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OS LABIRINTOS DE REGINA COMO NASCE UM LABIRINTO … · Usou couro, madeira, acrílico, emaranhados de ouro com pérolas South Sea que parecem flutuar sobre eles. Joias de artista

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OS LABIRINTOS DE REGINAPÁG. 08

COMO NASCE UM LABIRINTOPÁG. 28

TODOS OS CAMINHOS LEVAM À ARTEPÁG. 42

SIGA AS SETAS: ELA POR ELESPÁG. 54

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A Talento nasceu pela mãos de uma mulher. Foi em 1990, que minha mãe, Terezinha Géo Rodrigues, deu vida à joalheria, impulsionada pelo amor que nossa família sempre teve por joias, não só como acessórios repletos de gemas e metais preciosos mas também como símbolos da memória – ninguém esquece o momento em que ganhou uma aliança no pedido de casamento ou o primeiro brinco dado a um bebê, no caso, minha irmã Vanessa, que quando nasceu despertou a vontade em minha mãe de criar suas próprias joias, pensando em cada detalhe do que considerava importante: a tarracha cashmere, que envolve a orelha, proporcionando mais conforto, veio daí e acabou se transformando em uma das nossas marcas registradas – anos mais tarde, quando lançamos os ear cuffs, ela foi fundamental para dar o caimento certo aos brincos.

De Minas Gerais, Terezinha deu vasão à sua criatividade tendo em mente dois pilares: embelezar quem usava as suas joias e garantir o tal caimento perfeito, o conforto aliado ao design. Garimpou e treinou a mão de obra especializada que até hoje é responsável pela construção das joias que imagina, e que é incansável na feitura das técnicas mais complicadas. A verdade é que os artesões são o coração da nossa empresa, razão pela qual adicionamos o Handmade Masterpieces ao DNA da Talento e não nomeamos nenhum head designer, embora Terezinha e Vanessa sejam as cabeças à frente da criação.

Pouco a pouco, afinal, minha mãe se transformou de professora, sua formação acadêmica, em designer. Treinou o olhar. Passou a entender forma e conteúdo, a diferenciar o extraordinário do comum. Fez cursos, viajou pelas principais feiras do setor. Inventou e brincou com diferentes matérias-primas, que renderam alguns dos mais importantes prêmios da joalheria, como três De Beers International Awards. Usou couro, madeira, acrílico, emaranhados de ouro com pérolas South Sea que parecem flutuar sobre eles. Joias de artista. Essa tendência em trabalhar com diferentes materiais e surpreender encontrou eco no trabalho de outra grande mulher – a artista multimídia Regina Silveira, eleita para criar neste ano uma joia de série limitada e numerada, parte do projeto Joia de Artista, que começou em 2016 ao recriar o único colar feito em vida pela arquiteta Lina Bo Bardi.

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A ideia do projeto não foi casual. Foi, desde o princípio, uma forma de homenagear o trabalho intelectual e manual de grandes nomes da cultura brasileira, mas também dos artesãos, artistas populares que muitas vezes não têm o devido valor reconhecido e que honestamente estão quase em extinção: ourives, alfaiates e carpinteiros são profissões normalmente associadas ao passado, que sobrevivem passando de pai para filho, da mesma maneira que a Talento impregnou toda a nossa família – quando entramos na empresa, eu e minhas irmãs, Vanessa e Maria Tereza, já estávamos familiarizados com todos os processos, da procura pelas gemas mais raras aos desenhos, da produção à distribuição, atualmente dividida entre seis lojas próprias.

Foi ainda uma maneira de mostrar que as joias também são objetos artísticos, requisitando o mesmo apuro e criatividade vistos em grandes obras. E também, importante ressaltar, têm o mesmo caráter imortal, passando de uma geração a outra e carregando traços de história. Quando me deparei com a criação contínua de Regina Silveira, que desde os anos 1970 transborda arte, tive certeza de que ela era um nome fundamental para evoluirmos nessa empreitada. A obra Derrapagens (2004/2007), por exemplo, me fez enxergar ali, em rastros de pneus imaginários, brincos e colares, ouro texturizado.

Depois das primeiras conversas, intermediadas pelo curador Waldick Jatobá, chegamos finalmente à ideia de trabalhar um traço que permeia toda a sua obra: os labirintos. Exímia desenhista, mulher à frente do tempo, capaz de moldar seu pensamento às mais diferentes plataformas, foi a própria Regina que sugeriu a pulseira bracelete que simula um labirinto, com lápis-lázuli ou coral cabochão fazendo as vezes de pessoas ali, perdidas e ao mesmo tempo encontradas. Paradoxos, tal a natureza humana ou das pedras preciosas, que se escondem para depois serem reveladas.

Como Terezinha e Lina, Regina é uma mulher labiríntica, que inspira e intriga. Quanto mais nos debruçamos sobre sua obra, mais vemos tesouros escondidos. E não são assim, no fundo, todas as mulheres?

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OS LABIRINTOS DE REGINA

Da mitologia egípcia à grega, da filosofia aos romances, da psicanálise ao cinema, a imagem do labirinto é uma das mais antigas representações da vida humana. Perder-se, estar sem saída, bifurcar-se em caminhos e em si mesmo, estar em uma constante busca, estar preso, perdido ou dar cabo de um desafio, resolver o labirinto em questão. Quantas e quantas vezes, não nos sentimos nessa encruzilhada aparentemente sem saída?

Não à toa, labirintos são usados em jogos desde a Antiguidade e até hoje no universo infantil, estimulando (ou tentando), desde cedo, as crianças a se familiarizarem com os desafios que as aguardam por toda a jornada. Em várias culturas, eles também são vistos como rituais de iniciação espiritual, em que seria preciso alcançar o centro e sair de lá mais forte, no mínimo com algumas respostas encontradas durante o percurso. Se pararmos para pensar, o labirinto é a metáfora perfeita da própria mente humana, subconsciente em particular – um emaranhado de ideias que se cruzam, aparecem e desaparecem, vislumbres que dão pistas sobre algo, em geral, algo que é preciso decodificar.

Substantivo masculino, labirinto tem como sinônimos “complicação, confusão, embaraço”. Ou seja: boa coisa, parece que não é. É tipo aquele sonho estranho, que nos faz despertar cansados e sem entender o que se passou. O dicionário vai além e coloca o labirinto como perturbador do espírito – e, curiosamente, o ouvido interno é conhecido como labirinto e seu mau funcionamento resulta em perda de equilíbrio, labirintite. O labirinto nos tira o chão. No Aurélio e Houaiss, labirinto também tem com sinônimo “dédalo”. E, se você se lembra minimamente das aulas de mitologia grega, sabe do que se trata: Dédalo foi o arquiteto contratado pelo rei Minos para construir o mais célebre dos labirintos, o de Creta.

Erguida tal prisão, os corredores com entradas e saídas múltiplas foram planejados para abrigar o Minotauro, metade homem, metade touro, devorador de almas na mitologia grega – de tempos em tempos, Atenas, subjugada à Creta, tinha que enviar jovens que serviriam de lanche para o monstro. Mais ou menos como o tributo pago pelos distritos em Jogos Vorazes, uma vez que a cultura pop está

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impregnada de referências clássicas. Resumidamente, labirintos podem ser vistos também como um símbolo de opressão, de poder do mais forte sobre os mais fracos, de amedrontamento simbólico – basta ver o labirinto para se lembrar do Minotauro. Basta a suposição para o pavor de percorrê-lo.

“Os labirintos são espaços enovelados e difíceis de percorrer. Porém, em alguns deles, como os meus 15 Laberintos, a primeira série que fiz com essa temática, há múltiplas saídas – e até poderiam ser considerados como falsos labirintos”, diz Regina Silveira, artista brasileira de carreira internacional, que começou a trabalha-los de maneira estritamente gráfica em 1971, quando lecionava na Universidade de Porto Rico. “Mesmo considerando a expansão futura desses labirintos para algumas das diversas séries gráficas que fiz, são esses, com sua geometria seca, que fazem a conexão direta com minhas investigações anteriores sobre espaço e forma.”

Na própria Grécia, nunca foi encontrado nenhum vestígio do suposto labirinto de Creta, o que o colocaria nesse lugar imaginário ou simbólico, terreno do fantástico, tão bem retratado em filmes de cunho político, como o Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro, que rendeu várias teses de dissertação, ou nos textos de Jorge Luis Borges (ele próprio considerado um escritor labiríntico):

“Outra história ridícula é que eu, Astérion, sou um prisioneiro. Repetirei que não há uma porta fechada, acrescentarei que não há uma fechadura? Além disso, num entardecer pisei a rua; se antes da noite voltei, fiz isso pelo temor que me infundiram os rostos da plebe, rostos descoloridos e achatados, como a mão aberta. Já havia se posto o sol, mas o desvalido choro de uma criança e as toscas preces da grei disseram que me haviam reconhecido. O povo orava, fugia, prosternava-se; alguns trepavam no estilóbata do templo dos Machados, outros juntavam pedras. Algum, creio, ocultou-se sob o mar. Não em vão foi uma rainha minha mãe; não posso confundir-me com o vulgo, ainda que minha modéstia o queira”, narra Astérion em A Casa de Astérion, um dos contos de O Aleph, publicado em 1949. Astérion, o nome próprio do Minotauro, como ficou popularmente conhecido, não estaria preso? Fica a questão.

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Da mesma maneira, podemos olhar para as séries Armadilhas para Executivos 1 e 2 e Destrutura, criadas por Regina entre 1974 e 1976. Nas serigrafias, há imagens apropriadas de revistas e jornais da época, que representam homens de paletó preto, políticos, executivos... Os tais homens de gabinetes. Com a intervenção da artista, eles são envoltos por inúmeros fios, como se tivessem caído em uma arapuca, como se estivessem em um labirinto criado por nós, espectadores. Do lado de cá, porém, não seríamos nós os prisioneiros dos jogos e conluios de poder? Das salas fechadas dos gabinetes e escritórios?

“Nos anos da ditadura militar, a maioria de meus trabalhos gráficos acoplava desenhos e imagens apropriadas da mídia impressa. Cheguei a formar extensos arquivos com fotos que recortava de revistas e periódicos semanais, comprados em bancas próximas ao estúdio. Elaborava essas imagens por procedimentos fotomecânicos, para fazer gravuras ou matrizes, que depois dirigia a meios gráficos diversos e também à edição de livros de artista, com pequena tiragem. Fotos de situações executivas, de reuniões políticas e desfiles militares serviam a meus propósitos de abordar as questões de poder que nos afligiam no período.”

Parece familiar?

Sim, a arte de Regina Silveira tem um caráter político e atual, é inegável. Mas ela não é panfletária, não senhor. Não tente enquadrá-la em partidos ou servi-la com coxinha ou mortadela. Ela captura, relativiza, ironiza e nos convida a pensar sobre os ares de um tempo – é uma arte impregnada por um conceito social forte, não apenas por um efeito gráfico ou performático.

Não é de estranhar, portanto, que o jogo político saído dos jornais tenha ganhado sua obra. Tampouco que os abutres, aves que se alimentam de restos de carne de outros animais, também tenham sido representados por ela, em Labirinto para Abutres 1 e 2 (1974); Destrutura para Abutres (1976) e Corredores para Abutres (1982). Assim como os pássaros, o Minotauro se alimentaria da carne humana. Assim como metaforicamente alguns políticos – Robespierre era chamado de Minotauro

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no século 18, tamanha sua fome de poder. Segundo o professor e escritor Juanito de Souza Brandão, a própria figura da besta poderia ser uma alusão ao rei Minos: o símbolo do touro associado ao nome do rei representaria a tirania escondida no inconsciente do monarca – Freud explica.

Pelas mãos de Regina, os abutres, nossos velhos conhecidos, são lançados nos principais cartões-postais do Brasil, no livro Brazil Today, de 1977. “Nesta obra de quatro volumes (Brazilian Birds, Natural Beauties, The Cities e Indians from Brazil), utilizo criticamente cartões-postais comprados no Aeroporto de Congonhas e reúno comentários gráficos sobre um irônico Brasil turístico. O título da obra foi emprestado de uma revista Manchete da época, editada em inglês e dedicada a turistas estrangeiros”, explica.

Presos em labirintos, os abutres ficam à espera da carniça na Praça dos Três Poderes, em Brasília, voam para cima em movimentos espirais ao lado de um atônito Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ou sobrevoam a Transamazônica, que corta à navalha a mata nativa. Há algo de biológico ali – estudiosa que é, sabe retratar as correntes de ar e o movimento dos pássaros –, e há algo de mórbido ali, como se as paisagens estivessem contaminadas por algo que não se vê, por uma podridão oculta. O Brasil que nenhum gringo quer ver. O anticartão-postal, por isso, mais verdadeiro. A arte crítica de Regina Silveira continua contemporânea exatamente 40 anos depois, com nossos políticos abutres, matas devastadas, índios presos em estereótipos.

Da mesma forma, arrisco dizer, se daqui a 40 anos alguém se deparar com Infinities, ambiente interativo concebido para a cave de realidade virtual do HLRS, centro de computação avançada filiado à Universidade de Stuttgart e obra que consumiu boa parte do calendário de 2017 da artista, provavelmente vai achá-la moderna.

“Infinities é a experiência que poderíamos sentir quando estamos presos em um labirinto infinito, em que as paredes atingem nosso peito e, aparentemente, se expandem até o horizonte, em todas as direções. O usuário se sente imerso em um mar de águas rasas sem terra para alcançar”, explica Regina.

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Se sentir em um mar de águas rasas é uma expressão bastante associada ao pensamento acrítico que inunda as mídias digitais – no labirinto da web, é possível encontrar tudo. Mas será que encontramos algo de fato? A realidade virtual é a nova realidade? O que é de fato real? São algumas das perguntas que faríamos se chegássemos ao centro do labirinto. São algumas das perguntas que intrigam desde a Antiguidade filósofos, artistas e todo tipo de gente minimamente sensível.

Em Sem Fim, de 2001, e em Track Series, de 2007, Regina parece nos dar algumas pistas de tantos mistérios. Nas primeiras gravuras, as escamas de serpentes se transmutam em linhas e percursos de labirintos regulares – serpentes se arrastam pelo chão, deixando um rastro detectável, que nos permite saber por onde elas passaram ou, mais importante, se existe alguma no nosso caminho, ainda que não necessariamente essa informação possa nos poupar de um possível confronto. Escamas também são vistas como símbolos de renovação, cobras trocam de pele, afinal – e, ironicamente, continuam sempre cobras. Já em Track Series, os simbolismos parecem evoluir e a escama pode ser “lida” como derrapagens de pneus, “que se aproximam à textura das serpentes – paradoxalmente provocadas por pequenas motocicletas de plástico, pintadas de cor prateada”. Rastros de pneus mostram algo que já não se vê, a possível trajetória feita por um carro. Assim como rastros de cobras no mato, ou o fio de Ariadne sinalizando o impossível caminho, voltando para nossa aula de mitologia.

Mas, por mais tentador que seja seguir caminhos delineados, migalhas de pão pelo chão, e escapar do que parece ser uma angustiante prisão, se perder e fazer as pazes com o labirinto pode ser a mais sábia das lições – Nietzsche foi um dos primeiros a afirmar que o Minotauro representaria outro conhecimento, que só se atinge quando se caminha em sua direção, e não buscando a saída do labirinto. Eis que os labirintos de Regina Silveira estão aqui de portas abertas, esperando para te capturar. Entre, espie e percorra sem claustrofobia.

Renata PizaSão Paulo, 2017

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COMO NASCE UM LABIRINTO

De 15 de março a 30 de maio, vários testes foram feitos até a equipe chegar ao resultado final que você vê aqui. Com o desenho de Regina no computador – sim, ela é amante da tecnologia – e os complementos dos designers da Talento no papel, a produção começou os estudos criando um módulo de prata em formato L, que se repete por toda a pulseira. Padrão pronto, hora da fase 2: a réplica de inúmeros módulos em cera, que juntos dão a ideia labiríntica presente nos dois módulos maiores; os trilhos por onde correm um único lápis-lázuli ou coral cabochão, o banho de metal e assim por diante.

Confira o passo a passo do processo de elaboração da primeira joia:

Estudos de design 15 dias

Confecção do módulo em L 4 dias

Retirada de borracha 1 dia

Injeção em cera 1 dia

Montagem de árvore de fundição 1 dia

Fundição em prata 4 dias

Confecção dos módulos em prata 10 dias

Retirada de borracha 1 dia

Injeção em cera 2 dias

Montagem de árvore de fundição 2 dias

Fundição em ouro 4 dias

Polimento 2 dias

Banho da liga metálica 1 dia

Colagem das gemas 1 dia

Tempo total 49 dias

Profissionais envolvidos 7

Desde que foi criada, nos anos 1990, a Talento se especializou em joias feitas à mão, quase todas únicas, one of a kind. É no QG da joalheria, em Belo Horizonte, que abriga a concept store, o ateliê de criação e a oficina de produção, que tudo começa: desde os desenhos feitos no papel vegetal até as mãos do ourives-chefe, que garantirá a execução perfeita de cada peça.

Mas fazer uma joia em parceria com uma artista requer um passo além do extraordinário. É preciso conciliar o briefing, levar em conta toda a trajetória artística (para manter a coerência) e quebrar a cabeça para encontrar as melhores soluções – leia-se técnicas – para finalmente dar vida a uma joia-arte. E, claro, manter a identidade da joalheria. “Tivemos que encontrar o equilíbrio entre os desejos da artista e o objetivo de criar uma joia confortável e segura para ser usada. Afinal é arte, mas também é joia”, destaca Vanessa Geo Rodrigues Ladeira, diretora de produção da joalheria.

Um fecho não previsto no projeto inicial da artista, por exemplo, teve que ser adicionado, sem que interferisse visualmente no design do labirinto. Regina também pediu que pedras preciosas corressem pelo caminho, assim como Teseu percorreu Creta, ou os participantes da obra interativa Odisseia, exposta no Itaú Cultural, em São Paulo, seguiam bolas para encontrar a saída do labirinto de realidade virtual.

“A solução foi lixar os dois módulos frontais, criando um trilho para que a gema pudesse correr livremente”, diz Vanessa.

Como erguer um labirinto de ouro que pudesse ser visto não só como peça escultória mas também como acessório, joia para ser usada na vida real? “Toda confecção foi bastante desafiadora. Uma das maiores dificuldades foi realizar a curvatura dele, porque não havia como prever o comportamento dos módulos de ouro quando eles fossem unidos. O desenho do labirinto presente em cada um deles, contínuo e sem conexões, poderia acabar se deformando, o que seria um desastre. Mas desse desafio veio uma grande surpresa. O próprio ouro encontrou um caminho para solucionar o problema, se conformando nos pontos corretos e garantindo a leveza presente no bracelete.”

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TODOS OS CAMINHOS LEVAM À ARTE

trânsito frenético e pesado que sobe por muros e fachadas, arrasando arquiteturas e transformando espaços habitáveis em vias rápidas e caóticas”, escreveu Regina em Linha de Sombra, livro produzido para a exposição homônima realizada no Centro Cultural Banco do Brasil, em 2009.

Pois é: além dos icônicos labirintos, luz e sombra, arquitetura e perspectiva são alguns dos traços que acompanham a longa produção da artista. E nada é aleatório, pelo contrário. São conceitos intrínsecos, aliás, à própria história da arte, assimilada e deglutida por ela. “Todo o meu trabalho remete à história da arte, passada e recente. Mas isso é feito através do conceito e nunca pela citação direta.”

São conceitos resultantes de anos e anos dedicados à academia. Foi em 1959 que Regina Silveira, gaúcha de Porto Alegre, concluiu seu bacharelado em artes plásticas pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nunca mais abandonaria as salas de aula e estudos. Nos anos 1980, concluiu mestrado e doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP, onde usou Anamorfas e Simulacros como teses de dissertação.

Passou para o lado de lá e lecionou no Instituto de Artes da UFRGS (1964-1969), na Universidade de Porto Rico (1969-1973), na FAAP, em São Paulo, onde lecionou de 1973 a 1985, tendo entre seus alunos Luciana Brito, a galerista que hoje a representa, Leda Catunda e Ana Maria Tavares, entre outros grandes artistas.

Ora mestre, ora aluna, Regina estudou com Iberê Camargo, com quem fez cursos de gravura e pintura. Cursou história da arte na Espanha, onde conheceu seu marido, Julio Plaza (influenciada por ele, desenvolveu o interesse por novos meios, como vídeo arte). Ganhou diversas bolsas de estudos pelo mundo, incluindo as da John Simon Guggenheim Foundation (1994), da Pollock-Krasner Foundation (1993) e da Fulbright Foundation (1994).

Absorveu e captou referências que vão de Manet a Marcel Duchamp, o primeiro a levantar no século 20 a função da arte como pensamento. Contemplou, por assim dizer, 433 anos da história da arte em seu trabalho, como aponta o crítico

Regina Silveira é gente que faz. Aos 78 anos, ela tem aquele tipo de energia que invejamos silenciosamente, tentando decifrar o que ela toma, come, quando e quantas horas dorme. Ao entrar em sua casa, em São Paulo, temos a sensação de que estamos num espaço de calma e silêncio, estilo casa de avó pronta para receber os netos. Um gato da vizinhança sempre se acomoda, preguiçoso, em uma das poltronas da sala, a pequena mesa de jantar abriga xícaras de café e chocolates para as visitas, as paredes conservam obras trocadas com diferentes artistas, em um escambo que faz com que quase não haja brancos e com que o tempo possa ser medido por estilos artísticos.

Basta virar à direita, porém, e adentrar em seu enorme ateliê com ares de galpão, para ter uma certeza: Regina não é a avó à espera dos netos. É uma mulher ativa – muito, diga-se de passagem – , que gira o mundo por causa de exposições, arranja não se sabe como disponibilidade para ser jurada de prêmios de cultura, para relançar livros e trabalhar em novos projetos, como a exposição Consciência Cibernética, onde apresentou Odisseia, uma experiência estética em realidade virtual que leva o visitante para dentro dos famosos labirintos da artista, definidos em 3D por um computador do High Performance Computing Center (HLRS), na Alemanha.

Unidos no mesmo espaço estão a casa quase bucólica e o ateliê com computadores, inúmeras estantes cheias de livros sobre ela e, claro, sobre arte, mapotecas com serigrafias de diferentes épocas de sua vida, maquetes de seus trabalhos efêmeros espalhadas sobre uma mesa central – Regina usa o recurso para solucionar a efemeridade de suas instalações, a exemplo de Atractor (2011) – que cobriu com vinil espelhado a fachada da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, refletindo a luz do lago Guaíba, – ou Derrapando (2004), trabalho de 117 m2 de pintura e vinil adesivo, que tingiu o Centro Cultural España, em Montevidéu, de rastro de pneus.

“Com as marcas de pneus, aproprio-me de marcas mecânicas e urbanas que constituem a experiência dura e cotidiana de transitar pelas cidades, com a intenção de acumular fragmentos gráficos oriundos do desenho de muitos tipos de pneus de diferentes veículos. A ideia é recriar a presença fantasmagórica de um

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meios, considerando também a deterioração lurbana. Ainda assim, nessas séries quase nada é explicitamente político, pois quase sempre preferi passar o conteúdo das imagens pelo filtro da ironia”, afirmou a artista em 2005.

Como uma massa de um bolo, Regina mistura ingredientes que parecem estranhos à primeira vista, paradoxos, que desaguam numa forma perfeita, independentemente da plataforma escolhida – serigrafia, fotografia, vinil, projeção, realidade virtual... No final, salpica tudo com boas doses de ironia, com fica claro na obra-receita abaixo, que questiona a própria arte brasileira.

e professor Teixeira Coelho no texto Na ideia da Arte, em que analisa a temática do labirinto a partir das telas Os Colheiteiros (1565), de Peter Bruegel, Trigal com Corvos (1890), de Van Gogh, e Corredores para Abutres, de Regina Silveira.

“As três imagens mostram também, as três, do mesmo modo, caminhos que são um ato num caso e potencialmente nos outros – labirintos: o corredor aberto no campo de trigo, numa, que é prolongado por bifurcações cujos destinos o Observador ignora; o caminho trifurcado através do trigal, na outra, também sem fim visível; e as passagens pelo meio das elevações de setas, na terceira, que não levam a lugar nenhum. Na primeira reprodução as figuras são facilmente reconhecíveis. Já Van Gogh, na sua, introduz distorções: as figuras continuam visíveis, mas suas referências perdem em nitidez, embora mantenham o assunto ao alcance do sentido. E, na terceira, os abutres são figuras precisas, mesmo que os labirintos tenham sido reduzidos à sua essência: uma estrutura diagramada.”

Continua Coelho: “Três visões de um possível mesmo tema. Três sensibilidades distintas: a observação (a neutralidade diante do assunto e na linguagem: Bruegel), a paixão (à adesão, à linguagem e ao tema: Van Gogh), a derrisão (à distância pela linguagem e na desconstrução do tema – o pathos suspenso: Regina Silveira. Aqui se tem um curso de história da arte em cinco minutos”.

Mas nem só de referências clássicas vive a obra de Regina. Ela é uma artista do mundo, com obras em museus como o MoMA, em Nova York, embora não se possa excluir o fato de ela ser brasileira, sujeita a peculiaridades do nosso país. Talvez daí resulte parte de sua verve política, com destaque para o período da ditadura militar (ela volta ao Brasil em 1973) e a capacidade de levantar por meio da arte discussões sobre moradia, preservação ambiental, trânsito, políticos de gabinete.

“Considero que as primeiras peças verdadeiramente influenciadas pelos acontecimentos políticos e sociais do momento foram as séries de obras realizadas com os novos meios gráficos dos anos 1970. Nelas, as imagens são quase sempre representações críticas, algumas vezes focadas no poder político e outras nos A arte de questionar e fazer arte.

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Quais influências da Regina foram absorvidas por você em suas obras?Ela teve um papel muito importante na minha formação como artista. Nos anos 1980, houve uma retomada da pintura no Brasil, mas não me identificava com aquilo, apesar de ser a tônica do momento. Os jovens se entregavam, em geral, à pintura sem refletir muito. A Regina me mostrou que a arte não precisava necessariamente ser espontânea, que podia ser crítica, inclusive criticando a própria arte. Tive aulas com várias pessoas, mas acredito que só recebemos influência daqueles com os quais temos afinidades. Foi um encontro para mim, pois ela abriu outras portas da arte.

O que você destacaria no trabalho dela?A clareza. Ela mostra que a arte pode ser interessante, profunda e filosófica ao mesmo tempo, sem necessariamente ser obscura. Quando vejo um trabalho da Regina, vejo clareza na proposta e na execução, a definição de um propósito que me interessa. É uma arte que não hesita.

A Regina tem muitas fases e características próprias. Qual delas chama mais a atenção?O que me fisgou foram as Anamorfas. O trabalho de representação por códigos foi bastante influente pra mim. Você pode lidar com aquilo da forma que quiser, adaptar os códigos sem ficar preso a macetes. Esta foi outra lição da Regina: evitar os vícios do meio.

Pessoalmente o que mais admira nela?Ela me passa firmeza e honestidade, e isso também se reflete no trabalho dela. Tem uma questão ética sempre que ela coloca no trabalho e na vida.

Formado em 1986 pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP/SP), Iran do Espírito Santo teve aulas com Nelson Leiner e Regina Silveira, de quem destaca a capacidade de extrapolar os vícios do meio.

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Nome forte da galeria que leva o seu nome, Luciana Brito representa o trabalho de Regina Silveira no Brasil desde a década de 90. Ex-aluna e amiga, ela conta como começou a se relacionar – e entender – uma das artistas mais atuantes do mercado internacional.

DAS SALAS DE AULAPARAOS MUSEUS

Quando você se deparou pela obra da Regina pela primeira vez?Minha relação começou na faculdade, porque fui aluna dela na Faap (Fundação Armando Alvares Penteado, em SP). Então, a gente já tem esse vínculo desde o começo dos anos 1980. Conheço o trabalho dela desde essa época, quando nem tinha ideia de que teria uma galeria – estava estudando para ser artista. Ela dava aula de gravura e começamos nos relacionar e se aproximar. Dali em diante, comecei a trabalhar na Bienal e no Museu de Arte Contemporânea e a Regina também sempre foi muito ligada a essas instituições. Na Bienal de 1983, ela fez uma grande instalação e, como trabalhei lá, frequentávamos o mesmo círculo de pessoas, e cada vez mais fui tendo contato com as obras dela e ficando bem próxima, como amiga e como admiradora do seu trabalho. Posso dizer que minha trajetória foi muito paralela à dela, o tempo todo. Começamos a trabalhar juntas de fato no começo dos anos 1990, quando ela me procurou para fazermos o projeto de um livro e a produção de uma grande mostra no Masp. Fui atrás dos recursos, o livro foi publicado pela Edusp, mas precisava de patrocínios. Aí, me envolvi 100% com a obra da Regina, fui para o estúdio dela e ficamos trabalhando juntas. E, em 1997, quando abri a galeria, ela já era uma das artistas representadas. A Regina sempre foi uma pessoa muito importante na minha trajetória, porque teve esse papel como professora, como mestre, como amiga e como conselheira, já que é muito lúcida, esclarecida. Sempre pedi muitos conselhos a ela.

A trajetória artística da Regina é bastante longa e ela é muito à frente do tempo,

principalmente em relação às plataformas de trabalho. Essa é uma particularidade dela?

Acho isso incrível na personalidade da Regina como artista e mulher. Ela tem essa curiosidade

e abertura para pesquisar tudo o que aparece de novidade, de técnica. Desde o começo ela sempre foi atrás de trazer para o trabalho que produzia tudo o que foi encontrando de mais

moderno e contemporâneo. Sempre está atual e tem uma cabeça muito jovem. Essa também

é uma das características que admiro muito nela, porque ela sempre se mantém atualizada, refrescando o trabalho o tempo todo, sempre

inquieta e focada, em contato com artistas mais jovens. Como ela sempre esteve na

universidade, conseguiu ter essa visão do que estava acontecendo com as novas gerações,

o que também a ajudou a ter essa cabeça mais aberta, não se fechar no próprio trabalho.

Isso é muito positivo para a obra dela, que se renova e mantêm, ao mesmo tempo, coerência.

Das características principais do trabalho dela, qual considera mais relevante?

Não diria que tem uma característica mais relevante. Toda pesquisa dela é coerente.

Ela é uma artista que tem um interesse bem particular, que conseguiu ter originalidade

no que se propôs, com embasamento teórico e conceitual fortes. Ao mesmo tempo, é tão

original que você não consegue enquadrá-la em uma corrente artística. Os estudos

da perspectiva, das Anamorfas, com várias ramificações, tem uma riqueza enorme, que se

desdobra e toda vez cria uma surpresa.

Esse embasamento teórico é mesmo muito forte, assim como o Zeitgeist, certo?

Sim, ela pega o momento político, aquilo que

está vivenciado, mas não é uma artistapanfletária, não deixa que isso se transforme em uma característica. Continua fazendo labirintos, por exemplo, que se enquadram em momentos distintos e consegue fazer desdobramentos em todos os tempos sem que eles fiquem repetitivos.

Como o trabalho dela é visto internacionalmente?Ela tem uma circulação enorme no exterior, faz várias exposições, tem galerias que a representam em Nova York, é uma artista que ganhou várias bolsas, fez várias residências e tem um trânsito internacional grande. Na verdade, a Regina é uma artista do mundo. Ela não é uma artista brasileira. E isso está presente na linguagem que ela utiliza, que é global, não típica do Brasil.

Instalações são efêmeras, mas Regina faz questão de imortalizadas em maquetes e fotografias. Como você analisa isso?É um recurso dos artistas para fazer um registro. É legal, é interessante ter um trabalho efêmero, e ela encontrou um jeito bem significativo de fazer instalações. Mas se um colecionador, por exemplo, quiser ter a representação desses momentos, pode comprar uma maquete ou uma fotografia.

Se você tivesse que resumir o legado dela para a história da arte, qual seria?Nossa, que pergunta difícil! Acredito que o conjunto da obra da Regina é seu maior legado, porque ele contempla vários períodos da história de arte brasileira. Já pessoalmente, o exemplo dela como pessoa e artista é o que mais levo para a minha vida.

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O curador Waldick Jatobá revela como cruzou os universos particulares de Regina Silveira e da Talento Joias.

OSENCONTROS E SEUS DESENCONTROS

“É preciso,

absolutamente preciso,

que tudo seja belo e inesperado.“

– Vinicius de Moraes

Até onde é possível escolher um caminho como certo? E depois de escolhido como seguir adiante sem a dúvida do talvez sim, talvez não? Como evitar cair num labirinto de simbolismo tão enigmático que acaba nos impossibilitando de sair do lugar?

Perguntas como essas e outras invadiram meu pensamento. Se na primeira edição do projeto Joia de Artista, em 2016, o fascínio e a magia das pedras preciosas brasileiras, com as quais Lina Bo Bardi desenhou o seu colar, me encantaram à primeira vista, neste segundo ano algo de sólido, tridimensional, rígido, me atraía e, ao mesmo tempo, perturbava a mente.

Regina Silveira sempre foi um nome recorrente nesse exercício de escolhas, nesses caminhos escolhidos e percorridos. Admiro o trabalho dela desde o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, quando passei a ter mais contato com suas obras. Seus projetos em grande escala, suas instalações, suas ocupações urbanas permeiam de forma própria o espaço e a mente do observador.

Lembro até hoje o impacto que senti ao me deparar com a instalação Escada Inexplicável II, em 1999, no Paço das Artes, em São Paulo. Me transportei para a cena e me vi descendo os degraus, senti aflição, ouvia até mesmo o som dos meus sapatos no atrito com o chão de madeira... Algo mágico, algo perturbador.

O talvez sim venceu e eu não tinha mais dúvidas de que o desafio estava lançado: a joia

de 2017 teria que ser desenhada por Regina Silveira. Já na nossa primeira reunião, no seu ateliê, falei sobre minha intenção de ter uma

joia escultórica, uma joia que pudesse ser encarada como um trabalho de arte,

uma escultura de fato...

É admirável a disciplina com a qual Regina toca seu cotidiano. Seu trabalho, seu pensamento,

sua rotina, tudo segue uma disciplina rígida. Ela é exigente e desafia seu pensamento e

criação a cada momento. Pediu-me alguns dias e em seguida apresentou a primeira que seria a derradeira ideia: um bracelete de labirintos,

onde duas gemas em sentidos opostos fazem um percurso de idas e vindas.

Lembrei de imediato do lendário labirinto cretense em que Teseu matou o Minotauro,

superando os aspectos animalescos do seu próprio caráter, além do poder do Rei Minos,

para entregar-se aos braços de sua amada Ariadne. Sempre fui apaixonado pela mitologia

grega, então por que não me apaixonar também por essa ideia?

Os primeiros estudos do bracelete foram feitos à mão por Regina. Na sequência, foram elaborados os desenhos técnicos em 3D, que

resultaram em um conjunto de labirintos reproduzido mais tarde no bracelete.

A partir desse material, seguindo a tradição de produzir joias de forma artesanal, coube

à Talento o desafio de criar dez edições numeradas do bracelete e mais duas PA’s

(Provas de Artista), nas versões ouro amarelo, ouro branco e ouro negro..

Direção geral Jacques Rodrigues Jr.

Curadoria Waldick Jatobá

Textos, entrevistas e edição Renata Piza

Projeto gráfico e direção de arte Maru Widen

Produção executiva Rita Dias

Revisão Paulo Kaiser

Foto Gleeson Paulino e Rafael Assef

Assistentes de foto Edson Luciano e Renan Martins

Foto still Almir Pastore

Reprodução Gerson Tung

Produção gráfica Jairo da Rocha

Realização Talento Joias

Agradecimento Luciana Brito Galeria e Equipe Talento

Bibliografia: Linha de Sombra, Regina Silveira, Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro; Sombra Luminosa, Regina Silveira; O Aleph, Jorge Luis Borges, editora Globo e Assim Falou Zaratustra, Friedrich Nietzsche, editora L&PM Pocket.

Este livro foi produzido para o Projeto Joia de Artista, Talento feat. Regina Silveira (2017). É proibida a reprodução total ou parcial sem autorização prévia da Talento.