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Os testes testam o quê

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Page 1: Os testes testam o quê

Os testes testam o quê? Simão Monteiro | 11-06-2012

O envolvimento na disciplina, o esforço, a evolução e muitas das competências adquiridas em todo o

processo ensino-aprendizagem não são mensuráveis em testes escritos e ao excluí-las da avaliação

estamos a transmitir uma mensagem contraditória aos alunos.

- O GB nas aulas práticas é 5, no comportamento é 5 e mesmo no domínio dos conhecimentos é 5, mas chega aos testes

e raramente tira notas superiores a 3... por isso, vai ter 3...

Foram 12 semanas de aulas, 1080 minutos daquela disciplina com um rendimento de nível 5. Mais,

segundo o professor Alberto Sérgio, o aluno mobiliza, como nenhum outro, os conhecimentos teóricos nas

aulas práticas e vice-versa. É um aluno muito responsável na dinâmica das aulas, com um comportamento

participativo e demonstra bastante interesse nas diversas temáticas da disciplina.

Mas afinal o que medem os testes?

Os conhecimentos e a sua memorização, quando muito, medem também a capacidade dos alunos em

sistematizar informação e lidar com a pressão.

O que não medem os testes?

O trabalho e empenho dos alunos em todo o processo de ensino-aprendizagem (1080 minutos neste caso), a

evolução do aluno, o interesse demonstrado pelos temas, a sua capacidade de investigar e ir mais além dos

objetivos mínimos, a sua responsabilidade e atitude perante os colegas, professor e o próprio material e,

neste caso particular, a competência do aluno em idealizar, gerir e analisar experiências práticas

relacionadas com as matérias dadas. Numa reflexão redutora, a missão da escola é ensinar, é permitir que

os seus alunos aprendam, contudo, mesmo aprendendo os conteúdos e aprendendo a ser um cidadão ativo

, participativo e responsável, o GB não pode ter 5 porque a escola confunde avaliar com verificar. De que

nos serve uma avaliação se ela não serve a aprendizagem?

Como se sentirá o GB ao ver um 3 ou 4 na pauta quando sabe, de antemão, o seu excelente rendimento na

disciplina? - Então GB, o que achaste das tuas notas? - perguntei. - Não foram más, não tive negativas, mas

estou desiludido com o 3 a F.Q. - respondeu-me. - Pois, tens de estudar mais, estares concentrado nas aulas.

- tentei acrescentar eu, munindo-me de lugares-comuns muito frequentes na escola.

- Oh setor, eu porto-me bem nas aulas e sou o melhor nas experiências, pergunte ao setor... e até respondo

bastante, mas chego aos testes e fico sempre preso em alguma coisa... às vezes nem percebo bem as

perguntas... não vale a pena, pelo menos não tenho negativa...

Os testes podem ser instrumentos relevantes na avaliação de alguns tipos de conhecimento, todavia é um

erro considerá-los o único método de avaliação. O efeito de uma metodologia unicamente baseada em

testes tem resultados nefastos na relação dos alunos com o conhecimento e com a própria disciplina. O

envolvimento na disciplina, o esforço, a evolução e muitas das competências adquiridas em todo o

processo de ensino-aprendizagem não são mensuráveis em testes escritos e ao excluí-las da avaliação

estamos a transmitir uma mensagem contraditória aos alunos. Neste caso, o GB nunca encontrará uma

relação entre aquela disciplina, o seu desempenho nela e a nota final, apenas reconhecerá que essa nota se

relaciona com duas provas escritas feitas em 90 minutos... Em última análise, se perpetuarmos este

reducionismo nas práticas avaliativas, teremos de lidar com alunos como o Diogo, que, ao contrário do GB,

faltou a 60% das aulas, mas apareceu nos testes e sacou duas positivas que lhe deram direito a um 3 como o

do GB na pauta (porque os + e - não aparecem). O que fazemos? O que pensará a turma da nota que lhe

damos? O que aprenderá o Diogo com esta atitude?