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Os textos deste Caderno de Resumos do Congresso Entre ... · Cicero Cunha Bezerra (UFS) Eduardo de Assis Duarte (UFMG/USP) ... Acauam Silvério de Oliveira (UPE) ... As comunidades

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Os textos deste Caderno de Resumos do Congresso Entre Mares são de inteira responsabilidade dos seus autores.

Caderno de Resumos do Congresso Entre Mares (1.: 2018: Garanhuns, PE). Anais [recurso eletrônico] / 1º Congresso Entre Mares: a Literatura, Leitura do

Mundo, 18, 19, 20 set Garanhuns, PE : Universidade de Pernambuco, Núcleo de Estudos sobre África e Brasil, 2018.

Disponível em: https://cadernoentremares.wordpress.com/

Inclui referências

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO - UPE

Reitor Pedro Henrique de Barros Falcão

Vice-Reitora Maria do Socorro Mendonça Cavalcanti

Pró-Reitor de Extensão e Cultura Renato Medeiros de Moraes

Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Tereza Cartaxo Muniz

Pró-Reitor de Graduação Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues

CAMPUS GARANHUNS

Diretora Rosângela Alves Falcão

Vice-Diretor Adauto Trigueiro de Almeida Filho

Coordenador de Extensão e Cultura Higor Ricardo Monteiro Santos

Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa Carolina de Albuquerque Lima Duarte

Coordenador de Graduação Damocles Aurélio Nascimento da Silva

NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE ÁFRICA E BRASIL - NEAB

Coordenadora Silvania Núbia Chagas

Endereço para Correspondência Universidade de Pernambuco - campus Garanhuns Rua Capitão Pedro Rodrigues, 105, sala do NEAB – São José – Garanhuns - PE – Brasil – CEP: 55.294-902 Fone: (87)

3761-8210 | E-mail: [email protected] https://neabupe.wordpress.com

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Realização Núcleo de Estudos sobre África e Brasil (NEAB)

Coordenação

Silvania Núbia Chagas (UPE)

Comissão Científica Benjamin Abdala Júnior (USP/CNPq)

Fátima Bueno (USP) Luiz Roncari (USP)

Cicero Cunha Bezerra (UFS) Eduardo de Assis Duarte (UFMG/USP)

Florentina Souza (UFBA) Luís Bueno (UFPR)

Maria Nazareth Soares Fonseca (CNPq/CEA)

Comissão Organizadora Anderson de Souza Frasão (UPE)

Davi Sales de Lima (UPE) José Aldo Ribeiro da Silva (IF Sertão - PE/ UEPB)

Silvania Núbia Chagas (UPE)

Composição e Diagramação Anderson de Souza Frasão (UPE) e Gabriel Severo da Silva (UPE)

Monitores

Ana Karolina Lima de Siqueira (UPE) Ana Sofia Miranda Pantarotto (UPE) Anne Carolline M. de Oliveira (UPE) Elisângela Costa de Carvalho (UPE)

Erica Rayane Vieira dos Santos (UPE) Esteffany Silva S. Marques (UPE) Fabiano Francisco da Silva (UPE)

Gabriel Severo da Silva (UPE) Jean de Melo Lima (UPE)

José Claudevan da Silva (UPE) José Jamilson Leite da Silva (UPE) Jose Leonardo N. Soares (UPE)

Máira juceline Martins Ferreira (UPE)

Maria Fernanda F. Ribeiro (UPE) Maria Jeane B. dos Santos (UPE) Maria Micaely M. de Melo (UPE) Marta dos Santos Santiago (UPE)

Mirelle Silva Freitas (UPE) Nilena Cláudia R. C. da Cunha (UPE)

Paulo Rafael Alves Silva (UPE) Raira Araújo dos Santos (UPE)

Ricássia Maria da Silva Ferreira (UPE) Ruth Marques Melo (UPE)

Sanniely Leandro da Silva (UPE) Thayná Aparecida de A. Lyra (UPE)

Apoio

Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE)

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SUMÁRIO

Conferências ...................................................................................................16

Reflexões comunitárias supranacionais: os países africanos de língua oficial portuguesa em um universo de fronteiras múltiplas e fluxos culturais assimétricos .................................................................................16

Benjamin Abdala Junior (USP/CNPq) ................................................................. 16

Pós-colonialismo à portuguesa – os silenciados da História.....................17 Fátima Bueno (USP) ................................................................................................ 17

Tristes Trópicos/ Trópicos Tristes ............................................................18 Luiz Roncari (USP) .................................................................................................. 18

Mesas-redondas ..............................................................................................19

Clarice Lispector: literatura e acontecimento ........................................... 20 Cicero Cunha Bezerra (UFS) .................................................................................. 20

Negritude e modernidade: Oswaldo de Camargo – crítica, poesia, ficção ....................................................................................................................21

Eduardo de Assis Duarte (UFMG/CNPq) .......................................................... 21

Literatura afro-brasileira: construção e identidade ................................... 22 Florentina Souza (UFBA) ....................................................................................... 22

Literatura brasileira e disjunção ................................................................ 23 Luís Bueno (UFPR) ................................................................................................. 23

Literaturas Africanas: cânones em formação? .......................................... 24 Maria Nazareth Soares Fonseca (CNPq/CEA) ................................................... 24

Sobreviventes da diáspora: os “brasileiros do Benim”, em “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves ................................................................... 25

Silvania Núbia Chagas (UPE) ................................................................................. 25

Comunicações em Grupos de Trabalhos (GTs) ........................................... 26

GT - (En)cantos de resistência: literatura e cultura afro-brasileira .............. 27

Acauam Silvério de Oliveira (UPE) ....................................................................... 27 Mayk Andreele do Nascimento (UFAL) .............................................................. 27

20 anos de “Sobrevivendo no Inferno” ou, da cultura como política ....... 28 Acauam Silvério de Oliveira (UPE) ....................................................................... 28

Entre o real e a representação: Considerações teóricas e metodológicas sobre a literatura de viagem do século XIX .............................................. 29

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Aline Jeronimo Barros (UPE) ................................................................................ 29

Olhar estrangeiro sobre o Brasil oitocentista: um estudo de caso do diário de Louis-Léger Vauthier em sua estadia em Pernambuco no século XIX ................................................................................................................... 30

Bruno Adriano Barros Alves (UPE)...................................................................... 30 Bruno Augusto Dornelas Câmara (UPE) ............................................................. 30

Repente: um ato de resistência e ressignificação ..................................... 32 Liliane Santos Pereira Silva (UFAL) ...................................................................... 32 José Iran de Lima Júnior (UFAL) .......................................................................... 32

Não existe amor no rap? Sexo, política e privacidade na música de Baco Exu do Blues ............................................................................................. 33

Mayk Andreele do Nascimento (UFAL) .............................................................. 33

Drogas no rap: A mudança na mensagem sobre as drogas no rap nacional ................................................................................................................... 34

Vinicius Henrique Alves Silva (UFAL) ................................................................. 34 Mayk Andreele do Nascimento (UFAL) .............................................................. 34

GT – África no feminino mulheres escrevem a África .................................. 35

Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE) .................................................... 35 Francisca Zuleide Duarte de Souza (UEPB) ........................................................ 35

“Sabor de maboque”: um olhar agridoce sobre a diáspora ...................... 36 Izabel Cristina Oliveira Martins (UEPB) .............................................................. 36

Questões de santomensidade na poesia de Olinda Beja .......................... 37 Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE) .................................................... 37

O que Chika sabe? Identidade nacional, religião e política na Nigéria de “A Private Experience”, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie .......... 38

Renata Gonçalves Gomes (UFPB) ........................................................................ 38

A representação da educação da mulher moçambicana na perspectiva pós-colonial em três contos de Lília Momplé ........................................... 39

Rodrigo Nunes de Souza (UFCG)......................................................................... 39 Maria Marta Nóbrega (UFCG)............................................................................... 39

Literatura, espaço e poder: força e resistência feminina em Buchi Emecheta ................................................................................................... 40

Sérgio Ricardo Oliveira Martins (UFRB) .............................................................. 40 Waleska Rodrigues M. Oliveira Martins (UFRB) ................................................ 40

A identidade social feminina em “Ventos do apocalipse”, de Paulina Chiziane ......................................................................................................41

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Waldelange S. dos Santos (UFPB) ......................................................................... 41

Olinda Beja: uma outsider no país das lezírias ......................................... 42 Zuleide Duarte (UEPB) .......................................................................................... 42

GT – Escritores e Artistas do Mundo Lusófono pró-África .......................... 43

Fabiana Carelli (USP) ............................................................................................... 43 Renata Soares Junuqueira (UNESP)...................................................................... 43

A poeticidade de “Cartas para Angola” .................................................... 44 Davina Marques (IFSP) ........................................................................................... 44

A África de “Chaimite”: exaltação colonial no cinema salazarista ........... 45 Edimara Lisboa (USP/CNPq) ............................................................................... 45

Um só em toda parte: os jornais cinematográficos e a medicina colonial portuguesa em África (1932-1978) .............................................................. 46

Fabiana Buitor Carelli (USP) .................................................................................. 46

Antão, o São Jorge Negro. Fatalismo e misticismo em “O Dragão da maldade contra o Santo Guerreiro” ........................................................... 47

Geisa Cristina Semensato (UNESP)...................................................................... 47

Estruturas de sentimento e identidade cultural: um estudo sobre os processos de formação da literatura moçambicana .................................. 48

Lucylle Vilela (UFPE) .............................................................................................. 48

Cinema e Revolução em Glauber Rocha: uma leitura de “O Leão de Sete Cabeças” (1970) ......................................................................................... 49

Renata Soares Junqueira (UNESP) ........................................................................ 49

Vanguardismo e militância pró-África na pintura de Bertina Lopes ....... 50 Thais de Paula Vieira (UNESP) ............................................................................. 50 Fabiane Renata Borsato (UNESP) ........................................................................ 50

GT – Literatura afro-brasileira contemporânea: o levantar das vozes ...........51

Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva (UFERSA) ................................................. 51 Sarah Maria Forte Diogo (UECE) ......................................................................... 51

“Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves: traços afro-femininos que trazem um legado de contradiscurso e construção identitária ................. 53

Camila de Matos Silva (UFPE)............................................................................... 53

Significação e ressignificação do negro na poética de Adão Ventura ...... 54 Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva (UFERSA) ................................................. 54

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Fabião das Queimadas e Inácio da Catingueira: identidade étnica e memória de vozes negras nas poéticas da oralidade ................................ 55

Eidson Miguel da Silva Marcos (UFBA)............................................................... 55

Dicções suplementares da nação brasileira em “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves ................................................................................. 56

Karina de Almeida Calado (PUC-Minas) .............................................................. 56

Memória e pertencimento na literatura contemporânea do Recôncavo Baiano: os casos de Camilo César Alvarenga, Deisiane Barbosa e João de Moraes Filho .............................................................................................. 57

Sara Mariano Santos (UFRB) ................................................................................. 57 Rubens da Cunha (UFRB) ...................................................................................... 57

“Ponciá Vicêncio” na educação básica: modelo de leitura de texto literário e dimensões ensináveis ................................................................ 58

Sarah Maria Forte Diogo (UECE) ......................................................................... 58

A constituição do Romance histórico Afro-Brasileiro em “Desde que o samba é samba” ........................................................................................ 59

Vanessa Bastos Lima (UERN) ............................................................................... 59

GT – Naus da ficção portuguesa contemporânea .................................... 60 Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFERSA) ................................................... 60 Jonas Jefferson de Souza Leite (UERN)............................................................... 60

A Tragédia Amorosa Portuguesa retratada por meio do Gênero Epistolar – Século XVII ao século XX: Vozes que ecoam de Sóror Mariana Alcoforado à Florbela Espanca ..................................................................61

Alex Sandra da Silva Moura (UPE) ....................................................................... 61

Trancoso e o lugar da virtude na obra portuguesa do século XVI: “contos e histórias de proveito e exemplo” ............................................................ 62

Emanuel da Silva Oliveira (UPE) .......................................................................... 62 Laís Santos Machado (UPE) ................................................................................... 62

Florbela Espanca: o itinerário de um mito ............................................... 63 Jonas Jefferson de Souza Leite (UERN)............................................................... 63

Denominações do espaço em “Todos os nomes”, de José Saramago ..... 64 Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRSA) ...................................................... 64

Sofrimento, esquecimento e memória em “A desumanização”, de Valter Hugo Mãe .................................................................................................. 65

Sidnei Alves da Rocha (UFMT) ............................................................................. 65 Vinícius Carvalho Pereira (UFMT) ........................................................................ 65

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GT – O cânone literário e a literatura periférica em Angola e Moçambique 66

Vanessa Riambau Pinheiro (UFPB) ...................................................................... 66 Marinei Almeida (UNEMAT/UFMT) ................................................................. 66

O lugar de fala em Paulina Chiziane e a construção do cânone literário em Moçambique ........................................................................................ 67

Amanda Gomes dos Santos(UFPB) ...................................................................... 67 Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos (UFPB) ................................................ 67

Traços da religiosidade em “O sétimo juramento”, de Paulina Chiziane 68 Geovanna Dayse Bezerra Silva (UFPB) ................................................................ 68

Literaturas de Língua Portuguesa: revisitações pretéritas e subjetividades ................................................................................................................... 69

Marinei Almeida (UNEMAT/UFMT) ................................................................. 69

Novos espaços dentro da literatura moçambicana: Hirondina Joshua e seus ângulos da casa.................................................................................. 70

Sayonara Souza da Costa (UFPB) .......................................................................... 70

Descolonizando saberes: do relativismo cultural a pretensa universalidade - Uma análise acerca da arbitrariedade da formação do cânone literário em Moçambique ..............................................................71

Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos (UFPB) ................................................ 71 Amanda Gomes dos Santos (UFPB)..................................................................... 71

O cânone literário em Moçambique ......................................................... 72 Vanessa Riambau Pinheiro (UFPB) ...................................................................... 72

Comunicações Individuais ............................................................................ 73

Literatura afro-brasileira construção e identidade ........................................ 74

As comunidades tradicionais de Alcântara ameaçadas: olhares sobre as comunidades negras rurais quilombolas de Alcântara ............................. 75

Elizabeth Sharllyda Cantanhe Santos (IFMA) ..................................................... 75 Clécia Assunção Silva (IFMA) ................................................................................ 75

Da pedra onde brotou uma flor: feições da Ferocidade Poética............... 76 Franciane Conceição da Silva (PUC Minas) ......................................................... 76

A representação cinematográfica da resistência escrava e do Quilombo dos Palmares em “Ganga Zumba” (1964) e “Quilombo” (1984) .............. 77

Gabriel Medeiros Alves Pedrosa (UPE) ............................................................... 77 Bruno Augusto Dornelas Câmara (UPE) ............................................................. 77

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Do literário ao existencialismo: a “escrevivência” no poema “Vozes-mulheres” de Conceição Evaristo ............................................................. 78

Júlia Barreto Lula ...................................................................................................... 78

“Primeiras trovas burlescas” de Getulino: a poesia lírica e satírica de Luiz Gama .......................................................................................................... 79

Magnólia Ferreira Cruz da Paixão (UEFS) ........................................................... 79 Adeítalo Manoel Pinho (UEFS) ............................................................................. 79

“Metamorfose” de Geni Guimarães e “Metamorfose” de Cristiane Sobral: vozes de resistência na literatura afro-brasileira ....................................... 80

Verônica Vieira de Lima (UFPE)........................................................................... 80

Literatura brasileira novas reflexões...............................................................81

Machado é fundamental: uma proposta com o cânone literário no 9º ano do Ensino Fundamental ............................................................................ 82

Ana Flávia Ferro Bernardo (UPE) ......................................................................... 82

O modernismo peculiar de Manuel Bandeira ........................................... 83 André Cervinskis (UFPE) ....................................................................................... 83 Maria José de Matos Luna (UFPE) ....................................................................... 83

O texto literário na sala de aula: sequência básica com o conto “O menino que não sabia sonhar” de Daniel Munduruku ............................ 84

Antônia Maria Medeiros da Cruz (UFAL) ........................................................... 84 Maria Ladjane dos Santos Pereira (UNICAP) ..................................................... 84 Silvânia Maria da Silva Amorim Cruz (UPE) ....................................................... 84

Feminino sombrio e a sua redenção em “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector ........................................................................................ 85

Antonielle Menezes Souza (UFS) .......................................................................... 85

Entre render-se ao falso e ser fiel ao real: dois caminhos da ficção de Rubens Figueiredo .................................................................................... 86

Carlos Palacios Carvalho da Cunha e Melo (UFRJ) ............................................ 86

Uma leitura sobre os símbolos sacrificiais em “O Guarani” .................... 87 Eliane Maria dos Santos (FISE) ............................................................................. 87 Marcio Carvalho da Silva (FISE) ........................................................................... 87

A imagem do Diabo no conto “Igreja do Diabo” de Machado de Assis.. 88 Geferson Silva Machado (UFS) ............................................................................. 88 Flávio Passos Santana (UFS) .................................................................................. 88

Releitura de narrativas curtas na educação de jovens e adultos (EJA) .... 89 Herlan José Tenório Ferreira (UPE) ..................................................................... 89

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“À opinião pública”: uma chamada machadiana à reflexão .................... 90 Iasmim Santos Ferreira (UFS) ................................................................................ 90 Alexandre de Melo Andrade (UFS) ....................................................................... 90

Sobre domínios do demasiado: poder soberano e vida nua em “A benfazeja”, de João Guimarães Rosa .........................................................91

José Aldo Ribeiro da Silva (IF Sertão-PE/UEPB) .............................................. 91

Os versos cálidos da saga do retirante nordestino em cores, perfumes, sabores e texturas: curvando-se diante da maestria poética de João Cabral de Melo Neto – Uma experiência com estudantes do Ensino Médio ...... 92

Magna Kelly da Silva Sales Calado (UPE) ............................................................ 92

A trajetória heroica de Raquel em “A sombra do patriarca” .................... 93 Marcio Carvalho da Silva (FISE) ........................................................................... 93

Rosa mestre: especulações sobre o aprender ............................................ 94 Marcos Palheta (UFPA) .......................................................................................... 94

A poética oral no agreste sergipano: o caso da poesia vaqueira ............... 95 Mateus Costa Melo (UFS) ....................................................................................... 95 Vilma Mota Quintella (UFS)................................................................................... 95

Discurso polifônico e a figura da mulher em “Memorial de Maria Moura” de Rachel De Queiroz ............................................................................... 96

Mislânia Barros Oliveira (UPE) ............................................................................. 96 Renato Lira Pimentel (UFPE/UPE) ..................................................................... 96

Incursões da voz e outros diálogos na poesia de Waly Salomão .............. 97 Morgana Chagas Ferreira (UFRJ) .......................................................................... 97

A metapoesia em João Cabral de Melo Neto e em Joaquim Cardozo ...... 98 Nadja Maira Baltazar da Silva (UPE) .................................................................... 98 Zeneide Leite Silvino (UPE) ................................................................................... 98 Jairo Nogueira Luna (UPE) .................................................................................... 98

A metaficção em “A/c editor cultura segue resp. cf. solic. fax”, de Amilcar Bettega Barbosa ........................................................................... 99

Raul da Rocha Colaço (UFPE) .............................................................................. 99

A Literatura nas prisões: uma reflexão sobre a execução do projeto LÊberdade no presídio feminino alagoano .............................................. 100

Rosangela Santos da Silva ..................................................................................... 100

Repensando o ensino de literatura: uma abordagem multimodal a partir da obra “Dom Casmurro” ........................................................................ 101

Sheila Vieira Nanes dos Santos Galvão (UPE) .................................................. 101

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“Perseguida pelo medo”: Reflexões a respeito da violência contra a mulher ....................................................................................................... 102

Shirlene Andrade de Jesus (UFS) ......................................................................... 102 Flávio Passos Santana (UFS) ................................................................................ 102

Instinto feminista em “Quarto de Despejo” ............................................ 103 Thays Cristina da Silva Souza (UFPE) ................................................................ 103 Letícia Raiane dos Santos (UFPE) ....................................................................... 103

Recife: a mucambópolis no conto “O despertar dos mocambos” .......... 104 Thiago Azevedo Sá de Oliveira (CAPES/UFPA) ............................................. 104

Diferentes olhares sobre “Meninos carvoeiros”: uma experiência na sala de aula com o poema de Manuel Bandeira .............................................. 105

Thiago Barros dos Anjos (UPE) .......................................................................... 105

A fronteira ficcional na produção documental de Clarice Lispector ....... 106 Vanise Albuquerque Santos (UNEB) .................................................................. 106

Literatura e espiritismo: uma análise de obras psicografadas por Chico Xavier ........................................................................................................ 107

Verônica Bemvenuto de Abreu e Silva (UnB) ................................................... 107

Oráculo del rayado de la semilla / Oráculo do risco da semente ............ 108 Waldelice Souza (UNIRIO) .................................................................................. 108 Conceição D'Lissá (UNESA) ............................................................................... 108

Literatura infanto-juvenil o que se conta em Brasil e África ....................... 109

A literatura moçambicana: entre mar e terra ........................................... 110 Anderson de Souza Frasão (UPE) ....................................................................... 110 Jeferson Rodrigues dos Santos (FISE) ................................................................ 110

Era uma vez o protagonismo de personagens negros: uma leitura do conto “A princesa e a ervilha”, de Rachel Isadora................................... 111

Maria Rosane Alves da Costa (UPE)................................................................... 111

Por meio das memórias e infância(s): uma proposta de análise comparada das obras de Ondjaki e NoViolet Bulawayo ............................................ 112

Patrícia Carvalho (UNICAMP) ............................................................................ 112

Ynari e o poder evocativo das palavras: uma análise do conto de Ondjaki .................................................................................................................. 113

Pietro Gabriel dos Santos Pacheco (PUCRS) .................................................... 113

Literatura Portuguesa novos estudos ........................................................... 114

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Repensando o ensino da literatura: uma proposta possível com o gênero conto ......................................................................................................... 115

Andréa Micheline Almeida (UPE) ....................................................................... 115

O “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa: da estrutura protohipertextual no mundo real à transformação em hipertexto no mundo virtual ........................................................................................... 116

Camylla Herculano Cabral de Barros (UFPE) ................................................... 116 Ermelinda Maria Araújo Ferreira (UFPE) .......................................................... 116

“Jalan jalan”: um passeio estético de Afonso Cruz .................................. 117 Drisana de Moraes (UFRJ) ................................................................................... 117

A escrita da História na “História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil” de Pedro de Magalhães Gândavo (c. 1540-1580) .......................................................................................................... 118

Luciano José Vianna (UPE) .................................................................................. 118

“Reconhecer o desconhecido”: o ensaísta ao redor da fogueira ............. 119 Mariana de Mendonça Braga (UFRJ) .................................................................. 119

Literaturas Africanas cânones em formação ................................................ 120

A feminilidade na escrita literária da Ana Paula Tavares, escrevivências que libertam .............................................................................................. 121

Andréa Cristina Mendes Costa (UPE) ................................................................ 121

A caminho de uma Angola independente: uma proposta de análise de “Mayombe” .............................................................................................. 122

Daynara Lorena Aragão Côrtes (UFS) ................................................................ 122 Jeane de Cassia Nascimento Santos (UFS) ......................................................... 122

Pelo olhar de Maundlane: marcas do colonialismo ................................. 123 Isabela Batista dos Santos (UFS) ......................................................................... 123 Jeane de Cássia Nascimento Santos (UFS) ......................................................... 123

A tessitura do passado em “O Baile de Celina”, de Lília Momplé .......... 124 Jeferson Rodrigues dos Santos (FISE) ................................................................ 124 Anderson de Souza Frasão (UPE) ....................................................................... 124

Uma leitura das imagens simbólicas da serpente no conto “Os olhos da cobra verde”, de Lília Momplé ................................................................. 125

Jennifer Santos Rodrigues (UFS) ......................................................................... 125 Antonielle Menezes Souza (UFS) ........................................................................ 125

Música e literatura cabo verdiana na obra literária “Mornas eram as noites” de Dina Salústio ........................................................................... 126

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Klebia de Araújo Sampaio (UPE) ........................................................................ 126

Literatura de mulheres: o feminismo apontado por Chimamanda Adichie .................................................................................................................. 127

Mara Carolina de Lima Galvão ............................................................................ 127

Cânones e contextos: a produção literária de Paulina Chiziane .............. 128 Márcia Neide dos Santos Costa (UEFS) ............................................................. 128

Relações de poder nas literaturas moçambicana e angolana .................. 129 Moisés Henrique de Mendonça Nunes (UFS) ................................................... 129

Literaturas afro-americanas cultura e resistência ........................................ 130

Mulher negra, mulher indígena................................................................ 131 Bianca Freitas Santos (IFSP) ................................................................................ 131 Davina Marques (IFSP) ......................................................................................... 131

Representações da identidade Afropolitana: as personagens femininas de “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie e “Precisamos de Novos Nomes”, de NoViolet Bulawayo .............................................................. 132

Isabela Tomé Oliveira Castro (UNICAMP) ...................................................... 132

A voz feminina da poética contemporânea na África francófona subsaariana ............................................................................................... 133

Luana Costa de Farias (UFCG) ............................................................................ 133 Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG) ......................................................................... 133

Considerações sobre a sujeição feminina na obra “L’Arabe du futur”, de Riad Sattouf .............................................................................................. 134

Manuella Bitencourt (UFCG) ............................................................................... 134 Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG) ......................................................................... 134

Violência contra a mulher: o silenciamento feminino em “A cor púrpura” e “Push” .................................................................................................... 135

Sara de Miranda Marcos ........................................................................................ 135

A voz e a vez da negra na poesia de Shirley Campbell Barr Conceição Evaristo ..................................................................................................... 136

Stephane Alves de Albuquerque (UFPE) ........................................................... 136

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1. CONFERÊNCIAS

Conferências

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Reflexões comunitárias supranacionais: os países africanos de língua oficial portuguesa em um universo de fronteiras múltiplas e fluxos culturais

assimétricos

Benjamin Abdala Junior (USP/CNPq) [email protected]

Resumo: Análise da ascensão do comunitarismo cultural, tal como ele se coloca supranacionalmente diante da repactualização política internacional originária do crack financeiro de 2008. A partir do lócus enunciativo nos países africanos de língua oficial portuguesa, que enlaça Brasil e Portugal, colocam-se duas perspectivas principais, do ponto de vista literário e cultural: de forma enfática, para os países de língua portuguesa e, em segundo nível, para os países iberoamericanos. Tais formulações não restringem políticas de cooperação e de solidariedade em geral, pois que, de acordo com o autor, o mundo configura-se cada vez mais como de fronteiras múltiplas e identidades plurais. O texto, a partir dessas configurações, centra-se no comunitarismo cultural dos países de língua portuguesa, levantando questões de ordem política no sentido de problematizar a atual assimetria dos fluxos culturais proveniente dos países hegemônicos e as estratégias de administração da diferença por eles adotados, desde a mídia às teorizações universitárias. Serão igualmente abordadas questões relativas à situação interna dos países de língua portuguesa, com ênfase nos últimos anos da colonização portuguesa na África e a afirmação dessas literaturas nacionais, que passaram a olhar para o Brasil: a antiga colônia que há mais de um século conquistara sua independência.

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Pós-colonialismo à portuguesa – os silenciados da História

Fátima Bueno (USP) [email protected]

Resumo: O colonialismo português e suas sequelas, apesar dos mais de quarenta anos do 25 de Abril e da independência das ex-colônias africanas de língua portuguesa, é um tema ainda bastante indigesto e que continua necessitando de revisão crítica em Portugal. Na ausência de uma discussão mais ampla no âmbito social e historiográfico, foi no campo da cultura que surgiram as primeiras obras de revisitação de um período traumático para todos os atores envolvidos. Entretanto, se a guerra colonial foi talvez uma das primeiras dessas sequelas que recebeu destaque, sobretudo através da literatura e do cinema, algumas das consequências do fim do projeto imperialista português, como a problemática recepção que envolve a vaga de retornados das ex-colônias, por exemplo, só mais recentemente, tem sido abordada. Por sua vez, questões como a escravidão e o racismo continuam praticamente ausentes das análises críticas e ainda parecem ser um tabu a ser enfrentadas. A partir desse quadro, minha proposta é refletir sobre uma produção literária mais recente que tem dado voz aos silenciados e silêncios da História, o que talvez contribua para um debate necessário e imprescindível para a cultura portuguesa em tempos pós-coloniais.

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Tristes Trópicos/ Trópicos Tristes

Luiz Roncari (USP) [email protected]

Resumo: Falarei aqui da minha tentativa de cruzar o olhar de fora de Lévi-Strauss sobre o Brasil e o mundo não-europeu, trópicos, com o meu olhar de dentro sobre o seu livro, Tristes Trópicos. Algumas datas são importantes para contextualizar o que irei expor: 1935-39, foram os anos das vindas e permanência de Lévi-Strauss no país, quando ele realiza as duas expedições junto aos índios do Mato Grosso: cadiuéus, bororos, nambiquaras, mondés; 1954-55, quando ele escreve e publica o livro, cujas condições objetivas e subjetivas foram muito bem expostas por Emmanuelle Loyer (Lévi-Strauss, 2018, pp. 377), livro fundamental para o estudo do autor; e 2018, ano desta reflexão e conferência, num momento em que tudo o que tinha alguma solidez nas chamadas ciências humanas e no país parecia estar se desmanchando no ar. Esse é um sentimento que Lévi-Strauss já prenunciava e o livro também pode ser visto como um sintoma de seu mal-estar. No título, o adjetivo, tristes, antecede o substantivo, trópicos, de modo que o julgamento conclusivo do que foi visto marcava e se tornava mais importante do que o objeto: uma variedade geográfica e cultural enorme, que ia do extremo Oriente às Américas. Eu experimentei a sua inversão, antecedendo o substantivo, os lugares, com o objetivo de verificar se o estado anímico conclusivo que ele provocava no etnólogo, que o apreciava a partir de um olhar europeu, era um fato de permanência, estrutural, ou só transitório.

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2. MESAS-REDONDAS 1. CONFERÊNCIAS

Mesas-redondas

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Clarice Lispector: literatura e acontecimento

Cicero Cunha Bezerra (UFS) [email protected]

Resumo: Clarice Lispector é, sem sombra de dúvida, uma das escritoras mais celebradas da literatura brasileira. Sua escrita, marcada profundamente por uma experiência radical da liberdade, no sentido de entrega incondicional ao incondicional ato criador, serve para discussões das mais variadas ordens, inclusive, a mais comum, a existencial. A perspectiva aqui abordada se filia, em grande medida, aos estudos já iniciados pelos saudosos Benedito Nunes e José Américo Pessanha aprofundando-nos, no entanto, em um aspecto não desenvolvido, o suficiente, nos estudos críticos existentes, a saber, a filiação, ainda que indireta, da experiência de nadificação (humana e divina) associada a um tipo de descrição, por um lado, comum à tradição apofática, mas, por outro, graças à capacidade criadora e livre da nossa escritora, a uma filosofia e teologia do acontecimento. Tratar de uma noção como a de acontecimento implica em um longo diálogo com a tradição filosófica que, desde os gregos, se debruçou sobre a realidade em suas inquietações sobre o ser e o devir, mas, também, com a tradição judaico-cristã que, sob diversos modos, instituiu o âmbito da linguagem como o “espaço” de acontecimentos em que o nomear exige, paradoxalmente, sua negação. Não podemos, também, esquecer as reflexões filosóficas contemporâneas que, a partir do pensamento de martin heidegger, presente em sua obra beiträge zur philosophie (vom ereignis) (2003), enveredaram por caminhos distintos, mas bem próximos, como Gilles Deleuze, J. Derrida, A. Badiou, S. Zizek, entre outros. Palavras-chaves: clarice lispector, nadificação, acontecimento, literatura, filosofia.

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Negritude e modernidade: Oswaldo de Camargo – crítica, poesia, ficção

Eduardo de Assis Duarte (UFMG/CNPq) [email protected]

Resumo: A literatura da diáspora negra do século XX tem papel relevante na construção da “consciência negra do negro”, em oposição à “razão negra” branca e ocidental, conforme aponta Achille Mbembe. No contexto afro-brasileiro, a produção de Oswaldo de Camargo persegue esse projeto e se apropria da herança estética da modernidade, trafegando entre a poesia e a crítica, a ficção e a autoficção. A presente reflexão busca apresentar e discutir os ângulos principais da obra do escritor.

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Literatura afro-brasileira: construção e identidade

Florentina Souza (UFBA) [email protected]

Resumo: Os estudos literários contemporâneos têm destacado o papel desempenhado pela literatura no processo de construção das identidades nacionais, com ênfase nas atividades promovidas pela escola com o fim de formar cidadãos devotados à nação. Benedict Anderson e Etienne Balibar, entre outros, afirmam que a nação, como 'comunidade imaginada' cria também uma ‘etnicidade fictícia’ que exclui tradições culturais tidas por inadequadas a um suposto modelo. No processo construção da identidade nacional brasileira, os textos produzidos por pessoas afro-brasileiras foram por muito tempo ignorados por historiadores e críticos; no entanto, estes textos foram difundidos através de circuitos não canônios e exerceram um papel fundamental para a constituição identitária de cidadãos negros que puderam ver nestes textos pontos de identificação com suas vidas e culturas. Assim a literatura afro-brasileira foi se constituindo como espaço de reivindicação e de produção de experiência estética diversificada e, de certo modo, vem forçando a literatura brasileira a compreender a heterogeneidade que deve constituí-la.

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Literatura brasileira e disjunção

Luís Bueno (UFPR)

[email protected]

Resumo: O trabalho apresentará um conceito que estamos elaborando, de disjunção, que pode ser um caminho para pensar a tradição literária brasileira sob uma nova perspectiva. Tal conceito pretende ser uma alternativa à ideia de formação (tomada aqui não apenas a partir do livro de Antonio Candido, mas também no sentido que ganhou em outras obras clássicas do pensamento social brasileiro). Trata-se de assumir que o Brasil é um país plenamente formado desde a Independência e as imensas desigualdades que marcam a vida nacional não podem mais ser vistas como obstáculos a serem transpostos para a constituição de uma nação coesa em seu estado definitivo, são antes elementos que estruturam uma nação formada, mas disjuntiva. A hipótese a ser trabalhada é a de que a ficção brasileira, muito além de tematizar a disjunção, dá forma a ela. Para defender o possível alcance desse conceito e indicar a validade da hipótese, analisaremos um conto de Machado

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Literaturas Africanas: cânones em formação?

Maria Nazareth Soares Fonseca (CNPq/CEA) [email protected]

Resumo: O texto retoma questões sobre o ensino de literaturas africanas em cursos de Letras, no Brasil, ressaltando dados da prática docente e considerando pontos de vista de teóricos africanos e não africanos sobre o lugar da literatura em países como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, sobretudo, a escrita em língua portuguesa. Ao trazer para a discussão considerações de teóricos como Inocência Mata (São Tomé e Príncipe/Lisboa), Luiz Kandijimbo (Angola), Fátima Mendonça (Moçambique) e Francisco Noa (Moçambique), o texto aborda o fato de a discussão sobre cânones literários nem sempre considerar a feição múltipla das culturas africanas e os diferentes textos (orais e escritos) que encenam essa multiplicidade. Atento aos olhares críticos sobre a questão do cânone, o texto procura indicar como ela vem sendo discutida no ensino de literaturas africanas fora da África e em países africanos de língua portuguesa, sobretudo, em Angola e Moçambique .

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Sobreviventes da diáspora: os “brasileiros do Benim”, em “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves

Silvania Núbia Chagas (UPE)

[email protected] Resumo: Sobreviventes da diáspora, povos da África ocidental, retornam ao país de origem. No entanto, ao desembarcarem, não conseguem reconhecer o país construído em seu imaginário durante o período da escravidão. Diante desse estranhamento, se valem da cultura adquirida no Brasil para criarem uma nova comunidade. Nasce em África os “brasileiros do Benin”. Esta é uma das temáticas contempladas no romance Um defeito de cor (2011), de Ana Maria Gonçalves. Analisar esta obra à luz dos conceitos elencados por Homi Bhabha, Stuart Hall, Linda Hutcheon entre outros, é o objetivo deste trabalho. Palavras-chave: Diáspora; Cultura; Retorno; Imaginário; Transculturação.

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EM GRUPOS DE TRABALHOS (GTS)

Comunicações em Grupos de Trabalhos (GTs)

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GT - (En)cantos de resistência: literatura e cultura afro-brasileira

Acauam Silvério de Oliveira (UPE)

[email protected] Mayk Andreele do Nascimento (UFAL)

[email protected]

Resumo: Durante muito tempo a cultura produzida no Brasil foi enquadrada sob o signo da univocidade, regida a partir de um denominador comum. O conceito de “brasilidade” constituía-se enquanto horizonte de pretensa neutralidade, apaziguador e conciliador das diferenças, simulando a pura presença de uma cultura imaculada. Nesse sentido, as diversas instituições que constroem os saberes em torno das manifestações culturais produzidas em território nacional funcionam como dispositivos de poder cuja função é mobilizar diversas estratégias de negação e apagamento das diferenças. É precisamente contra essa metafísica da presença, de cunho essencialista, que apaga as marcas da diferença radical, que vemos emergir os mais diversos sobrenomes com o objetivo de rasurar a própria concepção de brasilidade: literatura e cultura feminina, negra, periférica, popular, homoafetiva, entre outras identidades. Sobrenomes que não pretendem consolidar-se enquanto novos essencialismos - regimes de uma verdade única e inconciliável - mas sim produzir deslocamentos que desterritorializem os chamados significantes “nacionais”, colocando-os em um perpétuo movimento de instabilidade a partir do qual podem vir a emergir as diferenças. O que tais suplementos propõem é, antes, o reconhecimento do Significante-Mestre nacional enquanto espaço de violência e produção de zonas de silêncio, a partir do confronto com seus próprios limites. Por exemplo, ao reconhecer no corpo negro e feminino da vereadora Marielle Franco o avesso complementar da identidade brasileira, supostamente mestiça, o caráter de arbítrio e simplificação inscrito nessa identidade conciliadora é desmascarado, fazendo emergir as vozes marginalizadas enquanto lugares\tempos de resistência e confrontação. Partindo de tais acepções, esse GT pretende reunir pesquisas referentes aos campos da literatura e cultura afro-brasileiras, com o propósito de refletir sobre a complexidade dos mecanismos de composição dessas formas. Nesse sentido, a proposta do GT abre-se para pesquisadores que trabalham com as mais diversas linguagens estéticas e práticas culturais: música, cinema, artes plásticas, literatura, quadrinhos, programas televisivos, seriados e demais expressões culturais ligados à temática étnico-racial. Palavras-chave: literatura afro-brasileira; cultura afro-brasileira; relações étnico-raciais; identidade; violência.

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20 anos de “Sobrevivendo no Inferno” ou, da cultura como política

Acauam Silvério de Oliveira (UPE) [email protected]

Resumo: Há cerca de vinte anos surgia um dos trabalhos mais poderosos e impactantes da história da música popular brasileira. O álbum Sobrevivendo no Inferno, do grupo de rap paulistano Racionais MC’s progressivamente foi se afirmando como uma verdadeira obra-prima, consolidando uma nova maneira de tematizar o cotidiano periférico que teria impacto em vários segmentos artísticos tais como a literatura, teatro, cinema e televisão, tornando-se uma espécie de vetor para as mais diversas estéticas da periferia. O gradual reconhecimento do impacto estético e cultural da obra levou também a um crescente interesse acadêmico que se faz multiplicar em teses, artigos e dissertações. Seu impacto artístico no cenário nacional pode ser comparado sem exageros ao de outras grandes obras pertencentes aos mais diversos campos culturais, tais como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Grande Sertão: veredas, Terra em Transe e Chega de Saudade. Em termos políticos, contudo, é praticamente sem paralelo. Para o ensaísta Francisco Bosco, por exemplo, o reconhecimento obtido pelo grupo após o sucesso nacional de “Diário de um Detento” foi o grande responsável por fazer com que os debates promovidos pelos movimentos identitários extrapolassem as fronteiras mais estreitas da academia e dos movimentos sociais, ganhando assim o campo mais amplo da cultura. Já para o sociólogo Tiaraju D’Andréa, mais do que simplesmente representar o cotidiano periférico em crônicas poderosas, a obra dos Racionais ajudou a fundar uma nova subjetividade, criando condições para emergência do que ele define como “sujeito periférico”: o morador da periferia que assume sua condição, tem orgulho desse lugar e age politicamente a partir dele. O objetivo da presente comunicação é recuperar algo do impacto cultural e político dessa obra, responsável por transformar o próprio modo de se reconhecer e vivenciar a realidade periférica no Brasil, bem como sua radicalidade no interior do campo da música popular brasileira.

Palavras-chave: Racionais MC’s, Sobrevivendo no Inferno, rap, música popular, periferia.

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Entre o real e a representação: Considerações teóricas e metodológicas sobre a literatura de viagem do século XIX

Aline Jeronimo Barros (UPE)

[email protected]

Resumo: A presente comunicação visa compreender e discutir as contribuições da história cultural, com o seu conceito de representação, na análise da literatura de viagem como fonte documental. Os relatos de viagem vêm sendo valorizados enquanto fonte primária para a historiografia e antropologia atual, preenchendo as lacunas documentais e ampliando o debate sobre a construção do Brasil e do povo brasileiro. Assuntos como a escravidão, que teve seu auge em meados do século XIX, principalmente no Rio de Janeiro, Salvador e Recife, principais portos importadores de mão-de-obra escrava, foram destacados nas obras de estrangeiros que na maioria das vezes repudiavam os maus tratos dados aos escravos. Percebendo a importância desses relatos no processo de construção da historiografia brasileira, este ensaio tem por objetivo analisar os métodos com os quais essa fonte tão heterogênea pode ser utilizada. Os métodos de análise estão sendo aperfeiçoados, possibilitando um exame mais completo dessas obras, que levem em consideração a subjetividade do relato, a representação construída pelo viajante e suas particularidades, arraigadas de padrões culturais de origem. A utilização da literatura de viagem como fonte ainda é um desafio. Escrever sobre as viagens e os viajantes é esbarrar com uma fonte múltipla com diversos narradores. A heterogeneidade dessa documentação é um desafio para todo e qualquer historiador, pois os olhares se somaram e se multiplicaram ao mesmo tempo. Portanto é através de uma abordagem interdisciplinar, que una a antropologia à produção historiográfica sobre a formação do povo brasileiro, que a literatura de viagem pode ser um bom caminho para a investigação do cotidiano da sociedade no Brasil do século XIX. Pode-se realizar, desta maneira, uma leitura ao mesmo tempo histórica e antropológica das representações deixadas por esses viajantes em seus diários. Palavras-chave: Literatura de viagem; História cultural; Representação.

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Olhar estrangeiro sobre o Brasil oitocentista: um estudo de caso do diário de Louis-Léger Vauthier em sua estadia em Pernambuco no século XIX

Bruno Adriano Barros Alves (UPE)

[email protected] Bruno Augusto Dornelas Câmara (UPE)

[email protected]

Resumo: O objetivo desse trabalho é analisar o olhar estrangeiro do viajante francês Louis-Léger Vauthier (1840-1846) sobre o Pernambuco oitocentista, por meio de seu diário pessoal. Contribuindo assim, metodologicamente, para o uso alternativo desse tipo de fonte. Os relatos, ou a chamada “literatura de viagem”, são colocados por muitos no meio acadêmico, como a gênese da antropologia. É claro que para se afirmar como ciência no século XIX, a antropologia utilizou-se profundamente dessa “origem” como meio de fundamentação de seus direcionamentos, mas é difícil negar o fato de que a etnografia, como concebeu um dia Malinowski, recebeu uma influência direta dos escritos de viajantes estrangeiros de séculos anteriores. Esses relatos começaram a ser usados como documentação histórica com mais intensidade a partir dos anos 20, com o advento da Escola dos Annales (1920). Nesse período houve uma potencialização do uso de fontes históricas, fugindo assim do modelo da escola positivista que “permitia” somente o uso de documentações oficiais. Diversos diários, publicados ou não – já que muitos relatos foram escritos diretamente para publicação – começaram a ser analisados por esses pesquisadores, que estavam a buscar um maior entendimento, tanto da sociedade “visitada”, quanto do olhar externo sobre ela. Esses relatos, que constam desde os séculos XIV (ou até antes), cresceram com a “descoberta do novo mundo”, sendo logo intensificados, no Brasil, por exemplo, a partir da abertura dos portos às nações amigas no iniciar dos oitocentos. Os viajantes que aportaram no Brasil, assim como em outros países das Américas no período, se depararam com uma realidade muito diferente do que estavam acostumados a ver. É justamente esse distanciamento cultural que aumenta o grau de alteridade contido nesses relatos, beirando assim a uma espécie de etnografia do “exótico”, algo que muito aparece no diário pessoal de Louis-Léger Vauthier, estudo de caso desse trabalho. Vauthier, engenheiro de pontes e calçadas, veio para Pernambuco em 1840, durante esse fluxo de abertura ao estrangeiro, com a missão de chefiar a Repartição de Obras Públicas, a fim de “modernizar” a província à luz de Paris. Estão presentes em seu diário descrições sobre o cotidiano, o sistema escravista, a desigualdade dos “mucambos”, a economia, as festas populares, as mulheres da época, as vestimentas, etc. Além de questões sociais e políticas dos anos que antecederam a Insurreição Praieira de 1848. A literatura de viagem aparece então como uma espécie de memória e, assim como outros trabalhos com a “memória”, precisa ser encarado como um escrito fruto de diversas interpretações, a própria escrita é uma reinterpretação. O presente trabalho, ao trabalhar com conceitos ligados

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a antropologia em um viés interdisciplinar, está atento a essas questões que necessitam de constante problematização. Palavras-chave: Literatura de viagem; história-antropológica; Louis-Léger Vauthier; etnografia; Pernambuco.

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Repente: um ato de resistência e ressignificação

Liliane Santos Pereira Silva (UFAL) [email protected]

José Iran de Lima Júnior (UFAL)

Resumo: Este artigo é erigido a partir de uma análise das concepções culturais e históricas presentes no Repente, e seus marcadores políticos. O objetivo é refletir sobre como esses marcadores se interseccionam na produção de sentidos e identificar as variáveis sociais que atravessam seus discursos – raça, gênero, sistema político, resistência, cultura nordestina. ORepente se posiciona dentro da categoria Cultura Popular, se legitimando no processo de enraizamento da cultura, encontrando maneiras de se ressignificar, resistindo as práticas de exclusão e aos estigmas atribuídos ao sujeito nordestino. As reflexões propostas foram realizadas tendo como base a concepção de Cultura Popular como um ato de saber e fazer, nos quais se expressam as manifestações culturais, políticas, sociais, históricas e econômicas, podendo assim, a partir dessa compreensão, identificar o Repente dentro de um movimento de potencialização do sujeito, possibilitando um processo de construção de identidade, que será possível a partir da tomada de consciência acerca de sua importância numa participação ativa diante de sua existência . O artigo é apoiado tanto em fundamentações teóricas de autores como Sautchuk (2012), Schmidt (2010) e Arantes (1981), como também através de uma entrevista concedida por um repentista do sertão Alagoano, onde foi possível estabelecer um diálogo que possibilitou uma mediação acerca dos percursos do Repente e de sua trajetória como disseminador da cultura, permitindo identificar seus desdobramentos nos dias de hoje. Assim como outros grupos politicamente minoritários, os nordestinos vêm lutando bravamente na sensibilização e divulgação de sua cultura, resistindo aos retrocessos no campo político e aos avanços de um mundo cada vez mais tecnológicos Assim, o foco principal deste artigo é refletir a possibilidade de um processo de reconstrução e disseminação da arte popular, que é transpassada por marcadores como estigma e exclusão, mas que os ultrapassa a cada vez que os ressignifica, e transforma os fatores que socialmente os marcam de forma pejorativa, em fator de orgulho. Palavras-chave: Ressignificação; Repente; Aprendizagem; Cultura Popular; Resistência.

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Não existe amor no rap? Sexo, política e privacidade na música de Baco Exu do Blues

Mayk Andreele do Nascimento (UFAL)

[email protected] Resumo: O rap brasileiro tem passado por uma série de transformações nos últimos anos. Dentre as mudanças mais aparentes podemos encontrar uma maior abertura temática nas composições e versos rimados pelos MCS. Desde o início dos anos 1990 o rap brasileiro foi marcado por uma postura crítica ao sistema vigente – o tom do rap era constituído majoritariamente pela denúncia. Atualmente essa postura continua atuante no seio do rap nacional, mas assistimos cada vez mais o aparecimento de MCs que tematizam questões relacionadas a vida cotidiana, conflitos subjetivos e relacionamentos conjugais etc. Na primeira geração, o conteúdo das letras do rap estava quase sempre voltado para questões do espaço público, enquanto que a partir do séc. XXI, sobretudo depois de 2010, as letras passam a explorar cada vez mais o campo da vida privada. O objetivo do presente trabalho é refletir sobre essa mudança no teor das narrativas do rap brasileiro, de uma postura antes majoritariamente centradas no ambiente das ruas para a ascensão de narrativas centradas na esfera da vida privada, como o corpo e o prazer sexual. O que essa mudança no léxico das composições tem a nos dizer sobre as novas formas de politização presentes na esfera pública brasileira? Em que sentido falar de amor em tempo de genocídio da juventude negra pode ser uma forma transfigurada de luta política? Seria útil pensar a invasão das temáticas ligadas ao sexo como um gesto de afirmação da vida em meio a um regime de necropolítica? Para tentar refletir sobre essas questões examino o trabalho de um dos expoentes da nova geração de rappers brasileiros, Baco Exu do Blues, especialmente o álbum Esú. O álbum foi amplamente elogiado pela crítica, não apenas internamente no mundo do rap, mas reconhecido como um dos principais discos lançados no ano de 2017 na música brasileira. O rapper chama a atenção pela maneira como articula em suas composições uma percepção aguda das tensões da vida urbana contemporânea com elementos do campo da intimidade. Palavras-chave: Rap; Amor; política; privacidade.

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Drogas no rap: A mudança na mensagem sobre as drogas no rap nacional

Vinicius Henrique Alves Silva (UFAL) [email protected]

Mayk Andreele do Nascimento (UFAL) [email protected]

Resumo: O uso das drogas tem sido um tema constante nas letras de rap no Brasil. Desde seu contexto de origem, o rap possui um forte teor revolucionário de trazer à tona e, além disso, transformar a realidade e as injustiças presentes no dia a dia dos moradores da periferia, realidade, ainda hoje permeada pelo mundo do crime, preconceitos, pelo vício e o tráfico de drogas. A mensagem passada pelo rap em seus primórdios tinha como objetivo principal conscientizar o jovem de periferia, em sua maioria jovens negros, sobre o perigo do envolvimento com as drogas e com o tráfico, fazendo uma ressalva que essa relação de perigo e afastamento perante as drogas estava principalmente ligada às drogas consideradas “pesadas”, havendo no geral um discurso distinto para a maconha. Em contrapartida o rap nacional atual passa por uma série de mudanças: com a abertura do gênero ao mercado; criação de diversos subgêneros (um rap para cada público); uma mudança na identidade do “novo” rapper e no público consumidor deste estilo musical. Novos adventos tecnológicos e de comunicação, e transformações no panorama social do país. Essas mudanças trouxeram alterações nos discursos presentes nas canções dos MCs no que diz respeito à temática das drogas. O presente artigo busca destacar traços comuns presentes no rap atual que são caracterizados por uma maior liberdade na composição de suas letras, uma maior preocupação com a estrutura e técnicas aplicadas na música e uma abertura temática mais ampla. Será realizada uma análise de conteúdo das composições de grupos de rap atuais, como: Costa Gold, Cacife Clandestino e Família Madá, escolhidos por sua relevância entre os consumidores do Rap e sua abertura para falar sobre drogas em suas composições, examinando suas letras com o objetivo de captar a mensagem passada sobre as drogas e, a partir daí fazer um contraponto entre o discurso proferido pela velha escola e o “novo” rap nacional. Palavras-chave: Rap, Drogas, Ritmo e poesia, Juventude.

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GT – África no feminino mulheres escrevem a África

Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE)

[email protected] Francisca Zuleide Duarte de Souza (UEPB)

[email protected] Resumo: Sobre o que escrevem as mulheres africanas? O que dizem essas mulheres sobre a experiência na construção da história e da cultura dos países em que nasceram no continente africano? A partir da independência política dos países africanos, presenciamos um número cada vez maior de mulheres que escrevem e publicam suas obras para contar suas versões da história. Inserido de maneira híbrida nas estruturas social, histórica e ficcional, o romance africano contemporâneo mostra o resultado do choque entre culturas distintas através dos diversos agenciamentos, resistências e negociações entre os sujeitos pós-coloniais (ASHCROFT et al., 1993; SAID, 1999). A urgência em dar voz e vez às visões de mundo pela dicção feminina faz com que muitas escritoras muitas vezes imprimam em suas narrativas, através do texto oral ou escrito, histórias que retratam o papel da mulher na sociedade ancestral e os conflitos na adaptação a uma nova realidade advinda dos processos de descolonização. Desse modo, este grupo de trabalho tem por objetivos: 1) dar maior visibilidade à produção ficcional e crítica de escritoras africanas, bem como as seus estudos acadêmicos; 2) refletir sobre a produção das literaturas escritas por mulheres africanas, em qualquer idioma, pondo em relevo as vozes silenciadas através da discussão de temas sobre a construção de novas identidades culturais, o pós-/des-/colonial, a (des)territorialidade, a migração, o exílio, o feminismo e a construção de um novo cânone. Palavras-chave: Literaturas africanas; Identidade cultural; Feminismo.

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“Sabor de maboque”: um olhar agridoce sobre a diáspora

Izabel Cristina Oliveira Martins (UEPB) [email protected]

Resumo: A situação da mulher escritora em África não diverge daquela apresentada na maioria dos espaços literários. Um olhar, mesmo que bastante rápido, permite confirmar que poucas são as mulheres que conseguem visibilidade para seus escritos, embora a literatura de autoria feminina de muitos países africanos já tenha demonstrado excelência através de nomes como os de Mariama Bâ (Senegal), Buchi Emecheta (Nigéria), Ama Ata Aidoo (Gana), Scholastique Mukasonga (Ruanda) Chimamanda Ngozi Adichie (Nigéria), Yaa Gyasi (Gana), Aminata Forna (Serra Leoa), Paulina Chiziane (Moçambique), Paula Tavares (Angola), Olinda Beja (São Tomé e Príncipe), entre outras. Tratando de modo particular das literaturas africanas de língua portuguesa, a constatação do silêncio em relação à produção escrita feminina é ainda mais surpreendente, sobretudo quando se considera o papel de relevância desempenhado pelas mulheres na luta de libertação de seus países, como força organizadora da resistência (MACÊDO, 2003). Partindo disso e, principalmente, procurando relevar vozes ainda não muito conhecidas/estudadas pela crítica literária, o artigo propõe uma leitura do romance Sabor de maboque, da angolana Dulce Braga, cujo conteúdo, ao entrecruzar literatura e história, registra os últimos dias de Angola como colônia portuguesa, enfatizando as dificuldades enfrentadas pelos colonos e seus descendentes para realizar o plano de fuga do território angolano, devido à intensificação dos conflitos armados após a Revolução dos Cravos. Emigração e exílio forçados são temas da narrativa, por essa razão serão evocados, como aporte teórico, os estudos de Said (2003), Queiroz (1998), Duarte (2012), dentre outros. Palavras-chave: Literatura Africana; Mulher; Exílio.

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Questões de santomensidade na poesia de Olinda Beja

Kleyton Ricardo Wanderley Pereira (UFRPE) [email protected]

Resumo: Neste trabalho apresentaremos um estudo realizado sobre as obras À sombra do Oká e Água Crioula, da escritora Olinda Beja, natural do arquipélago de São Tomé e Príncipe. Radicada desde muito jovem na cidade de Viseu, fria região da Beira Alta, em Portugal, a poesia da autora encontra-se ligada a uma profunda busca de origem, relacionada a uma intersecção entre a oralidade e a escrita, e à identidade híbrida que não só perpassa sua obra, mas também perfaz a própria experiência pessoal da emigração. Nosso objetivo é analisar a construção da identidade santomense através dos temas presentes nos livros escolhidos, a saber: o exílio, a saudade, o amor, a terra natal. Para tanto, como embasamento teórico e crítico, somos norteados pelas propostas de Inocência Mata (2010), em seu livro Polifonias insulares: cultura e literatura de São Tomé e Príncipe, a partir do qual analisamos os temas elencados. Também norteiam este trabalho o pensamento crítico das teorias dos Estudos Culturais, dos estudos Pós-coloniais e dos estudos Subalternos, principalmente a partir de autores como Stuart Hall (2013), Silviano Santiago (2000), Ella Shohat & Robert Stam (2006), Edward Said (2003), Thomas Bonnici (2012) e Gayatri Spivak (2010). Acreditamos que a poesia de Olinda Beja, além de apontar para uma leitura sobre as divergências políticas e sociais de sua terra, traz a beleza dos sabores na expressão lírica e sociocultural da “comunidade imaginada” das ilhas de nome santo, construindo um capítulo à parte na produção literária do arquipélago. Palavras-chave: Literatura santomense; identidade crioula; comunidade imaginada; exílio.

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O que Chika sabe? Identidade nacional, religião e política na Nigéria de “A Private Experience”, escrito por Chimamanda Ngozi Adichie

Renata Gonçalves Gomes (UFPB)

[email protected] Resumo: O conto “A Private Experience” (2008), de Chimamanda Ngozi Adichie, retrata nuances das identidades do povo Nigeriano em relação às situações políticas e religiosas conflituosas no país. Chika, a garota cosmopolita de Lagos que se vê em meio a um conflito religioso na pequena Kano, vive um conflito também interno: está em seu país, diante de uma nigeriana muçulmana — a mulher sem nome — sem saber seu próprio lugar, sua própria identidade. Quem narra descreve o que Chika não sabe: não sabe o que está acontecendo, de si, do outro, de seu país. Dessa forma, a comunicação que ora se apresenta em proposta busca refletir sobre o saber e a alienação de Chika sobre seu país, a fim de compreender as tensões identitárias na Nigéria contemporânea. Esta comunicação, portanto, objetiva apresentar uma análise pós-estrutural do conto a fim de refletir sobre questões pertinentes sobre identidade nacional, religião e política à luz dos estudos culturais e pós-coloniais, e via intertextualidades entre ficção, história e política. Dessa forma, as reflexões acerca de identidade cultural e nacional no âmbito da Nigéria pós-colonial, trazidas por Chimamanda N. Adichie na palestra “The danger of a single story” (2009), proferida na conferência TED Global, serão utilizadas a fim de analisar a perspectiva de identidade da personagem protagonista Chika. Ademais, o conceito de “Comunidades Imaginadas” (1991), de Benedict Anderson, será também utilizado como fundamentação teórica para a definição do conceito de nação. Sendo assim, Chimamanda contrapõe duas personagens femininas antagônicas no conto, pois Chika é a representação da mulher jovem, rica e cosmopolita; já a mulher, representa a mulher matriarcal e religiosa na Nigéria pós-colonial. Por isso, é relevante que as reflexões sobre identidades nacionais estejam também atreladas às identidades de gênero, já que as performances são antagônicas e contrastadas através de toda a narrativa. A partir de tais conceitos, essa proposta de comunicação visa fazer uma leitura das tensões políticas e religiosas da Nigéria a partir da análise da perspectiva da personagem Chika. Palavras-chave: Chimamanda Ngozi Adichie; Literatura Africana de autoria feminina; Nigéria; Política e religião, Identidade nacional e de gênero.

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A representação da educação da mulher moçambicana na perspectiva pós-colonial em três contos de Lília Momplé

Rodrigo Nunes de Souza (UFCG)

[email protected] Maria Marta Nóbrega (UFCG)

Resumo: Lília Momplé figura como um dos grandes nomes do cenário literário moçambicano. Sua produção, marcada por coletâneas de contos e um romance, traz marcas sociais que denunciam as situações pelas quais as mulheres sofreram durante o período (Pós-)colonial de Moçambique, bem como as tentativas de se desvencilhar das agruras de um sistema marcado, no que tange ao público feminino, segundo Bonnici (2009), por uma duplicada colonização, destacando, para isso, os diferentes períodos em que Moçambique ficou marcado como uma sociedade indígena e pelo poder colonial. Rompendo com os pressupostos masculinos, Lília Momplé constrói personagens que ganham voz e conseguem, durante e após o período colonial, marcarem suas identidades, contribuindo, assim, com as urgências que nasceram pelo desejo de liberdade. Sendo assim, este trabalho analisa como a educação da mulher moçambicana está representada em três contos da autora, cujas personagens retratam como esse acesso era destinado às mulheres, em narrativas que buscam evidenciar como o poder do Outro interfere na consolidação das condições em que estas mulheres viviam. Em Ninguém matou Suhura, narrativa que também dá nome ao primeiro livro de contos da autora, publicado em 1988, a personagem principal representa as mulheres (adolescentes) que não tiveram acesso à escola por razões múltiplas: Suhura, órfão e criada pela avó, precisa trabalhar para poder conseguir encontrar meios de sustento – de si e daquela que a cria após a morte da mãe. Já em O baile de Celina, presente na mesma coletânea citada anteriormente, a protagonista é impedida de se formar por esta ser uma ‘’pessoa de cor’’. Percebe-se, portanto, que a perspectiva do pós-colonialismo é muito forte nesta narrativa: o olhar do Outro perante Celina é o fator preponderante para que ela não conclua, por meio de um baile de formatura, sua escolarização. Essas duas narrativas incutem o que o sistema colonial impunha à sociedade moçambicana: mulheres que, presas ao sistema, deveriam obedecer e cumprir com o papel de submissas – ao poder colonial e à opressão. Por fim, analisaremos como em O sonho de Alima, por meio da personagem-título, consegue-se romper com o sistema e realizar o seu tão esperado sonho: estudar. Quebrando com vários fatores para que esse sonho se concretize, Alima representa a ‘’nova’’ mulher moçambicana, a que luta e realiza seus desejos. Embasaremos esse estudo de acordo com os pressupostos de ALÓS (2011; 2013), BONNICI (2009), IGLÉSIAS (2007) e nas perspectivas pós-coloniais de LEITE (2012) e NOA (2015). Palavras-chave: Pós-colonialismo; Educação da mulher; Lília Momplé.

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Literatura, espaço e poder: força e resistência feminina em Buchi Emecheta

Sérgio Ricardo Oliveira Martins (UFRB) [email protected]

Waleska Rodrigues M. Oliveira Martins (UFRB) [email protected]

Marcas e experiências de vida deixam rastros de histórias, rastros nos espaços daqueles que sangraram (ainda sangram!) o corpo feminino; rastros de opressão, de vozes silenciadas. Atualmente, a representação do sujeito está em crise, conceitos imutáveis como identidade e feminilidade encontram o estilhaçar de suas bases, cada vez mais multiplicando direções para compreender esse sujeito que se expõe como organismo e conexão entre o mundo e suas linguagens. É oportuno, para não dizer urgente, refletir sobre as transformações da sociedade atual e suas configurações, que delineiam comportamentos e discursos em diversas dimensões do sujeito. Na literatura e no espaço cotidiano, o corpo feminino é alvejado por estereótipos e marcado por estigmas de uma colonização persistente. Lugar de resistência e discurso, a condição feminina extrapola limites conceituais e genéticos, ao passo que busca emergir com questionamentos e empoderamento. O caminho do poder é, todavia, espinhoso e sem facilidades a quem, sob violação e opressão, almeja se contrapor (ou mesmo subverter) o ordenamento social masculino hegemônico. Ordem que é, verdadeiramente, socioespacial, à medida que o espaço de vida é também composto de elementos materiais e imateriais, conjugados e conformados historicamente para atender aos que detém e/ou se servem do poder. Tal abordagem considera elementos e fatores socioespaciais e socioculturais, que incidem sobre as pessoas e suas decisões, e que estão presentes, às vezes de forma tácita, na escritora nigeriana Buchi Emecheta. Nesse sentido, objetivou-se analisar a condição da mulher africana na obra “As alegrias da maternidade” (2017), bem como ressaltar uma escrita de autoria feminina. O caminho metodológico perfaz as análises literária e geo-humanística, ancoradas em perspectivas históricas e geográficas, numa abordagem necessariamente interdisciplinar. Os resultados desse viés de leitura reforçam que a escrita de Buchi Emecheta é singular, sobretudo, porque comunica questionamento de uma sociedade cristalizada no ideal de família patriarcal, e evidencia ações e reações políticas às diferentes formas de dominação e violência exercidas contra a mulher. Considerou-se essa obra, primeira traduzida no Brasil, com curadoria de Chimamanda Adichie, conforma uma escrita clara de resistência, de vozes femininas que ressignificam a luta da mulher, submetida e explorada, no âmbito das sociedades machistas. A maior violência sobre a mulher, que marca a referida obra de Buchi Emecheta, face à opressão machista, é certamente a crença de que a procriação é a realização da mulher, seu escopo de sucesso, para o qual seu corpo deve ser usado e abusado, física e psicologicamente. Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Empoderamento; Escrita de autoria feminina.

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A identidade social feminina em “Ventos do apocalipse”, de Paulina Chiziane

Waldelange S. dos Santos (UFPB) [email protected]

Resumo: Este trabalho trata-se de uma análise literária acerca da condição feminina no romance Ventos do Apocalipse (1999), da escritora moçambicana Paulina Chiziane, enfocando as personagens Wusheni, Minosse e Emelina, mulheres essenciais para a tessitura e desenvolvimento textual, uma vez que a obra se constrói e se desenvolve em torno de seus movimentos. Dentre outros fatores, o texto destina-se ao entendimento do universo moçambicano em relação à condição feminina, fato que pode ser observado na organização dos diversos discursos produzidos pela escritora. Pode-se afirmar, ainda que Paulina Chiziane movimenta-se na tentativa de inserir no quadro do entendimento do processo identitário de Moçambique uma política feminista para a compreensão e revisão dos valores femininos na sociedade moçambicana contemporânea. O estudo tem como objetivo, analisar a participação dessas mulheres no grupo de aldeões refugiados da guerra de desestabilização em Moçambique, dada sua situação política e histórica pela qual o país passara, sua condição e efeitos de atitudes das mesmas, que lhes conferem um lugar no mundo e, portanto, as identificam como indivíduos inseridos num dado contexto sociológico, histórico e identitário. Nesse sentindo e, para tal, nosso trabalho circulará, para embasá-lo teoricamente, pelo campo dos estudos acadêmicos hoje intitulados como “estudos de gênero” e/ou “estudos culturais”, sobretudo aos voltados à discussão teórico-conceitual interessada nas subjetividades sexual e/ou racialmente marcadas como divergentes do que se estabelece hoje como norma. Uma norma persistentemente ainda conotativa com masculina, branca e heterossexual. A partir da análise literária, a nossa hipótese conclusiva é a de que as personagens femininas conquistam um autoconhecimento que lhes direcionam não apenas para a trajetória pessoal de cada uma delas, mas também para o movimento da realidade material compartilhada na aldeia moçambicana. Entende-se, ainda, e essencialmente, que a identidade feminina no romance é representada como em construção social, envolvendo o sentido amplo de identidade. Palavras-chave: Identidade; Condição Feminina; Ventos do Apocalipse

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Olinda Beja: uma outsider no país das lezírias

Zuleide Duarte (UEPB) [email protected]

Resumo: O texto aborda a condição outsider da escritora santomense Olinda Beja

em textos ficcionais, como 15 dias de Regresso e Histórias da Gravana. Estrangeira no frio da Europa, a personagem de 15 dias de regresso surpreende-se, no seu retorno a São Tomé, com a estranheza causada pela sua presença, como se ali também não fosse o seu lugar. O desejo de fugir daquele desconforto dá a personagem a certeza de que, desenraizada, seu lugar é uma construção de espaço híbrido, em que se harmonizam as vivências que se cruzam no seu destino. Da Europa ou da África, das lezírias ou da Gravana, a história de sua existência será sempre uma mescla de memórias que dialogam e se digladiam a um tempo. Ancorada na leitura de Colin

Wilson (Outsider), Júlia Kristeva (Estrangeiros para nós mesmos) Edward Said

(Reflexões sobre o exílio), a leitura tem como base o sentimento de entrangeiridade vivido pela personagem na busca do seu lugar de pertença. Ou da fusão entre suas ‘casas’, iniquidade impossível, única pista pela memória.

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GT – Escritores e Artistas do Mundo Lusófono pró-África

Fabiana Carelli (USP)

[email protected] Renata Soares Junuqueira (UNESP)

[email protected] Resumo: No artigo de 1993, “Cinema e antropologia para além do filme etnográfico”, o antropólogo, escritor e cineasta angolano Ruy Duarte de Carvalho afirmaria, em consonância com manifestos anteriores como o célebre “Eztetyka da fome” (1965), de Glauber Rocha, e citando a Carta de Argel do Cinema Africano (1975): “a Carta de Argel afirma que ‘o Cinema tem um papel primordial a desempenhar porque é simultaneamente um meio de educação, de informação e de tomada de consciência, e igualmente um estimulante da criatividade. A realização de tais objectivos pressupõe uma interrogação do cineasta sobre a imagem que ele faz de si mesmo, sobre a natureza de sua função e do seu estatuto social, e de uma maneira geral sobre sua situação no seio da sociedade’” (Carvalho, 2008). Na esteira dessas afirmações, este Grupo de Trabalho pretende, no âmbito do eixo temático “Literaturas Africanas: Cânones em Formação?”, articular reflexões sobre o papel de artistas de expressão lusófona na construção da resistência à colonização e à exploração de países africanos por meio de projetos artísticos que rechaçam o imperialismo e estimulam a valorização das várias culturas autóctones integradas ao continente africano, a fim de promover princípios revolucionários – estéticos e políticos – que solidarizem entre si os povos africanos e os povos de outros lugares periféricos marcados pela lusofonia. Serão especialmente bem-vindos estudos interdisciplinares que contemplem a literatura em relação com outras linguagens – como a do teatro e a do cinema, dentre outras –, dando azo a análises comparativas que nos permitam compor um quadro relativamente alargado das culturas africanas relacionadas entre si e também com outras culturas tidas como periféricas. Além de linguagens artísticas variadas, esperamos acolher trabalhos que reflitam sobre a literatura associada a outras áreas do pensamento como a antropologia, a sociologia, a linguística, a psicologia, a ecologia e a fisiologia. Naturalmente, neste quadro comparativo também terão lugar os estudos comparados de literaturas de língua portuguesa que proponham uma análise atual do sistema de trocas recíprocas entre as literaturas africanas e as demais literaturas da lusofonia. Palavras-chave: Literaturas Africanas; lusofonia; colonização; resistência

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A poeticidade de “Cartas para Angola”

Davina Marques (IFSP) [email protected]

Resumo: Este trabalho explora os elementos que compõem a força fabulatória de Cartas para Angola (2011), um documentário dirigido por Coraci Ruiz e Júlio Matos. O filme explora trocas de cartas escritas, lidas e filmadas entre pessoas que vivem em Angola, Brasil e Portugal. Há trocas entre amigos, entre artistas, entre pesquisadores. Gente conhecida e pouco ou não conhecida. Há sete ‘duplas’ que se correspondem. Neste trabalho especificamente, retomo as trocas entre Ondjaki e Ana Paula Tavares apresentadas no filme. Esses dois escritores angolanos nos falam de vida e saudade, falam sobre estar longe e perto de Angola, vivendo fora de seu país de origem, no Brasil, em Portugal. O que dizem a respeito? Como se faz a construção de seus depoimentos? O que a sonoridade e as imagens compõem nessa criação artística? De que maneira se constrói a poeticidade entre as palavras e as imagens? Uma questão surge logo no início do filme, com Ondjaki: “uma cidade é um lugar externo onde moramos, caminhamos e sonhamos com os olhos acordados mediante a vizinhança de amigos que nos cercam, ou uma cidade é um lugar interno, que nos persegue do lado de dentro dos olhos e mora no nosso coração como uma âncora pesada que nos mantém presos a memórias e lugares de outro lugar?” Entre registros de memórias, relatos sobre os lugares, com o referencial teórico filosófico de cinema e de literatura de Gilles Deleuze e Félix Guattari, exploro a elaboração desse monumento artístico a partir do recorte da participação desses dois artistas angolanos em Cartas para Angola. Palavras-chave: fabulação; poeticidade; monumento artístico.

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A África de “Chaimite”: exaltação colonial no cinema salazarista

Edimara Lisboa (USP/CNPq) [email protected]

Resumo: A comunicação pretende contribuir para as discussões sobre a produção artística engajada na luta de libertação dos países africanos de colonização portuguesa, deste GT, colocando em pauta o outro lado da moeda, a política cultural do Estado Novo português, que também conseguiu mobilizar um grande número de artistas para o projeto de propaganda totalitária, cuja estrutura ideológica ajudou a legitimar e a assegurar a continuidade do regime salazarista por mais de quarenta anos. No campo da literatura, foram promovidos Prêmios Literários que estimulavam e monitoravam a produção lírica e narrativa segundo temas de interesse doutrinário. Exposições de pintura modernista, espetáculos teatrais, feiras de música e cinemas ambulantes foram oficialmente patrocinados com o intuito de nivelar culturalmente a população. Paralelamente, foram instituídas a lei de inspeção dos espetáculos (Decreto n. 17.046-A/1929) e as demais comissões de censura (Decreto-Lei n. 22.469/1933) para controlar todas as formas de manifestações artísticas e intelectuais desenvolvidas dentro e fora dos editais de incentivo à cultura e de apoio à imprensa. Nesse cenário de gigantesca manipulação da arte por órgãos de tutela ditatorial, a utilização do cinema tem especial interesse, na medida em que o caráter industrial de seu processo de produção (caro e quase necessariamente coletivo) e o alcance massificador de suas formas de recepção (“magia do movimento”) facilitaram os mecanismos de controle estatal, de modo que “a produção cinematográfica desse período representa, de forma exemplar, a evolução do regime, sendo o espelho cultural, político e social de suas transformações” (CUNHA; SALES, 2013, p. 95). Filmes como O Feitiço do Império e Chaimite ajudaram a promover as cartilhas dos preceitos coloniais definidos, respectivamente, pelo Ato Colonial de 1930 e pela Revisão Constitucional de 1951. Enquanto o primeiro deles transforma o colono português numa figura exemplar da superioridade da raça branca, imbuída do dever de transmitir o universo da civilização às raças restantes e livrá-las do horror da barbárie, o segundo se “adapta” aos novos paradigmas internacionais estabelecidos depois da Segunda Guerra e apresenta uma colonização portuguesa que zela pelo “pacifismo” de províncias multirraciais, em que brancos e negros trabalham lado a lado contra a violência de impérios bárbaros. Dada a dificuldade de acesso a O Feitiço do Império, em grande parte perdido, pretendemos concentrar a exposição analítica na tessitura ficcional de Chaimite, observando os mecanismos estéticos utilizados neste filme de Jorge Brum do Canto para adesão do espectador ao projeto colonial salazarista revisto em 1951. Palavras-chave: Cinema português; Colonialismo; Arte e propaganda.

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Um só em toda parte: os jornais cinematográficos e a medicina colonial portuguesa em África (1932-1978)

Fabiana Buitor Carelli (USP)

[email protected] Resumo: Produzidos em Portugal ao longo da vigência do Estado Novo (1933-1974), os jornais cinematográficos, como a “Acção Colonizadora dos Portugueses”, as “Actualidades de Angola”, as “Imagens de Portugal” e as “Reportagens SNI” exerceram importante papel na disseminação de imagens e ideias a respeito das colônias portuguesas na metrópole e ao redor do mundo ao longo do século XX, todas elas marcadas por um viés fortemente ideológico de propaganda do regime e de imposição do colonialismo. A partir do visionamento de doze desses jornais, e elegendo como obra de contraste o documentário Kimbanda Kambia, do cineasta angolano Ruy Duarte de Carvalho (1978), esta comunicação pretende explicitar as ações de saúde portuguesas nas colônias africanas ao longo do século XX como operações de caráter cultural e ideológico, reconhecendo os encontros médicos neles retratados como choques de culturas e exercícios de dominação (CARELLI, POMPILIO, 2013). Se imaginarmos o território colonial português no século passado como uma corporalidade geográfica e cultural espalhada pelo mundo, poderemos compreender as chamadas “doenças tropicais” como males que afetavam diretamente partes importantes desse “corpo” e a relevância concreta e simbólica que elas assumiram nos contornos da ação colonial do Estado português ao longo do século XX.

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Antão, o São Jorge Negro. Fatalismo e misticismo em “O Dragão da maldade contra o Santo Guerreiro”

Geisa Cristina Semensato (UNESP)

[email protected] Resumo: O filme do brasileiro Glauber Rocha (1939-1981), O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969) foi realizado no rescaldo do Ato Institucional nº 5, período mais duro da ditadura militar no Brasil, e entre duas das mais significativas manifestações escritas de Glauber naquele período: “Eztetyka da Fome” ( 1965) e “Eztetyka do Sonho” (1971). Os elementos que compõem dois momentos da personagem Antão - primeiro o ex-escravo desejoso de voltar para a África de seus avós e, depois, o Santo Guerreiro - trazem as características do colonizado: místico e fatalista, denunciados nas duas Eztetykas. Pretendo mostrar nesta comunicação que, através de elementos epicizantes- à maneira do teatro épico de Brecht (1898-1956) - o cineasta baiano consegue unir um e outro conceito naquela personagem, reiterando mais uma vez sua crítica ao sistema econômico e sócio-político do Terceiro Mundo. Palavras-chave: Cinema; Glauber Rocha; O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro; fatalismo; misticismo.

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Estruturas de sentimento e identidade cultural: um estudo sobre os processos de formação da literatura moçambicana

Lucylle Vilela (UFPE)

[email protected] Eliane Veras Soares (UFPE)

O presente trabalho é parte do projeto “Literatura, pensamento social e movimentos sociais em Moçambique”, desenvolvido no âmbito do Grupo de Pesquisa Sociedade Brasileira Contemporânea: cultura, democracia e pensamento social do Programa de Pós Graduação da UFPE. O foco principal da investigação é a análise em profundidade de entrevistas realizadas com especialistas da literatura moçambicana a fim de melhor se compreender a relação entre a produção daquela literatura e o contexto histórico social que a conformou, de modo que seja possível entender o processo de formação de uma identidade moçambicana e as características e sentidos variados de moçambicanidade presentes na literatura. As entrevistas analisadas foram feitas com Francisco Noa e Fátima Mendonça, e trazem reflexões sobre o percurso do surgimento da literatura moçambicana até os dias atuais, criando um panorama geral desse trajeto. Já a teoria que norteia esse estudo é o Materialismo Cultural proposto por Raymond Williams, que dando uma continuidade e refutando o aspecto superestrutural da cultura no marxismo ortodoxo, apresenta a ideia de que a cultura é um processo material e social. Para isso, Williams cunha a noção de estruturas de sentimento, que são estruturas sociais que podem operar nos aspectos mais simples e sutis da vida cotidiana. Para o autor, essas estruturas podem ser encontradas mais facilmente na arte e literatura, por serem consideradas processos materiais inalienáveis. O uso desta noção fez com que fosse possível destacar três estruturas de sentimento que existiram e existem na literatura moçambicana: utópico - nacionalista - negritudinista, que sugere uma resistência ao colonialismo, um realismo nacionalista e africano ao lado de um projeto utópico; nacionalista - coletivista, que era caracterizada por um apelo ao heroísmo dos combatentes, pela radicalização da unidade, pela proposta de homogeneidade nacional que em grande parte implicava em apagar os sentidos de uma africanidade; e, a mais recente, estruturas de sentimento distópica e da diversidade, que seria então um momento de afirmação de subjetividades e das opções estéticas diversificadas, que após o afunilamento da literatura provocado pelas questões políticas da época, traz uma pluralidade de vozes e temas que também fazem parte da realidade moçambicana. Ao analisar a produção literária de cada uma dessas estruturas de sentimento, conclui-se que a formação da literatura moçambicana foi um fruto de processos sociais que, tendo diálogo direto com os processos históricos do país, indica que só se pode pensar numa identidade moçambicana se o sentido desta for, essencialmente, polissêmico. Palavras-chave: colonização, sociologia, resistência, estudos culturais, Moçambique.

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Cinema e Revolução em Glauber Rocha: uma leitura de “O Leão de Sete Cabeças” (1970)

Renata Soares Junqueira (UNESP)

[email protected]

Resumo: O cineasta brasileiro Glauber Rocha (1939-1981) adota, em linguagem cinematográfica, um método disjuntivo de composição diegética que parece aproximar o seu cinema do teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956). Nesta comunicação pretendo identificar e descrever, no primeiro filme que realizou no exílio, O Leão de Sete Cabeças (1970), uma série de recursos epicizantes – à maneira de Brecht – que, articulados sistematicamente, provocam nos espectadores um efeito de distanciamento propício a aguçar-lhes o pensamento crítico. A minha intenção é aquilatar os efeitos da forma épica na consolidação de uma dimensão política que, nesse filme, se aplica a um projeto – estético e político – pró-África, problematizando a colonização do continente africano e propondo estratégias para a libertação através de uma revolução em cuja linha de vanguarda convergem interesses comuns dos povos africanos e de outros povos tidos como periféricos no contexto do mundo capitalista – inclusive o povo brasileiro. Trata-se, enfim, de iluminar e comentar as formas usadas pelo cineasta para contar o que ele mesmo, intervindo performaticamente na película, chama de “uma história geral do colonialismo euro-americano na África, uma epopéia africana, preocupada em pensar do ponto de vista do homem do Terceiro Mundo, por oposição aos filmes comerciais que tratam de safáris, ao tipo de concepção dos brancos em relação àquele continente".

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Vanguardismo e militância pró-África na pintura de Bertina Lopes

Thais de Paula Vieira (UNESP) [email protected]

Fabiane Renata Borsato (UNESP) Resumo: Bertina Lopes (1924-2012) é uma artista luso-moçambicana de inegável relevância, tanto no que diz respeito ao engajamento em prol da libertação de seu país africano, quanto ao caráter vanguardista de sua obra, visto que esta se apresenta como uma inovação em relação ao modelo de arte moderna em voga no período. Sua produção artística é realizada de maneira a permear signos que remetem a temas sociais e ao seu posicionamento político anticolonialista, além de exprimir influências de artistas contemporâneos. Esta comunicação busca fazer uma análise dos elementos pictóricos de quadros da artista, levando em consideração o contexto político-social de Moçambique de seu tempo, que é transfigurado em imagens pela pintora, o que confere traços revolucionários à sua obra. Do mesmo modo, procura-se refletir acerca da influência de representações artísticas de pintores de vanguardas, tais como Georges Baque, Henri Matisse e Pablo Picasso, nos elementos gráficos retratados em sua pintura. Para que se possa realizar tal análise, serão adotados como base teórica os conceitos reunidos pela artista e teórica brasileira Fayga Ostrower (1920-2001), em seu livro “Universos da Arte”. Será possível, então, investigar como a relação de Lopes com Moçambique reflete aspectos formais por ela delineados – tais como representações de signos cuja raiz é africana, assim como aspectos cromáticos de violento impacto, motivados pelas guerras civis em sua terra natal. Este trabalho busca explorar, ademais, a evolução dos principais aspectos estruturais na pintura de Bertina, os quais se transformam de acordo com seu intento de militância político-social na criação de uma arte engajada: em sua infância, vivencia um Moçambique vítima de forte repressão colonialista e, posteriormente, ao mudar-se para Portugal, a ditadura salazarista. Assim, envolvida com grupos que lutavam pela independência de sua nação (FRELIMO), a artista é alvo de perseguições e censura. É, portanto, oportuno tratar dos aspectos formais da obra da pintora que ecoam, indissociavelmente, sua condição de mulher negra luso-africana que denuncia a exploração colonial e o totalitarismo. Palavras-chave: Pintura; Bertina Lopes; Libertação de Moçambique.

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GT – Literatura afro-brasileira contemporânea: o levantar das vozes

Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva (UFERSA)

[email protected] Sarah Maria Forte Diogo (UECE)

[email protected] Resumo: As primeiras manifestações da literatura afro-brasileira se realizam a partir do momento em que os negros começam a produzir as primeiras ficções que representavam sua própria condição, enquanto escravos ou libertos do regime. Fazendo do discurso literário instrumento de empoderamento e de representatividade por meio do qual ecoa sua voz, o sujeito negro dessa época busca tomar as rédeas de sua fala e, apropriando-se da palavra como meio de subversão e de potencial libertação, questiona as máculas do escravismo e de outras opressões que dele derivam, com o objetivo de conquistar um espaço respeitoso para si e de reexaminar sua identidade e assim (re)construí-la. O referido período, no entanto, é fortemente marcado pela hegemonia da escrita literária de moldes europeus, em meio ao qual a cultura negra resvalava, como temática ou como elemento de ilustração pitoresca. Os textos literários produzidos por afrodescendentes permaneceram à margem durante muito tempo, sob o signo da resistência. Como ressonância dos esforços dessa primeira escritura negra no Brasil, a produção dos séculos XX e XXI emerge sob a ideia do fortalecimento e da consolidação da identidade afro-brasileira via discurso literário. Eduardo de Assis Duarte delineia, em Literatura Afro-brasileira: um conceito em construção, cinco critérios que caracterizam essas produções literárias, a saber: temática, autoria, ponto de vista, linguagem e público-leitor. A articulação desses critérios nos permite caracterizar o discurso literário afro-brasileiro de modo a observá-lo enquanto espaço em constituição e meio de representatividade e reação às opressões vivenciadas. Por literatura afro-brasileira compreendemos as obras produzidas por autores que se compreendam enquanto sujeitos negros e reflitam, em seus discursos ficcionais, sobre as experiências construídas por negras e negros em contextos os mais diversos. Escritoras como Ana Maria Gonçalves e Conceição Evaristo, por exemplo, problematizam em seus romances o estar no mundo da mulher negra, explorando a condição do negro para além de vítima do processo de escravização. As autoras, dessa forma, contribuem para a valorização da história do negro e mostram muitos aspectos da cultura brasileira que permaneciam marginalizados e quase invisíveis em outras épocas. Este grupo de trabalho se propõe a discussões que examinem obras literárias afro-brasileiras dos séculos XX e XXI – poesias, contos ou romances – que explorem questões como identidade, negritude, afro-brasilidades, sob perspectivas que ficcionalizem a situação da negra/negro brasileiros na contemporaneidade, seus dilemas e suas formas de representação.

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Palavras-chave: identidades; literatura afro-brasileira; cultura afro-brasileira; contemporaneidades.

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“Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves: traços afro-femininos que trazem um legado de contradiscurso e construção identitária

Camila de Matos Silva (UFPE)

[email protected] Resumo: Este artigo destina-se a analisar o romance Um defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves. A romancista cede voz à Kehinde, narradora da obra, uma africana do antigo Daomé e durante sua saga revisita boa parte do período colonial do Brasil trazendo à tona fatos da memória coletiva e individual que marcam este período histórico e promovendo um contradiscurso, pela escrita de metaficção historiográfica. Procuramos, durante nosso trabalho, ressaltar os assuntos que territorializam a escrita da mulher negra em solo brasileiro, na contemporaneidade. Um defeito de cor, romance de Ana Maria Gonçalves, publicado em 2006, o qual estabelece um diálogo entre ficção e história. Desenvolvendo questões relacionadas à literatura, à história, à raça, gênero e à diáspora africana, busca-se demonstrar a importância das obras de literatura afrodescendente no Brasil, comprometidas etnograficamente com as relações raciais contemporâneas. É a possibilidade de criação de um novo discurso constituidor de outra história, escrita pelos “ex-cêntricos” de nosso país, destoante do status quo intelectual vigente, mas caracterizando uma narrativa inseparável da vida e da realidade Palavras-chave Literatura afro-feminina; Metaficção historiográfica; Memória; Identidade.

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Significação e ressignificação do negro na poética de Adão Ventura

Cícera Antoniele Cajazeiras da Silva (UFERSA) [email protected]

Resumo: Adão Ventura – poeta fundamental para o reconhecimento e o fortalecimento da identidade negra na literatura brasileira contemporânea – apresenta em sua poética a cor negra como metáfora do processo de tomada da consciência de raça não apenas pelo povo negro, mas pelo seu próprio texto. Tradicionalmente associada a simbologias de valor negativo, na poética veturana a cor tem valor identitário que transcende o mero “exotismo” – conforme aponta Silviano Santiago em Vale quanto pesa: ensaios sobre questões político-sociais – que associava a identidade negra ao folclórico e até mesmo ao estrangeiro, pensamento que traduz tentativas de apartar o negro da identidade brasileira. A manutenção dos elementos identificados com a cultura negra como exteriores à cultura brasileira operou, ao longo dos séculos, como processo de legitimação de concepções que valorizam manifestações literárias de matriz eurocêntrica – tanto em relação aos aspectos formais/estruturais, como ao próprio significado – como mais alinhadas à assim chamada identidade nacional. Segundo Frantz Fanon em Pele negra máscaras brancas, a tentativa de “embranquecimento” mediante a associação social – e, por conseguinte, cultural – ao branco europeu como uma tentativa de camuflagem que visa à aceitação; o fracasso desse comportamento leva ao inevitável e, sobretudo, necessário caminho do autorreconhecimento, da resistência e da luta pela valorização do negro em todas as esferas. Cuti, por sua vez, em Literatura negro-brasileira, propõe que expressão que dá título ao seu livro seja utilizada como alternativa a “literatura afro-brasileira”, uma vez que o termo “afro-brasileiro” remeteria “em sua semântica ao continente africano, com suas mais de 54 nações, dentre as quais nem todas são de maioria de pele escura, nem tampouco, estão ligadas à ascendência negro-brasileira”. Dessa forma, através desse trabalho pretende-se examinar as conotações da cor negra na poesia de Adão Ventura, buscando compreender a forma pela qual a palavra – em associação com os recursos de composição poética – incorpora significados que refletem o despertar da consciência negra e brasileira. Palavras-chave: literatura negro-brasileira, poesia, negro, Adão Ventura.

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Fabião das Queimadas e Inácio da Catingueira: identidade étnica e memória de vozes negras nas poéticas da oralidade

Eidson Miguel da Silva Marcos (UFBA)

[email protected] Resumo: A manifestação e o reconhecimento da voz negra, através da literatura escrita, sempre encontraram diante de si obstáculos socioculturais para sua visibilização. No entanto, e para além da experiência grafocêntrica, a oralidade também configura um espaço onde vozes negras, não sem conflitos e barreiras, se manifestam e registraram a presença e o ponto de vista afro-brasileiro. Nas poéticas da oralidade, a exemplo da cantoria com suporte musical na viola, pandeiro ou rabeca, a atuação de negros, inclusive cativos, configura uma realidade que possibilitou a inscrição de suas vozes e experiências de vida da alteridade negra para além dos grilhões do cativeiro e do silenciamento dos meios oficiais de difusão cultural. No Nordeste brasileiro, uma relevante quantidade de nomes de poetas negros se perfila nessa lista: Preto Limão, Chica Barrosa, Fabião das Queimadas, Inácio da Catingueira, José Pretinho do Tucum, Manoel Caetano, dentre outros. Dessa forma, pretende-se, neste trabalho, realizar uma breve leitura de fragmentos poéticos dos cantadores Fabião das Queimadas e Inácio da Catingueira, dois negros nascidos na condição de escravizados no Rio Grande do Norte e Paraíba (séculos XIX-XX), respectivamente, observando-se a representação identitária, étnica e mnemônica afro-descendente que essas vozes negras inscreveram na história. Recordados, e celebrados, pela memória coletiva, do meio artístico dos catadores e do público, além de registrados na letra impressa dos etnógrafos, esses poetas construíram espaços identitários, físicos e simbólicos, onde a presença, a palavra e o ponto de vista do negro escravizado se manteve viva e reverberante, funcionando como contrapondo e desinstituindo, por exemplo, discursos de invizibilização do protagonismo negro na configuração histórica e cultural do Brasil. Esses espaços de memória e identidade, além dos processos literários que os engendraram, serão brevemente contemplados no presente texto. Para se realizar o intento proposto, necessário é buscar autores que investigaram as poéticas orais, a exemplo de Luís da Câmara Cascudo, Paul Zumthor, Idelete Muzart-Fonseca dos Santos, dentre outros. Palavras-cheve: Fabião das Queimadas; Inácio da Catingueira; Identidade étnica; Memória de vozes negras.

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Dicções suplementares da nação brasileira em “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves

Karina de Almeida Calado (PUC-Minas)

[email protected] Este trabalho discorre sobre o projeto estético da obra Um defeito de cor, buscando compreender as estratégias narrativas e os recursos formais empregados na construção do romance. Pretende-se observar, no modo de construção e na própria matéria narrativa, a evocação de novas sensibilidades e a formação de dicções suplementares acerca da história da diáspora africana no Novo Mundo. Para tanto, entende-se que a autora, já no estabelecimento do pacto narrativo, afirmado do prólogo do romance, demonstra uma compreensão do passado e da história como concepções abertas à reinterpretação e ao surgimento, ou descobrimento, de narrativas “desconhecidas”. Realiza-se uma reflexão acerca do modo como a autora apropria-se de personagens e acontecimentos históricos, valendo-se da metaficção historiográfica, para revisitar o século XIX, problematizar a história e revisar imagens oficiais da nação brasileira. Para discorrer acerca dessas questões, lançamos mão dos estudos de White (1995), Hutcheon (1991), Benjamin (1994), Mbembe (2014) e Duarte (2009), entre outros. Palavras-chave: Narrativa afro-brasileira. Diáspora africana; Metaficção historiográfica; Nação.

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Memória e pertencimento na literatura contemporânea do Recôncavo Baiano: os casos de Camilo César Alvarenga, Deisiane Barbosa e João de Moraes Filho

Sara Mariano Santos (UFRB) [email protected]

Rubens da Cunha (UFRB) [email protected]

Resumo: Leon Tolstoi dizia “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia.”. Em O guardador de rebanhos, Alberto Caeiro escreve “da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer.” Esses autores partem do mesmo princípio: é no próximo, no particular, no entorno que se pode não apenas criar artisticamente, mas também observar a força universal da criação artística. Foi sob essa perspectiva que, em 2016, iniciamos o projeto de pesquisa “Mapeamento e estudos críticos das literaturas do Recôncavo Sul” que tem por base mapear e estudar as literaturas contemporâneas feitas no Recôncavo Baiano ou por escritores nascidos na região. A presente comunicação visa apresentar uma visão analítica e crítica de três autores afro-brasileiros mapeados pelo projeto, sobretudo, pelo aspecto do pertencimento e da memória. Camilo Cesar Alvarenga é autor de Scombros (Edufrb, 2012) e Macumbe-se (Kza1, 2018). Mestre em Sociologia pela UFPB e atua como performer e músico. Trata-se de um poeta que trabalha a questão da memória, não apenas como resgate das tradições afro-descendentes do Recôncavo Baiano, sobretudo as religiosas, mas como matéria prima para a sua criação literária. Outro autor analisado é João Wanderlei Moraes Filho, poeta, editor, gestor e agitador cultural, autor de Pedra Retorcida (Casa das Palavras, 2004) e de Batismo – a ordem da verdade (no prelo). Seus poemas transitam entre a ironia e a melancolia e revelam instâncias muito sutis do que é ser um poeta no Recôncavo Baiano. Por fim, Deisiane Barbosa, andarilha e escritora, como costuma se apresentar, é uma poeta nascida no Recôncavo, mas que faz das viagens, das idas e vindas, matéria prima para seus poemas. Autora de Desavesso (ed. da autora e 2016), atualmente, desenvolve um trabalho envolvendo cartas e fotografias, intitulados Cartas para Teresa e Inventário da ilha de Teresa, cujo processo criativo pode ser acompanhado pela internet. Se a memória pode ser vista como algo que vai além da mera lembrança do passado, mas é toda uma rede de fluxos e tensionamentos e se pertencimento tem uma estreita ligação com território, cultura e sociedade, pretendemos, nessa comunicação, mostrar como esses poetas estão pensando a sua aldeia e como as noções de ancestralidade, memória e pertencimento se presentificam em seus escritos. Palavras-chave: Memória; Pertencimento; Recôncavo Baiano

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“Ponciá Vicêncio” na educação básica: modelo de leitura de texto literário e dimensões ensináveis

Sarah Maria Forte Diogo (UECE)

[email protected] Resumo: Este artigo aborda a obra Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo, enquanto gênero literário passível de ser explorado em salas de aula de educação básica. Para tanto, dividimos este estudo em duas partes, a saber: a primeira, que examina a narrativa em questão, observando linguagem e temática, bem como caracterizando-a enquanto romance afrodescendente; a segunda, que fornece um modelo de leitura da obra voltado para a exploração da potencialidade didática do texto e o trabalho em sala de aula, preferencialmente educação básica, ensino médio. Justifica-se o interesse por Ponciá Vicêncio pelo fato deste ser um romance contemporâneo que problematiza questões raciais, configurando-se enquanto obra de relevância para figurar em aulas de literatura brasileira. Procedemos à revisão de parte da fortuna crítica da narrativa e elaboramos o modelo de leitura com base no conceito de letramento literário com algumas adaptações. Partimos do princípio de que toda obra literária, para além da fruição estética, inserida em ambiente escolar e em situações pedagogicamente orientadas, apresenta múltiplas dimensões ensináveis que podem ser formalizadas, através de ações do mediador de leitura, em componentes de ensino que estabelecem relações com as mais variadas disciplinas. No caso específico de Ponciá Vicêncio, é notável que a narrativa conversa com aspectos históricos e sociológicos da formação da sociedade brasileira, a partir de viés ficcional. Concluímos que toda obra literária, uma vez escolarizada, necessita passar por um processo de modelização didática, a fim de que suas dimensões ensináveis sejam melhor apropriadas pelos leitores (alunos e professores). Palavras-chave: Conceição Evaristo, romance afrodescendente, ensino, literatura.

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A constituição do Romance histórico Afro-Brasileiro em “Desde que o samba é samba”

Vanessa Bastos Lima (UERN) [email protected]

Resumo: Este trabalho visa discutir através da análise da obra Desde que o samba é samba (2012) de Paulo Lins, a história e a representação do povo negro e da cultura negra na literatura afro-brasileira contemporânea, a qual propõe uma outra forma de narrar e de representar a história e a luta dos afro-brasileiros, por muitas fontes e textos históricos e literários renegados. A obra em questão, trata a respeito da história do samba e de alguns célebres sambistas cariocas, apresentando também a relação desse gênero musical com o candomblé e a capoeira, trazendo um pouco da história da constituição de elementos da cultura negra (música, dança e religião), tendo como ambiente histórico a década de 1930. Além da história dessa constituição da cultura negra, conhecemos ainda a história da resistência dessa cultura em face aos ataques, proibições e represálias realizadas pelo Estado aos integrantes e representantes das comunidades e culturas periféricas dos morros cariocas, que na obra são mescladas às histórias de personagens, ora reais e ora fictícias. Para tanto, inicialmente, discutiremos sobre a constituição do Romance Histórico enquanto gênero, a partir dos postulados de Lukács (2011) desenvolvidos no século XIX. E, posteriormente, a partir das mudanças ocorridas por esse gênero ao longo do tempo, quando passa a relacionar história e ficção de forma diferente, assumindo os moldes da “metaficção historiográfica”, conceito cunhado por Linda Huctheon (1991), o qual será relacionado com os postulados teóricos de Deleuze e Guattari (2011) sobre as noções de raiz e rizoma, as quais serão discutidas pensando nas identidades representadas na literatura brasileira no tocante ao negros e afro-brasileiros; trazemos à baila também os postulados de Viveiros (2015), Mignolo (2008), e Eduardo Assis Duarte (2013), através dos quais iremos discutir sobre uma nova forma de narrar e representar o negro e sua história na literatura brasileira, deixando de lado a perspectiva colonial. Palavras-Chave: História; Romance; Literatura; Afro-brasileira.

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GT – Naus da ficção portuguesa contemporânea

Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFERSA) [email protected]

Jonas Jefferson de Souza Leite (UERN) [email protected]

Resumo: A literatura portuguesa nos últimos sessenta anos revestiu-se de uma variabilidade nas formas, estéticas e temas e tem assumido uma nova face, mais aberta, plural e ingressada no que poderíamos designar numa literatura de corte universal; trata-se isso ora como uma força marcadamente típica do post-modernismo (cf. ARNAUT, 2002), ora como fluxo comum dado a toda época, afinal a literatura é sempre um “modelo orgânico, vivo” (cf. REAL, 2012). Independente de qual perspectiva teórica nasça uma compreensão sobre esse fenômeno, o fato é que se cobra novas maneiras de pensar sobre o literário e sua relação seja com o cânone, seja com as formas de criação, seja com as questões sociais, culturais e políticas, porque, afinal, o que tais mudanças implicam, numa dialética, são novas formas de ser e estar no mundo (cf. SEIXO, 1984). Isto é, o produto das transformações porque passa a ficção têm motivações de ordem diversa e a principal delas responde pela presença do homem e sua maneira como se relaciona com as novas posições assumidas nos contextos pelos quais transita; ao mesmo tempo, a literatura tece uma participação na variabilidade das forças reinauguradas no mundo fora do tecido textual. O que marca este período, então, é o desenvolvimento de novas práticas e experiências com a narrativa, a proliferação das inquietações tornadas em matérias temáticas dos novos ficcionistas – ora afastando-se do conteúdo histórico-social e de uma reflexão sobre os modos de ser e estar português para se aproximar de preocupações de ordem a um só tempo interior e exterior ao indivíduo do seu país ora reinventando alguns temas recorrentes, tais como a guerra colonial, os transes da imigração, as crises do sujeito, a diversidade das relações humanas desencadeadas no extenso e complexo jogo social etc. No interesse de compreendê-la, relacionar a pluralidade de eventos decorrentes dessa dinâmica geral da ficção, reafirmar essa tendência à dispersividade, e, evidentemente, na busca por uma unidade dialética que possa compreendê-la na sua pluralidade, é que se constitui este simpósio cujo intuito é, a partir da leitura da ficção (o conto, a crônica, o romance), abrir algumas coordenadas úteis teoricamente e metodologicamente para pensar sobre o que, no fim de tudo, se apresenta enquanto um afã da literatura portuguesa pela globalidade. Palavras-chave: Crítica literária; Literatura portuguesa; Ficção portuguesa contemporânea.

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A Tragédia Amorosa Portuguesa retratada por meio do Gênero Epistolar – Século XVII ao século XX: Vozes que ecoam de Sóror Mariana Alcoforado à

Florbela Espanca

Alex Sandra da Silva Moura (UPE) [email protected]

Resumo: O trabalho de pesquisa realizada investiga como se dá o processo de leitura literária numa escola pública do município de São José do Belmonte –PE. Apresenta a leitura de obras que contemplem em sua tessitura o gênero epistolográfico, tendo como remetentes autoras ou personagens femininas. Para tanto, fez-se necessário fazer um estudo sobre o gênero cartas, desde sua origem ao seu uso nos dias atuais; além disso, investigamos como a escrita feminina de cartas contribuiu para dar voz às mulheres ao longo do tempo, constituindo parte importante do desenvolvimento do feminismo literário. Também foi necessário adentrar no mundo da melancolia enquanto estética que propicia a criação literária no universo feminino, buscando traços comuns nas personagens e autoras das obras analisadas. Como forma de promover a leitura literária escolar, foi adotada a proposta de leitura em forma de Sequência Básica, e para tanto foi feito um estudo da referida metodologia e de seu idealizador, Rildo Cosson. Assim, para atender ao objetivo geral da pesquisa, qual seja: “promover a leitura e a apreciação das narrativas que fazem parte do gênero epistolar”, usou-se como corpus as obras Cartas Portuguesa (Soror Mariana Alcoforado), Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco), O Primo Basílio (Eça de Queirós), e Sempre Tua (Florbela Espanca) , buscando distinguir nestes textos os traços marcantes que representam a “mulher” em seu contexto histórico, social e literário; bem como reconhecer semelhanças na representação do amor trágico presentes nas obras em estudo. A análise das obras mencionadas em seus aspectos temporais e culturais, e identificação dos discursos que emanam das heroínas de cada romance (Mariana, Teresa, Luísa e Florbela), foi primordial para a produção escrita, a partir da aplicação de Sequências Básicas de Leituras. Para a realização desta pesquisa, foram essenciais as leituras e abordagens literárias contidas em Cosson (2014), Zilberman (1989), Cândido (2004), Kristeva (1989), Santos (2000) , Pareyson (1989) e os estudos sobre Literatura Portuguesa de Massaud (2013). Estes são os principais expoentes teóricos, não excluindo a importância e contribuição de outros que estão elencados em nossas referências, pois o campo da leitura literária é bastante amplo. Palavras chave: Literatura; Cartas ; Melancolia; Feminismo ; Sequência Básica

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Trancoso e o lugar da virtude na obra portuguesa do século XVI: “contos e histórias de proveito e exemplo”

Emanuel da Silva Oliveira (UPE)

[email protected] Laís Santos Machado (UPE)

[email protected] Resumo: O tempo, objeto conflituoso da História e da humanidade deixa seus rastros. Da mesma forma que a produção humana dentro do mesmo, que lega ao futuro consciente e inconscientemente, fios que revelam seus feitos, suas paixões, virtudes, deslizes, por outro lado mais não desvinculado, seu próprio “tempo e seu espaço”, as pessoas de seu entorno etc.. Com Gonçalo Fernandes Trancoso, não ocorre de uma maneira diferente, apesar da pouca documentação sobre sua vida além de algumas poucas cartas e suas duas obras. Este trabalho pretende descrever e analisar a importância do autor português, na disseminação do saber ético-moral cristão português do século XVI. A partir da leitura da obra “Contos e Histórias de Proveito e Exemplo” (1575), incluindo assim, questões amplas como a mentalités collectives, sem deixar de lado a esfera da criação local da cidade de Lisboa e sua produção cotidiana em busca da redenção de uma cidade majoritariamente católica como religião oficial. Num país império no qual o poder divino e profano se misturava na figura do rei, em um período de dicotomias como representado na arte barroca, como âmago envolve: o exótico, a ostentação, com uma ação ideológica católica. Lembrando ainda que o século XVI presencia os novos concílios católicos em resposta direta a reforma protestante, trazendo a inquisição e o conceito de “novos cristãos” para os recém-convertidos. Para tanto utilizasse da lógica da Nova História Cultural, bebendo da influencia de historiadores como Michel de Certeau, Michel Foucault e Roger Chartier, conflitando com alguns conceitos e noções da sociologia de Pierre Bourdieu e Norbert Elias. E os métodos da hermenêutica pós-estruturalista como procedimento interpretativo dos textos, permitindo o navegar paradigmático mais livre e historicista. Portanto, este trabalho foca não apenas numa análise de alguns dos contos, mas também, sua dimensão de produção histórica, incluindo o autor, tempo e espaço. Palavras-Chave: Literatura; Contos de Trancoso; História de Portugal.

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Florbela Espanca: o itinerário de um mito

Jonas Jefferson de Souza Leite (UERN) [email protected]

Resumo: Propõe-se um estudo sobre a maneira como a poetisa portuguesa Florbela Espanca, depois da sua morte e através de uma extensa apropriação biográfica, no fã de divulgar e publicar a sua obra literária e, consequentemente, obter lucro, passou, paulatinamente, a ser encarada como um mito literário, desde a década de 1930. Objetiva-se compreender o processo de mitificação da escritora, que tem se mostrado dinâmico e, de tempos em tempos, adquirido novos e inesperados contornos. Em chave didática, entende-se tal processo em dois momentos distintos e complementares: o primeiro momento, de feição crítico-biográfica, de 1930 a 1979, quando o mito florbeliano foi erigido e consolidado, e o segundo momento, de cariz crítico-ficcional, de 1979 à atualidade, no qual o mito em destaque expandiu-se e ganhou novas possibilidades de representação, com a transformação de Florbela em personagem literária.

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Denominações do espaço em “Todos os nomes”, de José Saramago

Pedro Fernandes de Oliveira Neto (UFRSA) [email protected]

Resumo: Um romance com o título de Todos os nomes e que não apresentaria nenhum nome se não fosse a presença do Sr. José, o único nomeado, não é construído para colocar em destaque essa figura individual; tampouco está relacionado a uma temática de problematização dos nomes, como parecerá à primeira vista. Apesar de ser uma questão das recorrentes na literatura de José Saramago, inclusive nesse romance, não chega aqui a se constituir em tema principal; é mencionada numa breve reflexão em torno do nome do Sr. José e tudo não passa de uma discussão irônica sobre uma caracterização do funcionário. Isto é, mesmo que o título da obra chegue a desempenhar uma relação ainda que irônica com o fato de as poucas personagens que aí circulam serem destituídas de nome próprio ou de despiste alegórico, ser um título cujo sentido aponta para uma via quando se relaciona, de fato a outra, não ser um romance cuja ideia central está em tratar do processo de nomeação quando indica para isso, requer uma observação. Resta-nos compreender que esse título se relaciona, sim, não a outra coisa, mas à Conservatória Geral do Registo Civil onde estão registrados todos os nomes, os dos vivos e dos mortos. Mesmo a certa altura da narrativa, quando o Sr. José se afasta do seu lugar de trabalho para uma visita ao Cemitério – outra face do primeiro espaço – os termos são utilizados para designar a fronteira ou divisa entre o Cemitério e a cidade. Bom, ainda poderíamos atentar – pela experiência da nudez dos nomes próprios, nudez que primeiro assinala um anonimato das personagens e segundo os integra como qualquer um – que os termos todos os nomes inscrevem também a presença de uma ausência; afinal, este talvez seja, de fato, o sentido fundamental do romance. Não estamos, pois, em parte alguma distantes de um modo particular de figuração do sujeito, instância tão escorregadia quanto o sentido de presença na ausência. Espaço de conservação de todos os nomes, a Conservatória se institui como se um grande cérebro, “mundo e centro do mundo”, um organismo determinante de quem, de fato, é possuidor do direito de existir e não existir; imagem acerca da burocratização do ato de ser e estar no mundo, apêndice da memória e da história social – temas, aliás, bastante caros à literatura saramaguiana. A partir destas considerações, esta comunicação se interessa por uma leitura sobre o espaço em Todos os nomes enquanto metáfora ou a metonímia, uma vez que sua organização desenhada milimetricamente pelo narrador se constitui como se uma forma para falar sobre outra coisa – função própria da primeira forma de linguagem; e sua configuração se apresenta alinhada como se uma miniaturização do aparelho social, isto é, instância que guarda em seu interior toda a ordem daquilo que se passa fora de suas fronteiras, como se mais um daqueles aparelhos simbólicos que regulam as naturezas dos indivíduos. Palavras-chave: José Saramago; Sujeito; Espaço literário.

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Sofrimento, esquecimento e memória em “A desumanização”, de Valter Hugo Mãe

Sidnei Alves da Rocha (UFMT)

[email protected] Vinícius Carvalho Pereira (UFMT)

Resumo: Valter Hugo Mãe “é um dos mais destacados autores portugueses da atualidade. Sua obra está traduzida em muitas línguas, merecendo um prestigiado acolhimento em países como Alemanha, Espanha, França e Croácia” (Mãe, 2017, p. 189). A obra A desumanização retrata a vida, o sofrimento e as pequenas alegrias de Halla e seu relacionamento nada comum com Einar. Mesmo falando de morte e sofrimento familiar, o autor consegue desenvolver uma trama com suavidade e beleza que encanta e cativa o leitor, juntando, a um só tempo, memória, esquecimento, respingos de amor, morte e utopias, sendo esses os pontos de estudo deste trabalho, com análises das utopias e heterotopias em sua tessitura a partir dos escritos de Foucault (2013), reflexões sobre o texto literário e suas funções com base em Paz, Compagnon, Candido, Calvino e outros, com estudos ao que tange a memória e o esquecimento, especialmente do personagem Einar, em uma obra cheia de digressões e de uma prosa poética carreada de belíssimas imagens. É uma narrativa humanizadora, com seu tanto de fruição literária e que traz uma realidade partilhada ou vivida por toda a humanidade e sua representação como composição lírica, têm “esperança de extrair, da mais irrestrita individuação, o universal”, contudo, “essa universalidade do teor lírico […] é essencialmente social” (ADORNO, 2003, p. 67). Na trama Einar busca “uma ativação mais vasta da memória secundária, através de uma re-pesca de um determinado dado já anteriormente filtrado e arquivado”. Sua memória consegue resguardar o arquivo, pois “o destino do material que ali transita é duplo: o material pode ser transmitido para a memória a longo prazo e nela conservado, ou pode ser simplesmente deixado de lado até esvanecer-se e ser esquecido de todo” (COLOMBO, 1991, p. 94), havendo um “segredo” entre ele, o prior Steindór e a mulher urso, tia de Halla, assim denominada por ela e Einar. A desumanização é um livro maravilhoso que põe o leitor em contato com um mundo pouco conhecido por ele, com uma história que fala de amor e morte, esquecimento, memória, paixão, desânimo e vingança tudo a um só tempo, com passagens de realismo mágico indescritíveis. É a história do menino feio, da mais morta e da menos morta que nos faz refletir sobre a vida, sobre a morte e sobre as nossas relações e anseios, enfim, a respeito da constante contradição de humanização e de desumanização tão comuns aos seres humanos. Palavras-chave: Memória; Esquecimento; Amor; Desamor; Morte.

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GT – O cânone literário e a literatura periférica em Angola e Moçambique

Vanessa Riambau Pinheiro (UFPB)

[email protected] Marinei Almeida (UNEMAT/UFMT)

[email protected] Resumo: O propósito deste Grupo de Trabalho é promover a reflexão acerca da formação do cânone literário em Moçambique e em Angola, investigando que processos concorrem para sua constituição e de que lugar teórico opinam os críticos que o determinam. Se tomarmos como verdade o pressuposto de que a literatura constitui-se a partir da representação da sociedade, tal qual nos afirma o conceito aristotélico de mímesis, podemos inferir que o cânone pretende fixar valores considerados representativos de determinada época histórica e/ou cultural, buscando estabelecer uma relação de identificação com determinado país que o representa. Para que esta relação seja estabelecida, entretanto, é necessário que os textos situados na mesma perspectiva diacrônica sejam afins, coadunem-se de tal forma que sua bacia semântica possa ser reconhecida como paritária e homogênea. Tal fator é ainda mais determinante ao se tratar das literaturas pós-coloniais ou pós-europeias: por serem relativamente recentes – boa parte delas tem pouco mais de cem anos –, encontram-se ainda em fase de consolidação e carecem de ícones que as legitimem face ao mundo externo. Dentre os aspectos nos quais se assemelham estas literaturas africanas de língua oficial portuguesa verificamos, em um primeiro momento, a nativização da língua portuguesa – através dos escritos de Luandino Vieira e Uanhega Xitu, por exemplo – a recorrência de temáticas de cunho animista - em Paulina Chiziane e Mia Couto, por exemplo – e de um recente resgate ao passado histórico ancestral (Ungulani Ba Ka Khosa, Pepetela, Mia Couto e José Eduardo Agualusa) e colonial (Pepetela, Mia Couto, Ondjaki). Convidamos os pesquisadores a refletirem, portanto, sobre os autores ditos consagrados em Angola e Moçambique, bem como a discorrerem a respeito dos escritores cujas obras não alcançam projeção fora de seu respectivo país de origem, analisando que fatores concorrem para tal. Palavras-chave: cânone literário; literatura periférica;Angola; Moçambique.

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O lugar de fala em Paulina Chiziane e a construção do cânone literário em Moçambique

Amanda Gomes dos Santos(UFPB)

[email protected] Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos (UFPB)

[email protected] Resumo: O propósito desse estudo consiste na problematização acerca da formação do cânone literário em Moçambique. Para tanto, nossa pesquisa adota o conceito de lugar de fala (Ribeiro, 2017) a fim de questionar a legitimidade do cânone e os margeamentos por ele provocados, revelando os fatores exógenos que repercutem e ditam sobre o sistema literário moçambicano. Nesse sentido, é imprescindível discutir sobre o conceito de cânone, e como em África ele é ainda percebido como algo distante da produção literária. Posto que se faz necessário problematizar a definição de pós-colonialismo, e as consequências desta a fim de compreender como o parâmetro que se é instituído como cânone literário europeu restringe a produção literária em países africanos, pois podemos estabelecer que a literatura africana possibilita olhares além das estruturas pré-concebidas. Assim estabeleceremos um diálogo com os escritos de Ana Mafalda Leite (2003), posto que esses contribuem para o fomento da discussão sobre a ideia de um cânone e as dicotomias da literatura produzidas nos eixos periféricos e a literatura concebida nos centros. Como também das discussões de Riambau (2017) acerca dos fatores exógenos e endógenos, no qual nos debruçaremos sob os exógenos, a fim de delinearmos o que se é instituído como produção pós-colonial e as variáveis dessa produção como elemento de um suposto cânone literário.Sabendo que a ideia de edificação de um cânone se faz pelo reconhecimento de um texto literário em detrimento de outros,para tal deve-se investigar os elementos que direcionam para o compilado dessa constatação. Com intuito de melhor aclarar nossos questionamentos,dedicaremo-nos, posteriormente, a produção literária da escritora Paulina Chiziane, destacando a sua relevância para a literatura deste país, bem como os reflexos que a este rótulo ocasionam. No tocante a fundamentação teórica utilizaremos as contribuições de Leite (2003), Kandjimbo (2001), Riambau (2017), Ribeiro (2017). Palavras-Chave: cânone literário; lugar de fala; literatura africana; Paulina Chiziane

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Traços da religiosidade em “O sétimo juramento”, de Paulina Chiziane

Geovanna Dayse Bezerra Silva (UFPB) [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar os aspectos da religiosidade presentes na obra O sétimo juramento, de Paulina Chiziane. Nesta obra, deparamo-nos com personagens situados em um contexto pós-colonial, em que resquícios da guerra são percebidos nos atos do personagem David e sua conflituosa relação com os operários da fábrica em que trabalha. Nesse cenário, podemos destacar a obra da escritora como expressão da realidade vivenciada pelos indivíduos desta sociedade. Encontramos os elementos da tradição do povo moçambicano presente no modo de viver da atualidade, uma vez que as personagens recorrem, o tempo todo, aos mitos e lendas herdados de seus antepassados. Escolhemos tal categoria analítica, pois o conflito religioso é o tema mais evidente. Vemos personagens convergindo para suas raízes com campo da religião africana. É como se o indivíduo na contemporaneidade não tivesse o poder de se desvencilhar destas crenças. A crença nos deuses, na manifestação dos mortos por meio dos vivos, do poder de cura e destruição dos curandeiros, verdadeiros elos com o mundo do além são uma convicção, algo que o povo inserido nesta cultura não pode fugir. Como bem explicita o narrador nesta citação, o sincretismo é inerente na vida dos africanos. O culto aos espíritos, a crença na existência destes, bem como rituais de feitiçaria macabros e uma luta incessante entre o mal e o bem, personificados em David e Clemente, respectivamente. Faremos uso, nesta análise, das contribuições teóricas de Chaves (2005), Halbwachs (1990), Tutikian (2006) e Pinheiro (2018). Identificamos, em maior grau, o conflito presente entre a tradição religiosa do povo bantu e a moderna religião cristã imposta e aderida por grande parte do povo urbano. O que se pode confirmar é que essa herança politeísta do povo africano está constantemente se apresentando em todos os personagens. A feitiçaria é tratada como algo natural em que todos os personagens tem ciência e plena aceitação. Palavras-chave: religiosidade; literatura africana, feitiçaria

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Literaturas de Língua Portuguesa: revisitações pretéritas e subjetividades

Marinei Almeida (UNEMAT/UFMT) [email protected]

Resumo: A produção literária na contemporaneidade protagoniza múltiplos e distintos “dizeres” e subjetividades, em movimentos significativos de construção, desconstrução ou reconstrução em contextos particulares. Assim, a memória se torna um dos elementos estéticos recorrentes para o aporte dessas produções. Nesse sentido, tomamos emprestadas tais reflexões para pensar a questão da memória, bem como outros elementos que trazem à superfície certas revisitações pretéritas como o caso do elemento da loucura em dois romances de literaturas de língua portuguesa, mais especificamente o romance O alegre canto da perdiz (2008), da moçambicana Paulina Chiziane e o romance Ponciá Vicencio (2003), da brasileira Conceição Evaristo. Os romances aqui citados estão inseridos em época marcadas pela literatura que privilegia a memória de um passado que ainda não se acomodou. Esse tipo de produção ocupa o importante papel de servir de instrumento do não-esquecimento do trauma da nação (DAIBERT, 2009). Paulina Chiziane por meio de uma narrativa bastante poética, traz personagens como os loucos Maria e José, e eventos, como a escravidão e a ocupação colonial, lançando problematizações ainda não acomodados na história de Moçambique. Assim também, Conceição Evaristo, no romance referido, reporta a eventos anterior ao século XXI, aborda questões enfrentados por ex-escravos e seus filhos ainda nascidos na recente institucionalização da Lei Áurea aqui no Brasil e nessa problematização traz o elementos da loucura que, via de regra, vai servir para a reflexão sobre mundos fraturados, mas de alguma maneira emergidos pela memória.

Palavras-Chave: Paulina Chiziane, Conceição Evaristo, memória, subjetividades

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Novos espaços dentro da literatura moçambicana: Hirondina Joshua e seus ângulos da casa

Sayonara Souza da Costa (UFPB)

[email protected]

Resumo: O meio literário é um ambiente bastante vasto no que concerne atividades relacionadas às pesquisas dos mais diversos âmbitos, de tal forma que os estudos voltados às literaturas africanas dos países de língua oficial portuguesa, têm obtido cada vez mais espaço para tal função. O cânone literário é construído a partir de diversos aspectos, cada lugar terá características que influenciarão para tal formação. Desta maneira, partindo do pressuposto que a literatura moçambicana tem sua formação canônica com nomes como Mia Couto e José Craveirinha, trazemos aqui uma escritora que está em processo de construção da sua literatura, Hirondina Joshua. Assim, nosso trabalho tem como objetivo a apresentação do recente e único livro publicado por ela, observando características de sua escrita e os aspectos que permeiam sua obra. Os ângulos da casa (2016) é um escrito que reúne poemas de temáticas que perpassam o amor, a subjetividade do ser e o elemento casa, colocado de maneira diferenciada a respeito do arquétipo construído ao redor deste signo. Apesar de ainda jovem, Hirondina tem suscitado interesse por parte da crítica literária, sua coletânea de poesia foi editada e colocada para circulação pela Fundação Fernando Leite Couto, pertencente ao grande nome da literatura contemporânea de Moçambique, Mia Couto. No Brasil, também houve uma tiragem -bastante reduzida- de tal obra, desta vez pela Editora Penalux (2017). E é neste cenário de criação literária que buscamos a valorização de novas vozes femininas, em especial das que ainda estão à margem do que já é consolidado. Com relação à metodologia, a mesma é pautada em pesquisa bibliográfica e, para isto, faremos uso de alguns pressupostos teóricos que podem contribuir para nosso estudo, dentre eles: Funk (1994), Delgado (2015), Woolf (2004), Chaves (2005), Tutikian (2006) entre outros. Palavras-chave: Literatura; Moçambique; Cânone.

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Descolonizando saberes: do relativismo cultural a pretensa universalidade - Uma análise acerca da arbitrariedade da formação do cânone literário em

Moçambique

Thamires Nayara Sousa de Vasconcelos (UFPB)

[email protected] Amanda Gomes dos Santos (UFPB)

[email protected]) Resumo: O propósito deste estudo consiste na análise da dimensão histórico-cultural e suas repercussões no processo de formação do cânone literário em Moçambique. As problematizações propostas na presente pesquisa destacam as relações de poder que sustentam e concedem aparente legitimidade a este instituto, bem como evidenciar as vinculações estabelecidas entre a visão eurocêntrica e a relativização cultural que desconsideram os aspectos históricos e culturais, ao tentar impor rotulações sobre o conhecimento de África. Destarte, são nas condicionantes exógenas de formação do cânone que nossa pesquisa se dedica a questionar e descontruir, posto que estas vozes externas que insistem em ditar valorações e a estabelecer moldes não são possuem legitimidade, tampouco são capazes de comportar as dimensões estético-culturais destas produções literárias. Neste sentido, nossa perspectiva adota como pressuposto os engendramentos sociais próprios do contexto pós-colonial, em especial as questões de raça e cultura, compreendendo o cânone como uma reconfiguração do poder colonialista e da violência simbólica que este ainda possui sobre África. A fim de proporcionar uma melhor compreensão nas reflexões aqui tecidas, nossa pesquisa será dividida em três secções, sendo estas i. A canonização das exclusões: a arbitrariedade do cânone, momento em que abordaremos o conceito de cânone e que demonstraremos o seu caráter eminentemente arbitrário. Na segunda secção, intitulada A formação do cânone literário em Moçambique: fatores e determinações, nos debruçaremos na análise dos fatores de produção do cânone, em especial as condicionantes exógenos e a sua tentativa de homogeneização cultural. Por fim, no terceiro tópico, iii. Descolonização dos saberes: Literatura, cultura e pertencimento, nortearemos nossas discussões com base no questionamento realizado por Hountondji: “Quão africanos são os estudos africanos?”, destacando as violações culturais provenientes deste sistema de categorização. No tocante a fundamentação teórica, utilizaremos as contribuições de Blomm (2001), Compagnon (2001), Hountondji (2008), Leite (2013), Riambau (2017) e outros. Palavras-chave: Cânone; arbitrariedade; descolonização; literatura; cultura

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O cânone literário em Moçambique

Vanessa Riambau Pinheiro (UFPB) [email protected]

Resumo: O propósito deste estudo é investigar que processos concorrem para a constituição do cânone literário em Moçambique e de que lugar teórico opinam os críticos que o determinam. Se tomarmos como verdade o pressuposto de que a literatura constitui-se a partir da representação da sociedade, tal qual nos afirma o conceito aristotélico de mímesis, podemos inferir que o cânone pretende fixar valores considerados representativos de determinada época histórica e/ou cultural, buscando estabelecer uma relação de identificação com determinado país que o representa. Para que esta relação seja estabelecida, entretanto, é necessário que os textos situados na mesma perspectiva diacrônica sejam afins, coadunem-se de tal forma que sua bacia semântica possa ser reconhecida como paritária e homogênea. Tal fator é ainda mais determinante ao se tratar das literaturas pós-coloniais ou pós-europeias: por serem relativamente recentes – boa parte delas tem pouco mais de cem anos –, encontram-se ainda em fase de consolidação e carecem de ícones que as legitimem face ao mundo externo. Palavras-chave: cânone literário; literatura periférica; Moçambique.

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Comunicações Individuais

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Literatura afro-brasileira construção e identidade

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As comunidades tradicionais de Alcântara ameaçadas: olhares sobre as comunidades negras rurais quilombolas de Alcântara

Elizabeth Sharllyda Cantanhe Santos (IFMA)

[email protected] Clécia Assunção Silva (IFMA)

[email protected]

Resumo: Este trabalho tem como objetivo compartilhar experiências que colaboram com o processo de fortalecimento das políticas educacionais de ação afirmativa. Por meio do encontro de diversas culturas intra e extra institucionais, busca-se ressaltar a importância da inserção da temática Educação e Relações Étnicas na rede de ensino em geral, tendo a Rede Federal como recorte nesta explanação. Reflete-se sobre a valorização da diversidade étnico cultural, destacando a luta pela garantia de direitos dos diversos grupos étnicos, bem como o combate contra o preconceito que muitos desses grupos sofrem. Entende-se que a escola é um espaço de extrema relevância para preservação da memoria e identidade das comunidades tradicionais, dessa forma, apontam-se as atividades realizadas no Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia do Maranhão – IFMA campus Alcântara, na ocasião da Semana de Consciência Negra do ano de 2017, que contribuíram para a reflexão sobre as ameaças que as comunidades tradicionais do município de Alcântara sofrem, principalmente no que diz respeito a realocação territorial e a não preservação de manifestações culturais. Por fim, indica-se como considerações finais que a apropriação de diversos saberes e fazeres relacionados à identidade e memoria de um povo, em especial a cultura das comunidades tradicionais de Alcântara é uma estratégia necessária para que os sujeitos valorizem a historia de seus antepassados e a sua própria história e assumam posicionamentos de pertença diante do sistema social compreendendo que este é diverso e plural. Palavras-chave: Diversidade; Cultura. Educação; Memória. Identidade.

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Da pedra onde brotou uma flor: feições da Ferocidade Poética Franciane Conceição da Silva (PUC Minas)

[email protected]

Resumo: O objetivo desse trabalho é analisar os contos “Ana Davenga”, de Conceição Evaristo, “Bife com batata-frita”, de Cristiane Sobral, e “Um só gole”, de Miriam Aves, no intuito de discutirmos o conceito desenvolvido em nossa tese de doutorado, denominado “Ferocidade Poética”. Podemos dizer que as autoras afro-brasileiras supracitadas, ao encenarem a violência em seus textos ficcionais, especialmente em alguns contos, apropriam-se de estratégias narrativas de grande efeito, mesclando brutalidade e ternura. Utilizando uma expressão diferenciada, marcado por um olhar feroz, mas sem perder a poeticidade do dizer, Conceição Evaristo, Miriam Alves e Cristiane Sobral, muito mais do que descrever uma determinada realidade, buscam provocar o leitor a refletir de maneira profunda sobre o escrito e o inscrito. De tal modo, além de representar uma realidade atravessada por violência e morte, os contos estudados buscam chocar os/as leitores/as, mas não é um mero choque que produz a perplexidade e a paralisia. Mais do que chocar, pretende-se afetar o/a leitor/a, afetá-lo de tal forma que o/a mova à ação. No intuito de compreendermos, de maneira mais específica, as estratégias literárias utilizadas pelas autoras para encenarem a violência em seus contos, fundamentamos nossas reflexões e análises nas contribuições de críticas e críticos literários que se debruçam sobre a questão. Neste sentido, partimos do pressuposto de que as narrativas de violência, construídas por Evaristo, Alves e Sobral, abarcam técnicas literárias que dialogam com os Novos Realismos, discutidas, sobretudo, pelos estudiosos Tânia Pellegrini e Karl Erik Schøllhammer. Assim, no decorrer deste artigo, aprofundaremos a discussão do conceito “Ferocidade Poética”, mostrando que esse modo de encenar a violência, deve ser percebido não no sentido de banalizá-la, mas ressimbolizá-la. Palavras-chave: Literatura Afro-brasileira; Escritoras; Violência; Contos; Ferocidade Poética.

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A representação cinematográfica da resistência escrava e do Quilombo dos Palmares em “Ganga Zumba” (1964) e “Quilombo” (1984)

Gabriel Medeiros Alves Pedrosa (UPE)

[email protected] Bruno Augusto Dornelas Câmara (UPE)

[email protected]

Resumo: O objetivo deste trabalho é discutir as representações cinematográficas da resistência escrava nos filmes Ganga Zumba (1964) e Quilombo (1984), dirigidos pelo cineasta brasileiro Carlos Diegues. Tais películas fazem parte de um imaginário contemporâneo sobre o Quilombo dos Palmares e suas lideranças mais conhecidas, Ganga Zumba e Zumbi. Além disso, como filmes históricos, essas obras compõe um discurso historiográfico mais amplo sobre as temáticas que representam. Por muito tempo na historiografia brasileira sobre a escravidão – até sua renovação nos anos 1970, 80 e 90 – predominou o discurso que encarava o cativo negro como “coisa”, como um ser que, por sua condição jurídica de mercadoria e pela situação de opressão por parte do sistema escravista, acabava se tornando um “ser coisificado”, destituído de capacidade de ação e pensamento autônomos. Já os filmes analisados neste trabalho dialogam (e de certa forma antecipam) com uma outra corrente historiográfica que resgatou os escravos negros como sujeitos ativos nos processos históricos. Aqueles que mais resistiram e lutaram contra a escravidão foram os próprios cativos. Ganga Zumba (1964) e Quilombo (1984) fazem parte de um movimento cinematográfico conhecido como Cinema Novo (1960-1984). Os filmes históricos desse movimento renovaram a forma de representar a história do Brasil, indo de encontro à história oficial e apresentando a perspectiva de uma história vista de baixo. Assim, o presente trabalho discorre sobre o diálogo dos filmes com a historiografia da escravidão e do Quilombo dos Palmares, sobre a escrita fílmica da história, e sobre como esses filmes podem ser analisados enquanto fontes históricas. Os filmes de Carlos Diegues também fazem parte de um imaginário político e cultural em torno de uma apropriação histórica/mítica do passado de Palmares. Em diálogo com o Movimento Negro da época (1960-1980), tais filmes dotam o passado de sentido e fazem de Palmares um tipo de “simbologia étnica”. Dessa forma, o filmes tanto representam e reconstituem um passado quanto revelam muito sobre o seu tempo de produção e sobre o universo cultural, social e político daqueles que os produziram. Palavras-chave: Cinema-história; Quilombo dos Palmares; resistência escrava; historiografia; Cinema Novo.

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Do literário ao existencialismo: a “escrevivência” no poema “Vozes-mulheres” de Conceição Evaristo

Júlia Barreto Lula

[email protected] Resumo: O presente artigo traz uma discussão acerca das vivências femininas da mulher negra a partir de uma literatura afro-brasileira na autoria da poetisa Conceição Evaristo. O presente poema “Vozes-Mulheres” apresenta os diversos “eus” femininos que são revelados pela poetisa como uma ancestralidade de mulheres negras na condição de escravizadas. O texto literário assume a função de apresentar o discurso existencial com base nas experiências da autora na qual foi ceifada o direito à liberdade de expressão. Sendo assim, a “escrevivência”, projeto literário e ideológico de autoria da poetisa Conceição Evaristo, surge com a necessidade de clamar a sociedade o direito às mulheres negras a valorização enquanto mulher em uma sociedade marcada pelo racismo e lutar contra a desvalorização do sexo feminino presente na sociedade brasileira, principalmente construído acerca da cor da pele e do passado escravagista. Além de um discurso ativista a partir do literário, o poema atenta-nos para a existência de uma poesia que possui corpus definido: a poética negra brasileira ou afrobrasileira. Palavras-chave: Escrevivência negra; poesia negra feminina; ativismo feminino.

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“Primeiras trovas burlescas” de Getulino: a poesia lírica e satírica de Luiz Gama

Magnólia Ferreira Cruz da Paixão (UEFS)

[email protected] Adeítalo Manoel Pinho (UEFS)

[email protected]

Resumo: Composta de sessenta e três poemas líricos e satíricos, Primeiras trovas burlescas (2000) do poeta Luiz Gonzaga Pinto da Gama, edição organizada por Lígia Ferreira Fonseca, reúne poemas da primeira e segunda edição da obra, lançadas em 1859 na cidade de São Paulo e 1861 no Rio de Janeiro pelo autor. Nessa edição também estão os poemas escritos por Luiz Gama na imprensa paulistana (1865-1876) e outros escritos por José Bonifácio, o moço. Os poemas que compõe a obra citada são carregados de sentimentalismo de alguém que viveu na pele as amarguras da escravidão, mas que soube com destreza fazer uso das letras para superar todo o sofrimento vivido e denunciar destemidamente as injustiças sociais do seu tempo. As sátiras políticas e religiosas presentes na obra são bem atuais e ainda hoje despertam o interesse do público leitor, afinal a mentalidade e a conduta daqueles que fazem parte das elites brasileira pouco mudou de lá para cá, tornando a obra repleta de temas contemporâneos, principalmente aqueles ligados à política e a religião. São trazidos para o debate, os poemas “A cativa”, “Sortimento de gorras para a gente do grande tom” e “Novo sortimento de gorras para a gente do grande tom”, de Luís Gama, extraídos da sua única obra Primeiras trovas burlescas de Getulino (2000), sob a ótica crítica de Eduardo de Assis Duarte, Florentina Souza, Lígia Fonseca Ferreira, Nazareth Fonseca, Zilá Bernd e outros. Palavras chaves: Primeiras trovas burlescas de Getulino; Luiz Gonzaga Pinto da Gama; lírico; satírico.

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“Metamorfose” de Geni Guimarães e “Metamorfose” de Cristiane Sobral: vozes de resistência na literatura afro-brasileira

Verônica Vieira de Lima (UFPE)

[email protected] Resumo: A Literatura afro-brasileira tem sido foco de interesse para diversos grupos acadêmicos ao longo dos últimos anos. Por meio desses estudos que podemos perceber um novo delinear de vozes nas diversas literaturas que antes eram silenciadas e relegadas aos espaços de exclusão, sendo assim, buscamos por meio deste trabalho trazer à tona a discussão acerca do discurso de resistência na voz da personagem Geni do conto “Metamorfose” de Geni Guimarães (2001) e da personagem Socorro do conto “Metamorfose” de Cristiane Sobral à luz dos pressupostos dos estudos pós-coloniais que privilegiam a descolonização do conhecimento e consequente ruptura com uma narrativa que privilegia a visão eurocêntrica acerca do sujeito subalternizado. Procuramos apontar os discursos que perpassam o conto, trazendo em seu cerne a tentativa de desconstruir o local social destinado ao negro ao longo da literatura brasileira canônica e assim, a resistência ao discurso canônico de subalternização do indivíduo negro. A fim de percebermos essa modificação da narrativa é necessário que visitemos a literatura afro-brasileira como um espaço destinado ao sujeito negro no papel de produtor de sua própria narrativa. Enquanto aporte teórico Eduardo de Assis Duarte (2007, 2010), Zilá Bernd (1988), Domício Proença Filho (1988) e Octavio Ianni (1988) trouxeram valiosos apontamentos acerca da literatura afro-brasileira, sendo esta capaz de trazer à tona um ponto de vista preocupado em romper com o discurso dominante fazendo isso por meio de vozes que conseguiram desvencilhar- se das imagens negativas que foram construídas e cristalizadas ao longo da literatura canônica. A literatura afro-brasileira é terreno fértil para percebermos as modificações que ocorreram ao longo do tempo no discurso literário nacional e a tomada do lugar de fala buscando assim uma narrativa de (re)existência que constrói por meio do discurso de resistência a tentativa constante de revisitar o passado histórico de uma população que foi escamoteada historicamente. Palavras-chave: Literatura afro-brasileira; Resistência; Estudos pós-coloniais.

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Literatura brasileira novas reflexões

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Machado é fundamental: uma proposta com o cânone literário no 9º ano do Ensino Fundamental

Ana Flávia Ferro Bernardo (UPE)

[email protected] Resumo: O presente trabalho nasceu da constatação de que é necessário reconhecer o direito de todos à literatura canônica como forma de fruição de uma literatura que perpassa o tempo e resiste a ele, remetendo as diferentes gerações aos problemas com os quais a humanidade convive época após época. Assim, pretende-se rememorar a importância do texto literário para a humanização do homem e traçar um diálogo mais estreito entre as ideias de Cândido (2011) e Cosson (2006), o primeiro postulando o direito do estudante ao contato não só com a Literatura, mas com o cânone literário e o último propondo uma maneira significativa de fazê-lo, a partir da sequência básica de trabalho com o texto literário, acrescida de um dos aspectos da sequência expandida. Objetiva-se ainda apresentar uma experiência pedagógica desenvolvida no nono ano do Ensino Fundamental com o conto A cartomante (1884), de Machado de Assis através da aplicação da sequência acima citada. Além dos autores acima mencionados, traremos os trabalhos de Perrone-Moisés (2006), Osakabe (2012), Carvalho (2015), Aguiar & Suassuna (2013) e Freitas (2016). Os resultados mostram a total possibilidade de inserção de textos de escritores renomados da nossa Literatura, já no Ensino Fundamental, uma ampliação do gosto pela leitura entre os estudantes, além de valiosas contribuições do trabalho realizado na formação integral destes. Palavras-chave: literatura; cânone literário; experiência pedagógica.

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O modernismo peculiar de Manuel Bandeira

André Cervinskis (UFPE) Maria José de Matos Luna (UFPE)

Resumo: Pleno de si, dominando tanto o verso livre e branco quanto o soneto, Bandeira fez do Modernismo a escola de sua vida. Ajudou inúmeros autores iniciantes a começar a escrever poesia e participou intensamente da vida cultural do Brasil entre 1920 a 1960, quando veio a falecer. Falou de artes plásticas, música, teatro, cinema, e outros assuntos considerados triviais, inclusive concurso de Miss Brasil. Sua obra em prosa (crônica) e versos é considerada o espelho da alma nacional, pois carrega em si os afetos, desafetos, sofrimentos, mas esperança e labuta do brasileiro comum. Trata da religiosidade brasileira (relação com os santos católicos), português do Brasil (segundo ele, a língua informal: “língua certa, língua errada do povo”, “que fala gostoso Português do Brasil, enquanto nós o que fazemos é macaquear a sintaxe lusíada”); imortaliza o Recife pós-colonial do final do século XIX, com as cadeiras na calçada e conversas de vizinhos. Enfim, traça um panorama histórico-memorialístico que toca nossos sentimentos de pertença às nossas coisas, patrimônio e cores locais. Não recitando seu poema Os Sapos (1918) na Semana de Arte Moderna de 1922, na verdade, Bandeira demonstrava, discretamente, uma atitude equilibrada em relação à tradição literária, não aderindo iconoclasticamente aos pressupostos antipassadista dos modernistas dessa geração. Nosso artigo pretende esmiuçar a contribuição de Manuel bandeira no debate sobre Modernismo e Tradição, provincianismo e Regionalismo; sua relação com o primo e mestre de Apipucos, Gilberto Freyre, que, através do manifesto regionalista de 1926, por ele liderado, impôs duras críticas e campanhas contra as vanguardas emergentes no Brasil das décadas de 1920 e 1930 no país. Palavras-chave: Manuel Bandeira; modernismo; Manuel Bandeira e modernismo; tradição e modernidade em Manuel Bandeira.

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O texto literário na sala de aula: sequência básica com o conto “O menino que não sabia sonhar” de Daniel Munduruku

Antônia Maria Medeiros da Cruz (UFAL)

Maria Ladjane dos Santos Pereira (UNICAP) Silvânia Maria da Silva Amorim Cruz (UPE)

[email protected] Resumo: A leitura literária é repleta de significação e é utilizada, muitas vezes, com um sentido diferente daquele que lhe é comum, é subjetiva, permite diferentes interpretações. É, portanto, uma construção textual, com objetivos e características próprias, com linguagem elaborada de forma a causar emoções no leitor. Dessa forma, a presente comunicação tem como objetivo favorecer a discussão sobre como a leitura literária pode desenvolver o intelecto do aluno, na medida em que o coloca em contato com diversas representações históricas e culturais, através de uma adequada mediação do professor. Para que isso aconteça, à luz de algumas contribuições teóricas de Silva e Cosson sobre as peculiaridades do texto literário, a metodologia proposta neste trabalho é uma Sequência Básica de Leitura (Cosson, 2014) com o conto O menino que não sabia sonhar (1996) de Daniel Munduruku, como sugestão para o trabalho do professor de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. O método utilizado na comunicação consistirá primeiramente em estabelecer uma discussão sobre as peculiaridades do texto literário; em seguida, apresentaremos uma proposta para desenvolver processos de letramento literário na escola, constituída por quatro passos: a motivação que consiste na preparação do aluno para entrar no texto; a introdução, momento que é feita a apresentação do autor e da obra; a leitura, quando o professor acompanha esse processo convidando o aluno a apresentar os resultados do que leu; e a interpretação, momento de compartilhar e ampliar os sentidos construídos individualmente (COSSON, 2014, p 51-65). A pesquisa, já concluída, aponta para resultados satisfatórios no que concerne às contribuições para o desenvolvimento do gosto pela leitura literário, a partir da adequada mediação do professor. Importante salientar ainda que este trabalho é parte da dissertação de Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) de uma das autoras dessa comunicação, Antônia Maria Medeiros da Cruz. Palavras-chave: texto literário; sequência básica; O menino que não sabia sonhar.

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Feminino sombrio e a sua redenção em “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector

Antonielle Menezes Souza (UFS)

[email protected] Resumo: O presente trabalho busca investigar a presença do arquétipo da Grande-Mãe e de que modo acontecem suas manifestações na obra Perto do Coração Selvagem (1944), da escritora Clarice Lispector. Notamos que a obra em tela é repleta de mitos, assim como elementos que nos remetem às características do Feminino sombrio, desse modo, evocaremos o mito de Medéia, como ferramenta elucidativa com a intenção de compreender os desdobramentos do arquétipo da Grande-Mãe, em especial o Feminino sombrio, personificado na protagonista Joana, e por consequência, em grande parte das mulheres contemporâneas, porém, observado de maneira negativa. Joana não é uma menina comum, observamos este fato claramente no perfil diferenciado e questionador, logo associado ao signo do mal, à víbora, conforme afirma a tia da protagonista no decorrer dos capítulos. Em posse dessas informações, julgamos relevante compreender e reconhecer as sombras existentes na psique feminina, assim como, conhecer os mitos e lendas e o seu alto teor complexo e simbólico que circulam a narrativa de maneira ilustrativa nas atitudes da personagem Joana. Para essa análise nos basearemos nas teorias de Carl Gustav Jung na tentativa de mostrar como o mito de Medéia se presentifica na construção da identidade da personagem Joana, e de que maneira a auxilia quanto ao processo de desenvolvimento, expansão e transformação da consciência. Buscaremos, também, suporte nos estudos de Erich Neumann quanto a construção do arquétipo do Grande Feminino e nos escritos de Gilbert Durand no que se refere às imagens provenientes do imaginário, entre outros, como forma de nortear os nossos estudos e promover respostas para os questionamentos levantados, assim como a possibilidade de redenção do Feminino sombrio enterrado nas profundezas do tempo no decorrer da história como forma de promover à mulher, ser feminino, um espaço em sociedade mais inclusivo e igualitário. Palavras-chave: Clarice Lispector; arquétipo; redenção; grande-mãe.

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Entre render-se ao falso e ser fiel ao real: dois caminhos da ficção de Rubens Figueiredo

Carlos Palacios Carvalho da Cunha e Melo (UFRJ)

[email protected] Resumo: Dentre os vários caminhos da ficção brasileira atual, verifica-se dois opostos: um realista, compromissado com uma verdade social; e outro que, tendo o falso como um dos elementos articuladores da narrativa, possui relação mais questionadora com o real. Essas duas possibilidades podem ser identificadas, respectivamente, em Passageiro do Fim do Dia (2010) e Barco a Seco (2001), de Rubens Figueiredo. No primeiro, estamos diante dos conflitos de uma metrópole violenta e desgovernada, cuja batalha interna é protagonizada por atores que levam ao extremo seus papeis sociais. Algo próximo do que Jameson (1995) considera como pornográfico, isto é, obras que nos convidam a contemplar o mundo como se fosse um corpo nu. Já no segundo, nos é apresentada uma relação conflituosa entre aquilo que seria legítimo e o que não seria, por meio de um protagonista perito em obras de arte. Como um investigador, em busca de uma relação causal de fatos, a personagem de Barco a Seco (2001) segue na esperança de se agarrar a uma realidade sólida, mas termina por se trair pelo caminho sinuoso da ficção, quando deixa de seguir seu referencial externo e passa a denominar o que é verdadeiro ou falso a partir de critérios pessoais, de modo a compor a sua própria ficção. Em Passageiro do Fim do Dia (2010), o que dita os rumos da narrativa é um real sobre o qual não se tem controle. A figura central é a do cientista, representada por Charles Darwin no livro que o protagonista lê. Em vez do compromisso com uma reconstrução do mundo a partir de critérios próprios, como em Barco a Seco, neste parece haver um desejo naturalista de se criar uma inventário (Chiara, 2004), se não de uma natureza, ao menos do espaço social e suas relações de poder, fazendo com que as personagens, como os seres vivos de Darwin, sigam à risca o papel que lhes é exigido. De acordo com Costa Lima (1991), cada indivíduo possui uma persona, a carapaça simbólica a partir da qual dota a si próprio e a sociedade de certos papeis para estabelecer as relações sociais – assim, uma persona fixa produzirá uma imagem também única desse mundo; já uma contraditória, levará a uma realidade conflituosa. Deste modo, o objetivo do trabalho é a comparação entre esses dois caminhos percorridos por Figueiredo, de modo a se compreender diferentes formas pelas quais a ficção pode se relacionar com o real. Palavras-chave: literatura brasileira; ficção contemporânea; real; falso.

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Uma leitura sobre os símbolos sacrificiais em “O Guarani”

Eliane Maria dos Santos (FISE) [email protected]

Marcio Carvalho da Silva (FISE) [email protected]

Resumo: Este artigo tem como objetivo retomar a análise do mito sacrificial do índio na obra O Guarani (1857), de José de Alencar, todavia, agora com base nos símbolos do sacrifício indianista devido à devoção e fidelidade do goitacá Peri ao amor incondicional pela portuguesa Cecília, resgatando no texto falas e ações que identificam a submissão e sacrifício do índio aos Mariz, nobre família portuguesa. Na obra em tela, Alencar traz a figura do índio como personagem principal, exaltando a imagem do nativo, dando-lhe atributos de guerreiro, destemido, leal, criando o mito do herói nacional, que, neste caso, é o representado pelo índio citado anteriormente, porém, sacrificado. Assim, ao longo deste estudo, colhemos no texto diversos símbolos e imagens que visam justificar a análise da simbologia sacrificial. Analisaremos esses aspectos sob o ponto de vista simbólico, com base no crítico literário Alfredo Bosi, não obstante à pesquisa sobre o mito sacrificial já realizada pelo teórico, o tema do sacrifício será retomado sob a perspectiva da análise dos chamados ‘símbolos sacrificiais’, recorrentes em todo o romance. Além da análise do mito sacrificial, o estudo está amparo no Benedito Nunes, pois em A clave do poético (2009), o pesquisador descreve os três momentos do advento do mito no romance brasileiro e traz Alencar como o precursor desse movimento. Merece ainda destaque para a realização da pesquisa os estudos dos simbologistas Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, com base no Dicionário de símbolos (1991), imprescindível para a análise dos elementos simbólicos do romance de Alencar. Após análise do romance, em vista dos símbolos sacrificiais analisados em O Guarani (1857), chega-se à conclusão neste artigo que o índio brasileiro, representado por Peri, foi retratado em segundo plano, dado que a obra do cearense privilegia a colonização, bem como a supremacia da cultura europeia e seus valores, principalmente os religiosos. Palavras-chaves: mito; sacrifício; símbolos.

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A imagem do Diabo no conto “Igreja do Diabo” de Machado de Assis

Geferson Silva Machado (UFS)

[email protected] Flávio Passos Santana (UFS)

[email protected] Resumo: O presente trabalho busca investigar a imagem ocidental do Diabo no conto Igreja do Diabo (1884), de Machado de Assis. Procuraremos mostrar a forma que Machado de Assis constitui a sua narrativa de modo que possa reinterpretar a imagem e o papel do Diabo em meio a criação humana. Sabemos que a influência machadiana é marcante e singular, com base no conto da Igreja do Diabo (1884) podemos observar como é retratada de forma crítica e satírica o comportamento humano e suas ambições, assim como a associação constante da imagem relativa ao signo do mal, na figura do Diabo. Contudo, Machado, por vezes cético e pessimista, com suas características peculiares de examinar a realidade nos apresenta várias contradições humanas no desejo de alcançar a salvação. Candido (2004), em seus estudos, nos diz que Machado nos leva a observar a sua a realidade e nos mostra de maneira profunda as mazelas de presentes na alma humana e os reflexos dela na vida social. Notamos, no decorrer das suas obras, críticas à burguesia e à Igreja Católica são, também, de forte presença nas obras machadianas, assim como às relações sociais, contrastando o que as personagens são, e o que elas demonstram ser hipocrisia social. A Igreja do Diabo (1884) é um conto rico em simbologias e analogias que buscam ilustrar lições de sabedoria e ética através dos personagens. Deus e o Diabo, com os mesmos propósitos, a eterna relação entre homem/razão, bem/mal e a realização dos nossos desejos íntimos, simbolizando a dicotomia luz e sombras. Desse modo, para essa análise nos consubstanciaremos dos estudos de Gilbert Durant (1984), no que diz respeito aos regimes diurnos e noturnos, com o intuito de elucidar e traduzir as imagens que eclodem no decorrer do conto. Buscaremos, também, suporte na teoria junguiana no que diz respeito ao inconsciente coletivo, visto ser ele a pátria do mito e o depositário das imagens primordiais, estas essenciais para a compreensão da psique e explicação da contradição humana, constantemente apresentada pelo autor em sua obra. Palavras-chave: Diabo; inconsciente coletivo; Machado de Assis.

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Releitura de narrativas curtas na educação de jovens e adultos (EJA)

Herlan José Tenório Ferreira (UPE) [email protected]

Resumo: Há muito se discute que o trabalho com a língua deve ser baseado nos textos em geral. Ao se pensar no trabalho com o literário ainda há uma crença de que os estudantes não gostam de ler, logo o trabalho com esses textos será realizado com dificuldade. Deixar-se esbarrar nesse estereótipo, na verdade, o professor está negligenciando o seu próprio trabalho. Aos estudantes que leem e aos que não realizam esse ato, precisam ser motivados na escola à leitura com equidade. Lemos da forma como nos foi ensinado (Cosson, 2016), logo o não gostar de ler está diretamente associado à forma como a leitura fora introduzida na vida dos estudantes. O presente trabalho, com base em Cândido (2011), Todorov (2009), Guimarães e Batista (2012) e Boldarine e Annibal (2012), visa refletir sobre a importância das metodologias utilizadas para o trabalho com o texto literário nas aulas de Língua Portuguesa, bem como será apresentado um breve relato de uma experiência vivenciada em turma da IV Fase da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma escola pública municipal do interior de Pernambuco.

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“À opinião pública”: uma chamada machadiana à reflexão

Iasmim Santos Ferreira (UFS) [email protected]

Alexandre de Melo Andrade (UFS) Resumo: O grande escritor do realismo brasileiro, Machado de Assis, tornou-se bastante conhecido pelos seus romances e contos, porém também tem uma vasta produção de crônicas, totalizando pouco mais de 400, produzidas durante algumas décadas, que abrangem suas fases: romântica e realista. Essa produção tem sido pouco valorizada e estudada pela crítica literária. Sendo assim, faz-se necessário resgatar o estudo das crônicas machadianas. Outrossim, algumas das caraterísticas percebidas na obra de Machado, interligadas a outros escritores como Laurence Sterne e Xavier de Maistre, têm sua fonte numa tradição satírica antiga, provinda de Menipo de Gadara, desenvolvida e aprofundada pelo sírio helenizado Luciano de Samósata. Segundo Sá Rego (1989), seus principais recursos são: o pessimismo, a ironia, o questionamento genérico, o olhar distanciado do Kataskopos, o ceticismo, a paródia, o estilo fragmentário. Desse modo, Machado dialoga tanto com os escritos de Luciano quanto com o de outros autores que se vincularam à tradição. Para compreendermos esta relação, recorremos aos estudos de Sá Rego (1989) e Brandão (2001), os quais resgatam essa tradição e a percebem na obra de Machado. Além de outros estudos teóricos, como o de Brayner (1982), que se debruça especificamente sobre as crônicas machadianas. Analisamos a crônica À opinião pública (1867), uma espécie de carta endereçada a “Vossa Excelência” (a opinião pública), que apresenta uma mistura entre os gêneros, como é próprio dessa linhagem, e ainda ocorre a preponderância da chamada “contaminação irônica” do lucianismo, como denomina Brandão (2001). À medida que escreve para a opinião pública, o autor coloca, jocosamente, as suas opiniões públicas: “Quanto às minhas opiniões públicas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo” (ASSIS, 1867, p. 2). Com isso, ironicamente, encaminha a discussão para questões de ordem política. Nosso trabalho analisa as características da tradição luciânica presentes na crônica À opinião pública (1867) e os sentidos engendrados por essa chamada machadiana à reflexão. Palavras-chave: crônica machadiana; tradição luciânica; opinião pública.

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Sobre domínios do demasiado: poder soberano e vida nua em “A benfazeja”, de João Guimarães Rosa

José Aldo Ribeiro da Silva (IF Sertão-PE/UEPB)

[email protected] Resumo: A obra do escritor brasileiro João Guimarães Rosa constitui uma das encruzilhadas mais férteis e desafiadoras do trajeto percorrido, até o momento, pelas letras nacionais. As veredas discursivas engendradas pelo autor têm possibilitado percursos críticos muito diversos, que adquirem renovação e amplitude cada vez que sobre eles são lançadas as luzes de novas perspectivas teóricas ou horizontes reflexivos. Primeiras Estórias (1962) é, nesse sentido, um livro emblemático em função das inúmeras leituras que vem suscitando. Diante dos textos que o integram, a crítica, inicialmente, se questiona a respeito da “primeiridade” sugerida no título, que tanto pode apontar para a travessia iniciática do autor em meio ao gênero “estória” – tal como foi sugerido por Ronái (2005: 21-22) – quanto pode sugerir a elementaridade das questões contempladas pelos textos na constituição do humano, que, como se sabe, é lugar de onde emergem e no qual desaguam as inquietações inerentes ao literário. Tendo em vista esses questionamentos críticos e aceitando a sua legitimidade, este trabalho analisa o conto A benfazeja (1962), que integra o volume de narrativas curtas já mencionado, tendo como parâmetros exegéticos centrais os conceitos agambenianos de Homo Sacer e poder soberano (AGAMBEN, 2004; 2007; 2008). A perspectiva defendida é a que as estórias rosianas trazem à tona conflitos situados na base do convívio social entre as mais diversas comunidades – daí, em parte, decorre a sua universalidade – e o objetivo principal é fazer uma leitura biopolítica do texto rosiano que possibilite a ampliação de perspectivas críticas a respeito do conto e, ao mesmo tempo, promova reflexões sobre as formas como o poder soberano, seja ele representado por um monarca ou por outros agentes sociais, foi e ainda é exercido, mediante a exclusão de determinados sujeitos considerados indignos de partilhar a condição de cidadãos com os homens e mulheres que poderiam ser considerados seus semelhantes. Para o alcance dessa meta, serão considerados, ainda, as reflexões de Deleuze (1992) sobre as formas como o controle é exercido em sociedade e os estudos foucaultianos (1979) relacionados à verdade e poder. Palavras-chave: literatura; ética; biopolítica.

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Os versos cálidos da saga do retirante nordestino em cores, perfumes, sabores e texturas: curvando-se diante da maestria poética de João Cabral de Melo

Neto – Uma experiência com estudantes do Ensino Médio

Magna Kelly da Silva Sales Calado (UPE) [email protected]

Resumo: O trabalho tem como finalidade descrever uma experiência com projeto (LERNER, 2002; (PRADO, 2003) de leitura, análise e encenação de texto literário vivenciada com estudantes do Ensino Médio, tendo como base a obra Morte e Vida Severina (1955) do Pernambucano João Cabral de Melo Neto, escritor singular da Literatura Brasileira. Assim, serão discorridos pontos pertinentes ao modo como os estudantes apreciaram a obra, suas percepções, criação de cenário, montagem e efetivação da encenação. Os estudantes apresentaram as cenas elaboradas num evento público, direcionando os visitantes a ver, sentir, saborear, experimentar a obra num panorama bem inusitado, com ênfase em dar cor, sabor, perfume, textura e vida à Literatura (Cosson, 2009), em suma, um convite para adentrar com todos os sentidos na poética que conduz a acompanhar a saga do retirante nordestino. Essa exposição se desenhou como uma incitação ao encantamento, sentir-se rodeado e envolvido com/pela Literatura. Nessa lente, as minúcias de cada etapa da experiência serão descritas numa perspectiva empírica e de reflexão social. Ainda, será possível refletir sobre as multimodalidades (Lemke, 2010), pois estiveram “em cena” o áudio, a imagem, o movimento e o estímulo intenso dos sentidos. Do mesmo modo, será visto como a multimodalidade entrelaçada com o multiletramento (Rojo, 2012) assegura a ótica de que a literatura amplia a visão de mundo e fortalece o diálogo com ele. Então, os resultados serão discutidos num encadeamento com a relevância que teve a pesquisa para o contexto em questão, que trouxe como intento atrair e envolver os estudantes (Zilberman, 1988). Tendo em vista que esses escritos apresentam em si um tom de denúncia, tristeza, inquietação, tragédia, já que o Severino foge da fome e da seca e nessa fuga só se depara com a morte, ao mesmo tempo em que insere o leitor no florescer da vida, trazendo gosto de esperança, alegria. Portanto, o texto esculpiu-se como um molde aos anseios. É importante ressaltar que os resultados da pesquisa apontam para uma reflexão oportuna no que se reporta à docência de Literatura (Cosson, 2009) no Ensino Médio. Palavras-chave: literatura; ensino médio; multimodalidade; João Cabral de Melo Neto.

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A trajetória heroica de Raquel em “A sombra do patriarca”

Marcio Carvalho da Silva (FISE) [email protected]

Ana Maria Leal Cardoso (UFS) Resumo: Este artigo tem como objetivo traçar e ilustrar a trajetória heroica da jovem personagem Raquel, protagonista da obra A sombra do patriarca (1950), de Alina Paim. A seleção do referido romance deveu-se às várias semelhanças entre a personagem e o arquétipo do herói, mesmo levando em consideração o fato de estar inserida no contexto social e histórico do nordeste brasileiro da década de 1930. A pesquisa visa verificar como o arquétipo do herói se apresenta na obra de Paim, detectando-se até que ponto a narrativa consegue contemplar as marcas do referido mito, uma vez que em essência, o herói em sua exaustiva jornada, busca encontrar a si mesmo, a partir de provas, confrontando ardilosos inimigos, tentando de forma árdua e exaustiva superar os seus limites, a fim de crescer social e psicologicamente e construir um mundo mais justo e equânime. Assim, com base nos objetivos, este estudo encontra-se apoiado nos aportes teórico-metodológicos da mitocrítica do pesquisador Joseph Campbell, fundamentado na obra O herói de mil faces (1949), além do mitólogo, o artigo tem como base as pesquisas sobre o imaginário de Gilbert Durand, bem como na teoria e crítica literária feminista. Após a análise do romance, confirmou-se a hipótese inicial que norteou o trabalho, ou seja, Alina Paim retoma o mito do herói, pois ele, o mito, está ativo na personagem Raquel. Logo, ao ler o texto da Paim, compreendemos que o mito que melhor se adequa à jornada de Raquel pelas terras do patriarca é o mito do herói, a partir deste e em meio às etapas da sua jornada – que segue aquela estabelecida por Campbell –, foi possível se resgatar muitos outros mitos que dialogam com a perspectiva de vida expressa na modernidade. Finalmente, no decorrer da jornada, a heroína não utiliza a força física, ou alguma arma ‘mágica’, típica ao herói clássico, mas da força da palavra, a fim de questionar a condição de dependência e inferioridade da mulher, imersa no espaço social opressor e patriarcal. Palavras-chave: feminino; mito; remitologização.

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Rosa mestre: especulações sobre o aprender

Marcos Palheta (UFPA) [email protected]

Resumo: O que pretendemos investigar dá-se no interior do pensar poético manifesto na experiência humana do aprender, que, vamos mostrar, obrou-se nos escritos de João Guimarães Rosa, mais fortemente em seu conto fulcral O Espelho (1962), constando na série de contos Primeiras estórias (1962). Nele, o narrador conta a experiência que teve ao mirar-se num espelho. Não a experiência especulativa do mundo bem assentada nas intuições sensíveis e em suas condições “transcendentais” a priori que encobrem o transcendente que é o mistério do mundo, rebelde a qualquer rotina e ordenamento lógico. Mas sim a mais humana das experiências que é o existir, enquanto ek-sistere, ou seja, o humano existindo entre o ser e o não-ser, estando já no meio do mundo – sendo no mundo, mas saltando para além do mundo. Queremos mostrar que o aprender a ser é o ponto de fuga de uma experiência especulativa - um mirar-se, na qual acontece o humanizar como brotar no tempo e espaço finitos que apoucam a máxima densidade de ser – experiência ontológica. Não nesta ou naquela perspectiva, mas o aprender de si como apropriação que não se alcança mediante prévio planejamento ou determinismo conceitual ou teorias pedagógicas, pois ninguém possui ou é capaz de cartografar sem perder-se, sem revelar-se então como um nada no espelho – um quantum de luz. O que Rosa nos leva a aprender é que a vida entre miragens é uma profunda ausência, um constante passar de nadas, de vazios, uma pequena luz na escuridão – uma sombra, enfim, uma questão. Assim vamos encontrar neste conto, frente a frente, o Eu que se acredita ser como se vê, uma vez que já sempre se encontra referenciado no meio do mundo, como um aprender de si pelo conhecimento, e, o Eu como um questionar, um aprender que se dá como questão, que depois do salto mortale, por sobre toda a experiência de cognição, revela-se originariamente na pergunta silenciosa, contumaz e mais humana: Você chegou a existir?. Palavras-chave: aprender; experiência; existência; ontologia.

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A poética oral no agreste sergipano: o caso da poesia vaqueira

Mateus Costa Melo (UFS) [email protected]

Vilma Mota Quintella (UFS) Resumo: O presente trabalho tem como objetivo trazer ao debate acadêmico os resultados de minha pesquisa de Iniciação Científica, realizada no período entre agosto de 2017 e julho de 2018, sobre a produção poética oral encontrada no agreste sergipano, mais especificamente, sobre a produção poética tradicional que se desenvolveu e resiste nessa região no âmbito da cultura vaqueira. Foi-me necessário, para um melhor entendimento das particularidades inerentes à tradição oral, um aprofundamento teórico sobre o assunto, o que me auxiliou na melhor percepção do funcionamento da oralidade como uma forma de transmissão poético-cultural. Para isso, utilizei-me, inicialmente, dos estudos de autores como Walter Ong (Oralidade e cultura escrita, 1998), Marshall McLuhan (A galáxia de Gutenberg, 1972) e Paul Zumthor (Performance, recepção e leitura, 2000 e A letra e a voz, 1993). Já adentrando, propriamente, no tema estudado, os estudos que me direcionaram e me serviram como base teórica foram: José de Alencar (O nosso cancioneiro, 1994), Luís da Câmara Cascudo (Vaqueiros e cantadores, 1984), Almeida Garret (Romanceiro, 1875) e, ainda, Sílvio Romero (Cantos populares do Brasil, Vol. I e II, 1885). Com base nesse estudo prévio sobre a poesia oral que se formou no Nordeste brasileiro em torno dessa cultura, trato de contextualizá-la historicamente, destacando as modalidades encontradas, ainda hoje, em festas de vaquejadas e encontros de poetas cantadores, de modo a ressaltar aspectos que definem a sua natureza poética. Logo em seguida, disponibilizo uma amostra da produção coletada durante a pesquisa de campo e, considerando o seu lugar na herança cultural nordestina, apresento informações biográficas sobre seus autores e procedo a uma classificação dos poemas, de forma a evidenciar as suas particularidades temáticas e composicionais. Palavras-chave: ciclo poético do boi; cultura oral nordestina; poéticas da oralidade.

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Discurso polifônico e a figura da mulher em “Memorial de Maria Moura” de Rachel De Queiroz

Mislânia Barros Oliveira (UPE) [email protected]

Renato Lira Pimentel (UFPE/UPE) [email protected]

Resumo: O presente trabalho se propõe a analisar o que revela o discurso polifônico na obra Memorial de Maria Moura (1992) de Rachel de Queiroz. Temos como objetivo principal investigar a dupla personalidade da personagem Moura, ora doce, ora aguerrida, ora feminina, ora masculina relacionada ao ser da escritora Rachel de Queiroz levando em consideração que tipos de identidades são construídas na percepção das diferentes vozes dentro do texto. Com esse intuito, é importante mostrar a participação da mulher como protagonista e produtora de uma narrativa épica que se opõe aos preceitos da época. Nesse sentido, os nossos objetivos específicos são os seguintes: i) primeiramente, queremos refletir sobre o conceito de discurso na literatura e a sua relação com a feminilidade e a construção de identidades, fazendo uma relação entre a personagem Moura e a escritora da obra; ii) em seguida, analisaremos o discurso polifônico através do discurso direto da protagonista na obra discutindo sobre os conflitos existenciais mostrados e fazendo uma leitura da formação de identidades femininas dentro do texto. Utilizaremos como arcabouço teórico-metodológico os estudos de Fairclough (2001) a respeito de construções identitárias e os trabalhos de Brandão (2004), Maingueneau (2001), Ferreira (2001) e Ducrot (1987) para as discussões sobre discurso polifônico. Considerando que a obra analisada possibilita uma ampla visão sobre os aspectos que queremos discutir, sejam relacionados às construções identitárias, sejam relacionadas ao discurso polifônico, entendemos, a partir dos conflitos existenciais da personagem principal, a formação de diferentes figuras femininas retratadas. Desse modo, podemos perceber que o texto literário procede com a denúncia de injustiças que aconteciam no sertão nordestino, principalmente com a mulher, entre outros aspectos. Assim, este estudo tenta contribuir com as questões que atualmente emergem para reflexão nos diferentes âmbitos da sociedade no que se refere ao papel da mulher e de que modo ela pode assumir esse papel na superação de desafios impostos por uma sociedade ainda com muitas marcas de misoginia.

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Incursões da voz e outros diálogos na poesia de Waly Salomão

Morgana Chagas Ferreira (UFRJ) [email protected]

Resumo: Se traçarmos uma breve linha a respeito da vida de Waly Salomão, notaremos nele uma figura muito plural e que bebeu de diferentes fontes. Nascido na cidade de Jequié, Bahia, filho de pai imigrante sírio e mãe sertaneja baiana, Waly formou-se em Direito pela Universidade Federal da Bahia, mas nunca exerceu a profissão. Além de poeta e letrista reconhecido – seus poemas foram musicados por diversos artistas, como Gal Costa, Caetano Veloso e Jards Macalé –, foi produtor cultural atuante em múltiplas áreas: diretor da Fundação Gregório de Matos de Salvador, coordenador do carnaval da Bahia e protagonista do filme Gregório de Matos (2002). Também ficou preso no Carandiru, em meados dos anos 1970, por porte de maconha e dessa experiência surgiu seu primeiro livro, Me segura qu’eu vou dar um troço (1972), referência indiscutível da época e, segundo o próprio Waly, teria sido a partir daí que a sua escrita se libertou. Toda essa pluralidade ampliará as possibilidades de composição poética fazendo com que seus textos sejam marcados por uma pesquisa das possibilidades de incorporação dos mais diversos repertórios formais, transitando entre a música popular (samba, rap, m.p.b.) e a cultura letrada com grande facilidade e, por consequência, performatizando formas não convencionais de reflexão poética. Em outros termos, é na mistura e na absorção de múltiplas vozes que a sua poesia se orienta. À luz de Éric Benoit sobre o que seria a voz poética, em Dinâmicas da voz poética (2016), este trabalho pretende analisar o empenho do escrito poético walyniano em se tornar palavra falada, tátil e sensorial, ainda que seja a partir de uma leitura silenciosa de cada leitor: a presença de uma voz que grita, gagueja, hesita, berra. Além disso, por ser uma poesia que parece retornar ao seu estado primevo de palavra pronunciada e que aponta para um jogo performático do qual o sentido do próprio poema pode passar a depender, será necessário atentarmos para o estudo feito por Paul Zumthor, em Performance, recepção, leitura (2000), com o intuito de verificar aproximações entre o texto poético e a performance. Palavras-chave: Waly Salomão; poesia; performance; voz poética; cultura.

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A metapoesia em João Cabral de Melo Neto e em Joaquim Cardozo

Nadja Maira Baltazar da Silva (UPE)

[email protected] Zeneide Leite Silvino (UPE)

[email protected] Jairo Nogueira Luna (UPE)

[email protected] Resumo: O presente estudo objetiva, discutir o conceito de metapoesia a partir das reflexões metapoeticas presentes em parte da obra poética dos autores pernambucanos modernistas: João Cabral de Melo Neto e Joaquim Cardozo. Através da análise de poemas referentes a este conceito, de forma específica, aqueles pertencentes à três livros cabralianos: O Engenheiro (1942-1945), A Educação Pela Pedra (1962-1965), e Psicologia da Composição com a Fábula de Anfion e Antiode (1946-1947) e em um pertencente ao engenhoso construto poético cardoziano: Signo Estrelado (1947). A fim de identificar a maneira como cada um dos poetas trazem esta consideração metalinguística em seus versos, sem deixar de considerar e destacar as peculiaridades e irreverencias de cada um, seja do poeta do Capibaribe (João Cabral de Melo Neto), ou, do engenheiro-poeta (Joaquim Cardozo). Para isso teremos por base as exposições teóricas de Balbino (2010), Müller (1996), Barthes (2004), Ignez e Caretta (2015), Miranda (2004) e Sêrro (2012). Palavras-chave: metapoesia; João Cabral de Melo Neto; Joaquim Cardozo.

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A metaficção em “A/c editor cultura segue resp. cf. solic. fax”, de Amilcar Bettega Barbosa

Raul da Rocha Colaço (UFPE)

[email protected] Resumo: O conto intitulado A/c editor cultura segue resp. cf. solic. fax (2004), presente na obra Os lados do círculo (2004), do autor gaúcho Amilcar Bettega Barbosa, funda-se através de uma entrevista concedida por um escritor a um editor de cultura, via fax, cujas perguntas são suprimidas do leitor, revelando-se, apenas subliminarmente, mediante as respostas do artista. Diante desse quadro, buscamos investigar como se dão as manifestações metaficcionais nessa narrativa, na medida em que o protagonista discute acerca do papel do escritor, do leitor, da editora, do crítico literário, da ficção, da arte em geral, entre outros indícios que confirmam a existência da metaficção nesse texto literário. Então, para realizarmos esta apreciação com consistência, são-nos úteis as contribuições de Gustavo Bernardo (2010), de David Lodge (2011) e de Massaud Moisés (2013) no que diz respeito às bases teóricas que fundamentam a metaficção; assim como as discussões travadas por Masé Lemos (2007) e por Rafael Dias Ferreira (2011) no que concerne à análise da obra de Bettega Barbosa; e, mais além, por Gotthold Ephraim Lessing (1998) e por Sérgio Roberto Massagli (2010) no que tange ao estudo comparativo entre as artes plásticas e a literatura. Em adição a isso, trazemos à baila as ficções de outros autores, como El Aleph (1949)e Las ruinas circulares (1940), de Jorge Luis Borges (2000; 2003), e La creación (1982-1986), de Eduardo Galeano (1991), para iluminar determinados aspectos, a exemplo da simultaneidade da imagem e da sequencialidade da escrita, e da especulação tendente ao infinito sobre origem. Como resultado, podemos ressaltar que o conto ora abordado, através dos seus elementos metaficcionais, destina-se a borrar não só as fronteiras entre teoria, crítica literária e literatura, como também a confundir o leitor sobre as fontes e/ou influências artísticas do protagonista (e, por extensão, de Amilcar Bettega Barbosa) e, especialmente, sobre a noção de autoria de textos em geral, de modo a convidar o leitor para ser mais um (outro) dentre os possíveis responsáveis pela escrita da narrativa A/c editor cultura segue resp. cf. solic. fax. Palavras-chave: metaficção; Amilcar Bettega Barbosa; literatura brasileira contemporânea.

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A Literatura nas prisões: uma reflexão sobre a execução do projeto LÊberdade no presídio feminino alagoano

Rosangela Santos da Silva

Resumo: Este trabalho tem como objetivo provocar reflexões sobre o acesso à literatura nas "celas" de aula no presídio feminino alagoano Santa Luzia; ao passo que também propõe responder ao questionamento: o acesso ao conhecimento literário favorece às reeducandas o gosto pela leitura? Para isso, observamos e registramos o processo pedagógico que envolve literatura e ensino em dois ciclos do projeto LÊberdade que possibilita a remição da pena através da leitura, conforme prevê a Recomendação nº44 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A partir das observações, identificamos que as práticas de leitura, a partir da implantação do projeto LÊberdade favoreceu o acesso às obras literárias e com isso, despertou, consideravelmente, o prazer de ler por um número significativo de reeducandas. Esse resultado ratifica a importância da inserção do ensino da literatura nas práticas educativas do sistema carcerário.

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Repensando o ensino de literatura: uma abordagem multimodal a partir da obra “Dom Casmurro”

Sheila Vieira Nanes dos Santos Galvão (UPE)

[email protected] Resumo: Na presente pesquisa, versamos sobre o porquê de ensinar literatura (Perrone-Moisés, 2016) em todas as suas nuances, sua importância na construção de um leitor mais reflexivo e para quem ensinar (Candido, 2011). Também tecemos uma reflexão, que não se encerra aqui, a respeito desse ensino na Educação Básica, especificamente no Ensino Fundamental – Séries Finais, com vistas a repensá-lo, principalmente, pelo fato de sermos afetados pelas tecnologias digitais que permeiam a sociedade do século XXI. Discutimos também sobre a necessidade de rever conceitos acerca do letramento, considerando que não podemos mais pensar em um termo singular, mas considerar a sua pluralidade e a necessidade de mais discussões acerca do fato de que os indivíduos são colocados diante de novas demandas de comunicação, que exigem multiletramentos (Rojo; Barbosa, 2015). Propomos ainda uma abordagem teórico-metodológica amparados em uma perspectiva multimodal, visto que partimos de um trabalho que recorre a mais de uma modalidade para se construir um texto (modalidade verbal, modalidade gestual, por exemplo). Nossa proposta partiu da leitura de uma obra canônica, o clássico machadiano Dom Casmurro (1899), para se promover a literatura no Ensino Fundamental - Séries Finais, especificamente em uma turma de 9º ano, de uma escola pública, no município de Cachoeirinha – PE, e produção de textos de diferentes gêneros (com a multimodalidade mais evidente), considerando a possibilidade de se estabelecer diálogos entre literatura e as ferramentas disponibilizadas nos meios digitais, haja vista o fato de que não podemos mais desconsiderar os efeitos trazidos pela tecnologia digital à contemporaneidade. A prática pedagógica evidenciou que a obra literária, trabalhada numa abordagem que considerou as diversas modalidades de se construir um texto, bem como de se ler, afetou positivamente a maioria dos discentes no que tange ao estímulo à leitura do texto literário, que foi considerado um texto que sensibiliza, desperta curiosidade, estimula à reflexão e confere prazer. Palavras-chave: ensino de literatura; multiletramentos; multimodalidade.

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“Perseguida pelo medo”: Reflexões a respeito da violência contra a mulher

Shirlene Andrade de Jesus (UFS) [email protected]

Flávio Passos Santana (UFS) [email protected]

Resumo: O presente trabalho busca investigar o conto Perseguida pelo medo (2013), da paranaense-sergipana Inez Resende de Jesus (Lembranças de um paraíso, 2013), em que analisaremos de que maneira a violência contra a mulher estará manifestada na obra. No conto Perseguida pelo medo (2013) é retratada a triste realidade da mulher brasileira que vive amedrontada em meio à violência urbana. A narração gira em torno da personagem Poliana, uma estudante que foi sequestrada, fortemente violentada e agredida depois que voltava da faculdade para a sua casa. Em posse dessa informação, sabemos que a literatura é uma ferramenta poderosa e rica para a denúncia, e por consequência, compreensão da sociedade. Assim, vislumbrando os horizontes traçados por Antonio Candido, em sua obra Literatura e Sociedade (2000) buscaremos investigar as influências concretas exercidas pelos fatores socioculturais, além do elo estabelecido entre a literatura e a vida social. Notamos que, infelizmente, é recorrente em nossa sociedade punitiva, patriarcal e castradora atitudes de silencieamento da mulher através das várias formas de violência. Desse modo, buscaremos executar uma leitura crítica da obra em tela, relacionando o corpo no imaginário feminino e a sua representação na narrativa com o intuito de apresentar um estudo a respeito da presença do corpo feminino através das tipologias criadas por Elódia Xavier (2007), na obra Que corpo é esse? (2007) em que investiga em uma seleção de textos do início do século XX até a atualidade, a representação da mulher e das lutas e violências enfrentadas na sociedade. Além disso, a metodologia escolhida inclui a proposta de Ramalho (2006; 2013), de estudo crítico e enfoque nas representações da mulher e divulgação da Lei 11.340, conhecida como “Lei Maria da Penha”. Palavras-chave: corpo; imaginário feminino; mulher; violência.

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Instinto feminista em “Quarto de Despejo”

Thays Cristina da Silva Souza (UFPE) [email protected]

Letícia Raiane dos Santos (UFPE)

Resumo: O ser humano antes mesmo de assumir-se às pessoas enquanto defensor de algo, alguém ou alguma coisa já revela, por meio de formas diversificadas, seus princípios e concepções acerca do que prega e/ou adota. Ainda dentro desta emancipação, há a possibilidade de um determinado indivíduo apresentar perspectivas ideológicas e elementos discursivos que o conectem a identidade de um movimento social específico antes mesmo de engajar-se em um. Diante disso, a proposta do presente estudo é de, a partir do trabalho com Quarto de Despejo (1960), de Carolina Maria de Jesus, identificar idiossincrasias, através de análises aos comportamentos, ações e discursos da autora e personagem do diário, que revelam aspectos reconhecidos como instintivamente feminista. Sendo a escritora em estudo além de mulher, negra, moradora da favela do Canindé, mãe solteira de três filhos, catadora de papel e com a escolaridade interrompida logo nos anos iniciais, esses detalhamentos são essenciais e precisos, haja vista que a universalização de uma categoria, qualquer que seja ela, exclui e, por isso, não compreende nem atende as demandas e necessidades de cada grupo. Devido a isto, o estudo será analisado a partir das considerações ao gênero, à etnia e à classe da autora, cujos aspectos são fortemente revelados na obra que pretendemos analisar. Uma vez se tratando, em Quarto de Despejo (1960), de uma voz que não só fala, mas que também faz parte do espaço em que fala, Carolina não vive à parte ou só visualiza e relata, sob a forma de um diário, o cotidiano da favela. Ela é uma personagem, juntamente aos seus filhos, que além de viver sentem na pele as dificuldades, desafios e mazelas de ser favelada. É uma constante busca pela sobrevivência. Em razão disso, tem-se a necessidade de refletir acerca do conceito lugar de fala, cujo aporte será em Ribeiro (2017). Além disso, julga-se preciso, também, a título de maior detalhamento na pesquisa, uma breve compreensão histórica do movimento feminista no Brasil nos períodos que se deram antes, durante e depois da década de produção do livro, cujo aspecto será fundamentado em Pinto (2010) e Damasco (2009). Palavras-chave: diário; mulher negra, ações e discursos; instinto.

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Recife: a mucambópolis no conto “O despertar dos mocambos”

Thiago Azevedo Sá de Oliveira (CAPES/UFPA) [email protected]

Resumo: Com base na leitura do conto O despertar dos mocambos (1936-1937), de Josué de Castro (1908-1973), este trabalho procura interpretar o processo de significação do espaço de mocambo do Recife presente na contística josueniana. No referido texto, a paisagem assume o papel de protagonista, uma vez que evidencia a experimentação de valores culturais, discursivos e sociais, em curso na ação narrativa. Nos termos que Michel Collot (2012) enuncia o conceito de Geocrítica, isto é, estudar menos os referentes ou as referências de que o texto se nutre e mais as imagens e significações que ele produz, busca-se analisar o conto O despertar dos mocambos (1936-1937) em vista de observação que acompanha a criação imaginária da ‘mucambópolis’. A obra de Josué de Castro, notabilizada pelo sucesso do livro Geografia da fome (1946), responde ainda pelo conjunto de textos que demonstra o interesse do autor pelas artes e pelas letras. Pouco familiar ao público contemporâneo, o Josué-literato acompanha a formação médica do homem de ciência, embora tenha o cientista adquirido maior prestígio que o poeta, contista e romancista. Revisitar a produção literária deste escritor contribui para entender a feição cultural e ética de sua bibliografia. A presente análise adianta-se, de modo a expor como a leitura expansiva da arte empresta à obra do "cientista" linguagem leve e prosaica, avessa ao tecnicismo que se espera do também acadêmico. Atualmente, a obra josueniana interage tanto com a ampla consulta sociológica, quanto com a abordagem recente da teoria literária. Mais do que revelar a moldura da capital pernambucana, a apreciação do conto O despertar dos mocambos (1936-1937) oferece a possibilidade de repensar a relação entre a paisagem e a escrita ficcional. Palavras-chave: conto; geocrítica; Josué de Castro; mocambo; Recife.

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Diferentes olhares sobre “Meninos carvoeiros”: uma experiência na sala de aula com o poema de Manuel Bandeira

Thiago Barros dos Anjos (UPE)

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Resumo: A escola representa um espaço privilegiado para o estudo dos gêneros das diferentes esferas: jornalística, religiosa, publicitária e, principalmente, literária. A sala de aula deve oferecer condições necessárias para garantir espaço para a leitura dos gêneros do domínio literário, uma vez que o ensino de Língua Portuguesa deve assegurar as múltiplas oportunidades de acesso à literatura. Entre os muitos gêneros da esfera literária, o trabalho didático com poema possibilita múltiplas leituras, além da linear. No âmbito escolar, sobretudo nos anos iniciais do ensino fundamental, a leitura do poema ainda aparece numa escala bem menor quando comparada a leitura de outros gêneros literários e/ou de outros domínios. Além disso, a escola utiliza-se do poema para ensinar equivocadamente a gramática normativa. Em muitos casos, o ensino tende a fugir do texto e a aula se resume a estudo de regras gramaticais, muita decoreba, frases isoladas e exercícios prontos, atividades que não contribuem para a construção do letramento. Por esta razão, o artigo aqui apresentado pretende fazer uma análise do poema Meninos carvoeiros (1967), de Manuel Bandeira e, ainda, relatar uma experiência exitosa desenvolvida numa turma de 5º ano do ensino fundamental, em uma escola pública da rede municipal de ensino, com poema de Bandeira. O presente artigo objetiva promover a aproximação entre leitor-poema e vem validar o pressuposto de que é possível, desde os anos iniciais da escolarização, assegurar a presença do texto literário na sala de aula. O poema Meninos carvoeiros (1967), presente na obra Poesia completa e prosa (1967), de Manuel Bandeira (1996), funcionou como força motriz para análise do fazer poético e para execução das atividades em sala de aula, o que inclui a produção de videopoema. Acrescenta-se que o artigo também recorreu as postulações de Candido (2004), Coelho (2000), Pinheiro (2002) e outros autores, uma vez que suas postulações trouxeram importantes contribuições no decurso da pesquisa. Palavras-chave: poema; experiência exitosa; videopoema; sala de aula.

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A fronteira ficcional na produção documental de Clarice Lispector

Vanise Albuquerque Santos (UNEB) [email protected]

Resumo: Atualmente, é notável o crescente número de publicações de textos de cunho pessoal e autobiográfico, tanto no Brasil quanto no exterior. Tal fenômeno atrai um número cada vez maior de leitores e críticos. Esse traço está presente na literatura em publicações de correspondências e relatos pessoais de escritores (as), a exemplo das Cartas de Clarice Minhas queridas (2007). Ao longo do desenvolvimento dos estudos em Literatura Comparada sobre questões que envolvem a tríade literatura/cultura/estudos culturais, observa-se a importância que estes textos autobiográficos adquirem para o processo de leitura crítico-biográfica e elucidação de subjetividades, revelando a emergência de novas alteridades e discursos, além de evidenciar o estreitamento entre a fronteira do ficcional x documental. No espaço biográfico aqui contemplado é possível refletir, por exemplo, como através da escrita de Minhas queridas (2007) o “eu” individual revelado nas cartas de Clarice demonstra a busca de reelaboração do “eu” social e do “eu” feminino. Para tanto, esta abordagem dialoga com a perspectiva teórica sobre o lugar da Literatura Comparada enquanto campo disciplinar de conhecimento em consonância com os estudos culturais, já que tais estudos não excluem a análise textual, constituindo-se, assim, numa forte investida para a afirmação de vozes historicamente silenciadas, favorecendo a abertura de questionamentos (inter) disciplinares. Sendo assim, o presente trabalho desenvolve uma discussão sobre a importância da leitura literária crítica a partir dos estudos empreendidos pela Literatura Comparada e sua relação com os Estudos Culturais contemporâneos, a fim de que a partir da percepção da produção documental que recentemente ganha à cena no cenário literário, possa ser percebida a riqueza que tais documentos, ditos (auto) biográficos, revelam como potencial investigativo e desvelador de infindáveis questões de cunho histórico, político e cultural de determinada(s) época(s) constituindo uma verdadeira dialética entre o passado e o presente. Palavras-chave: literatura; estudos culturais; cultura; crítica biográfica.

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Literatura e espiritismo: uma análise de obras psicografadas por Chico Xavier

Verônica Bemvenuto de Abreu e Silva (UnB)

Resumo: O trabalho aqui apresentado almeja, dentro do campo da literatura brasileira, discutir as colaborações do médium Francisco Candido Xavier no campo da literatura espírita no Brasil e analisar as obras literárias Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (1938) - de Humberto Campos e Nosso Lar (1944) - de André Luiz e seu impacto no campo da literatura e do movimento espírita do período de publicação dessas obras. Pode ser que se estranhe falar de literatura espírita nesse contexto, mas no caso brasileiro deve-se lembrar que a religiosidade é de tamanha importância que as religiões e crenças acabam por influenciar umas às outras. A literatura espírita é um tipo de literatura consumida por pessoas de todas as religiões e que esteve por muito tempo à margem da crítica literária e dos estudos em literatura. Torna-se relevante avaliar como essas obras impactaram o movimento espírita brasileiro visto que até hoje são obras bastante estudadas e lidas no Brasil e em outros países. É de importância também pesquisar a contribuição do médium mineiro Chico Xavier para a expansão do movimento espírita brasileiro e o desenvolvimento da literatura espírita. Essas obras podem ser consideradas como sendo obras de pouco valor para a crítica literária, mas de grande circulação entre o público. O Brasil possui já uma extensa e rica produção literária, segundo a Superinteressante, em 2012, mais de 150 milhões de livros espiritas já tinham sido vendidos no país, somando mais de R$ 500 milhões de faturamento do mercado editorial, nessa pesquisa ainda não tinha sido considerado o impacto que os filmes espíritas lançados a partir de 2010 tiveram (Superinteressante, 2012). Apresenta-se, portanto, este trabalho com a intenção de fomentar discussões sobre a literatura espirita brasileira que, por muito tempo esteve fora do âmbito acadêmico e, portanto, se enquadra no campo acerca das novas reflexões na literatura e crítica literária, e problematizar o lugar que esse tipo de literatura possui na atualidade. Palavras-chave: literatura brasileira; literatura espírita; Chico Xavier; crítica literária.

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Oráculo del rayado de la semilla / Oráculo do risco da semente

Waldelice Souza (UNIRIO) Conceição D'Lissá (UNESA)

Resumo: Este trabalho é parte da pesquisa de metodologia da tese de doutorado “Oráculo do Risco da Semente”, em andamento no programa de Pós-Graduação em Memória Social, do Centro de Ciências Humanas da UNIRIO. A minha hipótese é de que o oráculo de ifá, como praticado no Brasil e em outras áreas da América Latina, como Cuba, dá base a um tipo específico de memória afrodescendente de caráter remanescente. Esta remanescência é diferente da perspectiva reminiscente, que orienta grande parte dos estudos sobre memória nas universidades. E exige semiologia diferente para a sua compreensão, uma em que o rito seja considerado. Em Ifá, as sementes associadas à composição da grafia ideogramática dos odus são importantes na proclamação das narrativas. Estas ocupam a posição do significado, descortinando outra teoria de conhecimento. Foi perseguindo essa teoria de conhecimento, estabelecida pela narratização dos significados, que compus pesquisa metodológica com entrevistas a sacerdotes brasileiros iniciados em Ifá. Agora, proponho, para este congresso, a exibição de uma das entrevistadas, a da sacerdotisa Conceição d'Lissá, analisada a duas vozes. A primeira, a minha, da pesquisadora/autora e, a segunda, a da entrevistada/coautora. Palavras-chave: memória; entrevista; intercultural; Candomblé; Ifá.

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Literatura infanto-juvenil o que se conta em Brasil e África

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A literatura moçambicana: entre mar e terra

Anderson de Souza Frasão (UPE) [email protected]

Jeferson Rodrigues dos Santos (FISE) [email protected]

Resumo: Esta comunicação surgiu a partir do curso de extensão “A literatura moçambicana: entre mar e terra”, por nós ministrado de setembro a novembro de 2016, no Núcleo de Estudos sobre África e Brasil, da Universidade de Pernambuco. Seguindo critério temático norteador, buscamos investigar no referido curso a simbologia, a memória, a história e os mitos africanos que se constroem e acercam a partir das temáticas mar e terra. Se em sua origem as letras moçambicanas, escrita em língua portuguesa, reduplicaram cânones poéticos europeus trazidos pelos portugueses, as que lhes sucederam apresentaram uma cisão e um afastamento em relação a elas. Em fases marcadas pela busca da consciência e pela necessidade de (re)descobrir a nação, as tradições orais se colocaram como instrumento para pensar não apenas a(s) identidade(s) nacional(is), mas a própria alteridade em relação a portugalidade, veiculada pela política assimilacionista. Mar e terra, pois, elementos da natureza que geralmente eram cultuados com símbolos/fontes vitais para os nativos, passaram a se associar a diáspora dos homens escravizados. Assim sendo, esta comunicação se ocupará em enfocar as obras de José Craveirinha, Noémia de Sousa, Rui Knopfli, Luís Carlos Patraquim, Sónia Sultuane, Eduardo White e Mia Couto, a fim de demonstrar um panorama da expressão cultural do país: tradição oral e religiosidade banto, contexto colonial, formação da consciência nacional e produção contemporâneas.

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Era uma vez o protagonismo de personagens negros: uma leitura do conto “A princesa e a ervilha”, de Rachel Isadora

Maria Rosane Alves da Costa (UPE)

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Resumo: Em pleno século XXI, um dos gêneros literários que mais encantam o público infantil são os contos maravilhosos, os quais continuam sendo imortalizados no imaginário coletivo e, por isso, ainda são utilizados em sala de aula. Com isso, é de extrema importância que haja um olhar mais acurado com relação a esses textos, uma vez que, na maioria das vezes, eles são povoados de imagens estereotipadas. Alguns dos estereótipos mais recorrentes nessas narrativas são representações da figura do negro, a qual tem sido construída, ao longo do tempo, por meio de imagens depreciativas que se vinculam às ideias de inferioridade, feiura e submissão. Nesse contexto cabe salientar a importância de dar visibilidade a obras literárias que valorizem a diversidade cultural e, assim, contribuam para a desconstrução dessas imagens estereotipadas a respeito do negro. Uma dessas obras é o conto A princesa e a ervilha (2016), de Rachel Isadora, narrativa que consiste numa adaptação do clássico de autoria de Hans Christian Andersen. Na versão dessa escritora norte-americana, o conto do escritor dinamarquês é ressignificado a partir do contexto africano, uma vez que passa a ser ambientado em África e apresenta uma princesa negra como protagonista. Assim sendo, a presente discussão tem o intuito de investigar de que maneira os elementos constituintes do conto A princesa e a ervilha (2016) permitem a construção de um novo olhar acerca da figura do negro, propondo a desconstrução de alguns estereótipos predominantes na literatura infanto-juvenil tradicionalmente. Para embasar essa discussão, que é de base qualitativa, recorreremos principalmente aos estudos de Lima (2008, 2018), Sendak (1984) e Brookshaw (1983). Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; contos maravilhosos; estereótipos; princesa negra; protagonismo.

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Por meio das memórias e infância(s): uma proposta de análise comparada das obras de Ondjaki e NoViolet Bulawayo

Patrícia Carvalho (UNICAMP)

[email protected] Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os romances do escritor Ondajki, Bom dia, Camaradas e da escritora Noviolet Bulawayo, Precisamos de novos nomes. Busca-se analisar e comparar, por meio de uma perspectiva pós-colonial, o romance de formação em cada uma das obras e como o gênero literário foi construído nas narrativas. Dutra (2012) afirma em seu texto “A infância, Guerra e a Nação” que a infância metaforiza um tempo de prazer só em parte segmentado por diferenças de classe, raça etc. Tal metáfora inicia-se no período pré-independência, ganhando destaque ao associar-se ao anseio de libertação do jugo colonial. Desse modo, este recurso literário nos permite pensar que os dois romances também foram construídos em épocas semelhantes, e retrata o desenvolvimento interior de cada personagem em confronto com os acontecimentos anteriores de seu país, deixando explícitos os conflitos gerados no decorrer dessa formação. Apesar do tempo da narrativa das duas obras serem distintos, há um amadurecimento das personagens que evoluem por meio de conflitos e descobertas. Ambos os romances estão ressignificando a identidade e a pós colonialidade da nação a partir da perspectiva histórica dada por duas crianças. Sendo assim, será discutido o estudo da representação de gênero, no caso o romance de formação, em cada uma das obras de dois escritores africanos, NoViolet Bulawayo escritora do Zimbábue, e Ondjaki, da Angola. Pretende-se discutir a escrita de memória de cada romance, visto que cada narrativa trata de uma memória subjetiva e o discurso de um eu. Essa comparação será atestada por meio dos trechos das obras em que se notam semelhanças entre o contexto da narrativa do personagem/narrador, visto que nos dois casos as personagens principais são também narradores da história, e a relação autobiográfica com o contexto da obra. Outro fator importante para a análise será a representação de gênero das duas personagens, Darling (Precisamos de novos nomes) e Ndalu (Bom dia, Camaradas). Será possível verificar os conflitos enfrentados pela menina e pelo menino com base nos diversos subsídios das narrativas que facilitarão essa análise, visto que na obra Precisamos de novos nomes há o assunto de gravidez precoce, o estupro, o assédio no ambiente de trabalho. Já na narrativa de Ondjaki, Ndalu vivência outros conflitos comuns pra sua faixa-etária. Desta forma, nota-se as diferentes vivências que perpassam as questões de gênero nas duas obras. Palavras-chave: literaturas africanas comparadas; memória; infâncias.

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Ynari e o poder evocativo das palavras: uma análise do conto de Ondjaki

Pietro Gabriel dos Santos Pacheco (PUCRS) [email protected]

Resumo: Ambientado num contexto de guerra civil pós-independência angolana, o presente trabalho tem por objetivo a análise do conto Ynari: a menina de cinco tranças, do escritor Ondjaki. Com bastante desenvoltura, somos colocados diante de uma narrativa simples, mas grandiosa em seu conteúdo. Ynari, nossa protagonista, é uma menina que gostava de passear perto de sua aldeia, ouvir os pássaros e sentar-se na margem do rio. Certo dia, em uma dessas andanças, encontrou um pequeno homem saído do capim. O elemento fabular aqui se encontra presente e nos leva a vermos a guerra pelo controle da nação renascida pelos olhos de uma criança. O processo de descolonização portuguesa, terminado em 1975, abre margem para outros embates, estes agora ligados aos grupos de resistência que visam a tomada de poder e o controle do território de Angola. MPLA, UNITA e FNLA permanecerão, com alguns breves períodos de trégua, em conflito até 2002. Neste mesmo ano é publicada a estória de Ynari. Os horrores da guerra são apontados de maneira delicada e inteligente, por meio da adição de elementos fantásticos e morais, sem romper com a visão de mundo político e social, realocados como elementos secundários, face ao poder da palavra. o conto não se refere apenas ao acontecimento e não procura trazer em sua gênese a fidelidade, porém é impossível negar traços cotidianos de quem o relata. Uma das formas de teorizar seria entender a escrita como forma de explicação e conscientização acerca dos acontecimentos de um determinado povo. A cultura, nesse caso, é um dos pontos-chave para a compreensão das ações das personagens que atuam de maneira coletiva, e fazem com que aqueles que leiam sobre ela, sintam-se identificados. A dedicatória do autor “para todas as crianças de Angola e do mundo”, reflete isso. Para teorizar serão abordadas as teorias de Bruno Bettelheim, Robert Darnton e Elias Canetti. Palavras-chave: Guerra Civil; Conto; Fábula; Literatura; Independência;

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Literatura Portuguesa novos estudos

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Repensando o ensino da literatura: uma proposta possível com o gênero conto

Andréa Micheline Almeida (UPE) [email protected]

Resumo: Considerando a leitura uma ferramenta indispensável nos dias atuais, e, ao mesmo tempo, sabendo das dificuldades de se trabalhar a oralidade na Educação de Jovens, Adultos e Idosos - EJAI, percebe-se no trabalho com contos, uma possível alternativa para dinamizar o ensino da literatura, priorizando o trabalho com a leitura para que o estudante adquira maior fluência no desenvolvimento da linguagem oral. Na tentativa de alcançar a formação do leitor. Essa proposta se reporta a obra: “Receita para se fazer um monstro” (2016), do autor Mário Rodrigues , da cidade de Garanhuns. A coletânea de contos do referido autor demonstra de forma simples e clara, temas e linguagem; do cotidiano, favorecendo o interesse do estudante por apresentar narrativas que se assemelham com o seu meio social. O presente artigo apresenta uma proposta de trabalho com o gênero conto, voltada para os estudantes da EJAI – fases finais, a partir de uma didática com diferentes estratégias de leituras, para ampliar os conhecimentos, tornando a leitura prazerosa e possibilitando a formação do aluno leitor. O desenvolvimento desta pesquisa está fundamentado no embasamento teórico de: Bakhtin (1998), Freire(1981), estes trouxeram valiosas contribuições, na definição do conceito de contos, na construção de estratégias de leitura e no desenvolvimento da linguagem oral. Palavras – chave: EJAI; conto; leitura; oralidade

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O “Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa: da estrutura protohipertextual no mundo real à transformação em hipertexto no mundo

virtual

Camylla Herculano Cabral de Barros (UFPE) [email protected]

Ermelinda Maria Araújo Ferreira (UFPE) [email protected]

Resumo: O corpus do trabalho propõe traçar um caminho histórico do Livro do desassossego, desde a sua estrutura protohipertextual – precursor do “hipertexto” até a proposta virtual lançada por Manuel Portela, denominada Arquivo LdoD - Nenhum problema tem solução, bem como compreender o processo de codificação utilizados no projeto. Assim, será pontuada possibilidade permitida por esse modelo, de interação entre o leitor e a obra, como também, é percebido dentro do Livro de Desassossego. Ressaltando, a liquidez presente na construção do livro, que possibilitou e possibilita inúmeras edições compiladas de formas diferentes. Diferentemente do hipertexto e da literatura eletrônica, o LdoD não utilizam novas tecnologias, como animações e multimídias, mas em ambos os casos existe uma possibilidade de construção colaborativa. O livro impresso tem uma sequência preestabelecida pelo autor em função da configuração física do material, o livro, e de seus objetivos a alcançar com o texto. O leitor até pode fugir desta sequência, optando por ler aleatoriamente, mas sem garantias de que terá acesso à totalidade da proposta original. É indubitável que a dimensão física do texto limita a forma de manuseio e de recepção. Por isso, a liberdade implicada no meio virtual permite ao leitor ultrapassar as configurações autorais mais restritivas do livro impresso, pois existem possibilidades ilimitadas, inclusive a mais característica, e intrínseca ao hipertexto, que é a da interferência prevista do receptor na construção de estruturas diversas para a obra. Dessa forma, O Livro do Desassossego busca essa atitude cooperativa do leitor para com o autor, na tentativa de construir um sentido, o sentido na percepção do leitor/compilador. A tecnologia possibilita que a proposta do Livro do Desassossego seja possível, um livro móvel e moldável, sem ordem fixa, onde seus fragmentos poderiam se permutar em todas as direções e sentidos, tornando esse movimento mais fácil para a interação com o leitor. Palavras-chave: Fernando Pessoa; Livro do Desassossego; Hipertexto; Literatura eletrônica.

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“Jalan jalan”: um passeio estético de Afonso Cruz

Drisana de Moraes (UFRJ) [email protected]

Resumo: “Jalan significa rua em indonésio, disse-me. Também significa andar. Jalan jalan, a repetição da palavra, que muitas vezes forma o plural, significa, nesse caso, passear. Passear é andar duas vezes.”. Assim apresenta Afonso Cruz o título de seu último livro, lançado ao fim de 2017. O autor português contemporâneo, que é também músico e ilustrador de livros infantis, caracteriza sua nova obra como uma leitura de mundo e nos convida a uma viagem estética a partir de sua própria viagem ao oriente e às suas reflexões, movimentos tão caros à cultura portuguesa como um todo. Com uma disposição de páginas que se aproxima e expande a proposta de Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar, o autor nos convida a depreender um caminho particular, podendo ou não ser cronológico, sobre as trilhas por ele abertas nos seus mais de cem fragmentos, sobre as mais variadas temáticas. Nesse sentido, a presente pesquisa se propõe não somente a apresentar menos brevemente a obra e sua estrutura, como também desenhar um caminho próprio de reflexão sobre o tema mesmo da viagem e suas diferentes possibilidades, localizando o caráter humanizado ou não dessa prática de deslocamento que marca há mais de quinhentos anos a história portuguesa. Ainda, pretende-se marcar o caráter que não é só geográfico, mas também temporal do deslocamento, tal como associá-lo aos conceitos de arte e trabalho, tendo como base a ideia de humanização da natureza como ponto de confluência entre as três práticas mencionadas. Como referenciais teóricos, a fim de afinar a leitura proposta, Walter Benjamin e Adolfo Sanchez Vázquez se fazem presentes. Autores como Camões e Almeida Garret serão também trazidos, assim como o autor angolano Ruy Duarte de Carvalho, como representante de uma proposta muito bem desenhada do que entende como viagem, no plano ético e estético, ao publicar Desmedida. Palavras-chave: Literatura portuguesa; literatura portuguesa contemporânea; viagem.

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A escrita da História na “História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil” de Pedro de Magalhães Gândavo (c. 1540-

1580)

Luciano José Vianna (UPE) [email protected]

Resumo: A historiografia do século XVI, em específico a relacionada ao contexto da chegada do homem europeu ao continente americano, representada pelas diversas crônicas compostas durante este século, apresenta características relacionadas à historiografia medieval. Portanto, pode-se afirmar que os objetos historiográficos compostos durante este século e relacionados a este contexto representam um encontro entre o passado medieval e uma nova realidade, onde esta nova realidade foi descrita através de percepções culturais medievais e materializada através de diversas crônicas. Nesta comunicação, analisamos a obra intitulada História da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, uma das obras do corpus documental do projeto que coordenamos e desenvolvemos atualmente em andamento intitulado As crônicas do século XVI: o homem entre o Medievo e o Novo Mundo (Projeto de Pesquisa desenvolvido na Universidade de Pernambuco/campus Petrolina entre abril de 2016 e março de 2020), observando a escrita da história por parte de seu autor, Pedro de Magalhães Gândavo (c. 1540-1580), tanto no que diz respeito à forma da escrita da História quanto ao seu conteúdo. Nosso objetivo é abordar este documento considerando-o como a manifestação de um pensamento ainda voltado para o Medievo e que, portanto, pode ser considerado como um produto historiográfico medieval que serviu para expressar as primeiras percepções sobre a experiência europeia do século XVI. Para isso, utilizaremos as propostas de Jaume Aurell (o qual considera as crônicas medievais como fontes que narram um período, como fontes que fazem parte da época em que foram compostas e como artefatos literários que devem ser entendidos em sua forma e conteúdo) e de Peter Burke (a partir do conceito de “tradução cultural”, ou seja, a tradução de uma cultura com base em conhecimentos já adquiridos), respectivamente para o trabalho com o objeto em si (crônica) e com o contexto no qual foi composta (século XVI), ou seja, um contato entre diferentes culturas. Palavras-chave: Crônicas do século XVI; Pedro de Magalhães Gândavo; Historiografia medieval; Escrita da História.

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“Reconhecer o desconhecido”: o ensaísta ao redor da fogueira

Mariana de Mendonça Braga (UFRJ) [email protected]

Resumo: Autor de poemas, ensaios e ficção, o português Helder Macedo inaugura oficialmente sua produção no ano de 1957, ao publicar um pequeno volume de versos intitulado Vesperal. Quase duas décadas depois, ele se inicia no campo da crítica literária, com o lançamento de Nós, uma leitura de Cesário Verde (1975), e apenas na década de 1990 deixa vir à luz sua vertente ficcionista, por meio do romance Partes de África (1991). No entanto, sua estreia na prosa ficcional constitui-se como exemplo significativo da constante desarticulação dos gêneros literários canônicos promovida ao longo de toda a sua obra. Partes de África é composto por 18 capítulos, muitos deles autônomos entre si, no meio dos quais nos deparamos com a reprodução integral de um trabalho acadêmico anteriormente apresentado em congresso pelo autor. Sob o título de “Reconhecer o desconhecido”, o ensaio discorre sobre o paradoxo decorrente da visão dos colonizadores acerca dos povos colonizados. Segundo o narrador, os imperialistas europeus de 1500 teriam projetado seu imaginário sobre os povos nativos encontrados em Brasil, África e Ásia, de modo a metaforizarem o que lhes escapava à compreensão, trazendo a diferença para os limites de seu território de conhecimentos e crenças, ou seja, para o que lhes era semelhante e, nesse sentido, mais facilmente abordável; em outras palavras, naturalizando a diferença. Assim, a expectativa do que se iria encontrar teria precedido o conhecimento, e a interpretação do encontrado se sobreposto à observação. O desconhecido acabara sendo visto como reflexo do já conhecido. Se, por um lado, a inserção desse capítulo de cunho ensaístico no romance já aponta uma espécie de hibridização textual, o que mais nos interessará no momento será observar de que maneira aparece o componente narrativo na construção do ensaio em questão. Essa proposta será articulada por meio de correspondências entre a voz enunciativa de Helder Macedo e a de um tipo muito específico de narrador, encarnado na figura do contador de histórias que é descrito por Walter Benjamin no texto “O contador de histórias: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”. Além disso, pensando ainda no resgate da tradição oral de contação de histórias sobre a qual disserta Benjamin, será levado em conta o componente épico da narrativa ensaística de “Reconhecer o desconhecido” no que concerne ao percurso iniciático da figura do narrador-personagem, o qual se desenvolve na confluência entre enunciado e enunciação no bojo do ensaio. Palavras-chave: Helder Macedo; “Reconhecer o desconhecido”; ensaio; narrativa; percurso iniciático.

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Literaturas Africanas cânones em formação

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A feminilidade na escrita literária da Ana Paula Tavares, escrevivências que libertam

Andréa Cristina Mendes Costa (UPE)

[email protected] Resumo: Este artigo visa apontar aspectos importantes na literatura feminina angolana. Sendo essa literatura, imbricada por um sentimento de independência e uma construção nacional pós-colonial. O objetivo central do referido artigo é, discutir a literatura de Ana Paula Tavares, enquanto escrita feminina e libertária. Como objetivos específicos, pretende-se analisar a influência da literatura feminina no processo de libertação de Angola bem como o papel mulher/feminilidade na literatura angolana. Considera-se que compreender a literatura angolana se faz necessário, não apenas para obter o conhecimento de outra cultura, de outro país, mas primordialmente de combate ao racismo, e ao machismo, como também de combate a uma sociedade excludente, capitalista e escravista. Neste sentido, Ana Paula Tavares caracteriza-se com uma poetisa angolana, mulher que revolucionou a literatura deste país. Destaca-se ainda, que a formação da literatura de Angola é muito recente quando comparada a de outros países, principalmente aqueles que não viveram um processo de colonização. É importante compreender a simbologia feminina na literatura de Ana Paula Tavares, trazida no livro Ritos de Passagem, o qual é instrumento de análise do presente artigo. Tendo como critério de analise a sua Feminilidade, Individualidade e Corporalidade. Neste ponto, ressalta-se na obra o papel da Feminilidade, o reconhecimento da mulher enquanto ser que sente, que tem ideias. A Corporalidade, a mulher vista apenas para procriar e a Individualidade Feminina. É cada vez mais importante dar voz a uma dita minoria que foi silenciada por um processo cruel de colonização. Os resultados dessa pesquisa apontam a escrita de Tavares como um instrumento de luta, uma literatura de combate, de resistência, assumindo também uma posição de protesto com sua melancolia e suas metáforas, que se transforma trazendo ao centro a mulher, enquanto ser que ama, que sente prazer, que luta, que vai a guerra, que é forte e frágil. Palavras-Chaves: Literatura, educação e feminilidade

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A caminho de uma Angola independente: uma proposta de análise de “Mayombe”

Daynara Lorena Aragão Côrtes (UFS)

[email protected] Jeane de Cassia Nascimento Santos (UFS)

[email protected] Resumo: O enredo visto em Mayombe, de Pepetela, apresenta os anos que antecederam a proclamação da independência angolana. Em sua construção narrativa, vemos como as contradições apontavam o cruzamento ora harmonioso, ora dissonante entre os diferentes grupos étnicos que compunham o movimento de guerrilha. Diante disso, desde a formação das organizações anticoloniais até atuação nos trezes anos da guerra de libertação, as contradições internas prenunciaram os dilemas de uma nação recém liberta, delineando novos rumos e enfrentando novas formas de dominação. Todavia, a unidade nacional projetada configurou o impulso da luta contra o império português e propôs à Angola novos meios de visualizar o futuro mesmo submetida às diferenças, chamadas de “tribalismo”. Pelo caráter histórico presente no romance, o pano de fundo da narrativa traz à luz do fato uma nova leitura que tanto revela as dificuldades enfrentadas pelos guerrilheiros, quanto exibe a ambiguidade nas imagens discursivas deles diante da população. Nesse sentido, existe uma variação que aponta o guerrilheiro como herói e ao mesmo tempo como anti-herói. É na discussão da criação dessas imagens variáveis que o presente trabalho propõe uma análise acerca das relações de poder no contexto colonial, como fundamentais para compreender os encaminhamentos que sucederam a independência, e tenciona o estudo do gênero literário no país como um revide ao projeto expansionista europeu pretendido pela burguesia no séc. XIX. Desse modo, no que tange à política de expansão do imperialismo português, suas implicações e reflexos surgidos em Angola, embasamo-nos em Albert Memmi (1989), Frantz Fannon (1997) e Edward Said (1995), assim como, em Mikhail Bakhtin (1998), Georg Lukács (2000) e Massaud Moisés (1975) para analisar o fenômeno do gênero romance surgido no séc. XIX. Palavras-chave: Mayombe; Pepetela; Guerrilha; Romance; Angola.

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Pelo olhar de Maundlane: marcas do colonialismo

Isabela Batista dos Santos (UFS) [email protected]

Jeane de Cássia Nascimento Santos (UFS) [email protected]

Resumo: Este trabalho debruça-se sobre uma literatura africana de língua portuguesa, mais especificamente a literatura moçambicana e busca observar a relação entre a história, a literatura, a nação e a identidade. Esse posicionamento se dá a partir do entendimento de que se trata de uma literatura marcada pelo colonialismo e perpassada por lutas para a independência do domínio português. Assim, investigamos a literatura pós-colonial e pós-moderna, trazendo uma ex-colônia para o centro da discussão. E, além disso, destacamos a autoria de Paulina Chiziane. Selecionamos, para a discussão neste trabalho, o conto “Maundlane: o criador”, segunda narrativa do livro As andorinhas de Chiziane (2013). Nossa seleção foi feita com intuito de desviar das leituras mais usuais das obras de Paulina, que se inclinam mais sobre as vivências femininas. Então, trouxemos uma estória que nos deu suporte para uma análise histórica, pois Paulina nos apresenta, ficcionalmente, a trajetória de Eduardo Chivambo Mondlane, um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), partido que lutou para a libertação desse país da subjugação de Portugal. À vista disso, como suporte teórico trazemos à luz Albert Memmi (1967), Edward Said (2011), Frantz Fanon (2008), Maria Fernanda Afonso (2004) e Russel G. Hamilton (1981). Com isso, observamos as marcas do contexto do colonialismo, presentes na narrativa, e notamos seus efeitos na vida dos colonizados moçambicanos através da ótica de Maundlane. Frente à subjugação obrigatória ao colonizado, o personagem Eduardo Maundlane é a representação de um colonizado que possui na sua base de formação a educação familiar tradicional recebida da avó e da mãe, sendo que seu pai não participa dessa criação por ter sido um dos que se perderam ao sair de Moçambique. Assim sendo, inquieto pela possibilidade de ter apenas os destinos permitidos pelo sistema colonial como ser um escravo, trabalhar nas minas ou ser um sipaio, Maundlane estuda, faz viagens em busca do conhecimento e depois volta à Moçambique. Volta, então, a fim de organizar a luta contra o colonialismo, e faz isso até a morte. Portanto, é o herói nacional que impulsiona e serve como exemplo para espíritos revolucionários. Palavras-chave: Identidade nacional; Literatura africana de língua portuguesa; Século XX; Moçambique.

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A tessitura do passado em “O Baile de Celina”, de Lília Momplé

Jeferson Rodrigues dos Santos (FISE) [email protected]

Anderson de Souza Frasão (UPE) [email protected]

Resumo: Os discursos da crítica literária das literaturas africanas tratam as obras de Lília Momplé sob a ótica da ficcionalização da história de Moçambique por, em sentido amplo, tematizarem a experiência colonial dos povos moçambicanos. A esse passo narrativo correspondem a presença de personagens colocados à margem, o diálogo com a educação, o debate acerca das relações de gênero e de raça. São elementos reveladores de uma escrita que explora estratégias narrativas na abertura de espaço à mediação do lugar de fala do povo moçambicano e, em consequência do diálogo com os processos identitários, observa as problemáticas relacionadas à constituição da nacionalidade. Por isso, a partir do conto “O Baile de Celina”, de Lília Momplé, este trabalho analisa a representação da experiência colonial vivida pelos povos moçambicanos, sobretudo do ponto de vista da reflexão acerca do modelo educacional no contexto colonial e seu (possível) redimensionamento na realidade pós-colonial. A abordagem se sustenta no pensamento de Appiah (1997) e de Chatterjee (2004), além de promover diálogos com o gênero conto, Afonso (2004), e estabelecer paralelos com as ideias de Padilha (2004) e Alós (2011). Palavras-chave: Lília Momplé; experiência colonial; ficcionalização da história.

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Uma leitura das imagens simbólicas da serpente no conto “Os olhos da cobra verde”, de Lília Momplé

Jennifer Santos Rodrigues (UFS)

[email protected] Antonielle Menezes Souza (UFS)

[email protected]

Resumo: O presente trabalho busca trazer à tona um recorte do que se refere a literatura moçambicana, dando ênfase as conexões possíveis entre a criação literária da autora em questão, e nossas percepções sobre os símbolos presentes na obra analisada, trazendo um vínculo entre a representação do povo em um determinado momento da sua história, e de sua nação. Portanto, teremos como objetivo abordar as representações das imagens simbólicas da serpente no conto Os olhos da cobra verde (1997) de Lília Momplé, que retrata a capital de Moçambique, Maputo, antiga Lourenço Marques. O pano de fundo da narrativa se concentra na transição entre o período de declaração da independência do país, seguida e até o fim de uma guerra civil, que durou quinze anos, a qual dizimou diversas comunidades, forçando a fulga dos membros remanescentes para áreas desconhecidas e afastadas de onde tinham construído suas vidas. Nesse contexto é inclusa a personagem principal, Vovó Facache que após deparar a morte repetidamente durante os conflitos da guerra, e a perda do seu lar e grande parte de sua família, terá a oportunidade de encontrar-se com a Cobra Verde, animal de caráter místico narrado pelo pai de Facache, e a partir desse momento de rememoração do passado lhe ocorrerá a possibilidade de expectativa a um futuro melhor. Nos consubstanciaremos por meio dos estudos da simbólica da Grande Mãe e sua percepção mitológicas realizados por Erich Neumann e, também, nos respaldaremos na teoria de Mircea Eliade referentes ao mito do eterno retorno. Desse modo, buscaremos construir as relações entre mulher, Facache, e cobra, como figuração de um ciclo de transformação, ilustrado através do mito que será fio norteador na jornada da protagonista. Configurando uma ressignificação e criação do símbolo ofídico, representando não só a mutação, mas também como um veículo de transformação e esperança. Palavras-chave: grande mãe; imagens simbólicas; mito; serpente.

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Música e literatura cabo verdiana na obra literária “Mornas eram as noites” de Dina Salústio

Klebia de Araújo Sampaio (UPE)

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Resumo: O presente trabalho pretende discutir a relação entre música e literatura como um dos aspectos mais expressivos da cultura cabo - verdiana e sua contribuição para a afirmação da identidade cultural a partir da análise dos contos da obra Mornas eram as noites da autora Dina Salustio, referenciando–se no gênero musical, morna. Do ponto de vista literário, a morna,trata-se de um texto poético popular, tradicional e oral, do ponto de vista histórico, é considerada como um aspecto importante para a construção da identidade nacional Cabo verdiana. Apesar da literatura e da música serem duas artes distintas, a convergência entre ambas torna-se uma constante no universo artístico em Cabo verde, essa relação de proximidade é traduzida em vários textos literários e históricos. A literatura como um produto cultural é comumente estudada a partir de seus aspectos estilísticos, formais, estéticos, esse tipo de abordagem, muitas vezes, ignora as relações antropológicas que o texto mantém com a vida social. Considerando que, em literatura, a leitura é um saber cuja pertinência quem decide quase sempre é o leitor, a percepção dos aspectos culturais são importantíssimos no entendimento e na co – autoria leitora, quando se pensa que o mundo mimetizado ou refletido não é uno mas múltiplo e que nem mesmo o sujeito que produz a obra ou aquele que a lê é homogêneo. Este estudo se dedicará a descrições e analises da relação entre música e literatura produzida em Cabo Verde, sua contribuição substancial para a abertura de possibilidades que permitem refletir sobre a construção da identidade sociocultural local. A obra Salustiana, assim, conta histórias cotidianas, personagens, inquietações, tragédias, loucuras, com uma presença constante da música e dos aspectos linguísticos locais “Crioulo” (a linguagem crioula), alguns dessas, narradas com um intimismo reflexivo e confessional construídos a partir de cenários comuns as comunidades do arquipelago. A partir disso, fica evidente, a necessária contribuição dos estudos antropológicos e etnográficos para os estudos literários bem como, as possibilidades que esta área da ciência, pode proporcionar para o amadurecimento de uma visão pluricultural das produções literárias e musicais em Cabo Verde. Palavras-chave: Estudos culturais, música, literatura Cabo verdiana.

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Literatura de mulheres: o feminismo apontado por Chimamanda Adichie

Mara Carolina de Lima Galvão [email protected]

Resumo: Este trabalho pretende apresentar, sob a perspectiva da obra de Chimamanda Ngozi Adichie – nigeriana que tem se destacado por abordar principalmente a relação dispórico descolonial em seus escritos – a difícil reconstrução de identidades de mulheres que lutam por igualdade num contexto da África pós colonial/descolonializada. Em sua obra, a África, mais precisamente a Nigéria, é reconstruída sob a perspectiva feminina e feminista, cujas personagens – mulheres que lutam por igualdade, pela manutenção de direitos básicos, pela mesma liberdade que exercem os homens e pela preservação de suas identidades africanas – refazem suas histórias acentuando suas identidades nos não-lugares aos quais passam a pertencer mediante os fenômenos da diáspora e da África/pátria des/pós/colonizada. Acompanharemos seus três romances Meio sol amarelo, Hibisco Roxo e Americanah. Em Meio sol amarelo, conhecemos a guerra de Biafra, conflito real ocorrido durante a década de 60, na perspectiva de personagens cujas realidades constrastantes são transpassadas pela guerra. Em Americanah, Ifemelu narra sua trajetória até o momento presente, quando adulta e correspondendo ao ideal de sucesso e progresso de quem desfrutou do sonho americano, decide voltar a Nigéria. Em Hibisco roxo, Kambili é uma jovem que vive sob o domínio do pai, uma figura machista e extremamente oprimida e opressora, que age usando como escudo a sua fé cristã, que contrasta com as tradições de sua família, vistas como “rituais pagãos” frutos da ignorância e da presença do demônio. Em todas as obras vemos a guerra, as tragédias deixadas ainda pelos seus resquícios, e como o seu rastro cinde famílias, lugares e identidades. Nelas são tangíveis os conflitos de identidade das personagens, que são a própria Nigéria: um espaço de diferenças, onde a herança da colonização e da guerra deixaram conflitos, pobreza, ambição, mas de onde brotam a esperança por uma terra com mais igualdade e respeito entre seus cidadãos. Pretende-se aqui apresentar conceitos sobre a diáspora, a colonização e quais as consequências destes eventos na vida de mulheres africanas, como suas identidades são por estes fenômenos cindidas, como se dá sua árdua reconstrução e como ficam seu sentimento de pertencimento e sua perspectiva sobre a sua terra. Palavras chave: Mulheres, diáspora, descolonização, literatura africana, feminismo.

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Cânones e contextos: a produção literária de Paulina Chiziane

Márcia Neide dos Santos Costa (UEFS) [email protected]

Resumo: Pensando nas discussões acerca da formação de cânone literário e de como a literatura atual vem sendo produzida, buscamos, neste trabalho, discutir/refletir sobre como estar inserida, nesse contexto do cânone, a literatura moçambicana da escritora Paulina Chiziane. Chiziane possui uma produção literária composta de treze livros com publicações que seguem até os dias atuais. Sua primeira obra data de 1990 (Balada de amor ao vento), seguindo com Ventos do Apocalipse (1993), O sétimo juramento (2000), Niketche- Uma história de poligamia (2001) e o mais recente, O canto dos Escravos (2017). Essas produções foram pensadas não para que os críticos ou estudiosos literários classifiquem-nas dentro ou não de um cânone literário. Chiziane parece interessada em expressar, através da palavra, sentimentos e/ou fatos que lhe incomoda. As obras são criações artísticas e devem ser pensadas como tal, pelo seu valor, pela sua essência e não necessariamente para ser consideradas, pela crítica literária, literatura “pronta” para fazer parte do Cânone. Apesar de Chiziane já estar entrando para o cânone literário, ela mostra-se preocupada em escrever aquilo que julga importante discutir na contemporaneidade, dentro do universo moçambicano. A escritora atende seus desejos subjetivos, individuais e coletivos, na tentativa de alcançar um público (não apenas moçambicano) que reflita e questione sobre as temáticas abordadas em seus romances, contos e poesias. Temáticas essas que versam sobre a mulher na sociedade moçambicana, colonização, descolonização, cultura hegemônica e outros. A autora produz uma literatura engajada, de militância e resistência, visando realizar uma literatura de referência para pensar afirmação de uma identidade nação. Esse é o projeto literário de Chiziane, assim como outros escritores africanos. Um projeto político singular de moçambicanidade. Da mesma maneira como o projeto político português nasceu da negação de Portugal em ser uma província espanhola, o projeto político moçambicano nasce da negação dos Moçambicanos em continuarem a ser província portuguesa. (NGOENHA, 1998, p.20). Portanto, este trabalho discute qual o propósito da escrita de Chiziane, dialogando com as discussões do Cânone literário. Para o embasamento teórico deste estudo, utilizamos: Luiz Roberto Cairo (2004), Fernanda Cavacas (2016), Chaves e Macedo (2016), Severino Elias Ngoenha (1998), Laura Cavalcante Padilha (2005), Leyla Perrone-Moisés (2000) entre outros. Palavras-chave: Cânones; Escrita moçambicana; Paulina Chiziane.

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Relações de poder nas literaturas moçambicana e angolana

Moisés Henrique de Mendonça Nunes (UFS) [email protected]

Resumo: A literatura africana de língua portuguesa traz diferentes formas de representação da realidade, além de promover outras indagações que perpassam questões relacionadas à história, às relações sociais, cultura e à construção das identidades. Posto isso, o presente trabalho partirá das reflexões surgidas a partir da pesquisa de título: “Literatura, nação e identidades no contexto das literaturas africanas de língua portuguesa”. Apoiados na análise dos contos “Faustino” (1960), do angolano José Luandino Vieira, que traz observações sobre as condições de trabalho e abuso sofrido pelo negro colonizado, e “As mãos dos pretos” (1964), do moçambicano Luís Bernardo Honwana, que questiona a imagem do negro construída pelo colonizador, pretendemos promover reflexões sobre questões sociais, históricas e políticas a partir dessas narrativas. Destaca-se em nossa análise o sistema de assimilação que inferioriza o nativo num processo de silenciamento, exploração e marginalização, paralelo a denúncia de racismo sofrido pelo negro. Além disso, por meio dos contos aqui elencados, busca-se compreender um pouco mais como se davam as relações de poder entre colonizador e colonizado tanto em Moçambique, quanto em Angola. Como aporte teórico-metodológico, dentre outros, os trabalhos de Maria Aparecida Santilli (1985), Maria do Carmo Sepúlveda e Maria Teresa Salgado (2006), Rita Chaves (1999), Tânia Macedo e Vera Maquêa (2011), que abordam o universo angolano e moçambicano, como sua diversidade literária; Angélica Soares (1989), Antônio Cândido (1976), Ligia Chiappini Moraes Leite (1985) e Nádia Batella Gotlib (1985), como apoio à análise do gênero escolhido. Também trazemos discussões sobre pós-colonialismo e processo de colonização, a partir dos textos de Benjamin Abdala Junior (2004), José Luís Cabaço (2007), Thomas Bonnici e Lúcia Osana Zolin (2009). Palavras-chave: Conto; Relações identitárias; Colonização; Angola; Moçambique.

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Literaturas afro-americanas cultura e resistência

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Mulher negra, mulher indígena

Bianca Freitas Santos (IFSP) [email protected] Davina Marques (IFSP)

[email protected] Resumo: Nosso trabalho é resultado da leitura e do atravessamento de duas obras literárias: Metade Cara, Metade Máscara, de Eliana Potiguara, e Insubmissas Lágrimas de Mulheres, de Conceição Evaristo, autoras indígena e negra, respectivamente. O objetivo inicial foi identificar a que modos de opressão as mulheres negras e indígenas são submetidas, além do machismo, além de buscar causas comum para esses modos de opressão. Trata-se do fruto do segundo ano de desenvolvimento de um projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio, intitulado “Por entre questões indígenas, afro-brasileiras e africanas”. Esse projeto, inspirado pelas leis que determinam a obrigatoriedade do ensino de cultura e história indígena e afro-brasileira nas escolas, propõe que seja possível estabelecer pontes de contato entre culturas através da arte. Dessa forma, as pesquisas realizadas são feitas a partir do contato da bolsista com obras de autoria indígena e afro-brasileira. No trabalho em questão, a bolsista teve a oportunidade de ler e confrontar duas obras e questionar as influências da colonização na construção do papel social da mulher indígena e da mulher negra, identificando semelhanças entre ambas. Metade Cara, Metade Máscara e Insubmissas Lágrimas de Mulheres são obras literárias que consolidam muito bem as diferentes formas de opressão às diferentes mulheres do mundo e são excelentes formas de resistência indígena, negra e feminina.

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Representações da identidade Afropolitana: as personagens femininas de “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie e “Precisamos de Novos

Nomes”, de NoViolet Bulawayo Isabela Tomé Oliveira Castro (UNICAMP)

[email protected]

Resumo: Esta proposta de comunicação tem o objetivo de discutir como a construção da identidade africana de mulheres diaspóricas é retratada na literatura contemporânea, tendo como recorte duas obras literárias africanas: Americanah, romance da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, do ano de 2013, e Precisamos de Novos Nomes, romance da zimbabuana NoViolet Bulawayo, também lançado em 2013. Minha intenção é delimitar, por meio da teoria pós-colonial, de que maneira o conceito de Afropolitanismo aparece em cada romance e mapear como as relações de gênero marcam a construção da identidade das personagens principais dos mesmos. A negociação de identidade encontrada em ambas narrativas se manifesta através de personagens femininas provenientes de uma África ambivalente, que se conectam ao compartilharem experiências similares: Ifemelu e Darling passam por experiências gendradas, tocadas pela condição de ser mulher, negra e imigrante num país que faz delas vítimas naturais da subalternidade. Há uma forma inovadora na escrita dessas autoras da pós-colonialidade no que tange a representação do sujeito africano diaspórico contemporâneo. A escolha das obras foi norteada por uma semelhança fundamental entre elas e também por diferenças interessantes. As diferenças são: os países africanos de origem e a maneira que seus contextos políticos influenciam as histórias; a classe social das personagens principais que corroboram para experiências distintas como imigrantes; e ainda a organização textual da narrativa, vereda em que as autoras trilham rumos estéticos diversificados, apesar de haverem pontos de intersecção. O que as une, no entanto, é o fato de cada uma ao seu modo apresentar ao leitor o que Simon Gikandi (2011) diz ser a desestruturação dos Africanos em meio à crise do presente transformada em oportunidade para reimaginar novas narrativas do futuro. Utilizando alguns recursos textuais semelhantes, desde o uso de línguas nativas africanas sem tradução até o uso de nomes próprios e penteados de cabelo que expressam ancestralidade, ambas as obras mostram uma África e uma América em que as personagens são conduzidas, pela força das circunstâncias, a lutarem por uma identidade que não as apague como mulheres e as contemplem em toda sua complexidade geográfica. A intenção é mobilizar os elementos fundamentais da Teoria Pós-Colonial para uma leitura da situação literária no contexto contemporâneo, unindo suas ferramentas interpretativas à investigação das especificidades dos sujeitos diaspóricos africanos abordados nos romances. Palavras-chave: Literaturas Africanas, Afropolitanismo, Diáspora, Teoria Pós-Colonial, Gênero.

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A voz feminina da poética contemporânea na África francófona subsaariana

Luana Costa de Farias (UFCG) [email protected]

Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG) [email protected]

Resumo: Nesta pesquisa, nos propomos a discutir a respeito da riqueza que pode ser revelada na produção poética feminina da África francófona subsaariana, sendo esta uma pesquisa quali-quantitativa, de cunho bibliográfico e documental. Objetivamos, portanto, investigar e analisar a produção poética feminina contemporânea de países da África subsaariana que têm a língua francesa como materna, veicular ou administrativa e por intermédio de um mapeamento, ressaltar a importância dessa poética para a nossa sociedade. Com o intuito de “dar voz” a essas mulheres, uma vez que o lugar da mulher na literatura parece estar sempre relacionado ao silêncio, buscamos traçar um panorama da produção poética feminina da África francófona, atentando às ponderações de como a poética feminina age como um dos principais meios de expressão. A problemática de nossa pesquisa gira em torno do fato de haver uma frágil divulgação de registros acerca da produção poética, enfocando a voz da mulher, especificamente das poetisas, na história literária dessa região francófona. Assim, buscamos responder a seguinte pergunta norteadora: em quais países dessa região do continente africano estaria a maior produção literária da poética feminina? Para encontrar respostas para essa indagação, embasamo-nos nos resultados da pesquisa PIVIC-CNPq/UFCG (2015-2017) e também em Chevrier (2012), Gorceix (2000), Gontard (2005), Doucey (2008; 2010; 2011). Assim, propomo-nos através desta pesquisa corroborar a ascendente presença feminina na poética africana, ratificando o seu espaço no universo da Francofonia e destacando a sua importância na contemporaneidade. Os nossos estudos têm mostrado o quanto as poetisas africanas, sobretudo na África subsaariana, vêm alcançando espaços importantes; mas, que ainda vivenciam situações temerárias, pois uma vez que rompem um ciclo, tornam-se alvo de hostilidades sociais, convidando-nos a fazê-las conhecidas no espaço literário. Palavras-chave: Literatura francófona; Produção literária; Escritora.

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Considerações sobre a sujeição feminina na obra “L’Arabe du futur”, de Riad Sattouf

Manuella Bitencourt (UFCG)

[email protected] Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG)

[email protected] Resumo: Em nossa pesquisa, discorremos acerca do papel da mulher, a partir de um recorte do romance gráfico infanto-juvenil de língua francesa L’Arabe du Futur (2015), de autoria de Riad Sattouf. Temos como objetivo investigar o papel da mulher e as marcas evidentes da sujeição feminina, em um contexto em que a lancinante força masculina é indiscutível. Esta pesquisa se justifica pela relevância que a literatura infanto-juvenis têm na formação integral e complexa do jovem e da criança, haja vista apresentarem realidades sociais das mais diversas, como a representatividade dos papéis assumidos pelas mulheres em relação ao homem. L’Arabe du Futur é uma narrativa que traz, em formato de graphic novel, um relato literário sobre a realidade dos anos de 1970, na Síria, através do olhar inocente do menino, Riad, que é filho de pai sírio e mãe francesa. Nessa narrativa, em primeira pessoa, o protagonista conta como viveu uma infância peculiar entre a França socialista, de Mitterrand e os regimes autoritários na Líbia de Kadafi e na Síria de Hafez Al-Assad. No excerto selecionado para este trabalho, sua mãe, Clémentine, se vê em um país e em uma cultura que não conhece, tendo que se sujeitar tanto às escolhas do marido, quanto às da cultura dele. Nesta pesquisa bibliográfica, realizamos as análises ancoradas nas reflexões originadas em pesquisas que nos dão aporte teórico, com as investigações de Touraine (2007), Walter (2010), Spivak (2010) e Louro (2004), dentre outros estudiosos. Em uma análise parcial, pudemos observar a disparidade cultural entre as personagens e suas reações diante de tal dessemelhança, abrindo margem para discussões sobre até que ponto a cultura do outro pode influenciar na vida da mãe do garoto Riad. Os primeiros resultados já apontam para uma realidade que mostra a mulher dominada em um espaço social, em que há apenas uma só voz, a masculina. Palavras-chave: Literatura infanto-juvenil; Sujeição; Mulher.

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Violência contra a mulher: o silenciamento feminino em “A cor púrpura” e “Push”

Sara de Miranda Marcos [email protected]

Resumo: A violência é um tema bastante recorrente, tanto na criação de uma obra de literatura, quanto como um foco de estudo da crítica literária. Por ser muito abrangente, é necessário que se faça uma delimitação quanto ao tipo de violência a que se pretende observar em uma obra. Portanto, neste trabalho, objetivou-se estudar a violência contra a mulher, mais especificamente, de que modo a mulher é silenciada e como este silenciamento a impede de refletir sobre os outros atos de violência por ela sofridos, enquanto ser humano inferiorizado pelo comportamento machista predominante na maioria das sociedades patriarcais. Como objetos de análise deste estudo, foram escolhidas as obras A Cor Púrpura, de Alice Walker (1986); e Push, de Sapphire (1996). Ambas as autoras são norte-americanas e suas obras tratam, dentre outros temas, da violência contra a mulher negra e pobre, em períodos distintos da história dos Estados Unidos. A cor Púrpura (WALKER, 1986) trata da história da personagem Cellie, narrada desde sua infância até sua velhice, através de suas cartas direcionadas, inicialmente, a Deus, e, posteriormente, a sua irmã Nettie, em meados do século XX. A protagonista, Cellie, é uma menina negra e pobre, que vive no Sul dos Estados Unidos e é estuprada sistematicamente pelo pai, e vive uma relação de violência e abusos constantes com o seu então marido. Push (SAPPHIRE, 1996) discorre sobre a vida de Precious, uma menina pobre e negra que vive no bairro do Harlem, na cidade de Nova York. A história se passa na década de 1980 até início de 1990, este período é um recorte de sua vida dos doze aos dezenove anos de idade. A personagem é explorada, estuprada e oprimida por seu pai, Carl, e por sua mãe, Mary. Neste trabalho, intentou-se mostrar como as personagens protagonistas destas obras sofrem com o processo de silenciamento, e a sua superação como forma de resistência à violência. Em sentido paralelo ao tema da violência contra a mulher, foi dedicado um momento de estudo sobre os gêneros literários das obras em questão, para tanto, observou-se a relação existente entre os gêneros confessionais e os gêneros ficcionais, pois, no que tange a algumas obras, há certa dificuldade de classificar seu gênero. Como aporte teórico utilizou-se Maciel (apud BELON & MACIEL, 2004), Swarnakar (apud SWARNAKAR & NÓBREGA, 2008), dentre outros. Palavras-chave: silenciamento feminino; violência; gêneros confessionais.

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A voz e a vez da negra na poesia de Shirley Campbell Barr Conceição Evaristo

Stephane Alves de Albuquerque (UFPE) Resumo: Por muito tempo, a mulher, principalmente, a negra, foi narrada pelas vozes e escritas de outrem, devido a fenômenos sociais de exclusão que se enraizaram na escravidão e frutificam até os dias atuais. No entanto, a partir da década de 70, a tríade classe, raça e gênero começa a ganhar força no movimento Feminista, e a fazer parte das pautas de reivindicação, originando o Feminismo negro/Interseccional, o qual foi imprescindível para o desenvolvimento teórico e a produção literária, cuja temática e escrita está em torno da mulher negra. Na poesia, a costarriquenha Shirley Campbell Barr e a brasileira Conceição Evaristo, são vozes negras comprometidas com a causa da mulher negra dentro da peculiaridade de seus respectivos contextos sociais. A caribenha publicou três livros de poemas e tem dezenas de poesias e artigos publicados em revistas, antologias e jornais em diversos países, com uma poesia que incorpora conteúdos altamente biográficos, é uma ativista permanente da causa negra. No contexto brasileiro, Conceição Evaristo surge como uma forte e expressiva voz no movimento literário de mulheres negras. Mineira, periférica e negra reúne em si a experiência baseada no elo gênero-raça-classe e o expressa através do termo “escrevivência”, criado pela própria autora, a qual enfatiza a importância de “comprometer a escrita com a vida”. O tema da memória e do fazer literário da mulher negra é uma constante tanto na prosa quanto na poesia e nos trabalhos acadêmicos de Evaristo, como em sua dissertação de mestrado denominada “A literatura negra é um lugar de memória”, e por isso, a pertinência de se analisar a memória em seu livro “Poemas da recordação e outros movimentos”. Consequentemente, a escolha das obras se deu devido ao fato de, apesar de haver um número crescente de mulheres negras teorizando o Feminismo Negro e escrevendo poesia, elas ainda não são muito conhecidas e estudadas no âmbito acadêmico. Portanto, as autoras escolhidas para esse trabalho são mulheres negras capazes de tratar com beleza, propriedade e qualidade literária os desafios da condição da mulher afro-latina e caribenha em seus respectivos territórios, Shirley Campbell e Conceição Evaristo são referência internacional por mostrarem, através da memória histórica e individual, as nuances da relação entre a mulher negra, a sociedade e a literatura. Palavras-chave: feminismo negro, poesia, vozes negras

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O pensamento decolonial e antimachista na obra “Seducción de los venenos” de Roxana Miranda Rupailaf

Paula Antunes Sales de Melo (UFPE)

Lívia Maria da Costa Carvalho (UFPE) Resumo: As heterogêneas e complexas formas de contato entre a sociedade mapuche e chilena foram representados sob diferentes óticas na literatura de autores mapuche. Roxana Miranda Rupailaf é uma escritora mapuche-huiliche reconhecida e publicada em diversos países, “Seducción de los venenos”, é o seu segundo poemário. Entre os temas abordados pela escritora está o posicionamento do corpo feminino indígena em sua experiência inter-trans-multicultural periférica, corpo estranho à ordem do dia da sociedade neo-liberal. Rupailaf nos apresenta em sua poética o conflito que é estender a sua experiência poética às margens da ordem do colonizador, mas no centro da su experiência de saber-se mulher mapuche no mundo comtemporâneo. A experiência da poeta é de dupla afirmação. É preciso entender que dentro de uma sociedade patriarcal e racista, como as sociedades dos países latino-americanos, afirmar-se como mulher indígena escritora-poeta é um ato de insurgência de uma resistência permeado por diversas insubordinações. Insubordinação ao racismo colonial e estatal, ao capitalismo em seu processo global de reificação daquilo que lhe é externo, ao machismo estrutural que atravessa violentamente as fronteiras culturais, à própria experiência de escrita como um espaço afirmativo para diferenças e posicionamentos, pela ferramenta poderosa da arte. Ao tratar da emergência de um corpus poético de mulheres mapuche, Moraga García (2016) afirma que este é um processo vinculado ao protagonismo político das mulheres indígenas na América Latina. Para a autora, este protagonismo é mais visível no chile a partir dos anos 1990; com a participação nos movimentos e articulações mapuche para a reivindicação de terra.Em nossas análises, observamos como na construção de sua poética Miranda Rupailaf trabalha, a partir de uma transleitura de imagens bíblicas femininas o impulso significativo da insubordinação. Dessa forma, utilizamos a ideia de biopolítica de Foucault, bem como os estudos de Giorgi e Agamben, que nos lançaram luz sobre uma certa política estatal de controle dos corpos. Para analisarmos a a utilizamos os estudos de Butler, Moraga García e Cusicanqui. Em nossas análises pudemos observar nos poemas de Rupailaf a proposição de uma leitura diferente das imagens canônicas e bíblicas de mulheres. Seus poemas trabalham a partir da linguagem a potência de uma nova forma de viver-escrever os ecos de um passado colonial que perpassam os anos até a atualidade. Palavras-chave: Poesia mapuche; Roxana Miranda Rupailaf; biopolítica; literatura latino-americana.

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