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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCODEPARTAMENTO DE MATEMĂTICA
O TEOREMA DA CONVEXIDADEDO MAPA DO MOMENTO
Dissertação apresentada ao Departamento de MatemĂĄticada Universidade Federal de Pernambuco, como parte dosrequisitos para obtenção do tĂtulo de Mestre em MatemĂĄ-tica.
ALLYSON DOS SANTOS OLIVEIRA
Sob orientação do professor Dr. César A. R. Castilho
Recife, 2007.
.
à Nuna, Conceição, Rosse e JÎ
AGRADECIMENTOSAos meus pais AnĂsio Calazans (Nuna) e Maria da Conceição (BĂȘu) por tudo que eu soue por tudo que serei.
A minhas irmĂŁs Rosse e Josse pelo apoio incondicional.
A meus irmĂŁos paternos Adilson, Anilton, JĂșnior (Guerreiro), EvĂąnia, Ivonei, Ivonete eEliana.
A minha avĂł Maria e meu primo Flavio, representando todos meus familiares, pelo carinhopara comigo.
A meu orientador CĂ©sar Castilho pela amizade, disponibilidade e paciĂȘncia.
Ă Chirleanny pelo carinho.
Aos professores Eduardo Leandro e Vicente Francisco de S. Neto por participarem daminha banca.
Ă professora Ana Tereza pelo primeiro incentivo Ă pesquisa.
Aos professores Claudiano Goulart e Maria Hildete MagalhĂŁes França, representandotodos da UEFS, pelo estĂmulo.
A todos professores e funcionĂĄrios do Dmat - UFPE.
Ă Capes pelo apoio nanceiro.
Aos amigos Joilson (Profeta) e Marcelo (Johnny) pela parceria em Feira e em Recife.
Aos amigos FĂĄbio (CidĂŁo), Ăder (Buzugo) e Marta (Buzuga) pela uniĂŁo da famĂlia.
A Ani, Hand e DĂ©a por serem tĂŁo especiais.
Aos amigos da UEFS e UFPE pelo companheirismo.
Aos amigos Marcelo Maiden, Ărika, Bruno e Bruna.
Aos amigos do Dmat Humberto, DĂ©bora, Anete, Paulo Rabelo, Zaqueu (Cacaroto), Tar-ciana (Tarci), Wilberclay (Wilber), JĂșlio (Ju), Laudelino (Lau), AndrĂ© (BebĂȘ), LuĂz,ManassĂ©s, HĂ©lio (Lito), Rodrigo Godin, Ricardo (Beleza), Adecarlos (Wolverine), Re-nata (RĂȘ), Eudes (Ăides), JoĂŁo Paulo (Jesus), Adriano Regis, ClĂĄudio Cristino (Bicho) eAdemakson (Dema) por diferentes motivos.
5
RESUMO
Nesta dissertação apresentamos o teorema da convexidade de Atiyah-Guillemin-Sternberg sobre a imagem do mapa do momento de uma ação Hamiltoniana de um torosobre uma variedade simplética compacta e conexa. Este resultado fornece, em certosentido, uma generalização para o teorema de Schur sobre a relação entre os autovalorese os elementos da diagonal das matrizes Hermitianas. Com essa nalidade, discutimosa estrutura simplética sobre variedades, o conceito de Grupos de Lie e as açÔes destesgrupos sobre tais variedades.
Palavras-chave: Geometria simplética, mapa do momento, grupos de Lie.
6
ABSTRACT
In this dissertation we presented the Atiyah-Guillemin-Sternberg convexity theoremabout the image of the moment map in the case of Hamiltonian torus action on compactconnected symplectic manifold. This result gives, in certain sense, a generalization toSchur theorem about relationship between eigenvalues and diagonal entries of Hermitianmatrix. With this goal, we discussed the symplectic structure on manifolds, the Lie groupsconcept and actions of these groups on such manifolds.
Keywords: Symplectic geometry, momentum map, Lie groups.
7
SumĂĄrio
Introdução 10
1 Preliminares 12
1.1 Variedades Simpléticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.1 Denição e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.2 Derivada de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1.3 TransformaçÔes Simpléticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1.4 Sistemas Hamiltonianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.1.5 Estrutura de Poisson sobre Variedades Simpléticas . . . . . . . . . . 21
1.1.6 Fibrados Cotangentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2 Estrutura Quase Complexa 27
2.1 Estrutura Complexa sobre Espaços Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2 Estrutura Complexa sobre Variedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3 Grupos de Lie 33
3.1 Denição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2 A Ălgebra de Lie de um Grupo de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
8
3.2.1 A Aplicação Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.3 Grupos de Lie ClĂĄssicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3.1 O Grupo Linear Geral Real, GL(n,R) . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.3.2 O Grupo Linear Especial Real, SL(n,R) . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.3.3 O Grupo Ortogonal, O(n) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3.4 O Grupo Ortogonal Especial, SO(n) . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.4 Ação de um Grupo de Lie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4 O Mapa do Momento 47
5 O Teorema da Convexidade 54
5.1 FunçÔes de Morse-Bott . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.2 O Teorema da Convexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Bibliograa 70
9
Introdução
O principal objetivo desse trabalho é apresentar um teorema devido a Atiyah [2], Guil-lemin e Sternberg [6], conhecido por Teorema da Convexidade do Mapa do Momento. Esteé um resultado clåssico e belo sobre açÔes de grupo de toros sobre variedades simpléticas,ou seja, variedades equipadas com uma 2-forma fechada e não-degenerada. As hipótesessobre esta 2-forma implicam que uma variedade simplética tem sempre dimensão par eé sempre orientåvel. A Geometria Simplética é a årea da Matemåtica cujo interesse éestudar tais variedades.
Faremos uma exposição sobre os conceitos mais relevantes de maneira sucinta noprimeiro capĂtulo, dando ĂȘnfase Ă s variedades e transformaçÔes simplĂ©ticas e reservandouma seção para mostrarmos como Ă© possĂvel construir uma estrutura simplĂ©tica sobrebrados cotangentes. Apresentaremos tambĂ©m o teorema de Darboux, que arma quetodas variedades simplĂ©ticas sĂŁo localmente indistinguĂveis.
No capĂtulo 2 abordaremos o conceito das chamadas estruturas quase complexas, quefornece uma ligação entre a geometria simplĂ©tica e a geometria complexa das variedades.Embora tal construção apresente muitas aplicaçÔes, nos limitaremos apenas aos resultadosmais importantes, como o fato de um subespaço invariante sob a estrutura complexa deuma variedade simplĂ©tica ser tambĂ©m um subespaço simplĂ©tico.
Uma variedade suave que possui uma estrutura de grupo compatĂvel com sua estruturadiferenciĂĄvel, no sentido que as operaçÔes que a tornam um grupo sĂŁo suaves, Ă© chamadaGrupo de Lie. Uma ação de um grupo G sobre uma variedade M Ă© um homomorsmoentre G e o grupo de difeomorsmos de M , denotado por Diff(M). O espaço tangenteao elemento neutro de um grupo de Lie possui uma estrutura de ĂĄlgebra de Lie e a cadaelemento desta ĂĄlgebra estĂĄ associado um importante campo de vetores chamado geradorinnitesimal. Abordaremos estes conceitos, exemplicando-os no capĂtulo 3.
Quando um grupo de Lie age sobre uma variedade simplética, satisfazendo certas con-
10
diçÔes, induz-se uma aplicação que, em cada ponto da variedade atribui um funcionallinear sobre a ĂĄlgebra de Lie do grupo, denominado mapa do momento da ação. No capĂ-tulo 4 apresentaremos formalmente este conceito, bem como algumas de suas propriedadese ilustraremos sua construção com exemplos potencialmente signicativos.
Finalmente, no Ășltimo capĂtulo serĂĄ apresentado o teorema da convexidade de Atiyah-Guillemin-Sternberg. Discutiremos, de forma elementar, o conceito de função de Morse-Bott, onde se encontra parte indispensĂĄvel da demonstração do teorema. Essa classe defunçÔes generaliza a conhecida teoria de Morse e foi introduzida por Bott [4]. Encerra-remos seguindo Atiyah [2], mostrando que um famoso teorema devido a Schur [10] sobreos elementos da diagonal e os autovalores de uma matriz hermitiana pode ser visto comocorolĂĄrio do teorema da convexidade.
11
CapĂtulo 1
Preliminares
Neste capĂtulo apresentaremos os principais conceitos utilizados no decorrer do tra-balho, como a estrutura simplĂ©tica sobre variedades tornando os brados tangente e co-tangente isomorfos de maneira natural. Neste contexto um difeomorsmo entre duas va-riedades simplĂ©ticas que preserva as estruturas simplĂ©ticas Ă© dito um simplectomorsmoe as variedade sĂŁo ditas simplectomorfas. Da mesma forma que na geometria diferencialcom os difeomorsmos e na geometria Riemaniana com as isometrias, uma das principaispreocupaçÔes da geometria simplĂ©tica Ă© classicar as variedades a menos de simplecto-morsmos.
Por m falaremos de maneira bĂĄsica sobre sistemas hamiltonianos e em seguida, cons-truiremos com um certo nĂvel de detalhes a estrutura simplĂ©tica canĂŽnica sobre os bradoscotangente das variedades suaves.
1.1 Variedades Simpléticas
1.1.1 Denição e Exemplos
Primeiramente deniremos a estrutura simplética sobre espaços vetoriais. Logo emseguida, este conceito serå estendido para variedades suaves. A menos que seja expresso ocontrårio, consideraremos nas próximas seçÔes espaços vetoriais reais de dimensão nita.Da mesma forma, as variedades aqui serão sempre suaves e de dimensão nita.
12
Denição 1.1.1 Seja V um espaço vetorial e Ï : V Ă V â R uma aplicação bilinear. ÏĂ© dita anti-simĂ©trica se Ï(u, v) = âÏ(v, u), âu, v â V .
Denição 1.1.2 Seja V um espaço vetorial e Ï : V Ă V â R uma aplicação bilinear emV. Dizemos que Ï Ă© nĂŁo-degenerada se a condição Ï(u, v) = 0 para todo v â V implicaem u = 0.
Um forma bilinear Ï em V induz uma aplicação linear de V em seu dual V â denidapor
Ï[ : V â V â
Ï[(v)(w) = Ï(v, w)
A forma Ï ser nĂŁo-degenerada Ă© equivalente a aplicação linear Ï[ ser injetiva, ou seja,Ï[(v) = 0 implica em v = 0.
Denição 1.1.3 Uma forma simplĂ©tica Ï sobre um espaço vetorial V Ă© uma formabilinear anti-simĂ©trica e nĂŁo-degenerada sobre V. O par (V, Ï) Ă© chamado espaço vetorialsimplĂ©tico.
Um espaço vetorial simplĂ©tico (V, Ï) possui uma base e1, e2, ..., en, f1, f2, ..., fn quesatisfaz
Ï(ei, fj) = ÎŽij e Ï(ei, ej) = Ï(fi, fj) = 0
chamada base simplĂ©tica de (V, Ï). Nesta base tem-se
Ï(u, v) = [u]t(
0 IdâId 0
)[v].
Exemplo: Em R2n com coordenadas (x, y), denimos a 2-forma
Ï0 =nâj=1
dxj ⧠dyj.
Seja ζ = (Ο, η) e ζ âČ = (ΟâČ, ηâČ), com Ο, η, ΟâČ, ηâČ â Rn. Temos que
Ï0(ζ, ζâČ) =
nâj=1
(ΟjηâČj â ΟâČjηj) =< ζ, J0ζ
âČ >= ζTJ0ζâČ
13
onde J0 =
(0 IdâId 0
).
€
Denição 1.1.4 Uma variedade simplĂ©tica Ă© um par (M,Ï) composto por uma variedadesuave M e uma 2-forma fechada e nĂŁo-degenerada Ï â Ω2(M) sobre M.
A 2-forma Ï sobre M Ă© dita nĂŁo-degenerada se âp â M , o espaço tangente (TpM,Ïp) Ă©um espaço vetorial simplĂ©tico, ou seja, â v â TpM tem-se
Ïp(v, w) = 0, â w â TpM â v = 0.
A condição de Ï ser nĂŁo-degenerada implica que existe um isomorsmo canĂŽnico entreos brados tangente e cotangente da variedade M , dado por
TM â T âM ; X 7â Îč(X)Ï := Ï(X, .).
Exemplos:
a) O cilindro S1ĂR com coordenadas (Ξ, p) Ă© uma variedade simplĂ©tica com Ï = dΞâ§dp;b) O toro T2 com coordenadas periĂłdicas (Ξ, Ï) Ă© uma variedade simplĂ©tica com Ï =
dΞ ⧠dÏ;
c) O brado cotangente T âM de uma variedade M Ă© sempre uma variedade simplĂ©tica(ver seção 1.1.6);
d) Considere M = Cn com coordenadas (z1, ..., zn). A forma
Ï0 =i
2
nâj=1
dzj ⧠dzj
Ă© simplĂ©tica, desde que esta se iguala a forma canĂŽnicaân
j=1 dxj ⧠dyj em R2n naidenticação R2n = Cn, zk = xk + iyk;
e) O produto de duas variedades simplĂ©ticas (M1, Ï1) Ă (M2, Ï2) Ă© uma variedade sim-plĂ©tica com a forma simplĂ©tica Ï1 â Ï2.
14
1.1.2 Derivada de Lie
Continuando com a apresentação dos pré-requisitos, citaremos os conceitos da derivadade Lie de uma forma ao longo de um campo de vetores, bem como, o colchete de Lie ealguns resultados importantes como a fórmula mågica de Cartan.
Denição 1.1.5 Seja α uma k-forma e seja X um campo de vetores com uxo Ït. Aderivada de Lie de α ao longo de X Ă© dada por
ÂŁXα = limtâ0
1
t[Ïâtαâ α] =
d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Ïâtα.
Os resultado abaixo sobre a derivada de Lie de uma forma serĂŁo de grande importĂąnciano desenvolvimento desse trabalho.
A fĂłrmula MĂĄgica de Cartan
ÂŁXα = dÎč(X)α+ Îč(X)dα. (1.1)
Teorema 1.1.1 (Teorema da Derivada de Lie)d
dtÏâtα = ÏâtÂŁXα. (1.2)
Um resultado mais geral é dado na proposição abaixo.
Proposição 1.1.1 Para uma famĂlia suave αt de k-formas temos
d
dtÏâtαt = Ïât
(£Xαt +
d
dtαt
). (1.3)
Demonstração: Segue diretamente da regra da cadeia e de (1.2). Jå que
d
dtÏâtαt =
d
dxÏâxαt
âŁâŁâŁâŁx=t
+d
dyÏâtαy
âŁâŁâŁâŁy=t
= ÏâtÂŁXαt + Ïâtd
dtαt
= Ïât
(£Xαt +
d
dtαt
).
15
Se f é uma função real denida em uma variedade M e X é um campo de vetoressobre M, a derivada de Lie de f ao longo de X é a derivada direcional
ÂŁXf = X[f ] := df.X.
Denição 1.1.6 Seja M uma variedade suave e sejam X, Y campos de vetores sobre M.O campo de vetores [X, Y ] determinado pela derivação
f 7â X[Y [f ]]â Y [X[f ]]
Ă© denominado colchete de Lie de Y ao longo X, ou seja,
[X, Y ] = XY â Y X.
Localmente, verica-se que
[X, Y ] = DY.X âDX.Y. (1.4)
Denição 1.1.7 Sejam X, Y campos de vetores sobre a variedade M . a derivada de Liede X na direção de Y é dada por
ÂŁYX = [X, Y ] =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ÏâtX,
onde Ït : M âM Ă© o uxo de Y denido por
d
dtÏt = Y Ït, Ï0 = Id.
1.1.3 TransformaçÔes Simpléticas
O conceito de transformaçÔes simplĂ©ticas neste contexto equivale ao de isometrias emgeometria Riemaniana, ou de aplicaçÔes contĂnuas em topologia, ou seja, sĂŁo aquelas queconservam as estruturas simplĂ©ticas das variedades.
16
Denição 1.1.8 Sejam (M1, Ï1) e (M2, Ï2) variedades simplĂ©ticas. Uma aplicação Câ
Ï : M1 âM2
é chamada simplética (ou canÎnica) se
ÏâÏ2 = Ï1
isto Ă©, para todo z âM1 e â v, w â TzM1 tem-se
Ï1(z)(v, w) = Ï2(Ï(z))(TzÏ.v, TzÏ.w).
Se Ï Ă© tambĂ©m um difeomorsmo, dizemos que Ă© um simplectomorsmo. Nestecaso, (M1, Ï1) e (M2, Ï2) sĂŁo ditas simplectomorfas. Denotaremos o grupo de simplecto-morsmos de M por Simp(M,Ï), Simp(M). ou Sp(M)
O interesse em classicar as variedades simplĂ©ticas a menos de simplectomorsmos Ă©evidente. Nosso objetivo agora Ă© apresentar um teorema devido a Darboux que fornecetal classicação local armando que toda variedade simplĂ©tica (M2n, Ï) Ă© localmente sim-plectomorfa a (R2n, Ï0). Para isso, usaremos o argumento devido a Moser [9], denominadomĂ©todo homotĂłpico, como descrito a seguir.
Se Ït â Ω2(M) Ă© uma famĂlia de formas simplĂ©ticas em M com derivadas exatas
d
dtÏt = dÏt,
entĂŁo existe uma famĂlia de difeomorsmos Ït â Diff(M) tal que
ÏâtÏt = Ï0. (1.5)
A idĂ©ia para justicar este fato Ă© descrever os difeomorsmos Ït como o uxo de umafamĂlia de campo de vetores Xt sobre M. Assim, supomos que
d
dtÏt = Xt Ït e Ï0 = Id.
Os campos de vetores Xt devem ser de tal forma que a equação (1.5) seja satisfeita.Diferenciando e usando (1.3) temos
0 =d
dtÏâtÏt
17
= Ïât
(d
dtÏt + ÂŁXtÏt
)
= Ïât (dÏt + Îč(Xt)dÏt + dÎč(Xt)Ït)
= Ïât (dÏt + dÎč(Xt)Ït).
Portanto Ă© suciente que Ït + Îč(Xt)Ït = 0. Usaremos este argumento pra provar olema seguinte.
Lema 1.1.1 (Moser) Seja M uma variedade de dimensĂŁo 2n e Q â M uma subvari-edade compacta. Suponha que Ï0, Ï1 â Ω2(M) sĂŁo 2-formas fechadas tais que em cadaponto q de Q, Ï0 e Ï1 sĂŁo iguais e nĂŁo-degeneradas em TqM. EntĂŁo existem vizinhançasabertas N0 e N1 de Q e um difeomorsmo Ï : N0 â N1 tal que
Ï|Q = id e ÏâÏ1 = Ï0.
Demonstração: Ă suciente provar a existĂȘncia de uma 1-forma Ï â Ω1(N0) tal que
Ï|TQM= 0 e dÏ = Ï1 â Ï0. (1.6)
De fato, considere a famĂlia de formas fechadas
Ït = Ï0 + t(Ï1 â Ï0) = Ï0 + tdÏ
sobre N0. Reduzindo N0, se necessĂĄrio, assumimos que Ït Ă© nĂŁo-degenerada em N0,â t.Como d
dtÏt = dÏ, pelo argumento de Moser, visto acima, resolvendo a equação
Ï + Îč(Xt)Ït = 0
encontramos uma famĂlia de campos Xt que se anulam em Q. Reduzindo novamente N0,caso seja necessĂĄrio, obtemos em N0 as soluçÔes da equação
ÏâtÏt = Ï0
Como Xt|Q = 0, entĂŁo Ït|Q = id. Fazemos entĂŁo, Ï = Ï1 e N1 = Ï1(N0).
Para mostrar (1.6) denotaremos
exp : TQâ„ âM
a restrição da aplicação exponencial ao brado normal TQ℠da subvariedade Q comrespeito a alguma métrica Riemanniana sobre M .
18
SejaUΔ = (q, v) â TM | q â Q, v â TqQâ„, |v| < Δ.
A restrição da exponencial a UΔ é um difeomorsmo sobre N0 = exp(UΔ) para Δ sucien-temente pequeno.
Dena para 0 †t †1 as aplicaçÔes Ït : N0 â N0, dadas por
Ït(exp(q, v)) = exp(q, tv).
Observe que Ït Ă© um difeomorsmo para t > 0, Ï0(N0) â Q, Ï1 = id e Ït|Q = id.
Seja Ï = Ï1 â Ï0. Ïâ0 = 0 pois Ï1 = Ï0 em Q e Ï0(N0) â Q. Temos que
Ïâ1Ï = Ï.
Para t > 0 denimos o campo
Xt =
(d
dtÏt
) Ïâ1
0 .
Temos qued
dtÏât Ï = Ïât (dÎč(Xt)Ï + Îč(Xt)dÏ)
= Ïât (dÎč(Xt)Ï)
= d(Ïât Îč(Xt)Ï)
= dÏt.
onde
Ït(q)(v) = Ïât Îč(Xt)Ï(q)(v)
= Îč(Xt)Ï(Ït(q))(TqÏtv)
= Ï(Ït(q))(Xt(Ït(q)), TqÏtv)
= Ï(Ït(q))(d
dtÏt(q), TqÏtv).
Observe que Ït se anula em Q, pois Ït|Q = id e Ï |Q = 0. DaĂ
Ï = Ïâ1Ï â Ïâ0Ï =
â« 1
0
d
dtÏât Ïdt = dÏ, Ï =
â« 1
0
Ïtdt.
19
Teorema 1.1.2 (Darboux) Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica de dimensĂŁo 2n ep âM. EntĂŁo existe uma vizinhança U de p e coordenadas locais (x1, ..., xn, y1, ..., yn), talque, em U
Ï =nâi=1
dxi ⧠dyi.
Demonstração: Desde que TpM Ă© uma espaço vetorial simplĂ©tico utilizamos uma basesimplĂ©tica para construir coordenadas (xâČ1, ..., x
âČn, y
âČ1, ..., y
âČn) em uma vizinhança U âČ de p tal
queÏ(p) =
âdxâČi ⧠dyâČi
âŁâŁâŁp.
Pelo lema de Moser (1.1.1) aplicado a Q = p com as formas Ï0 = Ï e Ï1 =âdxâČi ⧠dyâČi, existem vizinhanças N0 e N1 de p e um difeomorsmo Ï : N0 â N1 tal que
Ï(p) = p e Ïâ(â
dxâČi ⧠dyâČi)
= Ï.
Entretanto, pelo fato de Ïâ (âdxâČi ⧠dyâČi) =
âd(xâČi Ï) ⧠d(yâČi Ï) basta tomar novas
coordenadas xi = xâČi Ï e yi = yâČi Ï.
1.1.4 Sistemas Hamiltonianos
Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica e H : M â R uma função real. Pelo fato da2-forma Ï ser nĂŁo-degenerada, existe um Ășnico campo de vetores XH sobre M tal queÎč(XH)Ï = dH, ou seja, para todo z âM
Ïz(XH(z), v) = dH(z).v, â v â TzM.
Denição 1.1.9 O campo XH denido acima é dito campo de vetores Hamiltonianocom função hamiltoniana H.
20
Se XH Ă© um campo completo1 entĂŁo seu uxo Ït : M â M dene uma famĂlia a1-parĂąmetro de difeomorsmos satisfazendo
Ï0 = idM ;ddtÏt = XH Ït;
Cada difeomorsmo Ït preserva a forma Ï, ou seja, ÏâtÏ = Ï, â t. De fato, peloteorema da derivada de Lie 1.2 e pela fĂłrmula mĂĄgica de Cartan 1.1 temos,
d
dtÏâtÏ = ÏâtÂŁXH
Ï = Ïât (dÎč(XH)Ï + Îč(XH)dÏ) = 0,
jĂĄ que Îč(XH)Ï = dH e dÏ = 0. Assim ÏâtÏ independe de t e, como Ïâ0Ï = Ï, segue queÏâtÏ = Ï, â t, ou seja, o uxo Hamiltoniano Ă© um simplectomorsmo.
Exemplo: Seja (M,Ï) = (S2, dΞ ⧠dh) e H a função altura, H(Ξ, h) = h. O campoXH = xΞ
ddΞ
+ xhddh
satisfaz
Îč(XH)(dΞ ⧠dh) = dhâdΞ ⧠dh(XH , .) = dhâxΞdhâ xhdΞ = dhâ
XH =d
dΞ
O uxo de XH = ddΞ
Ă© dado por Ït(Ξ, h) = (Ξ + t, h) o qual Ă© a rotação em torno doeixo vertical. A função altura H Ă© preservada por esse movimento.
1.1.5 Estrutura de Poisson sobre Variedades Simpléticas
Denição 1.1.10 Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica. O colchete de Poisson de duasfunçÔes F,H â Câ(M,R) Ă© dado por
F,H := Ï(Xf , XH) = dF.XH
Este colchete dene uma estrutura de Poisson sobre M , ou seja, satisfaz as condiçÔes:1Um campo de vetores Ă© dito completo quando o seu uxo Ït : M â M pode ser denido para todo
t â R
21
1. , é bilinear e anti-simétrico;
2. , satisfaz a identidade de Jacobi, F,G,H+H,F,G+G,H,F=0;
3. , é uma derivação em cada fator,
FG,H = F,HG+ FG,H.
Proposição 1.1.2 Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica.
(i) Se H : M â R Ă© uma função Hamiltoniana e Ï â Simp(M,Ï) um simplectomorsmo,entĂŁo XHÏ = ÏâXH .
(ii) O colchete de Lie de dois campos de vetores Hamiltonianos XF e XG Ă© [XF , XG] =XF,G.
Demonstração: A armação (i) segue da identidade
Îč(XHÏ)Ï = d(H Ï)
= ÏâdH
= ÏâÎč(XH)Ï
= Îč(ÏâXH)ÏâÏ
= Îč(ÏâXH)Ï.
Para provarmos (ii) lembre que os uxos Hamiltonianos ÏtG e ÏtG sĂŁo simplectomor-smo, daĂ, pelo item (i)
[XF , XG] =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
(ÏtG)âXF = â d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
(ÏtF )âXG = â d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
XGÏtF.
Logo
Îč([XF , XG])Ï = â d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
d(G ÏtF )
= âd d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
G ÏtF= âd(dG(XF ))
= âdG,F= dF,G.
22
â [XF , XG] = XF,G.
Em geral, os uxos ÏtG, ÏtF de dois campos de vetores G e F nĂŁo comutam. Umacondição necessĂĄria e suciente para que eles comutem Ă© dada na proposição abaixo.
Proposição 1.1.3 Sejam X e Y campos vetoriais sobre M e ÏtX , ÏtY seus respectivosuxos. ÏtX e ÏtY comutam se, e somente se, [X, Y ] = 0.
Demonstração: Ver [1].
1.1.6 Fibrados Cotangentes
Fibrados cotangentes formam uma importante classe de variedades simpléticas. Emmecùnica clåssica, eles são os espaços de fase com coordenadas q e p correspondendo aposição e momento. Nesta seção apresentaremos a estrutura simplética desses espaços.
Seja x : U â Rn uma carta local sobre uma variedadeM com coordenadas x1, x2, ..., xn.EntĂŁo para q â U , as aplicaçÔes lineares dxj : TqM â R formam uma base do espaçodual T âqM e assim, qualquer vetor vâ â T âqM pode ser escrito na forma
vâ =nâj=1
yjdxj.
As coordenadas yj sĂŁo unicamente determinadas por q e vâ e fornecem funçÔes coordenadasT âU â Rn : (q, vâ) 7â y(q, vâ). Temos assim, uma carta T âU â Rn Ă Rn : (q, vâ) 7â(x(q), y(q, vâ)). Nessas coordenadas denimos a 1-forma canĂŽnica dada por
λcan =nâj=1
yjdxj.
Podemos dar uma denição livre de coordenadas para λcan da seguinte maneira: Con-sidere a projeção
Ï : T âM âM, (q, vâ) 7â q.
23
A diferencial de Ï Ă© a aplicação linear
T(q,vâ)Ï : T(q,vâ)(TâM) â TqM.
O valor da 1-forma canĂŽnica no ponto (q, vâ) Ă© denido pela composição
λcan(q, vâ) = vâ T(q,vâ)Ï : T(q,vâ)(T
âM) â R. (1.7)
Usaremos a notação abaixo pra indicar tal aplicação,
λcan(q, vâ)(Ο, η) =
âšvâ, T(q,vâ)Ï(Ο, η)
â©.
Esta denição coincide com a anterior pois, em coordenadas locais (x, y) sobre T âM ,a aplicação T(q,vâ)Ï Ă© dada por (Ο, η) 7â Ο e assim, vâ T(q,vâ)Ï(Ο, η) =< y, Ο >, o qualpode ser escrito como
âj yjdxj.
Denição 1.1.11 A forma simplĂ©tica canĂŽnica em T âM Ă© dada por
Ïcan = âdλcan.
Em coordenadas (x, y) tem-se,
λcan = ydx, Ïcan = dx ⧠dy.
Qualquer difeomorsmo Ï : M â L pode ser suspenso Ă um difeomorsmo Κ :T âM â T âL dado por
Κ(q, vâ) = (Ï(q), T âÏâ1vâ) (1.8)onde T âÏâ1 estĂĄ denotando a aplicação dual da diferencial de Ïâ1 no ponto Ï(q). Estadenição pode ser visualizada pelo diagrama abaixo
T âM
ÏM
ÂČÂČ
T âÏâ1// T âL
ÏL
ÂČÂČM
Ï // L
Aqui ÏM e ÏL representam as projeçÔes canĂŽnicas dos respectivos brados cotangentes.
24
Proposição 1.1.4 O difeomorsmo Κ : T âM â T âL dado em (1.8) preserva as 2-formascanĂŽnicas ÏM e ÏL sobre T âM e T âL, respectivamente. Isto Ă©, ΚâÏL = ÏM .
Demonstração: Ă suciente mostrar que ΚâλL = λM . Temos que
ΚâλL(q, vâ) = λL(Κ(q, vâ)) TΚ
=âšT âÏâ1vâ, TΚ(q,vâ)ÏL TΚ
â©
=âšvâ, TÏâ1 TΚ(q,vâ)ÏL TΚ
â©
=âšvâ, T(q,vâ)(Ï
â1 ÏL Κ)â©
=âšvâ, T(q,vâ)ÏM
â©
= λM(q, vâ)
Proposição 1.1.5 Sejam Ï : M â M um difeomorsmo e Κ : T âM â T âM suasuspensĂŁo ao brado cotangente como em (1.8). EntĂŁo
(i) Κ Ă© um simplectomorsmo de T âM .
(ii) Se Y : M â TM Ă© um campo de vetores sobre M que gera um grupo de difeomor-smos Ït de M e X : T âM â T (T âM) Ă© o campo gerador do correspondente grupode simplectomorsmos Κt de (T âM,Ïcan), temos que X = XH Ă© o campo de vetoreshamiltonianos da função H : T âM â R dada por
H(q, vâ) = ăvâ, Y (q)ă .
Demonstração: O item (i) segue diretamente da proposição anterior.
T âM
Ï
ÂČÂČ
X // T (T âM)
TÏ
ÂČÂČM
Y // TM
Pelo item (i) temos que LXλcan = 0, daĂ, pela fĂłrmula de Cartan
âÎč(X)dλcan = d(Îč(X)λcan) â
25
Îč(X)Ïcan = d(Îč(X)λcan).
Mas
Îč(X)λcan(q, vâ) = λcan(q, v
â)X(q, vâ)
=âšvâ, T(q,vâ)Ï(X(q, vâ))
â©
= ăvâ, Y (Ï(q, vâ))ă= H(q, vâ).
26
CapĂtulo 2
Estrutura Quase Complexa
A geometria simplĂ©tica possui uma estreita relação com a geometria complexa pelo fatode toda variedade simplĂ©tica poder ser munida de uma estrutura complexa como veremosneste capĂtulo. Embora haja vĂĄrios tĂłpicos interessantes sobre estruturas complexas, nosresumiremos apenas a alguns fatos necessĂĄrios a seqĂŒĂȘncia do trabalho.
2.1 Estrutura Complexa sobre Espaços Vetoriais
Denição 2.1.1 Seja V um espaço vetorial. Uma estrutura complexa sobre V é umautomorsmo linear
J : V â V com J2 = âId.
Uma estrutura complexa J é equivalente a uma estrutura de espaço vetorial sobre C seidenticarmos a aplicação J com a multiplicação por i =
ââ1. Em particular, o espaçoV tem dimensĂŁo necessariamente par sobre os reais.
Denição 2.1.2 Seja (V, Ï) um espaço vetorial simplĂ©tico. Uma estrutura complexa Jsobre V Ă© dita compatĂvel com Ï se
Ï(Ju, Jv) = Ï(u, v) e Ï(u, Ju) > 0, âu 6= 0.
Em outras palavras, uma estrutura complexa compatĂvel J dene um produto internosobre V dado por
gJ(u, v) := Ï(u, Jv).
27
No caso de J ser compatĂvel temos tambĂ©m a relação
Ï(u, Jv) = Ï(Ju, J(Jv)) = âÏ(Ju, v).
Denotaremos o espaço das estruturas complexas compatĂveis de (V, Ï) por I(V, Ï).
Exemplo 2.1.1 Seja (V, Ï) = (R2n, Ï0). Considere a base ââx1, ..., â
âxn, âây1, ..., â
âyne dena
J0
(â
âxj
)=
â
âyje J0
(â
âyj
)= â â
âxj
Com relação a essa baseJ0(v) =
(0 âII 0
)[v].
Observe que Ï0(u, J0(v)) =< u, v >=â2n
j=1 ujvj.
A proposição abaixo garante a existĂȘncia de uma estrutura complexa compatĂvel paraqualquer espaço vetorial simplĂ©tico.
Proposição 2.1.1 Seja (V, Ï) um espaço vetorial simplĂ©tico. EntĂŁo existe uma estruturacomplexa J compatĂvel com Ï sobre V .
Demonstração: Escolha um produto interno G sobre V . As aplicaçÔes
u 7â Ï(u, .)
v 7â G(v, .)
sĂŁo isomorsmos entre V e V â desde que G e Ï sĂŁo nĂŁo-degenerados. DaĂ existe umaaplicação linear A : V â V tal que Ï(u, v) = G(Au, v). A aplicação A Ă© anti-simĂ©tricapois,
G(Aâu, v) = G(u,Av)
= G(Av, u)
= Ï(v, u)
= âÏ(u, v)
= G(âAu, v)
28
â Aâ = âA.
AAâ Ă© simĂ©trico e portanto diagonalizĂĄvel sobre R. AlĂ©m disso, para u 6= 0, G(AAâu, u) =G(Aâu,Aâu) > 0 entĂŁo AAâ Ă© positivo. Logo seus autovalores λi sĂŁo todos nĂșmeros reaispositivos. Seja B uma matriz cujas colunas sejam os autovetores de AAâ. EntĂŁo
AAâ = B.diagλ1, ..., λ2n.Bâ1 ââAAâ = B.diag
âλ1, ...,
âλ2n.Bâ1.
Assim,âAAâ Ă© simĂ©trico e denido-positivo. Seja
J =(â
AAâ)â1
.A. (2.1)
J comuta comâAAâ desde que A comuta com
âAAâ. AlĂ©m disso, J Ă© ortogonal,
JJâ = Id e tambĂ©m Jâ = âJ . Logo J dene uma estrutura complexa sobre V .
J2 = âJJâ = âId.Esta estrutura Ă© compatĂvel pois
Ï(Ju, Jv) = G(AJu, Jv)
= G(JAu, Jv)
= G(Au, v)
= Ï(u, v)
e para todo u 6= 0,
Ï(u, Ju) = G(Au, Ju)
= G(âJAu, u)= G(
âAAâu, u) > 0.
A fatoração dada na equação 2.1 é chamada decomposição polar de A. Essa construçãoé canÎnica depois que escolhemos G. De fato,
âAAâ nĂŁo depende da escolha de B
nem da ordem dos autovalores em diagâλ1, ...,âλ2n mas apenas de seu efeito sobre
os autoespaços.âAAâ Ă© denida apenas como a multiplicação por
âλk no autoespaço
correspondente ao autovalor λk.
29
Proposição 2.1.2 Seja Met(V ) o espaço dos produtos internos sobre V e Sp(V, Ï) oespaço dos simplectomorsmos sobre (V, Ï). Existe uma aplicação contĂnua r : Met(V ) âI(V, Ï) tal que
r(gJ) = J, r(Ïâg) = Ïâr(g)
para todos J â I(V, Ï), g â Met(V ), Ï â Sp(V, Ï).
Demonstração: Seja g â Met(V ). Dena o automorsmo A : V â V por
Ï(v, w) = g(Av,w).
Desde que Ï(v, w) = âÏ(w, v), entĂŁoA Ă© g-anti-adjunta, ou seja, g(Av,w) = âg(v, Aw).Seja Aâ a aplicação g-adjunta de A e P = AâA = âA2. Segue que P Ă© g-positiva denidae daĂ, existe um Ășnico automorsmo Q : V â V tal que Q Ă© g-auto-adjunta, g-denidapositiva e
Q2 = P = âA2.
O automorsmoJg = Qâ1A
fornece uma estrutura complexa compatĂvel com Ï. Dena r(g) = J.
A aplicação r satisfaz as condiçÔes da proposição. De fato, se começarmos com umamĂ©trica da forma g = gJ , entĂŁo A = J e Q = Id, daĂ r(gJ) = J. AlĂ©m disso, se tivĂ©ssemosno lugar de g a mĂ©trica Ïâg(v, w) = g(Ïv, Ïw), entĂŁo A seria substituĂdo por Ïâ1AÏ eentĂŁo JÏâg = Ïâ1JgÏ.
Observação: A existĂȘncia da função r dada nesta proposição implica que o espaçoI(V, Ï) Ă© contrĂĄtil. Para ver isto, denimos as aplicaçÔes ft : I(V, Ï) â I(V, Ï) por
ft(J) = r((1â t)gJ0 + tgJ), 0 †t †1.
fornecendo uma conexão homotópica entre a aplicação constante f0(J) = J0 e a identidadef1(J) = J.
30
2.2 Estrutura Complexa sobre Variedades
De forma mais geral, podemos estender o conceito de estrutura complexa para varie-dades suaves. Existe um estreita relação entre as chamadas variedades quase complexase as variedades simpléticas, como veremos nesta seção.
Denição 2.2.1 Uma estrutura quase complexa sobre uma variedade M é um camposuave de estruturas complexas sobre os espaços tangentes:
x 7â Jx : TxM â TxM ; J2x = âI.
O par (M,J) Ă© chamado variedade quase complexa.
Denição 2.2.2 Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica. Uma estrutura quase complexaJ sobre M Ă© dita compatĂvel com Ï ou simplesmente, compatĂvel se
gx(u, v) := Ï(u, Jx(v))
dene uma métrica Riemanniana sobre M .
Proposição 2.2.1 Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica e g uma mĂ©trica Riemannianasobre M . EntĂŁo existe uma estrutura quase complexa J sobre M compatĂvel com g, nosentido que g(·, ·) = Ï(·, J ·).
Demonstração: Segue apenas do fato da decomposição polar dada na equação 2.1 sercanĂŽnica. Assim, a estrutura J da proposição 2.1.1 dene uma estrutura quase complexasobre M compatĂvel com g.
Denição 2.2.3 Uma subvariedade X de uma variedade quase complexa (M,J) Ă© umasubvariedade quase complexa se J(TX) â TX, ou seja, para todo x â X e v â TxXtemos que Jxv â TxX.
A proposição abaixo tem um carĂĄter simples em oposição a sua grande utilidade,podendo ser vista como um dos principais resultados desta seção. Ela serĂĄ utilizada emcarĂĄter estratĂ©gico na demonstração do teorema da convexidade (capĂtulo 5).
31
Proposição 2.2.2 Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica com uma estrutura quase com-plexa compatĂvel J . EntĂŁo toda subvariedade quase complexa X de (M,J) Ă© uma subva-riedade simplĂ©tica de (M,Ï).
Demonstração: Seja Îč : X âM a inclusĂŁo. EntĂŁo ÎčâÏ Ă© uma 2-forma fechada sobre X.Como
Ïx(u, v) = g(Jxu, v), âx â X, âu, v â TxXe gx |TxX Ă© nĂŁo degenerada entĂŁo, ÎčâÏ Ă© nĂŁo-degenerada e, portanto, simplĂ©tica.
32
CapĂtulo 3
Grupos de Lie
Um Grupo de Lie Ă© uma variedade que possui uma estrutura de grupo compatĂvelcom sua estrutura diferenciĂĄvel, no sentido que as operaçÔes de grupo sĂŁo suaves. NestecapĂtulo abordaremos alguns tĂłpicos importantes sobre tais grupos, como as açÔes sobrevariedades. Apresentaremos tambĂ©m alguns dos grupos de Lie clĂĄssicos e suas respectivasĂĄlgebras de Lie.
3.1 Denição
Denição 3.1.1 Um grupo de Lie é uma variedade G que tem uma estrutura de grupona qual a multiplicação do grupo
” : GĂGâ G
(g, h) 7â gh
Ă© uma aplicação Câ
Para g â G denimos as translaçÔes Ă esquerda e Ă direita por Lg : Gâ G;h 7â gh eRg : Gâ G;h 7â hg respectivamente. Desde que
Lg1 Lg2 = Lg1g2 e Rg1 Rg2 = Rg2g1 ,
entĂŁo (Lg)â1 = Lgâ1 e (Rg)
â1 = Rgâ1 e daĂ, as translaçÔes sĂŁo difeomorsmos para todog â G. Observe tambĂ©m, que elas comutam, ou seja, Lg Rh = Rh Lg.
33
A aplicação inversĂŁo I : Gâ G; g 7â gâ1 Ă© Câ. De fato, a equação
”(g, h) = e
tem gâ1 como solução para h em função de g. Mas sua derivada parcial em relação a h Ă©o isomorsmo ThLg. Logo, pelo teorema da função implĂcita, I Ă© uma aplicação Câ.
Exemplos:
1. Todo espaço vetorial V é um grupo de Lie abeliano, chamado grupo vetorial comas operaçÔes
” : V Ă V â V, ”(x, y) = x+ y
I : V â V, I(x) = âx.
€
2. GL(n,R) = Ï| Ï : Rn â Rn isomorsmo linear Ă© um grupo de Lie de dimensĂŁon2, chamado Grupo Linear Geral. GL(n,R) Ă© a imagem inversa de R\0 pela aplicaçãocontĂnua A 7â detA de L(Rn,Rn) em R, logo um subconjunto aberto de L(Rn,Rn), oespaço vetorial das aplicaçÔes lineares de Rn em Rn. A operação de grupo em GL(n,R)Ă© dada pela composição
” : GL(n,R)ĂGL(n,R) â GL(n,R)
(A,B) 7â A B.
A aplicação inversão é dada por
I : GL(n,R) â GL(n,R)
I(A) = Aâ1.
A multiplicação e a inversĂŁo sĂŁo restriçÔes a GL(n,R) de operaçÔes Câ em L(Rn,Rn),logo sĂŁo Câ. Assim, GL(n,R) Ă© um grupo de Lie.
Fixando uma base em Rn podemos representar um elemento A â GL(n,R) por umamatriz nĂn invertĂvel. A operação do grupo Ă© dado entĂŁo, pela multiplicação de matrizes”(A,B) = AB e I(A) = Aâ1 Ă© a inversĂŁo de matrizes.
€
34
Usando translaçÔes Ă esquerda ou Ă direita podemos construir um atlas a partir deuma carta local sobre um grupo de Lie G. Por exemplo, se (U,Ï) Ă© uma carta sobre e â Ge Ï : U â V , entĂŁo denimos uma carta (Ug, Ïg) sobre g â G fazendo
Ug = Lg(U) = Lgh | h â U
e denindo
Ïg = Ï Lgâ1 : Ug â V
h 7â Ï(gâ1h).
Denição 3.1.2 Um campo de vetores X sobre G Ă© chamado invariante Ă esquerdase â g â G,
(ThLg)X(h) = X(gh)
para todo h â G. Isto Ă©, se o diagrama abaixo comuta,
TGTLg // TG
G
X
OO
Lg
// G
X
OO
O conjunto dos campos de vetores invariantes Ă esquerda sobre G serĂĄ denotado porXL(G). Se X,Y â XL(G), entĂŁo [X, Y ] â XL(G). De fato,
ThLg([X,Y ](h)) = ThLg(X(h)Y â Y (h)X) =
= ThLg(X(h))Y â ThLg(Y (h))X =
= X(gh)Y â Y (gh)X =
= [X,Y ](gh).
Dado Ο â TeG denimos um campo de vetores invariante Ă esquerda XΟ sobre G por
XΟ(g) = TeLg(Ο).
De fato XΟ Ă© invariante Ă esquerda desde que
XΟ(gh) = TeLgh(Ο) = Te(Lg Lh)(Ο)= ThLg(TeLh(Ο)) = ThLg(XΟ(h)).
35
Proposição 3.1.1 XL(G) e TeG são isomorfos como espaços vetoriais.
Demonstração: As aplicaçÔes lineares
ζ1 : XL(G) â TeG,X 7â X(e)
eζ2 : TeGâ XL(G), Ο 7â XΟ
satisfazem ζ1 ζ2 = idTeG e ζ2 ζ1 = idXL(G).
3.2 A Ălgebra de Lie de um Grupo de Lie
O isomorsmo dado na proposição 3.1.1 e o fato do colchete de Lie de campos devetores invariantes à esquerda ainda ser invariante à esquerda nos permite denir umaestrutura de ålgebra de Lie em TeG.
Denição 3.2.1 O Colchete de Lie em TeG é dado por
[Ο, η] := [XΟ, Xη](e),
onde Ο, η â TeG e [XΟ, Xη] Ă© o colchete de Lie de campos de vetores visto na denição1.1.6. O espaço vetorial TeG com este colchete Ă© chamado ĂĄlgebra de Lie de G edenotado por g.
Exemplos:
1. Se V Ă© um grupo vetorial entĂŁo TeV âŒ= V e para u â TeV , tem-seXu(v) = T0Lv(u) =u,â v â V . DaĂ, a ĂĄlgebra de Lie de V Ă© o prĂłprio V com o colchete trivial[v, w] = 0,â v, w â V . Dizemos, neste caso, que a ĂĄlgebra de Lie Ă© abeliana.
€
36
2. A ĂĄlgebra de Lie de GL(n,R) Ă© L(Rn,Rn) com o colchete comutador
[A,B] = AB âBA.
De fato, GL(n,R) Ă© aberto em L(Rn,Rn) e assim, gl(n,R) = TI(GL(n,R)) =TI(L(Rn,Rn)) = L(Rn,Rn). Para todo B â GL(n,R) a aplicação
LB : GL(n,R) â GL(n,R), LBA = BA
Ă© uma aplicação linear, daĂ
XΟ(LBA) = BAΟ = TA(LBXΟ(A)).
Pela forma local (1.4) temos
[Ο, η] = [XΟ, Xη](I) = DXη(I).XΟ(I)âDXΟ(I).Xη(I).
Mas DXη(I).B = Bη pois Xη(A) = Aη Ă© linear em A. DaĂ DXη(I).XΟ(I) = Οη e,portanto
[Ο, η] = Οη â ηΟ.
€
3.2.1 A Aplicação Exponencial
Se XΟ Ă© o campo de vetores invariante Ă esquerda correspondente a Ο â g, entĂŁo,pelo teorema de Picard de existĂȘncia e unicidade de soluçÔes de equaçÔes diferenciais,existe uma Ășnica curva integral ÎłÎŸ : R â G de XΟ começando em e, ou seja, ÎłÎŸ(0) = e eÎłâČΟ(t) = XΟ(ÎłÎŸ(t)). Utilizando esse fato temos a seguinte denição:
Denição 3.2.2 A aplicação exponencial exp : g â G Ă© denida por
exp(Ο) = ÎłÎŸ(1).
Para s â R tem-seexp(sΟ) = ÎłÎŸ(s).
De fato, xando s â R, a curva t 7â ÎłÎŸ(ts) passa por e em t = 0 e satisfaz a equaçãodiferencial
d
dtÎłÎŸ(ts) = sXΟ(ÎłÎŸ(ts)) = XsΟ(ÎłÎŸ(ts)).
37
Como ÎłsΟ(t) satisfaz a mesma equação diferencial e tambĂ©m passa por e em t = 0, segue,por unicidade, que ÎłsΟ(t) = ÎłÎŸ(ts). Fazendo t = 1 temos, exp(sΟ) = ÎłÎŸ(s).
Exemplos:
1. Se G = V um grupo vetorial entĂŁo g = V e daĂ, exp : V â V Ă© a aplicaçãoidentidade exp(v) = v.
€
2. Seja G = GL(n,R). Assim g = L(Rn,Rn). Dado A â L(Rn,Rn), a aplicação
ÎłA : Râ GL(n,R), t 7âââi=0
ti
i!Ai
satisfaz
ÎłA(0) = I
ÎłâČA(t) =
ââi=1
tiâ1
(iâ 1)!Ai = ÎłA(t)A.
Logo a aplicação exponencial é dada por
exp : L(Rn,Rn) â GL(n,R)
A â ÎłA(1) =ââi=0
Ai
i!= eA.
€
3.3 Grupos de Lie ClĂĄssicos
3.3.1 O Grupo Linear Geral Real, GL(n,R)
A função determinantedet : L(Rn,Rn) â R
38
Ă© suave e GL(n,R) = detâ1Râ0. Logo GL(n,R) Ă© aberto em L(Rn,Rn) e, portanto,GL(n,R) nĂŁo Ă© compacto. Recordando que sua ĂĄlgebra de Lie Ă© gl(n,R) = L(Rn,Rn)com o colchete comutador
[A,B] = AB âBA.
GL(n,R) Ă© composta por duas componentes conexas
GL+(n,R) := A â GL(n,R) | detA > 0e
GLâ(n,R) := A â GL(n,R) | detA < 0.Agruparemos esses resultados na proposição seguinte:
Proposição 3.3.1 O grupo GL(n,R) Ă© um grupo de Lie de dimensĂŁo n2 desconexo enĂŁo-compacto cuja ĂĄlgebra de Lie, gl(n,R), Ă© composta por todas matrizes reais nĂn como colchete
[A,B] = AB âBA.
3.3.2 O Grupo Linear Especial Real, SL(n,R)
Primeiramente observemos que a função determinante det : GL(n,R) â R Ă© suavecom derivada dada por
(TAdet)B = (detA).traço(Aâ1B).
De fato, desde que
det(A+ λB) = det(A.(I + λAâ1B))
= det(A).det(I + λAâ1B),
Ă© suciente provarmos qued
dλdet(I + λC)
âŁâŁâŁâŁÎ»=0
= traço(C).
Mas isso segue diretamente da expressĂŁo do polinĂŽmio caracterĂstico
det(I + λC) = 1 + λtraço(C) + ...+ λndet(C).
Denimos o grupo linear especial real SL(n,R) por
SL(n,R) = A â GL(n,R) | det(A) = 1.
39
Desta forma SL(n,R) Ă© um subgrupo fechado de GL(n,R).
O espaço tangente a SL(n,R) emA â SL(n,R) Ă© dado por TASL(n,R) = ker(TAdet) =B â GL(n,R)|traço(Aâ1B) = 0. DaĂ a ĂĄlgebra de Lie de SL(n,R), sl(n,R), con-siste das matrizes com traço zero. O colchete em SL(n,R) Ă© o mesmo de GL(n,R),[A,B] = AB âBA.
3.3.3 O Grupo Ortogonal, O(n)
O grupo ortogonal O(n) Ă© composto pelas matrizes nĂ n ortogonais
O(n) = A â L(Rn,Rn) | A Ă© ortogonal.Uma matriz ou aplicação linear A Ă© dita ortogonal se ăAx,Ayă =< x, y > para todosx, y â Rn
Equivalentemente, em termos da norma âxâ =< x, x >12 , A Ă© ortogonal se, e so-
mente se, âAxâ = âxâ,â x â Rn. Podemos ainda formular outra denição equivalenteconsiderando a matriz transposta AT , denida por
ăAx, yă =âšx,ATy
â©.
Assim, A Ă© ortogonal se, e somente se, AAT = I.
O grupo ortogonal O(n) serå dado pela imagem inversa da identidade I pela aplicação
Ï : L(Rn,Rn) â L(Rn,Rn), A 7â AAT .
Utilizando esta denição, a ĂĄlgebra de Lie o(n) deO(n) Ă© denida por o(n) = kerTIÏ =A â L(Rn,Rn) | A = âAT, o espaço das matrizes nĂ n anti-simĂ©tricas com o colchetecomutador
[A,B] = AB âBA.
3.3.4 O Grupo Ortogonal Especial, SO(n)
Uma matriz A Ă© ortogonal se, e somente se, AAT = I, logo A â O(n) â det(A) = ±1.Denimos o Grupo Ortogonal Especial SO(n) por
SO(n) = O(n) â© SL(n,R)
= A â O(n) | det(A) = 1.
40
Note que SO(n) Ă© a componente conexa de O(n) que contĂ©m a identidade I, daĂ,SO(n) possui a mesma ĂĄlgebra de Lie de O(n).
A ĂĄlgebra de Lie de SO(3)
Um caso particular muito interessante de grupo ortogonal especial Ă© o SO(3), pelofato da sua ĂĄlgebra de Lie so(3) poder ser identicada com (R3,Ă), onde Ă Ă© o produtovetorial usual. Detalharemos aqui, como podemos fazer essa identicação.
Lembrando que a ĂĄlgebra de Lie so(3) Ă© composta pelas matrizes anti-simĂ©tricas deordem 3, podemos obter um isomorsmo de ĂĄlgebras entre (so(3), [ , ]) e (R3,Ă) dadopela aplicação (hat map)
Ë: (so(3), [, ]) â (R3,Ă), A 7â A
onde A =
0 âa3 a2
a3 0 âa1
âa2 a1 0
e A = (a1, a2, a3). Assim,
[A,B] = AĂ B
De fato, se A =
0 âa3 a2
a3 0 âa1
âa2 a1 0
â so(3) e B =
0 âb3 b2b3 0 âb1âb2 b1 0
â so(3) entĂŁo,
[A,B] = AB âBA
=
0 a2b1 â a1b2 a3b1 â a1b3âa2b1 + a1b2 0 a3b2 â a2b3âa3b1 + a1b3 âa3b2 + a2b3 0
.
DaĂ,
[A,B] = (a2b3 â a3b2, a3b1 â a1b3, a1b2 â a2b1)
= (a1, a2, a3)Ă (b1, b2, b3)
= AĂ B.
3.4 Ação de um Grupo de Lie
Denição 3.4.1 Seja G um grupo de Lie e M uma variedade. Uma ação (Ă esquerda)de G em M Ă© uma aplicação suave Ί : GĂM âM tal que
41
i) Ί(e, x) = x,â x âM e
ii) Ί(g1,Ί(g2, x)) = Ί(g1g2, x), â g1, g2 â G e x âM .
Para cada g â G, seja Ίg : M âM dado por Ίg(x) = Ί(g, x). EntĂŁo as condiçÔes i eii da denição acima se tornam, Ίg = IdM e Ίg1Ίg2 = Ίg1g2 , respectivamente. Uma açãog 7â Ίg. Ă© um homomorsmo de grupo entre G e Diff(M), o grupo de difeomorsmosde M . Ă comum utilizar-se da notação g.x para indicar Ί(g, x).
Exemplos
a) S1 = z â C | âzâ = 1 Ă© um grupo abeliano com respeito Ă multiplicação
” : S1 Ă S1 â S1
(x, y) 7â x.y
A ålgebra de Lie de S1 é identicada com R e a aplicação exponencial é dada por
exp : Râ S1, t 7â e2Ïit.
Podemos denir uma ação de S1 sobre C2 por
Ί : S1 Ă C2 â C2, (eiΞ, (z1, z2)) 7â (eiΞz1, eâiΞz2).
€
b) GL(n,R) age sobre Rn de maneira natural por (A, x) 7â Ax. Ă muito simples vericarque esta aplicação Ă©, de fato, uma ação.No caso particular da ação de SO(3) em R3, observamos que esta aplicação deixainvariante a 2-esfera S2. Desta forma, temos tambĂ©m, uma ação de SO(3) em S2.
€
c) Um campo de vetores X sobre uma variedade M Ă© dito completo quando seu uxo ÏtestĂĄ denido para todo t â R. Neste caso, Ït dene uma ação de R em M dada por
Î : RĂM âM, (t,m) 7â Ït(m).
De fato,Î(0,m) = Ï0(m) = m
42
e
Î(t1,Î(t2,m)) = Î(t1, Ït2(m))
= (Ït1 Ït2)(m)
= Ït1+t2(m)
= Î(t1 + t2,m),
â t1, t2 â R e m âM.
€
Nas deniçÔes seguintes considere um grupo de Lie G agindo sobre uma variedade Matravés de uma aplicação Ί.
Denição 3.4.2 A Ăłrbita1 de x âM Ă© denida por
Orb(x) = Ίg(x) | g â G âM.
Denição 3.4.3 O grupo de isotropia (estabilizador) de Ί em x âM Ă© dado por
Gx = g â G | Ίg(x) = x â G.
Desde que a aplicação Ίx : GâM denida por Ίx(g) = Ί(g, x) Ă© contĂnua, Gx = Ίâ1x (x)
Ă© um subgrupo fechado e daĂ, um subgrupo de Lie de G.
Uma ação é dita:
1. Transitiva, se existe apenas uma Ăłrbita, ou seja, â x, y â M existe um g â G talque g.x = y;
2. Efetiva, se Ίg = IdM implica em g = e, isto Ă©, g 7â Ίg e injetiva;
3. Livre, se Gx = e para todo x â M, ou seja, Ίg(x) = x implica g = e. Note quetoda ação livre Ă© efetiva.
Exemplos1Em dimensĂŁo nita pode-se mostrar que Orb(x) Ă© uma subvariedade imersa de M .
43
a) A translação Ă esquerda Lg : G â G; h 7â gh, dene uma ação livre e transitiva deG nele mesmo.
€
b) A conjugação g 7â Ig = Rgâ1 Lg dene uma ação de G sobre G. A aplicaçãoIg : G â G; h 7â ghgâ1 Ă© denominada automorsmo linear associado Ă g. AsĂłrbitas dessa ação sĂŁo chamadas classes de conjugação.
€
Denição 3.4.4 (A ação Adjunta) Diferenciando o automorsmo linear Ig no ele-mento identidade e, obtemos a representação adjunta de G sobre g :
Adg := TeIg : g â g.
A ação adjunta Ă© a ação de G em g dada porAd : GĂ g â g;
(g, Ο) â Adg(Ο).
Em certas ocasiĂ”es utilizaremos a notação: Adg(Ο) = gΟgâ1.
Denição 3.4.5 (A Ação Coadjunta) Seja gâ o dual da ĂĄlgebra de Lie g de G e sejaAdâg : gâ â gâ a aplicação dual de Adg, denida por
âšAdâgα, Ο
â©= ăα,AdgΟă
para α â gâ e Ο â g.
A ação coadjunta Ă© a ação de G sobre gâ denida porΊ : GĂ gâ â gâ;
(g, α) 7â Adâgâ1α.
Denição 3.4.6 (Gerador Innitesimal) Seja Ί : G Ă M â M uma ação. DadoΟ â g, a aplicação ΊΟ : R ĂM â M, denida por ΊΟ(t, x) = Ί(exptΟ, x) Ă© uma R-açãosobre M. EntĂŁo ΊexptΟ : M âM Ă© um uxo em M . Denimos o gerador innitesimalda ação correspondendo Ă ÎŸ como o campo de vetores sobre M dado por
XΟ(x) :=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ΊexptΟ(x).
44
Proposição 3.4.1 O espaço tangente a uma órbita Orb(x0) em um ponto x é dado por
TxOrb(x0) = XΟ(x) | Ο â g.
Demonstração: Seja ÏΟ(t) uma curva suave em G tangente a Ο em t = 0.
Denimos a curva ΊΟx(t) = ΊÏΟ(t)(x). ΊΟ
x(t) Ă© suave e satisfaz ΊΟx(0) = Ίe(x) = x. DaĂ
d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ΊΟx(t) =
d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ΊÏΟ(t)(x) = XΟ(x)
Ă© um vetor tangente a Orb(x0) em x. Como um vetor tangente a Orb(x) Ă© dado por umaclasse de equivalĂȘncia de curvas como essa, entĂŁo segue-se a armação.
Proposição 3.4.2 Seja Adg : g â g a representação adjunta de G. Dena Ïη(g) =Adgη. EntĂŁo TeÏηΟ = [Ο, η].
Demonstração: Seja Ït(g) = g. exp tΟ = Rexp tΟg o uxo de XΟ. EntĂŁo
[Ο, η] = [XΟ, Xη](e)
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ÏâtXη(e)
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
TÏt(e)Ïâ1t .Xη(Ït(e))
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Texp tΟRexp(âtΟ).Xη(exp tΟ)
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Texp tΟRexp(âtΟ)TeLexp tΟη
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Te(Lexp tΟ Rexp(âtΟ)
)η
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Adexp tΟη
45
Exemplo 3.4.1 Seja Adâ : GĂ gâ â gâ, (g, η) 7â Adâgâ1η a ação coadjunta de um grupode Lie G sobre o dual de sua ĂĄlgebra de Lie gâ. Calculemos o gerador innitesimal XΟ
desta ação.
Seja Ο â g. Dados α, η â gâ temos
ăXΟ(α), ηă =
âšd
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Adâexp(âtΟ)α, ηâ©
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
âšAdâexp(âtΟ)α, η
â©
=d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
âšÎ±,Adexp(âtΟ)η
â©
=
âšÎ±,
d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Adexp(âtΟ)ηâ©
= ăα,â[Ο, η]ă = âăα, adΟηă = â âšadâΟα, η
â©
LogoXΟ(α) = âadâΟα,
onde adΟ Ă© a aplicação linear adΟ(ΟâČ) = [Ο, Ο
âČ].
€
46
CapĂtulo 4
O Mapa do Momento
Seja G um grupo de Lie e (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica. Suponha que G agesobre (M,Ï) por simplectomorsmos, isto Ă©, existe um homomorsmo de grupos G âSimp(M,Ï) : g 7â Ïg.
Dado Ο â g, o gerador innitesimal correspondente Ă© dado pelo campo de vetores
XΟ(x) =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
Ïexp tΟx =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
exp tΟ.x.
Segue do fato que Ïg Ă© um simplectomorsmo para todo g â G que o campo XΟ Ă©simplĂ©tico, ou seja, a 1-forma Îč(XΟ)Ï := Ï(XΟ, ·) Ă© fechada para todo Ο â g.
Denição 4.0.7 Uma ação de G sobre (M,Ï) Ă© dita fracamente Hamiltoniana se XΟ
Ă© um campo de vetores Hamiltoniano para todo Ο â g, ou seja, a 1-forma Îč(XΟ)Ï Ă© exataâΟ â g,
Ï(XΟ, ·) = dHΟ.
Denição 4.0.8 Uma ação de G sobre (M,Ï) Ă© dita Hamiltoniana se a aplicaçãog â Câ(M)
Ο 7â HΟ
dene um homomorsmo de ĂĄlgebra de Lie com respeito Ă estrutura de ĂĄlgebra de Liesobre g e Ă estrutura de Poisson sobre Câ(M), isto Ă©,
H[Ο,η] = HΟ, Hη.
47
Lema 4.0.1 Seja G um grupo de Lie conexo e (M,Ï) uma variedade simplĂ©tica. Suponhaque G age sobre (M,Ï) por uma ação Hamiltoniana g 7â Ïg e XΟ = XHΟ
,âΟ â g. EntĂŁo
Hgâ1Οg = HΟ Ïgpara g â G e Ο â g. Onde gâ1Οg = Adgâ1Ο.
Demonstração: Desde queXgâ1Οg = ÏâgXΟ,
entĂŁo
dHgâ1Οg = Ï(Xgâ1Οg, ·)= Ï(ÏâgXΟ, ·)= d(HΟ Ïg).
Logo a diferença das funçÔes HΟ Ïg e Hgâ1Οg Ă© constante e isto implica
Hgâ1[Ο,η]g = Hgâ1Οg, Hgâ1ηg= HΟ Ïg, Hη Ïg= HΟ, Hη Ïg= H[Ο,η] Ïg.
Seja g : [0, 1] â G um caminho contĂnuo tal que g(0) = e e g(1) = g. Denoteη = d
dtg(t)g(t)â1 â g. EntĂŁo
d
dtÏg = Xη Ïg, d
dtgâ1Οg = gâ1[Ο, η]g.
Assim,
d
dt(HΟ Ïg âHgâ1Οg) = d(HΟ Ïg)ÏâgXη âHgâ1[Ο,η]g
= Ï(XHΟÏg, ÏâgXη)âH[Ο,η] Ïg
= Ï(XHΟÏg, XHηÏg
)â Hη, Hη Ïg= HΟ Ïg, Hη Ïg â Hη, Hη Ïg= 0.
48
Como g(0) = e, entĂŁo HΟ Ïg = Hgâ1Οg. Avaliando g(t) em t = 1 concluĂmos ademonstração.
Observe que o lema continua vĂĄlido mesmo se G nĂŁo Ă© conexo, desde que consideremospontos g pertencentes a mesma componente conexa da identidade e â G.
Denição 4.0.9 Assuma que a ação de G sobre M Ă© Hamiltoniana. Seja Ο â g e x âM .O Mapa do Momento da ação de G em M Ă© a aplicação ” : M â gâ dada por
HΟ(x) = ă”(x), Οăde forma a denir um homomorsmo de ĂĄlgebra de Lie Ο â HΟ como no lema 4.0.1.
Lema 4.0.2 O mapa do momento Ă© equivariante com respeito a ação de um grupo conexoG sobre M e a ação coadjunta Adâg de G sobre gâ:
” Ïg = Adâgâ1 ” =: gâ1”(x)g.
Ou seja, o diagrama abaixo comuta.
gâAdâ
gâ1// gâ
M
”
OO
Ïg
// M
”
OO
Demonstração: Segue diretamente do lema 4.0.1 jå que
ă”(Ïg(x)), Οă = HΟ(Ïg(x))
= Hgâ1Οg(x)
= ă”(x), Adgâ1Οă=
âšAdâgâ1”(x), Ο
â©.
No lema anterior, se considerarmos g pertencente a mesma componente conexa daidentidade e â G, a hipĂłtese de conexidade do grupo G pode ser retirada.
49
Exemplo 4.0.2 Calculemos o mapa do momento para a ação de SO(3) em T â(R3) âŒ=R3 Ă R3 denida por
Ί : SO(3)Ă R3 Ă R3 â R3 Ă R3
(A, (q, p)) 7â (Aq,Ap)
Primeiramente encontraremos o gerador innitesimal correspondente a um elementoA da ĂĄlgebra de Lie de SO(3)
ΟT âR3(z) =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
(exp(At)).z
onde A â so(3) e z = (q, p) â R3 Ă R3. Lembrando que exp(At) =ââ
i=0ti
i!Ai, temos que
ΟT âR3(q, p) = (Aq, Ap).
JA é, por denição, o Hamiltoniano do gerador innitesimal, ou seja
Ï(ΟT âR3 , .)(q, p) = dJA(q, p)
onde
w =3âi=1
dqi ⧠dpi
= dqx ⧠dpx + dqy ⧠dpy + dqz ⧠dpzObtemos assim
(dqx ⧠dpx + dqy ⧠dpy + dqz ⧠dpz)(q1 â
âqx+ q2
â
âqy+ q3
â
âqz+ p1
â
âpx+ p2
â
âpy+ p3
â
âpz) =
= (q1, q2, q3)(dpx, dpy, dpz)â (p1, p2, p3)(dqx, dqy, dqz)
= Aq.dpâ Ap.dq
DaĂ
Aq.dpâ Ap.dq = dJA
=âJAâq
.dq +âJAâp
.dp
50
â
âJA
âq= âA.p = âAĂ p
âJA
âp= âA.q = âAĂ q
â JA(q, p) = (AĂ q).p
= â(AĂ p).q
Escrevendo
< J(q, p), A > = JA(q, p)
= (AĂ q).p
= (q Ă p).A
= < q Ă p, A >
Logo,J(q, p) = q Ă p.
€
Exemplo 4.0.3 Seja G um grupo de Lie compacto e conexo e seja O â gâ uma Ăłrbitacoadjunta, ou seja, uma Ăłrbita sob a ação coadjunta de G.
Existe uma estrutura simplética natural sobre O. Primeiramente, pela proposição3.4.1 e pelo exemplo 3.4.1, o espaço tangente a O em η é dado por
TηO = ad(Ο)âη |Ο â g.
Denimos a forma simplética sobre O por
Ïη(ad(Ο)âη, ad(ΟâČ)âη) = ăη, [Ο, ΟâČ]ă
para Ο, ΟâČ â g.
G age sobre O através da ação coadjunta
Ïg(η) = Adâgâ1η.
51
Como visto no exemplo 3.4.1, o gerador innitesimal Ă© dado por
XΟ(η) = âad(Ο)âη.A função HΟ : O â R,
HΟ(η) = ăη, Οăsatisfaz
dHΟ(η)ad(ΟâČ)âη = ăad(ΟâČ)âη, Οă
= ăη, ad(ΟâČ)Οă= ăη,âad(Ο)ΟâČă= ăη, [Ο, ΟâČ]ă= Ïη(ad(Ο)
âη, ad(ΟâČ)âη).
e Ă©, portanto, a função Hamiltoniana correspondente a XΟ.
Desta forma, o mapa do momento ” : O â gâ Ă© dado pela inclusĂŁo
”(η) = η.
€
Exemplo 4.0.4 Considere a ação de um grupo de Lie G sobre seu brado cotangenteT âG induzido pela translação Ă direita Rgâ1 . Como na proposição (1.1.5) a ação simplĂ©ticaĂ© dada por
Ïg : T âGâ T âG,
Ïg(h, vâ) = (hgâ1, (Thgâ1Rg)
âvâ)
onde g, h â G e vâ â T âhGDado Ο â g, o campo de vetores sobre G,
Gâ TG : h 7â âTeLhΟgera o grupo a 1-parĂąmetro t 7â Rexp(âtΟ).
Como Ïexp(tΟ) Ă© a suspensĂŁo Ă T âG de Rexp(âtΟ), entĂŁo pela proposição (1.1.5) o uxot 7â Ïexp(tΟ) Ă© gerado pela função Hamiltoniana
HΟ(h, vâ) = â < vâ, TeLhΟ >= â < T âe Lhv
â, Ο >
52
Logo o mapa do momento ” : T âGâ gâ Ă© dado por
”(h, vâ) = âT âe Lhvâ
Este resultado ca ainda mais simples quando identicamos T âhG com gâ atravĂ©s dodifeomorsmo
f : T âGâ GĂ gâ : (h, vâ) 7â (h, T âe Lhvâ)
A ação de G sobre GĂ gâ serĂĄ dada por
Ïg(h, η) = f Ï fâ1(h, η)
= f(Ï(h, T âhLhâ1η))
= f(hgâ1, T âhgâ1Rg(TâhL
â1h η))
= f(hgâ1, T âhgâ1(Lâ1h Rg)η)
= (hgâ1, T âe Lhgâ1(T âhgâ1(Lâ1h Rg)η)
= (hgâ1, T âe (Lhâ1RgLghâ1)η)
= (hgâ1, Adâgâ1η)
Dado Ο â g, a função Hamiltoniana HΟ Ă© dada por
HΟ : GĂ gâ â R : (h, η) 7â< âη, Ο >
DaĂ o mapa do momento ” : GĂ gâ â gâ Ă© apenas menos a projeção sobre a segundacomponente.
”(h, η) = âη.€
53
CapĂtulo 5
O Teorema da Convexidade
Nesta seção estaremos interessados no teorema da convexidade de Atiyah-Guillemin-Sternberg [2] [6]. Esse Ă© um resultado clĂĄssico que arma em sua essĂȘncia a convexidadeda imagem do mapa do momento ” : M â Rm de uma ação hamiltoniana do m-toro Tmsobre uma variedade simplĂ©tica compacta e conexa (M,Ï). Neste caso, identicamos aĂĄlgebra de Lie g = Rm de Tm com seu dual gâ = Rm atravĂ©s do produto interno canĂŽnico.
Para ilustrar esse teorema mostraremos um resultado interessante devido a Schur [10]sobre os autovalores de uma matriz hermitiana e seus elementos diagonais. Atiyah [2]notou que tal resultado poderia ser visto como um corolĂĄrio do teorema da convexidade.
5.1 FunçÔes de Morse-Bott
Uma generalização do conceito de função de Morse foi dada por Bott [4] considerandoos casos onde os pontos crĂticos de uma função nĂŁo formam apenas um conjunto discretomas subvariedades suaves (possivelmente de dimensĂ”es diferentes). Na demonstração doteorema da convexidade do mapa do momento nos baseamos na conexidade dos conjuntosde nĂveis Hâ1
Ξ (η) da função hamiltoniana HΞ = ăΞ, ”ă que gera a ação do toro. Esse fatoĂ© conseqĂŒĂȘncia de HΞ ser uma função de Morse-Bott, como veremos a seguir.
Seja f : M â R uma função suave cujo conjunto crĂtico Crit(f) contĂ©m uma subvarie-dade C de dimensĂŁo positiva. Usando alguma mĂ©trica Riemaniana sobre M decompomosos espaços tangentes como
TxM = TxC â TxCâ„
54
para todo x â C.Denotaremos por â2f(x) : TxM â TxM o operador linear induzido pela Hessiana
d2f(x) : TxM ĂTxM â R de f atravĂ©s da mĂ©trica Riemaniana, ou seja, g(â2f(x).Ο, η) =d2f(x)(Ο, η). Por denição, esse operador Ă© auto-adjunto com respeito ao produto internoproveniente da mĂ©trica Riemaniana e daĂ, diagonalizĂĄvel sobre R.
Dados quaisquer V â TxC e W â TxM temos que
d2f(x)(V,W ) = Vx(W .f) = 0,
onde W Ă© uma extensĂŁo de W . Isto segue do fato que V â TxC e qualquer extensĂŁo deW satisfaz df(W )|C = 0. DaĂ a Hessiana de f induz uma forma bilinear simĂ©trica sobreTxC
â„.
Observe que a Hessiana ser nĂŁo-degenerada sobre TxCâ„ Ă© equivalente a
TxCrit(f) = Kerâ2f(x).
Denição 5.1.1 Uma função suave f : M â R sobre uma variedade M Ă© chamadafunção de Morse-Bott se seu conjunto crĂtico Crit(f) Ă© uma uniĂŁo disjunta de sub-variedades conexas e para cada subvariedade crĂtica C â Crit(f), a Hessiana de f Ă©nĂŁo-degenerada sobre TxCâ„,âx â C.
Dizemos que a Hessiana de uma função de Morse-Bott Ă© nĂŁo-degenerada na direçãonormal de suas subvariedades crĂticas.
Exemplo 5.1.1 Toda função de Morse f : M â R Ă© uma função de Morse-Bott comsubvariedades crĂticas de dimensĂŁo zero.
€
Exemplo 5.1.2 A função f : Sn â R, f(x1, ..., xn+1) = x2n+1 Ă© uma função de Morse-
Bott. O pĂłlo norte N , o pĂłlo sul S e o equador E = (x1, ..., xn+1) â Sn| xn+1 = 0 sĂŁoos pontos crĂticos de f . Observe que as variedades crĂticas sĂŁo de dimensĂ”es diferentes,N e S de dimensĂŁo zero e E de dimensĂŁo nâ 1.
€
55
O campo de vetores gradiente âf de uma função f : M â R suave sobre umavariedade Riemaniana (M, g) Ă© denido por
g(âf, V ) = df(V )
para todo campo de vetores V sobre M .
Seja Ït : M âM o uxo gradiente negativo denido por
d
dtÏt(x) = ââf Ït, Ï0 = Id.
A linha de uxo gradiente Îłx : [0, 1] âM Ă© a curva integral dada por
Îłx(t) = Ït(x).
Proposição 5.1.1 Toda função suave f : M â R sobre uma variedade Riemaniana dedimensĂŁo nita (M, g) nĂŁo cresce ao longo das linhas de uxo gradiente.
Demonstração:d
dtf(Îłx(t)) =
d
dt(f Ït(x))
= dfÏt(x) d
dtÏt(x)
= dfÏt(x)(â(âf)(Ït(x)))
= âg((âf)(Ït(x)), (âf)(Ït(x))) †0.
Denição 5.1.2 Seja C uma subvariedade crĂtica (conexa) de uma função de Morse-Bottf : M â R. A variedade estĂĄvel de C Ă© denida por
W s(C) = x âM | limtââ
Ït(x) = p â C
e a variedade instĂĄvel por
W u(C) = x âM | limtâââ
Ït(x) = p â C.
56
O Ăndice de C Ă© dado por
nâ(C) = dimW u(C)â dimC = codimW s(C)
e o coĂndice por
n+(C) = dimW s(C)â dimC = codimW u(C).
O Ăndice de uma subvariedade crĂtica C coincide com a dimensĂŁo do autoespaço ne-gativo da Hessiana da função f sobre TCâ„ e o coĂndice coincide com a dimensĂŁo doautoespaço positivo correspondente.
Assim como as funçÔes de Morse, dado um ponto x âM , uma função de Morse-Bottf decresce ao longo da linha de uxo gradiente, como visto na proposição 5.1.1, e segueque, se M Ă© compacta, a trajetĂłria Ït(x) deve convergir para alguma variedade crĂticaquando tââ e quando tâ ââ. Assim,
M =âC
W s(C) =âC
W u(C).
O lema abaixo é o principal resultado sobre teoria de Morse-Bott que usaremos nademonstração do teorema da convexidade. Faremos uso do seguinte argumento de trans-versalidade:
Suponha que a subvariedade compacta X em M intercepta outra subvariedade Z e quedimX + dimZ < dimM . Então podemos fazer uma deformação arbitrariamente pequenaem X de forma que não intercepte Z.
Mais detalhes sobre tal argumento podem ser encontrados em [5].
Lema 5.1.1 Seja f : M â R uma função de Morse-Bott sobre uma variedade compactaM. Suponha que as variedades crĂticas de f possuem Ăndices e coĂndices n±(C) 6= 1. EntĂŁoo conjunto de nĂvel fâ1(c) Ă© conexo para todo c â R.
Demonstração: Primeiramente provaremos que existe exatamente uma variedade crĂticaconexa de Ăndice zero. Seja C0 a uniĂŁo de todas as variedades crĂticas de Ăndice zero. ComoM =
âCW
s(C) entĂŁo o complemento deW s(C0) Ă© a uniĂŁo das variedade estĂĄveis de todasas outras subvariedades crĂticas e, por hipĂłtese, cada uma dessas variedades estĂĄveis temcodimensĂŁo pelo menos 2. Segue pelo argumento citado acima que qualquer caminho
57
ligando dois pontos de W s(C0) â M pode ser tomado disjunto de M âW s(C0). Assim,W s(C0) Ă© conexo e, portanto, C0 tambĂ©m Ă© conexo. Da mesma maneira, prova-se queexiste exatamente uma variedade crĂtica de coĂndice zero.
Sejamc0 < c1 < ... < cN
os nĂveis crĂticos de f. Desta forma a variedade crĂtica de Ăndice zero Ă©
C0 = fâ1(c0)
e a variedade crĂtica de coĂndice zero Ă©
CN = fâ1(cN).
Provaremos que o conjunto de nĂvel fâ1(c) Ă© conexo sempre que c0 < c < c1. Istosegue do fato de podermos unir quaisquer dois pontos x0, x1 â fâ1(c) por linhas deuxo com pontos em C0 e estes podem ser unidos por um caminho em C0. Desde quecodimC0 = n+(C0) â„ 2 o caminho resultante pode ser tomado disjunto de C0 por nossoargumento de transversalidade e depois movido para o nĂvel c usando o uxo gradiente.
Faremos agora um processo indutivo pra provar que os conjuntos de nĂvel fâ1(c) sĂŁoconexos para qualquer valor regular c de f . Suponha que fâ1(c) Ă© conexo para c < cj, comj < N. Sejam x0, x1 â fâ1(cj + Δ). Conecte cada um desses pontos a outros em W s(C0)por um caminho em fâ1(cj + Δ) e mova-os, usando o uxo gradiente, ao nĂvel cj â Δ.Teremos entĂŁo, dois pontos xâČ0 e xâČ1 que, por hipĂłtese de indução, podem ser conectadospor um caminho ÎłâČ : [0, 1] â fâ1(cj â Δ). Desde que o complemento de W u(CN) em Mtem codimensĂŁo maior ou igual a 2, podemos tomar o caminho resultante contido emW u(CN). Assim, usamos o uxo para movĂȘ-lo para o nĂvel cj + Δ e obteremos o caminhorequerido Îł : [0, 1] â fâ1(cj + Δ) conectando x0 e x1. Ou seja, fâ1(cj + Δ) Ă© conexo,completando o argumento indutivo.
Para nalizarmos a demonstração, provaremos, por continuidade de f , que os con-juntos de nĂvel sĂŁo conexos. Suponha que fâ1(cj) Ă© desconexo para algum j. EntĂŁoexistem conjuntos abertos U, V â M com fechos disjuntos tais que fâ1(cj) â© U 6= â e fâ1(cj) â© V 6= â . Como o conjunto dos valores regulares de f Ă© denso em R, entĂŁofâ1(c) â© U 6= â e fâ1(c) â© V 6= â para valores regulares c arbitrariamente prĂłximos decj. Isso contradiz o fato que os conjuntos de nĂvel regulares sĂŁo conexos, como tĂnhamosprovado anteriormente, nalizando a demonstração.
58
5.2 O Teorema da Convexidade
Considere uma ação Hamiltoniana de um toro Tm sobre uma variedade simpléticacompacta e conexa. O teorema da convexidade arma que a imagem do mapa do momentoneste caso forma um conjunto convexo de Rm. Antes de enunciarmos formalmente esteresultado, apresentaremos os lemas necessårios à sua demonstração.
Lema 5.2.1 Existe uma estrutura quase complexa J sobre M compatĂvel com Ï e inva-riante sob a ação do toro, ou seja ÏâΞJ = J para todo Ξ â Rm.
Demonstração: Seja g0 uma métrica Riemaniana sobre M . Dena
g =
â«
Tm
ÏâΞg0 dΞ.
A mĂ©trica g Ă© evidentemente invariante sob a ação do toro e tomando sua imagem pelaaplicação r : Met(V ) â I(V, Ï) da proposição 2.1.2 obtemos uma estrutura complexainvariante e compatĂvel com Ï.
Observe que este argumento poderia ser utilizado para qualquer ação simplética dequalquer grupo de Lie compacto.
Lema 5.2.2 Seja G â Tm um subgrupo de Tm. EntĂŁo o conjunto dos pontos xos de G
Fix(G) =â
ΞâGFix(ÏΞ)
é uma subvariedade simplética de M.
Demonstração: Seja x â Fix(G). Para Ξ â G denote a derivada de ÏΞ em x por
ΚΞ = TxÏΞ : TxM â TxM
Essas aplicaçÔes determinam uma ação de G sobre o espaço vetorial simplĂ©tico complexo(TxM,Ïx, Jx).
59
Considere a aplicação exponencial expx : TxM âM com respeito a mĂ©trica invarianteg(v, w) = Ï(v, Jw).
Se Îł : RâM,Îł(0) = x e ÎłâČ(0) = Ο â TxM Ă© uma geodĂ©sica o mesmo vale para ÏΞ Îł.Temos que ÏΞ(Îł(0)) = ÏΞ(x) = x e
d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
ÏΞ Îł(t) = ΚΞ.Ο
Logoexpx(ΚΞΟ) = ΚΞ(Îł(1)) = ΚΞ(expx(Ο))
Em conseqĂŒĂȘncia disso os pontos xos de ÏΞ numa vizinhança de x correspondem apontos xos de ΚΞ no espaço tangente TxM jĂĄ que
ÏΞ(expx(Ο)) = expx(Ο) â ΚΞΟ = Ο.
Desta formaTxFix(G) =
â
ΞâGker(I âΚΞ).
Pelo lema (5.2.1) as aplicaçÔes lineares ΚΞ sĂŁo transformaçÔes unitĂĄrias de TxM desdeque â Ο, η â TxM ,
g(ΚΞΟ,ΚΞη) = Ï(ΚΞΟ, JΚΞη)
= Ï(ΚΞΟ, Jη)
= âÏ(JΚΞΟ, η)
= âÏ(JΟ, η)
= Ï(Ο, Jη)
= g(Ο, η).
Segue daà e do lema (5.2.1) queΚΞJx = JxΚΞ,
pois
g(ΚΞJx â JxΚΞ,ΚΞJx â JxΚΞ) = g(ΚΞJx,ΚΞJx)â 2g(ΚΞJx, JxΚΞ) + g(JxΚΞ, JxΚΞ)
= g(Jx, Jx)â 2g(Jx, Jx) + g(Jx, Jx) = 0.
Dado Ο â Ker(I âΚΞ) a igualdade ΚΞJx = JxΚΞ implica que
ΚΞJxΟ = JxΚΞΟ = JxΟ.
60
Logo JxΟ â Ker(IâΚΞ), ou seja, o autoespaço com autovalor 1 de ΚΞ Ă© invariante porJx e daĂ um subespaço complexo e, por conseqĂŒĂȘncia da proposição 2.2.2, um subespaçosimplĂ©tico.
Lema 5.2.3 Para todo Ξ â Rm a função HΞ = ă”, Ξă : M â R Ă© uma função de Morse-Bott com variedade crĂticas de dimensĂŁo e Ăndice pares. AlĂ©m disso, o conjunto crĂtico
Crit(HΞ) =âÏâTΞ
Fix(ÏÏ )
Ă© uma subvariedade simplĂ©tica, onde TΞ = (tΞ + k| t â R, k â Zm/Zm) Ă© o sub-torofechado gerado por Ξ.
Demonstração: Suponha que Ξ possui componentes linearmente independentes sobreos racionais de forma que o conjunto tΞ + k| t â R, k â Zm Ă© denso em Rm.
Desde que dHΞXH = Ï(XH , XH) = 0 entĂŁo HΞ(ÏtΞ(x)) = H(x). Isto implica que ospontos crĂticos de H = HΞ sĂŁo os pontos xos de ÏtΞ, que, pela independĂȘncia linear deΞ, sĂŁo os pontos xos do toro inteiro. Assim,
Crit(H) =â
ÏâTm
Fix(ÏÏ ).
Pelo lema (5.2.2) esse conjunto forma uma subvariedade simplĂ©tica de M . Considerea Hessiana de H em um ponto x â Crit(H) com respeito a mĂ©trica Riemaniana g(u, v) =Ï(u, Jv) e considere o operador linear induzido
â2H(x) : TxM â TxM.
Para Ο â TxM tem-se
Ï(âJxâH(x), Ο) = g(âH(x), Ο)
= dH(x)Ο
= Ï(XH(x), Ο).
61
LogoXH(x) = âJxâH(x)
eTxXH = âJxdâH(x) = âJxâ2H(x).
Assim TxXH = âJxâ2H(x) dene um campo de vetores linear sobre TxM. Desde qued
dtΚtΞ = Tx
(d
dtÏtΞ
)
= Tx(XH(ÏtΞ))
= TxXH(ΚtΞ),
entĂŁo ΚtΞ Ă© o uxo de TxXH . Logo ΚtΞ = exp(âtJxâ2H(x)) e assim, o nĂșcleo de â2H(x)corresponde aos pontos xos das matrizes ΚtΞ. Desde que Ξ tem componentes indepen-dentes sobre os racionais esses sĂŁo os pontos xos de ÎšÏ para todo Ï â Tm. DaĂ
TxCrit(H) =â
ÏâTm
ker(I âÎšÏ ) = kerâ2H(x).
Como visto no lema anterior, ÎšÏ Ă© uma transformação unitĂĄria e da mesma forma, Jxcomuta com â2H(x). Assim, os auto-espaços de â2H(x) sĂŁo invariantes sob Jx o que ostornam subespaços complexos e conseqĂŒentemente, de dimensĂŁo par.
Desta forma, provamos que a variedade de pontos crĂticos de H tem Ăndice par eTxCrit(H) = Kerâ2H(x) Ă© um subespaço complexo e portanto, subespaço simplĂ©tico deTxM. Isto prova o lema no caso das coordenadas de Ξ serem linearmente independentessobre os racionais. O caso geral segue restringindo a ação ao subtoro fechado TΞ â Tm.
Denição 5.2.1 Denotaremos as componentes do mapa do momento ” : M â Rm por” = (”1, ”2, ..., ”m).
Diremos que ” Ă© irredutĂvel se as 1-formas d”1, ..., d”m sĂŁo linearmente independentese redutĂvel caso contrĂĄrio.
No caso onde ” Ă© redutĂvel, a função
HΞ = ă”, Ξă =mâj=1
Ξj”j
62
Ă© constante para algum vetor nĂŁo-nulo Ξ â Rm. Neste caso a componente com Ξj 6= 0pode ser negligenciada reduzindo a ação para uma de Tmâ1. Mais precisamente, existeuma ação Tmâ1 â (M,Ï), Ï 7â ÏâČÏ com mapa do momento ”âČ : M â Rmâ1 e uma matrizinjetiva A â Z(mâ1)Ăm tal que
ÏΞ = ÏâČAΞ, ”(x) = AT”âČ(x)
para todo Ξ â Rm e x âM.
Observe que no caso da ação ser redutĂvel a convexidade de ”âČ(M) implica na conve-xidade de ”(M) pois, se ”(x), ”(y) â ”(M), entĂŁo
(1â t)”(x) + t”(y) = AT [(1â t)”âČ(x) + t”âČ(y)] â ”(M).
Usaremos esse fato na demonstração do teorema da convexidade, jå que o faremos porindução sobre a dimensão do toro, como veremos a seguir.
Teorema 5.2.1 (Atiyah-Guillemin-Sternberg) Seja (M,Ï) uma variedade simplĂ©-tica compacta e conexa. Considere uma ação hamiltoniana de Tm sobre (M,Ï) dadapor Ξ â ÏΞ com mapa do momento ” : M â Rm. EntĂŁo os pontos xos da ação formamuma uniĂŁo nita de subvariedades simplĂ©ticas conexas C1, ..., CN :
â
ΞâTm
Fix(ÏΞ) =Nâj=1
Cj.
O mapa do momento Ă© constante sobre cada um desses conjuntos
”(Cj) = ηj â Rm
e a imagem de ” é o fecho convexo dos pontos ηj, ou seja,
”(M) =
Nâj=1
λjηj |Nâj=1
λj = 1, λj ℠0
.
Demonstração:
Primeiramente provaremos que ”â1(η) Ă© conexo para qualquer valor regular η â Rnde ”. Para isso usaremos indução sobre a dimensĂŁo m do toro.
63
Se m = 1 os pontos crĂticos de ” sĂŁo os mesmos de HΞ =< ”, Ξ >, Ξ 6= 0, daĂ, pelolema 5.2.3, a função ” : M â R satisfaz as hipĂłteses do lema (5.1.1) e portanto ”â1(η) Ă©conexo.
Suponha que ”â1(η) Ă© conexo para açÔes de Tmâ1. Se a ação de Tm Ă© redutĂvel nadatemos a fazer pois d”1, d”2, ..., d”m sĂŁo linearmente dependes, logo ”â1(η) = â para qual-quer valor regular η de ”.
Suponhamos que nossa ação Ă© irredutĂvel. Neste caso, a função HΞ = ă”, Ξă Ă© nĂŁo-constante para qualquer 0 6= Ξ â Rm.
SejaZ =
â
Ξ 6=0
Crit(HΞ).
Pelo lema (5.2.3) os pontos crĂticos de HΞ sĂŁo os pontos xos da ação do subtoro fechadoTΞ â Tm e formam subvariedades prĂłprias de dimensĂŁo par deM. Esta uniĂŁo Ă© enumerĂĄveldesde que o conjunto dos pontos xos diminui quando o toro aumenta, entĂŁo Ă© sucienteconsiderarmos subtoros unidimensionais ou seja, vetores inteiros Ξ. Como M Ă© compactoe de Hausdor, pelo teorema da categoria de Baire, Z tem interior vazio, logo M â Z Ă©denso em M. M â Z Ă© aberto jĂĄ que x â M â Z se, e somente se os funcionais linearesd”1(x), ..., d”m(x) sĂŁo linearmente independentes.
O conjunto de valores regulares de ” Ă© denso em ”(M). De fato, aproximando η =”(x) â ”(M) por uma seqĂŒĂȘncia xj â M â Z, entĂŁo a imagem ”(M) contĂ©m umavizinhança de ”(xj). Pelo teorema de Sard, existe um valor regular ηj â Rm de ” o qualestĂĄ arbitrariamente prĂłximo a ”(xj) e entĂŁo ”â1(ηj) 6= â . Da mesma forma, prova-seque o conjunto dos pontos η â ”(M) tais que (η1, ..., ηmâ1) Ă© valor regular do mapa domomento reduzido (”1, ..., ”mâ1) Ă© denso em ”(M).
Provaremos que ”â1 Ă© conexo sempre que (η1, ..., ηmâ1) Ă© valor regular do mapa domomento reduzido (”1, ..., ”mâ1). Seja
Q =mâ1âj=1
”â1j (ηj).
Por denição Q é a imagem inversa de um valor regular logo uma variedade. Alémdisso, pela hipótese de indução, Q é conexa.
Considere a função”m : Qâ R.
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Um ponto x â Q Ă© ponto crĂtico de ”|Q se, e somente se existem 1 Ξ1, ..., Ξmâ1 â R taisque
mâ1âj=1
Ξjd”j(x) + d”m(x) = 0.
DaĂ x Ă© ponto crĂtico de HΞ = ă”, Ξă : M â R, Ξ = (Ξ1, ..., Ξmâ1, 1).
Pelo lema (5.2.3), HΞ Ă© uma função de Morse-Bott com variedades crĂticas de dimensĂŁoe Ăndice pares. Seja C â M a variedade crĂtica de HΞ que contĂ©m o ponto x. Provemosque C intercepta Q transversalmente, ou seja
TxM = TxC + TxQ.
Isso Ă© equivalente aos funcionais lineares d”1, ..., d”mâ1 : TxM â R permaneceremlinearmente independentes quando restritos ao subespaço TxC. Primeiramente, observeque, pelo lema (5.2.3) C Ă© uma subvariedade simplĂ©tica de M.
Sejam Ït e ΚtΞ os uxos hamiltonianos de ”j e HΞ, respectivamente. Pelo lema 4.0.2,”(ΚtΞ) = AdââtΞ”. Mas Tm Ă© um grupo comutativo, logo a transformação coadjunta Ă© aidentidade e ”(ΚtΞ) = ”. EntĂŁo
”j, HΞ =d
dt
âŁâŁâŁâŁt=0
”j(ΚtΞ) = 0.
Logo, pela proposição 1.1.3, Ït comuta com ΚtΞ. Derivando
Ït(ΚsΞ(x)) = ΚsΞ(Ït(x))
com relação a s em s = 0, tem-se
TxÏtXHΞ(x) = XHΞ
(Ït(x)).
DaĂ, se x â C, entĂŁo XHΞ(x) = 0 e, conseqĂŒentemente XHΞ
(Ït(x)) = 0 e Ït(x) â C.Ou seja, o uxo Ït preserva a variedade crĂtica C. Desta forma os vetores linearmenteindependentes Xj = X”j
: M â TM sĂŁo tais que
X1(x), ..., Xmâ1(x) â TxC.1Multiplicadores de Lagrange
65
Como TxC Ă© um subespaço simplĂ©tico de TxM , entĂŁo para todo λ â Rnâ1 nĂŁo-nulo,existe um vetor nĂŁo-nulo Ο â TxC tal que
0 6= Ï
(mâ1âj=1
λjXj(x), Ο
)=
mâ1âj=1
λjd”j(x)Ο,
o que mostra que os funcionais d”j(x) : TxC â R sĂŁo linearmente independentes e aintercessĂŁo de C e M Ă© transversal.
Isso implica que TxQ â TxCâ„ e assim, TxQâ©TxCâ„ Ă© o complemento de TxC em TxM.
EntĂŁo a Hessiana de HΞ Ă© nĂŁo degenerada sobre TxQâ©TxCâ„ com Ăndice e co-Ăndice pares.
A igualdadeTxQ = Tx(Q â© C)â TxQ â© TxCâ„
mostra que Câ©Q Ă© uma variedade crĂtica de HΞ|Q com Ăndice e co-Ăndice pares. O mesmoocorre com ”m|Q pois essas funçÔes diferem apenas da constante
âmâ1j=1 ηjΞj. Desta forma,
”m|Q possui somente variedades crĂticas de Ăndice e co-Ăndice pares o que implica, pelolema (5.1.1), que os conjuntos de nĂvel
”â1(η) = Q ⩠”â1m (ηm)
sĂŁo conexos para todo ηm. Assim, provamos que o conjunto ”â1(η) Ă© conexo sempre que(η1, ..., ηmâ1) Ă© valor regular de (”1, ..., ”mâ1). Desde que o conjunto desses pontos Ă© densoem ”(M) segue por continuidade que ”â1(η) Ă© conexo para qualquer valor regular η.
Provaremos agora a convexidade do conjunto ”(M) por indução sobre a dimensĂŁo mdo toro. No caso m = 1, a convexidade de ”(M) Ă© conseqĂŒĂȘncia de sua conexidade, jĂĄque em R esses conceitos sĂŁo equivalentes.
Suponha que ”(M) Ă© convexo para açÔes Hamiltonianas de Tmâ1. Se a ação for redu-tĂvel a convexidade de ”(M) segue diretamente da hipĂłtese de indução. Suponhamos quenossa ação de Tm Ă© irredutĂvel. Vimos que nessas condiçÔes o conjunto dos valores regu-lares de ” Ă© denso em ”(M). Seja A â ZmĂ(mâ1) uma matriz inteira injetiva e considere aação
Tmâ1 â (M,Ï)
Ξ 7â ÏAΞ
com mapa do momento”A = AT” : M â Rmâ1.
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Esta ação tambĂ©m Ă© irredutĂvel pois se A = [aij], entĂŁo
(”A)i =mâj=1
aji”j â d(”A)i =mâj=1
ajid”j.
Portanto, se Ξ = (Ξ1, ..., Ξmâ1) â Rmâ1 Ă© tal queâmâ1
i=1 Ξid(”A)i = 0, entĂŁomâ1âi=1
mâj=1
Ξiajid”j = 0 â
mâj=1
(mâ1âi=1
Ξiaji
)d”j = 0 â
mâ1âi=1
Ξjaji = 0, j = 1, ...,mâ
A.Ξ = 0 â Ξ = 0,
jĂĄ que A Ă© uma matriz injetiva.
Assim, o conjunto dos valores regulares de ”A Ă© denso em ”A(M) e pela primeira parteda demonstração, ”â1
A (η) Ă© conexo para qualquer valor regular η â Rmâ1 de ”A. Dadoqualquer x0 â ”â1
A (η),
x â ”â1A (η) â AT”(x) = η = AT”(x0).
Portanto, podemos escrever
”â1A (η) = x âM | ”(x)â ”(x0) â KerAT.
Conectando x1 e x0 por um caminho Îł(t) em ”â1A (η), obteremos um caminho ”(Îł(t))â
”(x0) em KerAT . Desde que A Ă© injetiva, entĂŁo AT Ă© sobrejetiva e conseqĂŒentemente,KerAT Ă© unidimensional. Assim, o caminho ”(Îł(t))â”(x0) Ă© de fato, o segmento de retaligando o vetor 0 com o vetor ”(x1)â ”(x0). Ou seja,
”(Îł(t))â ”(x0) = t(”(x1)â ”(x0)), 0 †t †1.
DaĂ,(1â t)”(x0) + t”(x1) = ”(Îł(t)) â ”(M), 0 †t †1.
Dados x0, x1 â M podemos aproximĂĄ-los arbitrariamente por pontos xâČ0 e xâČ1 com”(xâČ0) â ”(xâČ1) â KerAT para alguma matriz injetiva A â ZmĂ(mâ1). Tomando os limitesxâČ0 â x0 e xâČ1 â x1 segue que ”(M) Ă© convexo.
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Pelo lema (5.2.3) o conjunto dos pontos xos C da ação decompĂ”e-se em um nĂșmero -nito de subvariedades crĂticas C1, C2, ..., CN . Como cada Cj esta contido em Crit(HΞ),â Ξ âRm entĂŁo o mapa do momento ” Ă© constante em cada um desses conjuntos, ”(Cj) = ηj âRm. Mostraremos que ”(M) Ă© o fecho convexo dos pontos ηj.
Provamos anteriormente que ”(M) Ă© convexo, logo o fecho convexo dos pontos ηj estacontido na imagem de ”. Para a inclusĂŁo contrĂĄria considere η â Rm fora do fecho convexode ηj. Tomemos um ponto Ξ â Rm com coordenada linearmente independentes sobreos racionais de forma que
ăηj, Ξă < ăη, Ξă ,âj.
Vimos na prova do lema (5.2.3) que os pontos crĂticos de HΞ sĂŁo os pontos xos daação de Tm. DaĂ, HΞ atinge seu mĂĄximo em um dos conjuntos Cj e
suppâM
ă”(p), Ξă < ăηj, Ξă < ăη, Ξă .
Desta forma η /â ”(M) e
”(M) =
Nâj=1
λjηj |Nâj=1
λj = 1, λj ℠0
como querĂamos demonstrar.
Como notado por Atiyah [2] o teorema abaixo devido a Schur [10] pode ser visto comoum corolĂĄrio do teorema da convexidade.
Teorema 5.2.2 (Schur) Seja A = Aâ â CnĂn uma matriz hermitiana, λ1, λ2, ..., λn seusautovalores. EntĂŁo o vetor a = (a1, ..., an) â Rn formado pelos elementos da diagonal deA pertence ao fecho convexo dos pontos
Ïâλ = (λÏ(1), ..., λÏ(n))
sobre todas as permutaçÔes Ï â Sn.
Demonstração: Seja G = U(n) o grupo unitĂĄrio e T â U(n) o subgrupo de matrizesdiagonais. Observe que T pode ser identicado com o n-toro. Denotando por t a ĂĄlgebra
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de Lie de T, vemos que esta Ă© formada pelas matrizes diagonais em g(n) = u(n) = A âCnĂn | A = âAâ, a ĂĄlgebra de Lie de G.
G age sobre g através da ação adjunta
AdgΟ = TeIgΟ = gΟgâ1, λ â g
Seja λ â t uma matriz diagonal com todas os elementos da sua diagonal distintos.Podemos denir naturalmente um difeomorsmo entre a Ăłrbita adjunta de λ,Orb(λ) e oespaço quociente M = G/T, simplesmente identicando gT e gλgâ1. Verica-se que estaoperação estĂĄ bem denida observando que o estabilizador de λ,Gλ = g â G| Adgλ = λé o prĂłprio T.
A estrutura simplética de Orb(λ) é dada pela 2-forma
Ïλ(Ο, ΟâČ) =< λ, [Ο, Ο
âČ] >
onde < Ο, η >= traço(Οâη). Este produto interno canĂŽnico identica a ĂĄlgebra de Lie g
com seu dual e assim, a ação de G sobreM, induzida pela ação adjunta sobre Orb(λ), podeser vista como a ação de G sobre uma Ăłrbita coadjunta. Utilizamos entĂŁo, o resultado doexemplo 4.0.3 para obter o mapa do momento da ação de G sobre (M,Ïλ). Este Ă© dadopor
”G : G/Tâ g, ”G(gT) = gλgâ1
Para determinarmos o mapa do momento da ação no n-toro T â G sobre M fazemosa composição de ”G com a projeção ortogonal g â t de g sobre o subespaço t de suasmatrizes diagonais. DaĂ, tomamos as entradas da diagonal da matriz anti-hermitianaA = gλgâ1 â u(n), obtendo
”T = diag(gλgâ1).
Com a identicação de Orb(λ) e M , tem-se que os pontos xos da ação de T sobreM sĂŁo as matrizes diagonais em Orb(λ), ou seja, as matrizes obtidas permutando-se oselementos da diagonal de λ. A imagem de ”λ nesses pontos sĂŁo justamente os vetoresÏâλ â Rn e, pelo teorema de Atiyah-Guillemin-Sternberg, o conjunto ”T(G/T) Ă© o fechoconvexo desses vetores. Substituindo a matriz A = gλgâ1 pela matriz hermitiana iAsegue-se a armação do teorema.
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