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Ousar resistir, ousar vencer: a batalha da comunidade LGBTI por igualdade e cidadania Wendel Pinheiro

Ousar resistir, ousar vencer: a batalha da comunidade ... · do comando da Alemanha a partir de 1933 e, por conseguinte, implementando na ... e eliminação dos “inimigos” do

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Ousar resistir, ousar vencer: a batalha da comunidade LGBTI por igualdade e cidadania

Wendel Pinheiro

2

Agradecimentos

Em primeiro lugar, a Deus, o autor e consumador da minha vida e o motivador de

todos os meus sonhos. Embora eu não mereça, Ele tem cuidado de mim. Devo a Ele o

que eu sou.

Agradeço em público a confiança do Presidente Nacional do PDT, Carlos Lupi, por

acreditar no PDT Diversidade e envidar todos os seus esforços na construção de uma

pátria soberana, justa e igualitária, que salvaguarde todos os Direitos Humanos. Muito

obrigado por confiar em mim! Idem ao meu irmão Leonardo Zumpichiatti na FLB-AP.

À Cláudia Casal, que sempre esteve ao meu lado para me apoiar em tudo o que foi

preciso até aqui. A gratidão é a memória do coração. Muito obrigado por tudo!

Ao meu irmão Cássio Rugero, um nobre e grande orientador no âmbito não apenas da

minha vida política, como também na pessoal. Ele é a minha referência de idealismo,

coerência, perseverança e lealdade. Conte comigo, mermão. Estamos juntos!

A três novos e grandes irmãos que eu aprendi muito com eles: Murilo Fagundes, Diego

Gonçalves Rodrigues e Ben Hur Spiacci. Muito obrigado pela amizade e pela confiança.

Por me ajudarem, com suas pontuações e considerações. Que Deus esteja com vocês!

Ao meu nobre irmão Ramon Calixto Teixeira, um grande quadro intelectual e com

militância comprovada e referendada. Um exemplo de luta e de superação para mim.

Minha referência! Valeu, meu cruzeirense!

E a quem eu amo. A minha motivação e benção do Senhor. A minha conselheira e

ajudadora. A minha única verdade: Amanda Anderson.

3

As lutas pelos direitos da comunidade LGBTI no decorrer dos séculos XX e XXI

confundem-se com os próprios avanços na política de Direitos Humanos na esfera

mundial. O cerceamento de espaços e a ausência de princípios como o da dignidade da

pessoa humana sempre foram os obstáculos pelas quais a comunidade LGBTI teria que

lutar para avançar, visando inicialmente usufruir dos direitos mais básicos à sua

sobrevivência, como os de viés individual e civil – aliás, direitos que já eram

consignados à maioria dos indivíduos a partir da Revolução Francesa, fazendo-os como

cidadãos, com a conhecida Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 26 de

agosto de 17891.

A primeira grande experiência de luta entre os LGBTIs no século XX residiu no

traumático advento do nazi-fascismo – em especial, com o advento do NSDAP2 à frente

do comando da Alemanha a partir de 1933 e, por conseguinte, implementando na

prática um governo totalitário, baseado na consolidação do III Reich e na sistemática

perseguição e eliminação dos “inimigos” do Volks, como os judeus, comunistas do KPD,

trabalhistas do SPD, eslavos, ciganos, poloneses, soviéticos, portadores de deficiência

física/mental e homossexuais.

Ainda que houvesse comprovadamente homossexuais nas tropas alemãs3 – incluindo

lideranças proeminentes como Ernst Röhm4 –, o nazismo se utilizou do Parágrafo 175

1 Conferir em http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-

cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html, acessado no dia 09 de agosto de 2015, às 19:17h. 2 NSDAP: Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores

Alemães). Ou, simplesmente, Partido Nazista. 3 Vide em RIGG, Bryan Mark. Os soldados judeus de Hitler. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

4 Ernest Röhm nada mais nada menos era o líder das SA’s. Vale uma leitura atenta – inclusive sobre as

razões que motivaram o seu assassinato em julho de 1934, através da Noite das facas longas (com a prisão de milhares, o expurgo e o assassinato de vários quadros da SA pelas SS e pela GESTAPO) – da instigante obra do historiador alemão MACTHAN, Lothar. O segredo de Hitler: a vida dupla de um ditador. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, pp. 195-242 e também em EVANS, Richard. O Terceiro Reich no poder. São Paulo: Planeta, 2011.

4

do Código Criminal Germânico5 para criminalizar a homossexualidade6, com uma

emenda do Ministério da Justiça em 28 de junho de 1935, elasticizando e ampliando a

definição sobre qualquer ação que fosse identificada como prática homossexual ou, ao

menos, tida como tal.

A identificação dos homossexuais masculinos na Alemanha com o triângulo rosa servia

para discriminá-los, diante da pureza “ariana” – assim como os judeus eram obrigados

a usar o triângulo amarelo; os comunistas, o triângulo vermelho e as lésbicas o

triângulo negro. Os homossexuais, na perspectiva do nazismo, eram considerados

como “inimigos do Estado”, por considerarem deletéria a influência dos mesmos, ao

“desvirtuarem” a vocação militarizada do “povo ariano” e impedirem a ampliação da

população alemã.

Em tempos de ampla invisibilidade social à comunidade LGBT durante as décadas de

1930 e de 1940, é preciso ressaltar o contingente expressivo de pessoas acusadas ou

identificadas pela homossexualidade na Alemanha – em especial, no regime nazista,

entre 1933 e 1945. As estimativas de homossexuais identificados com o triângulo rosa

chegaram a alcançar o patamar entre 50 mil7 e 100 mil pessoas, enquanto o número

de homossexuais mortos em campos de concentração variou entre 5 a 15 mil pessoas8,

ou seja, 5% a 15% dos que foram identificados como homossexuais no regime nazista.

Ou chegaria até no patamar de 25 mil9, incluídos os presos e enviados aos campos de

5 Em vigor entre 15 de maio de 1871, no regime de Otto Von Bismarck (no II Reich), até 11 de junho de

1994, em pleno governo de centro-direita de Helmut Kohl, da CDU. 6 O que já era objeto de bastantes críticas, inclusive anteriores à República de Weimar. Um dos maiores

opositores ao Parágrafo 175 seria o médico judeu-alemão Magnus Hirschfeld, desde 1897. 7 Vale conferir os dados por ano sobre a prisão de homossexuais, desde 1933. Porém, não há registros

sobre 1945. Vide em STEAKLEY, James. Homosexuals and Third Reich. The Body Politic, Issue 11, Jan/Feb 1974, em http://legacy.fordham.edu/halsall/pwh/steakley-nazis.asp, acessado em 09 de agosto de 2015, às 22:57h. 8 Conferir em http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.php?ModuleId=10005261, acessado no dia 09 de

agosto de 2015, às 20:48h e em http://www.holocaustchronicle.org/StaticPages/108.html, acessado no dia 09 de agosto de 2015, às 21:17h. 9 A diferença pode ser explicada diante da subjetividade presente na condenação imposta pelos nazistas

aos seus adversários. Logo, um(a) judeu/judia ou um(a) comunista preso(a) poderia também ser

5

concentração entre 1937 e 1939. Em suma, 55% dos homossexuais (ou acusados como

tais) que estiveram nos campos de concentração morreram10. No regime fascista,

embora não houvesse assassinatos sistemáticos de homossexuais como na Alemanha,

houve inclusive confinamento dos mesmos no arquipélago de Tremiti – uma série de

ilhas vulcânicas localizadas no Mar Adriático11.

O genocídio promovido na II Guerra Mundial (1939-1945) motivaria a formulação de

ações que protegessem os Direitos Humanos, diante dos traumas promovidos neste

confronto. De fato, a criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos12 em 10

dezembro de 1948, com os seus 30 artigos, procurou promover direitos e garantias,

visando à plena proteção dos indivíduos, não apenas assegurando meramente os seus

direitos individuais e civis, como também os sociais e os políticos.

Em um mundo marcado pela Guerra Fria, no decorrer das décadas de 1950 e de 1960,

raros eram os espaços e demandas feitos por homossexuais e simpatizantes da luta

para a agenda do movimento LGBT – embora tais manifestações viessem a ser

pontuais e localizadas – como as feitas por quadros como o líder francês de esquerda

Daniel Guérin (1904-1988)13.

homossexual ou lésbica, mas não ser identificado pelo triângulo rosa e procurar esconder, ao máximo, a sua orientação sexual. Ou também, nem sempre quem era preso necessariamente seguia para o campo de concentração. Conferir este dado em GOMES, Diniz & LAWRENCE, Joey. Mais que uma opção. Rio de Janeiro: Rainbow edições, 2013. 10

Conferir em http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/historia-homossexualidade-luta-pela-dignidade-718218.shtml, acessado no dia 09 de agosto de 2015, às 23:07h. 11

Como em JOHNSTON, Alan. Fascistas criaram ‘ilha gay’ na Itália para confinar homossexuais, em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/06/130613_ilha_gay_mussolini_gm, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 13:40h. 12

Vide em http://www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf, acessado no dia 09 de agosto de 2015, às 23:10h. 13

Mais detalhes sobre Guérin, ver em http://www.danielguerin.info/tiki-index.php, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 11:35h.

6

Porém, tais tentativas não logravam qualquer alcance nos movimentos mais

organizados, como o sindical e o estudantil. Se havia fortes resistências nas

organizações trabalhistas e comunistas, na direita não teria qualquer espaço a agenda

LGBT, diante das perspectivas de fundo conservador ou mesmo dos grupamentos

ligados à Christian Rigth14, que já considerava o comunismo como uma ideologia

ateísta. O tema político central era a disputa pela hegemonia mundial entre o

capitalismo estadunidense e o socialismo real soviético.

As relações homoafetivas no Brasil no decorrer das décadas de 1950 e de 1960 eram

vistas com restrição e, como alternativa para o exercício de seus direitos individuais, o

grupamento LGBT se guetizava, como meio para a sua autoproteção. A agenda de

direitos individuais e civis a estes cidadãos não tinha espaço como pauta política e elas

estavam estritamente reservadas na esfera da vida privada, sofrendo resistências e

retaliações abertas ou veladas15 pelo conjunto da sociedade civil – e toleradas

isoladamente nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e em outras

capitais.

Mesmo com as dificuldades de inserção da pauta LGBT, a agenda dos Direitos

Humanos se tornava uma prática – seja pela luta dos direitos civis dos negros nos EUA

no decorrer das décadas de 1950 e de 1960 ou pelos traumas da II Guerra Mundial que

ainda eram recentes. Ainda assim, a 42ª reunião da Conferência Internacional do

Trabalho, ocorrida em Genebra em 1958 aprovou a Convenção n° 111 da Organização

Internacional do Trabalho (OIT)16 que consistia no combate à discriminação em

matéria de ocupação e de emprego. Isto apenas entrou em vigor no plano

internacional em 15 de junho de 1960, enquanto que no Brasil, ironicamente, esta

14

Nome denominado à direita cristã. Seria a mesma corrente que apoiaria os golpes políticos na América Latina no decorrer das décadas de 1960 e de 1970. Ela apenas se difere do conservadorismo, diante do seu caráter confessional. 15

GREEN, James Naylor. Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000, pp. 251-267. 16

Como está em http://www.oit.org.br/node/472, acessado no dia 17 de agosto de 2015, às 12:24h.

7

convenção foi promulgada em 19 de janeiro de 1968 com o Decreto n° 62.15017. Ainda

assim, o grupamento LGBT não conseguiria usufruir destes direitos, a partir da

discriminação no mundo do trabalho – tanto no acesso quanto na permanência do

emprego e no desrespeito aos direitos trabalhistas. A “subcidadania” aos LGBTs se

traduzia na informalidade e na subtração dos direitos sociais e políticos, a partir do não

reconhecimento de seus plenos direitos individuais e civis.

Entre as transformações ocorridas nas décadas de 1950 e de 1960, não apenas

estavam situadas os Direitos Humanos. O processo político, além de evidenciar a

Guerra Fria, começava a apontar uma crise nas esquerdas. Iniciada com a revelação do

Relatório Kruschev em 1956, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética

(PCUS), este relatório atingiu em cheio todas as organizações comunistas. E isso não

deixaria de existir no Brasil, atingindo o próprio Partido Comunista Brasileiro (PCB), a

ponto de haver uma forte divisão interna a ponto dos quadros dissidentes fundarem o

Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 18 de fevereiro de 1962.

Tais desdobramentos, após o Golpe Civil-Militar de 1964 contra o governo

constitucional de João Goulart (Jango), fariam com que o próprio PCB sofresse

dissidências – em especial, de grupamentos ligados à juventude. O êxito da Revolução

Cubana, com a tática de guerrilhas, faria com que boa parte dos jovens presentes no

movimento estudantil – em especial, oriundos da classe média18 – optasse por esta

modalidade de luta, ainda que os mesmos estivessem isolados, sem o apoio

organizado da sociedade e diante da forte repressão institucionalizada pelo regime

ditatorial civil-militar através da Doutrina de Segurança Nacional.

No decorrer ainda da década de 1960, muitas eram as dificuldades de atuação política

da comunidade LGBT. As resistências da direita à homossexualidade já eram

17

Ver em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D62150.htm, acessado no dia 17 de agosto de 2015, às 12:27h. 18

Denominado também como “pequena burguesia” por Karl Marx, em especial na obra de MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Martin Claret, 2008.

8

conhecidas, na defesa da “moralidade” e dos “bons costumes”, através da retórica

conservadora e com a homofobia institucionalizada pelo regime ditatorial, inclusive

utilizando-se do AI-519 – ainda que não houvesse medidas exclusivas para a

perseguição aos homossexuais. Ainda assim, a repressão atingiu quadros de esquerda

com orientação homoafetiva20.

No campo da esquerda – e, em especial, nos movimentos de cunho marxista-leninista,

acreditava-se que a homossexualidade era um vício pequeno-burguês21 e, como tal,

desvirtuava a unidade da classe trabalhadora no seu projeto revolucionário22 rumo ao

socialismo. Os movimentos de viés LGBTs, assim como os de gênero e de recorte

étnico-racial, eram vistos como portadores de agendas pontuais, sendo vistas como

empecilhos para a unidade da esquerda e da classe trabalhadora23 em sua luta contra

o capitalismo. No que tange ao grupamento de LGBTs, os mesmos eram vistos pela

esquerda como uma expressão da debilidade e da decadência dos segmentos ligados à

classe alta e média, em sua degenerescência de classe. Ainda assim, militantes

19

O Ato Institucional n° 5 (AI-5) foi decretado em 13 de dezembro de 1968 e não apenas censurava os meios de comunicação, como também criminalizou o exercício da liberdade de opinião e de reunião política – em especial, aquelas que promovessem a “subversão” contra o regime. Conferir, por exemplo, em http://oglobo.globo.com/brasil/comissao-da-verdade-relatara-agressoes-homossexuais-na-ditadura-14703975, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 11:30h. 20

Sobre o tema, conferir em Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Relatório: textos temáticos / Comissão Nacional da Verdade. – Brasília: CNV, 2014, pp. 300-310 e em GREEN, James & QUINTANILHA, Renan (org). Ditadura e homossexualidades: repressão, resistência e a busca da verdade. São Carlos: Editora da UFSCar, 2014. 21

Como exemplo, no próprio movimento estudantil – inclusive próximo no processo de redemocratização. Vide em BENEVIDES, Sílvio César Oliveira. Na contramão do poder: juventude e movimento estudantil. São Paulo: Annablume, 2006, p. 101. A exceção seria, talvez, a partir da orientação política tomada, ainda na década de 1920, pelo KPD da Alemanha, como no governo de Vladimir Lênin – embora voltasse a ter a criminalização da homossexualidade no regime stalinista. Ver em BARRADAS, Ana. Os comunistas e a homossexualidade, em http://primeiralinha.org/home/?p=941, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 14:15h. 22

Embora Ernesto Che Guevara liderasse a vitoriosa Revolução Cubana, houve sistemática perseguição a homossexuais, católicos e alcoólatras, pois se entendia que estes segmentos atrapalhariam a marcha revolucionária. O pensamento majoritário da esquerda cubana não se diferia do olhar tradicional da esquerda naquele momento, com o viés ideológico, enquanto a objeção no campo da direita se dava a partir de argumentos no campo ético-moral. 23

Vide em GREEN, James Naylor. A luta pela igualdade: desejos, homossexualidade e a esquerda na América Latina In: Cadernos AEL, v.10, n.18/19, 2003.

9

homossexuais no campo da luta armada como Herbert Daniel24 lutaram bravamente

pela queda do regime ditatorial.

As crises decorrentes na esquerda tradicional – que se arrastavam desde a década de

1950 – desencadearam um processo de descrédito nas ideologias por parte de uma

nova geração de jovens que atuariam no final da década de 1960. Protestos estudantis

ocorridos na França, na Tchecoslováquia e no Brasil em 1968 apontavam o quanto os

partidos tradicionais de esquerda não estavam preparados, diante das novas

demandas apontadas pela juventude. E dentro deste bojo, nasce a nova esquerda que,

sem negar os avanços sociais e a agenda da classe trabalhadora, insere novos temas no

campo dos Direitos Humanos, como a agenda de gênero e a de igualdade racial.

As alterações pelas quais propunham a nova esquerda não se resumiam a apenas às

transformações sociais propostas pelo marxismo. As leituras dogmáticas promovidas

pelos Partidos Comunistas (PC’s) não mais respondiam aos anseios de uma geração de

jovens que não encontravam mais respostas nas leituras no campo marxista-

leninista25, mas que viam, nas transformações comportamentais e na emergência de

movimentos de contracultura, como um instrumento de auto identificação enquanto

integrantes de um grupo social, com sua respectiva identidade. Novos tempos, com

demandas de grupos fracionados e que os partidos tradicionais de esquerda não

tinham respostas imediatas para atender as reivindicações de atores sociais

emergentes. Tais agendas inseridas na pós-modernidade tornavam-se os novos

desafios para os atores políticos.

24

Conferir em PAVAN, Bruno. A homossexualidade e a violência estatal da ditadura, em http://www.brasildefato.com.br/node/31176, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 23:06h e também em GREEN, James. “Quem é o macho que quer me matar?”: homossexualidade masculina, masculinidade revolucionária e luta armada brasileira dos anos 1960 e 1970. Revista Anistia Política e Justiça de Transição. 25

Ou também nos marcos do reformismo (com os partidos tradicionais de orientação socialdemocrata, trabalhista e/ou socialista) e até do trotskismo.

10

No bojo da nova esquerda que irrompeu em esfera mundial, o marco para galvanizar o

movimento LGBT foi a repressão ocorrida nos EUA, na cidade de Nova Iorque, em 28

de junho de 1969. A conhecida Revolta de Stonewall26 se deu diante da repressão

sistemática dos policiais a gays, lésbicas e transgêneros no popular bar, chamado

Stonewall Inn. Só que diferente das demais repressões cotidianas, a resistência da

comunidade LGBT duraria um final de semana. A partir deste momento, a construção

da identidade da comunidade LGBT, enquanto fração social, prosseguiu no decorrer da

década de 1970, na construção de sua consciência enquanto grupo com uma

identidade social clara. A partir de Stonewall em diante, o movimento LGBT passava a

avançar com suas pautas e demandas – em especial no âmbito dos seus direitos

individuais e civis, face à invisibilidade social27 sofrida pelo mesmo grupamento.

Os efeitos do regime autoritário pós-1964 foram perversos à comunidade LGBT, diante

da repressão sofrida. A criminalização aos relacionamentos homoafetivos e/ou a

própria homossexualidade se tornava o mote de um regime que, para manter a

“coesão social”, faria um controle sistemático não apenas dos possíveis atos

“subversivos”, mas inclusive até no campo dos costumes – incluindo censuras de

música28. Vale citar, por exemplo, que em São Paulo, entre dezembro de 1976 e julho

26

Sobre a revolta, o filme Stonewall, feito por Roland Emmerich, sofreu várias críticas a ponto de haver uma campanha de boicote, como em http://www.ladobi.com/2015/08/stonewall-filme-boicote/, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 15:37h. 27

Sobre o conceito de invisibilidade social a partir do conceito de invisibilidade pública, é preciso uma leitura atenta do excelente trabalho acadêmico no campo da Psicologia Social a respeito desta definição no cotidiano de garis, feita por COSTA, Fernando Braga da. Moisés e Nice: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de Psicologia Social a partir da observação participante e entrevistas. Tese (Doutorado em Psicologia Social). São Paulo: USP, 2008. Conferir também no artigo de CONSTANTINO, Mateus & COSTA, Vivian. Invisibilidade social: outra forma de preconceito, em http://www.overmundo.com.br/overblog/invisibilidade-social-outra-forma-de-preconceito, acessado no dia 12 de agosto de 2015, às 16:07h. 28

Atingindo até canções que abordavam temas sobre o comportamento e/ou orientação sexual. Por exemplo, em âmbito brega, vale a pena ler o livro, fruto da dissertação de mestrado, do historiador ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro não: música popular cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2010.

11

de 1977, 460 travestis foram sindicadas e que 398 destas foram importunadas em

interrogatório, sob a suposta acusação de crime de vadiagem29.

Ainda que na redemocratização não houvesse partidos que, de imediato, defendessem

explicitamente a causa LGBT, a agenda da defesa de grupamentos excluídos e

marginalizados estaria presente nas lutas do recém-fundado Partido Democrático

Trabalhista (PDT) em 1980. Antes mesmo da perda da sigla do PTB pelo grupamento

histórico à esquerda, os trabalhistas indicavam a sua pauta de defesa às mulheres,

negros, jovens, índios e nordestinos, atingidos pelas mazelas de um regime excludente

e discriminador como o autoritário civil-militar. A Carta de Lisboa, aprovada em 17 de

junho de 1979, apontava a necessidade da inserção de tais grupamentos sociais

excluídos em um projeto de nação apontado para o socialismo, no novo PTB que se

renovava, como nas linhas a seguir.

Analisando a conjuntura brasileira, concluímos pela necessidade de assumirmos a responsabilidade que exige o momento histórico e de convocarmos as forças comprometidas com os interesses dos oprimidos, dos marginalizados, de todos os trabalhadores brasileiros, para que nos somemos na tarefa da construção de um Partido Popular, Nacional e Democrático, o nosso PTB

30.

No mesmo mote, a partir da construção de uma nova perspectiva trabalhista, sem

negar os avanços do trabalhismo do pré-1964, o Manifesto do PDT, criado em 1980,

manteve os pressupostos teóricos apontados pela Carta de Lisboa na defesa dos

Direitos Humanos, em favor dos grupamentos sociais. Juntos, os mesmos estariam

integrados no projeto democrático e nacionalista, na construção da unidade popular.

Cabia a estes grupos construir este novo projeto de país.

29

Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Relatório: textos temáticos / Comissão Nacional da Verdade. – Brasília: CNV, 2014, p. 309. 30

Conferir em http://www.pdt-rj.org.br/paginaindividual.asp?id=9, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 21:40h.

12

Portanto, diante dos efeitos deletérios promovidos pelo regime ditatorial, muitos

foram os compromissos adotados pelo PDT na defesa dos grupamentos oprimidos.

Tornava-se urgente ao trabalhismo dar voz a quem não tinha, em tempos baseados

pela repressão sistemática a qualquer setor ou grupamento que viesse a questionar as

bases políticas do regime pós-1964. O Manifesto do PDT apontava, a partir da ética do

trabalho e da solidariedade popular, que

O Partido Democrático Trabalhista considera e defende os valores humanos a partir do trabalho como uma das verdadeiras dimensões de justiça no conjunto das relações sociais. Para a democracia trabalhista está sempre em primeiro lugar a pessoa humana, sua condição de ser social e ser que trabalha, sujeito de sua ação e consciente de sua liberdade, mas, comprometido, solidariamente, com os demais na sociedade. (...) Consagrando estes princípios, o Partido Democrático Trabalhista proclama, afirma e defende os seguintes direitos democráticos e sociais do povo brasileiro: (...) O direito de abominar e combater toda a doutrina e práticas que discriminem brasileiros e demais habitantes do País, por suas ideias, crenças, sexo, idade, raça, aspecto físico, nacionalidade, classe social ou, muito especialmente, por sua condição de pobreza; ou ainda, que conduzam ao desrespeito de sua dignidade ou que suprimam ou restrinjam seus direitos humanos e sociais

31.

O PDT teria uma série de ações, nos governos de Leonel Brizola e de Alceu Collares, na

defesa dos negros, das mulheres e dos jovens dos subúrbios e das periferias, com

ações governamentais no campo dos Direitos Humanos. Entretanto, a agenda LGBT

ainda não se encontrava como pauta oficial majoritária dos partidos políticos – salvo

em partidos como o PV na segunda metade da década de 198032, em sua linha eco

capitalista e hegemonicamente pós-moderna, ou em tendências minoritárias como a

31

Vide em http://www.pdtrs.org.br/15-documentos/estatutos/18-manifesto-do-pdt, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 21:57h. 32

Como no ensaio de PINHEIRO, Wendel. Direitos Humanos e Sociais à comunidade LGBTT em http://www.pdt.org.br/index.php/noticias/wendel-pinheiro-da-js-direitos-humanos-e-sociais-a-comunidade-lgbtt, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 22:02h.

13

corrente trotskista Convergência Socialista33. Ainda assim, o PDT elegeria o seu

primeiro deputado federal homossexual nas eleições de 1982, ainda que o mesmo não

fosse ativista no campo da Diversidade – o cantor Agnaldo Timóteo34, que seria eleito

o deputado federal fluminense mais votado com 503.455 votos35 e o segundo mais

votado do país.

Ainda assim, as tentativas na defesa da comunidade LGBT foram isoladas, como as

feitas por José Genoíno (PT-SP) na Assembleia Nacional Constituinte, sem conseguir o

necessário respaldo dos deputados constituintes para inserir, no Art. 5° da

Constituição, a orientação sexual como um dos elementos no combate à

discriminação, mesmo que houvesse medidas protetivas para salvaguardar os Direitos

Humanos na Carta Magna36. Ainda assim, o PT teria dificuldades – frente à resistência

interna de parcela expressiva de sua militância – a encampar a bandeira LGBT na sua

pauta de lutas, conseguindo apenas institucionalizar o primeiro movimento, em nível

de partido, em 1992. Quem também institucionalizaria o movimento LGBT seria o

33

Aliás, atuando isoladamente e à contramão do movimento majoritário LGBT que não se identificava com os movimentos sociais da esquerda nas décadas de 1970 e de 1980. Vide em SILVA, Wilson. A face homofóbica da ditadura, em http://www.pstu.org.br/node/20522, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 22:07h e em GREEN, James Naylor. Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000, p. 448. 34

Autor de canções explicitamente homoafetivas como “A galeria do amor” (1975), “Perdido na noite” (1976), “Eu, pecador” (1977) e “A bolsa do Posto Três” (1981). No que tange à música “A bolsa do Posto Três”, contida no LP “Sonhar comigo”, ela foi feita um ano antes das eleições de 1982, onde Agnaldo se projetaria nacionalmente no PDT. Vide em ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro não: música popular cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2010. 35

Entretanto, o primeiro homossexual ativista no campo da Diversidade seria Jean Wyllys (PSOL-RJ), eleito 28 anos depois, nas eleições de 2010, com 13.018 votos – auxiliado pela expressiva votação de Chico Alencar, na condição de 2º deputado federal fluminense mais votado, com 240.724 votos, permitindo que o PSOL ultrapassasse o coeficiente eleitoral de 173.883 votos e conseguisse obter a vaga da sobra. No que tange a Agnaldo Timóteo, o mesmo não conseguiu ser o deputado mais votado do país, pois quem conseguiu esta façanha foi o então ex-governador de São Paulo em 1978-1982, Paulo Maluf, com 672.927 votos. 36

No que tange a este aspecto e as luta pelos direitos do grupamento LGBT (incluindo desde o regime autoritário pós-1964 e prosseguindo pelo processo de redemocratização até o início do século XXI), vale à pena conferir o instigante trabalho, a partir da análise interdisciplinar entre o Direito, a História e a Ciência Política, de ANDERSON, Amanda. LGBT: o arco-íris sangra por Direitos Humanos igualitários. Monografia (Bacharelado em Direito). Campo Grande: UNAES Anhanguera, 2015, pp. 36-61.

14

PSTU, logo após a sua fundação em 1994 – herdeiro da antiga tendência trotskista do

PT, Convergência Socialista37.

O PDT teve uma atuação mais efetiva no campo LGBT a partir da presença e da

atuação dos delegados do Maranhão no X Congresso Nacional da Juventude Socialista

(JS), ocorrido entre os dias 24 e 26 de agosto de 2001 em Brasília-DF, na transição da

gestão de Sandro Alencar para Antônio Carlos de Oliveira. As proposições se davam no

sentido de inserir as pautas trabalhistas para esta comunidade. No decorrer da

primeira década do século XXI, organizações como o Movimento Diversidade e

Cidadania (MDC), liderado por Ramon Calixto Teixeira em Minas Gerais e solidificado a

partir de 2011, imprimiam uma ação mais efetiva nesta agenda.

A pauta apenas retornou na JS seis anos após, entre os dias 1° e 2 de novembro de

2007, com a discussão do PLC 122/200638 no XIII Congresso Estadual da JS/RJ no GD de

Etnias, Diversidade Sexual e Gênero39, através de quadros como Rodriguinho Ferreira.

O mesmo tema seria levado por ele no GD de Direitos Humanos e Minorias, onde foi

exaustivamente debatido, a ponto de ser levado e votado para a plenária final do XIII

Congresso Nacional da JS em 16 de novembro de 2007.

Ainda assim, os debates presentes na Juventude Socialista sobre o tema LGBT ainda

não se tornavam objeto de discussão nas instâncias partidárias em esfera nacional,

sem ser abordado, por exemplo, no IV Congresso Nacional do PDT, ocorrido entre os

dias 18 e 20 de abril de 2008, no Bay Park Hotel em Brasília-DF. Ainda assim,

movimentos pontuais espalhados pelo país como o Movimento Diversidade e

37

Conferir em SANTOS, Gustavo Gomes da Costa. Movimento LGBT e partidos políticos no Brasil, em http://www.ifch.unicamp.br/informacoes/arq_eventos_noticias/Q516_Paper_Partidos%20Pol%C3%ADticos%20e%20o%20movimento%20LGBT_Gustavo%20Gomes%20da%20Costa.pdf, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 23:32h. 38

Projeto de lei complementar que visava criminalizar a homofobia. 39

Vide em http://juventudesocialistapdtrj.blogspot.com.br/2007/11/veja-o-que-rolou-no-xiii-congresso.html, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 23:44h e em http://www.pdt-rj.org.br/primeirapagina.asp?id=1263, acessado no dia 16 de agosto de 2015, às 23:47h.

15

Cidadania em MG, o núcleo no Rio Grande do Norte40, o núcleo Flor do Cerrado do

Distrito Federal e o Núcleo Cazuza no Rio de Janeiro, liderado pela Fabiana Karine,

trabalharam a agenda da Diversidade no campo dos Direitos Humanos, além da

Juventude Socialista inserir esta pauta nas teses do Movimento Reinventar nos 50° e

51° Congressos da UNE (2007 e 2009)41, além do 53° Congresso, em 201342.

O tema apenas voltaria no V Congresso da Ação da Mulher Trabalhista (AMT),

realizado em Belo Horizonte-MG entre os dias 27 e 29 de maio de 2010, com a criação

de uma secretaria específica ligada ao tema LGBT. Junto com a JS, a AMT – como um

dos movimentos mais históricos do PDT – colocaria em marcha esta proposição como

um reconhecimento formal de uma agenda para este grupamento neste movimento

de cooperação partidária.

Em meio as dificuldades institucionais para a agenda da Diversidade estar inserida nas

instâncias partidárias, o fato é que o PDT foi o 4° partido que mais assinou leis

favoráveis ao grupamento LGBT no Congresso Nacional, com 7 assinaturas (6 na

Câmara e 1 no Senado), entre os anos de 1995 e 201143. Na esquerda, o PDT superou

partidos como o PSB (6 assinaturas) e o PCdoB (2 assinaturas)44.

A agenda da Diversidade voltaria no XV Congresso Nacional da JS, em Fortaleza-CE,

entre os dias 1° e 3 de junho de 2012. Embora não viesse a apontar qualquer norte

40

Sob a liderança da Sargento Regina, Vereadora de Natal-RN. 41

Sobre o teor da tese resumida da JS no 50° Congresso da UNE (2007), vide maiores detalhes em http://movimentoreinventar.blogspot.com.br/2007/07/movimento-reinventar.html, acessado no dia 17 de agosto de 2015, às 12:33h. 42

Ver em http://pt.calameo.com/read/002425575a705829cf891, acessado no dia 17 de agosto de 2015, às 12:50h. 43

Vide em OLIVEIRA, Rosa Maria Rodrigues de. Direitos sexuais de LGBTTT no Brasil: jurisprudência, propostas legislativas e normatização federal. Brasília: Ministério da Justiça, 2012, p. 60. 44

Embora a Rosa Oliveira classifique o PV como partido de “esquerda”, as votações e a orientação ideológica do PV na proposição do “desenvolvimento eco sustentável” não questiona as relações de classe no capitalismo e mal questiona pontualmente os interesses das grandes corporações industriais que, em nome dos lucros, poluem o meio ambiente. Particularmente, considero o PV como um partido de feição liberal-democrata, pós-moderno e no campo da centro-direita alternativa.

16

efetivo nas deliberações no campo LGBT, o fato que marcou diretamente este

congresso foi a reunião de jovens trabalhistas LGBTs, no debate sobre esta agenda

como política da JS, além de defenderem a presença da Secretaria de LGBTs na

Executiva Nacional da JS. Embora não viesse a se definir quem assumiria a pasta, o fato

é que o XV Congresso colocou esta pauta em voga.

A 2ª etapa do V Congresso Nacional do PDT foi marcada pela aprovação oficial, como

política de Partido, pela criação do PDT Diversidade como o mais novo movimento de

cooperação partidária da legenda trabalhista. Ocorrido entre os dias 23 e 24 de agosto

de 2013 na Câmara dos Deputados, o V Congresso foi um marco referencial, na história

do PDT, como a atividade que assegurou a criação de um movimento que pautasse as

lutas no campo dos Direitos Humanos aos LGBTs, a partir da atuação de Ramon Calixto

Teixeira (MG), Amanda Anderson (MS) e Fabiana Karine (RJ) no campo do GD dos

Direitos Humanos – e, em especial, na participação de Amanda na formulação das

premissas no campo dos Direitos Humanos presentes no Manifesto Trabalhista do

Século XXI.

Em suma, desde a fundação do Partido Trabalhista Brasileiro, em 1945, e passando

pela fundação do PDT, em 1980, o trabalhismo passava a propor, de forma inédita, o

conjunto de proposições à comunidade LGBT, a partir na ênfase na construção de um

projeto nacional na defesa dos Direitos Humanos. Junto com as demais correntes

identitárias da sociedade civil, o grupamento LGBT passava a estar inserido na

construção popular proposto pelo trabalhismo, rumo ao socialismo democrático.

Faltava apenas ao PDT Diversidade se constituir definitivamente como um movimento

– ainda que fosse aprovado como política de partido no V Congresso Nacional do PDT.

As menções sobre o PDT Diversidade presentes na XXII Convenção Nacional do PDT

(em 12 de março de 2015), na reunião do Diretório Nacional do PDT em 15 de maio de

2015 e na leitura da carta feita por Amanda Anderson na reunião do Diretório Estadual

do PDT fluminense em 08 de junho de 2015 foram elementos importantes para a

17

solidificação e o convencimento nas bases do PDT para que este movimento tivesse o

apoio dos seus militantes e dos quadros trabalhistas.

A trajetória política na construção de um movimento de cooperação partidária que

traduzisse as demandas do grupamento LGBTI se tornava uma realidade na vida do

Partido Democrático Trabalhista. O tempo apenas conferiria a legitimidade da agenda

da Diversidade no PDT, aproximando velhos e novos militantes e quadros afinados a

esta causa.

Ainda neste sentido, vale ressaltar que o PDT, ainda neste sentido, conseguiria um

marco histórico, ao eleger no 54° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE),

entre os dias 03 e 07 de junho de 2015 na cidade de Goiânia-GO, a Amanda Anderson

como Vice-Presidente setorial MT/MS45. O fato a ser destacado é que o PDT conseguira

eleger ineditamente a primeira transexual como diretora de uma entidade histórica

como a UNE, fundada oficialmente em 22 de dezembro de 1938. Em uma pauta tão

recente como o tema da Diversidade, a UNE efetivamente apoiou o tema não apenas

como política de organização, como também teria, entre os seus diretores, a própria

Amanda. E o trabalhismo, em suas lutas pelos Direitos Humanos desde a Carta de

Lisboa, desempenharia um papel simbólico muito ímpar, ao contribuir para esta marca

histórica, reconhecendo na Amanda um quadro trabalhista dentro das fileiras do PDT.

Em meio ao processo histórico coletivo, entre as idas e vindas, vários foram os quadros

que, direta ou indiretamente, construíram a ação do PDT no campo da Diversidade.

Ainda que a legenda trabalhista não tivesse reconhecido oficialmente a pauta LGBT,

militantes e ativistas da causa, no decorrer do século XXI, imprimiram as suas lutas na

construção da agenda da Diversidade, a partir da perspectiva trabalhista.

A aprovação do PDT Diversidade foi ratificada na reunião da Executiva Nacional do

PDT, no dia 14 de julho de 2015, tornando-se definitivamente o mais novo movimento

45

Conferir em http://www.une.org.br/noticias/diretoras-da-une-defendem-empoderamento-e-visibilidade-aos-estudantes-trans/, acessado no dia 17 de agosto de 2015, às 11:10h.

18

de cooperação partidária trabalhista, somando-se a outros movimentos como a

Juventude Socialista (JS), a Ação da Mulher Trabalhista (AMT), o Movimento Negro, o

Movimento Sindical e o Movimento de Aposentados, Pensionistas e Idosos (MAPI). E

com a presença de 12 estados, o PDT Diversidade passaria a realizar o seu I Encontro

Nacional na cidade do Rio de Janeiro, em 22 de agosto de 2015, como data de sua

fundação oficial.

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