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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 4859 OS INVESTIMENTOS DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO MUNDO GLOBALIZADO: NOVAS TERRITORIALIDADES NO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO TERRITORIAL FLUMINENSE THIAGO JEREMIAS BAPTISTA 1 Resumo O artigo em tela evidencia a ascensão do Brasil como um dos maiores receptores de investimentos estrangeiros diretos (IED) oriundos da República Popular da China (RPC) no início do século XXI, bem como elenca a inserção de regiões em desenvolvimento neste processo e identifica o estado do Rio de Janeiro (ERJ) como uma das Unidades Federativas (UF) da região Sudeste do país que mais recebe este tipo de investimento. Com efeito, evidencia-se através deste trabalho que essa situação deve-se a tentativa do país asiático assegurar seu acesso aos recursos estratégicos dado o ingresso de grandes empresas estatais chinesas que passam a atuar como novas territorialidades no processo de reestruturação territorial fluminense. Palavras-chave: Investimentos chineses, território fluminense, reestruturação territorial. Abstract The article on screen shows the raisen of Brazil as one of the biggest receptoes of direct foreign investments coming from Popular Republic of China in the begining of the 21st century, as welll as the insertion of developing regions in this process and it idenfigirs the state of Rio de Janeiro as one of the Federative Unions of the Southest region of Brazil, that receives these investments the most. Due to this, through this work, it can be seen that this situation happens due to the attempt of the asian country to ensure its access to strategic resources thus the ingress of big state chinese bussiness that start to act with new territories in the process of reestructuration of the fluminense territory. Key-words: Chinese investments, fluminense territory, territorial restructuration. 1 Introdução O artigo em tela evidencia que no início do século XXI, o Brasil ascendeu como um dos maiores receptores de investimentos externos diretos 2 (IED) oriundos da República Popular da China (RPC). A espacialização desse tipo de investimento 1 - Mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e integrante do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense (NEGEF). E-mail: [email protected]. 2 Embasando-se em Gonçalves (2003) Videira (2011) define investimento externo direto (IED) ou investimento direto estrangeiro (IDE) como todo fluxo de capital com o intuito de controlar a empresa receptora do investimento. Para a autora o principal agente de realização do IED é a empresa transnacional, ou seja, uma empresa de grande porte que controla ativos em pelo menos dois países. Assim, entende-se por IED ou IDE os investimentos internacionais realizados por uma empresa ou entidade em um país distinto daquele que emite o investimento, abarcando assim todo o tipo de capital investido em um país com interesse duradouro, sendo direcionado para o setor produtivo ou para apoiar a produção, excetuando-se aqueles capitais com fins especulativos no setor financeiro.

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OS INVESTIMENTOS DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO MUNDO GLOBALIZADO: NOVAS TERRITORIALIDADES

NO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO TERRITORIAL FLUMINENSE

THIAGO JEREMIAS BAPTISTA1

Resumo O artigo em tela evidencia a ascensão do Brasil como um dos maiores receptores de investimentos estrangeiros diretos (IED) oriundos da República Popular da China (RPC) no início do século XXI, bem como elenca a inserção de regiões em desenvolvimento neste processo e identifica o estado do Rio de Janeiro (ERJ) como uma das Unidades Federativas (UF) da região Sudeste do país que mais recebe este tipo de investimento. Com efeito, evidencia-se através deste trabalho que essa situação deve-se a tentativa do país asiático assegurar seu acesso aos recursos estratégicos dado o ingresso de grandes empresas estatais chinesas que passam a atuar como novas territorialidades no processo de reestruturação territorial fluminense.

Palavras-chave: Investimentos chineses, território fluminense, reestruturação territorial.

Abstract The article on screen shows the raisen of Brazil as one of the biggest receptoes of direct foreign investments coming from Popular Republic of China in the begining of the 21st century, as welll as the insertion of developing regions in this process and it idenfigirs the state of Rio de Janeiro as one of the Federative Unions of the Southest region of Brazil, that receives these investments the most. Due to this, through this work, it can be seen that this situation happens due to the attempt of the asian country to ensure its access to strategic resources thus the ingress of big state chinese bussiness that start to act with new territories in the process of reestructuration of the fluminense territory.

Key-words: Chinese investments, fluminense territory, territorial restructuration.

1 – Introdução

O artigo em tela evidencia que no início do século XXI, o Brasil ascendeu

como um dos maiores receptores de investimentos externos diretos2 (IED) oriundos

da República Popular da China (RPC). A espacialização desse tipo de investimento

1 - Mestrando em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro e integrante do Núcleo de Estudos de Geografia Fluminense (NEGEF). E-mail: [email protected].

2 Embasando-se em Gonçalves (2003) Videira (2011) define investimento externo direto (IED) ou

investimento direto estrangeiro (IDE) como todo fluxo de capital com o intuito de controlar a empresa receptora do investimento. Para a autora o principal agente de realização do IED é a empresa transnacional, ou seja, uma empresa de grande porte que controla ativos em pelo menos dois países. Assim, entende-se por IED ou IDE os investimentos internacionais realizados por uma empresa ou entidade em um país distinto daquele que emite o investimento, abarcando assim todo o tipo de capital investido em um país com interesse duradouro, sendo direcionado para o setor produtivo ou para apoiar a produção, excetuando-se aqueles capitais com fins especulativos no setor financeiro.

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no território nacional privilegia o Sudeste (RENAI, 2012), região onde o estado do

Rio de Janeiro (ERJ) está inserido e projeta-se como um dos maiores receptores no

referido período. Os fatores que conduziram a inserção do território fluminense no

processo de expansão dos investimentos chineses apresentam-se como a questão

central a ser analisada, sobretudo, quando se elenca as atividades produtivas

chinesas implantadas no território como um novo agente e uma nova territorialidade

no processo de reestruturação territorial assistido pelo estado supracitado e a

possibilidade de continuação dessa trajetória, haja vista a visita do Primeiro-Ministro

chinês Li Keqiang – em maio de 2015 – ao Brasil e o anúncio de mais investimentos

chineses no território nacional. A relevância e a contribuição do artigo decorrem da

avaliação da internacionalização dos investimentos chineses tendo como recorte

espacial o território fluminense, visto que estudos realizados tomaram outras escalas

geográficas como recorte analítico. Para isto, conta-se além desta introdução com

mais três seções que antecedem suas conclusões.

2 – Procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos utilizados para a elaboração do artigo

compreendem àqueles realizados pelas pesquisas qualitativas. Com efeito, o estudo

se baseia na revisão bibliográfica acerca da temática, bem como na obtenção de

referenciais teóricos, documentos oficiais, dados e informações referentes à

ascensão da RPC como investidor internacional e o ingresso dos investimentos

chineses no território fluminense. O trabalho fundamenta-se ainda no uso de dados

quantitativos referentes à expansão dos investimentos chineses no mundo e no

Brasil. Assim, parte da pesquisa se baseia no uso de fontes primárias – relatórios

oficiais – que apresentaram informações relevantes disponibilizadas em bibliotecas e

sítios eletrônicos de instituições oficiais como: Comissão Econômica para América

Latina e Caribe (ECLAC – sigla em inglês), Centro Empresarial Brasil-China (CEBC),

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), assim como no uso de fontes

secundárias marcadas pela literatura especializada.

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3 – Expansão e reorganização geográfica dos investimentos

chineses: o influxo do capital sínico no território nacional

A organização do espaço mundial assistiu aos diferentes ciclos sistêmicos de

acumulação caracterizados por uma unidade central hegemônica que moldou a

economia e o sistema-mundo. Como decorrência deste processo ciclos sistêmicos

de acumulação se conformaram desde os séculos XV-XVI tendo como centro

hegemônico Gênova, Holanda, Inglaterra e os Estados Unidos (ARRIGHI, 2012).

A atual transferência do epicentro da economia política global da América do

Norte para a Ásia Oriental, onde a China se projeta como novo líder do

renascimento econômico regional evidencia a constituição de um novo regime

(ARRIGHI, 2008). Assim, a conformação de um novo ciclo sistêmico de acumulação

dá-se pelo renascimento econômico da Ásia Oriental, e nesta perspectiva, “a atual

recentralização da economia na Ásia” (ARRIGHI, 2008, p. 37) configura a região

como o novo centro dinâmico da economia mundial (FIORI, 2007 e ARRIGHI, 2008),

projetando-se como um fenômeno relevante, sobretudo, por que a região abriga um

país que emergiu política e economicamente no sistema interestatal capitalista, a

República Popular da China.

A posição de liderança ocupada pela RPC na Ásia Oriental conforma-se como

uma importante mudança nos polos de comando e poder da economia mundial.

Com efeito, a espetacular projeção econômica chinesa é entendida como parte das

mudanças estruturais pela qual passa o sistema internacional, em que se sobressai

a formação de novos centros de geração de riqueza e poder (GONÇALVES, 2010).

De acordo com Harvey (s.d, p. 145) a “China domina la totalidad del este y el sureste

de Asia como una potencia hegemónica regional con una enorme influencia global”.

Como resultado, a “China se abrió en su totalidad a las fuerzas del mercado y del

capital extranjero, aunque todavía bajo el ojo vigilante del partido” (HARVEY, s.d, p.

131).

“A China superpotência econômica dos dias atuais é o legado de Deng

Xiaoping” (KISSINGER, 2011, p. 326), e compartilhando com os históricos países do

centro capitalista o desenvolvimento da globalização, “a China vê sua participação

na globalização como uma condição para o seu próprio desenvolvimento econômico

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e social que, no seu dizer, a conduziria para uma economia de mercado socialista.

Contando com densa participação nos intercâmbios internacionais de comércio e

investimento” (GEIGER, 2012, p. 207). Diante desse contexto, o país mais populoso

do mundo ingressa no século XXI como a segunda maior economia mundial, tendo

como pilares de seu crescimento econômico a produção industrial, o comércio

externo, os investimentos estrangeiros e a internacionalização de suas atividades

produtivas (LYRIO, 2010), ocupando posição relevante como investidor internacional

dado o aumento de sua participação no estoque e no fluxo de IED.

Embora a China permaneça, no decorrer da última década, como o país

asiático que mais recebeu IED, e como efeito de uma trajetória econômica que

remonte a abertura do território chinês ao influxo de capital estrangeiro no período

da gestão Xiaoping3 (KISSINGER, 2011), nota-se que dada a sua relevância muitos

estudos abordaram esta temática. Entretanto, a ascensão da economia chinesa à

condição de investidor internacional motivou a realização de pesquisas elaboradas

por Ipea (2011), Oliveira (2012), Cebc (2013; 2014; 2015), Ribeiro (2013) e Alves

(2014), tomados aqui como referências teóricas acerca da expansão dos

investimentos chineses no mundo e no Brasil. Porém, convergimos com os

apontamentos de Oliveira (2012) e Ribeiro (2013) quando destacam que pouca tem

sido a atenção conferida à RPC como investidor internacional.

Ampliando sua projeção econômica, no âmbito das finanças internacionais, a

RPC expandiu a atuação de empresas estatais e investiu em diferentes regiões do

espaço mundial. Por esse prisma o país asiático que em 2010 afirmou-se como

segundo maior PIB global e maior economia asiática é um novo ator no sistema

interestatal capitalista e possui um importante papel na geopolítica e na economia

mundial, sobretudo, quando se projeta como um novo investidor no território

nacional. Na condição de investidor internacional, o país asiático, ampliou sua

participação no estoque e nos fluxos de investimentos no mundo (Tabelas 01 e 02).

3 A chegada de Deng Xiaoping ao poder foi marcada por importantes mudanças, entre estas, tem-se

a abertura do território chinês ao influxo de investimentos internacionais e a modernização das estruturas produtivas do país.

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País de origem Ano - (US$ milhões)

China

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

916 6.885 2.518 2.855 5.498 12.261 21.160

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

26.510 55.910 56.530 68.811 74.654 84.220

101.000

Tabela 01 – China: Fluxo de investimento direto para o exterior (2000-2012/13) (Em US$ milhões) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Alves (2014) e http://chinability.com/ODI.htm - acesso em: 12 abr 2015.

Através da análise da tabela acima, nota-se que entre 2000 e 2013 a China

ampliou seu fluxo de investimentos no exterior, assim o país atingiu US$ 101 bilhões

em fluxos de investimento em 2013.

Com um estoque de IED compreendendo US$ 509 bilhões, em 2012, o país

asiático ascendeu à posição de destaque entre os investidores internacionais,

passando a ocupar a 13ª posição entre os maiores investidores diretos no exterior e

alcançando o 1º lugar entre os países em desenvolvimento, atingindo participação

de 2,16% no estoque de IED no mundo naquele ano (Tabela 02).

País de Origem 1990 2000 2005 2010 2012 Participação %

Mundo

China 4.455 27.768 57.706 317.211 509.001 2,16

Tabela 02 – China: Estoque de investimento direto no exterior (1990-2012) (Em US$ milhões) Fonte: Adaptado de ALVES, 2014.

A primeira fase da expansão dos investimentos chineses ao exterior

compreende o último quartel do século XX, entretanto, a partir da década de 1990 e

da estratégia Go Global4 no início do século XXI ocorreu a saída mais expressiva de

capitais chineses para o mercado internacional (Tabela 01) (JABBOUR, 2010;

OLIVEIRA,2012; ALVES 2014).

Ao longo dessa trajetória, a internacionalização dos investimentos chineses

teve entre as suas prioridades e objetivos garantir acesso ao suprimento de recursos

estratégicos e necessários ao desenvolvimento do país. Com esse objetivo a RPC

4 “Inserida na estratégia de desenvolvimento delineada pelo Décimo Plano Quinquenal (2001-2005) e

marco inicial do terceiro e último período, que se estende até o presente” (ALVES, 2014, p. 353), a estratégia Go Global estabeleceu políticas de incentivo ao investimento externo, estando entre os seus objetivos a inserção competitiva das firmas chinesas no mercado globalizado com diferentes objetivos, entre estes, apoiar firmas na exploração além-mar de recursos naturais escassos domesticamente.

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iniciou a expansão de seus investimentos no exterior direcionando-os aos países

desenvolvidos, no entanto, mais recentemente a reorganização geográfica na

distribuição espacial de seus investimentos conduziu os países em desenvolvimento,

em especial aqueles localizados na Ásia e América Latina à condição de maiores

receptores dos investimentos chineses (IPEA, 2011). Portanto, entre 2003-2009 os

países que integram a região da Ásia e Bacia do Pacífico, assim como a África, a

América Latina e o Caribe foram às regiões para onde se direcionaram os maiores

volumes dos fluxos de investimentos externos diretos oriundos da RPC (Gráfico 01).

Gráfico 01 – Distribuição geográfica dos fluxos de investimentos externos diretos chineses por regiões (2003-2009) (em %) Fonte: Ministry of Commerce of China (MOFCOM), 2009. Statistical Bulletin of China’s Outward Foreign Direct Investment, Beijing, 2010. Asia and the Pacific includes the countries of Oceania and therefore Australia, one of the main destinations for Chinese outward FDI apud Rosales & Kuwayama (2012, p. 33).

Como efeito desse processo o influxo do capital sínico no território nacional foi

ampliado. Assim, há que se destacar que embora houvesse este tipo de

investimento no país em momentos pretéritos, os mesmos não possuíam vulto tão

relevante quanto aos US$ 13 bilhões investidos no país em 2010 (Tabela 03). Neste

ano, a RPC intensificou a incorporação das trocas com o Brasil às necessidades da

sua economia, bem como elevou consideravelmente os investimentos neste país

sul-americano.

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Ano Valor total em US$ 2007 434.000.000 2008 20.000.000 2009 95.000.000 2010 13.090.000.000 2011 8.030.000.000 2012 3.449.000.000 2013 3.235.000.000 Total 28.353.000.000

Tabela 03 – Investimento externo direto (IED) chinês no Brasil (2007-2013) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Cebc, 2013; Cebc, 2014 e Cebc, 2015.

Compreende-se, através da análise da tabela acima, que embora tenha

ocorrido a diminuição no influxo de investimentos chineses no território nacional nos

últimos anos, o período 2011-2013 é caracterizado por um influxo superior aos anos

que antecederam 2010. Acompanhando a tendência nacional, o ERJ, entre 2004-

2013, recebeu considerável volume de investimentos chineses. Nesse sentido, a

maior contribuição conferida por este artigo deve-se ao fato de propor uma análise

acerca dos investimentos chineses direcionados ao território do ERJ, tendo em vista,

que estudos acerca da internacionalização dos investimentos sínicos5 foram

realizados apresentando sua distribuição em outras escalas geográficas, utilizando-

se, portanto, de recortes espaciais distintos do proposto por este trabalho.

4 – Uma nova territorialidade no processo de reestruturação

territorial fluminense: os investimentos chineses

Com uma extensão de 43,7 mil km², o território fluminense apresenta uma

organização constituída por 8 regiões de governo6 e malha municipal conformada

por 92 municípios (Figura 03). Situado na Região Sudeste do Brasil, o ERJ é a

segunda maior economia do país e quando somado aos estados desta mesma

região (SP, MG e ES) representa mais de 50% do PIB nacional. Marcado por uma

nova conjuntura econômica o aludido estado individualmente tem ampliado sua

participação na economia brasileira, o que corresponde atualmente por 11,5% do

5 Investimentos de origem chinesa.

6 Não consiste enquanto objetivo deste trabalho analisar a forma de regionalização proposta ao

estado do Rio de Janeiro, mas tão somente utilizá-la como escala de análise por facilitar a obtenção

de dados que orientam a realização deste estudo.

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PIB nacional, bem como assiste a uma reestruturação territorial, cuja principal

característica compreende a reorganização do influxo de investimentos e

implantação de atividades produtivas no interior do território, entretanto, sem muita

participação do capital sínico.

Esta seção avalia o influxo de investimentos chineses no ERJ no início do

século XXI e considera-os como uma nova territorialidade que atua na

reestruturação territorial pelo qual o ERJ vem passando. No início deste século, o

território fluminense7 assiste um grande influxo de investimentos, parecendo

confirmar a tendência avaliada por estudiosos que analisando a sua reestruturação

produtiva a partir dos anos 1990, compreenderam as últimas décadas do século XX

como um momento de superação da trajetória de estagnação pari passum ao

processo de retomada de crescimento econômico do estado, sendo este capaz de

reverter sua perda de importância na economia nacional após o período de perdas

relativas ou de esvaziamento econômico atravessado entre as décadas de 1930-

1980, dada a redução de sua participação na produção industrial do Brasil e

diminuição da participação do supracitado estado no PIB brasileiro (Tabelas 04 e 05)

(MELO, 2001; OLIVEIRA, 2008; SILVA, 2012).

UF 1907 1919 1939 1949 1950 1960 1975 1980 1985 2000

RJ* 40,0 28,4 22,0 19,3 21,1 17,3 13,5 10,6 9,5 8,6

SP 16,5 33,0 45,4 48,0 46,6 54,5 55,9 53,4 51,9 42,0

Tabela 04 – Rio de Janeiro e São Paulo: participação na produção industrial do Brasil (%) (1907-2000) *Soma da cidade do Rio de Janeiro com o estado do Rio de Janeiro entre 1907-1975. Fonte: Elaborado a partir de Melo, 2001.

% / Ano 1939 1949 1959 1970 1975 1980 1985 1990 1997

Total 21,0 20,0 18,0 16,0 15,0 13,2 12,4 12,3 11,0

Tabela 05 – Participação do estado do Rio de Janeiro no PIB brasileiro em % (1939-1997) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de SANTOS, 2003 e SILVA, 2012.

Portanto, diante de uma nova conjuntura econômica, o ERJ destaca-se em

primeiro lugar na carteira de investimentos industriais, logísticos e de serviços. Com

efeito, os investimentos públicos e privados previstos para o estado do Rio de

Janeiro no período 2011-2013 alcançaram um significativo montante de R$ 181,4

7 No que concerne a atual configuração territorial fluminense esta resulta de eventos históricos

importantes, que remontando a década de 1970 implicaram a fusão entre os estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.

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bilhões (TERRA et al, 2012).O incremento de investimentos no território evidencia a

maior inserção deste na economia globalizada e a superação daquele período de

estagnação e de esvaziamento econômico ou perdas relativas de participação na

economia nacional dada a implantação de novas atividades produtivas no território

do estado.

Desde a década de 1990, o influxo de capitais produtivos no território

promoveu reconfigurações de economias regionais que se mostravam como

espaços economicamente decadentes, especializando regiões do território e

promovendo sua reestruturação produtiva na passagem do século XX para o XXI

(OLIVEIRA, 2008; MARAFON et al, 2011; SILVA, 2012). A participação de

atividades relacionadas direta e indiretamente à extração petrolífera na porção

setentrional do território estadual e sidero-metalúrgicas, metal-mecânicas e

automotivas na porção meridional do estado dada a reorganização dos fluxos de

investimentos no território (Figura 03) deram o tom da reestruturação territorial sem

muita participação do capital sínico.

Figura 1 – ERJ: Regiões de governo, municípios e o redirecionamento dos investimentos no território

Entretanto, o incremento no influxo de capital sínico e a aumento de sua

participação em setores produtivos da economia brasileira incluiu o estado do Rio de

Janeiro entre as áreas compreendidas pelo processo de internacionalização dos

investimentos da RPC, sobretudo, quando se identifica que entre os anos 2007-2013

os investimentos chineses no Brasil totalizaram US$ 28,3 bilhões, sendo a Região

Sudeste a mais contemplada com esses investimentos (CEBC, 2015). A expansão e

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a reorganização geográfica dos investimentos chineses no mundo, bem como a

inserção de regiões em desenvolvimento na lógica de internacionalização do capital

sínico implicou o influxo de US$ 26 bilhões no território fluminense entre 2004-2013

(Tabela 06). Tal fato permite elencá-los como um novo agente e uma nova

territorialidade atuante no processo de reestruturação territorial assistido pelo ERJ

após o período de esvaziamento econômico ou perdas relativas.

Ano Empresa Origem

Valor Anunciado em US$

Modo de Entrada

Setor Estrutura de Propriedade

Determinante do Investimento

2004 Sinopec 240.000.000 Greenfield Energia (petróleo e Gás)

Central SOE Busca de Mercado

2010 Sinopec Repsol Brasil

7.109.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e gás)

Central SOE Busca de Recursos

2010 Sinochem Statoil ASA*

3.070.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e gás)

Central SOE Busca de Recursos

2010 CR Zong-shen**

20.000.000 Greenfield Automotivo Privada Busca de Mercado

2010 Sinopec/ CNOOC***

6.000.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e gás)

Central SOE Busca de Recursos

2010 Wuhan Iron/Steel

Group (Wisco)

****

3.500.000.000 Joint Venture Siderurgia Central SOE Busca de Recursos

2010 Sinopec *****

Não divulgado Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (petróleo e gás)

Central SOE Busca de Recursos

2011 CNR

200.000.000 Fusões & Aquisições (completa)

Ferroviário SOE Busca de Mercado

2011 Sinopec

3.500.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (Petróleo e Gás)

Central SOE Busca de Recursos

2012 Sinopec (Anunc)

947.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (Petróleo e Gás)

Central SOE Busca de Recursos

2013 CNPC e CNOOC

1.500.000.000 Fusões & Aquisições

(parcial)

Energia (Petróleo e Gás)

Central SOE Busca de Recursos

Total 26.086.000.000

Tabela 05 – Investimentos chineses no território fluminense 2004-2013 *Aquisição de 40% da exploração do Campo de petróleo offshore Peregrino (Bacia de Campos) **Instalação de Fábrica utilizando a marca KASINSKI ***Negociações separadas para aquisição de 20% no campo de petróleo offshore e participação em ativos da OGX (Bacia de Campos) ****Instalação de siderúrugica, com 70% de participação da Wisco na joint venture (Porto do Açú - São João da Barra) *****Participação acionária no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) Fonte: Elaborado pelo autor.

O ingresso das empresas estatais chinesas (Central SOE) no território

fluminense evidencia a materialização desses investimentos, cujo determinante

compreende a busca de recursos e a busca de mercado, tendo como modo de

entrada dos investimentos tanto o joint-venture e o greenfield, quanto às fusões e

aquisições.

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5 – Conclusões

Através da identificação do volume de investimentos e das principais

empresas chinesas que ingressaram no território fluminense pode-se inferir que o

influxo de investimentos chineses no ERJ visa, sobretudo, assegurar recursos

estratégicos, em especial o petróleo, à RPC, haja vista que estes se materializam

através da presença de agentes como as empresas estatais de origem sínica em

sua maior parte as petrolíferas CNOOC, CNPC, SINOPEC e SINOCHEM, assim

como conformam uma nova territorialidade presente no processo de reestruturação

territorial do aludido estado por atuar visando o controle de áreas e recursos neste

existente.

6 – Referências

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