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CAPÍTULO 14 OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS E CONSEQÜÊNCIAS* Simone Wajnman Do Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) Ana Maria H. C. de Oliveira Do Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) Elzira Lúcia de Oliveira Do Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economia da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) 1 INTRODUÇÃO Dentre as diversas conseqüências do aumento da proporção de idosos na população brasileira, uma delas, a enfocada neste artigo, é a sua participação na força de trabalho. Na dimensão eminentemente demográfica, a tendência de crescimento da participação de pessoas cada vez mais velhas na população em idade ativa (PIA) é inequívoca. Esse efeito demográfico combinado à tendência recente de relativa estabilidade das taxas de atividade dos idosos resultam no crescimento da partici- pação dos trabalhadores acima de 60 anos na força de trabalho brasileira. Além disso, como se verá, o rendimento do trabalho do idoso é fundamental na compo- sição de sua renda pessoal e familiar, de tal forma que dificilmente se pode esperar mecanismos compensatórios que permitam a queda da sua participação no mer- cado de trabalho. Este artigo procura apontar a enorme heterogeneidade da participação dos idosos no mercado de trabalho, mostrando diferenciais importantes segundo atri- buto tais como região de residência, raça, escolaridade, e de formas de ocupação. Conforme se verifica, embora sejam os indivíduos pior posicionados na escala socioeconômica os que mais participam do mercado de trabalho, à medida que eles envelhecem as melhores chances de permanecer ativos pertencem aos mais bem qualificados, aos de melhor escolaridade e, sobretudo, aos que não estão * As autoras agradecem ao bolsista de Iniciação Científica do CNPq Anderson Gomes Resende pela colaboração.

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CAPÍTULO 14

OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS ECONSEQÜÊNCIAS*

Simone WajnmanDo Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economiada Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG)

Ana Maria H. C. de OliveiraDo Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economiada Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG)

Elzira Lúcia de OliveiraDo Centro de Desenvolvimento e Planejamento em Economiada Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG)

1 INTRODUÇÃO

Dentre as diversas conseqüências do aumento da proporção de idosos na populaçãobrasileira, uma delas, a enfocada neste artigo, é a sua participação na força detrabalho. Na dimensão eminentemente demográfica, a tendência de crescimentoda participação de pessoas cada vez mais velhas na população em idade ativa (PIA)é inequívoca. Esse efeito demográfico combinado à tendência recente de relativaestabilidade das taxas de atividade dos idosos resultam no crescimento da partici-pação dos trabalhadores acima de 60 anos na força de trabalho brasileira. Alémdisso, como se verá, o rendimento do trabalho do idoso é fundamental na compo-sição de sua renda pessoal e familiar, de tal forma que dificilmente se pode esperarmecanismos compensatórios que permitam a queda da sua participação no mer-cado de trabalho.

Este artigo procura apontar a enorme heterogeneidade da participação dosidosos no mercado de trabalho, mostrando diferenciais importantes segundo atri-buto tais como região de residência, raça, escolaridade, e de formas de ocupação.Conforme se verifica, embora sejam os indivíduos pior posicionados na escalasocioeconômica os que mais participam do mercado de trabalho, à medida queeles envelhecem as melhores chances de permanecer ativos pertencem aos maisbem qualificados, aos de melhor escolaridade e, sobretudo, aos que não estão

* As autoras agradecem ao bolsista de Iniciação Científica do CNPq Anderson Gomes Resende pela colaboração.

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envolvidos em atividades manuais. Apontamos também diferenciais significativosentre a atividade dos idosos nos meios urbano e rural.

Assim, o objetivo deste texto é oferecer um quadro descritivo de forma acaptar quem são os idosos que trabalham, em que tipo de ocupação estão engajados,qual é o rendimento que auferem nessas atividades e quanto esse rendimento,junto com os demais rendimentos auferidos de outras fontes (aposentadorias,pensões etc.), significa na renda de suas famílias. Com essa finalidade, o artigoapresenta-se organizado da seguinte forma: na Seção 2, discutem-se as perspectivasfuturas quanto ao peso relativo de idosos na PEA total e os diferenciais de níveisde participação por atributos pessoais e ocupacionais; na Seção 3, apresentam-sealguns aspectos da composição dos rendimentos dos idosos, contrapondo-se homense mulheres e, sempre que relevante, comparando os setores urbano e rural domercado de trabalho. Por último, na Seção 4, são apresentados alguns comentáriosfinais.

2 O IDOSO NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO

2.1 Tendência Temporal

As informações das PNADs permitem observar 25 anos de comportamento dastaxas de atividade1 da população de 60 anos e mais no Brasil — de 1977 a 2002.A tendência do período, que pode ser observada no Gráfico 1, revela relativodeclínio na participação masculina, tendência intensificada nos anos 1990, masque tudo indica estar sendo arrefecida na década atual.2 Quanto à tendência daparticipação feminina, esta demonstra um comportamento mais estável, com astaxas de participação das mulheres idosas girando em torno dos 10%.3 Dessaforma, as evidências para as três últimas décadas demonstram não estar ocorrendono Brasil o decrescimento dos níveis da atividade econômica dos idosos, a exemplodo que a literatura internacional sugere ocorrer na maior parte dos outros países.

1. A taxa de atividade — ou taxa de participação — é igual à População Economicamente Ativa (PEA) dividida pela população em cadagrupo específico.

2. As interrupções nas séries do Gráfico 1 referem-se aos anos censitários (1980 e 1991), quando usualmente as PNADs não vão acampo.

3. A profunda reformulação metodológica da PNAD ocorrida entre 1990 e 1992 gerou, como conseqüência, a elevação das taxas departicipação, sobretudo de mulheres, de idosos e daqueles engajados nas atividades agrícolas. Embora as taxas do Gráfico 1 tenham sidoestimadas através de filtros específicos que procuram recompor o conceito pré-1992, de forma a preservar a comparabilidade da série, jáfoi demonstrado que não é possível eliminar totalmente o efeito da sobreenumeração da nova PNAD [ver Barros e Mendonça (1997)],com o que os níveis de atividade a partir de 1992 permanecem acima dos do final dos anos 1980. As mudanças metodológicas dachamada “nova PNAD” estão fartamente documentadas na literatura [ver Bruschini e Lombardi (1996)].

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Em contrapartida, do ponto de vista das tendências demográficas mais re-centes, a estrutura etária da PEA brasileira torna-se a cada ano mais envelhecida, oque significa que o peso relativo da população idosa tende a crescer continuamentee ainda por muitas décadas. Assim, o resultado final, revelado no Gráfico 2, é onítido crescimento da proporção da PEA de 60 anos e mais. Em termos prospectivos,a tendência parece ser clara. O trecho pontilhado das linhas do Gráfico 2, tanto parahomens quanto para mulheres, refere-se a projeções da PEA em que se considerabasicamente o efeito da componente demográfica do envelhecimento populacional,e mantêm-se os níveis atuais das taxas de atividade masculinas. Para as taxas femi-ninas, considera-se o ainda provável crescimento da participação das mulheres nomercado de trabalho, dado o espaço que ainda há para que isso ocorra.4

4. As proporções da PEA projetadas nesse cenário baseiam-se em projeções realizadas no âmbito do projeto “Demografia do Mercadode Trabalho Brasileiro” do convênio entre o Ministério do Trabalho e Emprego e o Cedeplar/UFMG.

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Com base nesse cenário, podemos prever um intenso crescimento da parti-cipação de idosos na PEA. De fato, projeta-se que, em duas décadas, a proporçãode homens idosos na PEA masculina estará perto de 10% (quase o dobro dos5,9% atuais) e a de mulheres idosas em torno de 6% (atualmente são 3,4%). Maisimportante ainda é considerar que, a essa altura, a PEA idosa estará crescendo auma taxa anual estimada em 3,6% a.a., e, para o mesmo período, estima-se que aPEA total terá crescimento muito próximo do nível de reposição, ou seja, emtorno de zero.5 Assim, em termos de perspectivas de necessidades de geração deempregos, esse será o grupo a pressionar o mercado de trabalho, com um incre-mento da ordem de aproximadamente 300 mil idosos sendo somados cada ano àPEA de 60 anos e mais.6

Tal tendência de crescimento da oferta de trabalhadores idosos, somada àsprecárias perspectivas de ampliação da cobertura do sistema previdenciário, esta-belece a importância de se planejar cuidadosamente políticas específicas para essesegmento de potenciais trabalhadores. Contudo, o sucesso no desenho dessas po-líticas depende, em grande medida, do conhecimento prévio das especificidadesda atividade do idoso. São precisamente essas especificidades que a Subseção 2.1procura detalhar.

2.2 Heterogeneidade da Participação Econômica dos Idosos

Nesta subseção, descrevem-se os diferenciais na participação dos idosos a partirdas taxas de atividade específicas por atributos pessoais, considerando-se as infor-mações contidas na PNAD de 2002 — a mais recente disponível —, e algumastendências temporais. É importante ressaltar que nem sempre altas taxas de ativi-dade correspondem ao maior peso do subgrupo na PEA, já o tamanho absolutode cada grupo depende também da participação do atributo na população. Assim,os diferenciais de taxas de atividade exprimem apenas a intensidade com que cadasubgrupo de idosos se dispõe a trabalhar.

Os dois primeiros e mais relevantes atributos pessoais a serem consideradossão o sexo e a idade, já que homens e mulheres têm, ao longo de todo o ciclo devida, comportamentos ante o mercado de trabalho inteiramente distintos, chegando àfase idosa com níveis de atividade muito diferenciados. Em termos agregados, ataxa de atividade dos homens idosos, em 2002, era de 41%, o que equivale dizer

5. Sobre isso, ver projeções da PEA em Wajnman e Rios-Neto (1999).

6. A título de comparação, considere-se que, entre 2001 e 2002, a PEA brasileira de 10 a 19 anos diminuiu de tamanho absoluto (–54 milindivíduos) enquanto a PEA de 20 a 24 anos, que foi o grupo de maior crescimento no período, foi acrescida de 533 mil indivíduos (dadosdas PNADs).

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que 41% dos homens de 60 anos e mais trabalhavam ou procuravam trabalho.Quanto às mulheres, apenas 13% das idosas encaixavam-se nessa condição. Comoconseqüência da distinta predisposição à atividade econômica de homens e mulheres,mas também do maior peso relativo de mulheres na população idosa, temos que,em 2002, 71% da PEA idosa eram constituídos de homens e 29% de mulheres.

Decompor estes números agregados segundo os grupos etários específicosrevela grandes disparidades, conforme se verifica no Gráfico 3. Como é de seesperar, as taxas de atividade declinam fortemente conforme avança a idade, masvale destacar o nível de participação ainda bastante elevado no grupo 60-64 anos:62% para homens, com o pico da atividade masculina situando-se em 95% nogrupo 30-34 anos; e 24% para mulheres, contra 67% no grupo de 35-39 anos deidade. Em termos de proporções, os idosos de 60-64 anos de idade, respondempor 45% da PEA de 60 anos e mais, o grupo de 65-69, por 25% e os acima de 70,pelos demais 30%.

Quanto à situação geográfica dos indivíduos, em que pesem as dificuldadesmetodológicas de diferenciar os setores urbano e rural nas PNADs, dada a cober-tura incompleta e imprecisa do setor rural, as enormes diferenças entre as taxas deatividade dos idosos por setor de domicílio, sobretudo para homens, merecem serdestacadas (Gráfico 4). Tais diferenças, evidentemente, exprimem a maior com-patibilidade do emprego tipicamente rural nas atividades agropecuárias com otrabalho dos idosos.7 Entretanto, a despeito do fato de as taxas de participaçãorural serem mais elevadas, o peso proporcional da PEA rural na PEA idosa total é

7. Note-se, porém, que o setor de domicílio refere-se ao local de residência, o que implica que um indivíduo morador do setor rural possater uma atividade tipicamente urbana ou vice-versa, e que essa capilaridade entre os setores seja uma tendência crescente no Brasil.

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bastante baixo — 13% para homens e 14% para as mulheres —, dada a crescentepredominância da população urbana no país. Sendo assim, e para evitar as possíveisdistorções geradas pelas grandes diferenças no padrão da participação econômicados meios urbano e rural, a análise que se segue enfoca apenas o espaço urbano.Algumas das peculiaridades do emprego rural são abordadas como contraponto.

Os Gráficos 5 e 6 apresentam o comportamento diferenciado das taxas deatividade segundo as regiões do país. Em grande medida, essas diferenças revelama estrutura setorial das regiões, de tal forma que as maiores taxas de atividade entreas regiões refletem o maior peso proporcional da atividade agrícola dentro dopróprio espaço urbano. Uma perspectiva mais adequada de tratar essas diferenças,contudo, é observar a distribuição ocupacional dos idosos segundo os ramos deatividade, de forma a apontar o peso das atividades agrícolas, conforme se apre-senta na Subseção 2.2.

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No Gráfico 7 figuram as diferenças entre taxas de atividade dos idosos segundoraça. Tomando-se apenas o corte entre brancos e negros (considerados como aagregação de pretos e pardos), verifica-se que tanto para homens quanto paramulheres os negros tendem a ter um nível de participação mais elevado, o que,provavelmente, encobre diferenças quanto à escolaridade e o nível de renda dessessubgrupos. Ao longo do tempo, contudo, essas diferenças parecem estar se estrei-tando, sobretudo para os homens.

Quanto aos diferenciais por escolaridade, expressos nos Gráficos 8 e 9, senos concentrarmos nos homens dos grupos etários de 60-64 e 65-69 anos, que nosetor urbano correspondem a quase 80% da PEA idosa, observaremos haver umadistribuição em forma de U para o emprego segundo a escolaridade; ou seja, sãoos analfabetos, os com primário incompleto e os com 11 anos e mais de estudo

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que têm o maior nível de participação. Essa evidência parece significar que, se porum lado a qualificação é um fator importante para a inserção do idoso no mercadode trabalho, aqueles de nível educacional extremamente baixo tendem a aceitarqualquer tipo de trabalho precário, de forma a atender às suas necessidades derenda. Por outro lado, quando se avança para as idades mais elevadas, verifica-seque a escolaridade é fator preponderante para a manutenção da atividade econô-mica, uma vez que a qualificação compensa a perda da capacidade laborativa asso-ciada ao envelhecimento. Para as mulheres, isso é muito claro entre os 60 e 70anos de idade, embora para as mais idosas a maior escolaridade não esteja associadaà maior participação, provavelmente em função do padrão de participação demulheres das coortes mais antigas.

Os Gráficos 10 e 11 revelam que a posição do idoso no domicílio é fator dediferenciação na atividade bem mais importante para os homens do que para as

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mulheres. Como se constata, os homens chefes (os predominantes — 89% delesem 2002) têm uma taxa de participação bem mais alta do que os cônjuges (parcelapouco expressiva dos idosos do sexo masculino — 3,7%) e mais ainda do que osoutros parentes (geralmente pais que moram com seus filhos chefes de família,representando 7% dos homens idosos). No que se refere às mulheres, ser chefe(46% delas) significa menos como determinante da participação, provavelmenteporque as mulheres idosas chefes tendem a contar com os rendimentos de pensão.Note-se que, do ponto de vista da tendência temporal, há tendência de conver-gência nas taxas de chefes e cônjuges nos anos mais recentes, tanto para homensquanto para mulheres.

Quanto à atividade dos aposentados, vis-à-vis os não-aposentados, ilustra-se,no Gráfico 12, que a aposentadoria é um determinante importante para a retirada

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dos homens idosos da atividade econômica. Enquanto 76% dos idosos não-apo-sentados são ativos, em 2002, apenas 24% dos aposentados o são. Vale lembrar,porém, que os aposentados constituem-se na grande maioria da população idosa.Em 1981, 70% dos homens idosos eram aposentados e essa proporção cresceupara 78% em 2002. Assim, a elevação das taxas de participação dos idosos apo-sentados explica-se pela extensão da aposentadoria urbana a uma proporção maiorde idosos ativos. Para os homens residentes no meio rural, essa mudança foi aindamais marcante. Entre 1981 e 2002, a proporção de homens idosos aposentadossubiu de 58% para 83%, como decorrência da ampliação de cobertura da previ-dência rural, pela Constituição de 1988.8 Assim, a significativa elevação da taxade atividade dos idosos aposentados, tanto homens quanto mulheres, que se verificaao longo do tempo no Gráfico 13 revela a generalização da aposentadoria, inclusiveentre as pessoas ativas.

Note-se ainda que, no caso das mulheres, a aposentadoria, assim como aposição no domicílio, não determina tão grandes diferenciais na participação eco-nômica. Uma interpretação para esse fato é de que ser aposentada, antes de maisnada, indica a participação prévia das mulheres no mercado de trabalho, revelan-do a preferência pela atividade de mercado em contraposição ao trabalho domés-tico, o que compensaria, em parte, o efeito renda da aposentadoria.

Por fim, a intensidade com que os idosos se engajam na força de trabalhovaria também conforme sua renda familiar. Os Gráficos 14 e 15 mostram que,como é o esperado, quanto menor é a classe de renda familiar do idoso (que inclui

8. Para uma análise da ampliação da cobertura dos benefícios da previdência rural, consultar artigo de Delgado e Cardoso Jr., neste livro.

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os rendimentos do próprio idoso, mas só aqueles não provenientes do trabalho)9

maiores são as taxas de atividade. A forma como a própria renda do idoso (inclusivea do trabalho) contribui para sua renda familiar será melhor analisada adiante.

2.3 A Estrutura Ocupacional dos Idosos Ativos

A primeira característica acerca da estrutura ocupacional dos idosos a ser notadarefere-se à distribuição setorial do emprego, que é muito distinta entre os setoresde domicílio urbano e rural. Para os idosos do meio urbano, é notório o predomíniodas atividades no setor serviços, sobretudo para as mulheres, conforme demons-tram os Gráficos 16 e 17.10 Considerando-se o conjunto dos idosos ativos urbanosem 2001, temos que 57% dos homens e 84% das mulheres estão ocupados nosetor de serviços. No entanto, é interessante observar que, entre os idosos do sexomasculino, mesmo entre os residentes em domicílios urbanos, há uma parcelanada desprezível dos que se ocupam de atividades agrícolas (22% em 2001), cer-tamente pelo fato de essas atividades serem bastante compatíveis com o trabalhodo idoso. No setor de domicílio rural, como não poderia deixar de ser, predominamas atividades agrícolas, tanto para homens (91% deles) quanto para mulheres (86%).Assim sendo, do total de idosos ativos, 49% deles, ou seja, a maioria, ocupam-seno setor serviços, como resultado do fato de que a maior parte da população idosaestá no meio urbano. As atividades agrícolas, no entanto, vêm em segundo lugar,representando 39% da atividade dos idosos.

9. A razão de se utilizar essa medida de renda líquida é que, obviamente, os rendimentos do trabalho do idoso viesam para cima a rendafamiliar dos que trabalham, levando a uma correlação positiva entre renda e taxa de atividade.

10. Note-se que neste caso utilizamos os dados da PNAD de 2001, dadas as dificuldades decorrentes da modificação da classificação deatividades e ocupações a partir da PNAD de 2002.

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Do ponto de vista da inserção dos idosos por situação ocupacional, queincluem as posições na ocupação (empregados com e sem carteira, trabalhadores porconta própria, empregadores, trabalhadores sem remuneração e ainda o desemprego),os Gráficos 18 e 19 ilustram as principais diferenças entre os idosos trabalhadoresurbanos e rurais, homens e mulheres. A primeira observação é o claro predomíniodos conta-própria entre os idosos do meio urbano, tanto homens (47% deles)quanto mulheres (44%), embora entre as mulheres idosas sejam também muitoimportantes as posições de sem-remuneração (6% delas, contra apenas 1% entre oshomens) e empregadas sem carteira de trabalho (31%, contra 22% dos homens ido-sos). No meio rural, entre os homens idosos, predominam, de longe, os conta-própria(72% deles) e entre as mulheres, embora seja também muito prevalente a posição

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de contra-própria (40% delas), predominam as trabalhadoras sem remuneração,que representam 47% do total.11

Nos Gráficos 20 e 21, as ocupações dos idosos são classificadas segundo umatipologia que as distingue entre ocupações manuais, médias e superiores, demons-trando que as ocupações manuais são predominantes no meio urbano (61% doshomens e 75% das mulheres) e também entre as mulheres rurais (66%). Entre oshomens rurais, por outro lado, há grande concentração nas ocupações de nívelmédio (67%), uma vez que os produtores por conta própria (tipicamente rurais) estãoincluídos nessa categoria. Apreciando-se a distribuição por categorias socioocupacionaisatravés dos grupos etários dos idosos urbanos de 2001 (Gráficos 22 e 23), verifica-seque o claro predomínio dos ocupados manuais vai diminuindo à medida que a

11. Note-se que foram utilizados os devidos filtros aos dados da PNAD para retirar da atividade econômica os trabalhadores paraautoconsumo e autoconstrução.

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idade avança, ganhando mais espaço a participação dos trabalhadores em ocupaçõesmédias e superiores. Essa inversão se explica por serem os ocupados nos trabalhosmais braçais aqueles que mais dependem da força física, que decresce com a idade.Assim, à medida que envelhecem, são os trabalhadores mais qualificados aquelesmais prováveis de manter seus espaços no mercado de trabalho.

O tamanho da jornada de trabalho é também um importante fator de dife-renciação da ocupação entre idosos dos setores urbano e rural, do sexo masculinoe feminino e através das idades. Examinando-se os Gráficos 24 e 25 verifica-se, emprimeiro lugar, que homens e mulheres idosos têm jornadas de trabalho mais longasno meio urbano do que no rural: 72% dos homens idosos do meio urbano têmjornada acima de 40 horas semanais, ao passo que no rural são 67%; para as mulheres,são 40% para as urbanas e 26% para as rurais. Além disso, como se dá para todosos outros grupos etários, homens idosos também têm jornada mais longa do que

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as mulheres idosas. O Gráfico 26, por outro lado, mostra que o emprego emjornada de tempo integral (40 horas e mais) é o predominante entre os homensidosos mais jovens, mas, com o avanço da idade, esse predomínio vai diminuindo.Para as mulheres idosas (Gráfico 27), ao contrário, a ocupação em tempo parcialé a preponderante, tornando-se também cada vez mais importante com a idade.

3 OS RENDIMENTOS DOS IDOSOS

Nesta seção, faz-se uma breve descrição da estrutura de rendimentos dos idosos,com ênfase no rendimento do trabalho, enfocando a importância relativa dessetipo de rendimento, tanto na composição da renda do próprio idoso quanto na darenda de suas famílias.

Na Tabela 1, observa-se a proporção de idosos, assim como a média e odesvio dos rendimentos em cada uma das categorias de formação de renda. Assim,

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471OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS E CONSEQÜÊNCIAS

conforme ilustra o Gráfico 28, 57% dos homens idosos urbanos com renda positivatêm apenas rendimento de aposentadoria, enquanto 15% têm só rendimento dotrabalho e 16% acumulam ambos os rendimentos. Para as mulheres, a situação ébem diversa: apenas 5% delas possuem só renda do trabalho e 44% têm renda deaposentadoria. Entretanto, na categoria “outros tipos de rendimentos”— cujos ren-dimentos de pensão são o destaque —, estão 30% delas e na categoria que acumularendimentos de aposentadoria e outros tipos, estão 13%. É muito importante salien-tar, contudo, que este elevado percentual de mulheres com apenas rendimentos deaposentadoria (44%) é certamente um valor superestimado, que estaria “roubando”informação da categoria de pensões, dada a confusão que freqüentemente se observana percepção dos indivíduos quanto às diferenças entre aposentadorias e pensões. Ébastante comum, por exemplo, que viúvas percebam sua pensão como a aposenta-doria herdada do marido falecido. Dessa forma, particularmente no caso feminino,a discriminação entre pensão e aposentadoria exige muita cautela.

A distribuição no meio rural é distinta, conforme ilustra o Gráfico 29. Menoshomens têm apenas renda do trabalho (13%) ou apenas aposentadoria (38%) doque no meio urbano, mas a maior parte deles (41%) aufere ambos os rendimentos.Entre as mulheres idosas rurais, a percentagem daquelas que recebem só aposenta-doria é de 67%. Cabe lembrar que a ampliação da previdência rural após a pro-mulgação da Nova Constituição afetou profundamente o cenário da composiçãodos rendimentos dos idosos rurais. Dados relativos à PNAD de 1984 mostramque naquele ano 33% dos homens e 11% das mulheres idosas contavam somentecom o rendimento de seu trabalho. Em 2002 esses números declinam para 13% e1%, respectivamente, tendo aumentado a proporção daqueles que acumulam rendado trabalho e de aposentadoria.

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472 SIMONE WAJNMAN – ANA MARIA H. C. DE OLIVEIRA – ELZIRA LÚCIA DE OLIVEIRA

Outro tipo de abordagem é apresentado na Tabela 2, em que se verificam asproporções de idosos que recebem cada tipo de rendimento, decompondo os ren-dimentos em rendimentos do trabalho, aposentadoria, pensão, outra aposentadoria(privada), outra pensão (também privada), aluguel e outras. O Gráfico 30 apresentao contraponto entre as proporções de homens e mulheres que percebem cada umdesses tipos de rendimento e o seu valor médio, mostrando que os valores médiosmais elevados são justamente aqueles provenientes de fontes de renda absoluta-mente privilegiadas: os aluguéis (recebidos por 5,13% dos homens e 3,3% dasmulheres) e as aposentadorias privadas (recebidas por 1,1% dos homens e 0,6%das mulheres).

Os Gráficos 31 e 32 revelam os diferenciais de nível, assim como da tendêncianos perfis etários de rendimentos femininos e masculinos dos idosos urbanos erurais. O fato de que a tendência de declínio nos rendimentos com a idade sejamuito mais marcante para os homens pode ser explicado pelas evidências apresen-tadas nos Gráficos 33 e 34 em que o rendimento do trabalho, o tipo de rendimen-to que mais obedece a um regime de declínio no final da vida ativa, é fraçãosubstancial apenas dos rendimentos masculinos (46% para os idosos urbanos e 52%para os rurais, no grupo 60-64 anos). Quanto às mulheres, aos 60-64 anos deidade, o rendimento do trabalho ainda é parte relevante de suas rendas (20% nourbano e 8% no rural), mas nas idades mais elevadas essa fonte de rendimento vairapidamente dando lugar aos rendimentos de aposentadorias e pensões.

Examinando-se, por fim, a participação relativa dos rendimentos dos idososna composição de sua renda familiar, é fácil verificar que a renda deles está longede poder ser considerada desprezível para suas famílias. Ao contrário, no grupo de60-64 anos, onde se encontra a maior proporção de idosos ativos, o rendimento

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474 SIMONE WAJNMAN – ANA MARIA H. C. DE OLIVEIRA – ELZIRA LÚCIA DE OLIVEIRA

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475OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS E CONSEQÜÊNCIAS

dos homens corresponde a nada menos que 67% de sua renda familiar no meiourbano e 69% no rural, dos quais 31% são rendimentos do trabalho do idosourbano e 37% do rural. É também fundamental observar que, ao contrário doque se poderia esperar, à medida que estes envelhecem, não diminui sua participa-ção relativa na renda familiar (com exceção do grupo de 80 anos e mais, cujascomparações são menos precisas por se tratar de um grupo aberto); apenas severifica uma mudança de composição segundo as fontes, com os rendimentos dotrabalho perdendo lugar para as aposentadorias. Quanto às mulheres idosas, suaparticipação na renda familiar é também bastante estável, situando-se em tornodos 55% no meio urbano, para todas as idades, ao passo que, em se tratando dasmulheres rurais, sua participação na renda familiar aumenta à medida que elasenvelhecem, provavelmente pelo aumento da probabilidade de perda do cônjuge(Gráficos 35 e 36).

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476 SIMONE WAJNMAN – ANA MARIA H. C. DE OLIVEIRA – ELZIRA LÚCIA DE OLIVEIRA

Contudo, é necessário lembrar que esses altos valores de participação doidoso em suas rendas familiares referem-se a médias em que se misturam famíliasem que vivem idosos coabitando com seus filhos e apenas os idosos (sozinhos ouem casais). Considerando-se exclusivamente os idosos que coabitam com ou-tros membros da família, além dos cônjuges, como se verifica nos Gráficos 37 e38, vemos que a situação não muda muito, ou seja, os idosos de fato participamcom parcela significativa da renda de suas famílias, o que é mais expressivo entreos idosos que residem no setor de domicílio rural.12 Cabe lembrar, porém, queesses dados não permitem verificar qualquer relação de dependência financeiraque extrapole os limites da coabitação familiar.

12. Para outras avaliações da contribuição da renda dos idosos na renda familiar, consultar também neste livro: Camarano, Kanso eMello, Delgado e Cardoso Jr. e Beltrão et alii.

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477OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS E CONSEQÜÊNCIAS

4 COMENTÁRIOS FINAIS

Neste artigo, foram apontadas a tendência de crescimento da participação dosidosos no mercado de trabalho brasileiro e, como conseqüência, a necessidadepremente de se pensar cuidadosamente políticas de emprego focadas nesse con-tingente populacional cujo nível de qualificação, inferior ao da média da populaçãoadulta, dificilmente se pode modificar significativamente. De forma a identificaro alvo correto de tais políticas, procurou-se caracterizar a atividade econômicados idosos, indicando tanto os subgrupos de maior participação quanto os tiposde atividade em que os idosos tendem a se concentrar.

Verificou-se, desse modo, que os idosos mais disponíveis para o trabalho (oque se reflete nas maiores taxas de atividade) são aqueles mais dependentes dorendimento da atividade econômica: os homens, os negros, os chefes de família,

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os de menor renda familiar, os não-aposentados e os trabalhadores das ocupaçõesmanuais. Todavia, são os trabalhadores de maior nível de escolaridade os queencontram a maior probabilidade de se manter ocupados nas idades avançadas. Doponto de vista da estrutura ocupacional do mercado de trabalho dos idosos,apontou-se a predominância destes nas atividades agrícolas e de serviços, nas posiçõesde conta-própria e sem-remuneração (sobretudo para as mulheres do meio rural),e nas ocupações manuais. Entretanto, à medida que envelhecem, as ocupaçõesmanuais tendem a ceder espaço para as superiores, assim como os trabalhos detempo integral dão lugar às jornadas mais curtas.

Em termos de tendências recentes, deve ser ressaltado o expressivo cresci-mento da proporção de aposentados entre os idosos economicamente ativos, comodecorrência da ampliação da cobertura previdenciária pós-Constituição de 1988.De fato, como pode ser visto em outros artigos deste livro, entre 1981 e 2001 aproporção de aposentados acima de 60 anos de idade cresceu de 49% para 68%no meio urbano e de 59% para 92%(!) no rural. Entre as mulheres, esse aumentofoi de 39% para 49% no meio urbano e de 43% para 79% no meio rural. Entre-tanto, esse crescimento estrondoso da cobertura previdenciária, sobretudo rural,não teve o impacto que se poderia esperar sobre a atividade econômica, ou seja, obenefício da aposentadoria, enquanto se reverteu em um importante instrumentode geração de renda familiar e combate à pobreza, aparentemente não gerou nenhumincentivo ao afastamento do trabalho. Com efeito, nesse mesmo período, as taxasde atividade masculinas ficaram praticamente constantes (crescimento de 36%para 38% no urbano e mantidas em 60% no rural) e as femininas cresceram (9%para 12% no urbano e de 13% para 19% no rural).

Assim, a tendência de manutenção dos níveis de atividade dos idosos,verificada na Seção 2, é reforçada pela evidência de que a ampliação do principalincentivo financeiro ao afastamento do trabalho, o benefício da aposentadoria,não parece estar produzindo esse resultado. A justificativa mais plausível dessatendência é o impacto da renda do idoso (tanto a fatia proveniente da aposentadoriaquanto a do trabalho) em sua renda familiar, que, considerando-se apenas os idososque coabitam com outros familiares, chega a representar quase 60% do total darenda das famílias urbanas e quase 70% das rurais.

Dado o crescimento inexorável do peso relativo de idosos no mercado detrabalho brasileiro, enfatiza-se, uma vez mais, a necessidade, até o momento negli-genciada, de adequar um número expressivo de novos postos de trabalho no Brasilà absorção de um contingente crescente de mão-de-obra idosa, com níveis deescolaridade inferiores ao da média populacional, de qualificação muitas vezes

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479OS IDOSOS NO MERCADO DE TRABALHO: TENDÊNCIAS E CONSEQÜÊNCIAS

defasada, de difícil reciclagem, mas aproveitando-se, em contrapartida, as vanta-gens comparativas oferecidas pela maturidade.

BIBLIOGRAFIABARROS, R. P. de, MENDONÇA, R. Uma análise da comparabilidade entre as principais pesqui-

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