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OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA ELÉTRICA E DO GÁS NATURAL NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA ELÉTRICA E DO GÁS NATURAL NO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO MARÇO DE 2019 EX ANTE CONSULTORIA ECONÔMICA

OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA …...PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou um processo regular de encarecimento

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OS IMPACTOS DOS PREÇOS DAENERGIA ELÉTRICA E DO GÁSNATURAL NO CRESCIMENTO EDESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

OS IMPACTOS DOS PREÇOS DAENERGIA ELÉTRICA E DO GÁSNATURAL NO CRESCIMENTO EDESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

MARÇO DE 2019EX ANTE CONSULTORIA ECONÔMICA

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ANÁLISE PRODUZIDA POR:

FERNANDO GARCIA DE FREITASANA LELIA MAGNABOSCO

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Índice1. PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

2. RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIAINTENSIVA EM ENERGIA

3. CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOSSOBRE A INDÚSTRIA

4. CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DELONGO PRAZO

5. IMPACTOS DOS CENÁRIOS ENERGÉTICOS SOBREO CRESCIMENTO E A COMPETITIVIDADE DO PAÍS

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS

a4

8

16

34

46

58

61

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PREÇO DA ENERGIA,CRESCIMENTO E

DESENVOLVIMENTOECONÔMICO

Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou umprocesso regular de encarecimento da energiaelétrica e do gás natural, duas importantes fontes deenergia empregadas na produção e no consumofinal das famílias. O encarecimento elevou de formaintensa os custos de produção da indústria brasilei-ra, principalmente dos segmentos que empregamintensivamente energia elétrica ou gás natural. Ocrescimento do custo unitário da energia superougrandemente os índices de inflação, consubstanci-ando aumentos reais de custo muito fortes.

Nesse mesmo período, a indústria brasileiraenfrentou a competição internacional com tendên-cia de queda de preços das manufaturas, principal-mente em razão do avanço da produção chinesado final dos anos 2000 em diante. O resultadodesses dois processos – queda de preços e aumentode custos – foi a redução de margens e o baixoinvestimento. Em alguns casos, a relação custo-preço caminhou de tal forma que houve desinvesti-mento com o fechamento de fábricas em váriossegmentos da indústria. A queda do investimentoindustrial e a perda de produção da indústriamanufatureira contribuíram negativamente para ocrescimento do PIB nos últimos dez anos.

Roteiro do estudo

Este estudo analisa o processo de perda de competi-tividade indústria e suas consequências para aeconomia brasileira. O Capítulo 2 do relatóriodefine o conceito de indústria intensiva em energia emensura sua contribuição para a economia brasilei-ra. Essa avaliação é feita com base em dados daPesquisa Industrial Anual do IBGE para o ano de2016. A pesquisa traz informações de produção ecustos que permitem fazer análises bastantedetalhadas sobre a dinâmica da indústria. Alémdisso, a pesquisa traz informações harmonizadaspara todos os setores industriais, o que possibilita acomparação setorial.

O Capítulo 3 traz uma análise sobre o encarecimen-to da energia elétrica e do gás natural com base emindicadores de custo unitário da energia.Alternativamente às análises tradicionais, queempregam medidas de custo da energia porunidade de energia, o presente e estudo avalia aevolução para os setores de atividade da indústriabrasileira do custo, em reais e em dólares, daenergia por unidade de produto. Essa medida decusto unitário pode ser comparada diretamente aosindicadores de evolução e preços das mercadorias,

Roteiro do estudo

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indicando a melhora ou a piora do retorno dasoperações industriais. Essa evolução é fundamentalpara entender as dinâmicas de produção e deinvestimento na indústria de transformação.

O estudo analisa, por fim, os efeitos que umareversão do processo de encarecimento da energiaelétrica e do gás natural teria sobre para a indústriabrasileira. Para tanto são traçados cenários para aeconomia brasileira e para os mercados de energiaelétrica e de gás natural. Esses cenários são empre-gados para simular os efeitos de diferentes trajetóri-as de preços da energia sobre a economia brasilei-ra, destacando o potencial de ampliação das taxasde crescimento econômico e a contribuição daredução de custos para o controle da inflação.

Os resultados do estudo são contundentes: emtermos históricos, as estimativas indicam que oprocesso de encarecimento da energia, de fato,levou a perdas de produção e a uma reduçãointensa do investimento, com impacto sobre ocrescimento econômico e a inflação. Olhando para

Resultados

frente, os efeitos conjuntos de cenários de preços daenergia elétrica e do gás natural mais competitivossão bastante expressivos para a economia brasilei-ra, principalmente no que diz respeito ao crescimen-to econômico do país. O crescimento do PIB saltariade 2,2% ao ano para 3,3% ao ano na média dospróximos dez anos, com impacto mais forte noperíodo entre 2018 e 2023. A taxa de expansãodo PIB per capita passaria de 1,6% ao ano para2,6% ao ano na média dos próximos dez anos,permitindo que a renda média do brasileiro cresçamais rapidamente que a da média mundial.

Em 2028, o PIB brasileiro teria R$ 942 bilhões amais do que o previsto no cenário de referência.Essa renda é quase a soma do PIB dos estados doRio de Janeiro e de Minas Gerais em 2016 eequivaleria a quase a metade do PIB de São Paulodaquele ano. Ao longo de dez anos, as diferençasacumuladas de PIB teriam um valor presente de R$3,9 trilhões, indicando um ganho de riquezabastante expressivo, o qual pode ser atribuído àreversão do quadro de encarecimento da energiano país.

6 | PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

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Esse quadro de melhoria das perspectivas decrescimento e o impacto da queda de custosda energia sobre a taxa de inflação sãoelementos fundamentais para restabelecer asexpectativas econômicas e possibilitar amanutenção das taxas de juros da economiabrasileira em patamar reduzido. Constituem,portanto, a base de uma política econômicade recuperação das atividades em basescompetitivas e com visão de longo prazo.

Uma política que trouxesse os preços daenergia elétrica e do gás natural para níveiscompetitivos deve ser entendida como umapolítica de crescimento econômico, mas,sobretudo, como uma política de desenvolvi-mento humano. O avanço das condiçõesmateriais da sociedade brasileira alcançadocom o crescimento econômico mais rápidoinclui o aumento da expectativa de vida dapopulação e da escolaridade média dasnovas gerações. Isso tudo tem impacto sobreo desenvolvimento humano.

Tomando por referência o índice deDesenvolvimento Humano (IDH) do Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), é possível projetar os efeitos docrescimento econômico mais intenso sobre oposicionamento do Brasil no ranking interna-cional de desenvolvimento humano. Em2013, o Brasil ocupava a 79ª posição.Passados 4 anos, o país permaneceu namesma posição, ficando abaixo de Cuba eda Venezuela. Vale mencionar, também, queo Brasil estava atrás do Irã e de Sri Lanka.

Com um crescimento econômico superior, oBrasil poderia progredir mais rapidamente noranking do desenvolvimento humano,alcançando índices próximos ao de paísescomo a Turquia ou o Panamá. Esse é umavanço que não pode ser ignorado.

Implicação para o desenvolvimento humano

PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO | 7

Posto País IDH1 Noruega 0,9532 Suiça 0,9443 Austrália 0,9394 Irlanda 0,9385 Alemanha 0,9366 Islândia 0,9357 Hong Kong 0,9337 Suécia 0,9339 Cingapura 0,932: : :41 Portugal 0,84743 Bahrain 0,84644 Chile 0,84345 Hungria 0,83846 Croácia 0,83147 Argentina 0,825: : :55 Urugua1 0,80456 Kuwait 0,803: : :63 Costa Rica 0,79464 Turquia 0,79165 Ilhas Maurício 0,79066 Panamá 0,789: : :73 Cuba 0,777: : :78 Venezuela 0,76179 Brasil 0,759: : :

Mundo 0,728

Tabela 1.1.Índice de Desenvolvimento Humano, 2017

Tabela 1.1.Índice de Desenvolvimento Humano, 2017

Fonte: PNUD.

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RENDA, EMPREGO EIMPOSTOS NA

INDÚSTRIA INTENSIVAEM ENERGIA

Este capítulo tem por objetivo apresentar os indica-dores socioeconômicos da indústria intensiva emenergia, comparando-os com os indicadoresmédios da indústria e, em alguns casos, com os daeconomia brasileira como um todo. Essa análisepartiu da identificação dos setores industriaisintensivos em energia. Os critérios de classificaçãoe a seleção dos setores industriais segundo aintensidade no uso de energia são apresentados emdetalhe no Anexo Metodológico I.

As Tabelas 2.1 a 2.6 apresentam um conjuntoamplo de indicadores que caracterizam a indústriaintensiva em energia. Esses indicadores revelam acontribuição econômica e social dessa indústria epermitem avaliar a importância do setor no contextoeconômico brasileiro.

Foram levantados e analisados indicadores decontribuição para a produção e emprego, decomposição de custos, de qualidade do emprego,de contribuições sociais, de contribuições para ocrescimento econômico e de contribuições para ocomércio exterior. Os indicadores foram construídoscom base em informações da Pesquisa IndustrialAnual (PIA) de 2016, do IBGE, do Relatório Anualde Indicadores Sociais de 2016, elaborado peloMinistério do Trabalho e Emprego (MTE), e doMinistério do Desenvolvimento, Indústria eComércio (MDIC).

No presente trabalho, são considerados comointensivos em energia todos os setores industriaisque são grandes consumidores de energia, nosentido de que são responsáveis pela absorção emgrande volume da energia consumida no país, ouaqueles para os quais a energia é um item funda-mental na formação de custos e na geração devalor. A metodologia adotada neste estudo segueas análises feitas pela Empresa de PesquisaEnergética (EPE) do Ministério de Minas e Energia,pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) e pela Ecorys (2009), em estudo sobre oconsumo de energia na Europa. O AnexoMetodológico 1 detalha os critérios adotados nesteestudo.

Para identificar esses setores foram usados os dadosda Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2016 do IBGEpara as empresas com cinco ou mais funcionários.As variáveis utilizadas na construção dessesindicadores foram: (i) o consumo de combustíveis ede energia elétrica, (ii) o custo das operaçõesindustriais e (iii) o valor da transformação industrial,todas expressas em valores monetários.Sobre osconceitos de custo operacional e valor da transfor-mação industrial, ver Anexo Metodológico 1.

Seguindo a definição de intensidade de energiaestabelecida nos estudos referidos acima e reunidosnas análises realizadas para a Abrace pela

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10 | RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Gráfico 2.1.Número de empresas intensivas e não intensivas em energia,Brasil, 2013 e 2016

Gráfico 2.1.Número de empresas intensivas e não intensivas em energia,Brasil, 2013 e 2016

GVConsult, em 2003, e pela Ex Ante consultoriaEconômica, em 2015, foram considerados comointensivos em energia:

(i) os setores industriais com participação igual ousuperior a 2% no total do consumo industrial deenergia;

(ii) cujo peso das despesas comenergia no custo operacional foi

(iii)valor da transformação industrial se

mostrou igual ou superior a 7,5%.

No primeiro caso, estão incluídos os segmentos queabsorvem grandes quantidades de energia. Sãoquinze setores que, somados, responderam pormais de 50% do consumo industrial de energia nopaís. Na segunda situação, de segmentos cujasdespesas com energia superam 7,5% dos custosoperacionais, estão mais vinte e dois setoresindustriais que não foram selecionados pelo

os setores industriaissuperior a

7,5%; ousetores industriais cujo peso das despesas comenergia no

primeiro critério. Nesse grupo, estão o primeiroquartil dos setores ordenados pelo peso da energianos custos, o qual representa o grupo de atividadesindustriais em que um aumento da energia têmimpacto elevado sobre os custos industriais. Por fim,há mais onze setores que estavam na situação deindústrias cujas despesas com energia superam7,5% do valor da transformação industrial.

Ao total, identificou-se 48 setores intensivos emenergia em 2016 conforme algum dos três critérios.Seguindo esses mesmo critérios, em 2013, haviamsido identificados apenas 33 setores intensivos emenergia. Em razão disso, o número de empresasintensivas em energia cresceu de 50,4 mil em 2013para 75,2 mil em 2016 (Gráfico 2.1). O cresci-mento do número de setores classificados comointensivos em energia se deu principalmente noterceiro indicador, mostrando o aumento do pesoda energia no valor da transformação industrialentre 2013 e 2016. Esse ponto será analisado emmaior detalhe no capítulo seguinte deste estudo.

50.373

135.255

75.223

100.537

-

40.000

80.000

120.000

160.000

Intensivos em energia Demais setores industriais

2013 2016

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RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA | 11

Tabela 2.1.Faturamento, renda e emprego na indústria, Brasil, 2016

Tabela 2.1.Faturamento, renda e emprego na indústria, Brasil, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e de transformação.

(B/A) (C/A)

Número de firmas 175.760 75.223 100.537 42,8% 57,2%

Trabalhadores 8.751.359 3.965.210 4.786.149 45,3% 54,7%

Faturamento (R$ bilhões) 3.218,278 1.938,410 1.279,868 60,2% 39,8%

por trabalhador (R$ ) 367.746,10 488.854,35 267.410,80 132,9% 72,7%

Valor da transformação industrial (R$ bilhões) 1.094,706 657,030 437,676 60,0% 40,0%

por trabalhador (R$) 125.089,88 165.698,74 91.446,40 132,5% 73,1%

Valor adicionado - PIB (R$ bilhões) 763,840 448,888 314,951 58,8% 41,2%

por trabalhador (R$ ) 87.282,39 113.206,69 65.804,73 129,7% 75,4%

Salários e outras remunerações (R$ bilhões) 286,237 145,259 140,978 50,7% 49,3%

por trabalhador (R$ ) 32.707,74 36.633,38 29.455,45 112,0% 90,1%

RelativosIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)Indicadores

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12 | RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA

Tabela 2.2.Composição das despesas na indústria, 2016, BrasilTabela 2.2.Composição das despesas na indústria, 2016, Brasil

Fonte: PIA 2016, IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e de transformação; (2)Inclui contribuições e benefícios sociais; (3) energia elétrica e combustíveis.

(B/A) (C/A)

Custos das operações industriais (R$ bilhões) 1.413,348 826,967 586,381 58,5% 41,5%

(%) do valor da transformação industrial 129,1% 125,9% 134,0% 97,5% 103,8%

Gastos com pessoal (R$ bilhões)2 436,505 229,848 206,657 52,7% 47,3%

(%) dos custos das operações industriais 30,9% 27,8% 35,2% 90,0% 114,1%

Compra de energia3 (R$ bilhões) 77,083 62,517 14,566 81,1% 18,9%

(%) dos custos das operações industriais 5,5% 7,6% 2,5% 138,6% 45,5%

IndicadoresIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)

Relativos

Gráfico 2.2.Participação das despesas com mão de obra e energiano custo das operações industriais, Brasil, 2016

Gráfico 2.2.Participação das despesas com mão de obra e energiano custo das operações industriais, Brasil, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Inclui contribuiçõese benefícios sociais; (2) energia elétrica e combustíveis.

7,6%

2,5%

27,8%35,2%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

Intensivos em energia Demais setores industriais

Mão de obra(1) Energia(2)

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RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA | 13

Segundo as estatísticas da PIA apresentadas naTabela 2.1, dos 8,8 milhões de trabalhadoresempregados na indústria brasileira em 2016,45,3% (4,0 milhões) trabalhavam em setoresindustriais intensivos em energia. O faturamento daindústria intensiva em energia totalizou R$ 1,938trilhão, o equivalente a 60,2% do faturamento totalda industrial brasileira em 2016. O valor datransformação industrial da indústria intensiva emenergia somou R$ 657 bilhões e seu valor adiciona-do, R$ 449 bilhões. Esses valores representaram,respectivamente, 60,0% e 58,8% dos valores detransformação industrial e adicionado em todos ossetores da indústria brasileira naquele ano.

O valor adicionado por trabalhador foi de R$113,21 mil em 2016, contra R$ 65,80 mil nosdemais setores industriais e R$ 87,28 mil na médiada indústria brasileira. Esses dados revelam que,

além de responder por parcela expressiva daprodução industrial nacional, a indústria intensivaem energia se destaca pelo elevado padrão deprodutividade.

Os indicadores de composição das despesas(Tabela 2.2) mostram as diferenças entre a indústriaintensiva em energia e os demais setores industriais.Em 2016, dos R$ 826,97 bilhões de custosoperacionais da indústria intensiva em energia, R$229,85 bilhões foram atribuídos aos custos com amão de obra, incluídas as despesas com contribui-ções sociais e demais benefícios. A aquisição deenergia elétrica e de combustíveis somou cerca deR$ 62,52 bilhões. As despesas com mão de obra ecom aquisição de energia elétrica e de combustíveiscorresponderam a, respectivamente, 27,8% e 7,6%dos custos operacionais (Gráfico 2.2).

Tabela 2.3.Qualidade do emprego, Brasil, 2016

Tabela 2.3.Qualidade do emprego, Brasil, 2016

Fonte: Ministério do Trabalho. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e detransformação.

(B/A) (C/A)

Participação das mulheres no emprego (%) 30,3% 25,7% 34,1% 84,9% 112,5%

Tempo de permanência no emprego (anos) 5,0 5,2 4,6 104,7% 92,7%

Jornada semanal de trabalho (horas) 43,27 43,15 43,36 99,7% 100,2%

Escolaridade média da mão-de-obra (anos) 11,2 11,0 11,4 98,3% 101,4%

IndicadoresIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)

Relativos

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Há um contraste enorme com os indicadores dosdemais setores industriais, cuja participação dasdespesas com energia nos custos operacionais foide apenas 2,5% em 2016, ao passo que a partici-pação das despesas com pessoal atingiu 35,2%.Com isso, a indústria intensiva em energia respon-deu por 81,1% das despesas com energia daindústria brasileira e 52,7% dos gastos com pesso-al.

A maior produtividade da indústria intensiva emenergia se vê refletida na oferta de postos detrabalho de melhor qualidade e com maior remune-ração. Apesar de contar com uma participação dasmulheres na força de trabalho menor que a dosdemais setores da indústria brasileira, o tempo de

permanência no emprego foi um pouco maior quenos demais setores: 5,2 anos contra 4,6 anos(Tabela 2.3).

Em 2016, conforme ilustra a Tabela 2.4, as contri-buições e benefícios totalizaram R$ 78,7 bilhões,sendo R$ 26,5 bilhões de contribuições à previdên-cia social e R$ 11,9 bilhões de depósitos no FGTS.Esse valor representou 57,3% do total de contribui-ções pagas pela indústria brasileira nesse ano.

Além das contribuições sociais, a indústria intensivaem energia arrecadou, em 2016, R$ 264,93bilhões em impostos, 53,9% do total arrecadadopela indústria brasileira. Desse valor, R$ 144,84bilhões foram em Imposto sobre Circulação de

14 | RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA

Tabela 2.5.Investimento, Brasil, 2016Tabela 2.5.Investimento, Brasil, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e de transformação; (2) Total daformação bruta de capital fixo sobre a diferença entre o valor adicionado e os gastos com pessoal, a qual éequivalente ao lucro bruto das operações industriais.

Tabela 2.4.Contribuições sociais, impostos e taxas, Brasil, 2016Tabela 2.4.Contribuições sociais, impostos e taxas, Brasil, 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e de transformação; (2) Inclui todos osimpostos e contribuições pagos pela pessoa jurídica, exceto ICMS e PIS/PASEP.

(B/A) (C/A)

Total de contribuições e benefícios 137,424 78,700 58,724 57,3% 42,7%

Contribuições para a previdência social 50,434 26,525 23,909 52,6% 47,4%

Contribuições para a previdência privada 5,248 3,432 1,816 65,4% 34,6%

Contribuições para o FGTS 24,017 11,881 12,136 49,5% 50,5%

Benefícios concedidos aos empregados 57,725 36,861 20,863 63,9% 36,1%

Arrecadação de impostos e taxas 491,174 264,929 226,245 53,9% 46,1%

ICMS 254,238 144,838 109,400 57,0% 43,0%

PIS/PASEP 32,959 18,858 14,101 57,2% 42,8%

Outros impostos e taxas² 203,977 101,233 102,744 49,6% 50,4%

IndicadoresIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)

Relativos

(B/A) (C/A)

Total da formação bruta de capital fixo 185,504 118,254 67,250 63,7% 36,3%

Aquisições de ativo fixo 177,857 112,635 65,223 63,3% 36,7%

Despesas com melhorias 7,647 5,619 2,028 73,5% 26,5%

Excedente operacional reinvestido (%)² 56,7% 54,0% 62,1% 95,3% 109,6%

IndicadoresIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)

Relativos

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RENDA, EMPREGO E IMPOSTOS NA INDÚSTRIA INTENSIVA EM ENERGIA | 15

Mercadorias e Serviços (ICMS), o que correspon-deu a 57% da arrecadação de ICMS da indústriabrasileira.

Assim, a carga tributária do setor alcançou R$ 344bilhões em 2016, segundo o conceito do IBGE,que inclui além dos impostos e taxas, as contribui-ções ao INSS e os depósitos do FGTS. Isso equiva-leu a 76,6% do valor adicionado pela indústriaintensiva em energia nesse ano.

A indústria intensiva em energia também contribuipositivamente para o crescimento econômico dopaís. No ano de 2016, essa indústria investiu R$118,25 bilhões de acordo com a Tabela 2.5. Issoequivaleu a 63,7% do investimento industrialbrasileiro. O investimento da indústria intensiva emenergia representou 54,0% do excedente operacio-nal das empresas que compõem esse grupo deatividades em 2016. Esses dados mostram oenorme esforço de formação de capital realizado

pelas indústrias intensivas em energia, bem como asua elevada contribuição ao crescimento econômi-co nacional no período recente.

Por fim, destaca-se a contribuição da indústriaintensiva em energia na geração de divisas exter-nas. Do total de exportações de produtos manufatu-rados e semimanufaturados, que foi de USD 169bilhões em 2016, cerca de USD 86 bilhões foramconstituídos de produtos da indústria intensiva emenergia. Esse valor correspondeu a pouco mais de50% do total de exportações de produtos industriali-zados do país. As importações de produtos intensi-vos em energia foram menores, de USD 65 bilhões,o que resultou em um saldo comercial de USD 20bilhões em 2016. Sem esse resultado positivoproporcionado pela indústria intensiva em energia,a balança comercial de bens industriais do paísteria apresentado um resultado ainda mais desfavo-rável.

Tabela 2.6.Comércio exterior, Brasil, 2016

Tabela 2.6.Comércio exterior, Brasil, 2016

Fonte: IBGE e MDIC. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. Notas: (1) Extrativa e de transformação.

(B/A) (C/A)

Saldo Comercial 32,784 20,532 12,252 62,6% 37,4%

Exportações 168,489 85,635 82,854 50,8% 49,2%

(%) das exportações na produção nacional 53,7% 45,5% 66,1% 84,7% 123,0%

Importações 135,704 65,103 70,602 48,0% 52,0%

(%) das importações no consumo aparente 48,3% 38,8% 62,4% 80,3% 129,1%

IndicadoresIndústria

total1 (A)

Intensiva em

energia (B)

Demais

setores ( C)

Relativos

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CUSTO UNITÁRIO DAENERGIA E SEUS EFEITOS

SOBRE A INDÚSTRIA

Nos últimos 18 anos, o custo da energia teve umaevolução muito desfavorável para a indústriabrasileira, o que acarretou consequências severassobre a produção, o comércio externo e os investi-mentos. Em última instância, a crise industrialparcialmente causada pelo aumento das despesascom energia refletiu-se na própria perda de dinamis-mo do crescimento econômico, visto que a quedada produção industrial não só conteve a taxa deexpansão do PIB brasileiro, como diminuiu ademanda por bens e serviços intermediários, quedeixaram de ser produzidos e de gerar renda eemprego.

Este capítulo tem por objetivo evidenciar o encareci-mento de duas fontes estratégicas de energia para aprodução industrial – a energia elétrica e o gásnatural. Além disso, são analisados os efeitos doaumento do custo com energia sobre a produção eo investimento tendo por referência o contextobrasileiro e o cenário internacional. Por fim, estecapítulo avalia o reflexo do encarecimento daenergia em termos do comércio exterior e daprodução industrial no Brasil.

Nessa análise, tem especial importância o conceitoamplo de consumo de energia, segundo o qual ovolume de energia consumida por uma sociedade érealizado de duas formas: (i) de maneira direta, na

aquisição de energia para o consumo próprio oupara a produção de bens e serviços que sãodemandados no país ou exportados; ou (ii) de formaindireta, na aquisição de bens e serviços importa-dos, que contém energia incorporada em suaprodução, para o consumo ou investimento no país.

A diferença fundamental entre essas duas formas deconsumo de energia é que, no primeiro caso, hágeração de emprego e agregação de valor nopaís, enquanto que, no segundo caso, o emprego ea renda são gerados no exterior. Assim, quando háo encarecimento da energia num país, tende aaumentar a quantidade de energia importada naforma de mercadorias e serviços prontos, o que temimpactos negativos sobre a produção, a renda e oemprego nacionais. Isso é de particular relevânciapara a indústria e, sobretudo, para os segmentosindustriais cuja produção é intensiva em energia.

Em geral, as estatísticas brasileiras de custo daenergia estão dispostas na forma de tarifas deenergia. Por exemplo, o Balanço EnergéticoNacional (BEN), elaborado pela Empresa dePesquisa Energética do Ministério de Minas eEnergia, traz o custo médio anual da energiaelétrica em dólares norte-americanos por MWh e o

3.1. A evolução do custo da energia no Brasil

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do gás natural em dólares norte-americanos pormilhão de m³. Os dados dão uma noção daevolução dos preços da energia, mas não permitemavaliar o impacto dessa evolução sobre a competiti-vidade das empresas.

Do ponto de vista econômico-financeiro, o indica-dor mais adequado para avaliar a evolução docusto da energia – ou de qualquer outra componen-te de despesa – é o de custo unitário, o qual édefinido como a despesa com energia por unidadeproduzida de mercadoria. Esse indicador tambémpode ser visto como a multiplicação do coeficientede consumo específico de energia (consumo deenergia por tonelada de produção) pelo preçounitário da energia. Dessa forma, estão presentesnesse indicador tanto as tendências de consumoespecífico de energia como a evolução de seucusto. Por isso, além de permitir uma avaliaçãoprecisa do impacto da evolução de preço daenergia sobre a competitividade dos negócios, ocusto energético unitário de produção possibilitacomparações internacionais diretas.

Para avaliar as tendências do custo da energia porunidade de produção – indicador que será chama-do de custo unitário da energia – foram emprega-dos dados de despesas com energia elétrica e gás

natural e informações sobre a produção industrial.Como os setores de atividade econômica produzemvários tipos de mercadorias, as estatísticas deprodução estão limitadas ao uso de índices deprodução física, os quais são calculados com basena média ponderada das taxas de crescimento dasproduções das diversas mercadorias de cada setor.A ponderação é dada pelo peso dessa produçãoem valor monetário em algum período específicodefinido como base do índice.

Os dados sobre custos da eletricidade incorridos naprodução foram obtidos no Balanço EnergéticoNacional, com informações de 2000 a 2017. Oscustos são calculados em dólares norte-americanose em reais, tomando por referência o custo daenergia elétrica de uso industrial por MWh e oconsumo industrial de energia elétrica. Para 2018,os dados foram atualizados com base na variaçãoacumulada no ano das despesas industriais comenergia elétrica calculada pela ANEEL.

No caso do gás natural, as despesas foram calcula-das tomando por base o preço médio do gásnatural no mercado brasileiro e a quantidade degás natural utilizada pela indústria conforme o BEN.A atualização de consumo levou em consideraçãoa variação acumulada em 2018 da produção e da

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importação de gás natural publicadas pelaAgência Nacional do Petróleo. Os preços foramatualizados considerando os aumentos médios dogás natural industrial nas distribuidoras, que passoude USD 10,65 por MMBTU em 2017 para USD10,96 por MMBTU em 2018 segundo apontamen-to da Abrace.

A base dos índices de custo unitário da energia foidefinida como 2000 = 100. A partir desse ano, osíndices de custo unitário da energia foram calcula-dos multiplicando-se o índice do ano anterior pelavariação das despesas com energia e dividindo-seesse produto pela variação do índice de produção.Os índices de produção física foram apurados naPesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF) do IBGE.

Para avaliar o efeito do câmbio sobre essas tendên-cias, também foram calculados índices de custounitário em dólares norte-americanos (USD). Astaxas de crescimento dos custos unitário em reaisforam comparadas com a evolução de preços dosbens industriais (IPA bens industriais, da FGV) e da

inflação oficial no país conforme o IPCA do IBGE.Os custos unitários em dólares norte-americanosforam comparados com a evolução dos preçosindustriais no resto do mundo, tomando por referên-cia os índices de preços de bens industriais dosEstados Unidos e da União Europeia (média de 28países).

O Gráfico 3.1 traz a evolução do custo unitário comenergia elétrica da indústria brasileira de 2000 a2018. Os valores empregados para o cálculo dosíndices são expostos no Anexo Estatístico.

O primeiro aspecto que chama a atenção é o fatode que a indústria teve uma evolução bastantedesfavorável do custo unitário com energia elétrica.Entre 2000 e 2018, o índice de custo unitário emreais passou de 100 para 806, indicando umaumento de mais de 700% em 18 anos. Nesseperíodo, o IPA-BI elevou-se à taxa de 281%. Issoimplica que o custo unitário da energia elétrica naindústria cresceu quase 425% acima do aumentodos preços médios industriais. Na comparaçãocom a taxa média de inflação, medida pela

CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 19

Gráfico 3.1Custo unitário com energia elétrica, índice base 2000 = 100

e taxas de variação acumulada entre 2000 e 2018

Gráfico 3.1Custo unitário com energia elétrica, índice base 2000 = 100

e taxas de variação acumulada entre 2000 e 2018

Fonte: Ministério de Minas eEnergia, ANEEL, IBGE e FGV.Elaboração: Ex Ante ConsultoriaEconômica.

-

200

400

600

800

1.000

2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

ÍNDICE DE DESPESA UNITÁRIA em R$ (2000=100) ÍNDICE DE DESPESA UNITÁRIA em USD (2000=100)

706%

304%

IPCA: 209%

IPA: 281%

IPA -EUA: 52%

IPA -UE: 40%

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Gráfico 3.2Custo unitário com energia elétrica por setor industrialTaxas de variação acumulada entre 2000 e 2017

Gráfico 3.2Custo unitário com energia elétrica por setor industrialTaxas de variação acumulada entre 2000 e 2017

Fonte: Ministério de Minas eEnergia, ANP, IBGE e FGV.Elaboração: Ex Ante ConsultoriaEconômica.

variação do IPCA, o encarecimento da energiaelétrica industrial foi ainda maior: entre 2000 e2018, o custo unitário da energia elétrica para aindústria cresceu 497,4% acima do IPCA, queacumulou variação de apenas 209% nesses 18anos.

Nota-se, em segundo lugar, que a variação docusto unitário com energia elétrica em moeda norte-americana foi de mais de 304%. Isso indica que oaumento do custo unitário com energia elétrica emdólares norte-americanos foi muito mais elevadoque os aumentos dos preços industriais nos EstadosUnidos e na União Europeia, os quais se elevaramem, respectivamente, 52% e 40% entre 2000 e2018.

O Gráfico 3.2 traz a evolução do custo unitário comenergia elétrica para alguns setores industriais:cimento, ferro-gusa e aço, ferroligas, metais nãoferrosos e papel e celulose. Os dados apresentadosno gráfico referem-se às taxas de variação entre2000 e 2017 do custo unitário com energiaelétrica em R$ e em dólares norte-americanos. Para

a maior parte dos setores, os aumentos superam400% em moeda nacional e 200% em dólares.Essas taxas superam em larga medida as variaçõesdos preços industriais no Brasil e no exterior, indican-do fortes perdas de margens para os segmentosselecionados.

O custo unitário com gás natural da indústriabrasileira cresceu de forma ainda mais acentuadaentre 2000 e 2018.

A variação foi de 1.410% em 18 anos. Tomandopor referência a variação do IPCA no período, essatrajetória implicou um aumento real de mais de1.200%! O Gráfico 3.2 revela que o aumento decusto unitário se concentrou em três momentosespecíficos: entre 2006 e 2007, o aumento docusto unitário com gás natural foi de 134%; entre2010 e 2015, a elevação foi de 124,7%. De2015 a 2018, as tarifas do gás registraramvariação acumulada de 31,8%.

Os valores empregados parao cálculo dos índices são expostos no AnexoEstatístico. A evolução é apresentada no Gráfico3.3.

556%

653%677%

268%

524%

228%

277% 289%

84%

213%

0%

200%

400%

600%

800%

Cimento Ferro-gusa e aço Ferroligas Metais não-ferrosos

Papel e celulose

Em R$ Em USD

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CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 21

Gráfico 3.3Custo unitário com gás natural, índice base 2000 = 100e taxas de variação acumulada entre 2000 e 2018

Gráfico 3.3Custo unitário com gás natural, índice base 2000 = 100e taxas de variação acumulada entre 2000 e 2018

Fonte: Ministério de Minas eEnergia, ANP, IBGE e FGV.Elaboração: Ex Ante ConsultoriaEconômica.

Um aspecto do Gráfico 3.3 que chama a atenção éo fato de o custo unitário da indústria se elevarmesmo após a prática do desconto no preço do gásnacional que passou a valer a partir de 2011. Issoocorreu porque houve queda da produção industri-al, reduzindo o denominador da expressão do custounitário. Em outros termos, mesmo com desconto, ogás natural por unidade de produto industrial ficoumais caro.

O aumento do custo unitário com gás natural daindústria brasileira em dólares foi igualmenteacentuado entre 2000 e 2018: 656% na média daindústria. Essa variação superou os 52 pontospercentuais de aumento dos preços industriais nosEstados Unidos. No caso da Europa, a compara-ção é ainda mais desfavorável, pois os preçosindustriais cresceram 40% na média das 28economias da Zona do Euro.

É importante observar que esses aumentos do custounitário do gás natural foram muito superiores aosdo preço internacional do petróleo. Entre 2000 e2018, o preço do petróleo bruto Brent (FOB) em

dólares norte-americanos elevou-se à taxa de 5,0%ao ano. No mercado norte-americano, a cotaçãoWTI (FOB) em USD aumentou à taxa de 4,4% aoano no período. Isso indica aumentos reais do custounitário com gás natural no Brasil entre 6,6 e 7,1pontos percentuais ao ano em relação ao preço dopetróleo, o que equivale a aumentos acumuladosem 18 anos de 213,6% e 245,3% em relação àsduas cotações do preço do petróleo.

O Gráfico 3.4 traz a evolução do custo unitário comgás natural para alguns setores industriais seleciona-dos: Mineração, química, têxtil, alimentos ebebidas e cerâmica. Os dados apresentados nográfico referem-se às taxas de variação entre 2002e 2017 do custo unitário com gás ntarual em R$ eem dólares norte-americanos. Para a maior partedos setores, os aumentos superam ou se aproximamde 1000% em moeda nacional e 400% em dólares.Como no caso da energia elétrica, essas taxassuperam em larga medida as variações dos preçosindustriais no Brasil e no exterior, indicando fortesperdas de margens para os segmentos seleciona-dos.

-

400

800

1.200

1.600

2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

ÍNDICE DE DESPESA UNITÁRIA em R$ (2000=100) ÍNDICE DE DESPESA UNITÁRIA em USD (2000=100)

1.410%

656%

IPCA: 209%

IPA: 281%

IPA -EUA: 52%

IPA -UE: 40%

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Gráfico 3.4Custo unitário com gás natural por setor industrialTaxas de variação acumulada entre 2002 e 2017

Gráfico 3.4Custo unitário com gás natural por setor industrialTaxas de variação acumulada entre 2002 e 2017

Fonte: Ministério de Minas eEnergia, ANP, IBGE e FGV.Elaboração: Ex Ante ConsultoriaEconômica.

1028%

738%

1039%

1278%

982%

465%

320%

471%

590%

442%

0%

500%

1000%

1500%

Mineração Química Têxtil Alimentos ebebidas

Cerâmica

Em R$ Em USD

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CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 23

3.2. Custo da energia, produção e investimento

O nível e a evolução do custo unitário com energiaafetam as decisões de produção, de precificação ede investimento das empresas cuja tecnologiarequer o uso intensivo de energia. De um conjuntoamplo de relações entre o custo com energia e asdecisões das empresas, um estudo desenvolvidopela FIPE para a Abrace em 2014, intitulado“Impactos econômicos de uma redução no preço dogás natural”, destacou dois processos que são muitoimportantes do ponto de vista econômico. Emprimeiro lugar, deve-se ter em mente que o custo daenergia interfere diretamente na formação depreços da economia, com reflexos diretos sobre ainflação, o consumo e a produção. Em segundolugar, mas não menos importante, são as relações (i)entre o custo com energia e a rentabilidade dosnegócios e (ii) entre esta última variável e o investi-mento. A Figura 3.1 apresenta de forma sintéticaesses dois mecanismos.

O primeiro mecanismo revela como mudanças nospreços da energia elétrica, ou do gás natural,interferem na produção. Como toda atividadeeconômica requer energia, e em alguns setores o

3.2. Custo da energia, produção e investimento uso de energia é bastante intenso, o nível de preçosda energia é crítico na determinação de custos e depreços das mercadorias. Quando há um aumentodo custo unitário de uma fonte energética qualquer,esperam-se duas reações possíveis das empresas: (i)o repasse dos aumentos de custo para os preços ou(ii) a substituição da fonte de energia.

O repasse de custos a preços tem uma extensãolimitada nas economias abertas ao comércioexterior. Isso porque os preços domésticos sãodeterminados em larga medida pelo preço interna-cional das mercadorias e pela taxa de câmbio,duas variáveis sobre as quais as empresas não têmcontrole. No caso de commodities, os preços sãototalmente determinados no mercado internacional.Apenas nos casos de bens que não podem sercomercializados internacionalmente (o que é muitoraro), ou na situação em que o aumento do custo daenergia é generalizado no mundo, expressivosrepasses de custos a preços são possíveis. Assim,quando o repasse a preço é limitado, o aumento docusto com energia tende a reduzir as margens dasempresas, desestimulando a produção. Se forpossível repassar os aumentos de custos aos preços,de outro lado, a produção também deve se reduzir

Figura 3.1Energia competitiva e desenvolvimento econômico

Figura 3.1Energia competitiva e desenvolvimento econômico

Fonte: Baseado em Fipe (2014).

Energiacompetitiva

Redução deCUSTOS

Aumento deMARGENS

Redução dePREÇOS

Aumento deINVESTIMENTO

Aumento dePRODUÇÃO

Aumento dePRODUÇÃO

DesenvolvimentoEconômico

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em razão da queda no consumo ocasionada peloaumento do preço. No caso de um aumentomundial do custo com energia, a produção tambémdeve se reduzir em razão da queda das exporta-ções.

Quando a fonte de energia pode ser substituída, épossível a busca de fontes alternativas e maiseconômicas de energia. Se for possível a substitui-ção e se houver disponibilidade de uma fonte deenergia mais barata, um produtor pode optar porsubstituir a fonte que ficou relativamente mais cara,evitando assim o aumento de custo da empresa.

A depender da finalidade para qual a energiaelétrica é empregada na transformação industrial,se ela ficar relativamente cara numa região, o gásnatural ou o carvão mineral podem ser empregadosem grande escala, mesmo considerando que seuspreços em termos absolutos sejam elevados. Umexemplo disso é o Japão, país em que o gás naturaltem preço elevado em termos internacionais, mas aenergia elétrica é ainda mais cara. Isso leva o Japãoa ser o maior importador de gás natural do mundo.Contudo, para alguns segmentos industriais – emparticular na metalurgia de não ferrosos e naquímica inorgânica (cloro-soda e gases industriais) –a substituição de energia elétrica por outras fontes éimpossível.

No caso do gás natural ser relativamente barato, háum estímulo ao seu uso. Quando ele é relativamentecaro, contudo, dá-se preferência ao óleo combustí-vel ou ao carvão mineral. Exemplo disso é a China,país com reservas abundantes e baratas de carvãomineral.

De maneira análoga, quando houver uma reduçãodo preço da energia, haverá uma consequenteeconomia de custos para as empresas que empre-gam energia de forma intensiva na produção. Aeconomia gerada será proporcional ao peso daenergia nos custos de produção e à redução dopreço da energia observada. Ela será repassada,total ou parcialmente, aos preços, a depender dovalor da própria economia gerada com a reduçãodo preço da energia e, como visto anteriormente,

das características de mercado onde a empresaatua.

Assim, a redução de preços gerará um aumento doconsumo que é seguido pela expansão da produ-ção. A produção maior significará um PIB maior emais empregos e salários. Assim, a economiagerada com a redução do preço da energia acabaredundando em aumento da renda e crescimentoeconômico.

O segundo mecanismo de transmissão das altera-ções no preço da energia para o desenvolvimentoeconômico é o fator de indução de investimentos, oqual atua quando há uma mudança permanente depreço da energia. A elevação do preço da energia,como dito anteriormente, pode comprimir a margemde rentabilidade das empresas que operam emmercados com preços regulados pelo mercadointernacional. Isso reduz a capacidade de autofi-nanciamento dos investimentos, ao mesmo tempoem que reduz os estímulos à ampliação dos negóci-os. De outro lado, uma redução do preço daenergia provoca redução de custos. No planofinanceiro, essa economia é vista como um potenci-al de retorno maior. A instalação de uma empresaque emprega energia de forma intensiva pode gerarretorno maior para o investimento numa região ondea energia é mais barata. Assim, o capital industrial éatraído para investir em áreas onde há disponibili-dade de energia a preço competitivo.

O investimento induzido pela redução permanentedo preço da energia traz consigo o crescimento daprodução e do emprego. Inicialmente, o aumentode produção ocorre nos setores produtores de bensde capital – construção civil e indústria de máquinase equipamentos – os quais são contratados paraexecutar o plano de investimento e instalar asfábricas. Com a entrada em operação das novasinstalações industriais, há a expansão da produ-ção, com criação de empregos e geração de rendado trabalhado. Deve-se observar que esse mecanis-mo também tem impacto sobre a produtividade,pois não só o investimento em novas fábricas elevaa escala de produção, como ele acelera a introdu-ção de novas tecnologias.

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Assim, por meio dos efeitos sobre o investimento, aredução do preço da energia induz o desenvolvi-mento econômico de um país. Ao contrário, aelevação do custo energético em relação ao restodo mundo contém o investimento, reduz o ritmo deacumulação de capital e freia o crescimentoeconômico. No caso da indústria de transforma-ção, esse quadro leva à perda de competitividade eà redução do progresso tecnológico, com impactossobre o desenvolvimento do país e aumento dasimportações de bens industriais de alto valoragregado.

Para avaliar a importância do preço da energiapara o investimento agregado e industrial de umpaís, foi realizada uma análise estatística queconsiderou o comportamento da formação decapital em 23 países entre 1995 e 2014. Essegrupo de países é bastante representativo, poisrespondeu por quase 3/4 do PIB mundial em2014. Essa análise estatística destacou os efeitosde um amplo conjunto de variáveis sobre o volumede investimentos. As variáveis foram: a disponibili-dade de crédito nas economias, o retorno dosnegócios, a taxa de juros de longo de prazo, opreço dos ativos das empresas, o custo de reposi-ção do capital, a taxa de câmbio, a taxa deinflação e os custos da energia elétrica e do gásnatural.

Os resultados da análise, os quais são detalhadosno Anexo Metodológico II deste relatório, mostramque os preços da energia elétrica e do gás naturaltêm efeitos expressivos sobre o investimento dasnações. No caso da energia elétrica, as estimativasindicaram que um aumento de 10% do preço emUSD por MWh pago pela indústria em um dadoano leva, na média dos países da amostra, a umaredução imediata de 1,2% na formação bruta decapital fixo. Se esse aumento de preço da energiaelétrica for permanente, o investimento deverá sereduzir em 2,5% no longo prazo. Isso indicaclaramente que os aumentos de custo da energiaelétrica reduzem o ritmo de acumulação de capitale, portanto, têm efeitos sobre o crescimento econô-mico das nações.

No caso do gás natural, a sensibilidade também éconsiderável. As estimativas indicaram que umaumento de 10% do preço em USD por m pagopela indústria no gás natural leva a uma reduçãoimediata de 0,6% na formação bruta de capital fixode um país. Se esse aumento de preço do gás forpermanente, o investimento deverá se reduzir em1,3% no longo prazo. Assim como no caso dosaumentos do preço da energia elétrica, o encareci-mento do gás natural reduz o ritmo de acumulaçãode capital e o crescimento econômico dos países. Ocontrário também é verdadeiro: a redução do preço

3

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do gás induz o investimento. Exemplo disso é aredução do preço do gás natural nos EstadosUnidos, a qual é citada comumente como um dosfatores mais importantes para a recuperaçãorecente da indústria norte-americana.

Tomando por referência os mecanismos de desestí-mulo à produção e ao investimento analisadosanteriormente, e considerando os aumentos intensosdos custos unitários da energia elétrica e do gásnatural, a retração industrial brasileira e a reduçãodos investimentos da indústria intensiva em energiaeram duas consequências em boa medida espera-das. A avaliação do comportamento da indústriabrasileira e do mercado de energia entre 2013 e2016 dá uma boa noção dessas relações.¹

3.3. Efeitos diretos do encarecimento da energiasobre a indústria brasileira

3.3. Efeitos diretos do encarecimento da energiasobre a indústria brasileira

No período de 2013 a 2016, o custo unitário daenergia elétrica pago pela indústria de transforma-ção elevou-se em 83,7% em moeda nacional. Emigual comparação, o custo unitário do gás naturalcresceu 35,9%. A variação dos preços industriaisfoi de apenas 18,9% nesse período, indicando oencarecimento relativo da energia para a indústriabrasileira. Isso provocou a retração da produção edo emprego industriais e, por conseguinte, induziuuma queda dos investimentos na indústria.

Conforme ilustram os Gráficos 3.3 e 3.4, o PIB e oemprego por empresa na indústria intensiva emenergia caíram entre 2013 e 2016. As quedasforam superiores a 19% no acumulado dos trêsanos. De outro lado, o PIB por empresa e o empregopor empresa cresceu entre os setores não intensivosem energia. Os aumentos médios nesses setoresforam de 9,4% e 25%, respectivamente.

Em termos de PIB, contudo, o crescimento dossetores não intensivos não compensou a retraçãodos setores intensivos em energia, resultando numaqueda da produção física industrial. Conforme osdados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE,

¹ O ano de 2013 foi escolhido em referência ao estudo realizadopela Ex Ante Consultoria Econômica para a Abrace em 2015. Noreferido estudo, alertava-se para as consequências adversas que oencarecimento da energia teria, sobre a economia brasileira. O anode 2016 é o último para o qual há informações detalhadas sobre aindústria brasileira intensiva em energia.

Gráfico 3.3PIB por empresa, em R$ milhões, indústria, Brasil, 2013 e 2016Gráfico 3.3PIB por empresa, em R$ milhões, indústria, Brasil, 2013 e 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

7,389

2,862

5,967

3,133

-

2,000

4,000

6,000

8,000

Intensivos em energia Demais setores industriais

2013 2016

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CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 27

Gráfico 3.4Empregados por empresa, média anual, indústria,

Brasil, 2013 e 2016

Gráfico 3.4Empregados por empresa, média anual, indústria,

Brasil, 2013 e 2016

Gráfico 3.5Investimento indústria, em R$ bilhões, Brasil,

2013 e 2016

Gráfico 3.5Investimento indústria, em R$ bilhões, Brasil,

2013 e 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

65,2

38,1

52,747,6

0

20

40

60

80

Intensivos em energia Demais setores industriais

2013 2016

144,4

69,5

118,3

67,3

-

40,0

80,0

120,0

160,0

Intensivo Demais

2013 2016

Page 28: OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA …...PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou um processo regular de encarecimento

houve uma forte retração de 18,8% na produçãofísica industrial entre 2013 e 2016.

Os reflexos da perda de dinamismo da indústriasobre o ritmo de crescimento econômico e sobre obem-estar foram imediatos. O PIB da indústria detransformação caiu 17,6% entre 2013 e 2016. Emparte por conta desse fraco desempenho daindústria, que rapidamente perdeu espaço paraimportações, o PIB brasileiro registrou retração de6,6% entre 2013 e 2016.

Conforme aponta o Gráfico 3.5, o investimentorealizado pela indústria intensiva em energia caiude R$ 144 bilhões em 2013 para R$ 118,3bilhões em 2016, indicando queda de 18,1% emtrês anos. Ao contrário do que ocorreu com aprodução e o emprego, em que se observou certacompensação das perdas dos setores intensivos emenergia pelo desempenho dos setores não intensi-vos em energia, o investimento dos setores nãointensivos em energia não reagiu positivamente.Entre 2013 e 2016 houve uma ligeira retração de3,2%, levando a uma queda global do investimentoindustrial de 13,3% no período.

Outro aspecto marcante foi a deterioração dascontas externas. As exportações de mercadoriasproduzidas nos setores intensivos em energiasofreram queda de 3,4% em termos nominais entre2013 e 2016. A retração não foi maior porquehouve uma profunda desvalorização cambial: ataxa de câmbio média anual passou de R$/USD2,16 em 2013 para R$/USD 3,49 em 2016. Deoutro lado, as importações brasileiras de bensintensivos em energia cresceram 18,1% nesses trêsanos, mesmo com o encarecimento da moedaestrangeira. Assim, o saldo do comércio de bensintensivos em energia caiu de USD 33,5 bilhões em2013 para USD 20,5 bilhões em 2016, indicandoretração de 38,7% em três anos.

As elevações dos custos com energia elétrica e gásnatural acarretaram perda de bem-estar para asfamílias brasileiras, a despeito do aumento darenda. Olhando apenas as contas de luz e de gás,parece ter havido um ganho de bem-estar, pois atarifa residencial de energia elétrica acumulou

3.4. Efeitos indiretos do encarecimento da energiasobre a economia

3.4. Efeitos indiretos do encarecimento da energiasobre a economia

Gráfico 3.6Exportações e importações de bens intensivos em energia,em USD bilhões, Brasil, 2013 e 2016

Gráfico 3.6Exportações e importações de bens intensivos em energia,em USD bilhões, Brasil, 2013 e 2016

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

28 | CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA

88,627

55,118

85,635

65,103

0

20

40

60

80

100

Exportações Inportações

2013 2016

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variação de 232,1% de 2000 a 2016 e o custo dogás cresceu 325,6%. A renda das famílias brasilei-ras cresceu 436,3% nessa comparação.

A perda de bem-estar ocorreu porque os consumosde energia elétrica e de gás natural nas residências– os quais constam das contas de luz e de gás – sãoapenas uma pequena parte da energia necessáriapara atender ao consumo das famílias brasileiras.Além dessa energia, as famílias utilizam a energiaelétrica e o gás natural incorporados na produçãodas mercadorias e serviços que compõe a sua cestade consumo. É a energia que está embutida nosbens e serviços consumidos. Fazem parte dessaenergia, por exemplo, a eletricidade empregadanos frigoríficos para manter a carne fresca e naspanificadoras para assar o pão, a energia elétricanecessária na fabricação de produtos de higiene elimpeza, ou a eletricidade e o gás natural contidosnos materiais de construção empregados numareforma.

O perfil de consumo de energia elétrica dasempresas brasileiras e o padrão de consumo demercadorias e serviços das famílias brasileiras

revelam que, para cada unidade de energiaelétrica consumida diretamente (conta de luz), sãoconsumidas mais de duas e meia unidades adicio-nais de energia elétrica que estão embutidas nasmercadorias e serviços consumidos no país e nosbens públicos ofertados à população (educação,saúde, segurança pública etc.). Esses dados sãoapresentados no Gráfico 3.7.a, que traz o consumodireto e indireto de energia elétrica das famíliasbrasileiras em 2016, último ano para o qual háinformações detalhadas das Contas Nacionais doIBGE. No caso do gás natural, a proporção deconsumo era de quase 7 unidades indiretas (conti-das nas mercadorias e serviços consumidos pelasfamílias) para cada unidade consumida diretamen-te (Gráfico 3.7.b).

A consequência imediata disso é que, ao se elevaras tarifas de energia elétrica das empresas brasilei-ras, aumenta-se o custo de produção da indústria,do comércio e dos serviços. O repasse dessaelevação de custos para os preços acaba onerandoas despesas das famílias. O carro, a casa, o sabãoe a carne mais caros provocam a redução doconsumo e a perda de bem-estar. O mesmo ocorre

Gráfico 3.7Consumo de energia elétrica e de gás natural das famílias, em GWh* e bilhão de m³,

Brasil, 2016

Gráfico 3.7Consumo de energia elétrica e de gás natural das famílias, em GWh* e bilhão de m³,

Brasil, 2016

Fonte: Cálculos próprios com base em dados das Contas Nacionais de 2016 (IBGE,2018) e do Balanço Energético Nacional (EPE, 2018). Nota: (*) Gigawatt hora.

a. energia elétrica b. gás natural

CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 29

Conta de luz132,928,0%

Embutida nas mercadorias213,845,1%

Embutidanos serviços

127,526,9%

Conta de gás2,89

12,6%

Embutidonas mercadorias

10,0143,4%

Embutidonos serviços

10,1544,0%

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com os aumentos do gás natural que são repassa-dos aos preços das mercadorias. Como foi discuti-do na primeira seção deste capítulo, os preçosindustriais cresceram em média 8,0% ao ano entre2000 e 2016, período em que a inflação, conside-rando os preços aos consumidores, foi de 6,8% aoano. Em larga medida, esse encarecimento relativodos bens industriais produzidos no país foi conse-quência dos aumentos dos custos unitários comenergia elétrica e gás natural das indústrias brasilei-ras.

É importante observar que, além de terem crescidode forma acentuada nos últimos anos, o quepressionou de forma direta os custos de produçãodos bens intensivos em energia, os aumentos decusto da energia utilizada na produção afetam ocusto de produção das empresas de maneiraindireta, aumentando os preços dos insumosempregados nos processos produtivos. Isso ocorreporque as empresas também empregam energia deforma direta e indireta, criando reações em cadeiados choques dos custos com energia. O Gráfico3.8 apresenta o volume de energia elétrica incorpo-rada nos bens e serviços empregados comoinsumos de produção por unidade de energia

elétrica consumida de forma direta em 2016, porsetor de atividade econômica do país.

Chama a atenção o caso da construção civil. Deforma direta, as empresas do setor consomempouca energia, mas são grandes consumidoras deenergia elétrica embutida nas matérias-primasusadas nas obras. Para cada unidade de energiaelétrica consumida nos canteiros de obra, havia oconsumo de quase 17 unidades de energia elétricacontidas nos materiais de construção.

Conforme ilustra o Gráfico 3.9, na educaçãopública foram empregadas 35 unidades deconsumo indireto para cada unidade de consumodireto de gás natural e no setor de saúde privada,31 unidades indiretas para cada unidade direta.Nota-se que essa relação é bastante elevada emquase todos os segmentos comerciais e de serviços.Para os setores industriais, as relações entre consu-mo indireto e direto são menores, mas aindaelevadas. Na produção de carnes, para cadaunidade de consumo direto de gás, havia quase 4unidades de consumo de gás embutido nos insu-mos. Nas montadoras de automóveis, caminhões eônibus, a relação também aproximou-se de 4

30 | CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA

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CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 31

Gráfico 3.8Consumo indireto de energia por unidade de consumo direto de

energia elétrica, Brasil, 2016

Gráfico 3.8Consumo indireto de energia por unidade de consumo direto de

energia elétrica, Brasil, 2016

Gráfico 3.9Consumo indireto de energia por unidade de consumo direto

de gás natural, Brasil, 2016

Gráfico 3.9Consumo indireto de energia por unidade de consumo direto

de gás natural, Brasil, 2016

Fonte: Cálculos próprios com base em dados das Contas Nacionais de 2016(IBGE, 2018) e do Balanço Energético Nacional (EPE, 2018).

Fonte: Cálculos próprios com base em dados das Contas Nacionais de 2016 (IBGE, 2018) edo Balanço Energético Nacional (EPE, 2018). (*) exceto automóveis, caminhões e ônibus.

16,618

9,768

8,021

4,914

4,076

4,059

3,959

3,917

3,823

3,799

3,567

3,552

3,527

3,526

3,339

3,142

2,582

2,403

2,398

2,317

0 5 10 15 20

ConstruçãoAtividades imobiliárias

Refino de açúcarVestuário e acessórios

Atividades profissionais, científicas e técnicasProdutos de limpeza, perfumaria e higiene

Fabricação de automóveis, caminhões e ônibusServiços de arquitetura e engenharia,Vigilância, segurança e investigação

Aluguéis não-imobiliáriosProdutos do fumo

Manutenção e instalação de máquinas e equip.Alimentação

Abate e produtos de carneTransporte terrestre

Fabricação de móveisExtração de petróleo e gás

Fabricação de defensivos, tintas e químicos diversosProdutos farmoquímicos e farmacêuticos

Edição e edição integrada à impressão

34,794

30,866

21,064

11,376

10,712

9,106

6,522

5,410

4,510

3,966

3,855

3,508

3,460

3,350

3,076

2,823

2,704

2,334

2,266

2,206

0 10 20 30 40

Educação públicaSaúde privadaSaúde pública

Educação privadaFabricação e refino de açúcar

AlimentaçãoVestuário e acessórios

Comércio e reparação de veículosProdutos do fumo

Fabricação de automóveis, caminhões e ônibusAbate e produtos de carneExtração de petróleo e gás

Manutenção e instalação de máquinas e equip.Fabricação de móveisFabricação de bebidas

Produtos de limpeza, perfumaria e higieneOutros produtos alimentares

Produtos de borracha e material plásticoFabricação de produtos de metal

Fabricação de equipamentos de transporte*

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unidades indiretas para cada unidade direta de gásnatural em 2016.

Argumenta-se, muitas vezes, que há casos em que orepasse (de custos ou de preços) não é integral, vistoque as empresas brasileiras estão sujeitas à competi-ção internacional. Nesse caso, as perdas deconsumo e de bem-estar associadas aos aumentosde preços e custos não ocorreriam na mesmaintensidade. Isso é uma verdade para alguns bens.Mas se as empresas não recompõem os aumentosde custos, por outro lado, elas perdem margem,reduzem o investimento e, no médio prazo, perdemmercado. Vale lembrar que isso vem ocorrendo emboa parte da indústria nacional – do automóvel aosalimentos, passando pela indústria de bens interme-diários, como o alumínio, o aço, os produtoscerâmicos e os produtos químicos.

O aumento das importações, por sua vez, implica oaumento do uso de energia elétrica e gás naturalcontidos nos produtos importados. Assim, a redu-ção da participação nacional na demanda pormercadorias e serviços também indica um aumentodo consumo global de energia em relação ao

consumo de mercadorias e serviços produzidos nopaís. Isso significa um aumento da quantidade deenergia necessária por unidade de bens e serviçosproduzidos no país, ou também, um aumento deconsumo de energia por unidade de valor daprodução nacional.

O Gráfico 3.10 traz a relação entre as quantidadesde eletricidade e gás natural importados que sãoempregadas como energia na produção de bens eserviços no país e as quantidades de energiaelétrica e gás natural contidos nas importaçõesbrasileiras de mercadorias e serviços para o ano de2016. Nota-se que, para cada unidade de energiaelétrica importada para uso na produção nacionalde bens e serviços (agricultura, indústria, comércio eserviços), foram adquiridas 2,8 unidades adiciona-is de energia elétrica embutida nos bens e serviçosimportados pelo país. Isso indica um claro viés pró-consumo das importações de eletricidade: apenas26,3% das importações eram empregados naprodução de bens e serviços.

No caso do gás natural, a situação era um poucodistinta: somente 61,5% do gás natural importado

Gráfico 3.10Composição da importação de energia elétrica e de gás natural, em GWh* e bilhão de m³,Brasil, 2016

Gráfico 3.10Composição da importação de energia elétrica e de gás natural, em GWh* e bilhão de m³,Brasil, 2016

Fonte: Cálculos próprios com base em dados das Contas Nacionais de 2016 (IBGE, 2018) e do Balanço EnergéticoNacional (EPE, 2018). Nota: (*) Gigawatt hora.

32 | CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA

Importaçãode energia

para produção*41,3

26,3%

Importação de energia pormeio da compra de

mercadorias e serviços115,973,7%

Importaçãode energia para

produção*11,7361,5%

Importação de energiapor meio da compra demercadorias e serviços

7,3338,5%

a. energia elétrica b. gás natural

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pelo país em 2016 recebeu adiçãode valor por empresas brasileiras. Os38,5% das importações de gásnatural restantes já estavam incorpo-rados nos bens e serviços importadosem suas formas finais para uso.Assim, as empresas e os trabalhado-res brasileiros obtiveram um valordessas importações totais de gásnatural menor do que poderiam terobtido caso a energia fosse importa-da em sua forma bruta para adiçãode valor nas cadeias produtivasbrasileiras.

Essa redução do potencial deexpansão do emprego e da renda nopaís também tem efeitos diretos sobreo bem-estar. Produtos que eramfabricados a custos competitivosdeixaram de ser produzidos no paíspor conta da elevação do custounitário com energia desde o inícioda década de 2000, reduzindo oemprego e a geração de renda.Além disso, a perda de espaço daindústria nacional tem efeito indiretosobre outros setores de atividade queaparentemente não sofrem demaneira direta e de forma tão intensacom os aumentos de custos daenergia. Esse é o caso, por exemplo,dos setores de prestação de serviçosàs empresas, cujos negócios deixamde ser realizados porque a indústrianacional perde produção. A indústriaextrativa e de transformação foramresponsáveis por 24,1% da deman-da dos serviços prestados a empre-sas no Brasil em 2016.

CUSTO UNITÁRIO DA ENERGIA E SEUS EFEITOS SOBRE A INDÚSTRIA | 33

Page 34: OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA …...PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou um processo regular de encarecimento

4

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CENÁRIO ECONÔMICOE ENERGÉTICO DE

LONGO PRAZO

Como foi discutido no capítulo anterior, houve umforte encarecimento da energia elétrica e do gásnatural para a indústria nos últimos anos, com efeitosnegativos sobre a produção e o investimento. Oencarecimento da energia reduziu o potencial decrescimento econômico e teve reflexos em termos desubstituição de bens produzidos domesticamentepor importações. Houve também a troca do consu-mo de energia industrial por energia embutida nasimportações.

Este capítulo busca avaliar o pano de fundo econô-mico e o cenário de formação de preços da energianos próximos dez anos – de 2018 a 2028.

continuida-de da trajetória recente que levou ao encarecimentoda energia elétrica e do gás natural.

O conjunto do pano de fundo econômico com ocenário de preços da energia dá um potencial decrescimento, uma perspectiva de inflação e tendên-cias para o comércio exterior nos próximos dezanos.

Opano de fundo econômico está condicionado porvariáveis definidas no passado: a capacidade definanciamento do investimento, o potencial deexpansão da produtividade e as tendências nomercado de trabalho, principalmente. O cenáriodos preços da energia está associado à

Mas há cenários de preço da energia que poderi-am reverter o processo recente de desindustrializa-ção, induzindo o aumento do investimento, daprodução e da produtividade, com reflexos positi-vos sobre o crescimento econômico de longo prazoda economia brasileira. Esses cenários energéticosalternativos, que serão explorados em detalhe nocapítulo seguinte, têm poder de alterar esse contextoeconômico, afetando o crescimento, o padrão dainflação e o balanço do comércio exterior.

De 2002 a 2018, a economia brasileira viveumomentos de expressivo crescimento e de profundarecessão, alternando períodos de inflação reduzidae de pressões inflacionárias exacerbadas. Houveintervalos de tempo com pleno emprego da mãoobra e outros com taxas de desemprego superioresa 13% da força de trabalho. Essa ampla variabilida-de de contextos foi acompanhada de expansões econtrações do investimento e grandes flutuaçõesdos resultados do comércio exterior.

Entre 2002 e 2014, a economia brasileira teve umdesempenho macroeconômico relativamentesatisfatório. Isso foi proporcionado pela conquistada estabilidade econômica, pela recuperação das

4.1. O contexto econômico

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36 | CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO

condições de crédito e a consequente ampliaçãodos investimentos em alguns segmentos da econo-mia. As políticas sociais, de outro lado, tiverampapel importante na redução da miséria, ao mesmotempo em que propiciaram a mobilidade social.Nesse período, aumentaram de forma sistemática oinvestimento imobiliário, o consumo das famílias eas exportações, com a abertura de novos mercadospara os produtos brasileiros.

Contudo, nos últimos quatro anos, as percepçõesquanto ao potencial efetivo de crescimento do paísflutuaram de forma considerável. Em 2010, porexemplo, quando o Brasil já havia superado o piormomento da crise financeira internacional, aeconomia brasileira cresceu 7,5%, ficando acimadas melhores expectativas do mercado, ainda queparte desse crescimento tenha decorrido doresultado negativo registrado no ano anterior.Naquela época, havia perspectivas promissoras deuma política industrial e de melhora gradativa nascondições externas que acabaram contaminandocom otimismo as expectativas de crescimento paraos anos seguintes.

Cenários de crescimento médio entre 4% ao ano e5% ao ano estavam consistentes com as condiçõesmacroeconômicas domésticas então vigentes e comuma expansão mundial entre 2% ao ano e 3% aoano. Entretanto, as perspectivas de médio e longoprazo para a economia brasileira foram gradativa-mente se alterando, saindo de um quadro bastanteotimista com relação ao potencial de crescimento ecaminhando para uma visão mais conservadora.Em 2012, as projeções de crescimento maisotimistas falavam em 3,5% ou 4,0% ao ano entre2012 e 2017. No início de 2015, o debate sobrea conjuntura e o potencial de crescimento começoua trazer visões muito díspares, mas a maior partedas análises apontava para um potencial decrescimento efetivamente menor do que se esperavaanos atrás.

Para traçar esse novo pano de fundo, que sustentaas projeções de médio e longo prazo, é necessário,antes de tudo, analisar o que ocorreu com a econo-mia brasileira de 2002 em diante, com especialatenção para os últimos cinco anos (2014 a 2018),e avaliar como e em que extensão os acontecimen-

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CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO | 37

tos mais recentes condicionaram a trajetória do paísnos próximos anos. Os principais fatos foram (i) acrise industrial iniciada em 2011, a qual conteve ocrescimento econômico de vários setores e fez aeconomia como um todo perder força e (ii) a crisefiscal iniciada em 2014 e agravada pela crisepolítico-institucional em que o país submergiu de2015 em diante.

Entre 2002 e 2014, o PIB cresceu 3,5% ao ano.Essa taxa não é tão elevada quanto a observadapor outras economias em desenvolvimento, mas foicerca de 50% superior à expansão verificada entre1990 e 2003 (2,3% ao ano).Como a taxa decrescimento demográfico caiu de forma expressivade 2000 em diante, a diferença entre as trajetóriasde crescimento nos dois períodos teve reflexo aindamaior no que diz respeito à expansão da renda percapita. Entre 2002 e 2014, o crescimento do PIBper capita brasileiro foi de 2,4% ao ano, umpatamar 243% superior ao verificado entre 1990 e2003 (de 0,7% ao ano).

Recuperação econômica dos anos 2000

Os três principais fatores que explicam esse desem-penho da economia brasileira são a recuperaçãodo investimento, o aumento do consumo dasfamílias e a expansão das exportações. A formaçãobruta de capital da economia cresceu em ritmoacelerado nesses anos. A expansão média foi de5,0% ao ano na comparação entre 2002 e 2014.Na mesma comparação, o consumo das famíliascresceu 4,2% ao ano e a demanda externa 4,4%ao ano. Juntos, esses elementos responderam por88,5% do aumento da demanda agregada naeconomia brasileira entre 2002 e 2014. Oaumento do investimento e do consumo tiveramcomo precondição a estabilização econômica e ocontrole da inflação, processo este iniciado em1994 e consolidado em 2004.

O valor das exportações brasileiras em dólarescresceu 11,6% ao ano entre 2002 e 2014, o queequivale a uma taxa superior a 9% ao ano emtermos reais (dólares constantes). Com isso, ovolume de receitas externas passou de USD 60,4bilhões em 2002 para USD 225,1 bilhões em2014. É importante observar que esse crescimento

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) PIB a preço de mercado.

Gráfico 4.1.Formação bruta de capital fixo, participação no PIB* (%), Brasil, 2002 a 2018

Gráfico 4.1.Formação bruta de capital fixo, participação no PIB* (%), Brasil, 2002 a 2018

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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38 | CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO

se deu mesmo em um ambiente de valorização dataxa de câmbio e de crise internacional. O quepesou para o bom desempenho exportador do paísfoi o crescimento da demanda por minerais ealimentos impulsionado, na sua maior parte, pelaexpansão econômica da China, país com maiorcrescimento no período. Por certo tempo, astrajetórias dos preços internacionais tambémajudaram a expansão das exportações brasileiras.

A despeito da resposta positiva do Brasil à crisefinanceira internacional de 2008, momento em queo país optou por fomentar o investimento emconstrução e reduzir impostos para promover oconsumo, a indústria brasileira entrou numa rotarecessiva de 2011 em diante. O avanço rápido dasimportações e a elevação continuada de custosimpuseram perdas consideráveis às manufaturasbrasileiras, com efeitos expressivos sobre a produ-ção. O investimento industrial, por sua vez, sofreuforte retração na maior parte dos setores, o queagravou ainda mais esse quadro, indicando perdaspermanentes para vários segmentos.

Crise industrial

De 2008 a 2014, o PIB da indústria de transforma-ção brasileira registrou queda acumulada de -2,9%,o que equivale a uma retração de aproximadamen-te 0,5% ao ano. Esse desempenho contribuiu para oreduzido crescimento econômico do país, que foide 2,8% ao ano nessa comparação. Com isso, aparticipação da indústria de transformação no totalda economia brasileira passou de 16,5% em 2008para 12,0% em 2014 indicando uma redução de4,5 pontos percentuais de participação no PIB emseis anos.

A trajetória do PIB da indústria de transformaçãorevela um desempenho muito aquém do esperado,mesmo considerando que na maior parte daseconomias desenvolvidas a indústria de transforma-ção vem reduzindo sistematicamente seu peso.Nesses países, a redução do peso da indústria detransformação reflete os processos de internacionali-zação da produção ( ) e de terceirizaçãode serviços ( ). Essas mudanças trazemaumentos de produtividade e redução de custos,elevando o retorno das empresas e estimulando oinvestimento.

offshoringoutsourcing

Gráfico 4.2.Indústria de transformação, participação no PIB* (%), Brasil, 2002 a 2018Gráfico 4.2.Indústria de transformação, participação no PIB* (%), Brasil, 2002 a 2018

Fonte: IBGE. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) PIB a custo de fatores.

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO | 39

No caso do Brasil, isso não ocorreu, como aponta-ram os estudos de Rangel e Freitas (2013) e Rangele Freitas (2015). Ao contrário, o Brasil observouseveras perdas de produtividade e elevação decustos de 1995 em diante, reduzindo de formarápida o retorno das empresas. Alguns dados desseestudo são contundentes e revelam uma indústriamanufatureira em crise. A produtividade, entendidacomo o valor adicionado por unidade de capital etrabalho, reduziu-se à taxa de 1,4% ao ano namédia da indústria de transformação brasileira entre1995 e 2011, enquanto que para as 30 maioreseconomias industriais, a produtividade cresceu2,7% ao ano. A indústria manufatureira chinesa, deonde vem a maior parte do crescimento das impor-tações brasileiras de produtos industriais, teveaumento da produtividade de 5,2% ao ano. Alémdisso, os custos com matérias-primas e serviçoscaíram ao ritmo de 0,33% ao ano naquele país.

Isso afetou de forma intensa o retorno das empresase consequentemente o investimento. Os dados doestudo indicam que o retorno bruto sobre o capitalinvestido na indústria de transformação brasileiraera de 23,9% em 1995. Em 2008, essa taxa jáhavia se reduzido para 6,9%, caindo ainda maisem 2009 com a crise internacional. Em 2014, oretorno do capital industrial foi de 6,5% do capitalinvestido. Na indústria manufatureira dos Estados

Unidos, referência de tecnologia, logística e escalade produção, o retorno bruto do capital cresceu nasegunda metade dos anos 2000, chegando aaproximadamente 31% do capital investido em2014.

Os dados do BNDES ilustram como a crise industrialse refletiu nos investimentos. A participação daindústria manufatureira no total dos desembolsos doBNDES passou de uma média de 46,7% entre2000 e 2006 para o patamar de 28,9% de 2011a 2013. Em 2014, a participação já era de 25%.Em termos absolutos, enquanto os desembolsos doBNDES cresceram ao ritmo de 11,5% entre 2010 e2014, os investimentos na indústria de transforma-ção caíram 39,1%.

Boa parte das dificuldades econômicas do paísveio do desajuste fiscal da União, dos estados e dosmunicípios. Esse processo se iniciou em 2011, como aumento de despesas, e acelerou-se em 2014,com a queda no ritmo de crescimento das receitasfiscais. A própria crise industrial foi responsável pelarápida queda da arrecadação de Programa deIntegração Social (PIS), Contribuição para oFinanciamento da Seguridade Social (Cofins) e doImposto sobre Circulação de Mercadorias e

Crise fiscal e recessão

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40 | CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO

Serviços (ICMS). Em paralelo, o aumento dainflação levou ao descumprimento sistemático dasmetas inflacionárias, o que pôs em cheque aestabilidade do real.

No segundo mandato da presidente Dilma, vencidocom votação apertada e com aumento nítido daoposição, o governo promoveu um ajuste fiscalintenso, mas que resultou inócuo. A política fiscal emonetária adotada em 2015 para combater osdois problemas acabou agravando-os:

Para se reduzir despesas, elevaram-se osimpostos sobre energia elétrica, que haviamsido reduzidos em 2012, o que acabou tendoum impacto imenso na inflação de 2015 eacelerou a retração industrial.

Os cortes de despesas públicas concentra-ram-se nos gastos com investimentos (Programade Aceleração do Crescimento [PAC] ePrograma Minha Casa Minha Vida). Issoaprofundou a recessão, com efeitos negativossobre a arrecadação.

• A taxa de juros básica da economia foielevada de forma sistemática com o objetivode incentivar a migração de fundos para ofinanciamento público. Isso aumentou asdespesas do governo central com serviços dadívida. Ao mesmo tempo, a migração defundos para financiar a dívida pública tornou ocrédito escasso, acarretando quedas aindamais acentuadas em investimento e consumo.O impacto sobre a arrecadação foi, uma vezmais, negativo.

Ainda em 2015, a crise política e institucional jáestava instaurada e o comando do CongressoNacional em oposição à gestão Dilma levou aofracasso do ajuste fiscal por meio de votações depautas que elevaram as despesas. Essa sistemáticafoi repetida em 2016 e mesmo em 2017, já nagestão Temer, como forma de pressionar politica-mente o executivo federal. Com isso, o resultadoprimário do governo central passou de um déficit deR$ 25,6 bilhões no acumulado de 2015 para umdéficit primário de R$ 172,1 bilhões no acumuladode 2016 e ainda se manteve elevado em 2017 e

Gráfico 4.3.Resultado primário do governo federal, em R$ bilhões*, Brasil, 2002 a 2018Gráfico 4.3.Resultado primário do governo federal, em R$ bilhões*, Brasil, 2002 a 2018

Fonte: Secretaria do Tesouro Nacional. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.(*) PIB a custo de fatores.

-200,0

-100,0

0,0

100,0

200,0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

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CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO | 41

2018. Esse resultado levou o governo federal apromover novos cortes de orçamento, afetandoprincipalmente o investimento.

O ajuste fiscal e a instabilidade gerada pela crisepolítico-institucional levaram a uma profundaretração da economia brasileira. O PIB brasileirorecuou 6,1% entre 2014 e 2017, com retração de6,5% do consumo e queda de mais de 24% daformação bruta de capital fixo. A taxa de desempre-go saltou de 4,8% da população economicamenteativa em 2014 para 12,8% na média de 2017.

Nesse período, o PIB da indústria de transformaçãocaiu 12,1%. Para tanto, além da retração econômi-ca generalizada, pesaram os enormes aumentos docusto da energia. Como indicado no capítuloanterior deste estudo, o custo unitário da energiaelétrica para a indústria de transformação apresen-tou elevação de 65,9%, período em que os preçosindustriais acumularam variação e apenas 16,8%.O custo unitário do gás natural elevou-se 22,3%nessa comparação temporal.

4.2. Cenário de preços da energia

Energia elétrica

Para o horizonte de tempo entre 2018 e 2028 foielaborado um cenário de evolução da tarifa deenergia elétrica e de gás natural, o qual é combina-do com o panorama macroeconômico para geraras projeções de crescimento, inflação e comércioexterior. No capítulo seguinte, são elaboradoscenários alternativos os serão empregados paraavaliar o potencial econômico de uma energia maisbarata e os riscos associados a um cenário em quea energia, seja a eletricidade seja o gás natural, setorne mais cara.

O cenário de referência do setor elétrico prevê amanutenção das regras atuais de reajuste de tarifas,bem como das condições atuais que norteiam osetor elétrico brasileiro. O estado atual do setorelétrico, com escassez hídrica e tarifas recordes emtermos históricos, não permite antever uma perspec-tiva de redução do preço da energia no médio e

4.2. Cenário de preços da energia

Energia elétrica

longo prazos para as classes de tensão maiselevada, seja em reais constantes, seja em moedaestrangeira. Ao contrário, nesse cenário continua oprocesso de encarecimento da energia elétrica.

Em termos acumulados, as tarifas A1 e A2 – classesque têm maior impacto nos custos dos bens industri-ais intensivos em energia elétrica – devem se elevarentre 6% e 10% em termos reais até 2028.Considerando a evolução da inflação e do câmbionesse período, o encarecimento em termos reaisequivale, no caso da tarifa A1, a um aumento docusto da energia elétrica de USD/MWh 88,19 em2018 para USD/MWh 124,87 em 2028, ouseja, uma elevação de quase 42%. No caso datarifa A2, o aumento deve ser de 37,5% em moedaestrangeira.

O impacto desse cenário é distinto para cada setorde atividade econômica. Isso porque a distribuiçãodas empresas por classe de consumo é bastantevariada. Há setores que capturam integralmente aevolução da tarifa na classe A1 e há outros queevoluem conforme a tarifa para baixa tensão. OGráfico 4.4 ilustra as variações acumuladas entre2018 e 2028 dos custos da energia elétrica porsetor de atividade em R$/MWh. Nesse cenário, ossegmentos industriais de alta e média intensidadeem energia elétrica irão perceber as menorespressões.

No caso do gás natural, também foi traçado umcenário de referência para a evolução de tarifa.Nesse cenário, pressupõe-se que as variações dopreço do petróleo serão integralmente repassadasaos consumidores. Neste caso, foram empregadasas projeções do preço do petróleo feitas pela

(EIA) dos EstadosUnidos. Este cenário contempla um crescimento datarifa do gás natural de 16,3% entre 2017 e 2028.Isso implica um aumento de cerca de 35% no preçodo gás natural, ou ainda, uma queda real de 12,9%considerando a variação acumulada da inflaçãoprojetada para o período.

Gás natural

Energy Information Administration

Gás natural

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4.3. Cenário macroeconômico de referência

O pano de fundo da economia e as perspectivas deelevação dos custos com energia elétrica e com gásnatural do cenário de referência deste estudoresultam num conjunto de premissas sobre o compor-tamento econômico do país

para a próxima década.

A redução da formação bruta de capital fixo de2014 em diante já é uma indicação de que adisposição a investir caiu. O avanço lento daprodutividade reforça esse quadro, indicando que acapacidade do país de expandir seu PIB a taxasmédias anuais elevadas está hoje bastante reduzi-da. Além disso, há o quadro fiscal complexo: onovo governo deve assumir o poder com um espaçofiscal relativamente pequeno para promoverpolíticas ativas de renda e de investimento num curtoespaço de tempo. A arrecadação vem crescendo,mas já há previsões de aumento das despesas compessoal para 2019 e há a pressão das despesasprevidenciárias.

e em projeções macroe-conômicas

4.3. Cenário macroeconômico de referência Por esses motivos, não é mais possível se pensar emuma taxa de expansão do PIB de 4% ou 5% ao anopara os próximos dez anos. Ainda assim, algumascondições externas e internas possibilitam anteverum crescimento mínimo, com avanços um poucomais expressivos em algumas áreas da economia.

No contexto mundial, espera-se um crescimentoeconômico razoável, de 2,5% a 3,0% ao ano entre2018 e 2028. Esse valor é relativamente inferior aopadrão histórico, devido ao fato de as economiasda União Europeia terem mantido um ritmo aindalento de crescimento. A redução do ritmo deexpansão industrial da China também terá efeitosobre essa taxa de crescimento econômico menor.

No que diz respeito ao Brasil, além das condiçõeseconômicas globais, há um conjunto de premissasque formam a visão com relação à trajetória do paísrumo a 2028. Essas premissas contemplam:

O aumento da produtividade da mão de obradeve ficar em torno de 1,0% ao ano entre

42 | CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO

Gráfico 4.4.Cenário de referência, evolução do custo de energia elétricapor setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Gráfico 4.4.Cenário de referência, evolução do custo de energia elétricapor setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Fonte: Abrace. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) Inclui educação e saúde;(**) em R$ constantes deflacionados pelo IGP-DI.

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0%

AgropecuáriaExtração mineral

Alimentos, bebidas e fumoCouro e calçadosPapel e celulose

Refino do petróleo e combustíveisProdutos químicos

Material plástico e borrachaMinerais não metálicos

Metalurgia e produtos de metalMáquinas e equipamentos

Energia, gás e saenamentoConstrução

ComércioHotéis e restaurantes

TransportesCorreio e telecomunicações

Intermediação financeiraAtividades imobiliárias

Serviços às empresas e famílliasServiços públicos*

Residencial

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CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO | 43

2018 e 2028. Esse ritmo resulta de projeçõesde longo prazo do avanço da produtividadeno país.

Em razão da dinâmica demográfica, a forçade trabalho deve crescer 0,4% ao ano entre2018 e 2028. Contudo, a populaçãoocupada deve crescer a um ritmo maior, emrazão da recuperação, mesmo que lenta, dacrise econômica. Deve-se lembrar que em2017, a taxa de desemprego foi recorde.

Com a expansão da produtividade e doemprego, o crescimento da renda dotrabalho deve ficar em torno de 2,2% ao anoentre 2018 e 2028, ritmo menor, portanto,que o observado de 2006 a 2014, que foide 4,8% ao ano, mas superior ao observadoentre 2014 e 2018, que foi de 0,4% aoano.

Esse padrão de evolução da renda teráreflexo sobre a expansão do consumo dasfamílias, que deve ficar em torno de 2,5% aoano, um ritmo também menor que a expan-são de 4,5% ao ano entre 2006 e 2014.Vale lembrar que, entre 2014 e 2018, houve

queda acumulada de consumo entre 4% e5%.

O câmbio deve passar de R$/USD 2,46, namédia de 2008 a 2018, para R$/USD3,68, na média dos próximos dez anos.Contudo, espera-se que haja fortes flutuaçõesno período. Essa taxa média garante umadesvalorização de 35,3% em termos reaisentre os períodos 2008-2018 e 2018-2028.

As taxas de inflação devem se manter dentrodos parâmetros do sistema de metas, permitin-do uma acomodação dos custos de capital,com manutenção dos juros de longo prazonum patamar relativamente reduzido.

O nível de investimentos menor do que o observadono período entre 2008 e 2014 é, parte, reflexo dadeterioração das contas dos governos federal eestaduais, que hoje estão com capacidade deinvestimento reduzida. Mas a queda dos investimen-tos também reflete a redução da formação decapital industrial decorrente do aumento de custoscom energia, do avanço das importações e daredução da rentabilidade dos setores industriais.

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Como o cenário macroeconômico não vislumbraalterações nas condições que interferem no investi-mento industrial como um todo inclusive nos custosda energia elétrica e do gás natural, a menordisposição de investir em empreendimentos industri-ais justifica a redução da taxa de investimento dopaís do patamar de 18,8% do PIB obtido entre2008 e 2018 para o nível de 17,5% do PIB nospróximos 10 anos.

A Tabela 4.1 traz o conjunto de projeções deprodução, preços e comércio externo para operíodo de 2018 a 2028. O crescimento projeta-do para o país é de 2,2% ao ano, o que elevaria oPIB brasileiro de R$ 6,819 trilhões em 2018 paraR$ 8,518 trilhões em 2028 – elevação de quase25% em 10 anos. O emprego deve seguir essatrajetória, mas deve crescer menos do que o PIB emvirtude dos aumentos de produtividade da mão de

obra. Na média do período, a expansão daocupação deve ser de 1,2% ao ano.

Com o avanço da produtividade, resultante doaumento da relação capital-trabalho e da qualifica-ção profissional da mão de obra, os custos daeconomia devem crescer menos

. Com isso, os preços também devem subirmenos . A taxa de inflação deve ficar em 4,5% namédia dos próximos dez anos. A taxa de juros delongo prazo projetada é de 5,5% ao ano em termosnominais na média do período.

As condições de crescimento da renda, do investi-mento e da evolução dos preços e do câmbioimplicam uma ligeira melhoria das contas externasdo país. Nesse cenário, as exportações crescem aoritmo de 4,5% ao ano e as importações caem à taxade 6,5% ao ano em relação a 2018.

no período 2018-2028

44 | CENÁRIO ECONÔMICO E ENERGÉTICO DE LONGO PRAZO

Tabela 4.1Cenário de referência da economia brasileira no longo prazoTabela 4.1Cenário de referência da economia brasileira no longo prazo

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) Deflacionado pelo IPCA, (**) Com ajuste de horas trabalhadas.

Indicadores 2008-2013 2013-2018 2008-2018 2018-2023 2023-2028 2018-2028Crescimento

PIB 3,3% -0,9% 1,2% 2,0% 2,5% 2,2%População 0,9% 0,8% 0,9% 0,7% 0,6% 0,7%PIB per capita 2,4% -1,7% 0,3% 1,3% 1,9% 1,6%

InvestimentoTaxa de investimentos (FBKF/PIB) 20,2% 17,7% 18,8% 17,5% 17,5% 17,5%Crédito BNDES (R$ bilhões/ano) 195,4 129,5 162,5 140,0 160,0 150,0

Mercado de trabalhoPopulação em idade ativa (PIA)* 1,3% 1,0% 1,2% 0,6% 0,3% 0,4%População ocupada** 1,3% -0,1% 0,6% 1,0% 1,5% 1,2%Salário real médio real 5,2% 0,0% 2,5% 1,5% 1,0% 1,2%

InflaçãoIPC 5,6% 6,2% 5,9% 4,5% 4,5% 4,5%IGP 5,6% 5,8% 5,7% 5,5% 5,5% 5,5%

JurosTaxa Selic - (%) ao ano 10,1% 10,5% 10,3% 8,0% 8,0% 8,0%Taxa de Juros de Longo Prazo - (%) ao ano 5,9% 6,2% 6,0% 5,5% 5,5% 5,5%

CâmbioTaxa de câmbio R$/USD 1,90 3,03 2,46 3,77 4,06 3,91Taxa real de câmbio* R$/USD 1,90 2,46 2,18 3,02 3,26 3,14

Comércio exteriorExportações (em USD) 215,6 216,7 216,1 5,0% 4,0% 4,5%Importações (em USD) 195,3 185,0 190,1 6,0% 7,0% 6,5%

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5

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IMPACTOS DOS CENÁRIOSENERGÉTICOS SOBRE O

CRESCIMENTO E ACOMPETITIVIDADE DO PAÍS

A reversão do processo de encarecimento daenergia elétrica e do gás natural para a indústriapode elevar o crescimento econômico e reorientar aeconomia nacional, contribuindo para o aumentoda competitividade externa do Brasil. Isso é possívelporque a redução do custo da energia não só temimpactos diretos e indiretos na formação de preçosda economia, mas, também, porque ela interfere nadisposição de investir das empresas. Com preçosde energéticos mais competitivos, o investimentoindustrial cresce, como foi identificado pela análisecomparativa internacional feita no Capítulo 3 desteestudo.

Este capítulo traz os cenários de preços da energiaalternativos aos cenários de

referência (seção 5.1). Com base nesses cenáriossão feitas simulações que estimam os efeitos sobre ageração de renda e emprego e sobre a inflação depreços menores ou mais elevados da energia. Aseção 5.2 analisa os efeitos do cenário competitivodo preço da energia elétrica e a seção 5.3, os docenário competitivo para o gás natural. A ocorrên-cia simultânea dos dois cenários, uma conjugaçãode fatos que seria bastante favorável para econo-mia do país, é apresentada na seção 5.4.

O encarecimento da energia, de outro lado, podeprovocar a retração dos investimentos. Comodestacado no Capítulo 3 deste estudo, isso de fato

elétrica e do gás natural

ocorreu de 2013 a 2016, período em que houveforte encarecimento tanto da energia elétricaquanto do gás natural e queda expressiva dosinvestimentos, principalmente da indústria detransformação. A análise dos impactos do cenáriopessimista com relação à evolução dos preços daenergia no período de 2018 a 2028 é apresenta-da na seção 5.5.

A seção 5.6, ao final, resume as principais conclu-sões das simulações.

5.1. Cenários alterativos do preço da energia

Energia elétrica

O cenário de competitividade da energia elétricaconsidera a implementação de uma política detarifas que equaliza os custos da indústria brasileiraao padrão internacional, permitindo uma reduçãogradativa e consistente do custo unitário comenergia elétrica dos setores de alta intensidade,particularmente para a indústria de transformação ea extrativa. Nesse cenário, a tarifa de energiaelétrica ficaria em USD/MWh 40,00 nas classesde consumo A1, A2, e A3. A classe A4 teria tarifade USD/MWh de 50,00. Para a classe de baixatensão, que inclui o consumo residencial, comerciale de serviços, a evolução da tarifa segue tal comoprevisto pelo cenário de referência.

5.1. Cenários alterativos do preço da energia

Energia elétrica

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Gráfico 5.1.Cenário de competitividade, evolução do custo da energia elétricapor setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Gráfico 5.1.Cenário de competitividade, evolução do custo da energia elétricapor setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Fonte: Abrace. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) Inclui educação e saúde; (**) em R$ constantesdeflacionados pelo IGP-DI.

-60,0% -50,0% -40,0% -30,0% -20,0% -10,0% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0%

AgropecuáriaExtração mineral

Alimentos, bebidas e fumoCouro e calçadosPapel e celulose

Refino do petróleo e combustíveisProdutos químicos

Material plástico e borrachaMinerais não metálicos

Metalurgia e produtos de metalMáquinas e equipamentos

Energia, gás e saenamentoConstrução

ComércioHotéis e restaurantes

TransportesCorreio e telecomunicações

Intermediação financeiraAtividades imobiliárias

Serviços às empresas e famílliasServiços públicos*

Residencial

Como resultado, espera-se uma queda expressivadas tarifas das classes de consumo A1, A2, A3 eA4. Em termos nominais, as tarifas de alta tensãodevem cair entre 45% e 51%. A evolução das tarifaspor setor de atividade econômica é apresentada noGráfico 5.1. Apenas o comércio, a construção e asresidências apresentam elevação de custos.

As segunda perspectiva traçada contempla umcenário de deterioração do padrão dado nocenário de referência. Como as condições atuais jásão consideravelmente ruins, esse cenário pode serconsiderado como bastante pessimista, poisexpressa um agravamento de um quadro que jáafeta de maneira fortemente negativa a competitivi-dade da economia brasileira e o custo de vida dapopulação. Nesse cenário, há um encarecimentoda energia em todas as classes de tensão. Emtermos reais, os aumentos vão de 57% a 81%,afetando severamente todas as classes de consumo.

Nesse cenário, cristaliza-se no longo prazo asituação bastante adversa do custo da energiaelétrica para os consumidores A1. Em dólares, a

tarifa se aproximaria de USD/MWh 120,00,implicando uma elevação de 35%. As tarifas A2,A3, A4 e de baixa tensão também ficarão maiscaras em 2028, elevação de 30% a 43% emrelação a 2018. O crescimento real acumuladodas tarifas no cenário de deterioração, por setor deatividade econômica, é apresentado no Gráfico5.2.

No cenário de competitividade, adota-se uma tarifaindustrial do gás natural compatível com o padrãointernacional a partir de 2019. A trajetória conside-rada para a tarifa do energético é dada pelaevolução prevista da tarifa industrial do gás entre-gue na fábrica praticada no mercado norte-americano.

De acordo com esse cenário, haveria uma reduçãode 48% do custo real do gás natural em dólaresnorte-americanos para os consumidores industriais epara o setor de transportes. Assim, em reais, o gásnatural para produção sofreria uma redução de

Gás natural

48 | IMPACTOS DOS CENÁRIOS ENERGÉTICOS

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Gráfico 5.2.Cenário de deterioração, evolução do custo da energia elétrica

por setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Gráfico 5.2.Cenário de deterioração, evolução do custo da energia elétrica

por setor de atividade, variação acumulada entre 2018 e 2028**

Fonte: Abrace. Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) Inclui educação esaúde; (**) em R$ constantes deflacionados pelo IGP-DI.

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0%

AgropecuáriaExtração mineral

Alimentos, bebidas e fumoCouro e calçadosPapel e celulose

Refino do petróleo e combustíveisProdutos químicos

Material plástico e borrachaMinerais não metálicos

Metalurgia e produtos de metalMáquinas e equipamentos

Energia, gás e saenamentoConstrução

ComércioHotéis e restaurantes

TransportesCorreio e telecomunicações

Intermediação financeiraAtividades imobiliárias

Serviços às empresas e famílliasServiços públicos*

Residencial

quase 40% até 2028, o que equivaleria a umaredução de 61,2% quando se considera a inflaçãoprojetada para o período.

Vale destacar que este foi o objetivo almejado pelopelo governo anterior na discussão de um novomarco regulatório para o setor. Esperava-se ter umpreço competitivo do gás natural, que surgiria coma entrada de novos ofertantes e, também, com asolução das barreiras de mercado que existem hoje,fruto do monopólio da Petrobrás.

No cenário pessimista, de deterioração dascondições atuais, trabalha-se com uma tarifa maiselevada a partir de 2019. Esse cenário prevê o usodo poder de monopólio da Petrobrás como formade aumentar as receitas a curto prazo. O cenárioconsidera que a tarifa de gás natural irá variarconforme o preço do petróleo – segundo projeçãodo Energy Information Administration (EIA) – conver-gindo para USD/MMBtu 23,52 em 2028.

Este cenário prevê um aumento real de 3,0% ao anoda tarifa do gás natural entre 2017 e 2028,acumulando crescimento de quase 35% em dez

anos. Em termos nominais, o aumento seria de108,6% até 2028. Isso levaria o gás natural a ficar,em 2025, 36,5% mais caro em termos reais do queno cenário de continuidade e 246% mais caro emtermos reais que no cenário de competitividade. Osimpactos dessas mudanças sobre a economiabrasileira seriam pronunciados. Vale observar que,a despeito de ser muito pessimista, esse é o cenáriomais provável de evolução do custo do gás naturalnos próximos anos.

5.2. O impacto da energia elétrica competitiva

Como visto nos capítulos anteriores, a economiabrasileira teve um desempenho macroeconômicoruim nos últimos anos, e a continuidade da políticaenergética não contribuiu para a melhoria decenário. O desempenho da economia brasileirabaseado nos cenários de referência dos preços daenergia para os próximos dez anos é baixo, comcrescimento econômico de 2,2% ao ano na média,com uma expansão do emprego de 1,2% ao ano eum aumento relativamente pequeno da renda dotrabalho, o que não possibilita um crescimentointenso do consumo. A inflação média projetada

5.2. O impacto da energia elétrica competitiva

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para o período é de 4,5% ao ano nos preços aoconsumidor e de 5,5% do índice geral de preços.Nesse cenário econômico, o PIB per capita do paíscresce apenas 1,6% ao ano, um ritmo de expansãoque fica abaixo da tendência de crescimento darenda per capita na média mundial (1,7% ao ano)e, principalmente, da média dos países em desen-volvimento (2,7% ao ano).

O cenário competitivo de energia elétrica, quepressupõe uma queda do custo final da energiaelétrica (incluindo energia, transporte e encargos)nas classes de alta tensão para USD 40 por MWh,teria efeitos indutores de investimento e redutores decustos que elevariam a taxa de crescimento econô-mico do país e reduziriam as pressões inflacionári-as. Essa evolução das tarifas industriais possibilita-ria uma redução do custo com energia elétrica entre54% e 60% para os consumidores A1 a A3,possibilitando um retorno a uma posição fortementecompetitiva.

Os resultados das simulações são apresentados aseguir. O detalhamento do modelo de simulaçãoempregado é apresentado no Anexo MetodológicoIII e os resultadis da simulação são apresentados no

Anexo Estatístico. Entre os impactos da redução docusto da energia elétrica, os mais importantes sãoos aumentos da taxa de crescimento econômico ede expansão do emprego e a queda da inflação,três fatores que influenciaram negativamente aeconomia brasileira de 2014 em diante. Com onovo cenário, são esperadas as seguintes mudan-ças nas variáveis econômicas mais relevantes:

Com redução do custo da energia elétrica,que ficaria em 51,8% na média das classesde tensão, o investimento cresceria 6,4% nocurto prazo e 12,2% no longo prazo. Issosignifica um aumento considerável daformação bruta de capital fixo nos próximosdez anos, com elevação de quase R$ 120bilhões no fluxo anual de investimentos.

Com a elevação dos investimentos, ocrescimento do PIB saltaria de 2,2% noperíodo de 2018 a 2028 para 3,0% aoano na média do período.

Ao final de dez anos, o PIB brasileiro teriaR$ 617 bilhões a mais que o previsto nocenário de referência para a economia, o

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Gráfico 5.3PIB brasileiro, em R$ bilhões*, cenário de referência ecenário de energia elétrica competitiva

Gráfico 5.3PIB brasileiro, em R$ bilhões*, cenário de referência ecenário de energia elétrica competitiva

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

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Ganho de R$ 617 bilhões em 2028

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qual pressupõe a continuidade da políticade preços da energia elétrica (Gráfico 5.1).

A taxa de expansão do PIB per capitapassaria de 1,6% ao ano para 2,3% aoano na média dos próximos dez anos,superando a taxa média mundial deexpansão da renda per capita e aproxi-mando o Brasil do ritmo médio das econo-mias em desenvolvimento.

Com isso, o PIB per capita brasileiro de2028 seria de quase R$ 41 mil, um valor R$2.772,00 maior que o PIB per capitaprevisto no cenário de referência (Gráfico5.2).

A população ocupada alcançaria 123,9milhões de pessoas em 2028, um volume8,1 milhões superior ao projetado nocenário de referência.

O aumento da produtividade da mão deobra seria 0,7% ao ano maior, com reflexosobre o crescimento dos salários entre 2018e 2028 e no consumo das famílias.

• Na média entre 2018 e 2028, a inflaçãoteria uma redução pequena, mas bastantesignificativa (0,7 ponto percentual) em2019, ano para o qual a taxa de inflaçãoprojetada é muito elevada. Essa reduçãomais imediata da inflação seria fundamentalpara acomodar as expectativas pessimistascom relação ao país.

Os Gráficos 5.3 e 5.4 mostram, respectivamente aevolução do PIB e da renda per capita brasileiros nocenário de energia elétrica competitiva comparati-vamente a projeção feita para o cenário de referên-cia. Nota-se que, ao final do período, o PIB do paísseria R$ 617 bilhões maior que no cenário dereferência, o que equivale a uma economia detamanho superior ao Estado do Rio de Janeiro em2016.

Ao longo desses dez anos, as diferenças acumula-das de PIB teriam um valor presente de R$ 2,444trilhões, uma riqueza enorme que seria gerada amais no país em razão da reversão do quadro deencarecimento da energia elétrica. Considerando ovalor presente das diferenças de tarifas de energiaelétrica para a indústria nos dois cenários, é

Gráfico 5.4PIB per capita brasileiro, em R$ mil*, cenário de referência e

cenário de energia elétrica competitiva

Gráfico 5.4PIB per capita brasileiro, em R$ mil*, cenário de referência e

cenário de energia elétrica competitiva

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

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Ganho de R$ 2.772,00 em 2028

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possível inferir que a cada R$ 1,00 de redução natarifa a riqueza gerada no país alcançaria R$4,388 bilhões nesses dez anos. Isso indica que aredução do custo da energia é um investimento paraeconomia nacional, pois eleva o potencial de rendae o custo social de arcar com essa política retornarápida e integralmente à sociedade.

O cenário competitivo do preço do gás naturaltambém tem efeitos indutores de investimento ereduz os custos da economia, com reflexos sobre ataxa de crescimento econômico e de inflação, aosmoldes do que se analisou para o aso da energiaelétrica. No cenário de competitividade, a trajetóriaconsiderada para a tarifa do energético é dadapela evolução prevista para o Henry Hub, referên-cia de preço no mercado norte-americano, indican-do uma redução de 48% do custo real do gásnatural em dólares norte-americanos para osconsumidores industriais e para o setor de transpor-tes.

Com base nesse cenário, são esperadas as seguin-tes mudanças nas variáveis econômicas:

5.3. O impacto do gás natural competitivo5.3. O impacto do gás natural competitivo

O impacto mais importante é sobre oinvestimento, que deverá crescer 3,4% nocurto prazo e 6,4% no longo prazo. Issosignifica um aumento considerável daformação bruta de capital fixo nos próximosdez anos, com elevação de R$ 63 bilhõesno fluxo anual de investimentos.

O crescimento do PIB saltaria de 2,2% aoano para 2,6% ao ano na média doperíodo, com impacto mais forte no períodoentre 2018 e 2023.

Ao final de dez anos, o PIB brasileiro teriaR$ 325 bilhões a mais que o previsto nocenário de referência, o que equivale a umadiferença acumulada de 4,8% em relaçãoao PIB de 2018.

A taxa de expansão do PIB per capitapassaria de 1,6% ao ano para 2,0% aoano na média dos próximos dez anos.

Com isso, o PIB per capita brasileiro de2028 seria de aproximadamente R$ 39,7mil, um valor cerca de R$ 1.459,00 maior

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Gráfico 5.5PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário de gás natural competitivo

Gráfico 5.5PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário de gás natural competitivo

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Ganho de R$ 325 bilhões em 2028

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Gráfico 5.6PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referência

e cenário de gás natural competitivo

Gráfico 5.6PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referência

e cenário de gás natural competitivo

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

que o PIB per capita previsto no cenário dereferência.

A população ocupada seria de 4,3 milhõessuperior à projetada.

O aumento da produtividade da mão deobra seria ligeiramente maior, com aumentomaior nos salários entre 2018 e 2028 e damassa de salários na economia brasileira.

A inflação teria uma redução pequena(0,2%) na média entre 2018 e 2028, masimportante no ano de 2019.

Os Gráficos 5.5 e 5.6 mostram, respectivamente aevolução do PIB e da renda per capita brasileiros nocenário competitivo do gás natural comparativa-mente à projeção feita para o cenário de referência.Ao final do período, o PIB do país teria níveis derenda superiores aos dos cenários de referênciacaso haja a redução do preço do gás natural. Adiferença acumulada, de R$ 325 bilhões em2028, seria superior à soma dos PIB dos estados dePernambuco e do Ceará em 2016. Ao longo dedez anos, as diferenças acumuladas de PIB teriam

um valor presente de R$ 1,456 trilhão, indicandoum elevado ganho de riqueza associado à reversãodo quadro de encarecimento da energia. Damesma forma como foi analisado no caso daenergia elétrica, considerando o valor presente dasdiferenças de tarifas de gás natural para a indústrianos dois cenários, é possível inferir que a cada R$1,00 de redução na tarifa a riqueza gerada no paísalcançaria R$ 10,219 bilhões em dez anos.

Os efeitos conjuntos dos cenários competitivos depreços da energia elétrica e do gás natural sãobastante expressivos para a economia brasileira,principalmente no que diz respeito ao crescimentoeconômico do país. Os resultados cumulativos dassimulações são apresentados nos Gráfico 5.7 e5.8. Em linhas gerais, os ganhos econômicosesperados são:

O crescimento do PIB saltaria de 2,2% aoano para 3,3% ao ano na média doperíodo, com impacto mais forte no períodoentre 2018 e 2028. Isso tornaria o cresci-

5.4. Impactos acumulados do gás natural e daenergia elétrica

5.4. Impactos acumulados do gás natural e daenergia elétrica

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Ganho de R$ 1.459,00 em 2028

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Gráfico 5.7PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário competitivo de preços da energia (elétrica e gás natural)

Gráfico 5.7PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário competitivo de preços da energia (elétrica e gás natural)

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

Gráfico 5.8PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário competitivo de preços da energia (elétrica e gás natural)

Gráfico 5.8PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário competitivo de preços da energia (elétrica e gás natural)

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

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1998 2003 2008 2013 2018 2023 2028Cenário de referência Cenário competitivo

Ganho de R$ 4.231,00 em 2028

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mento econômico do país superior aomundial nos próximos dez anos, permitindouma ligeira recuperação da posiçãorelativa do país.

Ao final de dez anos, o PIB brasileiro teriaR$ 942 bilhões a mais que o previsto pelocenário de referência. Essa renda é quase asoma do PIB dos estados do Rio de Janeiro ede Minas Gerais em 2016 e equivaleria aquase a metade do PIB de São Paulodaquele ano.

A taxa de expansão do PIB per capitapassaria de 1,6% ao ano para 2,6% aoano na média dos próximos dez anos,permitindo que a renda média do brasileirocresça mais rapidamente que a médiamundial.

Com isso, o PIB per capita brasileiro de2028 seria de aproximadamente R$ 42,4mil, um valor R$ 4.231,00 maior que o PIBper capita previsto no cenário de referên-cia.

A população ocupada cresceria num ritmomais acelerado. Isso significaria a aberturade 12,4 milhões de postos de trabalho amais do que o projetado no cenário dereferência.

O aumento maior dos salários e da força detrabalho ocupada possibilitaria umaexpansão maior do consumo e do investi-mento das famílias brasileiras entre 2018 e2028.

O impacto sobre a taxa de inflação de2016 seria fundamental para equilibrar asexpectativas econômicas e possibilitar amanutenção das taxas de juros da econo-mia brasileira num patamar reduzido.

Os Gráficos 5.7 e 5.8 reproduzem as trajetórias doPIB e da renda per capita brasileiros no cenáriocompetitivo de preços da energia elétrica e do gásnatural comparativamente à projeção feita para ocenário de referência. Ao final do período, o PIB dopaís teria níveis de renda superiores aos doscenários de referência. Ao longo de dez anos, asdiferenças acumuladas de PIB teriam um valorpresente de R$ 3,901 trilhões, indicando um ganhode riqueza bastante expressivo, o qual pode seratribuído à reversão do quadro de encarecimentoda energia no país.

Os efeitos dos cenários pessimistas de evolução docusto da energia têm sinais contrários aos doscenários competitivos. Os resultados cumulativosdas simulações com o aumento de custos da

5.5. Impactos do cenário pessimista

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energia elétrica e do gás natural são apresentadosnos Gráfico 5.9 e 5.10. As Tabelas A.3 e A.4 doAnexo Estatístico trazem os valores das simulaçãodos cenários pessimistas com relação ao preço daenergia elétrica e do gás natural. Em linhas gerais,as perdas econômicas esperadas são:

No cenário pessimista, espera-se que ocusto da energia elétrica para a indústriafique em 42,9% mais cara e o gás naturalevolua para um preço 79,3% mais elevado.

Esse quadro de encarecimento da energialevaria a uma queda de 12%do investimen-to no curto prazo e de 22,8% no longoprazo. Isso significaria uma reduçãoacentuada da formação bruta de capitalfixo nos próximos dez anos: -R$ 222bilhões no fluxo anual de investimentos.

Com a redução dos investimentos, ocrescimento do PIB cairia de 2,2% para0,8% ao ano na média do período

, algo que já ocorreurepetidas vezes durante o longo processode encarecimento da energia no Brasil.

de2018 a 2028

O crescimento do PIB sofreria uma reduçãode 2,2% ao ano para 0,1% ao ano namédia do período, indicando estagnaçãoeconômica.

Ao final de dez anos, o PIB brasileiro teriaR$ 1,153 trilhão a menos que o previstopelo cenário de referência. O valor presen-te das perdas ultrapassaria R$ 3,7 trilhõesem dez anos.

O processo regular de encarecimento da energiaelétrica e do gás natural no Brasil elevou de formaintensa os custos de produção da indústria brasilei-ra, principalmente dos segmentos que empregamenergia de forma intensiva. Como discutido aolongo do estudo, a indústria brasileira enfrentou acompetição internacional com tendência de quedade preços das manufaturas nesse mesmo período.O resultado desses dois processos – queda depreços e aumento de custos – foi a redução demargens e o baixo investimento industrial. Em algunscasos, a relação custo-preço caminhou de tal formaque houve desinvestimento, com o fechamento de

5.6. Conclusão

Gráfico 5.9PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário pessimista de preços da energia (elétrica e gás natural)

Gráfico 5.9PIB brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referênciae cenário pessimista de preços da energia (elétrica e gás natural)

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

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Perda de R$ 1,156 trilhão em 2028

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fábricas em vários segmentos da indústria manufatu-reira brasileira. A queda do investimento e a perdade produção industrial acabaram contendo ocrescimento do PIB nos últimos anos.

Nesse contexto, a reversão do processo de encare-cimento da energia elétrica e do gás naturalconstitui uma oportunidade para a política econômi-ca, na medida em que restabelece bases sólidaspara o investimento industrial, com efeitos sobre ageração de renda e emprego em toda a economia.A análise empreendida neste capítulo mostrou queos efeitos conjuntos dos cenários competitivos depreços da energia elétrica e do gás natural sãobastante expressivos para a economia brasileira,principalmente no que diz respeito ao crescimentoeconômico do país.

O crescimento do PIB saltaria de 2,2% ao ano para3,3% ao ano na média dos próximos dez anos, comimpacto mais forte no período entre 2018 e 2023.Ao longo de dez anos, as diferenças acumuladasde PIB teriam um valor presente de R$ 3,9 trilhões,indicando um ganho de riqueza bastante expressi-vo devido exclusivamente ao barateamento daenergia no país.

Esse quadro de melhoria das perspectivas decrescimento, de aumento do emprego e o impactoda queda de custos da energia sobre a taxa deinflação são elementos fundamentais para restabe-lecer as expectativas econômicas e possibilitar aestabilização das taxas de juros da economiabrasileira em patamar reduzido. Constituem,portanto, a base de uma política econômica derecuperação das atividades em bases competitivase com visão de longo prazo.

Além disso, uma política que trouxesse os preços daenergia elétrica e do gás natural para níveis compe-titivos deve ser entendida como uma política decrescimento econômico, mas, também, como umapolítica de desenvolvimento humano. O avanço dascondições materiais da sociedade brasileiraalcançado com o crescimento econômico maisrápido inclui o aumento da expectativa de vida dapopulação e da escolaridade média das novasgerações. Com o crescimento médio anual de 1,9%ao ano do PIB per capita, o Brasil teria condições deatingir um IDH de 0,757, um índice próximo aoobtido pela Turquia em 2013, país que ficou 10postos acima no ranking mundial de desenvolvimen-to.

Gráfico 5.10PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referência

e cenário pessimista de preços da energia (elétrica e gás natural)

Gráfico 5.10PIB per capita brasileiro em R$ trilhões*, cenário de referência

e cenário pessimista de preços da energia (elétrica e gás natural)

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica. (*) a preços de 2018.

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Perda de R$ 5.192,00 em 2028

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Review of Economic Studies

Economics Papers

Study on European Energy-Intensive Industries – TheUsefulness of Estimating Sectoral Price Elasticities

Balanço Energético Nacional

Impactos econômicos de uma redução nopreço do gás natural

mpactos socioeconômicos da realocaçãoe desoneração de encargos sobre energia elétrica

A contribuição econômica e social da indústria energo-intensiva brasileira

BIBLIOGRAFIA

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60 | BIBLIOGRAFIA

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Pesquisa Industrial Anual

Fatores determinantes do investimento e o papel das mudançasInstitucionais na acumulação de capital e no crescimento do Brasil

European Workshop on Productivity,Helsinki

World Input-Output Database

World Development Indicators On-line

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Para classificar uma atividade industrial comointensiva ou não em energia, três critérios sãousualmente levados em consideração. Essescritérios estão baseados na despesa com energia esua relação com outros indicadores:

i. a participação das despesas com energiada atividade no total do consumoindustrial de energia;

ii. o peso das despesas com energia nocusto operacional; e

iii. a relação entre as despesas com energiae o valor da transformação industrial.

O primeiro critério destaca o peso de cada indústriano total do consumo industrial de energia. Deacordo com esse critério, são considerados intensi-vos em energia os setores industriais com pesoindividual elevado. O segundo critério considera opeso das despesas com energia no custo operacio-nal de cada setor, pois há setores industriais relativa-mente pequenos e que representam pouco noconsumo total de energia, mas para os quais asdespesas com energia são críticas. Por fim, há ocritério que leva em consideração a relação entre asdespesas com energia e o valor da transformaçãoindustrial. A principal diferença desse indicador em

relação ao do critério anterior é que, no denomina-dor da relação, não estão somados os custos dasmatérias- primas.

Os critérios podem ser empregados isoladamenteou de forma conjunta. O primeiro critério, porexemplo, é empregado pela Empresa de PesquisaEnergética (EPE) do Ministério de Minas e Energiano Balanço Energético Nacional. Um estudobastante extenso e detalhado sobre a indústriaintensiva em energia na Europa – Ecorys (2009) –empregou o segundo critério para selecionar ossetores de interesse, visto que esse estudo tinha porpreocupação central a questão do repasse devariações dos custos com energia aos preços dosbens industriais. O terceiro critério é adotado peloIBGE em seus indicadores conjunturais de produçãofísica da indústria segundo intensidade de energia.Em estudo realizado em 2003 pela GVConsult paraa Abrace, os três critérios foram empregados deforma conjunta.

No presente estudo, optou-se por seguir essa visãointegrada e, assim, utilizar os três critérios, visto queo seu conjunto admite como intensivos em energiatanto setores que são grandes consumidores deenergia, no sentido de que são responsáveis pelaabsorção em grande volume da energia consumidano país, como aqueles para os quais a energia é um

ANEXOS METODOLÓGICOS

I. O CONCEITO DEINDÚSTRIA INTENSIVA

EM ENERGIA

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item fundamental na formação de custos e nageração de valor.

Para identificar esses setores foram usados os dadosda Pesquisa Industrial Anual de 2016 do IBGEpara as empresas com cinco ou mais funcionários.As variáveis utilizadas, todas expressas em valorescorrentes, na construção desses indicadores foram:(i) o consumo de combustíveis (óleo combustível,gás natural, óleo diesel etc.) e de energia elétrica;(ii) o custo das operações industriais, entendidocomo a soma de todas as despesas diretas commatérias primas e serviços incorridas pelas empre-sas no processo de produção (não inclui deprecia-ção); e (iii) o valor da transformação industrial,entendido como a diferença entre o valor daprodução industrial e o custo com matérias primas eserviços. Esse conceito é uma aproximação dadefinição de valor adicionado na transformação.

No caso do primeiro indicador, são consideradosintensivos em energia os setores industriais comparticipação igual ou superior a 2% no consumoindustrial total de energia. Em 2016, 15 entre os 90setores industriais brasileiros atenderam a essecritério. Eram eles: (i) siderurgia; (ii) metalurgia dosmetais não-ferrosos; (iii) abate e fabricação deprodutos de carne; (iv) extração de minério de ferro;(v) cimento; (vi) produtos químicos inorgânicos; (vii)

produtos de material plástico; (viii) produtos quími-cos orgânicos; (ix) produtos cerâmicos; (x) outrosprodutos alimentícios; (xi) papel, cartolina e papel-cartão; (xii) peças e acessórios para veículosautomotores; (xiii) moagem, fabricação de produtosamiláceos e de alimentos para animais; (xiv)produtos derivados do petróleo e (xv) refino deaçúcar. Os quatro primeiros setores tiveram umaparticipação individual no consumo industrial totalde energia maior do que 5%.

Vale destacar que em estudo realizado pela Ex AnteConsultoria Econômica para a ABRACE em 2015foram identificados 13 setores industriais intensivosem energia de acordo com esse indicador. O setorde coquerias que era classificado como intensivoem energia por esse critério em 2013 deixou de serclassificado em 2016. Por outro lado, os setores de(i) outros produtos alimentícios, (ii) moagem,fabricação de produtos amiláceos e de alimentospara animais e (iii) produtos derivados do petróleopassaram a ser classificados como intensivo emenergia por esse indicador apenas em 2016.

Com relação ao segundo indicador, foram conside-radas intensivas em energia as indústrias para asquais o peso das despesas com energia no custooperacional se mostrou igual ou superior a 7,5%.Nessa classificação foram identificados 28 setores

62 | ANEXOS

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Tabela A.1. Setores intensivos em energia e indicadores de intensidade energética, Brasil, 2016

Participação no total

das despesas com

energia (%)

Peso das despesas

com energia nos

custos industriais (%)

Peso das despesas

com energia no valor

da transformação

industrial (%)

Total 100,0% 5,5% 7,0%

B Indústrias extrativas 9,4% 18,6% 9,9%

05.0 Extração de carvão mineral 21,2% 15,5%

07.1 Extração de minério de ferro 5,0% 22,6% 10,8%

07.2 Extração de minerais metálicos não-ferrosos 28,6% 23,5%

08.1 Extração de pedra, areia e argila 29,8% 19,9%

08.9 Extração de outros minerais não-metálicos 33,3% 18,1%

09.9 Atividades de apoio à extração de minerais, exceto petróleo e gás natural 28,6% 10,2%

C Indústrias de transformação 90,6% 5,1% 6,8%

10.1 Abate e fabricação de produtos de carne 5,3%

10.2 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado 8,4%

10.3 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 9,4%

10.4 Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais 8,0%

10.6 Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais 2,2% 7,6%

10.7 Fabricação e refino de açúcar 2,0%

10.9 Fabricação de outros produtos alimentícios 2,8%

13.1 Preparação e fiação de fibras têxteis 13,7% 28,6%

13.2 Tecelagem, exceto malha 12,4% 17,8%

13.3 Fabricação de tecidos de malha 13,0%

13.4 Acabamentos em fios, tecidos e artefatos têxteis 20,3% 18,5%

13.5 Fabricação de artefatos têxteis, exceto vestuário 7,8%

14.2 Fabricação de artigos de malharia e tricotagem 8,5%

15.1 Curtimento e outras preparações de couro 10,2%

16.1 Desdobramento de madeira 14,6% 14,4%

16.2 Fabricação de produtos de madeira, cortiça e material trançado, exceto móveis 14,5% 15,6%

17.1 Fabricação de celulose e outras pastas para a fabricação de papel 10,1%

17.2 Fabricação de papel, cartolina e papel-cartão 2,7% 16,3% 20,0%

17.4 Fabricação de produtos diversos de papel, cartolina, papel-cartão e papelão ondulado 9,4% 11,9%

19.1 Coquerias 10,5% 7,8%

19.2 Fabricação de produtos derivados do petróleo 2,1%

20.1 Fabricação de produtos químicos inorgânicos 3,6% 12,6%

20.2 Fabricação de produtos químicos orgânicos 3,2% 12,3%

20.3 Fabricação de resinas e elastômeros 15,9%

20.4 Fabricação de fibras artificiais e sintéticas 8,8% 29,1%

20.9 Fabricação de produtos e preparados químicos diversos 9,2%

21.1 Fabricação de produtos farmoquímicos 9,1% 10,9%

22.1 Fabricação de produtos de borracha 8,3%

22.2 Fabricação de produtos de material plástico 3,6% 10,5%

23.1 Fabricação de vidro e de produtos do vidro 22,1% 25,6%

23.2 Fabricação de cimento 4,2% 38,9% 55,8%

23.3 Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e materiais semelhantes 9,7%

23.4 Fabricação de produtos cerâmicos 3,2% 30,7% 32,2%

23.9 Aparelhamento de pedras e fabricação de outros produtos de minerais não-metálicos 13,2% 14,1%

24.1 Produção de ferro-gusa e de ferroligas 22,2% 20,3%

24.2 Siderurgia 6,8% 10,9% 21,5%

24.4 Metalurgia dos metais não-ferrosos 6,2% 13,8% 30,3%

24.5 Fundição 13,9% 16,8%

25.3 Forjaria, estamparia, metalurgia do pó e serviços de tratamento de metais 7,9%

27.2 Fabricação de pilhas, baterias e acumuladores elétricos 9,7%

29.4 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 2,5%

29.5 Recondicionamento e recuperação de motores para veículos automotores 9,1%

ANEXOS | 63

Fonte: IBGE (2018). Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

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64 | ANEXOS

em 2016, sendo que em 11 deles, o peso dasdespesas com energia superou 20% dos custosoperacionais. Foram eles: (i) cimento; (ii) extraçãode outros minerais não-metálicos; (iii) produtoscerâmicos; (iv) extração de pedra, areia e argila; (v)extração de minerais metálicos não-ferrosos; (vi)atividades de apoio à extração de minerais, excetopetróleo e gás natural; (vii) extração de minério deferro; (viii) ferro-gusa e de ferroligas; (ix) vidro eprodutos do vidro; (x) extração de carvão mineral e(xi) acabamentos em fios, tecidos e artefatos têxteis.Nota-se que, desse grupo, apenas 6 setorestambém foram classificados como intensivo emenergia pelo primeiro critério (participação dasdespesas com energia no total do consumo industri-al de energia).

Em 2013, haviam sido identificados 23 setoresintensivos em energia de acordo com esse indica-dor. Desses setores, em apenas cinco, o peso dasdespesas com energia superava 20% dos custosoperacionais. Além disso, os setores de produtoscerâmicos e cimento foram considerados intensivosem energia pelos dois indicadores.

No critério que mede a relação entre as despesascom energia e o valor da transformação industrial,foram consideradas intensivas em energia asindústrias cujas despesas com energia foram iguaisou superiores a 7,5% do valor da transformaçãoindustrial. Nessa classificação foram identificados39 setores em 2016, um número bem maior que o

verificado em 2013, quando foram identificados28 setores. Em 2016, o peso das despesas comenergia superou 20% do valor da transformaçãoindustrial em 10 deles: (i) cimento; (ii) produtoscerâmicos; (iii) metalurgia dos metais não-ferrosos;(iv) fibras artificiais e sintéticas; (v) preparação efiação de fibras têxteis; (vi) vidro e produtos dovidro; (vii) extração de minerais metálicos não-ferrosos; (viii) siderurgia; (ix) ferro-gusa e ferroligas e(x) papel, cartolina e papel-cartão.

Vale destacar que os setores (i) cimento; (ii) produtoscerâmicos; (iii) metalurgia dos metais não-ferrosos;(iv) siderurgia; (iv) papel, cartolina e papel-cartão e(v) extração de minério de ferro estão entre osmaiores setores intensivos em energia identificadospelos três critérios.

A Tabela A.1 traz o conjunto de setores intensivosem energia de acordo com pelo menos um doscritérios. Ao total foram identificados 48 setores queestão classificados como intensivos em energia empelo menos um dos três critérios, sendo que 6 delespertencem a indústria extrativa mineral. Em 2013,haviam sido identificados apenas 33 setoresclassificados como intensivos em energia em pelomenos um dos três critérios. O crescimento donúmero de setores classificados como intensivos emenergia se deu principalmente no terceiro indicador,mostrando o aumento do peso da energia no valorda transformação industrial em 2016.

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II. EFEITOS DO PREÇO DAENERGIA NO

INVESTIMENTOAGREGADO DAS

ECONOMIAS

No presente estudo argumentou-se quealterações no preço da energia afetam osinvestimentos. A elevação do preço da energiacomprime a margem de rentabilidade dasempresas que empregam energia de formaintensiva e operam em mercados com preçosregulados pelo mercado internacional. Issoreduz a capacidade de autofinanciamento dosinvestimentos, ao mesmo tempo em que reduzos estímulos à ampliação dos negócios. Já umaredução do preço da energia provoca reduçãode custos. No plano financeiro, essa economiaé vista como um potencial de retorno maior. Ainstalação de uma empresa que empregaenergia de forma intensiva pode gerar retornomaior para o investimento numa região onde aenergia é mais barata. Assim, o capitalindustrial é atraído para investir em áreas ondehá disponibilidade de energia a preçocompetitivo.

Este anexo traz as estimativas que embasamesses argumentos. Primeiramente, sãodetalhadas a especificação, a base de dadose a técnica econométrica empregada naanálise. Depois são apresentadas as

estimativas da sensibilidade do investimentoagregado das economias a variações no preçoda energia elétrica e do gás natural.

As especificações empregadas para investigarcomo o investimento reage a mudanças depreço da energia foram derivadas de ummodelo de ajustamento parcial. Conforme essemodelo, o investimento desejado é uma funçãolinear de um conjunto de variáveis explicativase de uma componente de erro. Na equação(1), denota o vetor de observações deinvestimento desejado, em que designa o paíse o ano da observação, e a matriz deobservações das variáveis explicativas. O vetor

denota o termo de erro, o qual se supõeindependente e identicamente distribuído, commédia 0 e variância constante.

(1) , sendo .

O conjunto de variáveis explicativas reúne osfatores que interferem na decisão de investir daseconomias. Dentre os inúmeros fatores que

Especificações

y*

x

it

it

it

it

Especificações

ititity ��� αx* � �2

it 0,IID~ ���

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66 | ANEXOS

interferem no investimento de um país, desta-cam-se: a taxa de juros de longo prazo, adisponibilidade de crédito, o retorno esperadodo capital, o preço relativo de ativos e a taxade câmbio. Magnabosco (2015) resume aliteratura sobre o tema e descreve a fundamen-tação das relações entre essas variáveis.

No presente estudo, além de considerar ainfluência desse conjunto de fatores sobre oinvestimento agregado dos países, foramempregadas informações sobre o preço daenergia elétrica, do gás natural e do óleocombustível para a indústria em cada país.Pressupõe-se que quanto menores sejam ospreços da energia elétrica e do gás naturalrelativamente ao preço do óleo combustível,uma variável balizada pelo preço do petróleo ecuja determinação é internacional, maior seriaa disposição a investir, dado que as economiascom menores custos de eletricidade e gásapresentariam vantagens para a produçãoindustrial.

O modelo de ajustamento parcial pressupõeuma relação entre o investimento desejado (queé uma variável não observada) e o investimentoefetivamente realizado. A equação (2) estabe-lece que a variação observada no investimentoentre os instantes e é uma fração da diferen-ça entre a demanda desejada no períodocorrente e a demanda observada no períodoanterior. O parâmetro é o chamado coeficien-te de ajustamento. Ele que varia entre 0 e 1 efornece a velocidade de ajustamento dosinvestimentos nas economias.

(2) .

Substituindo a equação (1) em (2) e rearranjan-do os termos, tem-se que o investimento obser-vado em corresponde à média ponderadaentre o investimento desejado em e o investi-

t t-1

t

tt

mento observado no período anterior comoilustra a equação (3). Fica claro que o coeficien-te de ajustamento expressa a velocidade com aqual o investimento corrente se ajusta aoinvestimento desejado: quanto maior o parâme-tro , mais rápido é esse ajustamento e maispróximo estão os dois valores.

(3)

A partir da equação (3) é possível discriminaros efeitos de curto e longo prazo de umamudança em alguma das variáveis explicativassobre o investimento agregado dos países. Oefeito de curto prazo corresponde ao observa-do no período corrente e é dado por:

Haveria ainda os efeitos interinos, observadosem cada período subsequente. O efeito delongo prazo da variável em corresponde àsoma do efeito de curto prazo e de todos osefeitos interinos e pode ser calculado por:

Para desenvolver a análise do efeito de varia-ções no preço da energia elétrica e do gásnatural sobre o investimento agregado daseconomias, empregou-se uma base de dadosem painel, a qual combina dados de séries detempo com seção-transversal. A base de dadosfoi extraída do World Input-Output Database(WIOD). O WIOD reúne informações anuaissobre 40 países, 27 dos quais da UniãoEuropeia, para o período que vai de 1995 a2014. As informações para cada país, por suavez, são desagregadas em setores de ativida-

x y1

Base de dados

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3

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2

11

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ANEXOS | 67

des. Essa base foi desenvolvida originalmentepara analisar os efeitos da globalização sobreos padrões de comércio internacional, o meioambiente e o desenvolvimento socioeconômicodos países.

O WIOD é composto por quatro blocos deinformações: (i) tabelas mundiais de recursos eusos e a tabela mundial de insumo-produto; (ii)tabelas nacionais, idênticas às do grupoanterior mas para cada país tomado individual-mente; (iii) contas socioeconômicas nacionais,que reúnem informações detalhadas dos 35setores de atividade; e (iv) contas “ambientais”,as quais incluem diversos indicadores, taiscomo emissão de CO², uso da terra e uso brutode energia por setor e por energético. Nopresente trabalho, o WIOD forneceu os dadosrelativos à demanda de energia elétrica e gásnatural, ao investimento, ao retorno do capitalinvestido e ao preço relativo de ativos daseconomias.

As séries de taxa nominal e real de juros e ataxa de câmbio foram extraídas do WorldDevelopment Indicators On line (WDI) doBanco Mundial. Para atualizar informações doWIOD e ampliar os dados sobre taxa de juros,também foram empregadas informações dossoftwares de recuperação de dados das basesEuroStat, Banco Central Europeu e OECDStat.

Com respeito aos preços dos energéticos,empregou-se a base de dados online daAgência Internacional de Energia (InternationalEnergy Agency Online Data Service). Foramreunidas as séries de preço total do gás natural,da eletricidade e do óleo combustível leve, emdólares por tonelada equivalente de petróleo,cobrados da indústria. No caso do Brasil,foram empregadas as informações de preço doBalanço Energético Nacional de 2018 (BEN),do Ministério de Minas e Energia.

A seguir são apresentadas as descrições dasvariáveis utilizadas no modelo:

corresponde a formação bruta decapital fixo em dólares constantes de 1995. Afonte é o WIOD.

corresponde ao total de créditodoméstico ao setor privado em dólares constan-tes de 1995. A fonte é o WDI.

essa variável foi calculada apartir de duas outras: a remuneração bruta docapital dividida pelo estoque de capital fixo,ambos a preços de 1995. Os dados foramobtidos no WIOD.

corresponde àtaxa de juros nominal de longo prazo em (%)a.a. No caso desta variável o painel não estábalanceado. Ao total, há apenas 483 informa-ções, sendo que não há informações para aChina, Estônia, Índia, Indonésia e Turquia. Asfontes utilizadas para essa série foram: (i)OCDEStat, que dispunha de informações paraAustrália, Canadá, República Checa,Dinamarca, Japão, Coreia, México, EstadosUnidos e Rússia; (ii) Banco Central Europeu, quedispunha de informações da Áustria,Alemanha, Bélgica, Bulgária, Chipre,Espanha, Finlândia, França, Grécia, Hungria,Irlanda, Itália, Látvia, Lituânia, Luxemburgo,Malta, Holanda, Polônia, Portugal, Eslováquia,Eslovênia, Suécia, Reino Unido e Romênia; e(iii) Banco Central do Brasil (TJLP).

corresponde à razãoentre o deflator implícito do estoque de capital eo deflator implícito do PIB. Os dados vêm doWIOD, para 1995 a 2009 e do WDI e doOECDStat, para o período de 2010 a 2014.

Investimento:

Crédito:

Retorno do capital:

Taxa de juros de longo prazo:

Preço relativo do capital:

Investimento:

Crédito:

Retorno do capital:

Taxa de juros de longo prazo:

Preço relativo do capital:

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Taxa real de câmbio:

Preço da energia:

Preço relativo do gás natural ao óleo combustí-vel:

Método de estimação

corresponde ao índice dataxa de câmbio real com base 1 em 1995 paratodos os países. Os índices nos anos subse-quentes são calculados multiplicando o índicedo ano anterior pela variação do câmbionominal (em USD por moeda local) e pelavariação dos preços locais (deflator implícitodo PIB) e dividindo pela variação de preços nosEstados Unidos (deflator implícito do PIB). Osdados vêm do WIOD. No período de 2010 a2014 o deflator do valor adicionado veio doWDI e do OECDStat.

corresponde ao preço daenergia industrial em dólares por toneladaequivalente de petróleo. A fonte é a AgênciaInternacional de Energia.

corresponde à razão entre o preço do gásnatural e o preço do óleo combustível, ambosem dólares por tonelada equivalente de petró-leo cobrados na indústria. A fonte é a AgênciaInternacional de Energia.

Foram selecionadas as economias da base doWIOD para as quais também há informaçõesde preços de energia no período entre 1995 e2014, o que definiu um painel não balancea-do de 25 países – Alemanha, Áustria, Bélgica,Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca,Eslováquia, Eslovênia, Espanha, EstadosUnidos, Finlândia, França, Grécia, Hungria,Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, México,Polônia, Portugal, Reino Unido, RepúblicaTcheca e Suécia – e um total de 276 observa-ções.

A literatura empírica que busca analisar osdeterminantes do investimento oferece aborda-gens e resultados variados. São diversas as

Taxa real de câmbio:

Preço da energia:

Preço relativo do gás natural ao óleo combustí-vel:

Método de estimação

metodologias: vão desde o uso do instrumentalde séries de tempo em estudos individuais depaíses, inclusive recorrendo à análise decointegração, passando por formulações deseção transversal para uma amostra de econo-mias, até o uso de dados em painel.Magnabosco (2015) apresenta uma resenhadessas técnicas e seus resultados. Dentre asvantagens associadas ao uso de dados empainel, é possível destacar o ganho de eficiên-cia resultante de um número maior de graus deliberdade e da redução da colinearidade entreas variáveis explicativas.

Para estimar as relações de curto e de longoprazo, considerou-se um painel dinâmico quecontempla a inclusão de defasagens davariável dependente no rol das variáveisexplicativas, o que gera a estimativa de q. Aexistência de uma estrutura dinâmica é determi-nante para a escolha do estimador mais apro-priado. Isso porque a presença de variáveisdefasadas entre as explicativas pode levar auma correlação entre as variáveis defasadas eo termo de erro, gerando um problema deendogeneidade. Métodos estáticos de estima-ção, como mínimos quadrados ordinários ouefeitos fixos, podem gerar estimativas viesadase inconsistentes. Para evitar esse problema,optou-se por trabalhar com o método dosmomentos generalizado (GMM) em primeirasdiferenças, cujo estimador original foi propostopor Arellano e Bond (1991).

O método de GMM consiste em tirar a primeiradiferença da equação em nível para eliminar oefeito específico de país e invariante no tempo.Na equação em primeiras diferenças, ométodo instrumentaliza as variáveis explicativasempregando as defasagens das séries comoinstrumentos, sob a hipótese de que o termo deerro remanescente na equação original emnível não seja serialmente autocorrelacionado.Outras diferenças da variável dependente

68 | ANEXOS

Page 69: OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA …...PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou um processo regular de encarecimento

também podem ser empregadas para reduzir oefeito da endogeneidade.

A Tabela A.1 reúne os resultados das estimati-vas dos determinantes do investimento. Todosos coeficientes da equação são significativos etêm os sinais teóricos esperados. A disponibili-dade de crédito e a taxa de retorno do capitalafetam positivamente o investimento. A taxa dejuros de longo prazo tem efeito negativo sobrea formação de capital. A taxa de câmbio,medida em termos de moeda estrangeira pormoeda nacional, afeta positivamente o investi-mento, como observado na maior parte dosestudos empíricos. Os coeficientes associadosaos preços dos energéticos são negativos esignificativos a menos de 1%. O coeficienteassociado ao valor defasado do investimento(0,632) é significativamente diferente de zero.O coeficiente associado à segunda defasagemdo investimento (-0,156) é significativamente

Resultados

diferente de zero. A soma dos dois coeficientes(0,476) está no intervalo esperado entre 0 e 1.

As estimativas mostram que, no curto prazo, umaumento de 10% do preço da energia elétricareduz em 1,2% os investimentos em um país e,no longo prazo, reduz em 2,4%. Essas estimati-vas ficaram muito próximas às realizadas em ExAnte (2015), com informações para o períodode 1995 a 2011, o que indica que os dadosmais recentes tiveram pouca influência sobre ocomportamento esperado do investimento.

No caso do gás natural, a elasticidade de curtoprazo é de 0,084 e a de longo prazo, de0,160. Comparados aos resultados do estudorealizado em 2015 (Ex Ante, 2015), nota-seuma elevação dos efeitos de curto e de longoprazo do gás natural na determinação doinvestimento. Anteriormente, com dados até2011, a elasticidade de curto prazo era de0,064 e a de longo prazo, de 0,130.

Tabela A.1Determinantes do investimento

Tabela A.1Determinantes do investimento

Fonte: Ex Ante Consultoria Econômica.

ANEXOS | 69

Coeficiente Erro Padrão z P-valor

Investimento defasado em -1 (ln) 0,63184 0,06906 9,15 0,0%

Investimento defasado em -2 (ln) -0,15598 0,07119 -2,19 2,8%

Crédito (ln) 0,16501 0,04351 3,79 0,0%

Retorno do Capital 4,95177 0,54375 9,11 0,0%

Taxa de juros de longo prazo -1,25065 0,32471 -3,85 0,0%

Taxa de câmbio 0,38987 0,03154 12,36 0,0%

Preço relativo do Capital -0,27954 0,07370 -3,79 0,0%

Preço da energia (ln) -0,12367 0,02841 -4,35 0,0%

Preço relativo do gas natural ao óleo -0,08410 0,02953 -2,85 0,4%

Constante 8,58825 1,14637 7,49 0,0%

Notas: Número de instrumentos = 25; Wald chi2(8) = 798,51; Prob > chi2 = 0,0000.

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A metodologia de estimação dos efeitos doscenários de preço da energia elétrica e do gásnatural sobre preços, investimento, produção ecomércio externo está baseada num modelo deequilíbrio geral da economia estruturado comprodução a coeficientes fixos (Modelo deLeontief) e componentes de demanda sensíveisa preços relativos e à renda. Neste anexo, sãodetalhados os conceitos teóricos, as bases dedados e os procedimentos utilizados nassimulações realizadas neste estudo.

A matriz insumo-produto representa as transa-ções intersetoriais realizadas numa economiadurante o ano. A economia é segmentada em

A matriz insumo-produto

setores produtivos, ou atividades, que partici-pam do fluxo de mercadorias e serviços utiliza-dos como insumos ou como produtos. Os fluxosintersetoriais têm o aspecto típico descrito naFigura A.1. As principais variáveis sobre asquais são definidas as relações de insumo-produto são:

A matriz insumo-produto

X

X

Df

C

I G

E

V

ij

i

i

i

i i

i

j

: a quantidade de insumo, em valormonetário, produzido pelo setor eadquirido pelo setor ;

: o valor monetário da produção total dosetor ;

: o valor monetário da demanda finalpelo insumo do setor , que correspondeà soma do consumo familiar desteinsumo ( ) com o investimento privado( ) o dispêndio governamental ( ) e asexportações ( );

: o valor adicionado pelo setor .

Na linha estão as vendas do produto paracada um dos setores da economia de formaque:

ou ainda:

.

ij

i

i

j

i i

III. EFEITOS DASMUDANÇAS DE PREÇOSDA ENERGIA ELÉTRICA EDO GÁS NATURAL NAPRODUÇÃO

i

m

j

iji DFXX �� ��1

)(1

iiii

m

j

iji EGICXX ����� ��

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A demanda total se iguala ao valor da oferta éformada pela demanda final, realizada pelosconsumidores, investidores e governo, e pela ademanda intermediária, também chamada deconsumo intermediário.

O modelo de insumo-produto assume que a quanti-dade de insumo do setor i consumido pelo setor ( )é proporcional à produção total do próprio setor( ). No modelo, = . , em que é constante eexpressa a quantidade do insumo i necessária àprodução de uma unidade do bem . Isso equivale adizer que o consumo por parte do setor de insumosdo setor é uma função linear de sua própriaprodução do setor. Assim, para dobrar a suaprodução, por exemplo, o setor demanda do setori o dobro de insumos. A matriz = ( ) é conhecidapor matriz de tecnologia e os seus elementos ' ' sãochamados coeficientes técnicos de insumos diretos.

A partir dessas relações, obtém-se um sistema linearde m equações e incógnitas:

, = 1, 2, ..., ,

j Xj

X X a X a

jj

i

jA a

a

m

i m

ij

j ij ij j ij

ij

ij

ou seja, + + ... + + = , = 1, 2,3, ..., . Na forma matricial, este sistema pode serescrito como:

+ = , ou ainda, ( – ). =

em que é a matriz de tecnologia, quadrada dedimensão ; é o vetor coluna cujoselementos são os valores das produções dosdiversos setores; é o vetor coluna correspon-dente à demanda final e é a matriz identidadetambém de dimensão .

Note-se que, em geral, o consumo intermediário deum setor não ultrapassa o total de sua produção, istoé:

,j = 1, 2, 3, ..., .

Isso equivale a dizer que, = 1, 2, 3, ..., .Assim, o sistema acima pode ser resolvido para :conforme descrito pela equação (1). A matriz = ( –

)-1 é chamada de matriz inversa de Leontief. Osistema (1) mostra o quanto a economia produz decada mercadoria e serviço para atender a deman-da total da economia.

a X a X a X DF X im

AX DF X I A X DF

Amxm X mx1

DF mx1I

mxm

m

j mX

L IA

i1 1 i2 2 in n i i

Figura A.1Tabela de Insumo-produto

Elaboração: Ex Ante Consultoria Econômica.

��������

��������

m

i

2

1

X

X

X

X

��������

��������

mmmm

iiii

2222

1111

EGIC

EGIC

EGIC

EGIC

����

����

��������

��������

mmmj2m1m

imij2i1i

m2j22221

m1j11211

XXXX

XXXX

XXXX

XXXX

��

������

��

������

��

��

Demanda final

���

���

mj21

mj21

mj21

MMMM

VVVV

CICICICI

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��

��

� �mj21 XXXX ��

Consumo do setor j X

Pro

duto

do se

tor

iD

ispên

dio

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m

i

2

1

X

X

X

X

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��������

m

i

2

1

X

X

X

X

��������

��������

mmmm

iiii

2222

1111

EGIC

EGIC

EGIC

EGIC

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����

��������

��������

mmmm

iiii

2222

1111

EGIC

EGIC

EGIC

EGIC

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����

��������

��������

mmmj2m1m

imij2i1i

m2j22221

m1j11211

XXXX

XXXX

XXXX

XXXX

��

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��

������

��

��

��������

��������

mmmj2m1m

imij2i1i

m2j22221

m1j11211

XXXX

XXXX

XXXX

XXXX

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���

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mj21

mj21

MMMM

VVVV

CICICICI

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��

� �mj21 XXXX ��X

ANEXOS | 71

i

m

j

jiji

m

j

iji DFXaDFXX ���� ���� 11

��

�m

i

ijj XX1

��

�m

i

ija1

1

Page 72: OS IMPACTOS DOS PREÇOS DA ENERGIA …...PREÇO DA ENERGIA, CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO Ao dos últimos 18 anos, o Brasil observou um processo regular de encarecimento

X I A DF L.DF

CED j mj

E Xm

CED E X E X E X

j CEDj

Lm Z L.DF

P CED Z CED.L DF CEDI.DFCEDI m CED.L

CEDI CED . L

= ( – )-1. = (1)

A fim de mensurar o uso efetivo da energia utilizan-do a matriz de insumo-produto, são construídosmultiplicadores de energia. O coeficiente deenergia direto , = 1, 2, ..., é obtido peladivisão do consumo de energia de cada setor deatividade, , pelo respectivo valor da produção, .Compondo um vetor-linha (1x ) com estes quocien-tes, chega-se a:

= ( / / ... / ) (2)

Isto é, para se produzir uma unidade de produto dosetor , são necessários unidades de enregiano próprio setor , seguindo a hipótese de relaçõeslineares de Leontief. Além do impacto direto, há oefeito indireto do consumo de enregia em toda aeconomia, visto que o setor demandado deveconsumir produtos provenientes dos demais. Paracalcular este efeito, multiplica-se a matriz pelovetor-coluna de demanda ( x1), ou seja, = .Assim, a energia utilizada pela demanda é dadopor = . =( ). = . O vetor-linha

(1x ), o qual é igual a , é conhecidocomo o vetor de coeficientes de energia direto eindireto.

= (3)

j

j j

1 1 2 2 m m

j

O efeito das variações do preço daenergia na matriz insumo-produto

Por ser um bem final, consumido por famílias egoverno, e um bem intermediário, empregadopor empresas na produção de outras mercado-rias e serviços, a energia afeta diretamente oscustos de produção e o custo de vida dasfamílias. Por esse motivo, alterações nos preçosda energia elétrica ou do gás natural afetamdiretamente a produção de todas as mercado-rias da economia e o nível de consumo dascomponentes de demanda final (governo,famílias, exportação e formação bruta decapital).

As alterações de preços da energia afetam aeconomia por dois canais. O primeiro é oefeito sobre o investimento: um aumento ouredução do preço da energia reduz ou eleva,respectivamente, o investimento agregado daeconomia,alterando o nível de demanda. Emreação às variações de demanda, a economiareduz ou eleva a produção, alterando os níveisde renda, emprego e consumo intermediáriode mercadorias e serviços.

O efeito das variações do preço daenergia na matriz insumo-produto

72 | ANEXOS

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O segundo efeito é o impacto de alterações dospreços da energia sobre os custos de produ-ção. Uma redução do preço do gás natural, porexemplo, reduz o custo de produção dasmercadorias. Isso implica um aumento damargem, que eleva o investimento, ou a possibi-lidade de redução de preço do bem, no casode haver concorrência internacional. Quandohouver diminuição de preço da mercadoria, osconsumidores e investidores reagem elevando ademanda, cujo aumento irá acionar a produ-ção necessária para sua satisfação.

O modelo de simulação empregado acompa-nha a evolução dos preços de todos os 110produtos após o choque inicial dado pelavariação de preços da energia elétrica ou dogás natural, até o ponto em que a economiaalcança novamente um equilíbrio e aquelespreços se estabilizam. Para capturar essesmovimentos da economia, foi necessáriocalcular uma série de elasticidades de preço erenda. Com relação ao consumo das famíliassão aplicadas três elasticidades que fazem oconsumo de cada mercadoria evoluir: (i) aelasticidade renda do consumo; (ii) a elasticida-

de do consumo em relação ao preço da merca-doria; e (iii) a elasticidade-cruzada, que medeo efeitos de alterações nos preços das demaismercadorias e a demanda por um dado bem.Essas elasticidades variam de produto aproduto e foram calculadas por meio de mode-los econométricos com dados históricos dasmatrizes insumo-produto brasileiras de 1995 a2016. As exportações e os gastos do governoreagem apenas a alterações de preços dasmercadorias, enquanto que as importaçõesreagem apenas à evolução da renda.

Após a mudança de custos são calculados asnovas demandas e os níveis de produção eimportação de cada mercadoria. Com basenesses níveis, calculam-se a produção decor-rente, assim como a renda gerada, o empregoe a demanda intermediária. Sucessivamente,chega-se ao equilíbrio final da economia ondeprevalecem novos níveis de demanda e oferta ede preços. Sobre esses níveis são, então,calculados os agregados da economia: PIB,ocupação, índice geral de preços, índice depreços ao consumidor etc.

ANEXOS | 73

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IV. ANEXO ESTATÍSTICOTabela A.2Índice de custo unitário com energia elétrica, indústria de transformação, base 2000=100Tabela A.2Índice de custo unitário com energia elétrica, indústria de transformação, base 2000=100

Tabela A.3Índice de custo unitário com gás natural, indústria de transformação, base 2000=100Tabela A.3Índice de custo unitário com gás natural, indústria de transformação, base 2000=100

Índice de despesaÍndice de

produção física

Índice de

custo unitárioÍndice de despesa

Índice de

produção física

Índice de

custo unitário

2000 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

2001 110,58 101,36 109,10 86,10 101,36 84,95

2002 141,25 101,89 138,63 88,50 101,89 86,86

2003 179,14 101,99 175,66 106,51 101,99 104,44

2004 229,65 110,74 207,37 143,65 110,74 129,71

2005 330,72 113,42 291,58 248,56 113,42 219,15

2006 380,28 116,11 327,53 319,83 116,11 275,46

2007 401,39 123,05 326,21 377,14 123,05 306,50

2008 408,31 126,77 322,09 407,34 126,77 321,32

2009 412,88 117,85 350,34 378,28 117,85 320,98

2010 437,05 129,68 337,02 454,42 129,68 350,41

2011 467,48 130,06 359,44 510,81 130,06 392,75

2012 542,16 126,95 427,06 507,66 126,95 399,89

2013 555,45 130,50 425,62 471,16 130,50 361,03

2014 585,12 125,06 467,88 455,04 125,06 363,87

2015 887,32 112,75 786,95 487,45 112,75 432,32

2016 828,60 105,99 781,74 434,52 105,99 409,95

2017 841,54 108,37 776,51 482,51 108,37 445,23

2018 883,59 109,58 806,34 442,52 109,58 403,83

Var. (%) a.a. 12,9% 0,5% 12,3% 8,6% 0,5% 8,1%

Em R$ Em USD

Índice de despesaÍndice de

produção física

Índice de

custo unitárioÍndice de despesa

Índice de

produção física

Índice de

custo unitário

2000 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

2001 134,01 101,36 132,22 104,35 101,36 102,96

2002 198,38 101,89 194,70 124,29 101,89 121,99

2003 225,17 101,99 220,78 133,87 101,99 131,27

2004 297,30 110,74 268,46 185,97 110,74 167,93

2005 203,75 113,42 179,64 153,13 113,42 135,01

2006 221,99 116,11 191,19 186,70 116,11 160,80

2007 550,30 123,05 447,23 517,07 123,05 420,22

2008 600,35 126,77 473,57 598,92 126,77 472,45

2009 516,70 117,85 438,43 473,40 117,85 401,69

2010 650,90 129,68 501,93 676,76 129,68 521,88

2011 889,34 130,06 683,79 971,78 130,06 747,17

2012 1.043,67 126,95 822,11 977,26 126,95 769,79

2013 1.105,54 130,50 847,13 937,77 130,50 718,58

2014 1.161,99 125,06 929,17 903,68 125,06 722,61

2015 1.271,78 112,75 1.127,93 698,67 112,75 619,64

2016 1.220,16 105,99 1.151,15 639,85 105,99 603,67

2017 1.378,54 108,37 1.272,01 790,42 108,37 729,34

2018 1.654,24 109,58 1.509,61 828,48 109,58 756,05

Var. (%) a.a. 16,9% 0,5% 16,3% 12,5% 0,5% 11,9%

Em R$ Em USD

Fonte:BalançoEnergéticoNacional,ANEEL, ANPe IBGE.

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ANEXOS | 75

Tabela A.4PIB e impactos do cenário de energia competitiva,

2018 a 2028, em R$ bilhões

Tabela A.4PIB e impactos do cenário de energia competitiva,

2018 a 2028, em R$ bilhões

Tabela A.5PIB e impactos do cenário de deterioração do custo da energia,

2018 a 2028, em R$ bilhões

Tabela A.5PIB e impactos do cenário de deterioração do custo da energia,

2018 a 2028, em R$ bilhões

Energia

elétrica

Gás

naturalAcumulado

2018 6.811,161 - - -

2019 6.947,384 65,970 43,150 109,120

2020 7.086,332 135,217 88,300 223,518

2021 7.228,059 207,867 135,519 343,386

2022 7.372,620 284,045 184,880 468,924

2023 7.520,072 363,885 236,456 600,341

2024 7.708,074 409,923 252,724 662,647

2025 7.900,776 458,208 269,672 727,880

2026 8.098,295 508,830 287,323 796,153

2018 8.300,753 561,880 305,703 867,583

2019 8.508,271 617,453 324,837 942,290

Cenário de

referência

Cenário compeititivo

Energia

elétrica

Gás

naturalAcumulado

2018 6.811,161 - - -

2019 6.947,384 -47,647 -16,329 -63,976

2020 7.086,332 -96,866 -33,273 -130,139

2021 7.228,059 -147,697 -50,848 -198,545

2022 7.372,620 -200,181 -69,072 -269,252

2023 7.520,072 -254,358 -87,963 -342,321

2024 7.708,074 -347,872 -145,140 -493,013

2025 7.900,776 -444,857 -204,715 -649,573

2026 8.098,295 -545,415 -266,764 -812,180

2018 8.300,753 -649,650 -331,367 -981,017

2019 8.508,271 -757,669 -398,604 -1.156,273

Cenário de

referência

Cenário compeititivo

Fonte: Ex Ante Consultoria Econômica.

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