5
PARÓQUIA E O BICENTENÁRIO PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA Marcos de Araújo Costa nasceu em 1.778 no arraial de Paulista [hoje município de Paulistana], na casa de seu avô, Valério Coelho Rodrigues. Uma escrava perita na arte de costurar lhe fez o enxoval. O nascimento foi solenemente comemorado por toda a família com vinho do Porto, de Portugal. O pai português Marcos Francisco de Araújo Costa trouxe muitas economias de Portugal antes de migrar para o Brasil arranjando-se em terras piauienses. Casou-se bem: Maria Rodrigues Santana era sua esposa e de muitas posses, filha de Valério Coelho Rodrigues Santana, e irmã de Ana Rodrigues Santana, a Donana, mãe do mais tarde, célebre Visconde de Parnaíba, Manoel de Sousa Martins, que administrou a Província do Piauí, desde a independência, em 1.823 até 1.843, com pequenas interrupções. Desiludido com as causas da Capital, Oeiras, em 1.786, dois anos depois de ter sido ouvidor-geral e, nesta qualidade, membro da Junta Governista [1.784-1786], o coronel Marcos Francisco reúne a família [Maria Rodrigues Santana e os filhos Inácio Francisco, Antônia, Francisco Manoel, Josefa, Maria, Ana e Marcos Araújo] e viaja para se estabelecer na Fazenda Boa Esperança. No cargo de ouvidor-geral fica José Pereira de Brito. O próprio pai, o coronel Marcos Francisco foi seu primeiro professor lhe transmitindo conhecimentos de letras, boas maneiras e noções de latim. Vendo que o menino já estava preparado para novos rumos, Marcos Francisco retornou para Oeiras levando consigo Marcos de Araújo, que depois seguiu para o Maranhão e por fim ao Pernambuco, onde ficou matriculado no Seminário de Olinda. No Seminário de Olinda, em Pernambuco, Marcos de Araújo Costa teve como mestre o padre João Ribeiro, um dos líderes da Revolução de 1.817, que lhe formou o espírito cívico e nacionalista.

PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA

PARÓQUIA E O BICENTENÁRIO

PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA

Marcos de Araújo Costa nasceu em 1.778 no arraial de Paulista [hoje município de Paulistana], na casa de seu avô, Valério Coelho Rodrigues. Uma escrava perita na arte de costurar lhe fez o enxoval. O nascimento foi solenemente comemorado por toda a família com vinho do Porto, de Portugal.

O pai português Marcos Francisco de Araújo Costa trouxe muitas economias de Portugal antes de migrar para o Brasil arranjando-se em terras piauienses. Casou-se bem: Maria Rodrigues Santana era sua esposa e de muitas posses, filha de Valério Coelho Rodrigues Santana, e irmã de Ana Rodrigues Santana, a Donana, mãe do mais tarde, célebre Visconde de Parnaíba, Manoel de Sousa Martins, que administrou a Província do Piauí, desde a independência, em 1.823 até 1.843, com pequenas interrupções.

Desiludido com as causas da Capital, Oeiras, em 1.786, dois anos depois de ter sido ouvidor-geral e, nesta qualidade, membro da Junta Governista [1.784-1786], o coronel Marcos Francisco reúne a família [Maria Rodrigues Santana e os filhos Inácio Francisco, Antônia, Francisco Manoel, Josefa, Maria, Ana e Marcos Araújo] e viaja para se estabelecer na Fazenda Boa Esperança. No cargo de ouvidor-geral fica José Pereira de Brito.

O próprio pai, o coronel Marcos Francisco foi seu primeiro professor lhe transmitindo conhecimentos de letras, boas maneiras e noções de latim. Vendo que o menino já estava preparado para novos rumos, Marcos Francisco retornou para Oeiras levando consigo Marcos de Araújo, que depois seguiu para o Maranhão e por fim ao Pernambuco, onde ficou matriculado no Seminário de Olinda.

No Seminário de Olinda, em Pernambuco, Marcos de Araújo Costa teve como mestre o padre João Ribeiro, um dos líderes da Revolução de 1.817, que lhe formou o espírito cívico e nacionalista.

De Olinda, Marcos obteve a permissão e os recursos do pai e seguiu para se ordenar padre, em Coimbra, Portugal. Pouco antes de sua ordenação, entretanto, recebeu uma notícia trágica: a morte do pai.

Ordenado padre, em atenção às suas qualidades de inteligência, sensatez, devoção e dedicação demonstrada durante seus estudos em Portugal, o bispo recomendou que Marcos Araújo ingressasse no Colégio de Roma, a fim de seguir o Curso de Teologia no Seminário Romano. Este recusou para voltar.

“Desde que nasci não pensei em outra coisa a não ser padre e fundar uma escola na fazenda de meu pai, em Boa Esperança”, registrou padre Marcos, que celebrou sua primeira missa em 1.805, no dia 15 de agosto, data que marca a Ascensão de Maria aos Céus, também chamada de Nossa Senhora da Glória, das Mercês ou da Esperança, de acordo com os dogmas católicos.

Ao retornar de Portugal, ficou em Recife por um período de seis anos [de 1.805 a 1.811], depois trabalhou no interior do Rio Grande do Norte por dois anos [1.811 a 1.813] até chegar a Oeiras, onde ficou por sete anos [de 1.813 – 1.820]. Ao retornar ao Brasil, o padre Marcos sempre visitava a Fazenda Boa Esperança e alimentava a intenção de lá constituir uma escola de ensino elementar – como fizera o pai - e se dedicar ao setor primário: “Gosto da vida no campo, vou cuidar um pouco da agricultura, quero plantar algodão e cana. Vou experimentar [plantar] fumo”.

Page 2: PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA

Estabelecido, de volta, à Fazenda Boa Esperança herdada do pai, padre Marcos deu continuidade ao trabalho de transmissão de saber: além das primeiras letras, ensinou também latim, francês, teologia e retórica filosófica. Não cobrava nenhuma recompensa material ou financeira pelo trabalho.

“Padre Marcos renunciou aos mais elevados cargos, conquistados pelo seu elevado merecimento, como os de presidente da Província, membro do Conselho do Governo, [e de continuar] deputado à Assembléia Legislativa e se recolheu na Fazenda Boa Esperança onde funda um colégio de instrução”, registra monsenhor Cícero Nunes, em “Notas para a História Religiosa do Piauhy”, editado pelo Almanach Piahyense, editado em 1.937.

Por conta de sua dedicação à causa pública durante mais de meio século, como educador, padre e cidadão lhe é conferida a Carta de Cavalheiro e depois a de Comendador da Ordem de Christo.

Por indicação política foi membro da Junta Defensiva durante a Conferência do Equador de 20 de setembro de 1.824 e do Conselho de Governo criado por Decreto de 20 de outubro de 1.823, como vice-presidente, e deputado à Assembléia Provincial do Piauí, instalada em 1.835, sendo para o período de 1.835/39. Recusou, segundo o historiador pernambucano Francisco Augusto Pereira da Costa [Cronologia Histórica do Estado do Piauí], outros elevados cargos, a que fazia jus pelo seu nascimento.

“Cargos de mando nunca os exerceu. Fugia deles porque achava que sua missão era outra e os cargos deviam ficar para os civis e os militares mais preparados do que ele para exercê-los”, escreveu o deputado estadual Homero Castelo Branco em seu livro “O Padre Marcos”, editado em 1998.

O Visconde da Parnaíba, Manoel de Sousa Martins, não entendia a falta de ambição de seu primo Marcos. “Como é possível que uma pessoa tenha estudado tanto, aprendido tanta coisa, em escolas de Portugal e do Brasil, e depois não procura tirar proveito?”, questionava.

Foi um benemérito. E, como tal, reconhecido, entre outros presidentes, pelo Conselheiro Zacarias de Góis e Vasconcelos, que governou o Piauí, no período de 28 de julho de 1.845 a 17 de setembro de 1.847, e que assim se expressou em mensagem apresentada à Assembléia Provincial, em 1.845: “O ensino particular pode dizer-se é nenhum, pois de primeiras letras há algumas escolas a cargo de notável exceção desta regra o ensino do Padre Marcos de Araújo Costa e sua Fazenda Boa Esperança.Vós sabeis senhores, que de longo tempo tem esse ancião respeitável formado em sua casa uma espécie de colégio, no qual ensina a grande número de moças não só as primeiras letras, senão latim, francês, retórica, filosofia e teologia, sem receber gratificação alguma de seus alunos, e o que mais é, sustentando-os à sua custa ainda quando são filhos de pessoas abastadas. O raro desinteresse, com que assim se presta o reverendo Padre Marcos à ilustração de uma parte da mocidade de sua província, e geralmente a tudo que é de utilidade pública, tornando-o benemérito da não comum estima que lhe consagram os seus concidadãos, única recompensa a que aspira e que tem recebido. Cheio de júbilo, senhores, aproveito a ocasião solene, em que falo em presença da província representada por seus delegados, para dar publicamente àquele cidadão os louvores que merece por tão assinalados serviços”.

Page 3: PADRE MARCOS DE ARAÚJO COSTA

Falecido a 04 de novembro de 1.850. Pelas leis nºs 463 e 492, de 1.859, foi autorizado pela presidente da província a “ mandar levantar um mausoléu na Igreja Matriz da Vila de Jaicós para nele serem depositados os restos mortais do Padre Marcos de Araújo Costa”, homenagem justa e merecida ao virtuoso e exemplar educador, que tantos e relevantes serviços prestou ao Piauí e ao Brasil.

Em uma das reformas da igreja, construída em 1.837, pelo Padre Marcos, o túmulo do sacerdote ficou encoberto pelo piso em mosaico da capela-mor. No local em que estão os restos mortais do padre foram colocadas letras manuscritas e os mesmos dizeres na lápide de mármore branco em uma das colunas da capela, do lado direito de quem entra com os dizeres:

NESTA CAPELA MÓRJAZEM OS RESTOS MORTAES DO RVD PADREMARCOS DE ARAÚJOCOSTAFUNDADOR DESTA MATRIZ,CAVALLEIRO E COMENDADORDA ORDEM DE CHRISTO,NASCIDO NO ANO DE 1.778FALLECIDO A 4 DE NOVEMBRO DE 1.850RESQUIESCAT IN PACEP.N.A.M

Fonte: Folha de Picos – Caderno especial sobre 171 anos de Jaicós