8
E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, OUTUBRO/2011 - ANO XIV - N o 177 O ESTAFETA Foto arquivo Pro-Memória Assim como outras datas são impor- tantes para nossas vidas, o dia 2 de novem- bro, mais conhecido como dia de Finados, também tem sua relevância, pois foi criado em homenagem às pessoas falecidas. Segundo estudiosos, no início da história da Igreja os cristãos rejeitavam a ideia de relacionamento com os mortos. Nessa época os mesmos acreditavam que as almas simplesmente ficavam ador- mecidas até o momento do juízo final. Com a difusão do cristianismo, a religião anexou certos aspectos de outras culturas. Assim, da mesma forma que faziam diversos povos da Antiguidade, os cristãos passaram a venerar os mortos visitando os túmulos dos mártires para rezar. Já a partir do século V foi adotada pela Igreja a data que, de acordo com a tradição, seria dedicada à lembrança dos que partiram. A escolha de 2 de novembro para esta comemoração, segundo historiadores, não foi por acaso. Um dia antes, no dia 1º, é celebrado o “Dia de Todos os Santos”. Na ocasião é prestada homenagem a todos que morreram em estado de graça, mas não receberam canonização. Já no dia 2, é momento de relembrar nossos entes queridos, que não morreram em estado de graça total e que se encontram em estado de purificação. No cristianismo o Finados ganharia outra conotação: a data seria conhecida como “a lembrança dos fiéis defuntos”. A diferença está na origem dos termos: Finados em sua origem indica aquele que finou, ou seja, que partiu. Por sua vez, o termo defunto tem origem na palavra “defungor”. Em outras palavras, aquele que cumpriu plenamente sua missão. O Dia dos Fiéis Defuntos, segundo a Igreja, é a data para celebrar o cumprimento da missão das pessoas que já faleceram e, ainda, com uma chance, através da oração, para que a alma desta pessoa possa descansar junto ao Criador. Para os católicos, o dia é celebrado com muitas orações e com a presença de velas em diversos ambientes da casa. Na data, muitas famílias evitam ligar o rádio ou mesmo a televisão. Diferentemente de outros países, no México, ao invés de melancolia, os mortos são homenageados com grandes festas. No dia de Finados são preparados verdadeiros banquetes nas casas das pessoas. Isso faz com que o país receba turistas de todo o mundo. Diz a lenda que, neste período, Deus permite que os mortos voltem à terra e, dessa forma, reencontrem seus parentes. Existem alguns símbolos que são muito utilizados no dia dos mortos, para homenageá-los: os crisântemos represen- tam o sol e a chuva, a vida e a morte e, por serem flores mais resistentes, são muito usadas nos velórios. As velas significam a luz do falecido, as coisas boas que deixou para seus parentes. Muitas vezes, no dia de Finados, o tempo fica nublado ou chuvoso. As crenças populares dizem que isso acontece porque lágrimas são der- ramadas dos céus... O dia de Finados Crescem pelo país as manifestações populares visando a coibir a corrupção. Aos milhares, manifestantes têm, nos últimos meses, se reunido nas capitais e grandes cidades para protestar. A internet, por meio de redes sociais, tem sido um dos instrumentos mais utili- zados para conclamar a sociedade civil a se mobilizar. No Rio de Janeiro, em São Paulo e em Brasília, o movimento “Todos contra a Corrupção” cresce e ganha as ruas. Esses protestos não são contra nenhum partido político, mas contra as práticas corruptas dos homens públicos e deles participam cidadãos comuns, estu- dantes, aposentados, donas de casa, professores, profissionais liberais... As denúncias de corrupção nos governos grassam e se tornam públicas de maneira assustadora. Isso vem ocorrendo em todos os níveis do governo. Perdeu-se a vergonha, a noção de bom-senso. Corruptos festejam, com a certeza da impunidade. Fortalece-se a imoralidade. Muitos buscam ocupar cargos públicos para fins escusos, pensando somente em se enriquecer. O fisiolo- gismo e os desvios aparecem em todos os cantos da gestão pública. Não há instituição que não seja achincalhada: acumulam-se denúncias de corrupção, prevaricação, nepotismo, negociatas; enfim, toda ordem de crimes. Menos- prezam a inteligência do povo. Porém, a população está mais atenta e observa o enriquecimento em curto espaço de tempo, de muitos ocupantes de cargos públicos, que adquirem casas, carros, sítios, entre outros, constituindo um patrimônio incompatível com o salário. Como justificar esse acúmulo de capital? As eleições se aproximam. Os acor- dos e conchavos já foram iniciados. A boa prática da política determina que os pretensos candidatos a cargos eletivos sejam honestos. É importante ficarmos atentos e observar as coligações que vêm sendo feitas. Precisamos passar o país a limpo. Estão sendo coletadas por todo o Brasil assinaturas visando a acelerar um projeto no Congresso que estabelece a corrupção como crime hediondo. Precisamos nos unir todos contra a corrupção. O dia de Finados é momento de relembrar os entes queridos, que não morreram em estado de graça total e que se encontram em estado de purificação. Na foto, o cemitério de Piquete, criado em 1875.

OUTUBRO 2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ANO XIV - Edição no.177

Citation preview

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, OUTUBRO/2011 - ANO XIV - No 177

O ESTAFETAFoto arquivo Pro-Memória

Assim como outras datas são impor-tantes para nossas vidas, o dia 2 de novem-bro, mais conhecido como dia de Finados,também tem sua relevância, pois foi criadoem homenagem às pessoas falecidas.

Segundo estudiosos, no início dahistória da Igreja os cristãos rejeitavam aideia de relacionamento com os mortos.Nessa época os mesmos acreditavam queas almas simplesmente ficavam ador-mecidas até o momento do juízo final. Coma difusão do cristianismo, a religião anexoucertos aspectos de outras culturas. Assim,da mesma forma que faziam diversos povosda Antiguidade, os cristãos passaram avenerar os mortos visitando os túmulos dosmártires para rezar. Já a partir do século Vfoi adotada pela Igreja a data que, deacordo com a tradição, seria dedicada àlembrança dos que partiram.

A escolha de 2 de novembro para estacomemoração, segundo historiadores, nãofoi por acaso. Um dia antes, no dia 1º, écelebrado o “Dia de Todos os Santos”.Na ocasião é prestada homenagem a todosque morreram em estado de graça, mas nãoreceberam canonização. Já no dia 2, émomento de relembrar nossos entesqueridos, que não morreram em estado degraça total e que se encontram em estadode purificação.

No cristianismo o Finados ganharia outraconotação: a data seria conhecida como “alembrança dos fiéis defuntos”. A diferençaestá na origem dos termos: Finados em sua

origem indica aquele que finou, ou seja, quepartiu. Por sua vez, o termo defunto temorigem na palavra “defungor”. Em outraspalavras, aquele que cumpriu plenamentesua missão. O Dia dos Fiéis Defuntos,segundo a Igreja, é a data para celebrar ocumprimento da missão das pessoas que jáfaleceram e, ainda, com uma chance, atravésda oração, para que a alma desta pessoapossa descansar junto ao Criador.

Para os católicos, o dia é celebrado commuitas orações e com a presença de velasem diversos ambientes da casa. Na data,muitas famílias evitam ligar o rádio ou mesmoa televisão. Diferentemente de outros países,no México, ao invés de melancolia, os mortossão homenageados com grandes festas. Nodia de Finados são preparados verdadeirosbanquetes nas casas das pessoas. Isso fazcom que o país receba turistas de todo omundo. Diz a lenda que, neste período, Deuspermite que os mortos voltem à terra e, dessaforma, reencontrem seus parentes.

Existem alguns símbolos que são muitoutilizados no dia dos mortos, parahomenageá-los: os crisântemos represen-tam o sol e a chuva, a vida e a morte e, porserem flores mais resistentes, são muitousadas nos velórios. As velas significam aluz do falecido, as coisas boas que deixoupara seus parentes. Muitas vezes, no diade Finados, o tempo fica nublado ouchuvoso. As crenças populares dizem queisso acontece porque lágrimas são der-ramadas dos céus...

O dia de Finados

Crescem pelo país as manifestaçõespopulares visando a coibir a corrupção.Aos milhares, manifestantes têm, nosúltimos meses, se reunido nas capitaise grandes cidades para protestar. Ainternet, por meio de redes sociais, temsido um dos instrumentos mais utili-zados para conclamar a sociedade civila se mobilizar.

No Rio de Janeiro, em São Paulo eem Brasília, o movimento “Todos contraa Corrupção” cresce e ganha as ruas.Esses protestos não são contra nenhumpartido político, mas contra as práticascorruptas dos homens públicos e delesparticipam cidadãos comuns, estu-dantes, aposentados, donas de casa,professores, profissionais liberais... Asdenúncias de corrupção nos governosgrassam e se tornam públicas de maneiraassustadora. Isso vem ocorrendo emtodos os níveis do governo. Perdeu-sea vergonha, a noção de bom-senso.Corruptos festejam, com a certeza daimpunidade. Fortalece-se a imoralidade.

Muitos buscam ocupar cargospúblicos para fins escusos, pensandosomente em se enriquecer. O fisiolo-gismo e os desvios aparecem em todosos cantos da gestão pública. Não háinstituição que não seja achincalhada:acumulam-se denúncias de corrupção,prevaricação, nepotismo, negociatas;enfim, toda ordem de crimes. Menos-prezam a inteligência do povo. Porém, apopulação está mais atenta e observa oenriquecimento em curto espaço detempo, de muitos ocupantes de cargospúblicos, que adquirem casas, carros,sítios, entre outros, constituindo umpatrimônio incompatível com o salário.Como justificar esse acúmulo de capital?

As eleições se aproximam. Os acor-dos e conchavos já foram iniciados. Aboa prática da política determina que ospretensos candidatos a cargos eletivossejam honestos. É importante ficarmosatentos e observar as coligações quevêm sendo feitas. Precisamos passar opaís a limpo.

Estão sendo coletadas por todo oBrasil assinaturas visando a acelerar umprojeto no Congresso que estabelece acorrupção como crime hediondo.Precisamos nos unir todos contra acorrupção.

O dia de Finados é momento de relembrar os entes queridos, que não morreram em estado de graçatotal e que se encontram em estado de purificação. Na foto, o cemitério de Piquete, criado em 1875.

Página 2 Piquete, outubro de 2011

Foto Arquivo Pro-MemóriaImagem - Memória

Poucas pessoas sabem que no final doséculo 19 um grupo de empresários,proprietários de terras na região, se envol-veram num ambicioso projeto visando àtransferência da capital do país do Rio deJaneiro para os altos da Mantiqueira.

Desde o Império, cogitava-se mudar acapital federal para a região central do Brasil.Em 1891, a primeira constituição republicana,no seu artigo 3º, previa essa transferênciapara uma área de 14 mil quilômetros qua-drados no interior de Goiás. No anoseguinte, 1892, constituiu-se a ComissãoExploradora do Planalto Central, chefiadapelo deputado e astrônomo Luiz Cruls eintegrada por médicos, geólogos e botâ-nicos para prospectar aquela região.

Para se contrapor a essa iniciativa dogoverno federal, proprietários de terras naSerra da Mantiqueira liderados pelo cearenseDomingos José Nogueira Jaguaribe Filho(1847 / 1926), médico e político influente nacapital paulista, e o lorenense Francisco dePaula Vicente de Azevedo (1856 / 1938), oBarão da Bocaina, cujo perfil empreendedore progressista impressiona ainda hoje,propuseram a realização de estudos em suasterras. Uniram-se a um grupo de cientistasvisando a manter a capital federal próximaao centro da vida pública brasileira, otriângulo formado pelos estados São Paulo,Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Dr.Jaguaribe já investia nos Campos do Jordão.O Barão da Bocaina era proprietário de umaextensa gleba de terras no norte dos camposdo Jordão, onde fundara uma fazenda-modelo, a São Francisco dos Campos,elogiada em publicações diversas no Brasil

e no exterior. Em janeiro de 1893, ele trouxe,às suas custas, o eminente engenheiro,geógrafo, cartógrafo e historiador TeodoroSampaio para uma visita técnica à região,quando foram feitos estudos para avaliar opotencial daquelas terras e traçar diretrizespara um plano de exploração. Participaram,também, dessa viagem, o irmão do Barão daBocaina, Dr. José Vicente de Azevedo, Dr.J.V. Marcondes Romeiro, o médico Dr.Bráulio Gomes, além do francês Jules Martine do engenheiro Axel Frick, este último oresponsável pelo registro fotográfico daexpedição.

Adotando um método incomum no país,o grupo pretendia realizar na região investi-mentos que aproveitassem a particularidadeambiental da altitude e do clima relati-vamente seco mediante planejamentobaseado em diagnósticos subsidiados portrabalhos de campo. Teodoro Sampaio, quejá demonstrava dominar essa atividade commaestria e pioneirismo entre os engenheirosformados no Brasil, percorreu toda a região.Foram oito dias de incursões que resultaramnum relatório que reúne a interpretação e olevantamento topográfico da área. Osprincípios e as diretrizes por ele traçadosforam publicados ainda em 1893 com o títulode “Viagem à Serra da Mantiqueira, Camposdos Jordão e São Francisco dos Campos”.

O plano desenvolvido por TeodoroSampaio foi um dos mais ousados e interes-santes da virada do século 19. Inseria-se nodesejo republicano de “construção de umpaís” a partir de bases solidamente ampa-radas nos conhecimentos científicos, talcomo ambicionavam os promotores da

expedição. No texto sobre a Serra daMantiqueira, descrevia com aspectosgeográficos gerais visando a tornar públicauma riqueza natural até então ignorada.Passando pela Vila do Piquete, a caminhoda Fazenda São Francisco, descreveu,maravilhado, a paisagem, a abundância deáguas, a riqueza das matas e encantou-secom os pinheirais. A Fazenda de SãoFrancisco do Buriqui, como era conhecida,tinha sua sede na junção de dois ribeirões,entre morros de mediana elevação, im-plantada “no fundo de apertado vale, àmargem de águas límpidas, batidas nascascatas, que fazem este sítio dos maisaprazíveis”. Presumia que aquele localpoderia ser o centro de um complexohidromineral, climático e sanitário anexo àpretendida futura capital do país. Após estavisita e de posse do relatório, travou-se, poranos, uma disputa entre Jaguaribe e Crulsem defesa dos dois pontos de vista.Enquanto isso, o Barão da Bocaina cons-truía, às suas custas, a Vila de São Francisco.No domingo, 22 setembro de 1895, erainaugurada a Capela sob a invocação de SãoFrancisco de Paula. O Barão construíra,ainda, hotel, chalés, escola, enfermarias,correio e praças ajardinadas. Mudou-se,então, com a família, para a Vila, logopassando a receber hóspedes ilustres. Havia,no entanto, uma dificuldade que jamais forasolucionada: a construção de um ramal férreoque ligasse Piquete a São Francisco. Infeliz-mente, por este e outros fatores, e, princi-palmente, com a crise econômica de 1900começou a ruir o sonho acalentado peloBarão da Bocaina.

São Francisco dos Campos

Sede da Fazenda São Francisco quando da visita de Theodoro Sampaio em janeiro de 1893. Na foto, de autoria de Axel Frick, o Barão da Bocaina, TheodoroSampaio, Dr. José Vicente, Dr. J.V. Marcondes Romeiro, o médico Dr. Bráulio Gomes e o francês Jules Martin.

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, outubro de 2011

Seu Zezé

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:

Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Quem conhece José Benedito RodriguesRibeiro, o Zezé do seu Luiz Cândido,constata que ele transpira otimismo e bom-humor, mesmo diante das adversidades davida. Espírito expansivo, falante, grandecontador de causos, tem sempre umahistória para narrar. Sensibilidade à flor dapele, emociona-se ao falar da família e deseu berço natal, São Francisco dos Campos.

Nascido em 27 de julho de 1925, é umdos sete filhos de Luiz Rodrigues Ribeiro eCarmem Soares Ribeiro. Seu pai, como seuavô José Cândido Ribeiro, foi administradorda fazenda São Francisco, fundada peloBarão da Bocaina no final do século 19.

Conhecedor como poucos da Manti-queira e de seus inúmeros caminhos, suasmelhores lembranças são de São Fran-cisco, onde passou a maior parte de suavida. A Fazenda era muito grande. Vastaextensão de terras com florestas, camposda altitude e pinheirais, com pomares depera, marmelo e pêssego, uma capela, acasa do Barão, dezenas de casas deempregados e agregados, hotel, correio...

Seus primeiros estudos foram minis-trados por sua irmã Irene e complementadospela professora Aparecida Meireles, deGuaratinguetá, que lecionava na escolalocal. Desde menino, ele e seu irmão Dungaajudavam o pai na administração da fazenda.Cabiam-lhe tarefas tão difíceis comopesadas: controle contabilístico do rebanho,recebimento dos serviços de extração demadeira, derrubada de lenha, produção decarvão, além do trabalho no mangueiro, aordenha das vacas, a separação e o recolhi-mento da bezerrada. Tarefa penosa era acampeação, a lida com o gado selvagemcriado solto por aqueles ermos,embrenhando-se pelos carrascais. Tudo issodebaixo de frio e chuva. E como fazia frio emSão Francisco! De maio a agosto, as geadaseram constantes, tingindo de branco apaisagem e congelando os canos d’água.Com memória prodigiosa e loquacidadepeculiar, fala de pessoas e fatos quepresenciou, com tal riqueza de detalhes, queparecem ter acontecido há pouco tempo...

Cita parentes, amigos, moradores, funcio-nários das serrarias e carvoaria, tropeiros eos inúmeros padres, hóspedes constantesda sua casa. Fala da família, dos pais eirmãos, e da satisfação que seu Luiz Cân-dido tinha ao ver a casa cheia, principalmentequando da festa do padroeiro, São Fran-cisco de Paula.

Zezé conta que, menino, vinha paraPiquete com a tropa da fazenda trazer carnede porco para negociar na venda do SerafimMoreira. “Éramos eu, Bororó e Zé Nunes...e eu, o mais novo, vinha ‘madrinhando’ atropa...” Dormiam no rancho da Maria daSilva. “Em Piquete, da Tabuleta até a atualPraça da Bandeira era um deserto... Haviapoucas casas...”, complementa.

Em 1949, casou-se com Maria MadalenaRibeiro. Tiveram sete filhos. Quatronasceram em São Francisco e os demaisem Piquete. Fala da harmonia do casal, docompanheirismo da ‘Mariinha’. “Ela meajudou, inclusive, na construção de nossacasa no São Francisco e na venda quemantínhamos no porão de casa...”.

No início dos anos 60, a família mudou-se para Piquete. Os pais, idosos, precisavamde cuidados médicos e os filhos de Zezétinham que continuar os estudos. A maioriade seus irmãos já não morava em SãoFrancisco. Zezé e o irmão Dunga passavama semana em São Francisco cuidando dafazenda e vinham para Piquete nos finais desemana. Em 1970, o filho mais velho do Barãoda Bocaina resolveu reativar a Vila voltadapara o turismo, com hotel, chalés, jardins,tal como sonhara o pai no final do século19. Zezé administrou cerca de 130 homensnas obras da construção do hotel, naabertura e manutenção de estradas e váriasoutras atividades, até a aposentadoria.

Hoje, da antiga Vila de São Franciscodos Campos do Jordão, idealizada peloBarão da Bocaina e administrada por trêsgerações da família de Zezé, restam apenasa Capela, o pinheiral e alguns pés de pera,que florescem todo mês de setembro...Conversar com Zezé é uma viagem notempo... São muitas as imagens no álbumde suas memórias...

Será que esse profissional do ensino

têm o que comemorar? Agressões,

indisciplina, violência dentro e fora da

escola, salários aviltantes, tripla jornada

de trabalho, burocracia institucional.

Enfim, mazelas que o transformam em

sobrevivente de um trabalho que vem se

tornando de alto risco fazem parte de seu

cotidiano.

A sociedade em transformação deixou

de reconhecer a importância do ensino e

da educação e do papel do professor como

profissional fundamental para o desen-

volvimento da nação. O Brasil somente

será uma grande nação no dia em que não

mais existir analfabeto algum e em que o

ensino-aprendizagem for melhor valori-

zado. Como dizia Paulo Freire, “ninguém

nega o valor da educação e que um bom

professor é imprescindível. Mas, ainda que

desejem bons professores para seus filhos,

poucos pais desejam que seus filhos sejam

professores. Isso nos mostra o reco-

nhecimento de que o trabalho de educar é

duro, difícil e necessário, mas que per-

mitimos que esses profissionais continuem

sendo desvalorizados. Apesar de mal

remunerados, com baixo prestígio social e

responsabilizados pelo fracasso da educa-

ção, grande parte resiste e continua

apaixonada pelo seu trabalho”. Este grande

educador faz-nos lembrar, também, que

todo ato de educar é um ato político, assim

como toda política é educativa. Desse

modo, o professor atua politicamente

quando exerce sua profissão, podendo

contribuir para a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária, huma-

nizando a educação e a utilizando como

mais um instrumento de transformação

social.

Mais um 15 de OutubroMais um Dia do Professor

O ESTAFETA Piquete, outubro de 2011Página 4

A questão educacional mobiliza todasas discussões referentes aos projetos deprojeção desenvolvimentista de um paíspara situá-lo, comparativamente aos demais,numa escala de valores cujos parâmetros têmna escolaridade uma função paradigmática.Cabe aos professores fazer funcionar o atode aprendizagem para levá-lo a bom efeito,isto é, à maximização dos resultados para,estatisticamente, computar dados favorá-veis e boas posições. Mas, bastaria somentedemonstrar números de alunos nas escolase aprovação na finalização de cursos?Verificados os conteúdos de númerosestatísticos, detectam-se falhas conside-ráveis. Por exemplo, a simples aprovação naseqüência das séries da grade escolar, semque o letramento tenha sido devidamenteatingido. Ou seja, os alunos em sériesadiantadas mal sabem ler e resolver questõessimples da educação de base. É o queconstatam especialistas preocupados emaferir resultados das propaladas vantagensexibidas por apenas números.

Fica a questão: qual é o papel doprofessor? O profissional de educação estáqualificado e equipado suficientemente paraenfrentar os desafios da contempora-neidade? À educação clássica sugeriu-seuma nova fórmula em que a virtualidade dasinformações tecnológicas combinassemcom as realidades. Mas, “as realidades” sãodiferenciadas. Como contornar essa situ-ação? Um método único para um país com a

15 de Outubro – O que comemorar no Dia do Professor?dimensionalidade do Brasil seria suficiente?

Afinal, bafejada pelas novas moda-lidades de comunicação, a sociedademudou, e está em constante mudança. Aescola acompanha essas mudanças, ealunos e professores são, no seu contato,e mais, nos seus conteúdos progra-máticos, desafiados. O desafio chega aospontos de crise.

O noticiário da mídia expõe casosdramáticos desse contato turbulento aponto de se perguntar o que fazer? Oexcesso do autoritarismo teria dado lugarao excesso de liberdade, sem que aresponsabilidade pudesse ser respeitada?A tragédia recentemente protagonizadapor um aluno de 10 anos que atira “paramatar a professora”, admitida a preme-ditação aventada por depoimento decolega, foi enfatizada pela mídia. Agra-vantes e atenuantes foram colocadas. Diza própria professora ferida pelo aluno: “OD. não, ele não, é tão bonzinho”. Não forao caso ainda mais agravado pelo suicídiodo aluno. Cogitações, explicações e todoum movimento para ser lamentado, e,esque-cido. Mais crianças no nívelfundamental têm levado armas para aescola. Os alvos, um colega, ou o profe-ssor, ou a professora, ou ele mesmo.

Uma questão sintomática de nossostempos para provocar um necessárioentendimento entre família, escola, projetoseducacionais e filosofia pedagógica.

Quem escolhe a profissão de professor?Esta escolha implica uma conscien-

tização plena do papel de educador? Apreparação recebida é suficiente? O quetrazem para as salas de aula, tantoprofessores como alunos?

Meditar sobre as questões aqui implí-citas e buscar alternativas para a busca desoluções não é fácil. Principalmente se oeducador for direcionado apenas por umainsatisfatória busca de salário e, portanto,disponível a um modelo a ser seguido,planejado para preencher quesitos de umaprogramação única e no qual o que seespera fica mal assimilado pelas soluçõesde massa. Por outro lado, é importante notarque nos países ricos europeus, uma dasmaiores temáticas é a discussão sobre comoorganizar a questão educacional frente aosdesafios tecnológicos e a globalização dosmeios de comunicação. Por sua vez,professores discutem a falácia da “educa-ção ocidental”, sem atingir propriamenteos fins esperados, pois esbarra numa ques-tão difícil – a do investimento econômico.Mas não é somente esse o problema. Aquestão crucial nos debates é, principal-mente, a preparação dos professores, e nãoapenas os treinamentos, e, em contra-partida, a garantia de salários correspon-dentes a esse investimento.

Dóli de Castro Ferreira

Fot

os a

rqui

vo P

ro-M

emór

ia

***************

O ESTAFETA Página 5Piquete, outubro de 2011

Aconteceu, no dia 17 de outubro, em SãoLuiz do Paraitinga, uma Reunião Pública paraapresentação da síntese do Plano da BaciaHidrográfica do Rio Paraíba do Sul, trechopaulista (UGRHI 2) 2011-2014.

O evento foi organizado pela FundaçãoChristiano Rosa (FCR), que é a entidadeque vem coordenando a elaboração desteplano, que tem como meta garantir que aágua – recurso natural essencial à vida, aodesenvolvimento econômico, ao bem-estarsocial e à vida silvestre – possa sercontrolada e utilizada, em padrões dequalidade satisfatórios, por seus usuáriosatuais e pelas gerações futuras.

Para atingir este objetivo, foram determi-nados objetivos específicos, que vêm sendoconduzidos por um grupo multidisciplinarcoordenado pelo IPT e pela FundaçãoChristiano Rosa. Na reunião de São Luiz doParaitinga, o hidrogeólogo do IPT, Dr. JoséLuiz Albuquerque Filho, foi o responsávelpela apresentação da Síntese.

Fizeram parte das informações repas-sadas pelo Dr. José Luiz, entre outros dados,os indicadores do processo de elaboraçãodo Plano de Bacias. Através destes indica-dores, os participantes ficaram sabendo, porexemplo, que todos os 34 (trinta e quatro)municípios da UGRHI 2 foram visitados pelaequipe do IPT, tendo sido realizadasentrevistas com 130 (cento e trinta) atoressociais, entre representantes de instituiçõespúblicas e de vinte ONGs que representama sociedade civil. Informou-se, ainda, queforam realizadas trinta e oito (38) reuniõesentre o IPT/TSAP com o grupo de acompa-

nhamento do Plano e o Comitê da BaciaHidrográfica do Paraíba do Sul, que aconte-ceram em oito (8) cidades membros daUGRHI 2.

A abertura do evento foi realizada pelopresidente do Comitê da Bacia Hidrográficado Rio Paríba do Sul (CBH-PS), Luiz RobertoBarreti, e contou com a presença, entreoutros, do presidente da FCR, Paulo Noiade Miranda, da Vice-Presidente do CBH-PSe prefeita de São Luiz do Paraitinga, AnaLúcia Bilard, e do Secretário Executivo doCBH-PS, Nazareno Mostarda Filho.

Após a apresentação do Dr. José Luiz, opúblico presente teve oportunidade deesclarecer suas dúvidas sobre o plano eencaminhar sugestões. A próxima etapa seráa finalização e aprovação do documento emoutra Reunião Pública, a ser realizada em 18de novembro. Com esta ação, a FundaçãoChristiano Rosa estará finalizando o Planoda Bacia Hidrográfia do Rio Paraíba do Sul,trecho paulista, ratificando sua excelênciana condução de projetos.

O Plano da Bacia Hidrográfica do RioParaíba do Sul é motivo de orgulho para aFundação Christiano Rosa por ser umdocumento essencial para o Vale do Paraíbae que, certamente, garantirá melhor quali-dade de vida para seus habitantes.

Plano da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul

Dr. José Luiz Albuquerque Filho, do IPT Participantes da Reunião Pública

Foto maior: Paulo Noia de Miranda,

Presidente da Fundação Christiano Rosa, Luiz

Roberto Barreti, Ana Lúcia Bilard e Nazareno

Mostrarda Neto, respectivamente Presidente,

Vice-Presidente e Secretário Executivo do CBH-

PS, durante abertura da Reunião Pública.

Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr.

***************

A primavera é a estação do reflores-cimento, da alegria, do renascimento.Precedida pelo frio e seco inverno,período em que plantas e animais têmpouco alimento e restringem as atividadesorgânicas, é esperada com ansiedade,pois com ela vêm os dias mais úmidos, astemperaturas amenas, a época doplantio...

Esta é uma das quatro estações doano... A primavera a que me refiro, porém,é outra...

Escrevo ainda sob o impacto daschocantes cenas da prisão do líder líbioMuammar al-Gaddafi, morto em seguida,em 20 de outubro. É o atual capítulo doque vem sendo chamado de PrimaveraÁrabe, uma onda revolucionária de mani-festações e protestos que vêm ocorrendono Oriente Médio e no Norte da Áfricadesde 2010. Houve protestos em diferentesdimensões em países como na Líbia deGaddafi, Tunísia, Egito, Argélia, Bahrein,Djibuti, Iraque, Jordânia, Síria, Omã, Iémen,Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos,Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental.

No Brasil, avalio, ainda estamos nocomeço do outono, período em que alembrança das férias e a “ressaca” de diasensolarados e quentes do verão aindapovoam nossa memória e regem nossasreações. No outono, porém, inicia-se aqueda das folhas, fenômeno que precedeos dias difíceis do inverno...

Inspirados, talvez, na Primavera Árabe,os brasileiros estamos nos mostrandoindignados com nossa própria indolênciae começando a derrubar as folhas...Manifestações e movimentos têm ocorridoinsurgindo-se contra a corrupção, osdesmandos e a desfaçatez de políticos. Aocontrário dos eventos do Oriente Médio,temos a vantagem de atuar pacificamentee sob “repressões democráticas”.Evidencia-se, no entanto, o desejo comum,entre povos tão díspares, de governossérios, justos e honestos, voltados para obem-comum, com mobilidade e redução doabismo social entre seus povos. Fatorinteressante é que, tanto lá, como cá, osparticipantes têm usado as mídias sociaiscomo Facebook, Twitter e Youtube parase organizar, comunicar e sensibilizar apopulação e a comunidade internacional,em face, muitas vezes, de tentativas derepressão e censura em alguns casos.

Baseado nos resultados do Brasil e domundo a fora, tudo indica que este é umcaminho sem volta. Nossa arma mais letalé exatamente a internet, que espalhaimagens e informação, causando indig-nação e proporcionando a união e aorganização da população em prol do bemcomum. Em Piquete, a primavera tambémvem florescendo. Grupos já se manifestampela internet contra problemas do muni-cípio e ações reais começaram a surgir. Édessa forma, certamente, que serãoalcançadas muitas vitórias. Tiremos omanto do inverno de nossas terras... Quevenha a época das flores!

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

À época da Primavera...

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, outubro de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

Dos grandes dramas da noite...Campo do Barranco

Definitivamente, estou em guerra abertacontra os pernilongos, muriçocas ou queraio de nomes tenham! Campanha semtrégua, que terei prazer em levar adiante como maior sadismo possível, num estado debeligerância tão radical, que bandeira brancanão vai oscilar nem por sonho!

Não resta dúvida de que um bom inse-ticida resolveria o problema. Disso sei desobra e toda noite eu juro (daquelesjuramentos que abrangem tudo quanto ésantidade) que na manhã seguinte comprareium... Infelizmente, porém, só me lembro dobendito veneno quando estou deitado, eeles, os terríveis, começam a me atacar.

Instantaneamente acendo a luz doquarto e perscruto cada milímetro de espaçoà cata de meus algozes. Ah! Mas sãorápidos os bandidos! Paredes, teto, cabe-ceiras, criados... Em tudo procuro encontraraquela coisa fina, feia, cheia de pernascompridas... São peritos, especialistas emcamuflagem! Trepo na cama, olho atrás dosmóveis, embaixo da cama, nas roupas, nabarra da parede... Nenhum sinal dos sangui-nários! Onde se meteram os desgraçados?Sinto que se riem de mim. Pestes! Olho orelógio, vejo o quanto é tarde, e me vem àlembrança que, de manhã, bem cedo, tenhoque pegar firme no batente!

Deito novamente, excitado, apago a luze, horizontalizado na cama vivo uma leve etênue esperança de tê-los assustado, pelomenos até conciliar o sono, antes que aorquestra rangente recomece o exasperanteconcerto. Fico atento, ouvidos aguçados...Nenhum ruído... Assustei-os, jactancio-me...Que silêncio delicioso! Ei! Que barulho éesse? Ah! É um motoqueiro que vem ao

longe... O negócio é dormir... Não, não...Escuta! Repara! Fiuim... Fiuim... Fiu... Estálonge... Melhor não prestar atenção...Fiuim... FIUim... FIUIM... Bandidos!Facínoras! Cangaceiros! Voltaram...

Rapidamente, de um salto desço da cama,acendo a luz e, com uma toalha, golpeio o arem todas as direções. Toalha bate onde nãodeve e derruba vidros da penteadeiraprovocando barulheira noturna fora donormal. Aí é minha mulher que acorda e,zangada, ironiza se pretendo grassar umaepidemia de insônia pelo mundo inteiro.Desalentado, apago a luz e volto à cama.Respirando devagar aguardo novo ataque.O relógio continua disparado, com as horasse sucedendo com uma rapidez incrível!

Lá vêm eles! Vietcongs de uma figa...!Fiuim... fiuIM... Fico estático. Com as mãosno ar, como quem vai aplaudir, aguardo queaterrissem ou “acorporissem” em mim...Aumenta cada vez mais a horrível sinfonia.Um drácula magricela dá o mergulho...FiUUUim... passou... Lá vem outro... fiuim...Vem chupar meu sangue, vampiros! Um dáa invesida! Está me rodeando... abaixando...sentou! Que azar, meu Deus! Tento, comsutileza, alcançá-lo com um tapa, mas nãoconsigo atingi-lo! Como é que vou matá-lo?O crápula sentou-se justamente nas costasda minha mão direita em pleno ar...!

Desisto! Amanhã – amanhã, conversa...hoje, daqui a pouco, pois já é alta ma-drugada... – comprarei de qualquer maneiraum inseticida! E quando o veneno estiverenchendo o quarto, quando aquela delíciade cheiro de DDT estiver tomando contade todos os cantinhos, hei de soltar gritosde desafio: fiuim... fiuim...

Em meados da década de 1950, nós, osgarotos residentes na Avenida GeneralGomes Carneiro, tínhamos um time defutebol de nome “Hospitalzinho”. O timeficava mais competitivo quando contavacom as presenças dos irmãos Masiero eirmãos Lódi. Nossos adversários eramvários: Vila Duque de Caxias, Vila Barão, VilaCélia, Vila General Osório e outros. Arivalidade maior era entre os times da VilaDuque de Caxias e o do Hospitalzinho.

O lugar onde treinávamos e mandávamosnossos jogos era o campo do Barranco,também conhecido por Aterro, de pisobatido e terra vermelha. Esse campo ficavaonde hoje se encontra a rodoviária.

Numa linda tarde, horário de verão, o solcaía no ocaso, quando jogávamos contra otime da Vila Duque... De repente, alguémgritou:

– Para a bola, o trem está vindo! Amaioria dos jogadores replicou:

– Que nada! Não para não! E o jogocontinuou...

O trem, tendo os vagões vazios,retornava à cidade de Lorena. Passavaem velocidade acentuada defronte aocampo quando o zagueiro do time da VilaDuque rechaçou com ímpeto uma bolaque lhe chegara à meia-altura... A bola,coincidentemente, foi parar dentro de umdos vagões...

Cada um dos jogadores procurou selimpar sacudindo a poeira do calção; e nãohouve naquele jogo apito final do árbitro...Houve, sim, o apito choroso do trem sedistanciando... e levando a nossa bola.

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

www. fundacaochristianorosa.cjb.netou

***************

A Fundação Christiano Rosa convida para o lançamento do livro

Espaço Cultural “Célia Ap. Rosa”

Piquete/SP

“Lembranças Piquetenses”de Wanderley Gomes Sardinha

15 de Novembro de 2011, a partir das 20h

“Um professor é a personificada consciência do

aluno; confirma-o nas suas dúvidas; explica-

lhes o motivo de sua insatisfação e lhe estimula

a vontade de melhorar.”Thomas Mann

O ESTAFETAPiquete, outubro de 2011 Página 7

O texto do Profeta Isaías, lido nascomunidades católicas de todo o mundo,no vigésimo oitavo domingo do tempocomum, que, neste ano, foi celebrado nodia nove de outubro, é um texto que emtodos os tempos inspira esperança. Trata-se de Is 25, 6-10. O primeiro Isaías viveu noséculo VIII antes de Cristo: a elite deJerusalém ainda não havia sido deportadapara a Assíria, que, à época, estava setornando uma potência expansionista.Jerusalém vivia um momento deprosperidade. Acontecia uma atividadereligiosa intensa, com grandes festas ecultos pomposos no Templo mascarandoa precariedade da vida social: injustiças,arbitrariedade dos juízes, corrupção dasautoridades, cobiça dos grandesproprietários de terra, opressão dosgovernantes.

 O Profeta via com lucidez ascontradições existentes, estava no meiodas pessoas, convivia com os famintos emiseráveis, com os desonradosinjustamente pelos grandes quecompravam os juízes, contemplava as facesmolhadas por lágrimas derramadas pelafalta de esperança e de perspectiva de vida.Escutava o choro de muitas mulheres queperdiam seus filhos mortos por doençascausadas pela miséria ou pela violência.Imerso nessa realidade de tanto sofrimento,da qual só poderia brotar o desespero e a

Não há mal que sempre dure!descrença, Isaías nos surpreende: não falade coisas ruins, mas traz boa notícia.Anuncia o oposto do que vê. Crê na justiçade Deus: “O Senhor dos exércitos dará, nestamontanha, para todos os povos, umbanquete de ricas iguarias. Acabará com osgrandes que oprimem e maltratam aspessoas. Destruirá a violência e a morte.Enxugará as lágrimas de todas as faces, e,pela terra inteira eliminará os vestígios dadesonra de seu povo. Foi o Senhor quemfalou!” Isaías realmente tinha muitaesperança.

No Brasil, um homem que também échamado por muitos de profeta, Dom HélderCâmara, disse, certa vez, que estava rezandocom o povo de uma comunidade muito pobrede sua diocese. Rezavam o salmo 22: “OSenhor é meu pastor, nada me faltará...” DomHélder relata que se espantou com a fé e aesperança daquela gente. Ele olhava a suavolta e percebia que faltava tudo, eles nãotinham o básico para uma sobrevivênciadigna, mas continuavam rezando o salmocom grande devoção.

Também vivemos num mundo marcadopor tantas injustiças, conhecemos pessoasque não possuem nada, sabemos queexistem carências muito graves na vida denossa gente, conhecemos bem aprecariedade dos serviços públicosoferecidos à nossa população, sabemos quea maior causa disso é a má gestão dos

recursos públicos e a maldita corrupçãoalastrada entre os que exercem o PoderPúblico. Não podemos deixar de enxergara miséria e a exclusão a que muitos jovense crianças estão submetidos, muitos delesviciados em entorpecentes, sem nenhumaperspectiva de vida. Nossas sociedadesainda não se estruturam sustentavelmente,progressivamente destroem a comunidadede vida formada por todos os seres, nãopercebendo que há uma profundainterdependência entre nós.

O Profeta Isaías e os pobres dascomunidades proféticas de Dom Héldernos ensinam a olhar para todas essascoisas que nos desestimulam fortemente,e a não perder a esperança e a confiançade que ainda teremos boas notícias. Elespodem crer dessa maneira porque sãocapazes de olhar as coisas em perspectivasdiferentes, enxergam as desgraças e osdesgraçados que as geram, mas não deixamde olhar também a bondade, a ternura, ajustiça presentes no coração e nas atitudesde muitos. Sabem que, de uma hora paraoutra, essas virtudes, escondidas na vidade pessoas simples e muitas vezesinexpressivas, como boas sementeescondidas na terra, podem brotar etransformar as coisas.

A esperança de Isaías e dos pobres deDom Hélder seja também a nossaesperança! Pe. Fabrício Beckmann

O Decreto Federal de 3 de outubro de2002 dispõe sobre o “Dia das Aves”,comemorado anualmente no dia cinco deoutubro.

O foco de interesse para as festividadesdo Dia das Aves é o sabiá (Turdus rufi-ventris), símbolo representativo da faunaornitológica brasileira e considerado popu-larmente a ave nacional do Brasil. O decretoestabelece que as comemorações do Dia dasAves devam ser de cunho eminentementeeducativo e realizadas com a participaçãodas escolas e da comunidade.

O Brasil é o terceiro país do mundo emvariedades de aves. Há décadas, váriasespécies delas vêm sofrendo grandes

impactos, seja pelo intenso tráfico deanimais silvestres ou pelo crescentedesmatamento das florestas. A perda dohabitat é um dos principais fatores quecontribuem para o desaparecimento deinúmeras espécies.

Observa-se, cada vez mais, o aumentodo número de aves nas cidades. Osprogramas de arborização urbana e oplantio de árvores em casa e em suas ruaspela comunidade são grandes atrativos parainúmeras espécies de aves que vêm atrásde alimento, como frutos e sementes.

Em Piquete, a FPV/IMBEL preserva umfragmento de mata atlântica consideradoverdadeiro santuário, com espécies raras e

em extinção, as quais, protegidas, láencontram o habitat ideal para procriação.São macucos, sabiá-cicas, marias-leques,tucanos-de-bico-verde, gralhas-azuis,papagaios...

O Dia das Aves é, portanto, momentopara um trabalho afirmativo, com o lança-mento de ações continuadas junto àscrianças, orientando-as sobre comoprotegê-las. Recusando-se a comprar ecomercializar animais silvestres, nãomantendo animais em cativeiro, plantandoárvores e arbustos frutíferos, não matandoe nem sacrificando aves e denunciandoos que assim o fazem ou persuadindo-aspara que mudem de comportamento.

5 de outubro: Dia das Aves

Foto Lucas Nogueira GonçalvesFoto Lucas Nogueira Gonçalves Reprodução (Sylvio Adalberto)

Garibaldi (Chrysomus ruficapillus) Tiê-preto (Tachyphonus coronatus)Sabiá-Laranjeira (Turdus rufiventris)

O ESTAFETA Piquete, outubro de 2011Página 8

Quando criança, causava-me profundaimpressão a atitude dos mais antigos dafamília em relação a acontecimentosdesagradáveis.

Diziam que era preciso que aceitassemaquela quase desgraça, porque a mão deDeus poderia estar nela – Deus poderia terrevogado, poderia ter evitado umadesgraça maior.

Como Deus vê antes, sabedor de que apessoa, a família ou a comunidade nãoteriam força para assimilar o acontecimento,teria decidido fazer a troca por um malmenor. É como se Deus, que tudo decide,desdissesse o que havia dito antes.

Tendo eu aprendido na escola que arainha havia comutado a pena de forca paraos inconfidentes degredando-os para aÁfrica – menos para o mentor e chefeTiradentes – revogar ficou significandopara mim comutação de pena.

Ainda hoje, quando uma pessoa vem afalecer muito cedo, para consolar os amigose parentes, alguém diz: Com certeza, Deuso levou agora para evitar que passasse poruma grande provação.

Está próximo o dia de Finados, dia emque comemoramos, lembramos juntos, osque estiveram conosco em um período denossas vidas.

Estiveram em carne e osso, porque,invisíveis ou encantados, permanecemconosco, continuam influindo em nossasdecisões.

Fica o dito por não ditoMuitas vezes, uma viúva, quando vai

decidir algo sobre o comportamento do filho,se pergunta: que diria meu marido seestivesse vivo?

O pai vivo pode rastrear o filho pelocelular; o pai morto parece que está sempreperto, alegrando-se com nossas conquistase lamentando nossos desacertos.

Quando estamos prestes a nos desviardo bem, sentimos que nosso morto ficaimpaciente, não descansa em paz.

De acordo com a educação querecebemos ou a religião que nos adotou,temos comportamentos diferentes diante damorte.

Para uns é o dia da ira; ou o dia doperdão; ou o dia do balanço geral tanto doque vai como dos que ficam; ou o dia donão contra o sim; o dia do nada em lugar dotudo.

O essencial é que tenhamos semprediante dos nossos olhos e de nossapreocupação o milagre da vida.

Que é a civilização senão o cômputo detodas as conquistas dos que passaram peloplaneta?

Como veríamos a Grécia sem Sócrates,Platão e Aristóteles? Que idéia faríamos deum Irã sem Ciro e Dario? Podemos imaginaruma Roma sem Cícero e Catão? Um Brasilsem os Andradas e Rui Barbosa?

Viver é superar dificuldades. No dizer dePaulo: é combater o bom combate.

A Pérsia virou Irã. Dario não deixou de

ser Dario. Roma não é mais a senhora domundo, mas Catão ainda é Catão. A Gréciapode estar assustando o mundo com suasdívidas, mas, neste mesmo momento,muitos estudantes estão debruçados sobrea obra de Aristóteles; o Brasil seenvergonha da corrupção nos órgãospúblicos, e os jovens buscam inspiraçãoem José Bonifácio, Martim Francisco,Antônio Carlos e Rui Barbosa.

Esta é a verdadeira imortalidade – écontinuar vivo depois de se tornarinvisível.

Muitos são imortais para a humanidade.Mais numerosos ainda são os que setornam imortais para a família, para osamigos e para a comunidade.

Na comemoração de Finados, vamosbendizer todo o legado de nossosantepassados. Vamos dar o devido valor acada gentileza que recebemos das pessoasque compartilharam de nossas alegrias edecepções.

Isto não significa viver do passado.Significa aprender para o presente.

Vamos ser mais atentos. Vamos dar aosnossos vivos a importância que lhesdevemos. Não esperemos que morram parareconhecer seu valor.

Quanto às desgraças da vida e àspessoas inassimiláveis, assumamos afilosofia dos antigos: Deus foi benevolenteconosco. Poderia ser pior. Deus revogou.

Abigayl Lea da Silva

Nós que aqui estamos por vós esperamosÀ entrada do cemitério da cidade de

Paraibuna lê-se essa frase. Colocada noportal do cemitério, num primeiro momentoconfunde-nos. Imaginamos que os que láestão esperam pela nossa morte e, emseguida, o óbvio, nosso enterro. Mas não ébem assim. O sentido é outro. Os que láestão esperam por nossas orações. Ainscrição do portal foi lá colocado por umpadre, com a intenção de sensibilizar apopulação para que rezasse pelos mortos.Mesmo assim, após tanto tempo, não deixade causar espanto e curiosidade aqueles quevão ao local pela primeira vez.

Cemitério é uma palavra de origemgrega. Veio da palavra “koimeterion”, cujosignificado na língua grega clássica é“dormitório”. Simbolicamente, uma alusãoao conceito de que a maioria dos templos

das religiões ocidentais dava origina-riamente para o lugar onde se enterravamos mortos: o espaço sagrado onde se dormeo sono eterno.

Apesar de muitos terem uma relaçãoimpactante ou desconfortante com esselugar, os cemitérios em diferentes cidadesturísticas do mundo fazem parte do roteirohistórico de visitação, como, por exemplo, oPère-Lachaise, em Paris, na França, oRecoleta, em Buenos Aires, na Argentina, oda Consolação, aqui em São Paulo. Nesseslocais, que ficaram conhecidos como“museus a céu aberto”, são identificadoselementos que demonstram a história sociale artística dessas cidades através daestatuária, das obras arquitetônicas, dosepitáfios e dos símbolos encontrados nostúmulos, valorizando e exaltando a preser-

vação desse imenso patrimônio público. Oscemitérios são ricas fontes de pesquisa.Podem nos dar valiosas informações, sendoeles fontes histórica para a preservação damemória familiar e coletiva, fonte de estudodas crenças religiosas, forma de expressãodo gosto artístico, forma de expressão daideologia política, forma de preservação dopatrimônio histórico e fonte para estudo dagenealogia. Essas informações são obtidaspor meio da análise de epitáfios, de fotostumulares, das simbologias contidas nasobras funerárias e das formas artísticas dosmonumentos e mausoléus.

Além da aparência triste e da sensaçãode paz presente nos cemitérios, há umprecioso universo cultural que se escondepor trás dos cemitérios.

Fotos arquivo Pro-Memória

***************