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SUPLEMENTO DO AÇORIANO ORIENTAL JANEIRO DE 2012 n 04 COORDENAÇÃO: GRAÇA BORGES DE SOUSA MENESES MARGARIDA FREIRE DE ANDRADE A paixão crítica, que norteia o uso da razão, ditando o seu incessante agir, propiciou a emergência de uma tradição em tudo diferente das que a haviam precedi- do, já que paradoxalmente ancorada no desejo de ininterruptamente afirmar algo distinto. Nela se funda a modernidade, definida por Octavio Paz como uma espécie de autodestruição criadora. A constante rutura com o passado tem sido apanágio de quantos, nos últimos anos, assumiram respon- sabilidades na área da educação. A ânsia de legislar, impondo reformas sucessivas, revendo-as para ajustar o que previamente deveria ter sido ponderado, reti- rando de um lado para acrescentar provisoriamente no outro, é um mau exemplo do uso da razão crítica. O ensino não pode estar refém dos vários executi- vos, ávidos de inscrever o seu nome na História da Educação. A propalada paixão de muitos pela educação, se sus- tentada por um pensamento verdadeiramente crítico, há já muito que teria consubstanciado uma revolução no verdadeiro sentido do termo. Se a atitude reflexiva nos obriga a ponderar as opções feitas, as grandes mudanças não podem estar sujeitas aos caprichos de cada tutela, que as impõe, não raro, extemporaneamente, sem que estejam reunidas as condições para a sua concretização, destruindo um edifício legislativo, sem verdadeiramente construir uma alternativa consensual. Ruturas criadoras? Certamente que não! Editorial Mudar para melhorar ou para constar? Ao Encontro do Oriente: A Aprendizagem da Serenidade Desfazer nós e criar laços Conferência Ana Cristina Gil Multiculturalismo e Globalização página Reportagem JOIDES Resolution horas a fazer Ciência avançada página Entrevista Magda Costa Carvalho Filosofia: Aprender a pensar por si página COORDENAÇÃO: GRAÇA MENESES MARGARIDA FREIRE DE ANDRADE O espaço da Biblioteca tornou-se exí- guo para acolher todos os alunos e pro- fessores que quiseram assistir à prele- ção de Pedro Soares, Mestre, Formador e Terapeuta de Reiki Tradicional, sobre a necessidade de criarmos laços não só entre nós, mas também entre o Oci- dente e o Oriente. Num tom informal, o conferencista cap- tou a atenção do público, durante mais de uma hora, apontando as diferenças abissais que separam a civilização oci- dental da oriental: a primeira rege-se pela pressa de viver, pelo consumismo desenfreado, pela "comida de plástico", pelos imprescindíveis gadgets eletróni- cos que nos ligam permanentemente ao mundo, pelo culto da beleza e da juven- tude e pelo desprezo pelos mais velhos; ao invés disso, a cultura oriental (Pedro Soares focou, sobretudo, o caso do Ja- pão, que conhece em particular) apre- senta uma perceção holística do Ho- mem, cultivando o princípio «mente sã em corpo são», privilegiando a prática do desporto, a par da meditação. Para além disso, o Oriente conseguiu a proeza de harmonizar o notável pro- gresso tecnológico com os valores an- cestrais da sociedade, assistindo-se, por isso, à manutenção de certos rituais que são vistos como sustentáculo de uma forma de ser e estar num mundo, onde, por exemplo, o ancião é respeita- do como símbolo inequívoco de sabe- doria e experiência de vida e onde todos são motivados, desde o berço, para a aprendizagem da serenidade, a fim de compreenderem o Outro. No final, Mestre Pedro Soares lançou- nos o desafio de estudarmos as práticas de harmonia e de equilíbrio seguidas no Oriente, pois indubitavelmente, te- rão um impacto muito positivo na nos- sa saúde física e mental. Opinião O Ocidente precisa de se Orientar: O que é envelhecer? A diferença entre o Oriente e o Ocidente foi o que mais me marcou nesta conferência. Aprendi que a sabedoria se ganha com o tempo e que enquanto lá os mais velhos se tornam mestres, cá tornam-se «trapos». Por isso, deveríamos refletir seriamente sobre o que é o envelhecimento. O Ocidente precisa de se Orientar! NOME: Lia Fialho IDADE: 1 anos Meditar faz bem O equilíbrio entre o corpo e o espírito Nesta conferência, aprendi que uma vida de stress e de correrias provoca danos incalcu- láveis no nosso organismo. Gostei de saber que existem numerosos estudos indepen- dentes, de universidades norte-america- nas, que comprovam a eficácia da medita- ção para curar doenças do foro psiquiátrico, ou mesmo o cancro. NOME: Laura Roque IDADE: 1 anos Karaté: De mãos vazias se chega à perfeição Nesta conferência confirmei o que já sabia desde os dez anos quando, incentivado pelo meu pai, comecei a praticar Karaté: os orientais valorizam as artes marciais, por- que são um meio privilegiado para alcan- çarmos concentração, o respeito pelo pró- ximo e a serenidade para enfrentarmos os obstáculos da vida. NOME: Rafael Duarte IDADE: 1 anos

página página página Ao Encontro do Oriente · JANEIRO DE 2012 03 A Equipa Educativa da Biblio-teca Escolar da ESLaranjeiras comemorou, no dia 13 de dezem-bro, o centenário do

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JANEIRO DE 2012

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COORDENAÇÃO: GRAÇA BORGES DE SOUSA MENESES MARGARIDA FREIRE DE ANDRADE

A paixão crítica, que norteia o uso da razão, ditando o seu incessante agir, propiciou a emergência de uma tradição em tudo diferente das que a haviam precedi-do, já que paradoxalmente ancorada no desejo de ininterruptamente afirmar algo distinto. Nela se funda a modernidade, definida por Octavio Paz como uma espécie de autodestruição criadora. A constante rutura com o passado tem sido apanágio de quantos, nos últimos anos, assumiram respon-sabilidades na área da educação. A ânsia de legislar, impondo reformas sucessivas, revendo-as para ajustar o que previamente deveria ter sido ponderado, reti-rando de um lado para acrescentar provisoriamente no outro, é um mau exemplo do uso da razão crítica. O ensino não pode estar refém dos vários executi-vos, ávidos de inscrever o seu nome na História da Educação. A propalada paixão de muitos pela educação, se sus-tentada por um pensamento verdadeiramente crítico, há já muito que teria consubstanciado uma revolução no verdadeiro sentido do termo. Se a atitude reflexiva nos obriga a ponderar as opções feitas, as grandes mudanças não podem estar sujeitas aos caprichos de cada tutela, que as impõe, não raro, extemporaneamente, sem que estejam reunidas as condições para a sua concretização, destruindo um edifício legislativo, sem verdadeiramente construir uma alternativa consensual. Ruturas criadoras? Certamente que não!

Editorial Mudar para melhorar ou para constar?

Ao Encontro do Oriente: A Aprendizagem da Serenidade

Desfazer nós e criar laços

Conferência Ana Cristina Gil Multiculturalismo e Globalização

página

Reportagem JOIDES Resolution horas a fazer Ciência avançada

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Entrevista Magda Costa Carvalho Filosofia: Aprender a pensar por si

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COORDENAÇÃO: GRAÇA MENESES MARGARIDA FREIRE DE ANDRADE

O espaço da Biblioteca tornou-se exí-guo para acolher todos os alunos e pro-fessores que quiseram assistir à prele-ção de Pedro Soares, Mestre, Formador e Terapeuta de Reiki Tradicional, sobre a necessidade de criarmos laços não só entre nós, mas também entre o Oci-dente e o Oriente. Num tom informal, o conferencista cap-tou a atenção do público, durante mais de uma hora, apontando as diferenças abissais que separam a civilização oci-dental da oriental: a primeira rege-se pela pressa de viver, pelo consumismo desenfreado, pela "comida de plástico",

pelos imprescindíveis gadgets eletróni-cos que nos ligam permanentemente ao mundo, pelo culto da beleza e da juven-tude e pelo desprezo pelos mais velhos; ao invés disso, a cultura oriental (Pedro Soares focou, sobretudo, o caso do Ja-pão, que conhece em particular) apre-senta uma perceção holística do Ho-mem, cultivando o princípio «mente sã em corpo são», privilegiando a prática do desporto, a par da meditação. Para além disso, o Oriente conseguiu a proeza de harmonizar o notável pro-gresso tecnológico com os valores an-cestrais da sociedade, assistindo-se,

por isso, à manutenção de certos rituais que são vistos como sustentáculo de uma forma de ser e estar num mundo, onde, por exemplo, o ancião é respeita-do como símbolo inequívoco de sabe-doria e experiência de vida e onde todos são motivados, desde o berço, para a aprendizagem da serenidade, a fim de compreenderem o Outro. No final, Mestre Pedro Soares lançou-nos o desafio de estudarmos as práticas de harmonia e de equilíbrio seguidas no Oriente, pois indubitavelmente, te-rão um impacto muito positivo na nos-sa saúde física e mental.

OpiniãoO Ocidente precisa de se Orientar: O que é envelhecer?

A diferença entre o Oriente e o Ocidente foi o que mais me marcou nesta conferência. Aprendi que a sabedoria se ganha com o tempo e que enquanto lá os mais velhos se tornam mestres, cá tornam-se «trapos». Por isso, deveríamos refletir seriamente sobre o que é o envelhecimento. O Ocidente precisa de se Orientar!

NOME: Lia Fialho IDADE: 1 anos

Meditar faz bem O equilíbrio entre o corpo e o espírito

Nesta conferência, aprendi que uma vida de stress e de correrias provoca danos incalcu-láveis no nosso organismo. Gostei de saber que existem numerosos estudos indepen-dentes, de universidades norte-america-nas, que comprovam a eficácia da medita-ção para curar doenças do foro psiquiátrico, ou mesmo o cancro.

NOME: Laura Roque IDADE: 1 anos

Karaté: De mãos vazias se chega à perfeição

Nesta conferência confirmei o que já sabia desde os dez anos quando, incentivado pelo meu pai, comecei a praticar Karaté: os orientais valorizam as artes marciais, por-que são um meio privilegiado para alcan-çarmos concentração, o respeito pelo pró-ximo e a serenidade para enfrentarmos os obstáculos da vida.

NOME: Rafael Duarte IDADE: 1 anos

02 JANEIRO DE 2012

Durante seis anos, a Escola Secundária das Laranjeiras foi a minha segunda casa. Instituição de natureza jovem, mas com alicerces maduros, revejo-a como um lo-cal de constantes desafios no meu percur-so escolar. Foi também um espaço de partilha, de so-nhos a edificar, lugar de amizades eféme-ras, desilusões não esquecidas, uma plata-forma para crescer.

Relembrar a Escola das Laranjeiras não é revisitar o sólido edifício que, ao longo de vinte e cinco anos, albergou centenas de jovens, então projetos do seu "eu" futuro. É, antes, lembrar com saudade sentida quem nos acolheu de braços abertos e con-tribuiu para que fôssemos, se não hoje, quem sabe um dia, o nosso "eu" melhor. Lembro com amizade os auxiliares de ac-ção educativa, presença constante e sím-bolos de ordem e dedicação. Mais do que aquilo que as palavras pos-sam expressar, guardo, com especial ca-rinho, os meus professores, pedagogos de essência e bússolas morais.

Conheci educadores natos, conselheiros e amigos. Sempre os vi como a força motriz que mantinha viva a alma da Escola, que persiste e permanece firme nos conturba-dos tempos que correm. Recordo-os como ouvintes atentos, capa-zes de dissipar os meus maiores receios com apenas um sorriso, carregado da ex-periência de quem sabe que a vida é cons-tante mudança, e a dúvida, sua compa-nheira. Os professores são quem nos impele sem-pre a almejar o "todo" que podemos ser. Eles são indubitavelmente os pilares do sistema educativo.

A ESLaranjeiras: desafios que nos fazem crescerTestemunho

JOIDES Resolution: Ao serviço da Ciência horas por diaRespondendo a um convite do biólogo português Hélder Perei-ra, o departamento de Ciências Naturais organizou uma visita de estudo ao navio científico JOI-DES Resolution, que contou com a participação das turmas do 8.º E e do 9.ºD. Alunos e professores foram rece-bidos por Hélder Pereira e por cientistas de diversas nacionalida-des, que os guiaram pelas várias secções do navio, cuja principal missão é a de estudar a estrutura da Terra a partir dos sedimentos e rochas do fundo dos mares.

Tudo começa na plataforma de perfuração (Rig Floor) onde to-das as perfurações com vista à extração de testemunhos de se-dimentos (ou rochas) do fundo oceânico são controladas. De-pois de chegarem àquela plata-forma, os materiais recolhidos vão para uma área coberta do lado exterior do laboratório, co-nhecida como passadeira (Catwalk). Dali seguem para a estação de corte, onde são lim-pos, medidos e cortados em sec-ções de 1,5 metros. Posterior-mente, cada secção é cortada em

metades, longitudinalmente: uma é fotografada, descrita e ar-quivada; a outra ("working half") é analisada pelos cientistas no la-boratório de microscopia, a fim de procederem à caracterização das rochas e sedimentos, investi-garem a natureza da biosfera sob os fundos oceânicos e estudarem os microfósseis. A título de curiosidade refira-se que tanto os técnicos como os cientistas trabalham por turnos, ou seja, há sempre equipas no ativo. Foi uma visita memorável!

A Escola e a Sociedade Civil

NOME: Joana Costância de Sousa Costa IDADE: ANOS HABILITAÇÕES: Licenciada em Medicina

A escola é um bem precioso, a valorizar!

Vim para Portugal no ano 2000. Fiz o 1.º ano em Ponta Delgada, depois, do 2.º ao 7.º, estudei em Fafe, regressando a Ponta Delgada para fre-quentar o 8.º ano. Atualmen-te, estou no 12.º. Uma das grandes diferenças entre a educação portuguesa e a chinesa está na exigência, sendo a segunda mais exigen-te. Lembro-me de que, quan-do frequentava a escola na

China, as aulas começavam às 7h30. O aluno responsável pela turma é que verificava as presenças. O 1.º período de aulas terminava às 11h30. Tí-nhamos 30 minutos de inter-valo, durante o qual todos os alunos podiam fazer ginásti-ca para relaxar. Às 13h30, co-meçava o 2.º período de au-las, terminando às 16h30. A partir do 2.º ciclo, os alunos tinham entre 9 e 10 horas de aulas por dia. É precioso valorizar a escola!

Nesta escola cabe o mundo

NOME: Huang Yewei IDADE: 1ANOS PAÍS: China

Expedição : Uma experiência única

Hélder Pereira é professor de Biologia e Geologia na Escola Secundária de Loulé e o único português a bordo do JOIDES Resolution, na expedição . Hélder confessa que nada se compa-ra à vida e ao trabalho no mar e, por isso, cada dia no JR é uma experiên-cia única e inesquecível, que guar-dará para sempre, tanto pelas pes-soas fabulosas que conheceu como pela possibilidade de fazer ciência avançada.

03JANEIRO DE 2012

A Equipa Educativa da Biblio-teca Escolar da ESLaranjeiras comemorou, no dia 13 de dezem-bro, o centenário do nascimento de Marshall McLuhan. A efemé-ride foi assinalada com a confe-rência Multiculturalismo e Glo-balização, proferida por Ana Cristina Gil, docente do Depar-tamento de Línguas e Literatu-ras da UAç. A conferencista esclareceu que a globalização é uma realidade inevitável, com a qual nos depa-ramos no nosso dia a dia. Desde o que comemos (fast food de marcas que se encontram em qualquer parte do mundo), ao que vestimos (vestuário vendido em lojas multinacionais), pas-sando pelo que vemos na televi-são (séries e filmes que nos che-gam de várias partes do mundo), a nossa realidade quotidiana não está já confinada à cidade onde vivemos ou ao país a que perten-cemos. Ela é agora mais vasta, mais global. De entre os factores determi-nantes desse efeito globalizador, Ana Cristina Gil destacou a im-portância da abertura de fron-teiras comerciais e a facilidade com que são trocadas informa-ções, fenómeno potenciado pelo recurso à Internet. De facto, a comunicação ultrapassou os

Leitor do mês

condicionalismos do tempo e do espaço, passando a ser instantâ-nea e ubíqua, e o mundo tor-nou-se, como já dizia Marshall McLuhan, uma «aldeia global». Apesar destes aspetos positivos, a globalização tem também um lado negativo, que é o da homo-geneização cultural, a qual pode constituir uma ameaça ao multi-culturalismo.

Assentando na convivência de várias culturas na sociedade e no reconhecimento oficial das suas especificidades, o conceito de multiculturalismo pressupõe o respeito pelos traços individuali-zadores de cada cultura. Assim, deve subjazer ao proces-so de globalização a afirmação das várias identidades cultu-rais, pois dela depende a pre-

servação do nosso «eu» coleti-vo. O caminho a seguir pelas sociedades contemporâneas terá de ser o do equilíbrio en-tre estas duas realidades: a glo-balização e o multiculturalis-mo, logo entre homogeneização e diversidade. Só assim podere-mos ser, por exemplo, cidadãos do mundo e simultaneamente portugueses.

Conferência

A última edição de Histórias Oral-mente Transmissíveis (H.O.T.) es-teve a cargo de Alexandra Cas-tela e Elsa Melo Gouveia, auto-ras da coleção de literatura infantojuvenil Um Lugar Cha-mado Açores. Apresentaram a uma plateia in-teressada e participativa, forma-da por alunos do sétimo e oitavo anos, o segundo livro da coleção, Terra de Baleeiros. O auditório viajou com Gonçalo, o protago-nista da obra, até à ilha do Pico, descobrindo a H(h)istória da caça à Baleia. As autoras salientaram alguns dos conhecimentos sobre a ba-leação, contados ao Gonçalo na

sua viagem às Lajes do Pico. A apresentação de dois vídeos cap-tou a atenção dos alunos, servin-do para ilustrar o que o livro aborda e para desencadear o subsequente diálogo entre as au-toras e aqueles que assistiram à sessão. Terra de Baleeiros, fazendo uma simbiose entre a ficção e a História da baleação nos Aço-res, transmite e perpetua aspe-tos que marcaram o passado, não muito longínquo, da vida do arquipélago. A coleção Um Lu-gar Chamado Açores proporcio-na o conhecimento das vivên-cias e das idiossincrasias do povo açoriano.

Alexandra Castela e Elsa Melo Gouveia Terra de Baleeiros: Viagem rumo à açorianidade

Sexta-feira H.O.T.

NOME: JOÃO PEDRO GARCIA IDADE: 1 ANOS TURMA: 1.º B

Não dispenso a leitura de autores portugueses

Perfecionista: é assim que, em síntese, me descrevo. Tento fazer tudo quanto me é possível para atingir plena-mente os meus objetivos e não descanso enquanto não obtenho o que pretendo. Faz-me muita confusão que haja pessoas que prefiram vi-ver na ignorância a alimentar a sua alma com o conheci-mento. Sou uma pessoa altruísta, realista, mas teimosa. É essa teimosia que me leva, por ve-zes, a lograr concretizar os meus propósitos, pelo que, nesse sentido, a teimosia é um traço de valor positivo, porquanto é sinónimo de perseverança. O meu gosto pelo saber leva-

me a ilustrar-me, a estar atualizado em relação aos problemas que o país e o mundo enfrentam, daí o meu gosto inequívoco por ler e pesquisar. Estas ativi-dades permitem-me aceder a conhecimentos e a esclare-cer dúvidas. O gosto por ler despertou em mim o gosto pela escrita, mas considero que o jeito que te-nho é pouco e escrevo pri-mordialmente para passar o tempo. Ao contrário do que aconte-ce com muitos estudantes, gosto da escola e vejo-a como um meio privilegiado para conseguir assegurar a formação que considero in-dispensável ao meu sucesso futuro. Ler faz parte da minha vida e não dispenso a leitura atenta de autores portugueses, que vão desde Eça de Queirós a José Saramago.

COMPANHIA DOS LIVROS

Ana Cristina Gil na ESLaranjeiras Multiculturalismo e Globalização

04 JANEIRO DE 2012

Magda Costa Carvalho Aprender, com a Filosofia, a pensar por siNome: Madga Costa Carvalho Grau académico: Doutoramento Categoria: Professora Auxiliar Linha de investigação: Filosofia da Ação e dos Valores Em que medida a disciplina de Filoso-fia marcou o rumo da sua vida? A Filosofia foi-me conquistando à medida que a estudava. Fui contactando com os temas e com os autores e percebi que não era uma disciplina igual às ou-tras, porque nos ajudava a pen-sar em determinadas questões a partir de novos pontos de vista. E, sobretudo, rendi-me à força transformadora do pensamento crítico: uma abordagem que apenas se contenta com funda-mentos racionais sólidos e que constrói perspetivas esclareci-das, sem se deixar cristalizar em conclusões intocáveis. É possível uma interação mais estrei-ta entre a Universidade e o Ensino Se-cundário? Como fomentá-la? Julgo que a Filosofia apenas tem a ganhar se dermos continuida-de às pontes já existentes entre a UA e as Escolas Secundárias. Ao longo dos últimos anos, temos desenvolvido diversas activida-des em parceria, mormente nas comemorações do Dia Mundial da Filosofia: quer através de eventos que levam os alunos à Universidade, quer responden-

do aos convites que as Escolas nos endereçam para participar-mos nas suas actividades. Da parte do Centro de Estudos Filo-sóficos, estamos sempre abertos a este tipo de colaboração em prol da Filosofia. Numa sociedade dita alienada em ter-mos morais e éticos, que papel atribui ao ensino da Ética?

Não sei se a nossa sociedade será "alienada" em termos morais e éticos... É verdade que há alguns anos (ou talvez décadas) que vi-vemos na chamada "crise de va-lores": uma série de fraturantes mudanças histórico-culturais trouxe desafios para os quais a Humanidade não estava prepa-rada e encontramo-nos hoje

Entrevista

Departamento de Ciências Sociais e Humanas

O Grupo de Filosofia associou-se às comemorações do 25.º Aniversário da ESLaranjeiras, concretizando um conjunto de atividades, subordinadas a um princípio comum à totalidade das disciplinas que integram o Departamento de Ciências So-ciais e Humanas, a saber: Aprender a viver juntos. Isto si-gnifica saber o valor das dife-renças e reconhecer o contribu-to das mesmas na construção de um futuro possível para os seres humanos. Porque nos preocupamos com o futuro e porque comemorar si-gnifica evocar os que nos ante-

cederam, retificar os erros do passado e afirmar a nossa conti-nuidade enquanto construtores de projetos, os alunos do 12.º A participaram n’A Espiral Da Memória, coreografia apoiada num trabalho multimédia, cen-trado na Memória/Identidade e cujo objetivo fundamental foi o de revelar a nossa identidade coletiva e individual. Para o efei-to, foram trabalhados textos de vários autores, desde Hesíodo a José Gil, passando por Antero de Quental, como pretexto para desencadear a reflexão sobre o que fomos e o que somos. Os alunos do 12.º das turmas B e

Aprender a viver juntos Uma pedagogia ativa ao serviço do desenvolvimento de competências

Muro da Memória 1-11

Os alunos da área das Hu-manidades, orientados pelos seus professores de História, organizaram uma exposição multimédia, intitulada Muro da Memória 1986-2011, vi-sando divulgar não só os fac-tos mais relevantes da histó-ria deste estabelecimento de ensino nos últimos 25 Anos, mas também os aconteci-mentos mais significativos que marcaram a História do mundo naquele período. Assim, naquela exposição podíamos apreciar registos de importantes eventos li-gados à moda, à música, ao cinema e ao desporto e ain-da recordar as visitas de al-gumas personalidades à nossa escola, como por exemplo, Ondina Braga, Jo-sé Cardoso Pires, Seixas-Peixoto, Carvalho Rodri-gues, Iva Delgado, Mário Soares e D. Ximenes Belo.

despojados de pontos de refe-rência universalmente aceites. Esta crise é visível sobretudo nos campos ético e moral, o que si-gnifica que a Ética, enquanto disciplina filosófica, tem o papel fundamental de fornecer os utensílios racionais necessários para que o ser humano pense a sua acção de acordo com parâ-metros fundamentados. "Aceitarmo-nos enquanto seres do sentido implica optarmos pela via mais difícil, mas também mais gratifi-cante". Como conciliar esta sua afir-mação com o facilitismo /relativismo que grassa na sociedade atual? Uma das descobertas que a Fi-losofia nos permite fazer é a do ser humano enquanto "ser do sentido", isto é, a nossa vida consiste numa permanente doação de significado ao que ve-mos e fazemos. Esta não é uma dimensão da qual possamos prescindir, contudo, é muitas vezes negligenciada, porque exige coerência. O facilitismo surge quando nos convencemos de que não necessitamos dessa coerência. O relativismo é a consequência de acharmos que, na atribuição de sentido à vida, tudo é permitido. Que mensagem deixaria aos jovens de hoje? Que aprendam, com a Filosofia, a pensar por si mesmos.

C, tomando como tema o «Con-flito de Gerações», criaram di-versas situações, por eles dra-matizadas, que traduziram os diferentes contornos dessa pro-blemática. A mensagem dos seus trabalhos assentou na ideia de que os conflitos de geração irão existir sempre, porque gera-ções diferentes têm visões de mundo distintas. Assim, o papel das gerações anteriores é o de criar condições para que as no-vas se tornem agentes efetivos de mudança. Centrar a aprendizagem no alu-no permite e facilita a apropria-ção do sentido das experiências vividas, fazendo com que ele ad-quira e desenvolva competências pessoais, relacionais e socioafeti-vas. Assim, a realização de tra-balhos da índole dos aqui referi-dos intervém positivamente no processo de desenvolvimento pessoal do aluno.

FICHA TÉCNICA: Equipa Editorial: Graça Meneses e Margarida Freire de Andrade. Colaboraram neste número: Jorge Marques, Emanuel Franco, Aurélia Farrajota e Gina Silva