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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS XIV
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA
“Padroado no Sertão” Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre
1989 e 1996.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Coité - BA
Conceição do Coité Dezembro/2009
2
CRISTIAN BARRETO DE MIRANDA
“Padroado no Sertão” Negociação e conflito entre Igreja e poder político em Conceição do Coité entre
1989 e 1996.
Monografia apresentada a Universidade do Estado da Bahia – Campus XIV como requisito parcial para obtenção do título de graduado em Licenciatura em História sob a orientação do professor Mrs. Eduardo José Santos Borges.
Conceição do Coité Dezembro/2009
3
Componentes da Banca examinadora:
Profº Mrs.Eduardo José Santos Borges (Orientador).
ProfªMrs.Zuleide Paiva da Silva.
Profª Drª Sharyse Piroupo do Amaral.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela força e persistência que Ele me concedeu em todos esses anos e
em especial na trajetoria desse trabalho que prosegue por outros caminhos a partir do próximo
ano.
Agradeço a minha família, sem vocês, concerteza não teria chegado até aqui, valeu
pelo zelo e dedicação, serei eternamente grato pela presença de vocês na minha vida. Dedico
esse trabalho a vocês.
Em especial agradeço ao meu irmão Cristiano Barreto pelo companheirismo e
incentivo para a realização dessa pesquisa.
Agradeço também outras pessoas que contribuiram para que este trabalho pudesse
acontecer, apesar de muitas faço questão de citá-las.
Aos meus colegas e amigos da Turma de História 2006.1 do Campus XIV da UNEB
que me acompanharam nesses anos de batalha, em especial, a Samara Suelen, que construiu
comigo a primeira versão do projeto desta pesquisa, dedico também a ela esse trabalho; a
Antonia Gislaine, Antonio Thiago, Maurício, Renata, Tayla e Sinara pela força e motivação; a
Rafaela, Edcarla, Ana Lúcia e Kécia Dayana pelas inúmeras leituras e correções. Valeu
mesmo!
Aos funcionários da secretária paroquial, Lucivan, Izabel e Manoel pela
disponibilidade em me atender cotidianamente em minhas visitas a documentação do Arquivo
da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Ao Sr. Mário pela confiança em disponibilizar os
inúmeros jornais para a realização dessa pesquisa.
Aos professores que acompanharam a construção desse trabalho desde a concepção do
projeto até a orientação do mesmo, agradeço em especial, aos professores Aldo Morais e
Rogério Souza. A Eduardo Borges pelas orientações e pelo incentivo para a concretização
desse trabalho, como também, a Sharyse Amaral e Zuleide Paiva que se disponibilizaram para
a apresentação do mesmo. E todos que participaram da minha formação acadêmica.
Por fim, agradeço as pessoas que prestaram o seu depoimento, Pe.Luiz Rodrigues,
Ivonete Baldoino, Francisco de Assis, Adauto Mota e o Sr. Nilson Oliveira, que partilharam
suas memórias, suas experiências, seus sentimentos, seus ideais, suas lutas enfim suas
histórias de vida para a realização desta pesquisa, que sem a contribuição dos mesmos o
trabalho não seria possível.
5
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo central verificar a atuação dos representantes da Igreja Católica de Conceição do Coité, como espaço de poder contestatório e de força de mobilização social em oposição à política clientelista presente em Conceição do Coité, cuja atuação acentua no período entre 1989 e 1996. Período da chegada do padre Luiz Rodrigues Oliveira, que por adotar uma postura de contestação, de denúncia das irregularidades da administração municipal foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes políticos locais. A atuação desses membros católicos foram peças centrais para a alteração das relações políticas, proporcionaram mudanças a nível político e social, formando uma nova concepção da política no meio dessa comunidade. Para entender essa atuação consultei o arquivo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, as Atas da Câmara Municipal, os jornais Tribuna Coiteense, Coiteense, O Mensageiro e entrevistei os principais envolvidos nesses conflitos. Dialogo com diversos autores que se dedicaram pesquisar essa atuação política da Igreja Católica, tendo como referência Michael Lowy. Inicialmente, discuto o cenário político e religioso de Conceição do Coité antes da chegada de padre Luiz Rodrigues, época dos “Bons Tempos”. Em seguida, trato das mudanças implementadas pelo padre Luiz na instituição religiosa e a sua atuação política na sociedade coiteense. E, finalmente, abordo os conflitos entre e padre e o poder político dominante, além de perceber as reações que a população e o grupo hegemônico local tiveram frente à ação de oposição assumida pela instituição religiosa local. PALAVRAS – CHAVES: Igreja Católica; Vaticano II; Política; Conflito; Pe.Luiz Rodrigues Oliveira; Conceição do Coité.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 7
CAPÍTULO I – “Bons Tempos” ............................................................................................ 13
CAPÍTULO II- “Um mundo uma revolução na minha cabeça” ............................................ 30
CAPÍTULO III – “O preço da independência” ..................................................................... 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 69
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 73
FONTES..................................................................................................................................76
7
INTRODUÇÃO
Durante a segunda metade do século XX, a Igreja Católica se aproximou da causa da
justiça social na defesa dos pobres e oprimidos. E sobre o desenvolvimento dessa perspectiva,
Thomas C. Bruneau e W. E. Hewitt, em Catholicism and Political Action in Brazil:
Limitations and Prospects, discutem que essa atitude perpassa por dois pensamentos distintos,
no qual, alguns pesquisadores dessa temática comentam que essa preocupação com a justiça
social nasceu diante da necessidade de preservar a sua posição hegemônica nessas regiões,
certo oportunismo institucional; já outros defendem essa postura, devido à participação das
classes mais baixas na reorientação da Igreja, empurrando-a na defesa dos interesses políticos
das mesmas.
Porém, os autores afirmam que ambos os pensamentos são falhos, apesar delas
refletirem sobre algumas influências bastante salientes da sociedade sobre a mudança da
Igreja. No entanto, negligenciam muitas dimensões centrais da mesma.
Concluem que essa perspectiva foi influenciada por um contexto mais amplo, no qual
tal postura foi incentivada pelas “tendências teológicas na Igreja universal”, que culminaram
com o Concílio Vaticano II1 (1962-1965) e na igreja regional na reunião do Conselho
Episcopal Latino-Americano (CELAM) - em Medellín (1968). Esses autores destacam como
principal veículo dessa mudança da posição da Igreja no Brasil as ações da CNBB, que
comandada por um clero progressistas promoveu no cenário brasileiro programas sociais de
implicações políticas, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), e a Comissão
Pastoral da Terra (CPT); a promoção das CEB’s e sua opção preferencial pelos pobres.
Caminhando na mesma linha de interpretações, Michael Lowy, em Marxismo e
Teologia da Libertação apresenta o engajamento de cristãos da Igreja Latino-Americana aos
ideais marxistas, no que se refere na luta de classes, na opção pelos pobres e na luta por uma
sociedade mais justa e igualitária. Isso graças ao surgimento de um novo movimento dentro
da Igreja a Teologia da Libertação. Lowy, afirma que sem a prática desse cristianismo para a
libertação não se pode compreender fenômenos sociais e históricos tão importantes quanto à
escalada da revolução na América Central ou a emergência de um novo movimento operário
no Brasil.
1 O Vaticano II foi um concílio realizado na Igreja Católica, com os bispos de todo mundo e de alguns
representantes de outras denominadas religiões cristãs, desde 1962 a 1965 em diversas sessões na cidade do Vaticano, sendo convocado pelo papa João XIII e encerrado pelo papa Paulo VI.
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Segundo Lowy, o engajamento de setores da Igreja nessa participação popular, mesmo
daqueles que não são pobres, se deve muito a dimensão moral e espiritual que está ligada a
sua fé cristã e a tradição católica. Visto também, que ela é a principal motivadora de milhares
de militantes cristãos dos sindicatos, das associações de bairro, das comunidades de base e das
frentes revolucionárias. A partir dos anos 1960 na América Latina, se evidencia um processo
de radicalização por parte de alguns cristãos que descobrem no marxismo “uma chave para a
compreensão da realidade e um guia para a ação libertadora” 2.
Na visão de Dermi Azevedo em A Igreja Católica e seu papel político no Brasil, a
América Latina foi o primeiro continente a se mobilizar para a implementação das reformas
eclesiais aprovadas pelo Concilio Vaticano II, percebendo um, extraordinário foco de
contestação que se desdobrou em ações por diversos países. Evidenciando o envolvimento de
clérigos e leigos em vários movimentos sociais e participando da esfera política, todos
influenciados pela Doutrina Social da Igreja e pela Teologia da Libertação que pregava a
instauração de uma igreja a favor dos pobres.
No Brasil esse processo de mudança tem como marco a criação da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por Dom Hélder Câmara em 1952, pois ela nasce num
contexto de intensa transformação social, isto é, crescimento industrial, urbanização, êxodo
rural e secularização. “É em seu interior que a ‘igreja do povo’ é mais tarde institucionalizada.
“3 Sendo percebida através dos movimentos populares, pastorais sociais, conselhos de
pastorais e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) caracterizando essa atuação como
sendo um espaço de luta pela reconstrução das elações democráticas e na transformação das
relações sociais em busca de uma sociedade mais justa.
Roniere Ribeiro Amaral em O Milagre político: Catolicismo da Libertação realiza
uma investigação sobre o nascimento e estabelecimento desse novo modelo de catolicismo
presente no Brasil durante a segunda metade do século XX, percebendo a atuação de vários
movimentos católicos leigos de esquerda e da CNBB. Afirmando que essa mudança política
da Igreja, voltada para essa corrente libertária, não foi tão simples assim, apesar da mesma
estar sempre envolvida com a política, esse processo perpassa pela idéia messiânica,
burocratização da Igreja e relação entre laicato intelectual (estudantes e universitários) e
sacerdotes.
2 LOWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertação. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.(Coleção polêmicas do nosso tempo; v.39)Ibidem. p. 39. 3 AMARAL, Roniere Ribeiro. Milagre Político: Catolicismo da Libertação. UnB, Tese de Doutorado, 2006. Disponível em www.bdtd.bce.unb.br. (acesso em 10/09/2009)
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Nesta perspectiva o presente trabalho pretende seguindo as mudanças vivenciadas pela
Igreja Católica do Brasil propostas pelas as inovações do Concilio Vaticano II verificar as
relações estabelecidas entre os representantes da Igreja Católica de Conceição do Coité com a
administração pública municipal, no período entre 1989 a 1996. Como também, o processo de
conflito vivenciado pelas duas instituições durante a administração paroquial do padre Luiz
Rodrigues Oliveira que contribuiu para uma nova concepção nas relações políticas locais.
Com o título “Padroado no Sertão”: Negociação e conflito entre Igreja e poder
político em Conceição do Coité entre 1989 e 1996 faz-se necessário comentar um pouco a
respeito da utilização do termo Padroado nessa pesquisa, visto que esse regime instituído no
decorrer da história para representar a relação entre Igreja-Estado é suprimido com o Concílio
Vaticano II e que no Brasil foi extinto pelo Decreto 119A, de 7 de janeiro de 1890, o governo
republicano extinguiu o Padroado e separou a Igreja do Estado .
As origens desta instituição (Padroado) remontam à Ordem dos Templários e à Ordem
de Cristo. Fundada para proteger os peregrinos da Terra Santa, no período das Cruzadas, a
Ordem dos Templários tornou-se muito influente e poderosa, mas, por pressão do rei Filipe, o
Belo, da França, foi extinta pelo papa Clemente V, em 02 de maio de 1312 (bula Ad
providam). Sendo retomado num tratado entre a Igreja Católica e os Reinos Ibéricos através
de uma bula papal em 1551 que uniu perpetuamente a Coroa Portuguesa à Ordem de Cristo,
dessa forma, recebendo por meio desta, a Coroa o direito de interferir nos assuntos
eclesiásticos, trazendo benefícios para as duas instituições. Concedendo o direito de
autoridade da Coroa Portuguesa a Igreja Católica, nos territórios de domínio Lusitano. Esse
direito do Padroado consistiu na delegação de poderes ao Rei de Portugal, concedida pelos
papas, em forma de diversas bulas papais. A partir de então, no Reino Português, o Rei passou
a ser também o patrono e protetor da Igreja.
O rei mandava construir igrejas, nomeava os padres e os bispos, sendo estes depois
aprovados pelo Papa, também, tinham direito à cobrança e administração dos dízimos
eclesiásticos, isto é, a contribuição dos fiéis para a Igreja se transformava num imposto
religioso administrado pela Coroa. Em troca, a administração civil tinha a obrigação de zelar
pela construção, manutenção e restauração dos edifícios de culto, remunerar o clero e fazer o
que estava ao seu alcance para promover a expansão e consolidação da fé católica.
Em O Padroado e a Igreja no Rio Grande do Sul Português, Pe.Eduardo Pretto
Moesch discute de forma profunda o significado do termo Padroado e sua influência no
decorrer da história afirmando que Portugal diferente do padroado espanhol não foi fiel as
suas obrigações de assistência a Igreja o que resultou na vinda de religiosos para a América
10
Portuguesa, por exemplo os jesuítas, autorizados pelos português. Contudo, Portugal não via
com bons olhos a vinda de missões estrangeiras restringindo assim a tarefa missionária. E
para tentar manter sua influencia sob a instituição religiosa utilizou de diversos mecanismos
para impedir a propagação de missões evangelizadoras.
A fim de gerenciar todos estes “direitos e deveres” relativos ao Padroado régio, foi estabelecida, já em 1532, a Mesa de Consciência e Ordens, uma espécie de departamento religioso do Estado português, subordinada diretamente ao rei, informando-lhe sobre a situação das igrejas e capelas, hospitais, ordens religiosas,escolas, dioceses e paróquias, etc. Qualquer assunto religioso de alguma importância no Brasil devia passar pelo parecer jurídico da Mesa, como a provisão de cargos eclesiásticos e a atividade missionária. Desse modo, a influência de Roma na evangelização do Brasil se tornou praticamente nula, pois toda atividade eclesiástica era atentamente controlada pela Coroa, a ponto de jamais terem sido aceitos legados pontifícios em território brasileiro, chegando-se ao extremo, em 1629, de obrigar os bispos a fazer um juramento de fidelidade ao Padroado, o que incluía, entre outras coisas, a promessa de não manter relações diretas com Roma! Assim sendo, a própria Congregação para a Propagação da Fé (Propaganda Fide), fundada em 1622 para ser um centro missionário, com sede em Roma, encarregado de transformar as missões de um fenômeno de cunho marcadamente colonial para um movimento de prevalência espiritual e eclesiástica, em defender os missionários da interferência do poder político e formar um clero indígena, não teve maiores influências no Brasil durante a vigência do Padroado, impedindo um trabalho com maior autonomia e a presença de um número quiçá suficiente de operários. (MOESCH, 2007, p. 4).
Moesch em seu artigo discute também as conseqüências do Padroado para a Igreja do
Brasil no qual esse regime, acabou tornando-se, com o passar dos anos, um instrumento de
sujeição da Igreja. Servindo, em alguns momentos, de meio “da Coroa em arrancar riquezas e
firmar o domínio no além-mar, tornou-se uma ferramenta a mais nas mãos do rei para tal
intento”. Além, da limitação que o clero e os leigos estavam sendo submetidos ás restrições
adivinhas do poder civil. Esses primeiros enfrentaram a dificuldade de administrar paróquias,
pelo fato do Brasil durante cem anos permanece com uma única arquidiocese (Bahia)
contando com apenas seis dioceses. “Quanto os leigos a limitação do regime do Padroado à
ação dos bispos, padres e religiosos impediu, de uma parte, uma evangelização mais
aprofundada da população”. Todavia, conquistaram seus espaços em irmandades religiosas,
ordens terceiras,organização de rezas e procissões.
Isso fez com que o catolicismo na Terra de Santa Cruz se desenvolvesse com características próprias, bem distintas das igrejas européias, fortemente influenciadas pelo Concílio de Trento (1545-1563), onde eram enfatizadas a prática sacramental e a supervalorização do clero, em boa parte como decorrência da necessidade de se responder, no Velho Continente, ao desafio provocado pela Reforma Protestante, que, de modo geral, refutou a hierarquia eclesiástica e criou novas concepções sobre os sacramentos. (MOESCH, 2007, p. 6).
11
Dentro desse contexto a utilização do termo Padroado nesta pesquisa se debruça nas
relações que foram mantidas entre Igreja-Estado no que diz respeito nos momentos em que a
instituição religiosa esteve sujeita as ações do poder político, é claro que tal termo suscita no
decorrer da história diversas contradições e conflitos, principalmente na Igreja do Brasil.
Porém evidencia que por muito tempo a Coroa gozou do direito de interferir quando quisesse
no governo da Igreja, em que o rei tornou-se uma espécie de chefe religioso em tais domínios.
E essa interferência, guardando as devidas proporções, relembra a situação que a Igreja
particular de Conceição do Coité vivenciava antes de 1989, uma situação de subserviência
com o poder público local, dependia economicamente desse poder para se manter, por
exemplo, pagamentos de funcionários, custeio a reformas e despesas em geral.
Para realizar essa pesquisa as fontes que foram utilizadas são de várias procedências.
Todavia a que mais tive contato durante o decorre da investigação foi o Livro de Tombo da
Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, este contém registros sobre o histórico da
paróquia, a sua criação, as suas prioridades pastorais, os padres que a administraram, a ação
pastoral dos mesmos na comunidade, apresenta também, datas e acontecimentos referentes ao
próprio desenvolvimento da cidade, aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos, sem
falar das relações de poder que envolviam a instituição religiosa. Como também, os diversos
documentos presentes no arquivo paroquial, desde ofícios, correspondências até anotações
sobre os conflitos escritos pelo próprio padre Luiz Rodrigues, que permitem vários tipos de
análise e constituem, sob a ótica religiosa, ricos registros sobre a vida cotidiana.4
Além dessas fontes analisei, não menos importantes, mas que “clarearam” a trajetória
da pesquisa quando esta parecia um pouco “embasada” foram os Jornais Tribuna Coiteense,
Coiteense, O Mensageiro, A Tarde e Feira Hoje que possibilitaram a compreensão do cenário
político coiteense e a repercussão que tais acontecimentos tiveram dentro da região.
Foram consultadas, também as atas da câmara municipal, percebendo os discursos
proferidos por seus integrantes, com a finalidade de fundamentar a compreensão das reações
do poder público frente às ações da instituição religiosa. Analisados registros jurídicos
referentes aos processos que o padre Luiz teve que responder do fórum Durval da Silva da
Comarca de Conceição do Coité da década de 1990.
E a História Oral considerada um método riquíssimo para a História Recente, através
dos depoimentos orais de alguns leigos que compunham o conselho pastoral e administrativo
da referente paróquia durante o período estabelecido pela pesquisa e que foram importantes
4 SAMARA, Eni de Mesquita e TUPY, Ismênia S. Silveira T. História & documento e metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
12
testemunhas desses conflitos. Considerando que “um fato não é um ser, mas um cruzamento
de itinerários possíveis” 5 analisei tais discursos observando as ligações existentes entre eles e
por meio da memória coletiva construir uma possível verdade histórica acerca das relações
entre as forças política e religiosa.
Todas as fontes orais especificadas nessa pesquisa, através das inúmeras entrevistas,
forneceram elementos que puderam ter sido excluídos das fontes escritas e que serviram para
fazer emergir novos aspectos do objeto pesquisado. O trabalho com a História Oral seguiu as
instruções de Verena Albertini6, onde esta apresenta os relatos da memória como importante
espaço para análise, que precisa ser realizado com uma metodologia especifica, sendo
desenvolvido em etapas.
O trabalho está estruturado da seguinte maneira:
1. No CAPÍTULO I - “Bons Tempos” será reconstituído o cenário político e religioso
do município de Conceição do Coité antes da chegada de Pe. Luiz Rodrigues, e a
caracterização das relações que se mantinham entre a Paróquia Nossa Senhora da
Conceição e o grupo político dominante antes de serem rompidas em 1989.
2. No CAPÍTULO II - “Um mundo uma revolução na minha cabeça” serão
discutidos, uma pequena biografia do padre Luiz Rodrigues, no que diz respeito sobre
sua formação acadêmica e sacerdotal, pretendendo perceber a sua visão de mundo e
seus ideais sociais defendidos pelo mesmo; e as mudanças que o novo pároco, realizou
na instituição religiosa local, que levou-o a romper as relações com o grupo político
dominante, como também, perceber se as idéias da corrente libertária da Teologia da
Libertação influenciaram nesse processo de mudanças.
3. No CAPÍTULO III- “O preço da independência” serão relatados às reações que a
população coiteense teve frente a posição política adotado pelo padre Luiz Rodrigues
e de alguns leigos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, ainda mais, a
cerca de como o poder político dominante agiu devido a essa ação de oposição
assumida pela instituição religiosa frente a sua administração municipal.
5 VEYNE, Paul. Apenas uma narrativa verídica. In:___Como se escreve a historia: Folcault revoluciona a história. 4 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998. 6 ALBERTI, Verena. Histórias dentro da História. In: PINSSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. 2ed. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
13
CAPÍTULO I
“Bons tempos”
“Lembro-me distante, e quase em remotos tempos de infância quando
éramos levados pelos nossos pais à igreja para assistirmos à missa.
Antes do começo da celebração, tudo no interior do templo era respeito,
fé, orações e silêncio absoluto entre os fiéis que às vezes eram
quebrados pelos vôos gorjeios das andorinhas que em nossas mentes
seriam os anjos dos céus, em forma de pássaros e estavam ali as
imagens de Cristo crucificado e Nossa Senhora da Conceição (...). Na
época podia-se observar as ruas completamente desertas estavam pois
todos ali, na igreja ao coreto, a praça em si completamente lotada de
cristãos, com um único objetivo: com os pensamentos contritos à Deus
e em Nossa Senhora da Conceição. (...). Como era belo, como era
bonito toda a população unida à igreja num só pensamento. Na crença,
na fé e na paz.” (Jornal Coiteense nº 14, Conceição do Coité, 24 de janeiro de
1997.p. 4).
14
A Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, no ano de 2005, completou 150
anos de elevação da antiga capela para a categoria de Freguesia no dia 09 de maio de 1855.
Desmembrando-se da Freguesia Nossa Senhora da Conceição de Riachão do Jacuípe e
pertencendo a Vila de Feira de Santana, esta que no início do século XX tornou-se capital
regional do Estado da Bahia.7
A capela construída na Fazenda Coité tornou-se símbolo e marco de desenvolvimento
do arraial nessas terras sertanejas.
A notícia que se tem em relação à construção da capela é de que a mesma teria sido iniciada provavelmente, por volta de 1756, em terras ofertadas pelo benemérito João Benevides, sendo doado ‘cem metros ao redor da igreja’, conforme diz a tradição. (OLIVEIRA, 2002, p. 7)
O aparecimento da Fazenda Coité, como de tantas outras situadas na região do “Sertão
dos Tócos” se deve pela presença de inúmeros tropeiros que com suas boiadas desenvolveram
diversas estradas e propiciaram o aparecimento dessas fazendas que serviam de local para o
descanso desses “aventureiros” do sertão.
O antigo território de Conceição do Coité situava nos trajetos que interligavam
Salvador ao alto Sertão do São Francisco e o Estado do Piauí. Mas além de servir de
passagem para inúmeras boiadas, saciava a sede dessas excussões pelo sertão devido à
nascente de água cristalina denominada de “Tanque de Coité”, popularmente conhecida como
“Olhos d’água”. Essa nascente propiciou a fixação de diversos tropeiros aqui nessas terras,
pois além de saciá-los com suas boiadas, despertavam o interesse de fixarem moradia nas suas
proximidades, visto que a seca do sertão acabava matando seus animais. O “Tanque de Coité”
aparece no roteiro que Joaquin Quaresma Delgado fez sobre as estradas da Bahia em 1731.8 E
nas viagens dos ingleses Von Spix e Von Martius.
O município de Conceição de Coité desde sua origem tem grande devoção pela
Imaculada Conceição, esta que é a padroeira da cidade. A religiosidade popular considera que
o nome da cidade se deve pelo fato desta ter aparecido nas proximidades da fazenda em cima
de um pé de coité, dessa forma “Conceição” referindo-se a santa e “Coité” ao fruto da
cuitezeira. Sendo que a festa tradicional em devoção a Santa foi oficializada no dia 08 de
dezembro de 1882, através do padre Madureira, e que se tornou uma das mais populares festas
da cidade. Mas porque a necessidade de relatar esse feito, visto que o trabalho proposto não 7 RESENDE, Lívia Paola. As novas concepções do clero feirense diante das novas inovações do Vaticano II (1964-1980). Feira de Santana, 2008 . Monografia de Graduação em História. Universidade Estadual de Feira de Santana. p.15. 8 BARRETO, Orlando Matos.
15
tem a finalidade de descrever tal festa. Porém, a importância está em perceber as relações
sociais que se constituíram ao redor desses espaços promovidos pela Igreja e que tiveram e
tem grande papel dentro da sociedade coiteense, não que esse seja um feito somente de Coité,
mas é importante perceber essas relações entre as principais instituições do município e que
estabelecem uma relação de poder.
Aline Coutrot, em Religião e política analisa que durante muito tempo as ligações
íntimas entre religião e política foram desprezadas pela história do político. A autora afirma
que forças religiosas são levadas em consideração como um fator de explicação política em
numerosos domínios e que as mesmas fazem parte do tecido político, no qual, o religioso
informa em grande medida o político, e também o político estrutura o religioso.
A festa dedicada à padroeira nos relatos dos documentos analisados no Livro de
Tombo da paróquia demonstra que os festejos à Imaculada Conceição iniciavam com a
novena no dia 29 de novembro e sempre era realizada de forma brilhante pela sociedade
coiteense, essa que no dia 08 de dezembro expressava toda a sua devoção pela santa. Pela
manhã realizava-se a alvorada de fogos acompanhada pelos badalos do sino da matriz, e
aconteciam diversas missas durante a parte da manhã encerrando a festa a tarde com a
procissão pelas ruas da cidade no qual percorria a imagem da padroeira erguida pelos fiéis. A
festa contava com a participação de autoridades políticas e do clero da região, toda a cidade
enfeitava-se para celebrar esta data considerada “Magna” pelos coiteenses.
Levamos a efeito com extraordinária pompa a nossa festa. Fôram os seguintes os atos: Recepção da Filarmônica de Serrinha, com grande caravana de pessôas distintas daquela visinha cidade, notando-se Illmo. Sr. Prefeito e o Dr. André Negreiros. Discurso de recepção pelo Sr. Genesio Bôaventura; Recepção do Exmo. Arcebispo Primás com o discurso do Provisionado Durval Pinto. Anoite com a presença Exma Revdmo e com um sermão do Revdmo Sr. Cjo secretário do Arcebispado Eliseu Mendes celebrou-se a última novena preparatória. Pela manhã do dia 08 a missa do Exmo. Sr. Arcebispo e foi a de primeira comunhão de crianças, duzentas e tantas que executaram os cânticos da Missa. As 10h entrou a missa com a Assistência Pontificial e Acolita pelos sacerdotes (...). À tarde o Exma e Revdmo Sr. Arcebispo Primás distribuiu o sacramento da Confissão a setecentas pessoas. Seguiu-se a procissão de encerramento com prática pelo Vigário e benção do SS. Sacramento. (...). Para o brilhantismo desta festa, atendendo à missão, em tudo cooperaram IImo Sr. Prefeito e outras autoridades locais. O magnífico resultado de tudo deve-se ao esforço da Comissão, tendo à frente o Cel. Wercelêncio da Mota, D. Presidente, que distintamente hospedou o Exmo Sr. Arcebispo e outros membros visitantes. O tesoureiro das Festividades pode apresentar à comissão o seu trabalho bem controlado ao ponto de nada ter faltado ocorrer às despesas que atingiram ao total de oito contos de reis. A todos esses, o povo em geral e áqueles que aqui não foram citados mas merecem uma menção especial, fica neste livro do Tombo o agradecimento do Vigário. Tudo para maior Glória da Virgem SS. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição p. 31.)
16
É interessante notar que esse movimento religioso adquire uma grande importância
para a população coiteense, envolvendo todos, desde simples participantes das celebrações até
ilustres autoridades políticas. Compreendendo assim outra dimensão da festa, a política, pois
seus benfeitores ganham prestígio e conseguem que as posições que assumem sejam
reforçadas ou até mesmo elevadas perante a sociedade. Aproveitando-se dessa realidade
muitos políticos da cidade tornavam-se presidentes da festa, participavam da comissão
organizadora, ajudavam financeiramente e assim conseguiam conquistar prestígio perante os
outros. Como é evidenciado no relato acima em que o presidente da festa o Sr. Wercelêncio
da Mota era um dos grandes líderes políticos do município. Estabelecendo-se, dessa forma
uma negociação entre as duas instituições.
Como exemplo dessa relação pode-se citar o relato do vigário paroquial padre Luiz
Bellepede em 08 de dezembro de 1970, na qual o novenário da festa foi realizado de forma
simples, sem a presença do bispo e com pouca participação dos fiéis devido à trágica morte do
prefeito, Dr. Pinheiro, que ganhou as eleições segundo o padre devido os serviços prestados a
comunidade. E encerra o relato apresentando o presidente da festa o Sr. Misael Ferreira que
na mesma década era vereador e pleiteava o cargo para ser sucessor de Dr. Pinheiro.
Mas é claro que essa relação não acontecia somente nas festas da padroeira, mas
reflete bem como eram estabelecidos os laços entre igreja e política em Conceição do Coité
antes de 1989, acontecia também outras práticas que evidenciam essa relação. Ao analisar os
documentos do Livro de Tombo pertencente à paróquia, precisamente nos relatos da década
de 70 percebe-se que aconteciam inúmeras relações entre os administradores municipais com
a instituição religiosa desde as missas em ação de graças à posse dos prefeitos e outras
autoridades políticas do município, como também do treinamento dos professores municipais
realizados pela paróquia. Além disso, apresentam vários relatos a respeito de visitas do
governador do Estado e de sua comitiva à cidade, que era acolhida pelo prefeito e geralmente
almoçavam com representantes religiosos que estavam presentes na casa do prefeito. Percebe-
se no relato abaixo que o pároco ao descrever a visita do governador, anuncia o futuro
governador da Bahia que era apoiado pelo então governador Luis Viana.
A visita do Sr. Governador Luis Viana Filho a Coité para a inauguração de obras da prefeitura. Fazia parte também de sua comitiva o futuro governador Antonio Carlos Magalhães e outros ilustres deputados. Às 13 horas a filarmônica seguida do povo se movimentava para encontrar os visitantes que vieram de Riachão. Junto ao cemitério o Sr. Prefeito, a câmara de vereadores e outras personalidades, com o Vigário e o seminarista, o povo atendia a chegada do ilustre chefe executivo da Bahia. Depois foram as salvas de palmas e foguetes acolhiam os ilustres hóspedes. O almoço foi na casa do prefeito que durou até ás 15:30horas. Todos se dirigiram para a inauguração (...). Depois da benção dada pelo vigário se foi para a tribuna onde falaram vários
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deputados enfim o futuro governador Antonio Carlos Magalhães. O Sr. Governador com sua comitiva se foram para Salvador. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité, p. 75).
Parece insignificante essa mediação entre religião e política, mas ela ganha grande
conotação, pois como afirma Coutrot essa relação reside no fato de que as Igrejas são corpos
sociais e como tais, difundem um ensinamento que não se limita às ciências do sagrado, mas
tudo aquilo que cerca a vida do homem, sendo que a crença cristã se exprime no seio de um
regime leigo e de uma sociedade secularizada e descristianizada
No contexto da sociedade coiteense essa mediação apresentada por Coutrot ganha
grande destaque no cenário religioso dessa época, no que diz respeito aos seus dirigentes.
Evidenciando a presença de inúmeros padres que participaram efetivamente nos assuntos
políticos, que para muitos não tem nada haver com o religioso, desde a simples
“reprodutores” do poder dominante local ou pleiteando algum cargo político.
Essa participação política dos membros católicos do município de Conceição do Coité,
Vanilson Oliveira constata que essa participação fica evidente ao longo da história política do
município, apresentando essa atuação em seu livro Conceição do Coité e os Sertões dos
Tocos.
O padre Francisco de Souza Madureira é um deles. Assim que chegou em 1869, vindo da Vila de Jerquiriçal (BA), fez bastante amizade com os paroquianos tornando-se: conselheiro municipal (vereador), intendente (prefeito). Outro padre que despontou na política estadual foi Urbano Galrão Dhon, soteropolitano, descendente de italiano. Chegou em 1937 e tratou logo de fazer boas amizades, principalmente com o Wercelêncio Mota, ‘velha rapousa’ da política coiteense, rendendo-lhe bons frutos. (OLIVEIRA, 2002, p. 90).
Sobre essa candidatura do padre Urbano Galdão Dhon, Vanilson Oliveira, comenta
que o mesmo se lança candidato a deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático)
nas eleições gerais da Bahia em 1954, mas teve que enfrentar a postura negativa da Diocese e
do Vaticano para autorizá-lo a pleitear esse cargo público no legislativo, mas apesar disso ele
continuou no pleito e conseguiu ser eleito pela população coiteense, essa que, segundo ele
realizou várias manifestações a favor da sua candidatura.
A prova da simpatia do povo à causa foi atestada na votação no partido majoritário, apesar do vigário nunca ter feito um comício pela sua candidatura, nem nunca ter feito, em qualquer Templo ou ato religioso a menor referencia ao assunto. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.51).
Porém mesmo tendo ganhado a eleição ele continuou seus trabalhos pastorais na
comunidade, vivenciava a ameaça de suspensão da sua ordem e afastamento da Igreja se
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assumisse o cargo de deputado. E assim aconteceu, após sua ida para a capital a pedido do
governador eleito, Antônio Balbino, para tomar posse do cargo, pois o mesmo havia
conseguido a autorização com o Arcebispo da Bahia, D. Augusto Álvaro Cardeal da
Silva,para que ele pudesse assumir o cargo na Assembleia Legislativa da Bahia, Todavia
durante a Semana Santa do ano de 1955 recebeu sua suspensão e soube da nomeação do
vigário que iria lhe substituir, o padre João Gomes. Ao saber da notícia o padre Urbano logo
providenciou os mecanismos para transferência da paróquia, questão das dívidas, livros de
registros, passando para as mãos de paroquianos de sua confiança e sobre protesto aceita tal
decisão da Igreja.
Urbano, imediatamente, envia vários telegramas ao Cardeal da Silva e não obtém respostas. Desiludido, entrega a paróquia sob forte protesto e passa a morar em Salvador, vindo nos fins de semana a Coité, rever os paroquianos e auxiliar os padres nas missas. Cumpre o seu mandato até o fim. Na eleição seguinte, candidata-se a deputado federal, não obtendo êxito. Desiludido, abandona a política partidária; casa-se com uma baiana e vai morar no Rio de Janeiro e falece por lá. (OLIVEIRA, 2002, p. 90).
Outro padre que teve envolvimento com a política partidária foi o padre Antonio
Tarashi, mas diferente do Pe. Urbano que se lançou a candidato, Tarashi se desentende com
Evódio Resedá, membro do PR (Partido Republicano) e que disputou a prefeitura em 1963,
no ano em que Tarashi chegou à cidade e fez o seguinte comentário em 1965.
Desde a minha chegada nessa freguesia, notei que o povo esta dividido em dois partidos: o PR , a maioria desse partido constitui o povo mau da cidade, inclusive os marçons pertencem a esse partido, e o PSD que representa o povo bêm dessa cidade. O PR, povo sagais , se apodera dos pontos chaves da cidade como: ginásio, correio, clube, cooperativa, delegacia de policia, da companhia telefônica e etc. para torna-los instrumentos políticos, mas nunca conseguiu ganhar a Prefeitura, apesar que luta com todos os meios, inclusive a violência durante a política, a mais de trinta anos. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 68)
O padre Antonio Tarashi ensinava no colégio Wercelêncio Calixto Mota, e se tornou
diretor provisório, substituindo o diretor que estava em lua de mel. E ao saber que a
professora Maria Mota havia fugido com um fotografo já casado na Igreja e ao seu retorno
para o município estava casado com o mesmo no civil, o padre e alguns professores
solicitaram ao senhor Evódio Resedá que era presidente local da Companhia Nacional de
Educação Comunitária (CENEC) demitisse a mesma, o que não aconteceu. Diante disso, o
padre e outros clérigos que ensinavam na mesma escola, juntamente com diretor o advogado
Antonio Paraguassu e quatro professoras pedem demissão de seus cargos. E o padre cria outro
colégio denominado Santa Teresinha.
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Os alunos do ginásio fizeram greve e passeatas pelas ruas da cidade, com faixas, pedido a volta, dos padres no ginásio, o povo em geral queria o afastamento da funcionária Maria Mota e a volta dos padres ao ginásio mas os chefes do PR reunidos queriam a saída do vigário da freguesia, achando que eu pudesse, na política ir contra eles, o PR. (Livro de Tombo da Paroquia Nossa Senhora da Conceição, p. 68)
Mas além desse episódio, o padre Tarashi relata no Livro de Tombo que fora
processado pelos membros do PR, em 1966, por rapto de crianças, segundo o vigário, por
motivo de vingança, queriam “desmoralizar o padre e expulsá-lo da cidade”, o povo ao saber
do processo se revoltou contra os envolvidos que ao perceberem a atitude da população
abandonaram o processo.
Oliveira, retrata que essa participação política desses padres estava marcada pelo
cenário da política do município que era comandada pelas “oligarquias locais, lideradas por
Wercelêncio Mota e Eustórgio Resedá”9, na qual revezavam no poder na indicação de
qualquer candidato “independente do partido, ou do índice de rejeição, para que a pessoa
fosse eleita”10. Assim como afirma Leal, em Coronelismo, enxada e voto, a política local no
Brasil, foi sempre primordialmente poder privado e não-democrático, poder dos potentados
locais, na qual quem o assegurava eram as classes dominantes, que tornava afirmador dos
privilégios e interesses coletivos das elites.
Segundo René Dreifuss logo após o Brasil se tornar República, a política local ainda
continuava sendo uma “coisa privada” em que as elites dirigentes tanto nos centros urbanos
ou vilarejos absorveram os elementos políticos e econômicos da estrutura anterior.
A administração regional e nacional tornou-se patrimônio de setores econômicos, profissionais, político-partidários e militares, todos eles pertencentes a este particular e excludente clube civil dominante que se coloca como ordenadora do estado de coisas e como dirigente das coisas públicas. (DREIFUSS, 1989, p.15).
Dessa forma, a relação que essas classes dominantes estabelecem com as camadas
subordinadas se manifestou dentro dessa política local sob a visão de clientela, as classes
subalternas não se viram “representadas sob o arcabouço institucional político e normativo
plural da sociedade ampla, mas foram reunidas retoricamente na base da manipulação” que
indica uma relação que envolvem consentimento de benefícios públicos, como empregos,
benefícios sociais em troca de apoio político, especialmente o voto.
9. OLIVEIRA. Vanilson Lopes. Conceição do Coité: Os sertões dos Tocos. Conceição do Coité: Clip Serviços Gráficos, 2002.p. 76 10 Ibidem. p. 76
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Em Conceição do Coité, como afirma Oliveira esse clientelismo era feito
disfarçadamente pela política dos coronéis: João Amâncio, Wercelêncio, Eustórgio Resedá e
muitos outros, e, também pelo comerciante Teócrito Calixto “que doava uma gravata, um
sapato, ou uma meia, para quem voltasse nele”. Sendo que esse clientelismo e
assistencialismo se deliberaram a partir dos anos 70, em que, muitos políticos para conseguir
seus objetivos saiam prestando assistência social à população.
Francisco de Assis Alves dos Santos em Na mira dos coronéis, analisa o cenário
político de Conceição do Coité nas últimas décadas do século XX, retratando os discursos e
os atos de chefes políticos locais, grandes empresários do sisal, Hamilton Rios de Araújo
(Mitinho) e Misael Ferreira que iniciaram ambos suas carreiras políticas pela ARENA em
1972, com características do velho coronelismo. Destacando a ação de Hamilton Rios grande
líder do grupo político dominante e por fazer inúmeros herdeiros políticos. Como também, o
seu sobrinho Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho) - PFL/PPB.
Hamilton Rios governou Conceição do Coité durante dez anos, seu sobrinho, Ewerton Rios, ficou no poder a oito anos (atualmente cumpre seu terceiro mandato – grifo meu), e agora seu filho Welington (Tom), ao completar a maioridade foi designado candidato a prefeito para as eleições de 2000. Isso ilustra perfeitamente uma monarquia absoluta. (SANTOS, 2002, p. 34).
E este domínio de Hamilton Rios não se resumia apenas às questões administrativas
do executivo e legislativo, mas se estendia a outros campos da vida da população como as
instâncias religiosas e a própria influência no imaginário das pessoas que ainda mantinham
uma relação de interdependência com os políticos.
A igreja local muitas vezes acentuava essa condição dos dominados, na medida em
que a mesma se relacionava nesse círculo de clientela com esses poderes políticos, e quando
recebia donativos sejam financeiros ou materiais dos mesmos, o que a colocava numa posição
de subserviência e não de contestação, visto que a mesma reproduzia e ampliava tais práticas.
É preciso destacar que essa intervenção religiosa na política aqui pesquisada tem como peças
centrais as autoridades religiosas que como afirma Coutrot têm uma grande influência
política, sendo que a influência especifica dos fieis não é tão fácil de perceber.
Vale ressaltar que na década de 60 a Igreja Católica vivenciou um novo paradigma sob
influência do Concílio Vaticano II que provocou grandes transformações no seio da Igreja,
tanto no campo conceitual e teológico, mas acima de tudo, na maneira de evangelizar. Foi
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através desse Concílio convocado pelo papa João XXIII11, iniciado em 08/11/1962, que
introduziu dentro do seio da instituição uma abertura para as questões sociais vigentes na
sociedade que ela está inserida.
A convocação desse Concílio promovida por João XXIII segue dentro de profundos
acontecimentos mundiais. O mundo vivia sob a realidade do pós-II Guerra Mundial e estava
marcado pela Guerra Fria, neste contexto a América Latina estava situada, numa série de
instalação de regimes militares que cometiam diversas atrocidades a grupos sociais - inclusive
a própria Igreja latino-americana - que fizessem resistência à ideologia estabelecida pelo
sistema.
João XXIII averiguando essa realidade de conflitos declara na “Humanae Salutis”12
A Igreja assiste, hoje, à grave crise da sociedade. Enquanto para a humanidade surge uma era nova, obrigações de uma gravidade e amplitude imensas pesam sobre a Igreja como nas épocas mais trágicas da sua história [...] E daí a elaboração da sua doutrina social referente a família, a escola, ao trabalho, a sociedade civil e a todos os problemas conexos, que elevam a um altíssimo prestígio o seu magistério como a voz mais autorizada, interprete e propugnadora da ordem moral, reinvindicadora dos direitos e dos deveres de todos os seres humanos e de todas as comunidades políticas (JOÃO XXIII, 1961)
Os documentos elaborados durante o Concílio Ecumênico Vaticano II analisam as
profundas transformações ocorridas nessas décadas e revela que há um aumento na
consciência em favor das minorias, como também, condenam os regimes governamentais que
utilizam do exercício da autoridade em benefício de seus próprios interesses ameaçando o
bem comum13. Frei Betto argumenta que o Concílio Ecumênico Vaticano II e a Conferência
Episcopal de Medellín14 foram os prenúncios de uma Igreja convertida às suas origens,
enfatizando que na América Latina, a religião cristã não seria mais o “ópio do povo e o ócio
da burguesia. Seria, sim, sinal de contradição, pedra de escândalo, fogo que queima e alumia
espada que divide” 15.
No Brasil a ação política da Igreja Católica se acentua durante a década de 60, pois
apesar da repressão militar contra forças opositoras ao regime a instituição teve voz ativa no
11 Seu nome de batismo foi Angelo Giuseppe, natural da Itália, assumiu o pontificado em 1958 tendo fim em 1963 devido a sua morte. 12 CF. JOÃO XXIII. Humane Salutis, carta apostólica de convocação ao Concílio Ecumênico Vaticano II, 25 de dezembro/1961. 13 Ver o Catecismo da Igreja Católica. Capitulo IV. 14 Foi uma reunião que congregou todos os bispos dos países latino-americanos e do Caribe, que aconteceu na Colômbia com o propósito de acolher as orientações do Concilio Vaticano II inserindo-as de maneira prática na dinâmica própria do continente. 15 CF. BETTO, Frei. Batismo de sangue: os dominicanos e a morte de Carlos Marighella. 10 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 61.
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período. Frei Betto, aponta que diversos sacerdotes e intelectuais marxistas se aliavam na luta
a favor dos menos favorecidos e contra a repressão que o regime realizava nos movimentos
populares denominados por eles de comunistas. Nesse período verifica-se segundo Lowy, a
atuação de vários cristãos em movimentos sociais, tais como associações, sindicatos, partidos
políticos, movimentos estudantis e organizações revolucionárias, como também nas
comunidades eclesiais de base (CEB’s) ações que vieram a se desenvolver com legitimidade a
partir da Teologia da Libertação em 1971.
Gustavo Gutierrez, no livro Teologia da Libertação chama a atenção para a nova
postura que a Igreja Católica da América Latina adotou principalmente após o Concilio
Ecumênico Vaticano II e a Conferência de Medellín onde a Igreja “percebe com realismo o
mundo e vê-se a si mesma com maior lucidez”. Onde esta se apresenta como observadora das
desigualdades e disposta a acabar ou suavizar os conflitos mundiais. O autor faz referência à
citação de Thomas G. Sanders onde aponta a Igreja como sendo a instituição que mais está
mudando na América Latina, contudo Gutierrez salienta que a Igreja apresenta-se dividida em
relação ao que ele chama de “processo de libertação”.
Em Conceição do Coité essas novas concepções adotadas pela Igreja Católica, não
teve grande repercussão de imediato, visto que não se tem registros dessa ação política
promovida pela Igreja. Os párocos que administravam a paróquia nesse período não fizeram
nenhuma referência, especificamente no Livro de Tombo, acerca do Vaticano II nem da ação
política dos clérigos frente à ação dos militares. Quem registra timidamente essa nova
concepção política da Igreja Católica no município foi o jornal Tribuna Coiteense retratando a
Teologia da Libertação e a opção preferencial da Igreja pelos pobres proclamada na
Conferencia de Medelín.
Os bispos latino-americanos reunidos no México disseram que esta pobreza não é uma etapa casual, mas o produto de determinadas ‘situações e estruturas’. Segundo os valores evangélicos, a divisão entre ricos e pobres não é querida por Deus. Ele quer irmãos e irmãs que vivam relações justas e igualitárias. Por isso, precisamos mudar a sociedade. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2).
Porém, na sede da Diocese a qual a Paróquia de Conceição do Coité estava inserida,
em Feira de Santana, as propostas do Vaticano II foram bem mais percebidas devido à ação de
alguns clérigos e leigos, apesar de ter enfrentado alguns setores da mesma instituição, como
relata Lívia Resende em seu trabalho As novas concepções do clero feirense diante das
inovações do Vaticano II (1964-1980), a autora destaca que essas novas concepções dentro da
Igreja de Feira de Santana, foram trazidas principalmente pelos padres estrangeiros que
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viviam na cidade na época em estudo, muitos deles espanhóis, e possuía um discurso mais
popular, uma postura de ajudar as comunidades a defender e reivindicar os seus direitos.
Influenciados pela corrente teológica libertária difundiam essas concepções junto ao povo, e
ao mesmo tempo criavam espaços para o protagonismo dos leigos, idéias defendidas pelo
Concílio Vaticano II.
Mas apesar dessa atuação, Resende, deixa claro que muitos padres sofreram
retaliações por parte de setores da sociedade que os consideravam comunistas ou até mesmo
de setores mais conservadores da hierarquia religiosa de Feira, que não aceitavam ou não se
adaptaram as tais concepções. Como exemplo, cita a atuação do padre Albertino Carneiro, um
importante organizador e militante dessas novas tendências da Igreja Católica, e registra um
comentário seu a respeito dessa ação conservadora do clero da diocese de Feira de Santana.
Para o padre Albertino Carneiro, o Concílio o influenciou muito e também, a outros padres, um deles foi expulso, do Brasil, o padre José (ele não se lembrou do sobrenome), que era italiano e depois transferido para o Ceará por que achavam que o bispo daqui não dava muita cobertura para a renovação, chegou lá depois de cinco anos, ele foi para a comunidade, e quando voltou para Feira de Santana não o deixaram ficar. (RESENDE, 2008, p.31).
Resende destaca também que além da participação de padres nesse processo, muitos
leigos estavam presentes e divulgavam dentro da igreja essas novas concepções.
Principalmente influenciados pela Teologia da Libertação e pela ação de inúmeros católicos
que estavam atuando contra o regime militar instaurado no Brasil na década de 60,
percebendo que em Feira de Santana, esses membros possuíam um histórico de envolvimento
com os movimentos sociais, muitos deles professores e que tinham uma profunda participação
na vida da comunidade religiosa. Esses leigos, segundo Resende, estavam sempre apoiando de
uma forma ou de outra a luta contra o sistema capitalista de exclusão social, e a todo instante
estavam participando dos movimentos sociais católicos que surgiram no país nesse período, e
especificamente em Feira de Santana colaboraram juntamente com alguns padres para a
criação do Movimento de Organização Comunitária (MOC), sendo que seu fundador foi o
padre Albertino Carneiro, e das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), sempre tendo como
base teórica desses movimentos a Teologia da Libertação e os documentos do Vaticano II.
Entretanto em Conceição do Coité essas novas concepções que estavam sendo
vivenciadas pelo clero de Feira de Santana, não foram plenamente vivenciadas no município,
visto que a administração paroquial antes de 1989 ainda assumia uma postura de
subserviência com o poder local. Durante a administração paroquial de padre José Reis, que
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assumiu a paróquia no dia 13 de dezembro do ano de 1973, a prefeitura mantinha uma ligação
com a paróquia no que diz respeito às questões financeiras, como por exemplo, através de
pagamentos dos funcionários paroquiais. Em troca, numa relação de reciprocidade, o prefeito
e seus familiares possuíam algumas regalias na instituição religiosa.
Até junho de 1989, a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité passava por momentos conturbados, que iam da fantasia, da necessidade de “aparecer”, do muito realizar sem objetivos concretos, até o comprometimento com grupos políticos que impuseram uma dependência estrutural, funcional e financeira, passando a Prefeitura Municipal a custear quase todos os encargos que acreditamos ser da responsabilidade da administração paroquial. Funcionárias da Secretária Paroquial, doméstica, luz, água e outras despesas passaram a fazer parte do passivo do poder público Municipal. Até aquela data, nunca tomamos conhecimento de balancetes que justificassem receitas e despesas de nossa paróquia. Até mesmo um automóvel que a paróquia possuía, não se sabe que fim levou ... existia a paróquia subserviente a um grupo político, que por não encontrarem o mesmo espaço com Pe. Luiz Rodrigues de Oliveira, desencadearam uma campanha de difamação: calúnias e falsos testemunhos diante da hierarquia diocesana. (Carta do Conselho Paroquial em 23 de março de 1996).
Segundo o depoimento oral de um dos leigos atuante na época em estudo, o Sr. Nilson
Silva Carneiro, popularmente conhecido como o Sr. Nilson, foi um dos responsáveis pela
criação das comunidades eclesiais na zona rural e atualmente com 60 anos de idade é
funcionário da paróquia. Mas nesse período do estudo era apenas um autônomo, sendo
convidado pelo padre José Reis a dinamizar a paróquia auxiliando as comunidades da zona
rural. Afirma que na época que o padre Reis chegou a Coité a paróquia era muito precária, as
condições da casa paroquial eram horríveis e que o mesmo enfrentou muita resistência de
alguns paroquianos pela saída do antigo padre, Nicola, chegando ao ponto de algumas pessoas
retirarem toda a comida da casa paroquial.
Sr. Nilson comenta que nesse período quem sustentava a paróquia era a prefeitura,
pois ela mesma não reunia condições de uma auto-sustentação, o padre até tentou criar o
dizimo, mas poucas pessoas tornaram-se dizimistas. A secretária paroquial era uma
funcionária da prefeitura, as reformas da casa paroquial, conta de luz, água em geral todas as
despesas era a administração local que sustentava.
Quando o prefeito era eleito, o prefeito porque ajudava muito a paróquia, contribuía com alguma coisa, mandava e ele ficava sem vez, em me lembro que uma certa vez tinha um curso de pais e padrinhos (...) e diversas pessoas que participavam do grupo político era isentas não precisava tomar o curso de pais e padrinhos onde umas pessoas criticavam o padre Reis e falava que não gostava dessas atitudes. E ai continuou quando, por exemplo, quando tomavam posse a igreja era enfeitada de flores, de faixas, de ‘vermelhou’ de grupo tal e ele fazia com toda a felicidade como que nem tava se lixando pras pessoas que não gostavam de tais atitudes, né, mas tinha um grupo que se afastava que não gostava disso que era católico que acompanhava todos os movimentos da igreja, mas que nesses momentos não participava,a gente
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ficava de fora. Por exemplo teve uma época que teve uma procissão do senhor morto que o povo desfilava e que depois ele veio mudar, que criou uma antipatia na comunidade, os próprios grupos dele, o próprio grupo do prefeito achou ruim começou a falar, mas foi tirado também essa procissão do senhor morto (...) e o prefeito na época quando chegava pra participar, ele parava o evento e mandava o povo ter a atenção parabenizando a chegada do tal prefeito que tava chegando. Essas coisas assim, deixava a gente meio triste, mas a gente continuava com o trabalho, por exemplo eu, Arivaldo e outras pessoas que sempre a gente aderia a essa linha da libertação a gente queria o bem pra todos e a gente percebia que a carência na zona rural e nas periferias era demais, era fome, era desemprego, e aí, as pessoas que eram paparicadas por eles tinham benefícios, mas quem não era ligado passava dificuldades não tinha escola, não tinha nada. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set. 2009).
Apesar, dessa dependência “estrutural, funcional e financeira” que a paróquia
vivenciava com a administração municipal, evidencia-se nos documentos pertencentes ao
arquivo paroquial que durante a administração do Pe. José Reis foram realizadas algumas
mudanças que dinamizaram a comunidade religiosa. Tais como a formação dos leigos,
despertando a descoberta de novas lideranças para a ação pastoral, estruturação de pastorais
importantes para a paróquia, como também, iniciou a formação das Comunidades Eclesiais de
Base (CEB`s) na sede e nas zonas rurais do município, essas comunidades que foram
incentivadas pelo Vaticano II e que tiveram importante papel para a redemocratização do país.
Sr. Nilson comenta que as comunidades da zona rural começaram a serem atendidas
com a chegada do padre Reis, que era muito organizado e dinâmico, antes essas comunidades
não tinham uma profunda participação de se reunirem, celebrarem a Palavra. Com a
motivação do padre Reis e a ajuda de alguns leigos, inclusive ele, começaram a serem
fundadas as Comunidades Eclesiais de Base, que freqüentemente motivava a participação dos
fiéis nas Celebrações da Palavra, que animavam a vida das comunidades. Ele afirma que
devido a essa animação que agregou a muitos e dinamizou a paróquia, os políticos começaram
a procurar o padre Reis, que era muito animado.
Com o incentivo dessas comunidades criadas na paróquia, o Sr. Nilson comenta que
em uma dessas suas visitas à zona rural deu assistência a uma jovem do açude de aroeira16 que
fora vítima de uma violência sexual, quando saia da escola a caminho da sua casa que situava
em um povoado distante, visto que existiam poucas escolas na zona rural naquela época e
muitos estudantes iam para a escola em “paus de arara”, o que provocou grande insatisfação
na comunidade, que mobilizou junto com as demais um protesto pela falta de atenção dos
poderes públicos para esses habitantes da zona rural. Com esse movimento, as comunidades
convidaram para uma reunião o prefeito, Hamilton Rios e o secretário de educação para
16 Povoado do município ligado ao Distrito de Aroeira
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resolver esse problema e assim conquistaram a criação de inúmeras escolas nessas zonas com
o apoio do município e do governo do Estado, como a Duque de Caxias e a Pe. José Antonio
dos Reis.
Reivindicamos juntos em comunidade nessa linha da libertação, eu acredito que a nossa fé não foi só ligada no que o padre fala, no que o padre diz, cada um tem sua meta, nos obedecemos a Igreja, mas também nos temos a nossa linha de caminharmos juntos pelo bem pela vida de uma comunidade, e aí nos conseguimos com esse movimento. Pe. Reis, ele era uma pessoa simpática, todos gostavam dele (...) inclusive teve um período que ele me disse que eu tinha muita razão, porque ele disse que pelas atitudes de tais pessoas que já governavam a prefeitura e o Estado na época, ele disse que (...) devíamos andar com máscara de tanta podridão que essas pessoas tinham. Então ele já começou a perceber que às vezes ele ‘puxava saco’, ele beneficiava, atendia a esses pedidos de políticos, como pagando a secretaria, pagando a luz da igreja e a casa paroquial, esse assistencialismo (...) com reforma da casa paroquial e alguma coisa mais era pra beneficiar o grupo político, mais aí a gente percebia que também ele tinha suas angustias. (CARNEIRO. Entrevista concedida em 18 de set. 2009).
Ivo Lesbaupin, em seu artigo Comunidades de Base e ação social, analisa a atuação de
cristãos reunidos nessas comunidades de base da Igreja Católica situados no Rio de Janeiro e
em Minas Gerais. Defende que elas foram, no período mais repressivo, um espaço de debate
e reflexão dos problemas sociais, visto que ao mesmo tempo em que exprimiam a sua fé
tomavam consciência da situação social.
Elas permitiram assim o desenvolvimento de uma consciência crítica nos meios populares que elas atingiram, o que as levou, pouco a pouco, a se mobilizarem para atingirem seus objetivos e defenderem seus direitos.(LESBAUPIN, 2005, p.180).
Em Movimento Nacional de Fé e Política, Luci Faria Pinheiro, faz uma análise da
participação dos católicos nas lutas sociais engrenadas desde mobilização social contra a
ditadura da década de 60, como também da formação e aprofundamento da esquerda no
Brasil, a partir dos anos 80, no qual contestaram as desigualdades sociais no continente latino-
americano provocado pela lógica capitalista. A autora argumenta que na medida em que os
cristãos passavam a reivindicar um lugar do religioso na política é que se revelava a ação dos
militantes e o descontentamento ético em relação aos governos, afirmando o seguinte:
No começo dos anos 60, com a radicalização da JUC e a conseqüente fundação da Ação Popular, tem início uma prática que será sistematizada em forma de uma teologia da libertação. Essa será disseminada a partir do apoio da Comissão Nacional dos Bispos do Brasil, na década de 70; a partir da Conferencia dos bispos-latinos, em Medellín em resposta às recomendações do Concílio Vaticano II, realizado por João XXIII na década anterior. A base de toda a inversão operada pela militância cristã de esquerda será a indignação diante do aumento das desigualdades sociais no continente latino-americano, provocado pelo aprofundamento da lógica capitalista. Se antes a Igreja reconhecia, mas não combatia as desigualdades sociais, a partir de então, torna-
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se co-promotora da organização popular e passa a denunciar a usurpação do poder econômico e político. (PINHEIRO, 2005, p. 93)
Nesse contexto, Vanildo Luiz Zugno, descreve a partir de sua percepção a atuação da
Igreja Católica com a realidade política brasileira do século XX através dos movimentos
populares, pastorais sociais, conselhos de pastorais e das CEB’s, presente em seu artigo
Igreja, política e ação evangelizadora. Caracteriza essa atuação como sendo um espaço de
luta pela reconstrução das relações democráticas e na transformação das relações sociais na
busca de uma sociedade mais justa.
Um fato importante nesse período marcado pela negociação entre os dois poderes foi
um momento de conflito entre ambos no ano de 1987 em que envolveu diretamente o
representante religioso e a comunidade eclesial, pois defendia os interesses religiosos da
esfera local e que teve grande repercussão na sociedade coiteense. O padre Reis convocou
toda a população católica para irem às ruas e à Câmara Municipal pressionar os vereadores
para aprovarem um Projeto de Lei apresentado pelo vereador Diovando Carneiro Cunha
(Vando) que autorizava o prefeito municipal modificar e fixar a data da Festa Momesca –
Micareme - desta cidade para sábado após o Domingo de Páscoa. Isto porque tal festa era
realizada durante a Semana Santa, precisamente no Sábado de Aleluia, o que prejudicava as
celebrações litúrgicas da entidade durante a semana e no dia, visto que muitos se preparavam
para tal festejo e não participavam da celebração religiosa. Tal ação dividiu muito a opinião
da população visto que o calendário da festa já fazia parte da tradição popular da cidade.
A festa de micareme teve inicio no ano de 1923, segundo relata Marielza Carneiro. No sábado de Aleluia, tudo mudava. A alegria começava às dez horas da manha, porque era nesse horário que rompia a Aleluia com repicar do sino, foguetes, cânticos festivos e Missa solene. As crianças colocavam uma vasilha, (geralmente uma bacia) com água, para verem ‘o sol brigar com a lua’. Os mascarados, que tinham o nome de caretas, tomavam conta das ruas, enquanto cavaleiros com seus cavalos esquipadores desfilavam engalanados. (OLIVEIRA, 2002, p. 53)
O Sr. Nilson comenta que muitas pessoas não gostaram da atitude da Igreja local em
mudar a data da festa, e menciona que numa caminhada que o padre Reis havia organizado
com as CEB´s para pressionarem a Câmara Municipal e a Prefeitura, foi alvo de muita
repressão por parte da população, em que o mesmo recebeu uma pedrada que atingiu sua
boca, ele comenta que não tem a certeza se foi para o padre ou para ele, mas como ele estava
ao lado do padre acabou sendo atingido.
Oliveira destaca que em meio às pressões da Igreja os vereadores acabaram aprovando
a lei, sendo que as sessões para a aprovação de tal projeto foram todas tumultuadas, “pois
28
parte da população queria mudança, chegando a entrar em atritos com alguns membros da
Igreja.” 17
Esse assunto foi bastante polêmico dentro da sociedade coiteense, pois dividiu a
opinião da população. Como se percebe nos relatos acima, o projeto conseguiu ser aprovado,
mas não conseguiu minimizar as posições contrárias que sempre anunciavam elaborar um ate-
projeto para conseguir restabelecer a festividade para a semana santa, visto que era uma
grande manifestação da cultura popular do município, uma grande tradição.
No ano de 1989, a então vereadora Elia Cirino, tentava lançar um anteprojeto para que
a micareme voltasse a acontecer na semana santa, na data tradicional, devido a mesma ser
procurada pela população que exigiam tal projeto, numa entrevista ao Jornal Tribuna
Coiteense, ela relata sobre o assunto:
Lembro-me muito bem que o padre Antonio Tarashi sempre nos dizia que o Micareme de Coité era numa época certa, pois caia na data da ressurreição de Cristo e isto era um motivo de alegria. Por que contrariar o povo com uma festa que não chega a descaracterizar a Semana Santa? Não adianta com sermões mim atacar, pois não é do meu feitio ceder pressões religiosas. Tenho toda a admiração pela religião Católica, a qual pertenço, entretanto, acho que a Igreja deve assumir outras posições que é a de sair dos altares e pregar consciências de distribuir socialmente o pão. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano IX, nº 46, 28 de abril de 1989, p. 2).
Apesar do Pe. Reis ter conseguido animar e estruturar as comunidades eclesiais de base
da zona rural dinamizando a paróquia, ele não conseguiu romper com os laços que mantinham
a mesma com os chefes políticos, sendo que o próprio contribuiu para que tais envolvimentos
fossem fortalecidos na medida em que ele se relacionava nesse círculo de clientela, na troca
de favores. Como exemplo, Sr. Nilson comenta que existia uma grande devoção popular no
município a São Roque sendo coordenado pelo Dr. Pinheiro, que era do partido da oposição,
que não recebia nenhuma ajuda do pároco e que o mesmo se recusava a celebrar tais festejos,
pelo fato de Dr. Pinheiro não ser ligado ao grupo político hegemônico na cidade.
Porém essa relação de clientela entre Igreja e o governo municipal será rompida com a
posse do novo pároco em 30 de julho de 1989, o padre Luis Rodrigues Oliveira que adota
outro modelo de ação pastoral, lutando pelo fim da dependência que a paróquia estabelecia
com a administração pública e na defesa de seus ideais denuncia as irregularidades da
administração municipal.
Por adotar essa postura diferente do antigo padre, essa intervenção na esfera política
partidária, foi alvo de alguns processos e hostilidades pelos chefes locais. Finalizando assim
17OLIVEIRA, Vanilson Lopes. Conceição do Coité : Os Sertões dos Tocós. Conceição do Coité: Clip Serviços Gráficos, 2002. p. 53.
29
os “Bons Tempos” em que padres e políticos dividiam os mesmos altares, no qual, os
costumes entre as duas instituições eram fortalecidos. Mas este assunto será discutido nos
próximos capítulos.
30
CAPÍTULO II
“Um mundo, uma revolução na minha cabeça” 18
“Duas coisas marcaram minha personalidade; o homem do campo,
padre, do interior, analfabeto essa é minha origem, esses são meus pais;
depois o respeito, a civilidade, a educação, eu cresci no meio
universitário, trabalhei dez anos na UFBA, no setor mais elevado, de
pós-graduação como funcionário e sempre lidei com pessoas altas, de
alto nível intelectual, embora eu não seja, mas sempre lidei, estudei em
escolas européias, convivi com gente de todos os níveis, isso para mim
foi muito marcante, embora minha origem seja lá de baixo, sempre vivi
me relacionando com gente de alta, então, (... ) tratamento, senso de
respeito e civilidade, não de melhor e nem de subserviência, é de
civilidade, daí essa civilidade precisa ser respeitada e preservada.”
(OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set,2009).
18 Entrevista realizada com Pe. Luiz Rodrigues Oliveira em 19 de setembro de 2009
31
Em 30 de julho de 1989 foi proferida a nomeação do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira para
os fiéis presentes na missa de posse do novo pároco na igreja matriz da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité, presidida pelo bispo diocesano D. Silvério Albuquerque e
tendo a presença de alguns padres da região e população local, além da participação dos seus
antigos paroquianos da Paróquia de São Pedro da cidade de Salvador. Sendo que toda a
celebração foi transmitida pela Rádio Sisal.19
Encerrada a celebração o novo pároco dirigiu a sua primeira saudação oficial aos seus paroquianos dizendo-se irmão e companheiro, aberto a todos, na meia idade de quem não é moço e ainda não se sente velho, afeito aos contatos e convivência com as pessoas, desde a Universidade de Santo Tomás de Aquino no Colégio Angélico de Roma. Teve palavras de carinho ao seu antecessor, no paroquiano prometendo dirigir-se a todos com o Evangelho nas mãos e no coração reincontrando as suas origens sertanejas. (Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p.82).
Pe. Luiz Rodrigues foi o primeiro pároco da Diocese de Feira de Santana da paróquia
de Coité, estava sendo enviado pelo próprio bispo da Diocese, até então seus antecessores
pertenciam a uma congregação religiosa, os Vocacionistas20, que há muito tempo
administravam a paróquia, mas não estavam totalmente ligados com as orientações
diocesanas, certo que havia uma obediência ao bispo diocesano. Visto que a igreja local
estava sob a jurisdição da mesma e anualmente o mesmo realiza visitas pastorais para saber os
rumos da paróquia.
Mas antes de analisar o período que o padre Luiz vivenciou nesta cidade, em que
trouxe inúmeras mudanças e “viabilizou um projeto de evangelização sob as orientações da
Diocese de Feira de Santana e da CNBB” 21, é interessante conhecer um pouco da sua origem,
seu processo formativo e suas experiências pastorais, para podermos compreender melhor
todo esse processo de mudança vivenciado pela instituição religiosa local. Na qual, rompeu
com o modelo pastoral anterior e se tornou peça central para a alteração nas relações políticas,
proporcionando transformações a nível político e social e que contribuiu na formação de uma
nova concepção política no meio dessa comunidade. As informações aqui relatadas sobre a
vida do Pe. Luiz Rodrigues Oliveira foram fornecidas pelo próprio numa entrevista aberta que
fora realizada no dia 19 de setembro de 2009.
Luiz Rodrigues nasceu na zona rural do município de São Gonçalo dos Campos,
distante 108 km da capital da Bahia, no dia 20 de julho de 1948, filho de pai vaqueiro e mãe
19 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 82 20
Congregação Religiosa Masculina fundada por Padre Justino Russolillo em 1920, comunidade da Sociedade das Divinas Vocações , que depois se tornou conhecida como "Padres Vocacionistas". 21 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité p. 86
32
doméstica. Cresceu no seio dessa família humilde e desde cedo se tornou trabalhador rural
para ajudar sua mãe devido à morte de seu pai quando, o mesmo tinha oito anos de idade. Aos
12 anos mudou-se para Feira de Santana para trabalhar, e conseguiu um emprego num bar, “às
5 horas da manhã, já estava abrindo a porta do bar”, uma experiência que marcou muito a sua
vida. Aos 18 anos, conseguiu o primeiro emprego de carteira assinada e na mesma época se
preparou para o exame de admissão para o ginásio. Mesmo passando, não conseguiu estudar
devido às poucas vagas que existiam em Feira de Santana, que naquela época havia apenas
um ginásio público e outro particular, o Santanópolis, pertencente ao Deputado Lauro Filho,
que para ele estudar deveria receber uma bolsa de estudos, pois não possuía condições de seus
pais pagarem as mensalidades.
Ficou muito tempo sem estudar retomando em 1963 quando o prefeito Francisco Pinto
construiu o ginásio municipal. Assim participou da primeira turma desse ginásio do turno
noturno e finalizou os estudos em Salvador, no Instituto Central de Educação Isaias Alves,
pois acompanhou seu irmão que havia casado e foi morar na capital da Bahia há procura de
emprego. Formou-se em magistério no ano 1968 e começou a trabalhar como professor
municipal do primário num bairro periférico de Salvador, Pernambués, onde a miséria e a
violência estavam cotidianamente presentes. Nesse bairro entrou em contato com uma casa
religiosa feminina pertencente aos frades franciscanos, em que as freiras realizavam um
movimento social de assistência nesse bairro, se envolveu nessa ação e vivenciando essa
experiência decidiu seguir para o seminário, mesmo passando no curso de História da UFBA.
A fase no seminário foi muito conturbada, pois na mesma época sua mãe teve um
derrame ficando paraplégica e necessitava de sua ajuda, pois sua família era muito pobre, foi
então que o cardeal Dom Eugênio Sales, que no período era arcebispo de Salvador, concedeu
que ele trabalhasse em um turno e em outro continuasse seus estudos no seminário. Sendo
ordenado em oito de dezembro de 1979.
Eu fiz quase meus estudos sempre trabalhando, meu seminário foi muito intreporcados com a doença da minha mãe aquela história toda, e finalmente, e aí já era muito tempo passado, finalmente em 79 eu fui ordenado, eu passei muito tempo demorou, demorei de ordenar, ordenei com 31 anos devido a esse problema de trabalho, eu só deixei de trabalhar na semana da ordenação, foi um fato inédito em Salvador, que Dom Avelar concedeu isso a um seminarista, mas mesmo assim, logo, sendo padre eu continuei dando aula no Colégio Vieira à noite no curso noturno do Colégio Vieira, e daí nunca mais deixei o magistério, ensinei pela Prefeitura de Salvador, ensinei no Colégio Vieira, no Colégio Social da Bahia, no Central, e depois fui trabalhar em São Felix na paróquia menor da diocese, mais pobre da época, lá me envolvi muito com essa pobreza, aquele movimento dos trabalhadores rurais, não os sem terra ainda, era o Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira, de São Felix, região do Paraguaçu e me envolvi com isso, e tinha um colégio muito bom em Cachoeira, esse colégio formava as lideranças muito boas e desde já eles eram chamados de comunistas, nós
33
estávamos vivendo a época da ditadura militar. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set.2009)
Na região de Cachoeira, padre Luiz Rodrigues se envolveu com a política local,
ajudava os jovens considerados comunistas que seguiam para a zona rural conscientizando e
denunciando o regime militar, quando se deslocava para celebrar as missas nas comunidades
da zona rural. Realizava essa ação clandestinamente para que seu superior não soubesse, visto
que o mesmo não via com bons olhos essas lideranças que estavam contra o regime, assim
levava esses “comunistas” em seu carro e os deixava num ponto estratégico para não ser
denunciado e no retorno os pegava na estrada. Dessa forma, com esse envolvimento sócio-
político, logo após o regime ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) na região
juntamente com alguns desses jovens que lutavam pelo fim do regime militar no Brasil. No
mesmo período trabalhou como professor de português em São Felix, ao mesmo tempo em
que dava assistência pastoral nessas localidades.
Essa sua atitude em Cachoeira se assemelha muito com a de outros religiosos, como a
atuação dos dominicanos22 em São Paulo no combate ao regime militar instaurado após o
golpe de 1964, acolhiam pessoas que se colocavam em oposição ao regime e que eram
perseguidas, desde a proteção em lugares seguros até o transporte clandestino para outras
regiões.
Dentro de nossas possibilidades e de nossa condição de religiosos, ajudávamos pessoas sob o risco de prisão, de tortura e de morte. Fazíamos exatamente o mesmo que a Igreja fizera nos países europeus dominados pelo fascismo e faz hoje, por exemplo, na Polônia. (BETTO, 1991, p.49).
Michael Lowy, em seu livro Marxismo e Teologia da Libertação também evidencia a
participação de alguns padres e bispos em oposição ao regime militar, destacando a ação
numerosa de leigos e da ordem dominicana que entre 1967 e 1968 passaram a apoiar a
resistência armada dirigida por Carlos Marighela, a Ação de Libertação Nacional (ALN), este
que pela ditadura era chamado de líder terrorista. Os dominicanos forneciam esconderijo e
ajudavam muitos dos membros dessa guerrilha a saírem do país, devido a isso, muitos foram
exilados, mortos e torturados pelo regime.
Outro elemento importante de análise desse período é perceber o quanto a Igreja
estava dividida na questão política, no qual Luiz Gonzaga Lima destaca a presença de dois
22 Congregação Religiosa Masculina fundada por São Domingos de Gusmão em 1216, com o objetivo específico de se dedicarem à pregação do Evangelho no mundo inteiro. Por causa deste "carisma" da pregação foram chamados de "Ordem dos Pregadores"
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setores: os hierarcas e progressistas. Sendo que os primeiros em sua maioria havia apoiado o
golpe de Estado e “como natural conseqüência se integraram a uma nova aliança que nascia
entre os setores dominantes da sociedade brasileira”, segundo este autor, isso aconteceu pelo
fato da Igreja tradicionalmente ter em suas principais bases sociais as classes dominantes. E
no momento em que essas classes dominantes se dividiam politicamente com o
desenvolvimento do processo político brasileiro, a Igreja sofreu as conseqüências desse
processo entrou dividida na fase final da democracia no Brasil.
A ação do grupo progressista orientava a Igreja a apoiar as forças sociais que lutavam
pela realização de transformações sociais e incentivava a participação ativa dessas forças,
sendo que as inovações da Doutrina Social caracterizaram a ação desses setores.
As modificações da estrutura social defendidas pelo grupo progressista eram legitimadas pela Doutrina Social da Igreja, não contestavam nenhum principio eclesiástico. Por outro lado, a realização das modificações propostas não estabelecia nenhum antagonismo com as classes dominantes, e além do mais permitia o estabelecimento de relações de colaboração com as classes governantes. As modificações estruturais proposta pelo grupo progressista do episcopado deveriam ocorrer dentro dos limites do populismo e de seu projeto de desenvolvimento. (LIMA, 1979, p. 34).
No momento em que padre Luiz relata essa sua ação junto a jovens “comunistas”, o
mesmo faz a afirmação de que esse seu apoio acontecia às escondidas do pároco de
Cachoeira, que não gostava desses “comunistas”, evidenciando assim as contradições que
existiam entre o clero brasileiro. Nas zonas diocesanas dirigidas por bispos considerados
conservadores proibiam e desamparavam os movimentos ligados as ações progressistas, tanto
de iniciativa leiga (em muito dos casos) ou por parte dos clérigos. Como também, em
dioceses mais progressistas, as mobilizações conservadoras eram desestimuladas e proibidas.
Porém, as suas correntes partilhavam a repugnância comum, serem contrários ao “comunismo
ateu” como afirma Lowy.
Conforme a análise de Lowy, a Igreja brasileira vivenciou uma reviravolta no
momento da ditadura militar. No início desse regime em junho de 1964, a CNBB publicou
uma declaração dando seu apoio ao golpe, mesmo assim uma minoria de padres, religiosos e
leigos se opôs contra a ditadura militar, e entre os períodos de 1967 e 1968 alguns se
radicalizaram, como já foi mencionado, porém na medida em que se acentua a repressão
militar aos membros da Igreja, a CNBB na década de 70 tem sua direção substituída por um
novo bispo, Dom Ivo Lorscheider, “desde então, a Igreja torna-se um baluarte de oposição ao
regime e um refúgio para toda a sorte de protestos populares contra ele”.
35
Pe. Luiz realizando o seu trabalho na região de Cachoeira e São Felix, no período do
regime militar, como mencionado, foi transferido para Roma, onde iria fazer mestrado em
Teologia durante quatro anos. Logo que concluiu o curso retornou para Salvador onde passou
a morar no seminário da arquidiocese sendo vice-reitor permanecendo por muitos anos.
Simultaneamente lecionava Teologia na Universidade Católica do Salvador (UCSAL),
atualmente faz vinte sete anos que ensina nessa instituição. Em seguida, passou cinco anos na
paróquia de São Pedro, reformou a igreja e realizou um enorme trabalho no período que
esteve por lá. Devido à necessidade de sacerdotes na Diocese de Feira de Santana, o Cardeal
D. Lucas Moreira Neves, arcebispo de Salvador concedeu uma licença de dois anos para o
mesmo fazer uma experiência nessa diocese a pedido do bispo D. Silvério Albuquerque. Visto
que sua origem era nessa região. Ao chegar foi convocado a ser pároco da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité, que estava vaga e necessitava de um sacerdote.
Aconteceu uma certa, não diria ambigüidade, mas uma realidade bastante conflitante na minha vida, eu nasci na roça, minha primeira infância foi na roça, depois eu fui pra Feira de Santana, Salvador, sempre numa direção contrárias as minhas origens, de Salvador para São Felix, uma cidade pequenina, volta o sabor da zona rural, quando estou lá saboreano isso me mandam pra Roma, meu Deus do céu, um mundo, uma revolução na minha cabeça, eu fiquei quatro anos em Roma, Europa, quando voltei não sabia mais nada de interior, mas ficou aquela vontade de ir para o interior, me mandam pra Salvador, São Pedro, centro da cidade, uma paróquia de elite, eu naquela ação me envolvi com a intelectualidade, desenvolvi meu trabalho, daí crise da volta as origens, quando em Feira me jogam em Coité, eu não conhecia, só conhecia até Serrinha, eu disse agora to no paraíso, retorno as origens, redescubro, bem diferente da minha origem , sou lá do recôncavo, bem diferente de Coité. Vim pra cá com entusiasmo tremendo, uma alegria enorme, foi muito emocionante, eu lembro de um cântico que o grupo mirin cantou na missa de posse, ‘eu vim de longe, mas vou ficar’, eu vou ficar, eu mesmo sabendo que não seria dez anos, havia esse propósito, mas eu vou ficar, eu vou ficar, aí essa nostalgia do interior, da roça, da pobreza e tudo, e a cabeça cheia de intelectualidade porque tinha estudado nas melhores universidades (...) eu tinha uma cabeça muito diferente daquilo que era minha realidade. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set. 2009).
Logo que D. Silvério havia o comunicado que estaria indo para Coité, sentiu a
necessidade de saber algumas informações a respeito da paróquia antes de iniciar seu
trabalho, pelo fato do mesmo desconhecer o município. Aproveitando a presença do ex-
pároco de Conceição do Coité, Pe. José Reis, que havia assumido a Paróquia de São Cosme e
São Damião em Salvador, no bairro da Liberdade, foi ao seu encontro buscar algumas
orientações para desempenhar da melhor maneira o seu serviço pastoral. O padre José Reis o
orientou para que ele procurasse o casal Agnaldo e Maurita, os mesmos passariam todas as
informações sobre a paróquia, pois o padre Geraldino que estava por lá esperando a nomeação
de um novo pároco não conhecia de fato a comunidade local. O ex-pároco pediu que ele
procurasse também o Deputado Emério Resedá, “uma esperança para Conceição do Coité”,
este forneceria todas as informações sobre as instituições políticas da cidade. Diante dessas
36
orientações, o padre Luiz o indagou a respeito do prefeito da cidade. E em resposta o ex-
pároco o respondeu “é um menino lá”, nem se lembrara do nome. Apesar disso, tentou
encontrar-se diversas vezes com o prefeito da época, antes da sua posse na paróquia, mas não
conseguiu.
Telefonei para o prefeito para informar que estava nomeado e queria conhecê-lo, procurei ele diversas vezes na prefeitura, quando cheguei aqui encontrei o padre Geraldino, conversei com ele, ele não me passou orientações sob a paróquia, ele também era novo aqui, daí procurei o casal que me passou os dados, fui na prefeitura não encontrei ele novamente, aí me disseram que ele morava na casa dos pais, minha surpresa quase fui agredido, fui atendido por uma senhora,a mãe dele, eu me apresentei como novo pároco da cidade, ele não está aqui, esta viajando pra Valente, ele não quer saber dessas coisas não, você que o que com ele, parece que eu queria pedir algum dinheiro, alguma coisa, olhei pra ela e fui embora em Salvador tentei ligar repetidas vezes. (OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set. 2009).
Estando em Salvador, conseguiu marcar uma conversa com o mesmo, pois iria para
uma reunião na governadoria e assim poderia vê-lo, porém o mesmo não apareceu e nem
ligou para justificar o motivo da falta. E assim, chegando o dia da sua posse no município, o
prefeito não estava presente e nenhum representante do mesmo. Presença essa que se fazia
necessário de acordo com a liturgia católica nessas solenidades. Ao término da missa o então
Deputado Estadual Misael Ferreira se apresentou e solicitou uma reunião com o mesmo se
disponibilizando para o que o vigário precisasse. O único contato que teve nesse período com
a prefeitura, foi através do secretário de administração que o procurou para resolver a situação
dos funcionários da prefeitura que prestavam serviços à paróquia.
Em 27 de dezembro de 1989 dispensou os serviços da cozinheira da casa paroquial, a
Sr. Maria Edneusa Souza, pois sua irmã morava com ele e sabia cozinhar muito bem, não
achando necessário manter essa funcionária por esse motivo. Em abril de 1990 dispensou a
secretária paroquial, Vandeci Gonçalves Dias, que também pertencia ao quadro de
funcionários da prefeitura que prestavam serviços a paróquia, todas feitas por meio de ofícios
endereçados ao prefeito municipal, Everton Rios de Araújo Filho (Vertinho), não explicitando
nenhum motivo para referida dispensa e agradecido pela concessão da mesma. Certamente
essa atitude gerou algum impacto, visto que há muito tempo a prefeitura auxiliava a paróquia
através dessas funcionárias. Sem falar, que o primeiro contato que o padre teve foi frustrante,
como ele mesmo afirma o impacto de ter sido mal recebido, sem ser reconhecido, “uma falta
de civilidade, daí eu precisava fazer um trabalho voltado para a formação da consciência, na
formação geral, na educação e princípios”.
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Essa atitude tomada pelo pároco não se restringe no aspecto de uma possível
rivalidade pelo fato de não ter sido bem acolhido pela administração municipal, mas revela a
sua visão a respeito da relação entre essas duas instituições.
A paróquia não pode ser uma secretária de assuntos religiosos da prefeitura, a prefeitura pode ser alguma coisa se governar a paróquia, subdependentes, agora que haja uma cooperação para a comunidade sim ,uma participação, uma cooperação sim, pra fazer uma festa , etc.(OLIVEIRA. Entrevista concedida em 19 de set. 2009).
No trecho acima, o pároco assume uma postura diferente dos seus antecessores que
viam nessa ligação um meio de suprir as necessidades que a paróquia possuía, pois com o
estabelecimento dessa relação de clientela, troca de favores, não teriam preocupações com
salários de funcionários, manutenção da casa e pagamento das contas. Em contrapartida a
paróquia deveria estar aos serviços desse grupo político, como o mesmo evidencia, em que
estaria dependente em todos os sentidos, “uma secretária de assuntos religiosos da prefeitura”.
Mas apesar de ser contrário a essa negociação, o mesmo sugere que seja importante haver
uma cooperação entre as duas instituições, em favor da comunidade, visto que as duas são
importantes referências da população.
No período em que permaneceu nessa paróquia nunca deixou de pedir apoio do
governo municipal para ajudar na manutenção e instalação elétrica dos festejos da padroeira,
algumas vezes para transporte de leigos em encontros fora da cidade, como também, a
presença do mesmo e de outras autoridades do município para recepções das visitais pastorais
do bispo da Diocese. Dessa forma, percebe-se que a postura religiosa do clérigo é bastante
diferente aos seus antecessores, como foi visto no capitulo anterior, a sua formação
apresentou aspectos diferenciados, ele afirma que foi gerado nas concepções do Vaticano II, e
nos ensinamentos da Doutrina Social da Igreja que apresentou novas orientações, novas
perspectivas para a ação pastoral diferentemente da tradição do clericalismo.
O Concílio Vaticano II constituiu o ponto de partida para uma nova época na história
da Igreja23. Significou uma abertura da Igreja Católica para os problemas do mundo,
particularmente, para os problemas do povo latino-americano24, foi um momento particular da
instituição no qual foram formuladas novas diretrizes, que reafirmaram a sua responsabilidade
23 LOWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertação. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1991.(Coleção polêmicas do nosso tempo; v.39) 24 RITO, Frei Honório. Introdução à teologia. Petrópolis, RJ:Vozes, 1998. p. 271
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social, que modificou substancialmente a cultura católica25 e contribuiu para o rumo da Igreja
latino-americana.
Sem a abertura da Igreja para o que havia de novo na história da Igreja latino-americana não teria surgido nenhuma Teologia da Libertação na America Latina, a Igreja tinha começado no Vaticano II a abrir-se para o mundo de nosso tempo. Foi essa abertura mais ampla da Igreja em sua dimensão universal que fez com que a Igreja latino-americana na sua prática e na sua reflexão se deixasse questionar pela realidade social, política e econômica que formava o contexto de sua vida e atuação. Com a abertura do Concílio e da Igreja universal, a Igreja latino-americana não podia ficar alheia e indiferente às transformações por que passava a América Latina da década de 60, sobretudo ela não podia ficar distante dos anseios de humanização e de maior justiça para a sociedade latino-americana. (RITO, 1998, p. 269).
Entretanto muito antes da convocação do Vaticano II, a Igreja já havia lançado um
pensamento que propunha uma mudança social presente na Encíclica Rerum Novarum
publicada no ano de 1891 pelo papa Leão XIII.
A demonstração de reivindicações da Igreja em benefício dos operários explorados e maltratados pelos excessos do mundo burguês. Não se pede mais o afastamento da modernidade com tanto afinco como faziam seus predecessores. (BATISTA, 2009, p. 9).
A Rerum Novarum apesar de debater a situação de miséria em que se encontravam os
trabalhadores, de condenar uma correlação de força injusta, não condenou a estrutura
capitalista em si mesma, defendeu um melhoramento das condições de vida dos operários.26
Conforme Batista, essa encíclica “foi um divisor de águas na política da Igreja Católica”,
representou um caminho para a ação política social da Igreja Católica, sendo a principal base
da Doutrina Social da Igreja, esta que concebe o pensamento social católico norteadora da
ação social dos fiéis, principalmente a preocupação com os pobres.
Padre Luiz chegando ao município com essa dimensão político-social, norteado por
essas diretrizes sociais, percebeu outro problema em Conceição do Coité à questão da
educação. Ficou bastante impressionado ao constatar que muitos professores da rede pública
não eram licenciados para ensinar o segundo grau, recebiam baixos salários e o nível de
analfabetismo era altíssimo nessa comunidade, devido também, a irresponsabilidade da gestão
pública com a educação e seus profissionais. Diante dessa realidade, juntamente com novos
professores com nível superior que havia chegado ao município na mesma época, iniciou um
trabalho pedagógico no Colégio Polivalente da rede estadual, ministrando aulas das matérias
25 LOWY, Michael. As esquerdas na ditadura militar: o cristianismo da libertação. In:___ RÉMOND, René (org.);ROCHA, Dora (trad.). Por uma história política. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003. p.306. 26 BENTO, Fábio Régio. A Igreja Católica e a social-democracia. São Paulo: Ave Maria, 1999.
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de formação de professores, como mestre concursado e especializado para este fim27. A
realidade da deficiência que se encontrava o Colégio Polivalente foi relatada pelo Jornal
Tribuna Coiteense, do ano de 1988 e 1990:
A deficiência é total, principalmente no ensino do 2º grau onde temos vários alunos revoltados pelas faltas de aulas que vêem acontecendo constantemente, devido à escassez de professores, causando revolta maior aos alunos da zona rural que vêem a procura do saber e, quando chegam, voltam frustrados, pois encontram no máximo um ou dois professores – quando dão sorte de encontrar. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano VIII, nº 28, abril de 1988, p. 3). O então Ministro da Educação, senhor Carlos Santana, em visita ao nosso município, quando Secretário de Educação do Estado da Bahia, em conversa conosco no Colégio Polivalente, disse-nos: ‘Educação hoje, é ler bem e escrever bem’. Talvez pensando apenas nos votos, já que era candidato a Deputado Federal, não analisou a profundidade de sua afirmação e passa a contribuir com o crescimento do trem da alegria, acrescentando vários vagões, repletos de incompetência. Em função de atos irresponsáveis dessa natureza, nossas escolas estão doentes devido ao despreparo dos nossos professores. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano X, nº 62, outubro de 1990, p.7).
Compondo o quadro de docentes do Polivalente, prestou assistência educacional no
distrito de Salgadália sem cobrar nada, foi um dos fundadores do curso de magistério do
Colégio José Ferreira desse distrito, voltando muitas vezes a pé com outros professores.
“Senti num atraso e num desleixo. O caminho era esse primeiro na área pedagógica, depois o
Evangelho, que deveria ser traduzido num renascimento cultural para essa cidade.”
Dessa forma, é iniciado um processo de mudanças e estruturação. Dentro da
instituição religiosa local foram realizadas nesse período diversas reuniões com os grupos
existentes na paróquia, cursos de formação para leigos com assessoria de pessoas da
arquidiocese de Salvador, reorganizou diversas pastorais como o Movimento de Cursilho de
Cristandade (MCC), implantou na paróquia o ECC- Encontro de Casais com Cristo, realizou
assembléias pastorais anualmente para a dinamização e protagonismo laical dentro do espaço
eclesial. Firmando em 1990 um convênio com a Escola Superior de Fé e Catequese Lúmen
Cristie com duração de quarenta horas, “uma grande jornada pedagógica”, com o objetivo de
organizar sistematicamente a formação dos leigos, tendo a participação de professores de
Ensino Religioso do município de 1º e 2º graus.
Realizou comissões de formação de animadores de comunidades com o auxílio da
Congregação Religiosa das Irmãs da Divina Providencia de GAP28, dinamizando as atividades
pastorais das CEB’s, que com recursos da própria comunidade iniciam a construção de
27 Carta das Pastorais do ano de 1996. 28 Congregação Feminina fundada pelo padre João Martinho Moye em 1762 na França. As Irmãs chegaram ao Brasil em 28 de junho de 1904.
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templos nos bairros da periferia da cidade (Açudinho e Cruzeiro) e reforma templos dos
povoados e distritos sem o auxilio do gestor municipal. Com a comunidade local e a
comunidade católica alemã, consegue recursos para a aquisição de um veículo como um meio
de atender as comunidades rurais e as da sede, pelo fato do antigo veículo da paróquia ter
desaparecido antes de sua posse, que segundo a comunidade eclesial local, “não se sabe que
fim levou”. Como meio de saberem informações a respeito do mesmo o conselho paroquial
envia em 09 de agosto de 1989 um ofício ao Pe. Reis assinado por Arivaldo, Lozinho e
Agnaldo, membros do conselho.
Pensamos bastante antes de tomar essa decisão em escrever para o senhor. Ficamos a imaginar como iria receber esta. Mas, a necessidade de adquirir um veículo para a nossa paróquia de C. do Coité, para isso se fez necessário uma campanha junto à comunidade coiteense e ao fazermos alguns contatos sobre tal necessidade junto à comunidade e em reunião em conselho, tem surgido perguntas sobre o chevete da paróquia de C. do Coité e como não sabemos o fim do mesmo é que viemos solicitar que nos esclareça sobre o destino do referido veículo, afim de que possamos passar as informações exatas às pessoas que nos solicitar e assim fazer uma campanha que dê bom resultado. (Ofício da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, 19 de agosto de 1989).
Instituiu o Conselho Pastoral, para auxiliar na administração da paróquia, em que era
composta por representantes de cada grupo eclesial, que segundo Zugno “a instauração de
Conselhos de Pastoral é a consolidação estrutural desse jeito democrático de regulação das
relações políticas no âmbito da comunidade.” 29. Reestrutura o dizimo, passa a disponibilizar
os balancetes mensais no mural da matriz, enviando uma cópia a Cúria Diocesana “para que
todos tomem conhecimento de tudo o que se gasta e arrecada” 30. Além disso, autoriza que os
bancos responsáveis pela conta da paróquia disponibilizem os saldos a qualquer interessado
no destino dos recursos da mesma. Inventariou e tombou todos os bens móveis e imóveis
dessa paróquia.
Com muito sacrifício, informatiza a secretária paroquial, primando por melhor servir e pela modernização dos serviços, adquire também equipamento áudio-visual, objetivando dinamizar as atividades de formação do laicato. (Carta do Conselho Paroquial, 1996)
As festas da padroeira ganham uma nova roupagem, sem perder a marca centenária da
tradição, acontecendo à revitalização da festa de largo que “primando pela integridade da fé,
não deixou de valorizar a cultura regional”. Tendo uma organização junto às pastorais e uma
29 ZUGNO, Vanildo Luiz. Igreja, política e ação evangelizadora. CNBB- RS, 2007. Disponível em www.forumdaigrejacatolica.org.br (acessado em 17/07/2008). 30 Carta do Conselho Paroquial do ano de 1996
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comissão organizadora escolhida pelo conselho, diferente das anteriores em que boa parte da
organização e estrutura estava a cargo de representantes políticos do município como foi
discutido no capitulo anterior.
No ano de 1990 houve um acréscimo das atividades presentes na programação da festa
com o bando anunciador, uma carreata que comunica a festa pelas ruas da cidade e a
realização do ofício da Imaculada Conceição às 5h da manhã culminando com uma
caminhada penitencial pelas ruas da cidade. Aumentando assim o número de envolvidos na
infra-estrutura da festa como também, incentivando a participação maior da população
coiteense. Além disso, os temas dedicados a cada ano para a festa perpassam por uma
dimensão sócio-política, um espaço de construção da cidadania, com assuntos voltados para a
necessidade do povo sertanejo, ainda mais, para o despertar do pensamento crítico. Isso fica
evidente em inúmeros artigos que o pároco escreve nos jornais locais convidando os fieis a
participarem da festa, que revelam a sua preocupação em inovar o espaço eclesial, que vai
além da devoção religiosa, “ser uma voz clamante e provocante às consciências
adormecidas.” 31
Realizaremos, entre 29/11 e 08/12 mais uma festa da Padroeira, atentos ao que de bom pudemos realizar no ano passado e pensando muito no que ainda podemos fazer na tentativa de chegarmos a uma Igreja mais humana, mais socializada, mais aberta a capacidade crítica. A Igreja que se move na força do Espírito não pode não ser dinâmica, política, questionadora, formadora de consciência porquanto, o Verbo de Deus ao fazer-se carne (homem), tornou-se solidário com todos os homens, elevando e engrandecendo a nossa natureza de modo que assim, pudéssemos refletir a sua imagem e semelhança. (Jornal Tribuna Coiteense, Ano XIII, nº 86, dezembro de 1993. p.4)
Organizou missões populares, jornadas catequética e missionária com os jovens,
percorrendo todos os povoados, com palestras, orações e preparação para os sacramentos, que
incentivou uma maior participação dos fiéis, agregando nos seus encerramentos mais de dez
mil pessoas, tendo a participação de D. Silvério Albuquerque e D. Lucas Moreira Neves,
cardeal primaz do Brasil na época.
Dessa forma, percebe-se que o novo pároco inaugura uma nova fase dentro da
instituição local, enfatizando o caráter laico, um processo pelo qual incentiva e cria espaços
para um protagonismo leigo dentro da paróquia, seguindo assim as orientações do Vaticano II
e de inúmeras conferências que acontecem na América Latina promovidas pela CELAM
(Conferência Geral do Episcopado Latino-Americana), como por exemplo, a de Santo
31 Jornal O Mensageiro, Ano IV, nº XXII, novembro de 1998.
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Domingo que aconteceu na República Dominicana no ano de 1992, que confirma dessa
maneira esse novo jeito de ser Igreja Latino-Americana:
Daí esta diretriz pastoral de Santo Domingo: “Evitar que os leigos reduzam sua ação ao âmbito intra-eclesial, animando-os a penetrar nos ambientes socioculturais para serem neles os protagonistas da transformação da sociedade à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja” (n. 98). Por tudo isso, como objetivo pastoral imediato, os Bispos reunidos na IV Conferência Geral em Santo Domingo prometem “incentivar a preparação de leigos que se destaquem no campo da educação, da política, dos meios de comunicação social, da cultura e do trabalho. Estimularemos uma pastoral específica para cada um destes campos, de tal maneira que os que neles estiverem atuantes sintam todo o apoio de seus Pastores (n. 99).
Segundo a análise de Marcelo Ayres Camurça a respeito do pensamento de Leonardo
Boff sobre o protagonismo dos leigos. Defende que a melhor expressão dessa ação laica é a
vivencia das CEBs, pois os seus membros são peças centrais para o fortalecimento das
mesmas, desempenhando atividades comunitárias, sócias e políticas, apoiando assim os
movimentos populares, como também, atuam na defesa de seus direitos. Dirigidas por leigos,
que praticam o sistema de rodízio na direção, as CEBs rompem com o modelo paroquial
tradicional em que todas as atividades estavam centradas na estrutura clerical da Igreja. Esse
novo jeito de organização impeliu a questão democrática para o seio da Igreja, questionando o
monopólio dos clérigos no trato com o sagrado e participando das decisões paroquiais através
das assembléias paroquiais.
Vale ressaltar que todo esse processo pelo qual os leigos alcançam na Eclésia não foi
aceito de forma unânime pelos religiosos. Essa atuação esteve ligada principalmente pelos
clérigos que desenvolviam um trabalho unido ao campo da Teologia da Libertação que
emerge na década de 60 pregando uma práxis libertadora dos movimentos sociais católicos
comprometidos com o povo oprimido, movimento esse que compreendia setores
significativos da Igreja, desde movimentos religiosos laicos a bispos e padres.
Estudiosos da Teologia da Libertação afirmam que essa nova vertente de organização surgiu a principio em movimentos de leigos nos bairros periféricos, sindicatos, pastorais e nas comunidades eclesiais de base (...). Tais organizações juntamente com movimentos sociais começaram a difundir a crítica ao poder estabelecido e a denunciar as condições materiais e espirituais da pobreza da América Latina. Assim defendeu Leonardo Boff, um expoente deste movimento, na obra “A Igreja se fez povo”. Este direcionou para leigos a tomada da dianteira do processo de organização nos eventos e nas discussões, o que na sua opinião possibilitou trazer para o seio das CEB’s as discussões dos problemas cotidianos, ao tempo em que valorizava, suas conquistas e alimentavam suas esperanças.” (SILVA, 2005, p.112).
Além dessas mudanças dentro do espaço eclesial, Pe. Luiz também foi responsável por
algumas atividades educativas e culturais do município. Incentivou e se tornou um dos
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colaboradores do Jornal Tribuna Coiteense , além da ajuda financeira que prestava, auxiliava
na parte editorial, com seus artigos de cunho religioso-político-social, informando os eventos
promovidos pela instituição, como também, realizava comentários a respeito da sociedade
coiteense e dos acontecimentos de nível estadual e nacional. Em um dos seus primeiros
artigos em 1990 analisa o período das eleições de 1990 para eleger governadores e deputados,
o que chamou de “retrocesso histórico” pelo fato de muitos políticos eleitos serem os mesmos
que estavam e apoiavam o regime ditatorial no Brasil, o que desagradou de certa maneira os
políticos locais pelo fato dos mesmos serem ligados aos partidos e apoiarem a candidatura de
muito desses.
A democracia é interessante e nos faz pensar... Mais ainda as eleições! Pensar no que não pensaram os eleitores que sufragam esses subprodutos do atraso, do coronelismo, da corrupção e da ditadura tupiniquim. Essas eleições, verdadeiramente, não nos levam a vislumbrar a porta do século XXI, mas, ao contrario, nos fazem retroceder muitos anos! (Jornal Tribuna Coiteense ano X, nº 6, outubro de 1990, p.3)
Por ter essa aproximação direta com a comunicação, lança um informativo mensal da
paróquia no mês do trabalhador, O Mensageiro, que conta com o patrocínio do comércio
local, um pioneiro dentro da Diocese em 1991.
Visando informar ao maior número possível de fieis e formar a consciência de todos quantos em meio às trevas torna-se objetos de difícil manipulação por partes de órgãos de comunicação a serviço de interesses de grupos menores. (O Mensageiro, ano I, nº I, 01 de setembro de 1991, p.1)
Mais uma vez o padre afirma que suas inovações seguem as orientações do Concilio
Vaticano II, isto no primeiro número do informativo.
Por que um boletim paroquial? Eis a pergunta que certamente aflorará dos lábios de alguns. Porque há quase trinta anos o concilio Vaticano II (1963) ao promulgar o decreto Inter Mirifica, dizia que ‘a imprensa, o radio, o cinema e a televisão são instrumentos que retamente empregados, representam subsídios valiosos ao gênero humano’ (...). Neste primeiro de maio, dia do trabalhador, homenageamos os operários de nossa terra, oferecendo-lhes um instrumento de informação de suas atividades e de formação da consciência crítica de todos, sobretudo dos jovens. (O Mensageiro, ano I, nº I, 01 de setembro de 1991, p.1)
Percebendo seu itinerário na educação, Pe. Luiz Rodrigues criou a Associação
Comunitária de Apoio à Educação e Cultura (ACAEC), mantedora do Educandário Divino
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Mestre32, juntamente com alguns leigos ligados à educação do município, reconhecido pelo
CEE, sendo dirigido pelo mesmo por três anos consecutivos.
Além de suas inúmeras atividades como pároco, participa da vida pública do município, sendo um dos responsáveis pela elaboração da Lei Orgânica do município e outras atividades educativas e culturais. O seu envolvimento no crescimento dos valores éticos e religiosos, rendeu-lhe o titulo de cidadão coiteense, em reconhecimento da sua integridade moral perante toda a comunidade. (Carta do Conselho Paroquial em 01 de setembro de 1997).
Esse título de cidadão coiteense foi lhe concedido em 02 de julho de 1994 pela então
vereadora Élia Cirino devido o fato da mesma ter se admirado com as ações do padre que
extrapolavam as paredes do templo, participando da vida política e social do município. Sua
atuação na educação, como também, na criação da Lei Orgânica, contando com o voto
unânime da Câmara de Vereadores Municipais.
Devido ao reconhecimento do padre Luiz na sociedade coiteense e de sua experiência
profissional na educação, na qual, sempre demonstrou preocupação com a mesma por onde
passou, foi convidado a participar da comissão suprapartidária que lutaria em busca de uma
instituição de nível superior para o município durante a década de 90. Sendo procurado por
alguns vereadores para fazer parte desse processo, foi nesse momento que teve contato com o
prefeito da cidade, Ewérton Rios de Araújo Filho (Vertinho), em viagens para Salvador para
reuniões sobre o assunto na Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
A faculdade nasce dentro de um contexto histórico amadurecido e não como fruto de um impulso meramente eleitoreiro de momento como alguns chegaram a insinuar. Assim, posso testemunhar: a nova gestão acadêmico-administrativa da UNEB está adotando uma arrojada política de expansão e interiorização do ensino superior no Estado. O professor Joaquim, magnífico reitor da instituição, pretende ampliar os campi universitários (...) essa regra, Felipe Cedraz, um coiteense que trabalha na UNEB consciente nisso, alertou as lideranças daqui sobre essa possibilidade. (Jornal Tribuna Coiteense, ano X, n 61, setembro de 1990, p.4)
O projeto de Lei nº 8602/90 de autoria do deputado Misael Ferreira para a criação do
Centro de Educação Superior de Conceição do Coité – CESCON – foi fruto de diversas
reuniões da comissão que foi junto ao reitor da UNEB na busca dessa conquista. No dia 03 de
setembro esse projeto foi aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado da Bahia,
confirmando a criação do CESCON. Entretanto todo esse processo de luta para a aprovação
dessa lei, como também a implementação e construção do CESCON foi vivenciado por
conflitos político-partidários apesar da sua comissão como mencionada acima ser 32
Instituição Educacional fundada por Pe. Luiz Rodrigues Oliveira e alguns leigos em 26 de dezembro de 1992.
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suprapartidária, não fugiu do alvo dos interesses dos políticos coiteenses, tendo uma
repercussão dentro da sociedade, como também do Jornal local.
A Faculdade de Eunápolis foi criada no mesmo dia e hora que foi criada a de Coité. Porém, a de Eunápolis, já vai funcionar no inicio do próximo ano, com o concurso Vestibular e tudo mais. A daqui, só funcionará no meio do próximo ano. Tudo isso porque os “políticos” de lá acreditam na criação da mesma. Os políticos, daqui ficaram discutindo (e retardando) para ver quem seria primeiro o “Pai da criança”. Baita ignorância... (Jornal Tribuna Coiteense ano X, n 62, outubro de 1990, p.6)
Outro grave problema que não foi sanado ainda em nosso município, diz respeito a CESCON ... É que depois de muito bate-papo e lero-lero, até agora não se definiu onde vai funcionar provisoriamente a Faculdade. Existem setores que querem na Escola Agrícola, outros no CTL (antigo Santa Teresinha), outros, na Escola Polivalente, Wercelêncio, Antonio Bahia e Iêda Barradas. Como se vê, lugar é que não falta. O que está faltando é vergonha de nós todos para acabarmos de vez com toda essa politicagem desvairada. (Jornal Tribuna Coiteense ano X. 62, outubro de 1990, p.6).
No mesmo jornal, a uma entrevista com dois professores da UNEB que estiveram
em Conceição do Coité para tratarem a respeito da criação do CESCON, um deles o Felipe
Cedraz, coiteense e prefeito dos Campi da UNEB no período. Nessa entrevista comentam a
respeito do desinteresse da administração pública no incentivo para a criação de tal benefício
para essa região do sisal e o atraso da implementação desse ensino em Coité, afirmando que
os mesmos (políticos) não se interessam por um ensino dessa dimensão pois “uma pessoa
esclarecida não volta neles”.33
Dentro dessa realidade, o Pe. Luiz teve papel relevante para a criação desse centro
superior, pois o mesmo motivou toda a sociedade e esteve junto nesse processo, com os seus
paroquianos foram às ruas protestando contra a inoperância e exigindo que a luta continuasse
para a implementação do CESCON. Foi nomeado pelo magnífico reitor da UNEB para
assumir a direção da unidade, estando a frente mais de dois anos. Todavia essa sua postura lhe
custou alguns desentendimentos políticos, surgindo boatos, que como afirma o mesmo,
“tomou um rumo de partidarismo e uma interpretação equivocada dos donos do poder, por
achar que eu estaria disputando cargo político, querendo ser prefeito.” 34 Apesar de nunca
negar a participação dos gestores nesse processo, que foi fundamental para as construção e
acomodações do centro, evidenciando assim, que não foi único responsável por essa conquista
para a região, mas acentuando a participação de toda a sociedade coiteense e a dos envolvidos
diretamente nesse processo.
33 Jornal Coiteense, Ano X, nº61, 28 de setembro de 1990, p. 1 34 Entrevista realizada com o padre Luiz Rodrigues Oliveira no dia 19 de setembro de 2009
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Formou-se uma comissão suprapardidária que foi ao Reitor e, daí, nasceu o projeto de Lei nº 8602/90 de autoria do Deputado Misael Ferreira. Votado a 03 de setembro, graças as gestão que fizemos junto aos deputados, sobretudo ao líder do Governo João Almeida. A verdade é esta. O mais é fofoca e politicalha tão mesquinha quanto o passado dos seus autores e tão estreita quanto o futuro que os aguarda. Saudamos a todos que empreenderam esforços para a conclusão desse sonho de modo especial ao Prefeito Ewerton Rios a quem cabe agora maior responsabilidade na consecução do projeto físico (instalações); saudamos a alunos a professores de hoje que serão o nosso futuro corpo discente, desejando que a primeira turma de alunos do CESCON seja basicamente de Coité. Parabenizo a região do sisal por essa vitoria, pedindo a todos que não deixem o barulho da ignorância sufocar os sussurros da educação. Para mim, sussurros de consciência. (Jornal Tribuna Coiteense ano X, n61, setembro de 1990. p.4).
Como foi percebido o objetivo central desse capítulo foi analisar quais as mudanças
que o novo pároco realizou na instituição religiosa local, como também a sua participação na
sociedade coiteense. Sendo que dentro desse processo de mudanças as concepções do
Vaticano II estiveram presentes, desde a sua formação e experiência pastoral, no qual o
direcionaram nessa sua postura abalando assim a estrutura que o grupo político dominante
mantinha com a paróquia que era “uma aliada e um ponto de sustentação e perpetuação do
poder, definida nas relações clientelas” 35. A sua forma de conceber a política contrariou a
muitos que achavam um absurdo um padre se meter em assuntos que não fossem religiosos,
ainda mais, em seus sermões chamar a atenção da população para essa conscientização
política, o que provocou muitos conflitos com a administração pública local sendo alvo de
vários processos e perseguições, no qual será discutido no próximo capítulo, como também o
seu envolvimento político partidário e de alguns leigos que articularam a oposição ao grupo
político dominante mudando o cenário da política de Conceição do Coité.
35 Carta do Conselho Pastoral 01 de setembro de 1997
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CAPÍTULO III
“O Preço da Independência” 36
“Os poderosos da cidade, que jamais haviam sido questionados,
reagiram com extrema violência, desencadeando uma terrível campanha
de difamação, com calúnias e perseguições contra Pe. Luis e a Igreja.
(...) passaram a insultar o padre, tachando-o de vigarista e ministro de
satanás (...) sete vereadores do grupo assinaram ‘voto de repúdio’
contra Pe. Luis. Sete dos quinze vereadores da câmara que, meses antes,
concederam a esse mesmo padre o titulo de Cidadão Coiteense, por
unanimidade!” (Carta do Conselho Paroquial de Conceição do Coité em 1997).
36 Título do documento elaborado pelo Conselho Pastoral da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité no ano de 1997
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Como foi visto no capítulo II, a ação pastoral do padre Luiz Rodrigues não se
restringiu apenas as “paredes” da igreja matriz, mas alcançou espaços até então diferentes do
clero tradicional. Os relatos da memória dos entrevistados sobre a administração paroquial de
padre Luiz Rodrigues evidenciam que o mesmo teve uma participação direta na sociedade
coiteense principalmente o seu envolvimento com a educação. Expressadas através de
iniciativas por um ensino de qualidade, na luta por melhores salários para os professores,
como também,a mobilização para a instalação de um centro de ensino superior.
Todavia, essa sua iniciativa para a implementação do CESCON como discutido
anteriormente, foi marcado por conflitos político-partidários entre as lideranças políticas de
Conceição do Coité representadas pelos partidos PL e PP, que eram grupos rivais no qual
disputavam o maior mérito na implementação do CESCON. Diante desses confrontos padre
Luiz foi alvo de hostilidades por parte do grupo político dominante (PP) devido a um
depoimento que o mesmo havia oferecido ao sucursal do Jornal Feira Hoje, José Ribeiro, no
dia 07 de março de 1991 em uma entrevista sobre os problemas da educação em Coité, e
principalmente sobre o projeto CESCON. Tal entrevista publicada pelo Jornal no dia 21 de
março do mesmo ano comentava que o padre valorizava a atuação do deputado Misael
Ferreira (PL) e o desinteresse do prefeito Ewerton Rios de Araújo Filho (PP).
Pe. Luiz Rodrigues e o professor Felipe Cedraz valorizam o apoio do deputado Misael Ferreira e lamentam a falta de empenho do prefeito Ewerton Rios que em nenhum momento demonstrou interesse em encaminhar as reivindicações de nosso povo junto aos poderes estaduais somente porque o projeto da faculdade foi idealizado por uma facção política contrária à dele. (Correspondência enviada ao Sr. José Ribeiro no dia 25 de março de 1991)
No entanto, segundo padre Luiz a entrevista publicada anulou inúmeros relatos do
mesmo e o que publicou apresentou distorções que provocaram situações desagradáveis,
como a desagregação da comissão e de outros setores ligados ao projeto pró-CESCON.
Diante dessas distorções o padre Luiz enviou uma correspondência ao diretor-redator do Feira
Hoje solicitando a retificação da nota publicada e dando alguns esclarecimentos para o
mesmo. Segundo o padre o professor Felipe Cedraz citado na nota não esteve presente na
entrevista e nem o mesmo usou o nome do professor nos termos que o Jornal publicou.
Apenas disse que foi o professor Cedraz o inspirador da luta pró-faculdade em Coité. Como
também, negou a afirmação que dizia que em nenhum momento o prefeito não havia se
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empenhado, pois o mesmo na mesma matéria afirmou que o prefeito já havia doado o terreno
para a construção da faculdade e disponibilizado um prédio escolar para o funcionamento da
mesma enquanto a construção estava em andamento.
O que disse (esta na fita!) é que até o momento em que eu lancei a campanha nas ruas, nenhuma autoridade, nenhum político do município (inclusive o prefeito) se interessou pelo projeto, talvez porque trazia a marca do Deputado Misael Ferreira. Olhe que isto (início da campanha) foi em agosto de 1989. Daí pra cá o prefeito tem estado à frente de todas as iniciativas que a comissão pró-CESCON tem empreendido. Eu seria injusto e leviano se afirmasse o que o jornal publicou como sendo declaração minha e, pior, do Prof. Felipe Cedraz que sequer participou da conversa.” (grifo do autor). (Correspondência enviada ao Sr. José Ribeiro no dia 25 de março de 1991)
Padre Luiz enviou correspondência para o senhor José Ribeiro pedindo providências
cabíveis para o esclarecimento das distorções publicadas por ele, como também enviou outra
correspondência para o prefeito Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho), esclarecendo o teor
da entrevista e anexou às duas outras correspondências que enviou para o Jornal como meio
de evitar constrangimentos. Porém, tais solicitações não foram atendidas e a matéria provocou
como o mesmo relata nos ofícios, prejuízos morais na cidade “fofocas e ciumeiras de cunho
politiqueiro”, sobretudo nos trabalhos da comissão empenhada com implementação desse
centro de ensino superior.
Apesar desse cuidado em esclarecer essas distorções padre Luiz Rodrigues Oliveira
não conseguiu minimizar alguns desentendimentos com o grupo ligado ao prefeito, pelo fato
dele deixar bem claro a participação dos setores envolvidos e impedir que o poder executivo
ou outros políticos envolvidos utilizassem do CESCON como um mérito de algum partido ou
uma “obra eleitoreira”.
Esse seu envolvimento nas discussões de implementação e na sua mobilização junto a
população para a conquista da tal instituição foi interpretado pelos poderes locais como um
meio do mesmo estar buscando popularidade e prestígio junto a população para nos anos
posteriores pleitear algum cargo público dentro do município, pois um sacerdote deveria se
interessar apenas por assuntos ligados ao sagrado, a fé. Todavia, esses desentendimentos não
intimidaram a postura política do padre Luiz em mobilizar os seus fiéis na defesa de seus
direitos e em lutarem por condições melhores de vida.
Como foi comentado nos capítulos anteriores, as mudanças articuladas pelo padre Luiz
dentro da instituição religiosa, principalmente em tornar a paróquia independente
economicamente e politicamente do poder público causou certo estranhamento por parte
daqueles ligados ao grupo político dominante que mantinham certa aproximação na Igreja no
50
período dos “Bons Tempos”, ainda mais o seu envolvimento na denúncia de irregularidades
da administração pública, sendo alvo de perseguições e ameaças por esse mesmo grupo.
Ainda no ano de 1991, padre Luiz Rodrigues solicitou em um documento escrito para
o presidente da Câmara de Vereadores, Renaldo Sampaio Silva, que juntamente com os
vereadores analisasse a aprovação da lei em que aumentava os vencimentos do chefe do
executivo e do seu vice, além os dos próprios vereadores. Questionou se tal ação estava
levando em consideração a Lei Orgânica do Município e o comprometimento ético de cada
um deles com o poder público. Com certeza essa sua interferência nas decisões efetivadas por
esses representantes incomodava demais esses políticos, pois essa sua interferência era a cada
dia vista como uma afronta a ordem estabelecida e sua posição bastante diferente dos padres
que ali haviam realizado suas ações pastorais. O que causou descontentamento por parte da
população ligada ao grupo político que há mais de 30 anos governava a cidade, como
também, o próprio grupo político que encarava a postura do sacerdote como um meio do
mesmo querer o poder.
Todos nós (os senhores também) alguns até em programas radiofônicos criticamos o escandaloso aumento dos vencimentos dos deputados estaduais há poucos meses, não é verdade? Nossa memória é tão fraca a ponto de já não nos lembrarmos mais disso? (...) Todos somos cidadãos e contribuintes. O dinheiro da prefeitura não é capital de empresários, é suor e sangue do trabalhador coiteense.”(Correspondência enviada à Câmara de Vereadores pelo padre Luiz Rodrigues Oliveira no dia 20/02/1991)
Dessa forma, padre Luiz tentava implantar entre os coiteenses, principalmente aqueles
que os representavam no poder público, que assumissem novos comportamentos com a
máquina pública, comportamentos esses ligados a honestidade, a ética e a moral cristã. Além
de conscientizá-los para novas práticas sociais, como também para o melhor cuidado para
com os mais necessitados e carentes da sociedade coiteense. Seu discurso se assemelha muito
com o do padre Silvino analisado por Marinélia Souza em sua dissertação de mestrado Padre
não deve se meter em política?Conflitos de política e religião em Riachão do jacuípe/BA nas
últimas décadas do século XX que possuía um discurso carregado de signos libertários que
desqualificavam a cultura política e religiosa local.
Essas ações do padre Luiz Rodrigues estavam acontecendo dentro de um cenário
político marcado por um sistema semelhante ao coronelismo, fenômeno característico da
República Velha, baseado em relações clientelísticas e no mandonismo de chefes políticos
locais que detinham o poder político e econômico. E que em Conceição do Coité o grupo
político dominante conseguiu sua hegemonia no poder utilizando de relações baseadas na
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troca de benefícios mútuos, e pessoais, na perseguição de seus adversários e usando os órgãos
públicos como cabides de emprego.
Francisco de Assis na sua obra Na mira dos coronéis evidencia que a política
coiteense nesse período estava marcada por duas personalidades políticas, os empresários do
ramo do sisal, Hamilton Rios e Misael Ferreira. Ambos se notabilizaram pela prática do
clientelismo e iniciaram suas carreiras políticas pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA),
partido dos militares governistas, e estavam ligados aos interesses do grupo político liderado
por Antônio Carlos Magalhães, líder do “carlismo”. Dessa forma, a política coiteense estava
dividida entre dois grupos rivais da mesma base governista: ARENA 1 e ARENA 2. Com o
processo de redemocratização essa ordem não se alterou, tais grupos se organizaram em
legendas pró-governo, a ARENA 1 migrou para o Partido Liberal (PL) e o Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e a ARENA 2 para o Partido de Frente Liberal (PFL) e o Partido
Progressista Brasileiro (PPB). Este último que se mantém no poder há 36 anos.
Padre Luiz chegou a Conceição do Coité no período do governo de Ewerton Rios de
Araújo Filho (Vertinho) pertencente ao grupo político dominante ligado ao empresário
Hamilton Rios (Mitinho), grande líder político do município que lançou seu sobrinho
Vertinho para pleitear as eleições de 1988 e que acabou vencendo as mesmas. O grupo
liderado por Hamilton Rios era conhecido, e até hoje é chamado, de os “Vermelhos” sendo
detentor de uma hegemonia política que não era contestada por ser bastante querido e
possuidor de uma grande popularidade junto à sociedade coiteense. Sua oposição “os Azuis”
se formavam de quatro em quatro anos, para disputar as eleições, mas logo após serem
vencidos pelos “Vermelhos” não se opunham a liderança política de Hamilton Rios.
Oliveira em seu livro Conceição do Coité e os Sertões dos Tocós destaca que essa
popularidade do líder dos vermelhos foi alcançada a partir de sua prática assistencialista na
década de 1970. Nesse período aconteceu uma grande seca na região, no qual, o mesmo
montou um carro pipa e, interessado em votos, saiu distribuindo água nas roças e povoados,
pregando que o prefeito da situação, juntamente com seus aliados, não dava assistência ao
povo. E que durante dois anos doou inúmeros benefícios para a população carente para
conseguir seus objetivos políticos “a ponto das pessoas denominá-lo de pai dos pobres.”
Essa prática realizada pelo líder político do grupo hegemônico presente em Conceição
do Coité, como relata Oliveira, acentuava a condição de submissão do eleitorado ao mesmo
através das relações assentadas na benevolência deste e na conseqüente lealdade do eleitor,
existindo assim uma troca de favores, uma relação clientelista entre o eleitor e o chefe político
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e que muitas vezes o voto servia de retribuição a tais “favores” prestados e a não lealdade do
eleitor era vista como uma traição e uma ingratidão.
Segundo o depoente o Sr. Francisco de Assis, militante do Partido dos Trabalhadores
em Conceição do Coité, e que chegou ao município na mesma época que padre Luiz, para
trabalhar na Caixa Econômica Federal. Comenta que padre Luiz Rodrigues ao realizar sua
ação pastoral percorrendo por todo o município, visitando as comunidades rurais viu a
situação de miséria e abandono da população e começou a indagar sob quais bases essa
liderança fora constituída e por que Hamilton Rios (Mitinho) era um líder inconteste. Uma
vez que na prática, em termos de obras de assistência social, de prestação de serviços e de
desenvolvimento o município estava aquém do desejável. Pe.Luiz iniciou assim uma posição
de contestação frente a essa liderança que estava baseada em bases sociais frágeis e por isso
foi alvo de perseguição por contestar a hegemonia desse líder político no município.
Na eleição de 92, fruto disso, ele certamente encorajou as lideranças da oposição que se articulou em torno de um dissidente de Hamilton Rios, no caso Diovando Carneiro, e o padre Luiz se não apoiou formalmente, se não o levou ao palanque o Diovando Carneiro, mas de tanto falar e de tanto criticar Hamilton Rios acabou beneficiando, e muito, a candidatura de Diovando Carneiro que veio a derrotar pra surpresa de muitos Hamilton Rios nas urnas em 92. Enfim, sem padre Luiz eu acredito que seria muito difícil ou talvez impossível que Diovando teria vencido aquelas eleições. Padre Luiz era a pessoa que unia as oposições em torno da campanha anti-Hamilton Rios, o próprio Hamilton Rios e o grupo dele não esperava que alguém pudesse reagir a ele ao mando e desmando dele no município e quando padre Luis teve essa coragem. É bom a gente lembrar que padre Luiz era um sujeito muito popular primeiro porque era um intelectual, segundo porque tem um discurso muito bom, terceiro porque ele se embrenhou na sociedade coiteense. (...) Ele se envolvia nos problemas da comunidade, nos problemas do município, nos problemas sociais diversos, fazia passeatas contra a violência no município era uma liderança inconteste, e a sua liderança ainda não tinha sido combatida, o padre Luiz não tinha sofrido ainda uma campanha de difamação forte pelo grupo chamado vermelhos, cujo líder principal é o Hamilton Rios, ao perder as eleições em 92 eles despertaram pro tamanho do padre Luiz e o desgaste que ele houvera provocado no grupo foi aí que fizeram uma campanha difamatória contra o padre na tentativa de desmoralizado de persegui-lo. (ASSIS. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
Pela descrição do depoente padre Luiz teve um importante papel para a mobilização e
conscientização política contra o modo de administração dos “Vermelhos”, e por ter essa
postura política sofreu perseguições por contestar o poder hegemônico desse grupo no
município. Sem falar que suas ações serviram de base para encorajar as oposições políticas a
se articularem e enfrentarem o poder político de Mitinho a ponto de conseguirem vencerem as
eleições de 1992.
A oposição teve como candidato nas eleições de 92 o então vice-prefeito Diovando
Carneiro (Vando) que havia sido eleito nas eleições de 1988 e pertencia ao grupo - PPB/PFL
53
– legenda do grupo de Hamilton Rios (Mitinho). Vando rompeu com tal grupo em 1992 e se
candidatou a prefeitura ao lado de Misael Ferreira, liderança proveniente da ARENA 1, que
estava então filiado ao PL– “os Azuis”. Concorre com o próprio líder dos “Vermelhos”,
Mitinho, vencendo as eleições. Sendo essa até então a única derrota do grupo político
hegemônico desde 1973.
Diovando Carneiro (Vandi) conseguiu popularidade entre a comunidade coiteense,
devido os seus serviços de transportar aqueles que precisassem de acompanhamento médico
em Salvador ou Feira de Santana, foi o vereador mais votado durante as eleições de 1982 pelo
PSD apoiando a chapa de Misael oposição de Mitinho e exerceu a presidência da Câmara
entre 1985 e 1986. Em 1988, como mencionado acima, rompeu com os “Azuis” e se
candidatou a vice-prefeito de Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho), até então apenas
conhecido como “o sobrinho de Hamilton Rios”, pois não tinha atuado em nenhum cargo
político. Foi no ambiente de assistencialismo que a imagem pública de Vando foi difundida
entre a população.
Em 1992 Diovando e Misael lançam a chapa do Governo do Coração, filiados no
Partido Liberal (PL), sendo esse o slogan da campanha que fora sem muitos alardes em
comparação aos seus adversários Hamilton Rios de Araújo e Jorge Tirço que além de
possuírem uma força tradicional e econômica, possuíam um principal meio de comunicação
no período a Rádio Sisal. Assim utilizaria de todos os meios para garantir a manutenção da
máquina administrativa em suas mãos.
Devido a essa posição contrária ao grupo de Hamilton Rios padre Luiz sofreu inúmeras
hostilidades, como vimos acima. Durante o período eleitoral de 1992, precisamente no dia 25
de setembro de 1992 foram pronunciadas afirmações difamatórias sobre a postura do então
pároco num programa da Rádio Sisal devido o seu envolvimento com a política coiteense.
Eu acho que lugar de padre não é aí. O lugar de padre é na igreja. É chamando os fiéis para se aproximarem de Deus e não ficar se envolvendo em política (...). A igreja é lugar de trazer o povo para perto de Deus e pedir a Deus que resolva os problemas nossos e aqui na região e não fazer daí um antro de comunistas aí dentro desta igreja. Porque era um padre que honrava a batina que vestia. Este não está honrando. Este veio pra qui fazer política. (Processo nº 045/92 encontrado no Arquivo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité).
No trecho acima, fica claro a postura que o grupo dominante esperava de um padre, no
qual deveria se preocupar apenas com questões religiosas, ligadas a fé, deveria se dedicar na
condução dos fiéis para Deus e não para questionarem os problemas sociais da comunidade,
não deveria fazer política. Fica evidente também a concepção que esse grupo possuía a
54
respeito da política, em que os debates e problemas políticos interessavam apenas para
aqueles que representavam politicamente a sociedade coiteense, somente esses tinham
legitimidade para criticar e discutir problemas sociais dessa comunidade.
Além disso, a crítica perante possíveis irregularidades na administração pública,
muitas vezes, se dirigiam para o plano pessoal, isto é, qualquer denúncia ou crítica que o
padre ou outro cidadão realizasse para com o gestor público era interpretada como uma
agressão pessoal para o gestor e quem realizasse tal ação ou era inimigo do gestor ou aspirava
algum cargo político. Dessa forma, padre Luiz foi visto por muitos políticos como um padre
que almejava suas posições e utilizava da batina, do ser padre, para ganhar popularidade
perante a população. Sem falar que muitos féis diante dessas ações do padre contra o grupo
hegemônico saíram da instituição religiosa.
Diante dos pronunciamentos desrespeitosos dirigidos ao padre Luiz por Mitinho,
meses após sua derrota nas eleições, o Diretório Acadêmico do CESCON distribui uma Nota
Pública por toda a cidade repudiando os termos injuriosos que tal político dirigiu ao padre e
apoiando a conduta do mesmo.
Tal acontecimento é bastante semelhante com o cenário político-religioso de Riachão
do Jacuípe nos fins na década do século XX, principalmente no período do padre Silvino
analisado por Marinélia Silva. Apresentando as mesmas características e interpretações que o
poder público local teve no momento em que o pároco de Riachão em seus sermões durante
as missas começou a denunciar iniqüidades e irregularidades da administração municipal um
espaço reservado apenas para um político, não pertencente ao povo, aos trabalhadores ou aos
sindicatos.
Segundo Vanilson Oliveira, o governo de Diovando Carneiro (Vando), foi marcado
por desentendimentos políticos inclusive com o vice-prefeito Misael, o que o levou a entregar
a administração municipal a um grupo de secretários oportunistas que mancharam seu nome e
o pressionaram alegando irregularidades na prefeitura. E que ao término do seu mandato o fez
cometer um ato suicida. Para Oliveira, tal candidato eleito não estava preparado para governar
uma cidade como Conceição do Coité.
Analisando o Jornal Tribuna Coiteense do período, que anos posteriores passa a se
chamar Jornal Coiteense, o governo Vando foi caracterizado por uma gestão que causou
inúmeros problemas para a população que se encontrava em total abandono e contava com
serviços públicos precários e ineficientes. E que o povo coiteense estava em tal situação
devido falta de competência desse governo na gestão pública e o seu desinteresse em resolver
os problemas sociais da região. Todavia, é interessante destacar que a postura política desse
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veículo de informação era constantemente debatida entre a população, principalmente aqueles
ligados ao governo da situação, que o considerava um meio para promover os interesses
políticos da oposição ao governo de Diovando Carneiro (Vando). E isso é evidenciado no
próprio jornal que publicava noticias a respeito desses debates e cotidianamente desmentia tal
postura. E no momento em que o grupo político ligado a Hamilton Rios (Mitinho) estava à
frente da prefeitura, tal jornal não assumia uma postura critica como no governo de Vando.
Abaixo, encontram-se relatos sobre esses debates publicados pelo próprio Jornal no período
em que Ewerton Rios de Araújo Filho (Vertinho) assumia a administração municipal.
O jornal coiteense não é da prefeitura. A prefeitura ocupa apenas duas páginas em cada edição, com fotos, para divulgar atos públicos e inaugurações. Sua contribuição é de apenas R$ 95,00 por edição com 500 exemplares, com uma vendagem de 2000 jornais, o restante é doado no dia seguinte para a população. (Jornal Coiteense, ano II, nº 45, 13 de fevereiro de 1999)
Ao analisar o Jornal Tribuna Coiteense, no momento em que apresentava a falta de
competência de Vando frente à administração municipal, publicava entrevistas realizadas com
importantes membros ligados ao grupo dos “Vermelhos”, o ex-prefeito Ewerton Rios e o
deputado estadual Emério Resedá, Nelas são comentadas os grandes feitos políticos
realizados por eles, como também, as críticas reservadas ao governo da situação, que o
mesmo não trabalha pelo progresso da cidade e enganava os pobres que a cada dia se
decepcionavam com as atitudes do governante.
Sobre a administração do atual Prefeito realmente não tem trabalho; você passa por Serrinha o Prefeito está trabalhando, em Retirolândia Trabalhando e em São Domingos o Prefeito também está trabalhando. Em Coité você PARÁ e pensa e vê o que está sendo feito em Coité, onde está sendo aplicado o dinheiro publico de Coité, mas na verdade o povo de Coité já esta consciente do erro cometido, UM GRANDE ERRO, você já pensou se fosse HAMILTON RIOS prefeito, ACM governador e EMÉRIO RESEDA Deputado Estadual, como Conceição do Coité, não estaria progredindo, mas infelizmente Coité errou em UM MINUTO e nós temos que pagar por quatro anos. (grifos do autor). (Jornal Tribuna Coiteense ano XIV, nº 89, maio de 1994, p.5).
No trecho acima, o deputado estadual Emério Resedá manifestou sua crítica ao
governo Vando acentuando que o mesmo não trabalhava para o progresso do município,
porque não fazia parte do grupo que trabalhava pelo município, sendo assim, não sabia
administrar o dinheiro público dos coiteenses e que os mesmos cometeram um grande erro ao
elegê-lo. Pois Vando não tinha segundo o deputado o apoio do governador, apesar de que
durante a campanha eleitoral cada prefeiturável pertencia a base de aliança dos partidos
governistas.
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...não dispor do apoio do governador é uma desgraça para qualquer prefeito, que, assim, ficaria manietado, impossibilitado de trabalhar em favor da cidade.[...] O ‘é
dando que se recebe’ [...] e o ‘toma lá dá cá’ estão de tal modo incorporados à vida política nacional que protestar contra isso é um ato quixotesco.” ( grifos do autor). (SANTOS.2000, p.30-31).
Percebe-se que o deputado tenta conferir como analisou Santos uma identidade aos
grupos políticos majoritários no município, o “grupo que faz” em oposição ao que “não faz”.
Desdobrando assim a rivalidade entres esses grupos políticos que de acordo com Santos
limitavam a discussão, o debate político a respeito dos problemas sociais, programas de
governo ou ideais políticos, a uma única alternativa: ser “Vermelho” ou “Azul”.
Apesar dessa vitória do grupo da oposição nas eleições de 1992, isso não significou
uma derrota do poder do grupo hegemônico presente em Conceição do Coité há 36 anos, isso
porque as mesmas bases governamentais presentes no período da gestão desse grupo liderado
por Hamilton Rios foram mantidas no período do governo de Diovando Carneiro (Vando).
Evidenciando, dessa forma que Hamilton perdeu apenas a eleição, mas as suas bases de poder
foram mantidas. Entendo que essa manutenção dos mesmos funcionários na administração
ligados aos “Vermelhos” se não foi a razão, contribuiu para que o grupo que articulou a sua
candidatura rompesse com Vando durante o seu mandato, ainda mais pelas inúmeras
irregularidades administrativas que foram descobertas e macularam o seu prestígio político
perante a sociedade coiteense.
Falando-se de Vando, o que se comenta por aí é que ele é mesmo “Vermelho” e que nunca foi “Azul”. E como exemplo estão ainda os funcionários de 2º Escalão trabalhando na prefeitura colocados por Mitinho e Vertinho, ganhando altos salários. Até mesmo na antiga delegacia ele deixou a amostra da sua cor partidária. Mais de 70 por cento da faixada da obra são de cor vermelha, não é mesmo? (Jornal Tribuna Coiteense , ano XIII, nº 78, 2º quinzena de maio de 1993,p.4).
O trecho acima publicado no Tribuna Coiteense em maio de 1993 demonstra que o
“Governo dos Azuis” não era tão azul assim, isso porque muitos funcionários do gabinete
ligados a administração municipal do governo Vando eram dissidentes do grupo de Hamilton
Rios (Mitinho) “funcionários do 2º Escalão trabalhando na prefeitura colocada por Mitinho e
Vertinho”. Acentuando assim que boa parte do seu secretariado era o mesmo do governo
tradicional dos Rios. Francisco de Assis no decorrer da entrevista fez questão de destacar essa
manutenção de funcionários da gestão anterior durante o governo de Vando demonstrando a
influência do poder que o grupo de Mitinho exercia dentro da comunidade coiteense.
57
A breve interrupção que foi uma derrota política, mas não uma perda de poder é bom que se diga isso se alguém um dia for escrever a política de Coité nos últimos quarenta anos vai dizer que o grupo que domina o município perdeu uma eleição em 1992 com a contribuição decisiva de padre Luiz, mas não perdeu o poder uma vez que a espinha dorsal do grupo foi mantida a mesma equipe de licitação, o mesmo secretariado que decidia as questões administrativas, a mesma equipe de governo que fora quase que toda ela mais de mil empregados indicados nomeados de forma eleitoreira, sem concurso, por Hamilton Rios, essa turma toda foi mantida de modo que não perderam o poder, perderam a eleição. (ASSIS. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
O Sr. Francisco de Assis no relato acima destaca que o padre Luiz fora bastante
importante para a derrota política do grupo de Mitinho, apesar de como foi discutido essa
derrota não significar uma perda de poder. Mas a importância de um líder religioso, pela
primeira vez, em contestar a forma de fazer política do grupo dos Rios, principalmente às
práticas de clientelismo característica da política local, foi fator preponderante para sua
derrota nas urnas. E por possuir essa postura, como foi discutido anteriormente, padre Luiz foi
alvo de uma campanha difamatória sobre a sua pessoa feita pela Família Rios a partir dessa
derrota em 92. Pagou o preço por essa ação.
A Srª Ivonete Baldoino, ex-secretária da paróquia que foi empregada pelo padre Luiz
Rodrigues Oliveira logo na sua chegada, afirma que o que provocou a perseguição que o
pároco de Coité sofreu foi devido a sua luta de tornar a Paróquia Nossa Senhora da Conceição
do Coité independente dos laços econômicos e políticos estabelecidos entre a Igreja e o poder
público local. Como também, os costumes presentes no cenário religioso da região, por
exemplo, a manutenção financeira da Paróquia pela Prefeitura, a celebração de missas
particulares. E isso provocava estranheza principalmente por parte do poder público que
durante muito tempo esteve presente nesses costumes.
Eu me recordo que uma vez muito antes dessa problemática todinha de processos contra a igreja e ao padre Luiz. Uma pessoa influente do cenário político coiteense, foi marcar uma missa que segundo eles de costume acontecer no seu aniversário uma missa particular e ele me disse que dissesse pra qualquer pessoa que não celebrava, que colocasse a intenção numa missa ou da sexta ou a do domingo. Mas que não poderia. Essa pessoa não se deu por vencida, mas aceitou e colocou a intenção e ao término da missa segundo a pessoa era costume ele da uma colaboração, e ele foi entregar essa colaboração eu não me lembro se foi em cheque ou num envelope com dinheiro e padre Luiz disse a essa pessoa que fosse entregar essa colaboração a secretária paroquial no caso eu por que ele não recebia porque aquele dinheiro não era pra ele e sim para a paróquia. (...) a pessoa quando foi entregar a colaboração eu sentia que essa pessoa não gostou porque ela disse assim esse padre é diferente dos outros, ela usou essa palavra, em todos os lugares os outros padres celebram e recebem a colaboração e esse aqui não (...) então eu acho que esse foi o ponto principal que levou esses conflitos políticos, mesmo porque padre Luiz não teve somente essa ação política no sentido não partidário, mas nos sentido da cidadania, e ele envolveu na elaboração da lei orgânica municipal, eu me lembro que padre Luiz foi a Câmara de
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Vereadores falar dos salários dos professores e muitas outras coisas padre Luiz estava envolvido ele não era apenas um padre de celebrar missa e sacramentos. (BALDOINO. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
Percebe-se assim no relato da Sr.ª Ivonete que os conflitos vivenciados por padre Luiz
foram devido às mudanças implementadas dentro da instituição religiosa o que acabou
desagradando aqueles que não aceitavam suas novas diretrizes. Como também, devido a sua
postura em participar das discussões políticas a respeito dos problemas sociais da
comunidade, pois em momento algum se intimidou com as calúnias que eram proferidas a sua
pessoa, como evidencia os depoentes, uma postura política bastante madura e esclarecida,
entendendo o espaço político como sendo um direito de todo cidadão.
Nos relatos dos depoentes fica claro também que a contestação mencionada por padre
Luiz Rodrigues sobre as irregularidades da administração municipal em seus sermões durante
as celebrações na igreja, possibilitou que grupos políticos e movimentos sociais, como o
Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) e o Partido dos Trabalhadores (PT), que também
não concordavam com o modo de fazer política da Família Rios se juntassem a essa
mobilização empreendida pelo sacerdote na luta por melhores condições de vida. Ainda mais,
pela conscientização política da comunidade coiteense frente à política clientelista
empreendida pelo poder local.
O padre Luiz estimulou lideranças do Partido dos Trabalhadores, o padre Luiz deu oportunidade, visibilidade a algumas lideranças do partido e eu posso me incluir nisso, houve um programa de debate da TV Cultura e ele nos convidou a mim e a Joilson (...) dois notórios petistas embora o PT fosse pequenininho ainda e pouco influente no município, com o padre Luiz o PT começou a ter visibilidade, as lideranças do PT se sentiram a vontade pra se organizar se articular se apresentar, levar suas propostas para a sociedade, ele contribuiu muito para a ascensão de algumas lideranças do PT de Conceição do Coité entre os quais em me incluo. (...) o exemplo que ele dava de participação na vida social do município e o incentivo que ele promovia para as lideranças do partido dos trabalhadores fizeram com que ele possa ser com justiça, considerado uma pessoa que contribuiu para as causas das oposições e do partido dos trabalhadores em especial (...) a amizade dele com Waldir Pires o tornou mais petista, ele nunca foi pestista embora ele tenha sido quando chegou aqui ou já o era “waldirista” e a vinda de Waldir para o PT facilitou essa aproximação dele com o PT de Conceição do Coité. (BALDOINO. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
Semelhante a essa participação do padre Luiz Rodrigues Marinélia Souza Silva relata
que a postura de contestação do pároco de Riachão do Jacuípe contra a liderança política
ligada ao “carlismo” que governava desde 30 anos essa comunidade foi de suma importância,
pois o mesmo com os seus sermões representava o discurso de todos aqueles que estavam
descontentes com os rumos da administração pública local, articulando-se com diversos
movimentos sociais locais, como por exemplo, o STR e o MOC. Apesar de sempre ele se
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colocar apartidário, que seu trabalho era religioso e seguia as determinações da CNBB, mas
esse discurso não convencia a população, que via em suas ações um meio de satisfação de
interesses pessoais. Além disso, destaca a sua participação juntamente com seus leigos no PT.
“concebiam que as diretrizes do partido estavam afinadas com o projeto social da igreja, e acreditavam que através dele podiam contribuir para a concretização do projeto de concorrer às eleições” (SILVA.2005,p .187).
De acordo com o que vem sendo discutido a respeito do envolvimento político de
padre Luiz na comunidade coiteense, no inicio do ano de 1994 ele liderou um movimento
junto com seus paroquianos pela não realização da festa da micareta naquele ano devido à
seca presente na região, o que acabou provocando novos conflitos com o chefe político local,
que incomodado com as ações políticas do pároco e seu envolvimento com grupos de
oposição dirigiu no dia 13 de março de 1994 na Associação Coiteense Castro Alves (ACCA)
e posteriormente através do seu veiculo de comunicação, a Rádio Sisal, pronunciamentos
contra a ação do referido padre causando assim, um grande descontentamento por parte dos
fieis que articularam a circulação de uma carta aberta pelas ruas da cidade repudiando os ditos
pronunciamentos e defendendo a postura do sacerdote.
Este Sr. querendo atingir o ministro de Cristo, o Padre Luiz que tanto tem se dedicado à Igreja e ao município de C. Coité, feriu todos os cristãos-católicos; com suas palavras insolentes chamou todos os católicos de seguidores de Satanás, com suas palavras insanas, chamou todos nós ministros de Satanás (...) Sr. Hamilton, você pode ter o poder econômico, o poder de manipulação, o poder de persuasão, mas não tem o poder de mudar a HISTÓRIA DA IGREJA e de UM MINISTRO DE DEUS QUE TEM AS MÃOS LIMPAS, que não se dobrou e não se dobrará aos seus caprichos (grifos do autor).(Mensagem ao povo coiteense e da região elaborada pelo conselho paroquial de C. do Coité no dia 24/03/1994).
Perante a carta publicada Hamilton Rios (Mitinho) enviou uma carta resposta
endereçada à Paróquia de Conceição do Coité lamentando do acontecido e afirmando que em
nenhum momento teve a intenção de ofender ou utilizar para interesse pessoal a Igreja, e se
por acaso algum ato dele havia ofendido a mesma que o perdoasse. Contudo, não relatou nada
sobre o posicionamento político do pároco, porém argumentou que o verdadeiro papel da
Igreja era o de lutar pela paz e pala harmonia entre os homens.
Podemos discordar em relação a muitos pontos de vistas. Mas devemos ter sempre em mente que a violência, as guerras, as intrigas e as inimizades nos afastam do nosso Pai. Cristo ensinou que devemos amar uns aos outros. Mas nós, que somos imperfeitos falhamos muitas vezes, e muitas vezes atiramos pedras quando o certo seria perdoar e
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procurar compreender as razões alheias (Carta de Hamilton Rios para a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité no dia 03/04/1994).
Apesar desses pronunciamentos em resposta a Paróquia os conflitos entre o padre e o
líder político Mitinho não cessaram, o que aconteceu é que a partir deste ano eles acentuaram.
No mesmo ano a Festa da Padroeira da cidade foi vivenciada por um clima tenso existente
entre a Igreja e o grupo político liderado por Hamilton Rios37. Neste períodoa Paróquia
assinou um contrato com a Rádio Regional de Serrinha e a TV Cultura do Sertão para as
transmissões das missas dominicais, visto que, tal programa fora cortado da programação da
Rádio Sisal devido os sermões do pároco que despertava seus féis para atenção das práticas
clientelistas presentes em Conceição do Coité. Os anos posteriores foram marcados pela forte
presença da Igreja nas discussões políticas em que “o alvo principal da ira dos coronéis, por
ter ousado enfrentá-los, foi o pároco de Conc. do Coité, Padre Luiz Rodrigues Oliveira” 38
No ano seguinte, perante a postura política do então pároco “os Vermelhos”
realizaram uma campanha pela saída do padre Luiz da administração da paróquia indo
diversas vezes à Diocese de Feira de Santana39, encontrar-se com o bispo D. Silvério
Albuquerque40, relatando as ações políticas do padre, interpretadas como politicagem para
querer o poder. Ao mesmo tempo os leigos articularam com o apoio do Diretório Acadêmico
do CESCON um abaixo assinado solicitando a permanência do padre sendo encaminhada ao
Cardeal Primaz de Salvador com mais de mil assinaturas.
A depoente Ivonete Baldoino relatou que os representantes do Conselho Pastoral e
Econômico da Paróquia também foram ao encontro do bispo pedir a permanência do pároco
em Coité, esclareceram a posição do padre Luiz e todas as retaliações que ele havia sofrido. E
exigiam uma atitude do mesmo.
Nós pegamos todos os panfletos a gravação das falas do chefe político da época xingando padre Luiz num determinando local, pegamos tudo fizemos uma carta ao bispo e nos o fomos a D. Silvério, ele já tinha conhecimento, mas assim uma coisa paroquial, nós fomos e comunicamos isso a Diocese. Fizemos uma peregrinação em toda a Diocese, já que eles tinham o meio de comunicação e muitas vezes isso vazava por esse meio, nós também usamos de uma coisa simples que foi a nossa voz. Nós éramos em media umas trinta pessoas, mas que vinte acompanhava. (BALDOINO. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
37 Livro de Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição do Coité. p. 89. 38 SANTOS, Francisco de Assis Alves. Na mira dos coronéis : cartas a um professor coiteense. Dissertação de Pós-Graduação Latu Sensu, Especialização em Estudos Literários, UNEB – Campus XIV, 2000. p. 52 39 Diocese na qual a paróquia está na circunscrição administrativa e pastoral. 40 Bispo responsável pela ação pastoral dessa região
61
Porém, não houve nenhum pronunciamento do então bispo a respeito desses conflitos,
mas no mesmo ano ele foi substituído pelo D. Itamar Vian, vindo do oeste baiano, e que
esteve em Conceição do Coité em agosto de 1995 para presidir uma Celebração Eucarística.
Sendo a primeira paróquia a ser visitada pelo mesmo, demonstrando assim o apoio a postura
de padre Luiz Rodrigues e confirmando a sua permanência na comunidade paroquial de Coité.
Marinélia Silva em Padre não deve ser meter em política? desataca que D. Itamar
participava ativamente de movimentos sociais na antiga diocese que administrava, sendo essa
a possível causa de sua transferência para Feira de Santana, e nessa Diocese “intensificou o
movimento de setores que preconizavam o distanciamento de uma liturgia conservadora e se
aproximava de uma evangelização libertadora”.41
Durante a campanha eleitoral do ano de 1996 aconteceu o primeiro Debate entre os
candidatos a prefeitos de Conceição do Coité, organizado pelos dois importantes veículos de
comunicação do município a TV Cultura do Sertão e a Rádio Sisal. Contou com a
participação dos dois candidatos que pleiteavam o cargo do executivo o ex- prefeito Ewerton
Rios de Araújo Filho (Vertinho) PPB/PFL e o vice-prefeito da situação Misael Ferreira
PL/PSDB. Tendo a participação do padre Luiz Rodrigues como um dos entrevistadores, o que
representou para muitos um envolvimento profundo da instituição religiosa no município,
pois foi um acontecimento até então inédito nas disputas eleitorais do cenário político
coiteense e que teve uma grande repercussão em torno da população.
“O debate foi um grande sucesso está de parabéns os organizadores TV CULTURA DO SERTÂO e RÁDIO SISAL pelo exercício da democracia. O debate não houve vencedor, mas somente o povo é que ganhou, pois só assim o eleitor poderá tirar algumas dúvidas.” (Jornal Coiteense, nº 3, 30 de agosto de 1996,p.1).
De acordo com os registros do Livro de Tombo da paróquia o “clima” na cidade
durante essas eleições estava bastante tenso, ainda mais pelo posicionamento político da
Igreja de estar conscientizando a população local a respeito do voto e na participação nos
debates políticos para a mudança sócio-política da comunidade. Para isso, ela utilizou de
cartilhas editadas pela Diocese que orientavam os fiéis a como escolherem candidatos
comprometidos com a luta do povo. A utilização dessas cartilhas pela paróquia além de
contribuírem para essa conscientização serviu de base legitimadora para as ações políticas do
pároco e do novo vigário que chegou ao município, o padre Antonio Elias Souza Cedraz, pois
41 SILVA, Marinélia Souza. Padre não deve se meter em política? Conflitos de política e religião em Riachão do Jacuípe/BA nas últimas décadas do século XX. Dissertação de Mestrado, UFBA, 2005. p. 08
62
os mesmos realizavam tal ação seguindo as orientações da Igreja a nível Regional e
Diocesano.42
O padre Antonio Elias Souza Cedraz, chegou à paróquia no dia 04 de março de 1996,
coiteense, natural do Distrito de Juazeirinho, foi aceito por D. Itamar Vian para fazer uma
experiência pastoral na Diocese de Feira, no momento que estava saindo da Congregação
Salesiana43, sendo que nessa transição padre Luiz teve importante papel para a sua vinda para
a Paróquia Nossa Senhora da Conceição. Padre Elias realizou seu trabalho junto da juventude
e dando maior assistência para a Zona Rural do município, principalmente na organização das
CEB´s da paróquia, articulando inúmeras lideranças e promovendo espaços de discussão
sobre política com a Pastoral da Juventude (PJ). Deu enorme apoio a postura política de padre
Luiz, sendo um dos mais incentivadores desse processo de contestação das irregularidades
públicas, pois comungava das mesmas idéias do pároco.
Os “Vermelhos” foram os grandes vencedores dessas eleições, conseguiram retomar o
cargo do executivo e reafirmaram sua posição na Câmara Municipal.
A vitória retumbante em 1996 não foi bastante para o PPB-PFL coiteense. Seus líderes e aliados, em vez de se darem por satisfeitos e irem comemorar com sues eleitores, estranhamente, passaram a hostilizar e perseguir seus adversários. Nas ruas, faziam provocações e exibiam faixas ofensivas contra quem não votara neles; na imprensa, davam declarações arrogantes e insultantes. (SANTOS, 2000,p. 48)
Como evidenciado acima, quem foi o centro dessas hostilidades foi o padre Luiz
devido o seu posicionamento político de oposição ao grupo de Hamilton Rios (Mitinho), e
durante a semana das comemorações foi alvo constantemente de ameaças e xingamentos. No
dia 04 de outubro de 1996, à noite, a casa paroquial foi depredada e tentaram invadi-la para
“linchar” o padre. Em meio à tamanha confusão havia um grande boneco vestido de padre e
um grande estilingue proferindo palavras de baixo calão, atingindo dessa forma a moral do
pároco e fazendo ameaças ostensivas. No outro dia a igreja matriz foi invadida por um
desconhecido trajado de vermelho que, em atitude desrespeitosa provocou mal estar às
senhoras que lá estavam. No dia 06 de outubro do mesmo ano outros indivíduos tentaram
tumultuar a celebração da missa e colocaram um cachorro vestido de padre na igreja matriz,
no final da celebração a igreja foi invadida por cidadãos que ate portando paus desejavam tirar
satisfações com o padre.44
42 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité. p. 90 43 Congregação Religiosa Masculina nascida oficialmente no dia 18 de Dezembro de 1859, em Turim, sendo fundada por D. Bosco. 44 Mensageiro ano III nº 5 Julho de 1997
63
Era o auge do fascismo extemporâneo, anacrônico e covarde. Era a dor da consciência dos que não sabendo rezar não entenderam a mensagem do amor que se faz viril; da verdade que se torna denúncia; da religião que é profecia. (Jornal O Mensageiro ano III nº 5 Julho de 1997, p.1)
Iniciava assim um período de extremo desgaste para o padre e seus seguidores. A
missa das 8h da manhã do dia 6 de outubro de 96 foi o ponto inicial para o desenrolar de um
processo judicial contra o padre Luiz Rodrigues devido a seus discursos sobre a situação
política que era vivenciada. De acordo com as fontes analisadas, Livro de Tombo, Cartas dos
Conselhos da Paróquia, depoimentos orais e textos jornalísticos, sete vereadores Adauto
Ferreira Mota, Aldomir Mota Mascarenhas, Cláudio Resedá, Francisco Apolônio Ferreira,
Casemiro Santos Ramos, Edevaldo Santiago Ramos e Sínima Maria Oliveira Silva
apresentaram o Voto de Repúdio na Câmara Municipal no dia 19 de outubro de 1996 para o
padre Luiz Rodrigues devido a seus discursos pronunciados na igreja matriz, segundo os
autores, o padre havia agredido moralmente todo o povo coiteense com os seguintes trechos
citados no referido voto:
Talvez os vingateiros homicidas estejam dentro da própria Igreja. Existe um grupo organizado de assassinos em potencial, que se coligaram e se organizaram para nos destruir. Este grupo tem várias facetas, ele manifesta de várias maneiras e em várias ocasiões e eu sou o alvo principal. O pior é que a gente pode até dizer: as cachorras também. E são senhoras. Por trás dessa cachorrada tem senhoras. Tem senhores e senhoras ilustres que desceram ao nível de cachorros e cachorras. (Processo nº 068/96 no fórum Durval Pinto da comarca de Conceição do Coité / Ba.).
O referido voto foi aprovado no dia 04 de novembro/96 pelos mesmos vereadores que
dois meses antes concederam o título de Cidadão Coiteense ao padre Luiz por unanimidade, e
requeriam que o presente voto ao repudiado fosse amplamente divulgado nas instancias
superiores da Igreja e nos mais diversos meios de comunicação social. Além desse voto, os
mesmos vereadores moveram uma queixa-crime no fórum local contra o padre Luiz porque os
pronunciamentos haviam ofendido com difamação e injúria tais vereadores.
Prosseguindo a análise das fontes, principalmente àquelas ligadas a instituição
religiosa, os vereadores que moveram os mencionados atos acima referidos haviam distorcido
e descontextualizados tais pronunciamentos do sacerdote, pois naquele dia ele havia realizado
sua reflexão embasada num texto bíblico do Evangelho de Marcos 12, 1-12; Matheus 21, 33-
46 e Lucas 20, 9-19 que se referem à Parábola dos vinhateiros.
64
“Eis os fatos: no dia 06 de outubro/96, comentando o Evangelho do dia o padre disse “... vou girar a profecia para dentro da Igreja ...” “... talvez os vinhateiros homicidas estejam dentro da própria Igreja...” em outro momento falou-se de assassinos em potencial. Vejam a que ponto chegam o fabatismo e a cegueira: trunca-se uma reflexão embasada num texto bíblico (cf. Mc. 12, 1-12; Mt. 21, 33-46 e Lc. 20, 9-19) e a transforma numa peça de processo criminal. O fato torna-se ainda mais grave em se tratando de um texto sagrado, Palavra de Deus! Nem no texto citado nem na homilia do padre existe a expressão “vingateiros homicidas”, conforme consta da petição da queixa-crime (fl. nº 02), mas vinhateiros homicidas. Descontextualizaram a homilia suprimindo a expressão “... talvez os vinhateiros homicidas estejam dentro da própria Igreja.( Jornal O Mensageiro, ano III, nº4 , junho de 1997,p.1).
O fragmento acima foi retirado do informativo da paróquia O Mensageiro do mês de
junho/1997, sendo que em nove edições foram publicadas matérias acerca do processo que o
padre Luiz respondeu intituladas de “A História de um Processo”. Nas publicações percebe-se
a preocupação de esclarecer a população sobre o que havia motivado esses vereadores a
moverem tal ação contra o pároco. Demonstram também que a postura política do mesmo
estava fundamentada nos Evangelhos sempre fazendo alusão dessas perseguições com as da
própria Igreja, e o mesmo estava pagando o “preço” por ter falando a verdade e denunciado as
irregularidades da gestão pública diferente de muitos que se tornaram subserviente com o
poder político local.
Mas além dessa queixa crime, no mesmo período a Igreja Católica local se mobilizou
contra o Projeto de Lei nº181/96 de autoria do vereador Cláudio Resedá que revogava a Lei
Municipal nº 01/87, assim a data da micareta da cidade voltaria a ser realizada a partir do
Sábado de Aleluia. Os católicos contrários a tal projeto se organizaram e foram até a Câmara
Municipal pressionar os vereadores para a não aprovação do referido projeto, da mesma
forma que anos atrás se mobilizaram para a aprovação da Lei Municipal nº 01/87 que fixava a
data da micareta para o sábado depois do Domingo de Páscoa para tal festividade não
atrapalharem as celebrações da Semana Santa.
Em contra partida, o jornal local Coiteense em artigos publicados, dizia que a
hostilidade que o padre estava vivenciando era devido às provocações que o mesmo realizava
de domingo a domingo em seus sermões com palavras inadequadas para um padre proferir. E
em seu editorial no dia 13 de dezembro de 1996 trazia o seguinte título “Da derrota e da ira de
Luiz” mencionando que o pároco estava sendo contrário a verdadeira missão de um sacerdote,
que era o de promover a paz e os ensinamentos de Cristo a compaixão, o perdão, a
solidariedade e o amor entre os irmãos. O mesmo estava semeando a discórdia por estar a
serviço de um grupo político que havia perdido as eleições e o mesmo não sabia reconhecer
sua derrota.
65
Realmente o tempo é o senhor da razão e já se vão aqueles tempos em que este senhor era tratado como herói, representante da coerência, da moralidade e do bom senso. No passado, eram poucos aqueles que desconfiavam dessa máscara de bom homem e bom pastor. Agora, a verdade é mais que evidente. Mas perguntamos, quem provocou a queda da máscara? Respondo com a frase de um amigo: ’O mal por si próprio se destrói.(Jornal Coiteense nº XII, 13 de dezembro de 1996, p.2).
O posicionamento antagônico dos jornais (apesar deles claramente definirem seu
posicionamento) a respeito da postura do padre demonstra o quanto à ação política do
sacerdote era um divisor de opiniões entre os coiteenses, é evidente que aqueles que estavam
ligados a Igreja e próximos do sacerdote - como àqueles que faziam oposição ao grupo dos
“Vermelhos”- eram defensores dessa ação liderada pelo padre Luiz, e que o mesmo seguia as
orientações do Vaticano II e da CNBB. Contudo, o que chama atenção é que essa participação
dos fiéis era sustentada não só por estar ferindo a Igreja, mas porque o padre estava
sustentando os ensinamentos da justiça social. E muitos que estavam ligados a prefeitura, que
tinha algum emprego público, não podia apoiar abertamente a postura do sacerdote, com
medo e receio de perderem seu cargo ou sofrerem algum tipo de retaliações, mas
discretamente admiravam a postura e honestidade do sacerdote.45
Esse posicionamento antagônico também teve seus reflexos na Câmara Municipal isso
evidenciado pela recusa da presidenta da Câmara Eliana Cirino em dar a publicidade pedida
pelos vereadores que queriam que o voto de repudio fosse comunicado às instituições
eclesiásticas desde a Paróquia de Coité até o Vaticano, à imprensa desde as locais até a revista
Veja.46. Por essa recusa a presidenta da Câmara respondeu a um mandato de segurança junto à
justiça local e por não ter cumprido chegou a ter decretada sua prisão preventiva.
A depoente Ivonete Baldoino destacou que o período do processo levantado contra o
pároco foi o momento mais acentuado do conflito entre Igreja e poder político iniciado logo
na chegada do padre Luiz, em que o mesmo rompeu com os laços estabelecidos entre as duas
instituições como analisado no segundo capítulo, isso devido a grande mobilização dos
envolvidos em defender suas posições e a articulação que os paroquianos tiveram no apoio ao
padre processado durante suas audiências.
O processo foi à gota d’água de tudo, mas ainda porque o processo não veio por uma pessoa de fora ele veio por uma pessoa que estava próximo da gente que era uma pessoa de muita vivencia de fé. (...). houve uma divisão isso não resta dúvida (...) pessoas ligavam e ameaçavam constantemente o padre Luiz, foi um tempo de tortura, que nem tudo se poderia ser passado para o padre Luiz, quando era uma ameaça de
45 Entrevista realizada com a SrʚIvonete Baldoino em 19/12/2009. 46 Jornal O Mensageiro outubro de 1997
66
morte eu tinha que dizer a ele, era algo de meia a meia hora, me parece que até organizado, as vezes as vozes eram as mesmas e os horários. Nossas idas ao fórum, todos os dias encontrávamos na igreja, antes da audiência íamos juntos, isso esta gravado na minha memória, era fé misturado com um sentimento de revolta, essas caminhadas, que a gente dizia, de caminhada penitencial da igreja para o fórum, do fórum para a igreja, pra ali agradecer, a igreja cheia de gente aquele povo todo sentido. (BALDOINO. Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
O primeiro trecho da depoente mostra a revolta e indignação dos leigos envolvidos na
paróquia ao saberem do processo, ainda mais pelo fato do vereador Adauto Mota um dos
autores da queixa crime ter uma aproximação com a igreja local, que por muito tempo
participava das pastorais da paróquia chegando a atuar na liderança de alguns em anos
anteriores. Em analise das atas da Câmara Municipal freqüentemente nas audiências entre o
período para a aprovação do Voto de Repúdio demonstra a insistência do então vereador para
a expedição do Voto.
O vereador Adauto Mota citou mais uma vez a expedição do Voto de Repúdio ao Pe. Luiz Rodrigues Oliveira, aprovado na sessão do dia 04, relativo ao tratamento dado por Pe. Luiz a comunidade. (144 º Ata da sessão ordinária da atual legislatura da Câmara municipal no ano de 1996).
No depoimento acontecido no dia 18 de dezembro de 2009 o Sr. Adauto Mota
comentou que apesar de ser um dos autores do processo não tem nada contra a pessoa do
padre Luiz Rodrigues, apenas não concordava com algumas atitudes dele, principalmente o
envolvimento da igreja com a política e que o tal processo foi um mal entendido político.
O processo pra mim foi algo muito desgastante, porque militante da igreja, estava a frente de pastoral de movimento e subitamente me deparo numa situação em que eu possuía um cargo político, e na época da retirada do titulo de cidadão de padre Luiz, isso nos contivemos, mas a questão do processo por conta das colocações do padre Luiz com relação aos vereadores essa não consegui porque feriu , o pessoal se sentiu ferido e na hora da elaboração do documento para o fórum e por conta da ordem alfabética saiu primeiro o meu nome (...) mas acontece que a especulação deu por conta de mim que eu tinha sido o autor disso mas não foi verdade, porque a relação que foi tirada saiu primeiro o meu nome que vinculou foi o meu então ficou claro pra muita gente que foi eu que encabeçou, mas infelizmente não. Venho uma pessoa anti-carlista na época prevalecia aqui e ate hoje prevalece então na época não deu outra, foi os carlistas contra padre Luiz ,porque padre Luiz levantava a bandeira do anti-carlismo e ele tinha lá suas razões e eu não vou tirar jamais nem tão pouco condená-lo por isso, mas como na época eu também participava de um grupo que era carlista, mesmo contra certas decisões tive que assinar.(MOTA. Entrevista concedida em 18 de dez./2009).
Diante desses acontecimentos os leigos enviaram cartas para instituições religiosas e
para alguns políticos da época relatando das hostilidades que o padre estava recebendo devido
67
a sua postura política e o acompanharam em todas as audiências sobre o processo levando
faixas, cartazes e rezavam em frente do fórum em apoio ao pároco. E em muitos momentos
enfrentaram violentamente as provocações de pessoas ligadas ao grupo político dos
vereadores que moveram a queixa crime que também estavam presentes nas audiências com
suas bandeiras vermelhas, “era uma verdadeira guerra” como afirma a depoente Srª Ivonete
Baldoino.
E o reflexo dessa “guerra” foi percebido durante a festa da padroeira da cidade do ano
de 1996 em que depois de realizada a procissão algumas pessoas ligadas ao grupo dos
“Vermelhos” tentaram violentar fisicamente o sacerdote devido “aos seus pronunciamentos
voltou a desagravar ações de alguns vereadores” 47
A Diocese na pessoa do bispo D. Itamar Vian juntamente com outros bispos, padres e
religiosos publicaram no Jornal A Tarde uma moção de solidariedade ao padre Luiz
Rodrigues devido a sua postura corajosa de enfrentar todas as audiências do processo.
“Estamos conscientes de que a causa principal dessas perseguições é a fidelidade evangélica,
o compromisso profético inerentes à sua missão sacerdotal.” 48 Sendo que no dia 18 de janeiro
de 1997 havia presidido uma celebração eucarística em Conceição do Coité em solidariedade
ao padre devido os apelos de outros padres da diocese. A paróquia recebeu inúmeras cartas de
solidariedade ao padre Luiz vindas de diversos lugares, como por exemplo, Lorena/SP, São
Paulo, Brasília e Salvador evidenciado assim a repercussão que esses conflitos tiveram não
apenas para a comunidade coiteense, mas ultrapassaram os seus limites.
No dia 11 de março 1997 tais processos foram anulados por sentença da então Juíza de
Direito, porém os mesmos vereadores entraram com nova queixa via Ministério Público no
dia 20 de março/1997 cuja audiência seria no dia 17 de junho/1998, mas antes de sua
realização os vereadores encaminharam uma petição ao Juiz de Direito da Comarca
solicitando a extinção do feito.
Padre Luiz Rodrigues Oliveira permaneceu na administração da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité ate o ano de 2000, e mesmo vivenciando esses conflitos
políticos no período dos processos que perduraram até finais do ano de 1998, não se intimidou
em continuar tendo a mesma postura de envolvimento com a vida política do município desde
a sua chegada, como foi analisado. Em conscientizar a população coiteense a participar das
discussões políticas, a se comprometerem nesse espaço como cidadãos ativos e atentos às
47 Jornal Coiteense nº XII, 13 de dezembro de 1996, p.2 48 Jornal A Tarde 09.12.1997
68
“armadilhas do poder” e para isso utilizou de diversos meios o primeiro na via da educação e
daí por diante do rádio, da TV, do jornal e do espaço eclesial.
Penso que as ações de padre Luiz proporcionaram não apenas mudanças a nível
político e social, mas contribuiu muito para a formação de uma nova concepção da política no
meio da comunidade coiteense. Desmistificando uma cultura presente na mesma de que
apenas os políticos que elegemos têm o direito de estarem discutindo e participando da vida
política, apesar de muitos ainda possuírem essa mentalidade, mas sim todos os cidadãos, até
mesmo sendo um padre, devem estar presentes e promover discussões políticas para a
melhoria de sua sociedade.
Como foi percebido o objetivo central desse capitulo foi narrar a reação da população
coiteense ligada a Igreja e ao grupo político dominante, como também dos políticos frente à
oposição política assumida pelo padre Luiz Rodrigues representante da Paróquia Nossa
Senhora da Conceição do Coité dentro da perspectiva de mudança que o pároco implementou
na instituição religiosa, bem como, a sua interferência na política coiteense que foi
interpretado por muitos como um meio do padre utilizar “sua batina” para querer conquistar
algum cargo político no município.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
No ano dia 04 do mês de fevereiro do ano de 2001 chegava a Paróquia Nossa Senhora
da Conceição do Coité o novo pároco o Padre Antonio Elias Cedraz, vindo da Paróquia
Sagrada Família da cidade de Valente. Ele já havia trabalhado com o padre Luiz Rodrigues
durante o período de 1996 a 1998 para administrar a paróquia devido à transferência do padre
Luiz para o Seminário Diocesano Santana Mestra em Salvador onde iria ser reitor, cuidar da
formação dos futuros padres da Diocese de Feira de Santana. Com certeza aqueles que no ano
de 1994 iniciaram uma campanha para a saída do mesmo da referida paróquia estiveram
satisfeitos com a sua transferência, mas tinham a certeza também que o novo pároco Pe. Elias
iria dar continuidade aos trabalhos feitos pelo padre Luiz Rodrigues, inclusive na sua relação
com o poder político local.
A despedida do Pe. Luiz foi marcada com homenagens e agradecimentos,
principalmente, por ter mobilizado a comunidade eclesial na construção em mutirão do Centro
Comunitário, “o sonho que iniciou no dia 11 de fevereiro de 1998” 49·, sendo este o marco da
ação pastoral e o empenho administrativo do período que o padre Luiz permaneceu durante
onze anos nessa paróquia e que foi inaugurado no dia 08 de dezembro de 2000.
Perante a sociedade coiteense padre Luiz foi visto e interpretado sob diversos
“ângulos” um padre honesto, polêmico, educador, político, baderneiro, provocador... Devido
as suas ações e seu envolvimento com a política suscitou vários olhares a respeito da sua
pessoa e do seu ministério sacerdotal.
Para os leigos o padre Luiz foi um exemplo de coragem e integridade. Um defensor
dos bons princípios e um anunciador da verdade, devido a sua postura de denunciar as
irregularidades da administração municipal e de defender a justiça e os mais necessitados,
principalmente daqueles envolvidos pela ignorância política. Nos relatos destes leigos e nas
inúmeras cartas escritas sobre a pessoa do pároco, o mesmo é visto como sendo aquele que
libertou a paróquia da subserviência que a mesma possuía com o poder público municipal. Na
qual, se encontrava passiva frente aos problemas da comunidade e dela mesma, um desses, a
dependência econômica.
Tais leigos enfatizam muito o empenho administrativo do padre Luiz em reestruturar a
paróquia, contratando novos funcionários, informatizando a secretária paroquial, catalogando
todo o patrimônio da paróquia, fortalecendo o dízimo e assumindo diante dessas arrecadações
49 Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité.p. 102 v.
70
total transparência ao disponibilizar para todos os balancetes mensais da paróquia. Descrevem
também sua dinamização pastoral com os leigos investindo na formação e reestruturação de
pastorais, grupos e movimentos. Seu empenho na organização das Festas da Padroeira que
passaram a ter uma dimensão de valorização da cultura regional e aumentaram as atividades
para uma maior participação dos leigos e sua vontade de não querer trabalhar sozinho, mas
contando com o Conselho Pastoral e Administrativo que não apenas possuía a função de
aconselhar seu trabalho, mas que teve segundo os depoentes uma profunda participação nas
decisões a respeito dos rumos da paróquia.
Vários relatos destacaram a participação do padre Luiz na mudança do cenário sócio-
político coiteense devido a sua participação na vida política do município, um dos
responsáveis pela elaboração da Lei Orgânica do Município e outras atividades educativas e
culturais. Como também sua conscientização para que os fiéis compreendessem o verdadeiro
papel do ser político.
Os poderosos não entenderam a postura do novo pastor que buscava conscientizar os menos esclarecidos do verdadeiro sentido da política. Nas suas pregações, orientava-nos no sentido de que a conversão política consiste em procurar nos acontecimentos que pode se verificar no mundo, um valor permanente que pode identificar-se com a libertação. E que uma conversão política supõe e exige reflexão, uma pesquisa que não se realiza só teoricamente, mas na ação. (Carta do Conselho Pastoral do dia 01 de fevereiro de 1997)
Além disso, muitos relatos dos entrevistados destacaram a segunda opção de vida do
padre Luiz: Educar. Relataram inúmeras iniciativas educacionais promovidas por padre Luiz
Rodrigues, como a formação do Educandário Divino Mestre. O exercício do magistério no
Colégio Polivalente da rede estadual de ensino onde ministrou aulas para formação de futuros
professores do município e um dos fundadores do Curso de Magistério no Colégio José
Ferreira no distrito de Salgadália. Sua luta juntamente com alguns leigos para a
implementação do CESCON e suas idas a Câmara Municipal para denunciar os mínimos
salários que os professores municipais recebiam.
Para aqueles que viam a participação do padre Luiz na vida política do município
como meio do mesmo querer conquistar prestígio para no futuro pleitear algum cargo político,
padre Luiz era uma ameaça para o poder estabelecido que incomodados com a sua ação
política iniciaram uma campanha de difamação e perseguição ao padre devido os seus
discursos que denunciava as relações clientelistas presentes nessa comunidade. Sendo alvo de
vários processos e inúmeras ameaças sendo que não classificaram a postura do mesmo como
71
sendo de um religioso que seguia as orientações dos ensinamentos cristãos e nem as da sua
instituição, mas que estava a serviço do grupo de oposição.
O líder político ele ganhou um espaço, cujo espaço ele tenta manter, sob pena de perder qualquer fatia, na próxima eleição, ele já perdeu a eleição. Chega Pe. Luiz com as suas idéias revolucionárias vendo, ditando as coisas como devem ser na política e no mundo público administrativo, e ele direcionava, e tudo que ele dizia era certo então tava conquistando, ai cá o líder maior político não, vamos cuidar disso ai porque se não a gente vai perder campo e ele ta querendo é se aparecer pra poder ser um provável candidato, eu acho falho isso um entendimento muito pequeno muito raquítico por não ter a capacidade de alcançar o objetivo maior que padre Luiz queria na época. (MOTA. Entrevista concedida em 18 de dez./2009).
Para aqueles que estavam insatisfeitos com o modo de fazer política e com os rumos
que a administração municipal estava vivenciando durante a gestão da Família Rios, o
discurso do padre representava a voz de todos esses grupos que faziam oposição a esse grupo
político presente em Conceição do Coité há mais de 30 anos. Defendiam a postura política do
padre Luiz, pois acreditavam que era necessária a continuação dessa ação pastoral do mesmo,
“pois vislumbravam nele a possibilidade de se concretizar a mudança social política de que a
cidade precisava”.50 E em torno das ações do padre e de alguns leigos, se reuniram alguns
movimentos sociais como o Sindicato dos Trabalhadores Rurais e o Partido dos
Trabalhadores que admiravam a coragem do padre em enfrentar tal estrutura, e se lançaram
nessa ação contra o poder tradicional presente em Conceição do Coité.
Percebi também, que apesar do padre ser, em muitas vezes, o alvo das hostilidades e
processos, os leigos da paróquia de Conceição do Coité tiveram papel preponderante diante
desses conflitos, pois eram os mesmos que mobilizavam as manifestações de enfrentamento
contra o poder político local e em muitos relatos defendiam que todas as injúrias sofridas pelo
padre, eram também direcionadas a eles. É claro que sem a ação desse laicato o padre Luiz
dificilmente conseguiria resistir a esses conflitos, pois quem estava mais próximo da
população conscientizando tais propostas de “uma política de libertação” eram os leigos e
muitos eram ligados a movimentos sociais e partido políticos, como por exemplo, do STR e o
PT.
Diante dessas inúmeras visões suscitadas pelas atitudes do padre Luiz Rodrigues
dentro da sociedade coiteense relatar esses conflitos vivenciados entre a Igreja e o poder
político local foi um desafio durante a pesquisa. Pelo fato, dessas memórias não apenas
estarem frescas, mas por elas serem permeadas por diversos sentimentos que pude perceber
50 SILVA, Marinélia Souza. Padre não deve se meter em política? Conflitos de política e religião em Riachão do Jacuípe/BA nas últimas décadas do século XX. Dissertação de Mestrado, UFBA, 2005 p. 160
72
durante os relatos dos entrevistados sobre esse período, em que muitos gostariam que não
houvesse acontecido. Outro desafio foi tentar organizar a amplitude de informações que foram
encontradas o que me levou a fazer a todo instante um cruzamento de fontes para que pudesse
construir uma narração próxima dos fatos relacionados a esse episódio da história política do
município.
Pude perceber nos relatos colhidos que houve muitas pessoas que resistiram frente às
mudanças propostas pelo padre Luiz Rodrigues. Muitos deixaram a Igreja, outros que estavam
anteriormente engajados nos grupos, apenas iam às missas ou somente participavam dos
encontros do grupo, para evitarem ouvir os pronunciamentos do sacerdote no altar. Por ele ser
considerado um padre político, aconteciam essas resistências e na concepção de muitos
coiteenses da época, contestar os poderosos “não era um papel bem visto”, isso era postura
daqueles que queriam tomar o poder.
Dessa forma, percebe-se que para essa população, na qual, resistiu frente à
interferência de padre Luiz na política coiteense, ser um padre político era apenas aquele que
estava fazendo oposição ao grupo da situação. Se for uma política de situação, de bajulação
dos poderosos, muitos não interpretavam isso como sendo política, não concebiam que
também era política aquele que se aliava ao poder dominante e participava de uma troca de
favores, como muitos padres anteriores a padre Luiz Rodrigues Oliveira fizeram.
Como a política de padre Luiz era uma política de libertação de conscientização, de
chamamento a reflexão sobre o que acontecia na vida política do município, padre
Luiz ficou mais identificado pela população como sendo um político. (ASSIS.
Entrevista concedida em 19 de dez./2009).
73
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Documentos da Paróquia
- Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Coité – 1955; 1963; 1965;
1966; 1970; 1971; 1973; 1989; 1990; 1991; 1992; 1993; 1994; 1995; 1996; 1997; 1998; 1999;
2000.
- Correspondências Pastorais 1989; 1991; 1992; 1993; 1994; 1996; 1997
Arquivo da Câmara Municipal de Conceição do Coité
- Atas da Câmara Municipal 1996; 1997
Arquivo do Centro de Memória Documental de Conceição do Coité
- Processo nº 068/96 no fórum Durval Pinto da comarca de Conceição do Coité / Ba.
2. FONTES IMPRESSAS
Jornais
- O Mensageiro 1991; 1992; 1993; 1997; 1998
- Tribuna Coiteense 1987; 1988; 1989; 1990; 1991;1992; 1993;1996
- O Coiteense 1996; 1997; 1998; 1999.
- A Tarde 09.12.1997
- Feira Hoje do dia 21 de março de 1991
3. FONTES ORAIS
- Entrevista com o Padre Luiz Rodrigues Oliveira ex-pároco de Conceição do Coité em
19/09/2009, no Centro Comunitário, em Conceição do Coité..
- Entrevista com a Sr.ª Ivonete Baldoino ex-funcionária da paróquia e leiga da paróquia.
em 19/12/2009 na sua residência, Conceição do Coité.
- Entrevista com o Sr. Francisco de Assis Alves dos Santos militante do Partido dos
Trabalhadores de Conceição do Coité em 19/12/2009 na sua residência, em Conceição do
Coité.
- Entrevista com a Sr. ª Maurita Mota ex- conselheira pastoral da paróquia na casa da sua
mãe em Conceição do Coité.
- Entrevista com o Sr. Adauto Mota ex- vereador e leigo da paróquia em 18/12/2009 na
Gráfica Tipopel, em Conceição do Coité.
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4. FONTES BIBLIOGRAFICAS
SANTOS, Francisco de Assis Alves. Na mira dos coronéis : cartas a um professor
coiteense. Dissertação de Pós-Graduação Latu Sensu, Especialização em Estudos Literários,
UNEB – Campus XIV, 2000.
SILVA, Marinélia Souza. Padre não deve se meter em política? Conflitos de política e
religião em Riachao do Jacuipe/BA nas últimas décadas do século XX. Dissertação de
Mestrado, UFBA, 2005.
OLIVEIRA. Vanilson Lopes. Conceição do Coité: Os sertões dos Tocos. Conceição do
Coité: Clip Serviços Gráficos, 2002