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Page 1: PAF

Ricardo Correia Bioquímica

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Amiloidose

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Índice

Introdução…………………………………………………………………….. 2 Bases moleculares da PAF………………………….…………………...… 6 Manifestações……………………………………………….……………… 12 Diagnóstico………………………………………………………………….. 14 Tratamento…………………...……………………………………………... 16 Conclusão………………...…………………………………………………. 18 Resumo…………………………………………………………………..….. 19 Bibliografia………………………………………………………….......…… 20

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Introdução

A amiloidose pode ser definida como a deposição extracelular da proteína

fibrosa amilóide num ou mais locais do corpo.

O amilóide é amorfo, eosinofílico, extracelular e de distribuição ubíqua. Os

órgãos afectados apresentam consistência elástica e um aspecto céreo,

rosado ou cinza. O aumento dos órgãos, especialmente do fígado, dos rins, do

baço e do coração, pode ser proeminente.

Ao exame microscópico, o amilóide adquire uma coloração rósea com a

hematoxilina-eosina e mostra metacromasia com cristal violeta (isto é, cora-se

com cor diferente daquela que cora os demais tecidos). Em vez de verde ou

roxo cora de vermelho aos corantes verde metileno, violeta de cresila e violeta

de genciana. O melhor corante para a identificação do amilóide é o vermelho-

congo produzindo a sua coloração uma birrefrigência esverdeada peculiar (as

vezes vermelha ou azul amarelada) quando os cortes examinados no

micorscópio de polarização, sendo este o procedimento mais útil para

estabelecer a presença de amilóide, e ao exame com ultra violeta mostra uma

fluorescência avermelhada.

Biopsia de língua corada por

hematoxilina-eosina: substâncias

róseas distribuídas entre fragmentos

musculares sugerindo substância

amilóide.

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Todos os tipos de amilóide humano consistem em fibrilas finas, rígidas e

sem ramificação que, nos cortes teciduais, medem cerca de 10 x 10-9 m

Biopsia de língua corada com

vermelho Congo: birrefringência

no microscópio com luz

polarizada.

A) Biopsia cardíaca corada com vermelho Congo específico para substância amilóide (a substância

amilóide apresenta-se com a coloração avermelhada no interstício e ao redor dos vasos; B) biopsia

cardíaca corada com hematoxilina-eosina (a substância amilóide não se cora como se pode observar

ao redor dos vasos e no interstício; C) biopsia hepática corada com vermelho Congo mostrando a

substância amilóide em tom avermelhado ao redor dos vasos e, em menor intensidade no interstício;

D) biopsia hepática corada pela hematoxilina-eosina mostrando o infiltrado amilóide em tom claro em

torno dos vasos e no interstício (aumento 400x ).

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(100 Ǻ) de diâmetro. As fibrilas amilóides isoladas possuem um aspecto fibroso

delicado, fino e sem ramificações. A fibrila (ou filamento) individual possui um

diâmetro de aproximadamente 7 x 10-9 m (70 Ǻ) e tende a agregar-se

lateralmente. Cada fibrila (filamento) possui subunidades de protofibrilas de 3 a

3.5 x 10-9 m (30 a 35 Ǻ) de diâmetro. A difracção aos raios X de fibrilas

isoladas de amilóide revela em padrão beta cruzado, o “lençol pregueado” de

Pauling e Corey, indicando que as cadeias polipeptídicas se dirigem

transversalmente ao eixo longitudunal da amostra de fibrila. Estas proteínas

constituintes do amilóide, principalmente com aminoácidos ácidos (em

inúmeras sequências diferentes) formam peptídeos empilhados e dobrados,

isto é, adquirem uma estrutura em folha pragueada beta (“pragueamento β”),

que lhe confere a característica de resistência à degradação, formando uma

estrutura molecular em lâmina ou folha pragueada antiparalela, semelhante à

β-queratina.

Modelo de uma fibrila.

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Modelo de 4 fibrilas.

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Bases moleculares da PAF

A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), mais conhecida por “doença

dos pezinhos” ou paramiloidose, foi descrita pela primeira vez na população

portuguesa, em doentes da região da Póvoa do Varzim, em 1952, pelo

eminente neurologista, o Professor Corino de Andrade.

A “doença dos pezinhos” é uma doença neurológica, crónica, progressiva e

hereditária de transmissão autossómica dominante que afecta o sistema

nervoso nas suas vertentes motora, sensitiva e autónoma.

A Paramiloidose continua ainda a ser uma doença incurável. Pensando-se

que esta era uma doença tipicamente portuguesa, rapidamente se verificaram

outros casos por todo o mundo. Daí afirmar-se que a propagação da doença a

nível mundial ter sido feita pelos portugueses através das suas rotas de

comércio e de navegação, principalmente para a Suécia e Japão. Outra

hipótese levantada é a de terem sido os Vikings a trazerem esta doença para o

nosso país.

A PAF está associada à deposição nos tecidos – em particular nos nervos –

da substância fibrilar altamente insolúvel amilóide. As fibras de amilóide são

constituídas por sub-unidades de uma proteína do sangue que transporta

hormonas da tiróide e Vitamina A.

Em situações normais, a transtirretina (TTR) que circula no sangue é

solúvel nos tecidos, contudo, quando ocorrem determinadas mutações na TTR

que alterem a sua estrutura, por razões ainda desconhecidas, esta proteína

forma fibras de amilóide nos tecidos. A substituição de uma única base, de

valina por metionina, em posição 30 origina TTR Met 30, que é a principal

forma mutada de TTR nos doentes de PAF, em Portugal. A mutação é

transmitida de uma forma autossómica dominante. Se o progenitor for portador

heterozigótico (quase todos os casos), a probabilidade de um filho ser também

portador da mutação é de 50%. A mutação Met 30 ocorre em diferentes países

do mundo, tendo o seu maior foco em Portugal, seguido do Japão, Suécia, a

ilha de Maiorca, Brasil e Itália. A doença tem idade de início entre os 25 e 35

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anos (podendo ocorrer depois dos 50), inicia-se nos membros inferiores,

afectando a sensibilidade aos estímulos (por exemplo, térmicos), a capacidade

motora, e é fatal, com evolução média, em 10 anos.

As fibras de amilóide resultam duma alteração (mutação) no braço longo do

cromossoma 18 do gene que codifica a TTR. A substituição neste gene de um

único nucleótido (unidade estrutural dos ácidos nucleicos) em adenina por um

em guanina (bases constituintes dos nucleótidos), na posição 30, leva a que

seja codificado o aminoácido metionina (Met) em vez de valina, o qu vai

originar uma proteína com características diferentes.

Como é dominante, se os indivíduos forem homozigóticos (tiverem os dois

elementos do par do cromossoma 18 com a mutação) têm 100% de

probabilidade de transmitir a doença aos seus descendentes. Se forem

heterozigóticos (só um dos cromossomas afectado) a probabilidade desce para

50%. O facto de um indivíduo ser homo ou heterozigótico parece não agravar a

sintomatologia, havendo até casos de homozigotas assintomáticos.

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As fibras, ao serem observadas ao microscópio de luz polarizada,

aparecem esverdeadas, devido à dupla refracção da luz incidente.

Enquanto a TTR normal é solúvel no plasma

e estável nos tecidos, a mutada é solúvel no

plasma mas instável nos tecidos,

polimerizando (agregando) e formando fibras

de amilóide.

Deposição de substância amilóide num

tecido de PAF observado ao

microscópio de luz polarizada.

Substituição duma Adenina por uma Guanina, no exão 2, levando à

substituição de uma Valina original por uma Metionina na posição 30

da proteína (TTR Val30Met).

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Como existem outras proteínas com capacidade de polimerizar, quando os

investigadores observam depósitos de amilóide em tecidos, para terem a

certeza que se trata de TTR, coram-nos com anticorpos específicos dessa

proteína obtidos após injecção de TTR num animal que a reconheça como

proteína diferente.

A TTR é uma proteína tetrámera (constituída por quatro subunidades),

relacionada com o transporte da RBP (proteína de ligação da Vitamina A), de

lípidos e da tiroxina (hormona da tiróide). Se o indivíduo for homozigota, tem as

quatro subunidades mutadas, se for heterozigota poderá ter uma, duas ou três.

No entanto, se o mecanismo de deposição das fibras for o mesmo, o que ainda

está em investigação, tanto faz ser homo ou heterozigota.

Existem outras mutações na TTR, algumas das quais não patogénicas, que

estão associadas à Met 30. Em Portugal foram identificadas famílias com a

dupla mutação (Met 30 e Met 119), verificando-se que a doença aparece mais

tardiamente e a sua evolução é menos acentuada. A protecção que a segunda

mutação (Met 119) faz da sintomatologia clínica está relacionada com o facto

de, para se formarem fibras, haver necessidade da TTR se dissociar nas suas

quatro subunidades. Como a Met 30 o faz muito facilmente e a Met 119

oferece grande resistência a essa dissociação, a associação das duas atenua

a sintomatologia.

Localização de depósitos

da TTR no tecido muscular

corados com anticorpos.

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Proteína de tanstirretina (TTR) – vista lateral.

Proteína de transtirretina (TTR) – vista superior.

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Duas RBP ligam-se a um tetrámero de TTR.

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Manifestações

O acúmulo de grandes quantidades de amilóide pode comprometer o

funcionamento normal de muitos órgãos. Os sintomas da amiloidose

dependem do local onde o amilóide se acumula. Muitos indivíduos apresentam

poucos sintomas, enquanto outros apresentam uma doença grave e

potencialmente letal. A principal zona afectada pela doença são os membros

inferiores (daí o nome “doença dos pezinhos”), alastrando-se, contudo, mais

tarde, aos membros superiores e outras zonas do corpo.

A maioria dos casos começa com polineuropatia periférica (perda de

destreza motora, dor e sensação), frequentemente seguida por alguns sinais

nervosos autónomos. Relativamente às fibras motoras, verificam-se atrofias

musculares, abolição dos reflexos tendinosos e uma marcha em “steppage”. A

nível autónomo, são comuns os problemas cardíacos (desde a hipotensão

ortostática até diferentes arritmias e obstruções auriculoventriculares de

primeiro e segundo graus). A disfunção eréctil é um dos primeiros distúrbios.

Desenvolvem-se então disfunções gastro-intestinais, com graves prisões de

ventre e diarreias e, por vezes, incontinência fecal. Dificuldades nos

esvaziamentos gástricos com náuseas e vómitos são também frequentes. As

disfunções da bexiga com retenção ou incontinência estão ambas presentes

em casos avançados da doença. A proteinúria é frequentemente a expressão

do envolvimento dos rins, diminuindo a taxa de filtração glomerular e a

diminuição do despejo da creatinina. Nas fibras sensitivas é normal a perda

progressiva da sensibilidade, começando pela dor e temperatura e depois as

sensações tácteis, vibratórias e articulares. Graças a uma das funções da TTR,

a sua anormalidade leva também a perturbações oculares.

Sinais e Sintomas da Amiloidose

Primária

Doença cardíaca e arritmia

Doença renal, incluindo insuficiência

Distúrbios gastrointestinais, como perfuração, sangramento, dismotilidade e obstrução

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Aumento do fígado ( hepatomegalia )

Redução na função do baço

Insuficiência da adrenal e outras glândulas

Neuropatia, levando a impotência, problemas gastrointestinais e hipotensão ortostática ( quando se levanta rapidamente )

Síndrome do túnel do carpo

Alterações neurológicas, como espessamento, mudança de cor, púrpura ao redor dos olhos

Aumento na língua, dificuldade respiratória e apnéia nocturna

Doenças pulmonares

Inchaço nas articulações dos ombros

Facilidade de sangramento

Secundária

Doença renal, incluindo insuficiência ( causa do óbito em 40-60% dos casos )

Aumento do fígado ( hepatomegalia )

Aumento do baço ( esplenomegalia )

Doenças cardíacas ( mais leve que nas outras amiloidoses )

Hereditária

Distúrbios do sistema nervoso

Distúrbios gastrointestinais, como diarreia e perda de peso

Doenças cardíacas

Doença renal

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Diagnóstico

O diagnóstico específico de amiloidose depende da obtenção de uma

amostra de tecido por biopsia e da demonstração do amilóide com colorações

apropriadas. No entanto, em quaisquer síndromes hereditárias, especialmente

naquelas que apresentam uma modalidade autossómica dominante de

herança e se caracterizam por neuropatia periférica, neufropatia ou

cardiopatia, deve ser aventado o diagnóstico de amilóide.

Ao suspeitar desse diagnóstico, convém realizar um aspirado da camada

adiposa subcutânea abdominal ou uma biopsia retal. Se houver alguma razão

específica para não realizar esses procedimentos, poderão ser biopsiados

outros locais, tais como pele, gengivas ou o órgão suspeitado. Todos os

tecidos obtidos devem ser corados com vermelho-congo e examinados ao

microscópio de polarização em busca de birrefringência verde.

A PAF é uma doença autossómica dominante. Habitualmente, num

indivíduo afectado ocorre a presença de uma cópia normal e de uma cópia

alterada (mutação). A cada um dos filhos o indivíduo em causa transmite um

dos genes (a cópia normal ou a mutação). O outro gene do indivíduo ser-lhe-á

transmitido pelo outro elemento do casal. Independentemente da mutação

estar presente no homem ou na mulher, da doença já se ter ou não

manifestado (até mesmo no caso do doente já ter sido submetido a transplante

hepático), de se tratar de um primeiro ou segundo filho, rapaz ou rapariga, a

probabilidade de transmitir o gene normal é de 50% e a probabilidade de

Biopsia renal corada com

vermelho Congo, mostrando o

aspecto fluorescente da

proteína amilóide.

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transmitir a mutação também é de 50%. Como forma de evitar a transmissão

da doença, os indivíduos com antecedentes familiares com PAF devem

verificar se possuem o gene mutado. A prevenção da transmissão da doença

permite aos casais em risco de terem filhos com a mutação, o nascimento de

crianças que se sabe terem dois genes normais (e por isso nunca terão a

doença nem a transmitirão a futuros descendentes).

Uma possibilidade é proceder ao diagnóstico Pré-Natal, sendo realizada

uma amniocentese às 14/16 semanas de gravidez. No caso do exame ser

positivo (confirmação da presença da mutação no feto), faz-se a interrupção da

gravidez por volta das 17 semanas. Contudo, este diagnóstico pode parecer

agressivo para alguns casais sobre o ponto de vista ético, religioso e moral.

Outra é o diagnóstico pré-implantatório. Nesta possibilidade há uma

combinação de diversas áreas da biotnecologia: fertilização in vitro, cultura de

embriões e sua biopsia, diagnóstico genético ao nível de uma única célula,

amplificação da região do gene com interesse por PCR e detecção da mutação

por análise de restrição enzimática, entre outros procedimentos. Neste método

procede-se à administração de medicamentos e a uma vigilância da mulher, à

colheita no laboratório das células da linha reprodutiva dos dois elementos do

casal, à fertilização in vitro (conhecida como a técnica dos «bebés proveta») e

ao teste dos embriões. Os embriões são criados em laboratório e ao terceiro

dia já devem ter entre 8 a 12 células. Nessa altura faz-se uma biopsia,

retirando-se duas células do embrião, sendo depois analisadas geneticamente

de forma independente. Passado 42 horas tem-se o resultado e se o

diagnóstico for negativo, o embrião é implantado no útero da mãe. Só são

transferidos os embriões sem a mutação mas a mulher só fica grávida em

cerca de 20% dos casos. Outra alternativa é a doação de gâmetas (neste caso

as células não têm origem no elemento do casal com a mutação pelo que o

filho não receberá dele nenhuma informação genética).

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Tratamento

Quando a amiloidose é causada por uma outra doença, o tratamento desta

normalmente alentece ou reverte a amiloidose. No entanto, quando a

amiloidose se manifesta em pacientes com mieloma múltiplo, as manifestações

que resultam na hospitalização inicial estão relacionados muito mais à doença

amilóide que ao mieloma. Nesses casos, o prognóstico é extremamente

sombrio, e a expectativa de vida costuma ser inferior a seis meses. A

amiloidose generalizada costuma ser uma doença lentamente progressiva que

resulta em morte após vários anos, embora possa ter um melhor prognóstico

do que se suspeitava no passado. A sobrevivência média na maioria das

grandes séries é de um a quatro anos, porém inúmeros indivíduos com

amilóide foram acompanhados por cinco a dez anos ou mais.

Não existe uma terapia específica para qualquer variedade de amiloidose.

A terapia racional deve ser dirigida para (1) reduzir os estímulos antigénicos

crónicos que produzem o amilóide, (2) inibir a síntese e a deposição

extracelular das fibrilas amilóides e (3) promover a lise ou a mobilização dos

depósitos pré existentes de amilóide. Já foram utilizados inúmeros agentes

para tratar a amiloidose, no entanto, não havendo qualquer prova da sua

eficácia.

Ainda não existe um tratamento etiológico para a polineuropatia

amiloidótica familiar. Tratando-se de um caso de amiloidose hereditária com

produção de transtiretina e, mesmo esta proteína causando lesões

neurológicas e cardíacas fatais, ela é produzida no fígado, sendo o transplante

hepático a única forma efectiva de travar a progressão da doença. O

transplante deve ser realizado antes dos 50 anos de idade, início da doença há

menos de 5 anos, sintomas localizados aos membros inferiores ou apenas

alterações dos hábitos intestinais, ausência de sinais e sintomas de

insuficiência renal ou cardíaca. A taxa de sobrevivência aos 5 anos após o

transplante hepático é de 80%.

O transplante hepático é uma hipótese terapêutica, iniciada na Suécia em

1991 e, em Portugal, pela Unidade de Transplante Hepático de Curry Cabral,

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em 1992. O objectivo desta intervenção reside na diminuição da concentração

de proteína mutada no plasma sanguíneo, já que mais de 90% da TTR Met 30

é produzida no fígado, pelo que se espera que o seu transplante pare a

progressão da doença e que assim a TTR Met 30 desaparecesse do soro.

Duas terapias têm sido usadas para reduzir os altos níveis de TTR

Met30 no sangue para prevenir futuros depósitos ou para reduzir os já

existentes: a imunoadsorção e a plasmoforese. Mas, também por não serem

muito eficazes, se olha para o transplante hepático como a melhor solução.

A “Plasmapheresis” necessita de ser repetida varias vezes por mês, o que não

é prático e leva a uma deterioração da qualidade de vida. A Imunoadsorção

levanta algumas dúvidas sobre a eficácia, custos e previsibilidade.

Está provado que a TTR Met 30 desaparece do soro dos doentes

brevemente após o transplante. Contudo, a duração da doença antes do

transplante parece ser um importante factor para a melhoria. Os casos de

sobrevivência diminuem em doentes com a doença sintomática há mais de

7anos.

Há quem defenda a praticabilidade de um transplante fígado-coração (nos

casos de disfunção dos 2 órgãos traz bons resultados). Às vezes recorre-se a

um transplante triplo: coração, fígado e rim.

A recuperação da temperatura ao nível dos pés e das mãos é breve após a

cirurgia. A recuperação da função nervosa periférica é mais lenta e limitada. A

melhoria nos distúrbios sensitivos e autónomos é observada durante o primeiro

ano após o transplante. Não foram observados melhoramentos na função

motora ou nos danos dos órgãos. Não pode ser esquecido que a TTR não é

unicamente sintetizada no fígado, sendo também sintetizada nos plexos

coroideos e na retina. A produção de TTR pelos plexos coroideos não cessa

após o transplante de fígado. Os problemas oculares são comuns e podem-se

tornar sérios após o transplante de fígado.

Têm vindo a ser estudadas algumas novas possibilidades para o futuro

para a cura da PAF, como: Fase de Priming, que consiste em impedir a

dissociação do tetrámero em monómeros, e consequentemente formação de

espécies intermediárias (potencialmente amiloidogénicas); Fase de Extensão,

inibindo a associação das espécies intermediárias e crescimento das fibras e

Fase de Disrupção, fazendo a desagregação de fibras já formadas. Outra

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possibilidade em estudo e a atenuação com a

Diethylstilbestrol (DES). A DES é um

estrogénio sintético, potente inibidor

competitivo da hormona da tiróide para a TTR.

Contém dois grupos fenil hidrofóbicos com

substituintes hidroxil ligados por um grupo

etileno, apresentando uma estrutura molecular

semelhante ao resveratrol, composto descrito

como inibidor da fibrilogénese

Conclusão

Concluiu-se que o transplante de fígado pára o progresso da doença no

ponto de evolução, sendo mesmo possível demonstrar objectivamente,

nalguns casos, regressão de lesões. Pelo contrário verifica-se que em casos

graves não há benefício com o transplante hepático, uma vez que as graves

lesões já estabelecidas nos diversos órgãos vão condicionar a evolução. Mas

coloca-se o problema de escassez de fígados para transplante. Assim,

futuramente será de esperar a possibilidade de transplantação de células

hepáticas (os hepatócitos), obtidos através de cultura de tecidos. Neste caso

não seria necessário transplantar a totalidade do órgão, permitindo mais

transplantes.

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Resumo

As amiloidoses são um vasto grupo de doenças que é definido pela presença

de depósitos de proteína insolúvel nos tecidos, sendo classificadas consoante os

sinais clínicos e o tipo bioquímico da proteína amilóide envolvida. Estas doenças

afectam, sobretudo, os rins, o coração, o aparelho gastro-intestinal, o fígado, a

pele, os nervos periféricos e os olhos, podendo, no entanto, atingir qualquer

órgão. A proteína amilóide foi assim designada por Rudolf Virchow em 1854 com

base na sua cor após coloração com o iodo (de amarronzado para azulado,

semelhante ao que ocorre com o amido). O amilóide possui singulares

características ultra-estruturais, bioquímicas e de difracção aos raios X. Agora

sabe-se que existem múltiplas formas clínicas e bioquimicamente diferentes de

amilóide que são assim classificadas em virtude da estrutura fibrosa ímpar que

todas elas possuem. O amilóide é amorfo, eosinofílico, extracelular e de

distribuição ubíqua. Os órgãos afectados apresentam consistência elástica e um

aspecto céreo, rosado ou cinza.

A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) foi pela primeira vez descrita na

população portuguesa, em doentes da região da Póvoa do Varzim, em 1952, pelo

Professor Corino de Andrade. A PAF está englobada nas amiloidoses

hereditárias, sendo uma doença neurológica, progressiva, crónica e de

transmissão autossómica dominante. A “doença dos pezinhos” é uma doença

neurológica, crónica, progressiva e hereditária de transmissão autossómica

dominante que afecta o sistema nervoso nas suas vertentes motora, sensitiva e

autónoma. A PAF está associada á deposição nos tecidos – em particular nos

nervos – da substância fibrilar altamente insolúvel amilóide. As fibras de amilóide

são constituídas por sub-unidades de uma proteína do sangue que transporta

hormonas da tiróide e Vitamina A. As manifestações da doença começam entre

os 25 e 35 anos (podendo ocorrer depois dos 50), inicia-se nos membros

inferiores, afectando a sensibilidade aos estímulos (por exemplo, térmicos), a

capacidade motora, e é fatal, com evolução média, em 10 anos.

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A Paramiloidose continua ainda a ser uma doença incurável. Pensando-se que

esta era uma doença tipicamente portuguesa, rapidamente se verificaram outros

casos por todo o mundo. Daí afirmar-se que a propagação da doença a nível

mundial ter sido feita pelos portugueses através das suas rotas de comércio e de

navegação, principalmente para a Suécia e Japão. Outra hipótese levantada é a

de terem sido os Vikings a trazerem esta doença para o nosso país.

Bibliografia

� www.icb.ufmg.br

� www.hepcentro.com.br

� www.manualmerck.net

� www.paramiloidose.com

� http://paramiloidose.tripod.com

� http://medicina.med.up.pt

� Harrison Medicina Interna 13ª edição; volume 2: 1701-1706