônica- um

estímulo à percepção e à criatividade. São Paulo: Andross, 2005.

MOISÉS, Massaud. A criação Literária – Prosa II. São Paulo: Cultrix, 2003.

PRATA, Mario. 100 Crônicas. São Paulo: Cartaz Editorial, 1997

SABINO, Fernando. A Companheira de Viagem, Editora do Autor – Rio Janeiro, 1965, p. 174.

SANT'ANNA, Afonso Romano. Ler o Mundo. São Paulo: Globo, 2011.

SCHENEUWLY, B; DOLZ, J. Trad. e org. Roxane Rojo e Gláis Sales Cordeiro.

Gêneros orais e escritos na escola Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

Referências online:

Figura 1: https://plus.google.com/photos/107770552892988893756/albums/5717893005164995633/5695969668556228834?pid=5695969668556228834&oid=107770552892988893756 Figura 2: http://www.humorbabaca.com/ilusoes/ache-o-bebe

Page 35: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · propostas por Rildo Cosson e Magda Soares, como forma de contribuir para a construção de ... “Letramento: um tema em três

Figura 3: https://plus.google.com/photos/107770552892988893756/albums/5717891840676881521

Figura 4: http://www.leituracritica.com.br/pesquisa11/pesq009.htm Figura 5: https://plus.google.com/photos/107770552892988893756/albums/5717893005164995633/5695967608483892546?pid=5695967608483892546&oid=107770552892988893756

Figura 6: http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=291&evento=3#menu-galeria Figura 7: http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=291&evento=3 Figura 8: http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=288&evento=3

Vídeo da crônica: “Ultima crônica” de Fernando Sabino (acesso em 27/11/2013)

http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=17670

“Ultima crônica” : http://cariricaturas.blogspot.com.br/2009/10/ultima-cronica-

fernando-sabino.html (acesso em 26/11/2013)

Entrevista de Affonso Romano de Sant Ana: (acesso em 27/11/2013)

http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=329 Crônica: “Lanranjas de ontem e hoje” de Carlos Heitor Cony (acesso em 27/11/2013)

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u159.shtml Crônica de Carlos Heitor Cony: Laranjas de ontem e hoje:(acesso em 30/10/2013) http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u159.shtml Site do cronista Carlos Heitor Cony

http://www.carlosheitorcony.com.br/ (acesso em 14/11/2013)

Site do cronista Mário Prata

http://marioprata.net/cronicas/

Site do cronista Affonso Romano de Sant'Anna (acesso em 27/11/2013) http://www.affonsoromano.com.br/ Crônica: “Nós que matamos Tim Lopes” Affonso Romano de Sant Anna (acesso em 27/11/2013) http://www.umacoisaeoutra.com.br/cultura/affonso3.htm

Fernando Sabino (acesso em 27/11/2013)

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http://fernandosabino.com.br/fernando-sabino-90-anos/

Anexo 1: Nós, os que matamos Tim Lopes (acesso em 27/11/2013)

Fonte: http://www.umacoisaeoutra.com.br/cultura/affonso3.htm

Anexo 4: Terremotos e catástrofes (acesso em 27/11/2013)

http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/artigos-pe-zezinho-social/terremotos-e-catastrofes

Música : “Tic Nervoso” de Kid Vinil & Verminose http://www.youtube.com/watch?v=Cf5iaMFofCk (acesso em 26/11/2013)

Artigo informativo Laranja: fruta ou cobaia para práticas ilegais?

http://www.mundoeducacao.com/curiosidades/os-laranjas-as-praticas-ilicitas.htm acesso em acesso em (29/10/2013)

Reportagem do boleto encontrado por um cidadão

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/33860/Homem-encontra-boleto-bancario-com-dinheiro-vivo-e-paga-a-conta.html#.Un_1OTVTt1s (acesso em 14/11/2013) Reportagem sobre a honestidade: mendigo encontra carteira http://sonoticiaboa.band.uol.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3810:mendigo-devolve-mochila-com-dolares-e-recebe-r-230-mil-&catid=63:bem-&Itemid=31 (acesso em 14/11/2013) História “A flor da honestidade” http://www.nossosaopaulo.com.br/Reg_SP/Barra_Escolha/A_FlorDaHonestidade.htm (acesso em 14/11/2013) Artigo sobre CPI http://www.mundoeducacao.com/politica/cpi.htm (29/10/2013) Artigo Arrecadação e desperdício – José Fernandes de Oliveira (Pe Zezinho)

http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/artigos-pe-zezinho-social/arrecadacao-e-desperdicio (Acesso em 27/11/2013)

Artigo Terremotos e catástrofes – José Fernandes de Oliveira (Pe Zezinho) http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/artigos-pe-zezinho-social/terremotos-e-catastrofes

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Anexos – Direitos Autorais

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Prezada Dalila, boa tarde.

Sim, você pode usar as crônicas em sala de aula.

Atenciosamente Luiz

Banco de Dados

Grupo Folha

(11) 3224-3985

De: Pesquisa Folhapress [[email protected]]

Enviado: segunda-feira, 21 de outubro de 2013 11:18

Para: [email protected]

Assunto: ENC: RES: Fale Conosco &

Pessoal,

AVISOS - É responsabilidade exclusiva do cliente a obtenção prévia e expressa de autorizações de terceiros, para uso de

suas imagens ou de imagens de obras e bens de propriedade particular retratados em fotografias licenciadas pela

Folhapress. - O cliente deve sempre creditar as fotos utilizadas, seja em livro, jornal, newsletter, revista, publicidade, website etc, de acordo com as informações presentes nos campos IPTC das imagens.

De: letraszardo [[email protected]]

Enviado: domingo, 20 de outubro de 2013 15:38

Para: Pesquisa Folhapress

Assunto: Re: RES: Fale Conosco &

Olá, estou enviando os dados das crônicas de meu enteresse, são crônicas de Carlos Heitor Cony, pois gostaria

de digitá-la por inteiro em meu trabalho além de divulgar as crônicas de Carlos Heitor e outros cronistas da

folha. Mas a que me interessa no momento para divulgar é uma (a principal) que é

LARANJAS DE ONTEM E DE HOJE.(27/07/2004) Cronista: Carlos Heitor Cony(www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult505u159.shtml.) Cuja data de acesso foi em 21/01/2005. como

consegui-la?

Também segue outras que pretendo usar:

O preço de cada um ( 16/04/2013) http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/1263159-o-preco-

de-cada-um.shtml

Virgindade em leilão ( 19/10/2012) acesso em 14/06/2013 - como conseguir esta crônica, pois meu acesso foi

em 14/06/2013?

Os espiões saem do frio (10/09/2013)

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/2013/09/1339490-os-espioes-saem-do-frio.shtml

O anarquista inofensivo (25/08/2013)

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/carlosheitorcony/2013/08/1331536-o-anarquista-inofensivo.shtml

Nome do curso PDE (Curso da Secretaria da Educação), alunos: (Segundo grau, especificamente segundo

ano)

Atenciosamente: Dalila Ferreira de Jesus SAntos.

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Mensagem anexa:direitos autorais

De:

[email protected]

Para:

[email protected]

Cópia:

Assunto:direitor autorais

Data:25/11/2013 23:10

Affonso Romano.doc 44.50 KB

Olá, estou fazendo um caderno pedagógico e como admiro as crônicas de Affonso Romano de SantAna, venho mui respeitosamente

encaminhar um documento cedendo que copie integralmente as crônicas selecionada. como este material ficará em ambiente virtual da Seed,

é necessário arquivar o documento que me autoriza usar as crônicas que citei. Agradeço a atenção. Se esta mensagem não for direta ao

escritor, agradeço se receber orientações de como entrar em contato com o mesmo.

Atenciosamente

Dalila Ferreira de Jesus Santos

Re: [Enc: direitor autorais]

De:[email protected]

Para:Dalila

Assunto:Re: [Enc: direitor autorais]

Data:26/11/2013 18:00

Ok, querida: queria apenas esclarecer. Não tem problema, siga adiante e me dê os resultados,

ars

veja o site/blog:

www.affonsoromano.com.br

www.facebook.com/affonsoromano.santanna

Termo de Cessão Pessoa Física para Pessoa Física

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Nos termos disponíveis do artigo 49 da Lei n. 9.610, por este instrumento o(a) Sr(a), Affonso Romano de Sant Anna,

RG______, CPF_____, residente na ____,bairro_____, cidade____, na qualidade de titular dos direitos autorais, doravante denominado

CEDENTE, cede gratuitamente, pelo prazo indeterminado e de modo absoluto, para utilização exclusiva da Secretaria de Estado da

Educação do Paraná o direito de uso referente ao(s) seguinte(s) material(is):

“Os que nos ensinam a ver”, “Lendo o Brasil (Central do Brasil, Filme)” e “Ler a Natureza”, são três crônicas do livro: “Ler o Mundo” –

S.P: Global, 2011, e também “Nós matamos Tim Lopes” para o(a) professor(a) Dalila Ferreira de Jesus Santos, RG 55838003 da Rede

Estadual de Ensino do Paraná, nesta ocasião denominada CESSIONÁRIO(A).

O CEDENTE fica ciente de que o material cedido pode ser publicado nas mídias impressa e/ou Web.

Esta cessão afasta o CEDENTE e seus herdeiros de receberem qualquer espécie de indenização ou compensação em virtude do

uso e administração do material.

O(A) CESSIONÁRIO(A), por sua vez, compromete-se a utilizar o material descrito para Produção Didático-pedagógica, sem

fins lucrativos e com objetivos educacionais.

Para efeitos, este termo vai assinado pelas partes.

Curitiba, _________ de __________________de __________.

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CEDENTE

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CESSIONÁRIO(A)

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