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Palestra para o Cibercomunica 5.0/ Ciberdemocracia Os novos modos de envolvimento e cooperação entre eleitores, candidatos e partidos a partir das campanhas online Camilo Aggio 1 A palestra consiste na extração de algumas experiências e reflexões produzidas em minha dissertação de mestrado acerca das possibilidades e constituições de novas formas de envolvimento e cooperação entre cidadãos e agentes políticos a partir das campanhas online. O que se entende por campanhas online aqui? É a utilização da internet por partidos e candidatos em disputas eleitorais. Fiz uma pesquisa relativamente extensa no que diz respeito a trabalhos dedicados à utilização da internet por agentes políticos em períodos eleitorais. O volume de experiências analisadas abrange países como Japão, Cingapura, Brasil, Alemanha, Finlândia, Grécia, Itália, Reino Unido, Australia e, mais recorrentemente, Estados Unidos. É possível identificar quatro questões pilares, muito caras para as reflexões em torno das campanhas online. São elas: O valor da informação política não mediada, a paridade de disputa, a interatividade e o engajamento e mobilização. Para os propósitos dessa palestra, me dedicarei às duas últimas questões, uma vez que pretendo salientar os potenciais de caráter mais participativos que envolvem ações de envolvimento e cooperação entre os eleitores e as campanhas. Antes de nos debruçarmos sobre as questões da interatividade e do engajamento e mobilização, faz-se necessário situar, no espectro da comunicação e da ciência política, as preocupações e perspectivas atreladas aos estudos dedicados às campanhas online. Grande parte da literatura vê na utilização da internet, a possibilidade de constituição de novas formas ou fortalecimento/otimização de novos modos de realizações de campanhas eleitorais. Mas não se trata, apenas, de fornecer aos partidos e candidatos novas ferramentas, dispositivos e mecanismos para a formulação de estratégias visando o simples alcance de um maior número de votos. Assim como a internet é tratada, sob a perspectiva do Estado, como um ambiente de comunicação capaz de promover maiores 1 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. [email protected]

Os novos modos de envolvimento e cooperação entre eleitores, candidatos e partidos a partir das campanhas online - Camilo aggio

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Palestra para o Cibercomunica 5.0/ Ciberdemocracia

Os novos modos de envolvimento e cooperação entre eleitores, candidatos e

partidos a partir das campanhas online

Camilo Aggio1

A palestra consiste na extração de algumas experiências e reflexões produzidas em

minha dissertação de mestrado acerca das possibilidades e constituições de novas

formas de envolvimento e cooperação entre cidadãos e agentes políticos a partir das

campanhas online. O que se entende por campanhas online aqui? É a utilização da

internet por partidos e candidatos em disputas eleitorais.

Fiz uma pesquisa relativamente extensa no que diz respeito a trabalhos dedicados à

utilização da internet por agentes políticos em períodos eleitorais. O volume de

experiências analisadas abrange países como Japão, Cingapura, Brasil, Alemanha,

Finlândia, Grécia, Itália, Reino Unido, Australia e, mais recorrentemente, Estados

Unidos. É possível identificar quatro questões pilares, muito caras para as reflexões em

torno das campanhas online. São elas: O valor da informação política não mediada, a

paridade de disputa, a interatividade e o engajamento e mobilização. Para os propósitos

dessa palestra, me dedicarei às duas últimas questões, uma vez que pretendo salientar os

potenciais de caráter mais participativos que envolvem ações de envolvimento e

cooperação entre os eleitores e as campanhas.

Antes de nos debruçarmos sobre as questões da interatividade e do engajamento e

mobilização, faz-se necessário situar, no espectro da comunicação e da ciência política,

as preocupações e perspectivas atreladas aos estudos dedicados às campanhas online.

Grande parte da literatura vê na utilização da internet, a possibilidade de constituição de

novas formas ou fortalecimento/otimização de novos modos de realizações de

campanhas eleitorais. Mas não se trata, apenas, de fornecer aos partidos e candidatos

novas ferramentas, dispositivos e mecanismos para a formulação de estratégias visando

o simples alcance de um maior número de votos. Assim como a internet é tratada, sob a

perspectiva do Estado, como um ambiente de comunicação capaz de promover maiores

1 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade

de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. [email protected]

mecanismos de transparência, accoutability, prestação de serviços públicos e maior

participação civil na condução dos negócios públicos, as campanhas online são também

vistas como instrumentos capazes de reparar deficiências ou melhor qualificar aspectos

da democracia, no contexto específico das disputas eleitorais.

Para tal elaboração, muitos autores se valem de diagnósticos que sustentam (a) uma

crise dos partidos políticos nas democracias liberais contemporâneas devido, em grande

parte, ao distanciamento dos eleitores destas agremiações e da sociabilidade

contemporânea, que prediz que os cidadãos tendem, cada vez mais, a sustentar

prioridades, interesses e convicções mais difusas e complexas que não se adéquam,

incondicionalmente, às diretrizes ideológicas de um partido; (b) O baixo interesse e

envolvimento político dos cidadãos devido aos poucos mecanismos de comunicação

para a promoção de maior diálogo e participação em esferas públicas variadas, seja no

interior do Estado, seja na condução de projetos e plataformas que sustentam uma

determinada candidatura. O uso da internet em campanhas, portanto, poderia contribuir

para a redução ou eliminação do hiato que vêm se estabelecendo entre os agentes

políticos dispostos a exercer nossas representações políticas no interior do Estado e os

cidadãos que elegem estes mandatários.

Desse modo, as campanhas online contribuiriam para uma relação de envolvimento e

proximidade maior dos cidadãos com o campo da política já no momento das

campanhas eleitorais. Tal potencial traria correções ou reforços de princípios e valores

democráticos, ao menos num modelo de democracia onde a participação civil, para além

do voto, é um requisito valioso.

Escolho a interatividade como a primeira questão para tratar das novas formas de

envolvimento e relação entre eleitores e campanhas. É fundamental, antes, destacar o

que se entende por interatividade no centro desta discussão. Alguns autores da

comunicação e da cibercultura utilizam o termo “interatividade” para se referir a

relações entre sujeitos, recursos e representações de aparatos tecnológicos. Portanto, não

raramente, encontramos expressões como “recursos interativos”, “mais interativo” que

se referem, em resumo, à possibilidade do sujeito interagir com elementos de um

determinado aparelho para acessar conteúdos diversos, optar por opções diversas de

apresentação desses materiais, ajustar modos de apresentação, contratar serviços, etc. O

outro sentido, que usamos aqui, diz respeito à interação humana mediada por

computador. E não apenas a interação com os recursos dos dispositivos tecnológicos

que usamos.

Desse modo, a interatividade nas campanhas online se refere a empreendimentos que

permitam estabelecer um regime dialógico entre eleitores, membros dos partidos e

campanhas e candidatos. Na tônica da participação, a possibilidade de estabelecimento

de comunicação direta entre usuários em ambientes online, é um dos grandes

diferenciais da internet quando em comparação com os meios de comunicação

tradicionais. Ainda que o rádio e a televisão permitam a inserção de múltiplas vozes e

atores sociais, contribuindo para certos níveis de interação, a internet permite que

instituições, atores políticos e sociais diversos empreendam suas próprias iniciativas a

prescindir da mediação de alguma empresa de comunicação (ainda que seja

fundamental salientar a importância do papel dessas instituições na contextualização,

oferta de interpretações e articulações de sentido das narrativas políticas)

Desse modo, enquanto a comunicação dos meios tradicionais se dá num regime quase

integral de verticalidade, a internet tem o potencial de permitir o estabelecimento de

regimes dialógicos, portanto, do estabelecimento de comunicação horizontal entre os

sujeitos.

As campanhas online, então, diferentemente dos esforços de comunicação de candidatos

e partidos em outras esferas mediáticas, oferecem a possibilidade de estabelecer

iniciativas que permitem uma maior e mais direta aproximação entre o cidadão eleitor e

seus candidatos, bem como com os partidos e membros das campanhas.

Este seria, para muitos autores, o grande potencial político e social para as campanhas

eleitorais nas democracias contemporâneas. Num aspecto amplo, de maior extensão,

algumas perspectivas sustentam que o potencial político da internet está em fazer com

que os cidadãos participem com mais ênfase nos processos políticos e na condução dos

negócios públicos. Ou vislumbra-se que ,através das campanhas online, os cidadãos

tenham a primeira oportunidade de participar contribuindo com a construção de um

projeto político e, posteriormente, estendendo esta participação para o contexto

administrativo governamental em si.

Há um trabalho pilar, que reúne um conjunto de reflexões salutares sobre a

interatividade nos esforços de campanha, bem como reflexões sobre os obstáculos que

incidem contra o estabelecimento de um maior regime dialógico entre os agentes

políticos e eleitores.

Este trabalho foi desenvolvido por uma cientista política chamada Jennifer Strommer-

Galley em 2000 e suas reflexões reverberam os juízos e análises sobre as campanhas

online até hoje. Para a autora, o grande trabalho democrático, ou o grande trabalho da

democracia não estaria em oferecer apenas oportunidades para que sujeitos façam

doações para as campanhas ou consumam informações políticas produzidas pelos

partidos e candidatos, mas sim na possibilidade do estabelecimento de um regime mais

participativo e deliberativo, incluindo qualquer cidadão interessado em uma

determinada campanha.

O raciocínio de Stromer-Galley é um pouco mais complexo do que o simples

estabelecimento de bate-papo nos ambientes digitais das campanhas. A autora se esforça

em estabelecer um parâmetro normativo de como as campanhas online deveriam

funcionar. E nesta perspectiva, Stromer-Galley, razoavelmente, sustenta que o caráter

participativo nas campanhas online devem ser compostos por propósitos distintos, mas

complementares: os eleitores podem usar estes mecanismos para (a) promover maior

transparência e esclarecimento dos candidatos sobre os projetos de políticas públicas e

plataformas de campanha, (b) tirar dúvidas e fornecer sugestões e (c) num nível de

participação mais elevado, interferir em agendas e na constituição dos projetos,

constituindo, de fato, uma relação política de teor mais deliberativo, na medida em que

torna a candidatura um projeto de caráter mais coletivo que abriga diversos atores

interessados nas campanhas. A utilização de e-mails, fóruns, chat-rooms, dentre outras

ferramentas atreladas aos web sites dos candidatos, seriam os canais para que fossem

estabelecidos os encontros com estes propósitos.

Bem, no que tange ao primeiro e segundo propósitos, relativos à transparência, mas

também no esclarecimento de projetos de políticas públicas e plataformas de campanha,

a interatividade exigiria um outro diferencial das campanhas online: As características

particulares de informações fornecidas sem a mediação de alguma empresa de

comunicação. Com tamanha liberdade, as campanhas poderiam fornecer informações

detalhadas e substanciais que definem seus projetos políticos, com detalhes de

cronogramas, planejamento orçamentários, justificativas sobre determinadas prioridades

e exigências, etc. Não obstante, também serviria para que os candidatos e partidos

absorvessem as demandas e prioridades contidas em reivindicações de eleitores de

determinadas regiões, bairros, grupos, movimentos etc.

O terceiro propósito, aquele relativo a uma participação mais deliberativa e com maior

poder de interferência, poderia partir dos resultados das iniciativas dos dois primeiros

tipos que relatei agora. As campanhas devem criar mecanismos que garantam ao eleitor

que suas sugestões foram consideradas, contempladas e fornecer as avaliações e

justificativas para a consideração ou não das sugestões/reivindicações.

Bem, sabemos que empreendimentos desse tipo podem apenas ser desenvolvidos com o

propósito de criação de uma imagem de um candidato e partido, remetendo a qualidades

de atenção, respeito, interesse e comprometimento frente à população. No entanto, tal

resultado pode estar atrelado a empreendimentos sérios que tenham como convicção

ideológica a incorporação das demandas, reivindicações e sugestões dos cidadãos

eleitores, através de plataformas digitais e online que permita uma comunicação

descentralizada e difusa. Mas quais seriam as estratégias e procedimentos que

garantiriam a seriedade e funcionalidade de empreendimentos deste tipo?

Creio, fundamentalmente, que a informação extensa e qualificada daquilo que define

uma campanha é o fator diferencial que pode garantir um regime de resposividade,

cooperação e transparência daquilo que define uma candidatura política. O

esclarecimento dos eleitores interessados em interagir e interferir nas campanhas

devem, necessariamente, se dar através do provimento de informações extensas e

detalhadas sobre como os projetos políticos, as plataformas e diretrizes de uma

campanha pretendem ser aplicados numa eventual administração. Em posse de

conteúdos tão valiosos, diversos atores sociais e grupos podem avaliar com precisão o

valor das campanhas enquanto projetos políticos, permitindo, na interação com

candidatos e partidos, tecerem críticas, solicitarem maiores detalhes e esclarecimentos

ou fazendo sugestões.

Não há dúvidas de que, num cenário ideal como o projetado acima, os mecanismos de

interação online permitem uma aproximação e, possivelmente, vinculação dos

indivíduos a determinadas campanhas, independente destes sujeitos serem vinculados a

algum partido, agremiação ou grupo político. A interatividade e a informação política

extensa e qualificada permitiriam que qualquer cidadão interessado, num esforço

particular e individual, estabelecesse interações e adquirisse esclarecimentos que o

permita se envolver politicamente e qualificar sua decisão sobre o voto de modo

criterioso e razoável.

Engajamento e mobilização

O segundo modo de envolvimento que gostaria de destacar se refere à questão chave do

engajamento e da mobilização. Ainda que este modo de participação e envolvimento

não pressuponha uma interferência tão robusta do eleitor nas campanhas, como

pressupõe o modelo ideal da interatividade, seu valor político e democrático ganha

novos contornos com as iniciativas digitais de partidos e candidatos em disputas

eleitorais.

Antes de tudo, a definição de mobilização utilizada aqui se refere: “Aos processos pelos

quais partidos, candidatos, ativistas e grupos induzem outras pessoas a participar

politicamente para ganhar eleições, aprovar orçamentos, modificar leis e regras e

influenciar políticas públicas.” Esta definição é feita por um autor de nome Krueger

(2006) que se dedica a verificar as virtudes e deficiências dos modos online de

engajamento e mobilização política e das formas tradicionais presenciais.

É o que as campanhas online permitem como novo instrumento de comunicação

política: Servir como plataforma de suporte a ações presenciais de campanha ou

funcionar como um conjunto de mecanismos e instrumentos para que os eleitores se

engajem e empreendam esforços de mobilização em prol de uma campanha nos

ambientes digitais. E isso não é pouco em termos de dividendos políticos. Acho

fundamental salientar que o envolvimento com uma campanha significa a vinculação de

suas necessidades, prioridades, orientações, valores e ideologias às diretrizes, projetos e

plataformas de uma determinada candidatura. A partir disto, os sujeitos engajado,

podem se tornar peças chaves e fundamentais para a condução de uma campanha ao

longo dos campeonatos eleitorais. O caráter ativo destes cidadãos, portanto, é

fundamental.

Seguindo a tipologia funcional proposta anteriormente, tratemos primeiro dos modos

tradicionais de engajamento e mobilização. As campanhas online podem funcionar

como plataformas de comunicação entre os eleitores e destes com membros das

campanhas com a finalidade de organizar eventos e ações presenciais.

Fóruns, quadros eletrônicos, e-mails, redes sociais, salas de bate-papo, dentre outros,

são ferramentas que permitem uma otimização na comunicação e organização de

simpatizantes para desenvolverem atividades como distribuição de materiais impressos,

visitas a domicílios, formação de reuniões em comunidades, caminhadas, discussão com

amigos e vizinhos, adesão à comícios, à palestras, encontros variados, etc. Tais

atividades podem ser elaboradas e coordenadas pelas campanha, divulgando em seus

web sites e em outros ambientes digitais, convocando os eleitores. No entanto, as ações

a partir de instrumentos e ferramentas das campanhas online permitem que os próprios

eleitores estabeleçam suas próprias redes sociais, baseadas em localização e interesses

comuns para a organização de suas próprias atividades em prol de uma candidatura.

Existem dois casos pilares na história americana pré-obama. O de Jesse Ventura, que

concorreu ao governo de Minessotta em 2000 e o de Howard Dean, concorrendo às

primárias democratas em 2004. O primeiro disputou por um partido da terceira via, ou

seja, disputou contra os dois maiores partidos dos Estados Unidos, utilizando fóruns de

comunicação que o permitiram divulgar suas agendas de atividades e visitas aos

condados e municípios, bem como permitiu, efetivamente, que seus eleitores se

comunicassem através desta plataforma online e organizassem suas atividades.

Howard Dean, considerado um azarão nas primárias de 2004, conseguiu reunir um

conjunto expressivo de eleitores ao redor da sua candidatura, permitindo uma

visibilidade pública inimaginável no início de sua campanha e a arrecadação de 1/3 do

total de doações. Seu grande diferencial foi ter identificado uma proto-rede social

chamada Meetup, que consistia num site de relacionamento rudimentar onde os usuários

identificavam sujeitos com afinidades e interesses similares, dentro de sua localização,

e, a partir destes contatados, realizavam encontros presenciais. Muitos simpatizantes de

Howard Dean localizaram outros simpatizantes em suas regiões e promoveram diversas

atividades, expandindo o conhecimento de sua campanha e conquistando um maior

número de votos.

Um autor de nome Hindman sustenta a tese de que a utilização da internet para fins de

engajamento e mobilização permite o recrutamento de um corpo muito mais extenso de

voluntários, com maior dispersão e amplitude geográfica do que se dependesse apenas

dos eleitores já engajados na campanha. Há a possibilidade de fazer como que novos

eleitores, antes não engajados, se envolvam com as campanhas e promovam, de modos

diversos, ações em prol de uma candidatura. Há ainda, uma consideração razoável que

sustenta a tese de que muitos eleitores nunca se engajaram, de fato, em algum tipo de

campanha, por falta de convites de partidos, grupos ou outras organizações e

instituições.

As campanhas online também inauguram uma nova forma de engajamento e

mobilização. São aquelas que se referem a ações e atividades circunscritas aos

ambientes digitais. Nas fases iniciais da utilização da internet por partidos e candidatos,

os recursos para que os sujeitos realizassem algum tipo de ação digital em prol de um

campanha eram restritos, como a utilização de e-mails, etc. Com o advento e

popularização dos media sociais, ou sites de relacionamento como Facebook, MySpace,

Twitter, YouTube, Flickr, a diversificação e alcance das de atividades de engajamento e

mobilização ganharam contornos mais sólidos e importantes.

A partir das redes sociais, onde a quase totalidade daqueles sujeitos online mantém

contas, perfis e participam de comunidades, as campanhas puderam bolar estratégias

para que suas mensagens políticas circulassem por uma rede extensa de indivíduos e

atingisse um grau de visibilidade impossível se dependessem apenas da disposição dos

sujeitos em visitar os web sites das candidaturas. Mas o engajamento e mobilização

online não definem os sujeitos apenas como unidades de repasse das mensagens que são

produzidas no seio das campanhas. Pressupõem também – e como no caso de Obama,

foi incentivado – a produção de conteúdos particulares por parte dos cidadãos

envolvidos. Significa que, se valendo de blogs, redes sociais e compartilhadores de

conteúdo, os eleitores engajados podem expor às suas redes sociais online, textos,

áudios e vídeos, com propósitos distintos, produzidos por eles próprios, como registro

de atividades, reuniões, declarações de líderes comunitários, debates ou então conteúdos

escritos, opinativos ou não, sobre sua posição frente a uma determinada candidatura.

Desse modo, além de unidades operacionais que fazem circular conteúdos das

campanhas, os eleitores engajados em atividades digitais também cooperam com as

campanhas produzindo conteúdos próprios. O resultado de tantos esforços pode fazer

com que as mensagens e conteúdos de campanha tomem proporções virais, ou seja,

numa série de replicações dentro de redes sociais digitais variadas, as mensagens e

conteúdos de campanha podem se espalhar como um vírus que se espalha dentro de um

organismo vivo.

Dois bons exemplos: Peter Franchot´s, candidato a vereador por Maryland, recrutou

80% do seu voluntariado através do Faacebook. Realizaram cerca de 80 mil ligações e

distribuíram cerca de 50 mil materiais impressos de campanha em eventos presenciais.

Obama, além de ter produzido uma quantidade extensa de conteúdos de sua campanha

para a web, especialmente os conteúdos audiovisuais postados no Youtube, também

desenvolveu estratégias para que seus eleitores se engajassem em uma série de

atividades digitais. Inclusive, criou o MyBo, uma rede social locada em seu web site,

onde os indicadores que compõem os perfis dos eleitores e, consequentemente, definem

o acúmulo de capital social, é definido pela extensão e quantidade de atividades

realizadas e da rede social que conseguem construir.

A estratégia de Obama já seguia uma fórmula que vinha sendo construída desde 2004,

nas campanhas de Howard Dean, mas também nas de George Bush e John McCain: “A

verdadeira história do ativismo online não está exatamente no ato das pessoas

fornecerem seus números de cartão de crédito para a campanha, mas sim no que as

pessoas fazem para se certificarem que o candidato se eleja e o que a campanha está

fazendo para se certificar que essas pessoas que passam um grande período online

fazem parte do processo.”

Por fim, as campanhas online, no que tange ao engajamento e à mobilização desenham

o seguinte horizonte: “Novos atores inseridos no processo, velhos atores mantidos e

formas novas e tradicionais convivendo mutuamente num panorama de campanha

política ampliada e potencializada quando se trata do envolvimento e da mobilização de

eleitores em torno de uma ideologia, significados, propostas, diretrizes e projetos

políticos. É dessa maneira que o tópico do engajamento e da mobilização deve ser

tratado e não a partir de medidas comparativas de legitimidade que parecem ecoar certa

nostalgia, conservadorismo ou resistência.

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