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Workshop Boas práticas agro - ambientais na fileira do azeite Os solos com olival riscos ambientais J. Casimiro Martins (INIAV) e M. Gomes Pereira (DGADR) ([email protected], [email protected]) 14 de Outubro de 2014 Instituto Politécnico de Beja BEJA Projeto REMDA-Olival

Os solos com olival riscos ambientais - iniav.pt · Ameaças ao solo com olival (intensivo e superintensivo, em especial) ... de ar dos vazios do solo (porosidade), não ocorrendo

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Workshop

Boas práticas agro - ambientais na fileira do azeite

Os solos com olival

– riscos ambientais

J. Casimiro Martins (INIAV) e M. Gomes Pereira (DGADR)

([email protected], [email protected])

14 de Outubro de 2014

Instituto Politécnico de Beja

BEJA

Projeto REMDA-Olival

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A Comunicação da Comissão das Comunidades Europeias ao Parlamento Europeu e ao Conselho da União Europeia "Para uma estratégia temática de protecção do solo" (2002), identificou os oito principais processos de degradação aos

quais estão expostos os solos:

-Erosão -Diminuição da matéria orgânica -Contaminação -Salinização -Compactação -Perda de biodiversidade -Impermeabilização -Desabamentos de terras e as inundações

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Ameaças ao solo com olival (intensivo e superintensivo, em especial)

Erosão

Perda de matéria orgânica

Perda de nutrientes

Compactação

Salinização e sodização

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Regiões

Agrárias*

Olival-azeitona

de mesa Olival-azeite Total

<100 árv/ha 101-300 árv/ha >301 árv/ha

Área (ha) (%) Área (ha) (%) Área (ha) (%) Área (ha) (%) Área (ha) (%)

EDM 2 0,0 565 0,4 313 0,2 0 0 880 0,3

TM 2 740 67,0 19 335 12,5 51 627 35,2 1 564 5,0 75 266 22,4

BL 11 0,3 7 715 5,0 5 390 3,7 1 225 3,9 14 341 4,3

BI 244 6,0 28 281 18,4 16 827 11,5 1 984 6,4 47 336 14,1

RO 61 1,5 17 189 11,2 6 560 4,5 1 730 5,6 25 540 7,6

ALT 843 20,6 73 224 47,5 65 559 44,7 24 451 78,7 164 077 48,9

ALG 189 4,6 7 799 5,1 311 0,2 100 0,3 8 399 2,5

Total 4 090 100 154 108 100 146 587 100 31 054 100 335 839 100

Quadro 1. Área de olival, por região, em 2009

Fonte: INE, 2011, Recenseamento Agrícola 2009 [RA2009].

* Regiões agrárias (EDM= Entre Douro e Minho, TM= Trás-os-Montes, BL= Beira

Litoral, BI= Beira Interior, RO= Ribatejo e Oeste, ALT= Alentejo, ALG= Algarve)

Rolo (2013): cerca de 60% da olivicultura nacional está concentrada em 10 concelhos (Serpa, Moura,

Mirandela, Beja, Ferreira do Alentejo, Macedo de Cavaleiros, Castelo Branco, Avis, Mogadouro e Valpaços)

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Perfil P180

Luvissolo Crómico/ Mediterrâneo Vermelho

de Materiais Não Calcários, de rochas

cristalofílicas básicas (Pv)

(Concelho de Monforte-2011)

Perfil P184

Luvissolo Vértico/Mediterrâneo Pardo,

Para-Barro (Pm)

(Concelho de Alvito-2012)

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Perfil P189

Calcissolo Hipercálcico/Calcário Pardo (Pc)

(Concelho de Moura-2012)

Perfil P188

Calcissolo Hipercálcico Vértico

Calcário Vermelho (Vc)

(Concelho de Moura-2012)

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Erosão do solo: processo sequencial

resultante do destacamento e transporte de

partículas do solo, por agentes designados

de erosivos (água, vento), resultando na

diminuição da espessura do solo e na perda

da sua fertilidade e capacidade de

armazenamento de água.

Distinguem-se dois tipos de erosão:

-hídrica (laminar, por sulcos e por ravinas)

-eólica (vento).

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Programa CORINE

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Em Portugal, o tipo de erosão dominante é a hídrica, que provoca a perda de solo,

de matéria orgânica, de fertilizantes e de herbicidas os quais são arrastados para

as valas de drenagem, cursos de água ou outras massas de água originando a

consequente contaminação da água.

Os sedimentos ou os materiais arrastados pela água nomeadamente das encostas

com declives mais ou menos acentuados vão dar origem ao assoreamento dos

cursos de água e das albufeiras. Em casos extremos, quando as condições

climáticas são muito adversas (zonas sub-húmidas secas a áridas), a erosão do solo

pode conduzir à desertificação ou degradação da terra.

Os olivais tradicionais existem em praticamente em todos os tipos de declives,

atingindo 20% ou mais em alguns casos, e em unidades-solo que até cerca dos anos

noventa do século passado eram consideradas inadequadas para utilização das

culturas arvenses, hortícolas e industriais.

Os olivais intensivos e nomeadamente os superintensivos foram instalados nos

últimos 10 a 15 anos em áreas anteriormente utilizadas por cereais, nomeadamente

o milho, beterraba sacarina, tomate para a indústria, isto é, culturas de potencial

produtivo elevado, que, face às regras de mercado, foram sucessivamente

abandonadas.

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Fatores que podem afetar a erosão do solo de um olival:

topografia

regime de chuvas

textura e estrutura do solo

gestão do coberto vegetal herbáceo

A mobilização tradicional é o sistema mais gravoso sob o ponto de vista da erosão.

A mobilização tradicional deve ser evitada, devendo optar-se pela mobilização

reduzida ou mínima ou nula, com controlo das infestantes através de herbicidas. A

mobilização, como sistema de controlo de infestantes, deve efetuar-se segundo as

curvas de nível, superficialmente e evitada em zonas com declives > 10-15%.

As mobilizações, especialmente as do tipo convencional, provocam:

- compactação do solo e a formação da crosta superficial,

- diminuição da capacidade de retenção da água,

- resistência à penetração radicular,

- destruição das raízes do olival

- redução na disponibilidade de nutrientes

- perda de matéria orgânica do solo.

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A cobertura de solo constitui o método mais eficaz para reduzir ou

combater a erosão nomeadamente em zonas de maior declive:

-Através de material morto ou inerte (folhas e restos de poda

triturados, palha ou material inerte)

-Enrelvamento (natural ou semeado), muito embora possa competir

pela água e elementos nutritivos, e ainda servir de hospedeiro a

pragas e doenças.

A manutenção de uma cobertura vegetal viva nas entrelinhas é o sistema de gestão

do solo mais eficaz para a resolução dos problemas da erosão, melhoria da

estrutura, da infiltração do solo e da biodiversidade.

Entre os solos mais susceptíveis à erosão destacam-se os Litossolos e Mediterrâneos

delgados, de xisto (Ex, Px(d), Vx(d)), Litólicos de materiais arenáceos (Ppg, Pg,

Par(p)), Mediterrâneos de textura mediana (Vx, Px, Sr, Pv, Pmg, Pgn, Vagn, Vgn) e

ainda alguns solos das famílias Pag, Pagn, Pagx, Pmh, Vag, Pagc e Pdg, estas últimas

com espessura <50 cm.

As famílias de solos menos susceptíveis à erosão corresponderão aos Solos Calcários

(normais e para-barros), Barros Calcários e Não-Calcários, Solos Mediterrâneos de

materiais calcários e Solos Hidromórficos Para-Barros.

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Perda de solo total: 493 kg/ha (Janeiro 2010 a Abril 2013)

Perda de solo média anual: 164 kg/ha

Talhão experimental de erosão Olival intensivo (6×7 m) sem revestimento na entrelinha (declive: 5%)

Solo Calcário Pardo Para-Barro de calcários não compactos associados a gabros (Pc’)

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A matéria orgânica do solo ou matéria orgânica endógena inclui

todos os organismos que vivem no solo, juntamente com os resíduos

de organismos mortos, de origem vegetal e animal, em diferentes

estádios de decomposição e uma mistura complexa de material

orgânico já decomposto e modificado (húmus).

A matéria orgânica exógena é constituída pelo material orgânico

fornecido ao solo, com várias origens: resíduos vegetais e compostos

orgânicos incluindo os estrumes, chorumes, lamas e resíduos sólidos

urbanos.

A matéria orgânica do solo constitui uma fonte de nutrição para a

fauna do solo e contribui para a biodiversidade deste, atuando como

reservatório de nutrientes como o N, P e o S, sendo, portanto, o

principal fator da fertilidade do solo.

Perda de Matéria Orgânica

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As funções da matéria orgânica do solo podem ser

genericamente classificadas em três grupos:

biológicas, físicas e químicas.

Funções biológicas: fornece fonte de energia (essencial para os

processos biológicos), constitui um reservatório de nutrientes (N, P,

S) e contribui para a resiliência do sistema solo-planta.

Funções físicas: contribui para a melhoria da estabilidade

estrutural, da densidade aparente e da porosidade do solo, influencia

as propriedades de retenção de água dos solos , aumenta a

infiltração da água e altera as propriedades térmicas do solo.

Funções químicas: contribui para a capacidade de troca catiónica,

aumenta a capacidade tamponizante do solo para amortecer as

mudanças de reação do solo, favorece a complexação de catiões

(maior disponibilidade de P), reduz as concentrações de catiões

tóxicos e promove a sua ligação com os minerais do solo.

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Fatores que provocam a perda de matéria orgânica: clima, textura e

o regime hídrico do solo, o uso do solo e a vegetação. Por ex., a

matéria orgânica decompõe-se mais rapidamente a temperaturas

elevadas, pelo que os solos dos climas quentes contêm menos matéria

orgânica que os solos dos climas mais frios.

Os solos de textura fina apresentam, em geral, mais matéria

orgânica que os solos grosseiros; têm uma melhor retenção de

nutrientes e de água, proporcionando assim boas condições para o

crescimento das plantas.

Os solos grosseiros são mais arejados, pelo que a presença de oxigénio

promove uma decomposição mais rápida da matéria orgânica.

A mobilização das terras mistura o oxigénio no solo e aumenta a

temperatura, contribuindo assim para uma maior taxa de

decomposição da matéria orgânica.

As perdas de matéria orgânica ocorrem também devido à remoção

das camadas superficiais do solo e do húmus pela erosão.

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Perda de nutrientes A aplicação inadequada ou excessiva de fertilizantes (quantidades, épocas e

formas apropriadas) às plantas como o N, P e K, pode conduzir à

degradação do meio ambiente através do arrastamento pelas águas de

escoamento superficial e nas águas de percolação, contribuindo para a

poluição das águas superficiais e subterrâneas.

As perdas de nitratos e de fósforo do solo dependem de numerosos fatores,

não apenas da quantidade, tipo, épocas e técnicas de aplicação dos

fertilizantes azotados e fosfatados, da intensidade e distribuição das

chuvas, mas, também, designadamente, do tipo de mobilização do solo, da

cultura e da gestão dos resíduos da cultura ou do revestimento vegetal da

entrelinha do olival.

A redução das perdas de nutrientes do solo e dos riscos de contaminação das águas

superficiais e subterrâneas depende em grande parte do tipo de mobilização do

solo, devendo privilegiar-se os sistemas de mobilização reduzida, mínima ou de

conservação, em especial, a não mobilização, com manutenção dos resíduos das

culturas à superfície do solo.

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As áreas de maior risco de poluição ambiental com nitratos e/ou fósforo de origem

agrícola são aquelas em que se verifica, pelo menos, uma das seguintes condições:

presença de solos de textura ligeira, com grande permeabilidade, com baixo poder

de retenção para a água e do nutriente; ocorrência de lençol freático relativamente

superficial, até 2 m de profundidade; solos delgados, com espessura efetiva inferior

a 15-20 cm, sobre rocha fissurada.

Em terrenos declivosos, deve ser prestada atenção especial à aplicação de fertilizantes

azotados e fosfatados devido ao risco de escorrimento superficial, o qual depende de

vários fatores (declive do terreno, das características do solo, em especial, da sua

permeabilidade à água, do sistema de mobilização e de proteção contra a erosão e,

naturalmente, da intensidade e distribuição das chuvas).

Relativamente ao risco de lixiviação de nutrientes do solo, os solos

que podem apresentar o risco mais elevado (susceptibilidade alta)

são os que se incluem nos agrupamentos Litossolos, Litólicos e Atl.

Os solos com risco de lixiviação mais baixo (susceptibilidade baixa)

incluirão os Solos Calcários, os Mediterrâneos Para-Hidromórficos e

os Solos Hidromórficos Para-Barros.

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Compactação Consiste no processo mecânico que, por aplicação repetida de cargas ao

solo, conduz a uma diminuição do seu volume e a um aumento do peso

volúmico seco. Esta redução de volume deve-se, sobretudo, à expulsão

de ar dos vazios do solo (porosidade), não ocorrendo significativa

alteração do teor em água nem alteração do volume de partículas do solo.

Ocorre devido ao uso de máquinas (agrícolas ou outras) ou ao sobrepastoreio,

em geral, quando as condições de operabilidade e de transitabilidade não são

adequadas, nomeadamente no período de colheita da azeitona. Atinge um valor

máximo quando o teor de água é superior ao correspondente à capacidade de

campo, isto é, quando os microporos estão preenchidos com água e os

macroporos com ar.

Um solo compactado tem, em geral, uma massa volúmica aparente

elevada, um arejamento deficiente, teores baixos de nutrientes, uma

baixa capacidade de água utilizável, infiltrabilidade e permeabilidade

baixas e uma impedância mecânica alta que dificulta o desenvolvimento

das raízes.

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Sintomas de compactação no solo: formação de crosta superficial, observação

de fendas nas marcas dos rodados das máquinas, existência de zonas

subsuperficiais compactadas e de empoçamento de água ou a presença de restos

de resíduos orgânicos não decompostos, meses após a incorporação.

Medidas de recuperação de solos compactados:

- Utilização de plantas que possuam um sistema radical com capacidade de

recuperação da estrutura e de penetração em camadas compactadas de

solo, em sistema de rotação de culturas, e a incorporação de material

orgânico no solo.

- Práticas mecânicas, para aplicação em condições de humidade adequadas

(sazão), como a lavoura, a escarificação, a gradagem (grade pesada), ou o

“chisel”, subsolagem e ripagem, em camadas subsuperficiais muito

compactadas.

Susceptibilidade baixa à compactação: Litossolos e Litólicos (em especial os de

textura grosseira e/ou pedregosidade elevada, oferecendo assim, uma grande resistência

à compactação. Todos os outros solos terão uma susceptibilidade moderada a alta

quanto maior for o teor de elementos finos (argila e limo) e menor a macroporosidade, a

infiltrabilidade e a permeabilidade e quanto mais baixo for o teor de matéria orgânica.

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Salinização/Sodização A salinização ou o desenvolvimento de solos afetados por sais (sódio) é um processo

de degradação que conduz geralmente à desertificação das terras, e é um dos

riscos ambientais mais importantes que ocorre em todos os continentes.

A acumulação de sais no solo está invariavelmente ligada à existência de uma fonte de

sais e à insuficiência de precipitação e/ou de drenagem que permitam a sua lixiviação. A

acumulação de sais no solo é inevitável quando a permeabilidade não é adequada, como

por exemplo, nos solos com horizonte B argiloso ou compactado.

Zonas de clima árido, semi-árido ou sub-húmido seco e em condições de regadio, os

riscos de salinização dependem da qualidade da água de rega (especialmente quando

CE> 0,7 dS m-1 e fertilizantes incorporados) e das condições de drenagem do solo.

Solo salino: condutividade eléctrica (CE) da pasta saturada do solo é superior a 4

dS m-1 ou a 40 mmol L-1. Os sais mais frequentes são os de sódio, mas abundam

também os compostos de Ca e Mg. Aniões dominantes: cloretos, sulfatos,

carbonatos e bicarbonatos e, por vezes, encontram-se também os nitratos.

Um solo é sódico (salino ou não salino) quando apresenta uma proporção de Na e

de Mg de troca relativamente à capacidade de troca catiónica maior que 15%, (ou

> 6% de Na de troca).

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Nos solos salinos verifica-se em geral uma distribuição irregular dos

sais, com grandes variações de salinidade em curtas distâncias,

devido a pequenas irregularidades de relevo e variações na

composição do solo, permeabilidade ou crescimento das plantas.

A recuperação dos solos salinos e sódicos engloba em geral dois

processos: a lavagem dos sais solúveis (solos salinos) e a substituição

do sódio de troca por cálcio de troca (solos sódicos).

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Os solos que se consideraram como os mais susceptíveis à salinização

correspondem aos Solos Mediterrâneos para-barros e para-hidromórficos

e os Hidromórficos para-barros. Pelo contrário, os menos susceptíveis à

salinização corresponderão aos Litossolos, Litólicos e Calcários e ainda

os solos de textura ligeira dos Aluviossolos (Atl e Al), isto é, os solos

menos espessos e/ou de textura mais grosseira ou que apresentam teores

elevados de calcário e com capacidade de restringir a salinização e a

sodização do solo.

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SOLO: RECURSO NATURAL LIMITADO,

FACILMENTE DEGRADÁVEL E PERECÍVEL

• O uso do solo é condicionado pela sua própria natureza, relevo e clima.

• O uso impróprio e a gestão inapta são as causas

principais de degradação (física, química e biológica),

geralmente devida à ignorância das limitações do solo,

dos riscos de degradação ou dos métodos para a

suster.

Declaração de Princípios sobre o Solo Português

Sociedade Portuguesa da Ciência do Solo

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Obrigado pela atenção

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