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5 Os Riscos Ocupacionais da Equipe de Enfermagem no ambito hospitalar INTRODUÇÃO Os riscos ocupacionais (RO) que estão sujeitos o pessoal da equipe de enfermagem têm sido objeto de estudo de muitos pesquisadores, dada a relevância do tema, e pelas repercussões pessoais, sociais e econômicas que esses eventos trazem para os trabalhadores. Ao iniciar a referida carreira profissional, a maioria dos profissionais da equipe de enfermagem, não tem a exata noção dos RO envolvidos no exercício da profissão. Essa revisão visa o trabalho do profissional de enfermagem e sua relação com os RO que se apresentam no contexto hospitalar. A escolha dessa temática ocorreu devido a questionamentos importantes diante da escolha por essa formação profissional e da ainda, pouca vivência de atuação frente à realidade enfrentada nessas instituições, levando à necessidade de conhecer melhor os riscos à saúde envolvidos na prática dos profissionais. A situação de trabalho nas instituições hospitalares apresenta-se problemática frente a inexistência de condições laborais satisfatórias, pelo fato de no hospital

OS RISCOS OCUPACIONAIS DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO ÂMBITO HOSPITALAR2

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Os Riscos Ocupacionais da Equipe de Enfermagem no ambito hospitalar

INTRODUÇÃO

Os riscos ocupacionais (RO) que estão sujeitos o pessoal da equipe de

enfermagem têm sido objeto de estudo de muitos pesquisadores, dada a

relevância do tema, e pelas repercussões pessoais, sociais e econômicas que

esses eventos trazem para os trabalhadores.

Ao iniciar a referida carreira profissional, a maioria dos profissionais da equipe

de enfermagem, não tem a exata noção dos RO envolvidos no exercício da

profissão.

Essa revisão visa o trabalho do profissional de enfermagem e sua relação com

os RO que se apresentam no contexto hospitalar. A escolha dessa temática

ocorreu devido a questionamentos importantes diante da escolha por essa

formação profissional e da ainda, pouca vivência de atuação frente à realidade

enfrentada nessas instituições, levando à necessidade de conhecer melhor os

riscos à saúde envolvidos na prática dos profissionais.

A situação de trabalho nas instituições hospitalares apresenta-se problemática

frente a inexistência de condições laborais satisfatórias, pelo fato de no hospital

existir ambientes considerados insalubres, com pacientes de diversas

patologias e fatores de riscos outros, deletérios à saúde, o que acaba

comprometendo a dos seus trabalhadores (SILVA, 1998).

A enfermagem exerce papel central e de grande importância no atendimento

ao paciente/cliente, estando assim exposta aos fatores de riscos, acidentes e

doenças relacionadas ao trabalho, entre outras situações, pelo fato de

permanecer maior parte de seu tempo ao lado do cliente e em contato íntimo

com a insalubridade ambiental (SILVA, 1998).

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Esse problema ocasiona aos profissionais de enfermagem o afastamento de

suas atividades, elevando o índice de absenteísmo nas instituições, com

repercussões na qualidade de vida do trabalhador, na organização dos

serviços e no atendimento ao usuário. As ocorrências de doenças ocupacionais

constituem um dos principais problemas que acometem os trabalhadores de

instituições hospitalares em geral e os de enfermagem em particular

(MENDES, 1999).

1.1 Objetivos

1.1.1 Geral

Identificar os principais riscos ocupacionais aos quais estão expostos os

trabalhadores de enfermagem no ambiente hospitalar.

1.1.2 Específicos

Relatar se os profissionais de enfermagem identificam os agentes

propiciadores de RO no ambiente de trabalho hospitalar;

Analisar a relação do trabalho de enfermagem com os RO que são

submetidos;

Caracterizar os RO existentes no trabalho de enfermagem no ambiente

hospitalar.

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2.REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Trabalho e Processo Saúde-Doença em Instituições Hospitalares

Entende-se por trabalho “... uma atividade coordenada, de caráter físico e/ou

intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou

empreendimento...” (FERREIRA, 2001). “... É a aplicação das atividades físicas

e intelectuais; serviço, esforço...” (ROCHA & PIRES, 2000).

Japiassu & Marcondes (1993 apud COCCO, 2002), relatam que, na

antiguidade, enquanto os gregos consideravam o trabalho como expressão da

miséria do homem, os latinos opunham o otium (lazer, atividade intelectual) ao

vil negotium (trabalho, negócio).

Arendt (1993) explica que a era moderna trouxe consigo a glorificação teórica

do trabalho, e resultou na transformação efetiva de toda a sociedade em uma

sociedade operária, sendo o trabalho fundamental para a manutenção.

Ressalta-se que essa modificação no modo de entender o trabalho, surgiu

diante da necessidade de se ter mão de obra trabalhando, de maneira

fragmentada e alienada, sem realizar grandes questionamentos, o que

aconteceu em decorrência da revolução industrial e implementação do jeito de

pensar capitalista. Assim, de a logo vil e direcionado aos escravos, a partir de

dessa nova ideologia, o trabalho passou a ser encarado como atividade

importante (ARENDT, 1993).

Quanto à saúde, sabe-se que há a clássica definição da Organização Mundial

de Saúde (OMS) que preconiza ser uma situação não apenas de ausência de

doença, mas a condição de perfeito bem-estar físico, mental e social. A saúde

é entendida como qualidade do que é sadio ou são; bom estado do organismo,

cujas às funções estão regulares (ROCHA & PIRES, 2000). Ferraz & Segre

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(1997) sugerem que a saúde pode ser entendida como estado de razoável

harmonia entre o sujeito a sua própria realidade.

No caso da doença, percebe-se que “... é a falta de saúde, moléstia ou

enfermidade” (Rocha & PIRES, 2000, p. 102). Historicamente, foi entendida e

interpretada de várias maneiras, com o passar dos anos e diante da

multiplicidade de diferenças culturais.

A situação entre o trabalho e a saúde/doença – constatada desde a

antiguidade e exacerbada a partir da Revolução Industrial – nem sempre se

constituiu em foco de atenção. Afinal, no trabalho escravo ou no regime servil,

inexistia a preocupação em preservar a saúde dos que eram submetidos ao

trabalho (SILVA, 1998).

(...) Atualmente entende-se que melhorar a qualidade das condições de saúde no trabalho significa identificar os problemas, em cada situação, com a participação efetiva dos sujeitos do processo de trabalho e replanejá- lo, envolvendo para tal, um processo de negociação (...) (LAURELL & NORIEGA, 1989, p. 89).

A situação de trabalho nas instituições hospitalares apresenta-se problemática

frente a inexistência de condições laborais satisfatórias, pelo fato de no hospital

existir ambientes considerados insalubres, e com pacientes de diversas

patologias e fatores de riscos outros, deletérios à saúde, o que acaba

comprometendo a dos seus trabalhadores (SILVA, 1998).

2.2 A Enfermagem e o Seu Trabalho

A enfermagem surgiu no século XIX, na Inglaterra, como prática para

possibilitar a recuperação do indivíduo. Institucionalizou-se, no movimento do

nascimento da clínica, juntamente com a transformação do hospital enquanto

instrumento de cura (ALMEIDA & ROCHA, 1997).

Segundo Almeida & Rocha (1997) a função peculiar da enfermagem é prestar

assistência ao indivíduo sadio ou doente, família ou comunidade, no

desempenho de atividades para promover, manter ou recuperar a saúde.

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O trabalho de enfermagem é realizado por uma equipe ou grupo, formados de

trabalhadores profissionais de formação de níveis técnico e superior, tendo o

enfermeiro (nível superior) o papel de detentor do saber e de controlador do

processo de trabalho da enfermagem, cabendo aos demais trabalhadores de

enfermagem (nível técnico) a função de serem executores de tarefas

delegadas (LEOPARDI et al, 1999).

(...) Até certo tempo atrás, confusos pela concepção idealizada da profissão, os trabalhadores de enfermagem não manifestavam os seus problemas, talvez PR entendê-los com inerentes à mesma ou por percebê-los como resultados adversos decorrentes de alguma ação que não deveria ter cometido e que poderia comprometer-lhes a competência profissional. Certamente os problemas ainda não são entendidos como situações decorrentes da maneira como é organizado o trabalho ou devido aos riscos ocupacionais presentes no ambiente laboral (...) (ROBAZZI & MARZIELE, 1999, p.181).

A enfermagem é responsável pelo cuidado ao paciente/cliente, em toda sua

integralidade como ser biológico e social. É “cobrada” pelos médicos, pelos

pacientes, por familiares e pela administração. No entanto, seu poder decisório

é pequeno, depende de outros setores e regras de funcionamento da

instituição que delimitam as suas possibilidades de ação (LEOPARDI et al,

1999).

Lopes, Meyer e Waldow, (2001), afirmam que a equipe de enfermagem deve

modificar sua atitude frente ao trabalho, no sentido da formação da consciência

acerca dos RO nos locais onde executam atividades, em especial nos

estabelecimentos da saúde, pois, por mais paradoxal que possa parecer, existe

um descaso com a saúde do trabalhador de enfermagem no mesmo contexto

em que esse promove o bem-estar físico e mental do paciente. Sabe-se que é

uma constante esse descaso, entretanto, percebe-se que o próprio trabalhador

não se protege e despreocupa-se com a sua própria saúde, possivelmente

porque existem algumas situações que o deixam desestimulado, tais como a

baixa remuneração, insatisfação no trabalho pela falta de realização pessoal,

as condições inadequadas de trabalho, podendo aumentar a sua exposição

aos riscos, possibilitando o acontecimento de Acidentes de Trabalho (AT) e/ou

enfermidades.

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Assim sendo, faz-se necessário que os trabalhadores de enfermagem sejam

estimulados a desenvolver suas atividades em condições adequadas de

trabalho, participando de um processo de educação continuada (SILVA,1998).

2.3 Riscos Ocupacionais Relacionados ao Trabalho de Enfermagem

A palavra risco origina-se do latim risicus, do verbo resecare - cortar; significa

perigo, inconveniente, dano ou fatalidade eventual, provável, às vezes até

previsível. No ambiente de trabalho podem ser ocultos, quando o trabalhador

não suspeita de sua existência; latentes, quando causam danos em situações

de emergência; reais quando conhecidos por todos, mas com pouca

possibilidade de controle, quer pelos elevados custos exigidos, quer pela

ausência de vontade política para solucioná-los (BULHÕES, 1994).

Os RO são fatores nocivos do ambiente e as condições físicas,

organizacionais, administrativas ou técnicas existente nos locais de trabalho,

que propiciam a ocorrência de AT e/ou adoecimentos (HAAG, 2001).

Fator de risco é todo fator ambiental que pode causar lesão, doença ou

inaptidão ou afetar o bem estar do trabalhador e o da comunidade

(BURGUESS, 1997).

O conjunto de fatores, também conhecido como RO, favorece o acontecimento

de acidentes, sofrimentos e doenças prejudicando a saúde dos trabalhadores

pela exposição ocupacional aos agentes que lhe são prejudiciais (BULHÕES,

1994; MARZIALE, 1995; LOPES, et al, 1996).

Os fatores de riscos químicos, físicos, biológicos, psicossociais e as situações

antiergonômicos são considerados os principais responsáveis pelas situações

insalubres, as quais os profissionais de enfermagem encontram-se expostos

(BORSOI e CODO, 1995).

Por influência do modelo de Medicina Social (no século XIX) que utilizava na

Europa, em que fortalecimento do Estado, proteção da cidade e a atenção aos

pobres e força laboral passara a ter valor, aqui começaram a surgir

preocupações que determinadas instituições como hospitais, fábricas e outros

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pudessem oferecer riscos devido a sua localização desordenada. Começa a se

falar em planejamento urbano (NUNES, 1989 apud MENDES, 1996).

Em relação aos trabalhadores da área de saúde, desde a década de 80, os

vinculados à área assistencial foram motivados pelo surgimento da epidemia

da AIDS, a iniciar a discussão sobre os RO relacionados com suas atividades

profissionais. Esse tema também surgiu nos anos 90 entre os profissionais que

lidam com controle da tuberculose, devido ao enfoque dado à doença com

risco de transmissão hospitalar (BEJGEL e BARROSO, 2001).

A questão envolvendo a segurança, a higiene e a medicina do trabalho foi

definida no Brasil como matéria de direito constitucional: é direito do

trabalhador exercer sua função em ambiente de trabalho seguro e sadio,

conforme o inciso XXII do artigo 7º da Constituição Federal vigente que prevê

ainda a proteção ao trabalhador em face da automação, através do inciso

XXVII daquele artigo. Desta forma busca-se garantir a redução dos riscos por

meios de normas de saúde, higiene e segurança (BRASIL, 2002c).

Ainda que exista legislação prevendo a proteção à saúde do trabalhador

através de um ambiente de trabalho seguro, existe a insalubridade no ambiente

de trabalho hospitalar (PIRES, 2000).

Segundo Pires (2000) a incorporação e utilização de novos equipamentos

modificam o processo de trabalho da enfermagem, aumentou a pressão sobre

o trabalhador no desempenho de algumas atividades e exigiu mais capacidade

mental e psíquica, além de muitas vezes força muscular.

O fato de ter como objeto de trabalho o corpo do indivíduo doente, que sofre,

que sente dor e morre, envolve os trabalhadores de enfermagem numa

situação causadora de ansiedade, tensão e sofrimento, potencializando as

cargas psíquicas decorrentes do ambiente hospitalar (SILVA, 1998).

Para Bulhões (1994) a permanência contínua neste tipo de ambiente pode

tornar-se fonte de risco profissional, em especial, do estresse, que pode levar a

sérios acidentes e/ou doenças ocupacionais.

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(...) O risco pode ser considerado um perigo ou a possibilidade de perigo (...) (FERREIRA, 2001). (...) Significa um perigo e probabilidade ou possibilidade de existir o dano ou perigo (...) (ROCHA & PIRES, 2000,p.81).

O risco é todo o fator ambiental que pode ocasionar lesão, doença ou inaptidão

ou afetar o bem estar dos trabalhadores (BURGUESS, 1997). Dessa forma, as

substâncias químicas tóxicas, poeira, ruído, vibração, calor ou frio excessivo,

as radiações, os microorganismos, as posturas viciosas do trabalho, a tensão,

os movimentos repetitivos e a monotonia que acontece em decorrência do

trabalho são considerados RO ou “cargas de trabalho”, segundo a expressão

utilizada por Laurell & Noriega (1989).

O processo de enfermagem dentro da saúde do trabalhador consiste em

promoção de cuidados e proteção aos trabalhadores, torná-los conscientes dos

riscos a que estão expostos e fazer com que participem do seu auto -cuidado.

Com isso pretende-se minimizar os RO ( BULHÕES,1994).

No Brasil, o Ministério da Saúde (BRASIL, 1995), através da publicação

“Segurança no Ambiente Hospitalar”, considera um arsenal de variáveis que

podem interferir na saúde dos trabalhadores destas Instituições, classificando

os RO em: físicos, químicos, biológicos e mecânicos. A referida publicação

aponta, também, conceitos gerais para o desenvolvimento de uma nova política

peculiar na área de segurança em instituições hospitalares, contemplando

orientações aos trabalhadores que culminam em ações protetoras a eles

mesmos, aos usuários dos serviços e aos visitantes.

Digno de nota é que os riscos nas unidades hospitalares são decorrentes, de

maneira especial, da assistência direta prestada pelos profissionais de saúde a

pacientes em diversos graus de gravidade, assistência esta que implica no

manuseio de equipamentos pesados e materiais perfurantes e/ou cortantes

muitas vezes contaminados por sangue e outros fluidos corporais, na

responsabilidade pelo preparo e administração de medicamentos e

quimioterápicos, no descarte de materiais contaminados no lixo hospitalar, nas

relações interpessoais de trabalho e produção, no trabalho em turnos, no

trabalho predominantemente feminino, nos baixos salários, na tensão

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emocional advinda do convívio com a dor, o sofrimento e, muitas vezes, da

perda da vida, entre outros (BULHÕES 1994; BARBOSA, 1989).

É importante ressaltar que os acidentes de trabalho, decorrentes da exposição

à materiais biológicos, tão corriqueiros no dia-a-dia das unidades hospitalares,

constituem-se preocupação de todos os profissionais expostos aos fatores de

riscos decorrentes do contato direto ou indireto com sangue e outros fluidos

corporais, especialmente no que se refere à Síndrome da Imunodeficiência

Adquirida (AIDS) e à hepatite B ou C, doenças cujos agravos trazem

conseqüências bastante nocivas à saúde dos trabalhadores (ROWE e

GIUFFRE, 1991).

Barbosa (1989) discorrendo a respeito de riscos advindos do trabalho e que

atingem os profissionais que atuam em unidades hospitalares, aborda os riscos

físicos tais como aqueles provenientes da eletricidade, dos pisos

escorregadios, ruídos, umidade, calor má iluminação radiações, ventilação

inadequada. Quanto aos riscos ergonômicos a autora destaca os riscos de

fadiga psíquica, física e o trabalho noturno. Associa, ainda, estes fatores como

causa ou conseqüência de outros, como gastrites, úlceras, dores variadas,

palpitações, agravamento da hipertensão arterial, transtornos de

personalidade, entre muitos outros. Com respeito aos riscos químicos, a

mesma levanta que tanto podem causar efeitos à saúde dos trabalhadores

como também provocar efeitos teratogênicos e abortogênicos nas mulheres

expostas. Relata a ainda a importância da exposição crônica à baixas doses,

que pode constituir um risco para câncer, relatada por vários autores.

Os trabalhadores de enfermagem, durante a assistência ao paciente, estão

expostos a inúmeros RO causados por fatores químicos, físicos, mecânicos,

biológicos, ergonômicos e psicossociais, que podem ocasionar doenças

ocupacionais e acidentes de trabalho. O contingente de trabalhadores de

enfermagem, particularmente o que está inserido no contexto hospitalar,

permanece 24 horas junto ao paciente, em sua grande maioria executa o

“cuidar” dentro da perspectiva do “fazer” e, conseqüente, expõe-se a vários

riscos, podendo adquirir doenças ocupacionais e do trabalho, além de lesões

em decorrência dos acidentes de trabalho (BULHÕES, 1994).

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Os riscos químicos referem-se ao manuseio de gases e vapores anestésicos,

antissépticos e esterelizantes, drogas citostáticas, entre outros. A exposição

aos riscos químicos está relacionada com a área de atuação do trabalhador,

com o tipo de produto químico e tempo de contato, além da concentração do

produto. Isso pode ocasionar sensibilização alérgica, aumento da atividade

mutagênica e até esterilidade (JANSEN, 1997).

Os riscos do ambiente de trabalho são em real (de responsabilidade do

empregador), suposto (quando se supõe que o trabalhador conhece as causas

que o favorecem) e residual (de responsabilidade do trabalhador). Os riscos

físicos referem-se à temperatura ambiental (elevada nas áreas de esterelização

e baixa em centro cirúrgico), radiação ionizante, ruídos e iluminação em níveis

inadequados e exposição do trabalhador a incêndios e choques elétricos

(MARZIALE, 1995).

Dentre os riscos psicossociais, está a sobrecarga advinda do contato com o

sofrimento de pacientes, com a dor e a morte, o trabalho noturno, rodízios de

turno, ritmo de trabalho, realização de tarefas múltiplas, fragmentadas e

repetitivas, o que pode levar à depressão, insônia, suicídio, tabagismo,

consumo de álcool e drogas e fadiga mental (Estryn-Behar,1996).

Dentre os riscos mecânicos, estão as lesões causadas pela manipulação de

objetos cortantes e penetrantes e as quedas. O freqüente levantamento de

peso para movimentação e transporte de pacientes e equipamentos, a postura

inadequada e flexões de coluna vertebral em atividades de organização e

assistência podem causar problemas à saúde do trabalhador, tais como

fraturas, lombalgias e varizes. Tais fatores causais estão relacionados a

agentes ergonômicos (SILVA, 1998).

Os fatores ergonômicos são aqueles que incidem na adaptação entre o

trabalho-trabalhador. São eles o desenho dos equipamentos, do posto de

trabalho, a maneira como a atividade laboral é executada, a comunicação e o

meio ambiente. Quanto aos riscos biológicos, eles se referem ao contato do

trabalhador com microorganismos (principalmente vírus e bactérias) ou material

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infecto contagiante, os quais podem causar doenças como: tuberculose,

hepatite, rubéola, herpes, escabiose e AIDS (JANSEN, 1997).

O contato com microorganismos patológicos oriundo de acidentes ocasionados

pela manipulação de material perfurocortante, ocorre, com grande freqüência,

na execução do trabalho de enfermagem. A exposição ocupacional por material

biológico é entendida como a possibilidade de contato com sangue e fluidos

orgânicos no ambiente de trabalho, e as formas de exposição incluem

inoculação percutânea, por intermédio de agulhas ou objetos cortantes, e o

contato direto com pele e/ou mucosas. O maior risco para os trabalhadores da

área da saúde é o acidente com material perfurocortante, que expõe os

profissionais a microorganismos patogênicos, sendo a hepatite B a doença de

maior incidência entre esses trabalhadores (FIGUEIREDO, 1992).

Afinal,

“A complexidade da área de Saúde do Trabalhador, traz a necessidade de estudos, compromisso com capacitação, pesquisas, estudos na área, e sobretudo ações através de políticas de saúde que busquem a atenção à saúde. Atenção que não se sujeita meramente a socorros fracionados destinados ao trabalhador doente”. (MENDES e DIAS, 1999, p.431).

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3. METODOLOGIA

3.1 Abordagem Teórica

A pesquisa terá como abordagem teórica uma análise qualitativa dos dados,

diante da complexidade que representa o problema e da dinâmica do sujeito

com o mundo, utilizando coleta de dados de artigos disponíveis sobre os riscos

ocupacionais e sua relação com a incidência destes.

3.2 Hipóteses

Quais as condições do trabalho de enfermagem frente os riscos

ocupacionais?

O que representa os riscos ocupacionais à saúde do trabalhador de

enfermagem?

Qual a percepção dos trabalhadores de enfermagem sobre os riscos

ocupacionais?

3.3 Amostra

Serão pesquisados artigos publicados em periódicos nacionais, no período de

1999 a 2008. Serão utilizados os seguintes descritores: “Saúde Ocupacional”,

“Saúde do trabalhador”, “Doença Ocupacional”, “Riscos Ocupacionais”, e

“Enfermagem”.

3.4 Estratégias para Coletas de Dados

Como se trata de uma pesquisa de revisão de artigos científicos da

Enfermagem, acerca da temática “riscos ocupacionais no trabalho de

enfermagem”, serão pesquisados todos os artigos na comunidade científica

confiável disponível.

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3.5 Estratégias para Análise de Dados

Diante dos artigos que serão encontrados, criaremos um banco de dados, o

qual será empregado um processo de análise e comparação dos títulos,

segundo os RO identificados em seu ambiente laboral e sua categorização.

Adotando um caráter interpretativo, o qual se refere aos dados obtidos.

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4. REFERÊNCIAS

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