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Neste artigo procuro discutir o interessem do Capital internacional sobre a Amazônia, desde Cabral aos tempos atuais, a ação de alguns dos Grandes Projetos na Amazônia e uma proposta de uma educação que possa formar uma nova estrutura conceitual que possibilite o surgimento do “homem holístico”, que considero uma versão ampliada da concepção de Marx (homem onilateral), e de Gramsci (trabalhar o indivíduo em sua totalidade).
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁNÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS
MESTRADO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
PROFESSOR: Dr. Marconi
ALUNOS: Franz Kreüther Pereira
Trabalho apresentado ao professor como requisito parcial para conclusão da disciplina Educação Ambiental.
Belém - Pa 2004
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁNÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS
MESTRADO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICAS
ARTIGO:
OS GRANDES PROJETOS NA/PARA A AMAZÕNIA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Franz Kreüther Pereira
Belém - Pa 2004
OS GRANDES PROJETOS NA/PARA A AMAZONIA
E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Franz Kreüther Pereira1
No particular da Amazônia, recordemos que o uso da floresta começou com a empresa do descobrimento e da ocupação do espaço para com ele construir uma área do império ultramarino português.
Moacir Andrade (1981, 18)
Introdução
Mesmo antes de Pedro Álvares Cabral efetuar a descoberta oficial das terras ditas de
Santa Cruz, o famoso navegador espanhol Vicente Yanez Pinzón já por aqui passara. Ele,
que saíra de Palos em fins de 1499, atinge o atual Cabo de Santo Agostinho, no estado de
Pernambuco, que batizou de Santa Maria de la Consolación. Em seguida sobe em direção
ao Norte e alcança a grande ilha de Marajó, onde trava contato com a tribo dos Aruacs.
Entre 1541 e 1542, o aventureiro espanhol Francisco de Orellana, descendo de
Iquitos, no Peru, navega pelo Mar Dulce, nome que Pizón deu a um grande rio que mais
tarde seria denominado pelo escrivão da frota de Orellana, frei Gaspar de Carvajal, de rio
de San Juan de las Amazonas (1987, 9). Tamanha a importância desse imenso rio das
Amazonas, ou Paraná-Açu, como é conhecido pelos os indígenas locais, que acabou por
batizar toda uma região, por excitar a imaginação e despertar a cobiça de milhares de
aventureiros.
Hoje, meio milênio depois, a sociedade pós-moderna convive com novos interesses
e com o agravamento de antigos problemas, decorrentes, ainda, de uma prática de 1 Professor Licenciado Pleno em Física da rede pública de ensino do Estado do Pará, especialista em Educação e Problemas Regionais-UFPA; em Informática e Educação-UEPA, e mestrando em Educação em Ciências e Matemática do NPADC/UFPA, Turma: 2003.
exploração e extração de recursos naturais fundamentada na ideologia fatalista medieval.
E, para países terceiro mundistas ou em desenvolvimento como o Brasil, ainda há a má
administração do espaço geográfico, os desequilíbrios sócio-ambientais e culturais
provocados pelas crises econômicas locais e internacionais, e falta de políticas públicas
rigorosas, eficazes, para combater os malefícios da globalização nalgumas regiões do país.
NETO, na Introdução de sua obra “O Poder da Cidadania: Globalização x
Qualidade de Vida” (2002, 13) diz que
A saída para se amenizarem tais efeitos da globalização é a adoção
de uma ideologia construtivista através. principalmente, da
educação ambiental, enfatizando a necessidade de manutenção da
biodiversidade e da solução dos conflitos de interesses. Esta
pedagogia deve ser ministrada desde o ensino fundamental, para
que se incentive uma rotina em crianças e adultos.
O papel ideológico das instituições de ensino e cultura não é desprezado pelos
grupos de interesse do Capital (APLLE, 1989). Eis porque NETO (2002) alerta para a
necessidade, a partir de escolas de Ensino Fundamental, da construção de uma Educação
Ambiental; da conscientização de valores éticos e de cidadania; do aumento de
responsabilidades com o meio ambiente.
As riquezas da terra amazônica continuam sendo cobiçadas pela economia
internacional, o que coloca o Brasil em situação de permanente alerta contra essas
investidas. Diante dessas freqüentes investidas, não bastam políticas preservacionistas ou
de ocupação militar (como leis de combate a bio-pirataria e o projeto Calha Norte, por
exemplo). A educação também é crucial para se manter a soberania nacional, mas é
essencial que o povo tenha uma educação de qualidade, para que se torne capaz de fazer
uma leitura real do que há por traz do texto e da notícia que os meios de comunicação, a
serviço da propaganda governamental e de empresas públicas ou privadas, apresentam e
veiculam.
A “vocação natural” da região
Existem, na hiléia amazônica, infinitas formas de associação complexas de vida. A Amazônia é o maior repositório de seres vivos da Terra (...), pelo menos, 1.500.000 a 2.000.000 de espécies, entre animais e vegetais. Delas, apenas 500 mil estão descritas e classificadas taxonomicamente. (Valverde, apud Maués; 1999, 57)
Por volta de 1500, pouco antes, a Amazônia já era alvo dos interesses estrangeiros.
Desde aí estava decretada o que os filósofos do capitalismo denominam “a vocação natural
da região”, e no caso da região amazônica a vocação natural é a produtividade para o
mercado mundial. No entanto, até a década de 60 o Brasil desconhecia, quase que
totalmente, os recursos naturais e as formas de uso do solo amazônico. Também não sabia
como administrar esse imenso espaço geográfico e, pior ainda, como controlar a ocupação
dessas terras.
O produto de exploração das inúmeras riquezas de biodiversidade e dos recursos
minerais da região foi sendo exportado quase “in totum”, e a região amazônica sequer era
uma região econômica do Brasil, mas uma região atrelada ao mercado mundial e aos
grandes cartéis capitalistas. E isso pouco mudou. Tanto é verdade que aqui ficam apenas os
problemas oriundos da exploração de seus recursos naturais, enquanto os lucros e
benefícios vão para outras regiões do Brasil e outros lugares do mundo.
O processo de integração da região amazônica ao contexto da economia nacional (e
mundial) visando promover o desenvolvimento da Amazônia é, de certa forma, recente e
alcançou seu apogeu sob o regime militar. Nesse período foram implantados os Grandes
Projetos e criados os órgãos governamentais que deveriam dar apoio a criação e
implantação de tais projetos. Apesar de recente, esse processo ocasionou prejuízos enormes
a região, tanto em relação a natureza quanto a sócio-diversidade ou etnodiversidade.
Nas palavras do antropólogo paraense Raymundo H. Maués, “todos sabemos do
fracasso dos grandes projetos do ponto de vista dos interesses regionais, com exceção de
um pequeno grupo de elites locais que se beneficia, efetivamente, com o repasse dos
recursos públicos...” (1999, 95). Maués, com um olhar holístico, é taxativo quanto aos
danos que a exploração desenfreada dos recursos naturais da Amazônia podem provocar
sobre “a diversidade humana e cultural” (1999, 58):
... do que se perdeu, em termos culturais, de organização social, de
pensamento, de conhecimento do manejo sustentado do ambiente,
dos rituais, das crenças, do conhecimento da floresta, e de muitos
outros aspectos da cultura, pouco ou quase nada se pode inferir.
(...) os índios da Amazônia foram capazes de domesticar as plantas
de uma firma sábia: aperfeiçoando, do ponto de vista genético,
vegetais comestíveis como a pupunha; criando, na mata virgem,
espaços culturais de plantas cultivadas; e controlando, por meios
naturais, as pragas das plantações. (1999, 61)
Geopolítica2 na casa da Mãe Joana
"Deveis ter sempre em vista que é loucura esperar uma Nação favores desinteressados de outra e que tudo quanto uma Nação recebe como favor terá de pagar, mais tarde, com uma parte de sua independência". (George Washington)
Em meados do século XIX, mais precisamente em 1850, os Estados Unidos da
América e outros países europeus, estudavam uma forma de navegar pelos rios da
Amazônia, com objetivo de possibilitar o comércio e a navegação, tanto da Amazônia
Brasileira como da Pan-Amazônia3. Primeiro os EUA mandaram missões militares, ditas
científicas, como uma frente de reconhecimento das riquezas da região, porém a primeira
missão científica que pisou solo amazônico foi a de La Condamine, em 1742, seguida pela
expedição de Humboldt-Bonpland, em 1799, e depois, no século XIX, de cientistas de
diversas nacionalidades.
Na Amazônia pós-borracha, com as principais cidades da região sofrendo com a
débâcle, os Estados Unidos apresenta um plano de empréstimo ao Amazonas, que ,
segundo LEAL (1993a, 42) “era um verdadeiro primor de proposta de gangster”.
Na década de 1930 o Japão elaborou um projeto que pretendia distribuir os
“excedentes populacionais do mundo” (MATOS, 1991) pela região Amazônica. “Dessa
experiência só restaram os núcleos coloniais de Monte Alegre e Tomé-Açú, no Pará”,
explica LEAL (1993b, 45). Na mesma década o norte-americano Henry Ford adquiriu uma
área de hum milhão de hectares à beira do Rio Tapajós e fundou sua Fordlândia, com
objetivo de monopolizar a produção de borracha, mas fracassou e foi à falência.
2 Geopolítica é a ciência que ensina fazer Política por intermédio da Geografia, segundo as idéias do erudito professor Everardo Backheuser.3 Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname e Guianas, exceto a francesa.
Em 1948, o cientista brasileiro Paulo Berrêdo Carneiro (1901-1981) apresentou a
UNESCO o projeto do Instituto Internacional da Hiléia4 Amazônica-IIHA. Este projeto foi
visto pelos órgãos de imprensa, por militares e por diversos políticos, dentre eles o senador
paraense Augusto Meira e o ex-presidente Arthur Bernardes (1875, 1955), como um
“inocente” órgão de pesquisa que viria a abrir as portas da região amazônica para o
domínio internacional, colocando-a fora da jurisdição brasileira.
Mas algo de positivo se deve ao Instituto Internacional da Hiléia Amazônica.
Combatido pelo forte espírito nacionalista que fora invocado pelos contrários ao projeto, o
IIHA naufragou, mas tornou-se a semente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
-INPA, criado em 29 de outubro de 1952, por meio do Decreto nº 31.672, do Presidente da
República, Getúlio Vargas.
Nos anos 60 as baterias da artilharia capitalista se voltaram, mais uma vez, para uma
nova tentativa de internacionalização da Amazônia. Desta feita foi um projeto do Instituto
Hudson, cognominado “Projeto dos Grandes Lagos ou Plano do Mar Mediterrâneo
Amazônico”. Segundo o Coronel Soriano NETO (2001)5, “Imensas extensões da Amazônia
brasileira e colombiana seriam cobertas pelas águas de sete lagos (quatro no Brasil e três na
Colômbia), (...). O objetivo proposto era o de ligar os lagos por meio de uma hidrovia
interior com saída para o Pacífico, à semelhança do Canal do Panamá”, e com isso
sacrificando as riquezas minerais e impedindo o crescimento do nosso país.
O Brasil respondeu, em 1970, com o projeto Radam (Radar da Amazônia), que
objetivava levantar as características geológicas, geomorfológicas, de solo, hidrografia e
vegetação da Amazônia e, quase três décadas depois, com o conturbado Projeto SIVAM,
que é o sistema de vigilância aérea da Amazônia. 4 Hiléia é um termo criado pelo pesquisador e explorador Alexander von Humboldt (1769-1859).5 Artigo publicado na Internet. Cf. no endereço eletrônico http://www.sgex.eb.mil.br
Em 1978, foi criado o Pacto Amazônico ou Tratado de Cooperação Amazônico, que
abrangia também as regiões com características semelhantes as da Amazônia, como o
Suriname e Guianas. Este projeto culminou no atual Calha Norte, implantado em 1986, no
governo Sarney. (MATOS, 1991)
Controlar as terras na Amazônia é um velho sonho de muitos países, mas nenhum
tem maior ambição que os Estados Unidos da América. Os norte-americanos herdaram dos
ingleses o espírito de piratas, de saqueadores, mas com uma perícia e tecnologias que os
ingleses nunca possuíram. Um bom e forte exemplo é o projeto de extração de manganês da
Serra do Navio, no Amapá, capitaneado pela empresa brasileira ICOMI e pela norte-
americana Bethlehem Steel. A esse respeito LEAL (1993b, p.20) diz: “O Amapá não se
redimiu. Apenas perdeu todo o manganês que tinha, e apresenta um dos mais expressivos
índices regionais de miséria.”
Em 1989, o Brasil recebe uma comissão de parlamentares dos Estados Unidos que,
acusando o governo de não ter competência para administrar e garantir a soberania nacional
na Amazônia, pretendiam trocar de parte de nossa dívida externa por direitos sobre a
região, tendo por fachada projetos ecológicos que seriam administrados por ONGs norte-
americanas e européias. E, em 1993, a ONG norte-americana The Nature Conservancy,
desenvolveu uma ampla campanha internacional para levantar fundos e comprar vastas
extensões de terras na Amazônia e no Pantanal. (NETO, 2001).
Ai já se utilizava a bandeira da ecologia e da preservação da natureza como armas
em prol dos interesses do capital internacional: ONGs sediadas em Londres ameaçaram
boicotar a Conferência Rio-92, caso a demarcação das terras Ianomâmis não fosse assinada.
Uma nação de excluídos
Em 1981 surgiu outra famigerada proposta internacional, apresentada pelo Conselho
Mundial de Igrejas Cristãs, com sede na Europa. Dessa feita o ataque está direcionado não
aos bens de solo e subsolo, pelo menos não de maneira aberta e clara, mas visa a
constituição de uma nova nação, o que representaria uma cisão de parte da Amazônia do
território brasileiro. A proposta consistia na transformação de tribos em “nações indígenas”,
e de quebra ainda questionava a soberania do Brasil sobre a Amazônia, tida como
“patrimônio da humanidade”. Parte dessa proposta foi a forte pressão internacional que
levou o governo brasileiro a reconhecer uma nova nação, a Nação Ianomâmi.
Há diversos livros e artigos sobre esse tema controverso. Com o título “Essa é a
nossa soberania nacional?”, encontramos, em nossa pesquisa na Internet, vários endereços
de sites que expõem a questão como uma farsa6 montada por interesses internacionais,
capitaneados pelos EUA e Inglaterra. Em um deles, lemos:
Já existem fatos concretos que demonstram claramente que tudo
foi obra de bem montada manobra internacional visando ao futuro
desmembramento da nossa Amazônia. A revista "A Defesa
Nacional", em seu número do 2o trimestre de 1996, publica
interessante artigo de autoria de Gilberto Paim sob o título "Sobre
a República Socialista Ianomâmi", no qual comenta: "Há algum
tempo, encontram-se em discussão específicos da situação de
algumas populações indígenas na região Norte. Examina-se, em
particular, a questão das vastas extensões oficialmente definidas
como terras indígenas, em favor de grupamentos ianomâmis, nas
reservas para eles deferidas no Amazonas e em Roraima".
(...) pois tudo demonstra que está dentro de manobra internacional,
muito bem planejada e em plena execução, visando a conseguir, ou
pelo menos, a tentar apossar-se dos 94.000 km2, em território
6 Cf. no endereço eletrônico http://www.acordacidadao.hpg.ig.com.br.* O grifo está no original
brasileiro, ao qual somam-se outros 83.000 km2 na Venezuela,
totalizando 177.000 km2, pois, conforme preconizam os "verdes",
deve ser mantida a unidade territorial indígena, e tudo seria
facilitado pela inexistência de linha divisória perfeitamente
demarcada na região.*
De fato, quando governos estrangeiros impõem o reconhecimento de uma “nação”
dentro de outra nação, é frontal e gritante a agressão que sofre a nossa soberania nacional.
A Revista do Clube Militar7 (Nov/Dez-91) transcreve o Editorial do Jornal O Globo (19 de
Novembro de 1991) cujo título é “A Nação Ianomâmi”, esclarecendo que o Exercito
Brasileiro recomendou ao Governo que tomasse medidas
(...) para a defesa da soberania nacional (...) Tendo em vista o risco
de que essa unidade territorial, que ultrapassa fronteiras, possa
justificar futuras intervenções estrangeiras para mantê-la – tal
como está ocorrendo neste momento em outros países –... (...) Daí
a insistente luta dos pseudo defensores da causa indígena em criar
o Parque Ianomami, numa primeira etapa, para, em seguida,
transformá-lo em Nação Ianomami, acionando, a partir daí, a
Organização das Nações Unidas (ONU) a fim de pressionar o
Brasil a reconhecer a sua independência.
Ficamos, também, indignados ao saber da existência de entidades internacionais
criadas exclusivamente com a finalidade de desenvolver projetos de “proteção dos
interesses”8 dos índios da Amazônia. E estamos de acordo que
7 Cf. no endereço eletrônico http://www.geocities.com/toamazon/toafato2nacianomani.htm8 Cf. no endereço eletrônico http://www.bvroraima.com.br/qindigena8.htm
É inadmissível que entidades sediadas nos Estados Unidos e em
países da Europa, tais como: Comitê Internacional de Defesa da
Amazônia; Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente;
Instituto Indigenista Interamericano da Organização dos Estados
Americanos; Survival International Work Group Afais; Medicine
du Monde, venham exercer ingerência em nossos assuntos, sob o
falso pretexto da primazia na defesa dos índios, e, inclusive,
apresentando dados inventados nos seus laboratórios de atuação
política.
Muitas das ações de apoio ou de embargo a esses projetos de espoliação que a
Amazônia enfrenta(ou) foram desenvolvidas à revelia da população local, a quem toca,
diretamente, todas as causas e conseqüências de uma quanto de outra atitude. Mas resta
apenas a uma população inculta, mantida desinformada de seus direitos e desamparada de
seus defensores por direito de voto, acomodar-se ao que decidirem os dirigentes políticos e
empresários nacionais e internacionais. São muitos os exemplos disso, bastando ver-se os
projetos já extintos e os que ainda estão em andamento na região.
Para solucionar essas e outras questões, apenas uma Educação bem estruturada,
proporcionada por profissionais competentes e bem informados, aliada a ética na política
nacional. Como disse Moacir Andrade, no final da Introdução se seu Amazônia: a esfinge
do terceiro milênio (op.cit. 38), “...ainda é tempo de aprendermos a ocupar a grande
Amazônia, para que não seja uma simples dúvida como herança para os que a ocuparão no
decorrer do 3º milênio.”
Planeta Água, capital: Amazônia
Não poderíamos falar dos grandes projetos na/para a Amazônia sem considerar
aqueles voltados para a exploração e aproveitamento dos recursos hídricos para a geração
de energia e seus impactos na região, tanto na questão ecológica (agressões à fauna e flora,
alterações no curso de rios etc), quanto nos aspectos sócio-culturais (violação de direitos,
remoção da população, geração de empregos, mudanças nos costumes etc) . E nenhum
projeto nessa área produz tantos problemas quanto a implantação de uma usina
hidroelétrica “num lugar de grande complexidade ecológica, muito mais que humana”,
conforme afirma PINTO (2002, 24) numa ácida e bem embasada crítica a Eletronorte e sua
proposta de represamento do rio Xingu para a construção daquela que pode vir a ser a
maior hidroelétrica do mundo, a de Belo Monte, município de Altamira.
Na Amazônia muitas comunidades dependem dos rios, da mata e de tudo ligado a
esses elementos, e qualquer alteração como as originadas por projetos da magnitude da
Hidroelétrica de Belo Monte, provoca mudanças dramáticas na vida de todas as
comunidades do entorno de um projeto, como índios, pescadores, ribeirinhos etc. Nas
palavras de Gilberto Freire (apud FILHO; 1977, 12) “a reação do homem aos choques, aos
estímulos, às influências do meio e das condições regionais da vida, às imposições do
ambiente, a todas estas influências, não se faz dentro dos mesmos limites que a reação de
plantas ou a reação do animal. Tem outra extensão e outra mobilidade.”
Em verdade, o homem precisa, urgentemente, compreender que os problemas que
afetam uma região não são problemas de uns poucos, mas são problemas de toda
humanidade. Essa visão levou o industrial Aurélio Peccei (FILHO, 1977) a reunir, em
1968, um grupo de empresários de grande destaque no mundo econômico preocupados com
as perspectivas da humanidade a longo prazo, notadamente em relação aos recursos
naturais globais agravados pelo crescimento populacional e pela poluição (que eles mesmos
provocam!) e fundar o Clube de Roma. Encontramos em FILHO (1997) e em PINTO
(2002) uma preocupação e um alerta. O primeiro parece prever uma ameaça sobre a
Amazônia quando diz que “uma das principais indagações que se propõe é se estas crises
poderão ser resolvidas dentro de fronteiras nacionais ou se a resolução global será a única
viável” (1977, 62-3); enquanto o segundo aponta para o que ele denomina de “monocultura
da água” (2004, 46-9), uma visão caolha que predomina entre os gestores nacionais.
Ambos, em seus alertas, talvez até premonitórios, não devem ser motivos de descaso ou
riso de comiseração. Afinal, segundo PINTO (op.cit. 47):
“O uso mais nobre dado à água, ou, freqüentemente, o único a
merecer atenção especial do governo e dos empreendedores
privados é como alavanca na movimentação de geradores,
transformando energia mecânica em energia elétrica.
(...) A incógnita da equação da sobrevivência será o que fazer para
manter a vida. Fazer a guerra?
(...) Confortáveis como membros de uma nação que conta com
depósitos de água doce sem paralelo em qualquer outra parte do
globo, parecemos dispostos a prolongar a era do desperdício, da
imprevidência e da estreiteza de visão. ”
É sabido que o volume de água no planeta não aumenta nem diminui: ele se mantém
sempre o mesmo, daí ser de extrema importância a conservação e preservação dos recursos
hídricos da Terra. Somente pela educação e pelo trabalho nas escolas, com ações
direcionadas para despertar e desenvolver uma consciência ambiental e holística, se pode
alcançar uma prática preservacionista que garantam às gerações futuras, esse que é o bem
mais precioso de todos os que existem no planeta. E a Amazônia detém uma das maiores
porções desse tesouro tão cobiçado.
A Amazônia Legal9 agrega a maior floresta tropical úmida do mundo e abriga 30%
de todas as espécies vivas. Nela está localizados o maior banco genético e a mais vasta
província mineralógica planetária, além de 1/5 das reservas mundiais de água doce, 1/3 das
reservas mundiais de florestas latifoliadas, de onde se obtém 25% de todas as essências
farmacêuticas a serem industrializadas no mundo inteiro10. Segundo o último senso do
IBGE, o Brasil é, hoje, o quinto país do mundo em extensão territorial, possuindo uma área
de 8.512.000 km2 e cerca de 167 milhões de habitantes. Em relação aos recursos hídricos, o
país guarda quase 14% do volume de água doce do mundo, sendo que mais de 73% da água
doce do país está na bacia Amazônica, habitada por, apenas, 5% da população11.
Ainda nas palavras de PINTO (op. cit., 65), “só agora os paraenses estão se dando
conta de que possuir tanta água acarreta uma responsabilidade pesada e requer uma
abordagem extremamente sofisticada”, porém não devem ser apenas os paraenses a se
convencerem dessa imensa responsabilidade, e sim todos os habitantes da Hiléia.
Considerações finais
Já estamos na sociedade do terceiro milênio, a sociedade globalizada, onde as
fronteiras culturais, políticas e, principalmente econômicas, tendem a desaparecer. Com
isso os problemas de uns tendem a se tornarem problemas de todos mas, infelizmente, ainda
não estamos preparados para assumir esse nível de responsabilidade e de compreensão de
nossos atos
9 Rondônia, Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Pará, Tocantins e grande parte do Maranhão e Mato Grosso.10 Os dados foram extraídos do site http://www.sgex.eb.mil.br 11 Fonte SIH/Aneel, 1999
é este o grande desafio das instituições de cultura e Educação do país e da região,
desenvolver um modelo de educação que dê ao homem uma real sociedade democrática e o
verdadeiro sentido do conceito de cidadania. Somente com uma política educacional que
envolva toda a região e que aponte para uma nova pedagogia, uma pedagogia que esteja em
sintonia com o ritmo próprio de cada indivíduo, pois é esse ritmo que lhes dá identidade e
determina as características de cada criatura.
Precisamos de uma educação que possa formar uma nova estrutura conceitual
(amálgama cultura3) que possibilite um novo padrão de homem, o “homem holístico”, que
considero uma versão ampliada da concepção de Marx (homem onilateral), e de Gramsci
(trabalhar o indivíduo em sua totalidade).
Franz Kreüther Pereira
Referências Bibliográficas
APLLE, Michael W. Educação e Poder. Porto Alegre. Artes Médicas. 1989.
ANDRADE, Moacir. Amazônia, a esfinge do terceiro milênio. Manaus, Editora Metro
Cúbico/ Suframa, 1981.
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1987.
FILHO, Olavo Baptista. O homem e a Ecologia: atualidades sobre problemas
brasileiros. São Paulo. Pioneira, 1977.
LEAL. Aluízio Lins. Uma sinopse histórica da Amazônia. Mimeog. 1993a
________________ O que é Grande Projeto na Amazônia. Mimeog. 1993b
MAUÉS. Raymundo Heraldo. Uma outra “invenção” da Amazônia: religiões, histórias,
identidades. Belém. Cejup, 1999.
MATOS, Aderbal Meira. Amazônia e Outros Estudos. Belém. Cejup. 1991.
NETO, Cel. Manoel Soriano. Amazônia - O Grande Desafio, Brasília, abril de 2001.
Artigo publicado na Internet. (http://www.sgex.eb.mil.br)
NETO, Miranda. O Poder da Cidadania: Globalização x Qualidade de Vida. Belém,
Editora Universitária UFPA/Edufpa. 2002.
PINTO, Lucio Flávio. Hidroelétricas na Amazônia: predestinação, fatalidade ou
engodo. Belém, Edição Jornal Pessoal, 2002.
Sites consultados:
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2001/fev/17/18.htm
http://www.guerraproscrita.com/hileia.htm
http://www.sgex.eb.mil.br/cdocex/CDocEx/amaz_desafio.htm
http://www.acordacidadao.hpg.ig.com.br
http://www.geocities.com/toamazon/toafato2nacianomani.htm