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Edição 14 Setembro/2016 páginas 06 e 07 O PCB NAS ELEIÇÕES DE 2016 * Pág.

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Edição 14

Setembro/2016

páginas06 e 07

O PCB NAS ELEIÇÕES DE 2016 * Pág.

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EDITORIAL

Comissão Nacional de Comunicação: Ricardo Costa, Ivan Pinheiro, Edmílson Costa, Otávio Dutra, Roberto

Telefax.: (21) 2262-0855 e (21) 2509-3843.EX

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Diagramação: Mauricio Souza.

Setembro 2016 - Ano 02

assim se esforcem os aparatos judiciári-

os, a grande mídia e o ritual das institui-

ções estabelecidas. Nasce medroso,

intimidado, escondendo-se do povo.

Nasce pequeno e enlameado pelo opor-

tunismo. Terá o apoio dos poderosos.

Mas terá a firme e decidida oposição dos

trabalhadores e dos setores populares.

Sabemos, no entanto, que a única força

capaz de desmascará-lo será a radicali-

zação das lutas sociais e da resistência

que as organizações populares e de

esquerda precisam empreender.

As classes dominantes e seus

serviçais, que levaram a cabo esta triste

página de nossa história, cedo ou tarde

responderão diante do juízo da história

por seus atos. Mais uma vez ficou com-

provado o caráter burguês do Estado

brasileiro e o caráter reacionário das

classes dominantes.

O PCB, que aprendeu com sua

experiência a não confiar no Estado

burguês e em qualquer aliança como as

classes dominantes, reafirma sua con-

vicção de que os trabalhadores também

serão capazes de confiar em si mesmos e

de construir sua própria alternativa soci-

alista e revolucionária.

Fora Temer! Pelo Poder Popular! Pelo

Socialismo!

acertos dos poderosos.

Mas não haverá paz para o

governo ilegítimo. Os trabalhadores

devem resistir aos ataques a seus direi-

tos, com mobilizações e greves, dificul-

tando bastante os anseios dos usurpado-

res pela estabilidade de que necessitam

para atrair investimentos e aprofundar a

abertura do país aos interesses imperia-

listas.

Depois de anos de pacto social e

de ilusão de classes, viveremos um

período de radicalização das lutas socia-

is e das resistências populares, ao

mesmo tempo em que o conservadoris-

mo e a reação deverão produzir um ambi-

ente de confronto e repressão. Neste

cenário, cresce a necessidade de unidade

das forças de esquerda, buscando consti-

tuir uma real alternativa de poder, que

seja capaz de enfrentar os problemas do

país na perspectiva dos trabalhadores e

da maioria da população. O PCB reitera

sua posição de que esta alternativa deve-

rá ser anticapitalista e socialista, evitan-

do cair, novamente, na ilusão de classes

em alianças com setores da burguesia,

política responsável por este desfecho

lamentável na conjuntura nacional.

O governo de Temer nasce ilegí-

timo e indigno, sendo impossível

maquiá-lo de legalidade por mais que

A aprovação do impedimento de

Dilma Rousseff no Senado da República

encerra um tortuoso período no qual se

operou uma manobra institucional espú-

ria e oportunista que combinou aspectos

parlamentares, judiciais e midiáticos

para depor a presidente eleita.

Os interesses que movem esta

manobra ficam evidentes nos atos e no

programa do presidente usurpador e da

coligação que o sustenta: a reforma da

previdência, o ataque aos direitos dos

trabalhadores na reforma trabalhista, a

desvinculação dos aumentos do salário

mínimo dos benefícios previdenciários,

o congelamento dos gastos públicos por

vinte anos, a violência do ajuste fiscal

para garantir as condições favoráveis ao

pagamento da dívida pública, a entrega

do pré-sal, o ataque à saúde e à educação

pública e a prioridade aos interesses

privados dos grandes monopólios e do

capital estrangeiro.

Temer fala agora em pacifica-

ção, em unidade nacional acima de inte-

resses partidários e da necessidade do

sacrifício de todos em nome do cresci-

mento econômico. Trata-se de um dis-

curso recorrente das classes dominantes

brasileiras, quando resolvem impor mais

exploração aos trabalhadores, os quais,

mais uma vez, terão de pagar a conta dos

Fora Temer: intensicar a lutacontra o Estado Burguês

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partidos da ordem. Esse é o tamanho do

desafio colocado ao campo classista e

revolucionário, que ainda influi muito

pouco no movimento sindical, além de

se apresentar fragmentado internamen-

te. Enquanto os operários de setores

estratégicos – como o metalúrgico, o

automotivo, a construção civil, os trans-

portes – estiverem sob a direção dos

pelegos e burocratas da CUT, Força

Sindical, UGT, CTB, NCST etc, será

mais difícil garantir a luta efetiva e inde-

pendente pela defesa dos direitos históri-

cos dos trabalhadores, que dirá o avanço

rumo a novas conquistas e o enfrenta-

mento ao capitalismo.

Isso não quer dizer que devemos

esperar a reversão desse quadro para

levar a cabo uma ofensiva ideológica e

fazer todos os esforços para barrar os

ataques do patronato, aglutinando os

setores combativos. É preciso ir além e

consolidar uma visão estratégica, com-

preendendo que, na atual realidade bra-

sileira, o movimento sindical é uma trin-

cheira central para os revolucionários.

Cair no equívoco de subestimar este fato

só irá atrasar a emancipação da classe

trabalhadora e do povo brasileiro dos

grilhões impostos pelo capitalismo.

A pergunta que deve ser feita em meio a

essa conjuntura é: como o país ainda não

parou?! A frase de Cyril L. R. James cai

como uma luva: “Quando a história for

escrita como deve ser, os homens ficarão

admirados do comedimento e da grande

paciência das massas, e não da sua fero-

cidade”. A paciência das massas, porém,

não tem origem genética nem decorre do

clima tropical. Ela é fruto de processos

históricos.

Assim, inúmeros fatores contri-

buem para que hoje a imprensa, o gover-

no, o Congresso Nacional e o STF discu-

tam abertamente formas de aumentar o

sofrimento dos trabalhadores para dar

mais lucros aos milionários sem que haja

uma poderosa revolta popular e uma

greve geral. A esse respeito, importa

destacar a hegemonia capitalista no

movimento sindical. Ou seja, a grande

maioria dos sindicatos, federações e

centrais sindicais está há anos nas mãos

de setores políticos contrários aos inte-

resses da classe trabalhadora.

Segundo o próprio DIAP (De-

partamento Intersindical de Assessoria

Parlamentar), as maiores centrais são

marcadas pela ideologia de mercado e

todas as centrais com mais de 5% de

representatividade são influenciadas por

Os impactos da crise capitalista

internacional abalaram as condições que

permitiam a política de conciliação rea-

lizada pelo PT desde 2003. O esgota-

mento dessa estratégia petista ficou mais

evidente desde 2014. Preocupado em

manter a confiança do grande empresari-

ado, o governo federal esforçou-se em

convencê-lo de sua competência para

impor a agenda conservadora sobre o

povo. Contudo, a burguesia queria mais

agilidade nos ataques aos direitos dos

trabalhadores, razão pela qual lançou

mão das mais sujas manobras institucio-

nais para livrar-se de Dilma, já desgasta-

da por dirigir o Brasil na direção contrá-

ria ao prometido antes das eleições.

Procurando valer-se do clima de

crise para aumentar a exploração, des-

truir os serviços públicos, ampliar as

privatizações e eliminar direitos traba-

lhistas básicos, o patronato emplacou,

com o auxílio decisivo dos governantes

a seu serviço, uma verdadeira ofensiva

conhecida como ajuste fiscal. Nesse

contexto, a espada capitalista segue apon-

tada contra a cabeça da classe trabalha-

dora, ameaçando o direito de aposenta-

doria e outras conquistas essenciais pre-

sentes na CLT (Consolidação das Leis

do Trabalho).

A Atualidade da trincheira sindicalnas lutas dos trabalhadores e nocaminho da Revolução Brasileira

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se esconde é o fato de o setor de planos

privados de saúde registrar o maior

número de reclamações no país, sejam

elas por preços e reajustes abusivos,

restrições para contratação, exclusão de

cobertura para determinados problemas

ou procedimentos, baixa qualidade

assistencial e número insuficiente de

médicos, hospitais e de serviços de apoio

diagnóstico.

� Como se isso já não bastasse, foi

encaminhada pela Presidência da Repú-

blica ao Congresso Nacional a Proposta

de Emenda à Constituição nº 241/2016,

que institui um “Novo Regime Fiscal”,

congelando por 20 anos os recursos des-

tinados às políticas sociais, entre elas a

Saúde. Num cenário de grave crise eco-

nômica, cada vez mais se intensificam as

condições que contribuem para o adoe-

cimento da população. No lugar do for-

talecimento do SUS, criando condições

para seu efetivo funcionamento através

do aumento dos recursos destinados à

saúde, estruturação de uma rede assis-

tencial própria e garantia de condições

de trabalho aos profissionais que nele

atuam, o governo federal aponta para

uma política que restringe ainda mais os

gastos públicos e fortalece o setor priva-

do, jogando nas costas do trabalhador a

conta exigida pelo capital.

que, quando procuram algum tipo de

atendimento na rede pública, “imaginam

estar doentes”, como declarou em um

evento realizado na cidade de São Paulo

no dia 16 de julho.

� Anteriormente, já havia expres-

sado sua opinião sobre a necessidade de

redução do SUS, de que o Estado não

tem como sustentar os direitos estabele-

cidos pela Constituição de 1988, pro-

pondo uma “repactuação” através da

busca de um “equilíbrio entre o que o

Estado tem condições de suprir e o que o

cidadão tem direito de receber”. Nesse

sentido, apresentou, em audiência no

Senado Federal ocorrida em 06 de julho,

a proposta de autorização de funciona-

mento, por parte da Agência Nacional de

Saúde Suplementar, de novas modalida-

des de planos de saúde com menores

preços e com restrições de serviços e

atendimentos, os chamados Planos Popu-

lares de Saúde.

� Essa proposta representa um

retrocesso do direito ao aceso universal à

saúde, limitando o atendimento pelo

SUS somente àqueles que comprovem

não ter condições de arcar com seus cus-

tos. Não é nova a tentativa de vender a

ideia de que o serviço privado é superior

ao público e que seria um “avanço” dar

condições a mais pessoas terem acesso a

essa modalidade de atendimento. O que

� Além dos ataques aos direitos

dos trabalhadores, é preocupante o pro-

cesso de total destruição das políticas

sociais anunciado pelo governo Temer.

Isso vai agravar ainda mais os problemas

do Sistema Único de Saúde (SUS).

� Seu ministro da saúde, o deputa-

do federal pelo Partido Progressista do

Paraná, Ricardo Barros, em pouquíssi-

mos meses já coleciona um vasto reper-

tório de declarações que deixam claras a

concepção excludente de saúde e suas

intenções em acelerar o processo de

privatização do SUS. Engenheiro civil,

seu único vínculo com a saúde até então

foi sua relação com o setor privado, que

financia suas campanhas (o maior doa-

dor individual para sua campanha a depu-

tado federal em 2014 foi o fundador e

presidente do Grupo Aliança, empresa

de planos de assistência privada à saú-

de).

� O novo ministro tem em seu

“currículo” denúncias de envolvimento

em esquemas de corrupção em seu Esta-

do, além de ser notória sua proposta de

cortar R$ 10 bilhões de reais do Bolsa

Família, quando foi relator do Orçamen-

to da União de 2016. Para ele, a culpa

pela superlotação dos hospitais, pelas

longas filas de espera para atendimento,

a dificuldade de realização de exames e a

falta de medicamentos é dos pacientes

Governo Temer aprofundao caos na Saúde

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Os próprios trabalhadores

envolvidos nos jogos também foram

prejudicados. Inspeção do Ministério do

Trabalho identificou 3,5 mil em situação

irregular: sem carteira assinada, com

alimentação precária, comendo no chão,

trabalhando em jornadas exaustivas, em

alguns casos de até 23 horas por dia.

Todas essas violações de direitos são

dirigidas às megaempresas como Coca-

Cola, MacDonald's, Rede Globo e Bra-

desco, entre outras, que apenas nas duas

semanas de jogos tiveram isenções fisca-

is de R$ 3,83 bilhões. Sem contar o que

lucraram com as mudanças e constru-

ções promovidas para a realização das

Olimpíadas. A família Picciani foi uma

das mais beneficiadas, fornecendo

material de construção a partir de uma

fábrica inaugurada exclusivamente para

tanto, segundo denúncia do Jornal da

Record.

Clima Olímpico? Nas comuni-

dades proletárias, mantém-se o clima de

guerra e medo, como denunciam os

moradores da favela da Maré: “Enquan-

to alguns estão festejando bem ali no

centro do Rio e em outros bairros da

cidade, estou aqui na minha favela sendo

silenciada, aterrorizada pelas forças da

repressão. São armas que matam, são

tanques que cercam, são helicópteros

que perturbam a nossa vida”.

Internacional aponta que, de 2009 até

este ano, houve a morte por policiais de

mais de 2.600 pessoas. Apenas entre

abril e junho houve aumento de 103%,

comparado com o ano anterior, totali-

zando 124 vítimas, conforme denunciou

a Carta Capital.

Ao mesmo tempo, a prefeitura

promoveu aquilo que chamaram de “hi-

gienização”, ou seja, a prisão e remoção

de pessoas em situação de rua, com

aumento de 60% entre março e julho

deste ano, segundo a Agência Brasil.

Locais tradicionais utilizados por essa

parcela da população, mas que também

são áreas de turismo, foram os mais afe-

tados, principalmente os Arcos da Lapa,

o Museu de Arte Moderna, o Aeroporto

Santos Dumont e o Largo da Carioca.

No total, foram gastos R$ 38,2

bilhões nos jogos, recursos que fazem

falta para 33% das escolas municipais

com problemas de infraestrutura e 50%

com carência de professores, além dos

hospitais, postos e unidades de saúde,

com falta de leitos, equipamentos, remé-

dios e profissionais, afora os já conheci-

dos problemas dos transportes públicos,

de mobilidade urbana, de saneamento e

de segurança. As necessidades da popu-

lação foram deixadas de lado pela prefei-

tura, governos estadual e federal, apesar

das promessas do chamado “legado

Olímpico”.

Bastaram duas belas solenida-

des de abertura e encerramento, além de

algumas medalhas, particularmente de

ouro no futebol e vôlei masculinos, para

as elites enaltecerem as Olimpíadas Rio-

2016 como um grande sucesso. Na ver-

dade, as Olimpíadas foram um evento da

elite para a elite. Não nos convidaram

para essa festa, que para os pobres só

trouxe mais violência, repressão e retira-

da de direitos.

Remoções, mortes e prisões

Mais de 77 mil pessoas foram

removidas à força de suas casas na cida-

de do Rio de Janeiro entre 2009 (ano em

que o Rio foi escolhido como sede) e

2016. O prefeito Eduardo Paes conquis-

tou o título daquele que mais removeu

trabalhadores de suas casas em toda a

história da cidade, de acordo com o

Comitê Popular da Copa e das Olimpía-

das. Os removidos, muitas vezes, foram

colocados nos mais longínquos bolsões

da periferia, em áreas dominadas por

milícias, com valores de indenizações

questionáveis.

Segundo cálculo do jornal EL

PAÍS, ao menos 24 pessoas morreram na

região metropolitana do Rio entre os

dias 5 e 21 de agosto. Na primeira sema-

na do evento, 14 pessoas faleceram e 32

ficaram feridas em 59 tiroteios. A Anistia

Medalha de Ouro paraa Exclusão Social

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Setembro 2016 - Ano 02

REDEGLOBO:

retribuía essas benesses com a defesa e

propaganda da ditadura: em seus telejor-

nais e programas, o país vivia seus

melhores dias. Nos anos 1960, o progra-

ma “Amaral Neto, o repórter”, do depu-

tado udenista e golpista, era o espaço de

defesa ufanista das realizações alardeia

as grandes conquistas econômicas e

sociais do regime, prevendo um futuro

brilhante para o país.

A trajetória da Rede Globo é rica

em exemplos de manipulação da opinião

pública em defesa dos interesses políti-

cos das classes dominantes. Vamos ape-

nas citar os casos mais graves, que tive-

ram grande influência na política brasi-

leira. O caso das bombas do Riocentro

no primeiro de maio de 1981 é um claro

exemplo de distorção da verdade em

benefício político da ditadura. A política

de “abertura democrática” da ditadura,

que acenava com eleições para governa-

dores em 1982, encontrava forte oposi-

ção dos setores militares ligados aos

órgãos de repressão, a chamada “linha

dura”. Numa demonstração de força

desses setores, foi articulado um ato

terrorista contra o Show do 1º de maio,

1964. Com os milhões de dólares do

grupo Time-Life, a TV Globo adquiriu

equipamentos modernos e contratou os

melhores diretores administrativos,

diretores de TV, técnicos e artistas de

outras emissoras brasileiras, numa con-

corrência desleal e predatória. Executi-

vos da Time-Life trabalhavam como

assessores na TV Globo, tanto na parte

administrativa quanto no setor artístico,

e o grupo estrangeiro tinha participação

em 3% do faturamento da TV Globo. O

Conselho Nacional de Telecomunica-

ções e o Ministério da Justiça contempo-

rizavam a favor de Roberto Marinho,

evidenciando que os setores da burgue-

sia pró-imperialista ditavam as regras no

novo regime político. O Ministro do

Planejamento Roberto Campos, conhe-

cido como “Bob Fields” pelo seu norte-

americanismo, foi um dos suportes da

Globo nesse processo.

As organizações Globo cresce-

ram vertiginosamente no período. Os

investimentos do governo militar no

sistema de telecomunicações (Embratel)

facilitaram as ações da Globo para cons-

truir sua rede via satélite. A empresa

A Rede Globo exerce, na práti-

ca, o monopólio das comunicações no

país, dominando, por meio de uma gran-

de rede de emissoras afiliadas, a indús-

tria do entretenimento e importantes

manifestações culturais do país, como o

carnaval e o futebol. Seu jornalismo

pauta os demais jornais e TVs. Na TV

por assinatura, controla 61 canais. A

história da Rede Globo é repleta de ile-

galidades e favorecimentos, em troca da

defesa da ditadura implantada em 1964 e

do apoio aos setores burgueses pró-

imperialistas.

Em 1961, a Rádio Globo conse-

guiu a concessão de uma emissora de

TV. A concessão era feita pessoalmente

pelo Presidente da República, sem

observar nenhum critério, seja técnico,

seja de viabilidade econômica, ou outro

qualquer. Em 1962, a TV Globo Ltda.

assinou dois contratos com o grupo nor-

te-americano Time-Life (das revistas

“Fortune”, “Time” e “Life”), ultracon-

servador e próximo ao Partido Republi-

cano, o que era ilegal. O jornal O Globo

fez campanha aberta contra o Governo

de João Goulart e apoiou o golpe de

João Figueiredo sendo conduzidopelo braço por ,Roberto Marinho

no parque gráco de .O Globo

Herança daDitadura

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servidores públicos de altos salários,

campanha esta que foi amplamente apoi-

ada pela neoliberal Rede Globo. Diante

desse quadro político-eleitoral, a bur-

guesia brasileira associada ao imperia-

lismo, temendo uma possível vitória de

Lula ou Brizola, apostou todas as fichas

em Collor de Mello, tido como o único

capaz de derrota-los nas urnas. No

segundo turno das eleições, as pesquisas

apontavam um grande equilíbrio entre

Collor e Lula, que contou com o apoio de

Brizola. É neste momento que a Globo

entra em cena. No último debate, o exe-

cutivo-mor da Rede Globo assessorou

Collor, procurando torna-lo um candida-

to mais popular. O debate aconteceu

tarde da noite, não sendo visto por gran-

de parte da população. No dia seguinte,

em horário nobre, no Jornal Nacional, a

Rede Globo transmitiu um compacto de

seis minutos do debate, do tipo melhores

momentos, assistido por 66% da audiên-

cia. Só que com os melhores momentos

do Collor e os piores momentos do Lula.

Uma manipulação descarada que foi

reconhecida por jornalistas da própria

Rede Globo, que foram, por isso, demiti-

dos.

O episódio mais recente da

influência da Rede Globo na política está

bem vivo em nossa memória: foi o pro-

cesso de impeachment da Presidenta da

República, em que ficou muito evidente

o poderio da mídia burguesa na mobili-

zação de setores sociais conservadores e

na manipulação das informações, em

favor de um resultado final que busca

consolidar a formação de um governo

totalmente comprometido com os inte-

resses da burguesia monopolista em

nosso país, para fazer de forma mais

rápida o que o PT vinha fazendo vagaro-

samente.

A manipulação ideológica da

informação é elemento indispensável à

hegemonia burguesa. A radical demo-

cratização dos meios de comunicação e a

participação popular na definição de

uma política de comunicações são impe-

rativos para a classe trabalhadora, no

processo de construção do Poder Popu-

lar.

rou solenemente os primeiros comícios

pelas eleições diretas para presidente da

república. As equipes da TV Globo que

cobriam os comícios, cujas reportagens

não iam ao ar, eram hostilizadas pelos

manifestantes: “O povo não é bobo,

abaixo a Rede Globo”. Somente quando

setores políticos mais conservadores

deram sinais de apoio à campanha, a

Rede Globo passou a transmitir reporta-

gens dos comícios que ocorriam em todo

o país. Quando a emenda Dante de Oli-

veira foi derrotada e a saída política das

forças burguesas democráticas conser-

vadoras se inclinava para a disputa no

Colégio Eleitoral da ditadura, a Globo

assumiu a sua defesa. A Globo, sempre

sendo o termômetro político do país,

expressava os interesses das classes

dominantes. A “transição democrática”,

a “Nova República”, que estava assenta-

da em acordos políticos para garantir

que não haveria grandes mudanças soci-

oeconômicas e nem retaliações contra os

militares, foi entusiasticamente apoiada

pela Rede Globo. A transição por cima

foi responsável por muitos dos grandes

problemas políticos e econômicos que

vivemos atualmente, dentre os quais o

monopólio da Rede Globo é um dos mais

graves.

A primeira eleição direta para

presidente, em 1989, ocorreu numa con-

juntura econômica e política bem con-

turbada. A inflação galopante, de 80% ao

mês, anunciava um legado econômico

desastroso para o novo presidente. A

burguesia mais conservadora estava

dividida e lançou vários candidatos,

porém com pouco lastro eleitoral (Paulo

Maluf, Afif, Caiado, Ulisses, Aureliano e

Covas). A burguesia mais progressista

tinha Brizola de um lado e Lula do outro,

com a Frente Brasil Popular, uma aliança

dos setores populares com a pequena

burguesia. Correndo por fora e por um

pequeno partido, um representante das

oligarquias nordestinas, Collor de Mel-

lo, travestido de político moderno. Polí-

tico ligado à ditadura, governador de

Alagoas e dono de TV afiliada à Globo,

Collor ficou popular como o “caçador de

marajás”, por sua campanha contra os

Dia do Trabalhador, organizado por

sindicatos e partidos de esquerda, com a

presença de artistas de renome no cená-

rio musical do país. Tudo foi feito para

facilitar a ação terrorista: mudança da

chefia de segurança do Riocentro e

redução do seu pessoal. Estimava-se a

presença de 20 mil pessoas no evento. O

objetivo da ação militar era dar um reca-

do dos setores duros ao governo e provo-

car pânico e mortes no show promovido

por “esquerdistas”, já que as saídas de

emergência estavam trancadas. Uma

bomba explodiu perto da casa de força,

sem afetar o fornecimento de energia.

Outra bomba explodiu num carro (Pu-

ma), no colo de um sargento, que morreu

na hora, tendo ao seu lado um capitão do

exército, que ficou gravemente ferido.

Apesar do forte isolamento da área feita

por militares, as primeiras equipes de

imprensa que chegaram ao Riocentro

identificaram mais de uma bomba dentro

do Puma. Na edição de 06/05/1981, O

Globo informava: “O laudo pericial

sobre as explosões ocorridas no Riocen-

tro confirma que foram encontradas e

desativadas por peritos, mais duas bom-

bas dentro do Puma”. Ocorre que neste

mesmo dia, o diretor-redator-chefe

Roberto Marinho foi recebido pelo

Comandante do 1º Exército, General

Gentil Marcondes Filho. No dia seguin-

te, O Globo informava: “Fontes ligadas

ao Iº Exército asseguraram ontem a O

Globo que o laudo sobre as bombas do

Riocentro declara haver apenas duas: a

que explodiu na casa de força e a que

explodiu no carro”. Estava montado o

esquema para acobertar a participação

de militares no ato terrorista. Um IPM

foi aberto pelo Exército para apurar os

fatos e concluiu que os militares foram

vítimas de um atentado de uma organiza-

ção de esquerda. A farsa era tão gritante

que só idiotas acreditaram. Mas a Rede

Globo cumpriu seu papel de guardiã dos

interesses das classes dominantes mais

reacionárias do país, porque naquele

momento era preciso preservar politica-

mente os militares.

Outro caso foi a campanha pelas

Diretas Já em 1984. A Rede Globo igno-

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ma viu um projeto que poderia concreti-

zar suas tendências imperialistas.

Porém, alguns anos depois, Tayyip Erdo-

ğan provou ser um personagem político

questionável, buscando uma autonomia

luxuosa para a capital turca (Ankara),

que se expandiria por uma vasta região,

chegando até a contradizer os interesses

do imperialismo estadunidense, que

historicamente domina a Turquia. Não

há necessidade de citar o ódio formado

contra Erdoğan entre uma ampla massa

secular da população, que chegou por

vezes a se manifestar em meio ao apro-

fundamento da crise política, como nas

revoltas de junho de 2013.

É neste momento que a organização

de Fethullah Gülen, como partido da

corrente islâmica que prega boas rela-

ções com os EUA e moderação enquanto

toca a transformação da textura social,

entra em jogo. Recentemente declarada

uma organização terrorista pelo Estado

turco, o partido de Gülen era, até alguns

anos atrás, o maior aliado do AKP. Ape-

do de Erdoğan, AKP, e o movimento

gülenista?

Na verdade, o exército tem sido o

principal ator em nossa história recente,

buscando “reabilitar” a sociedade turca

após o golpe militar de 12 de setembro

de 1980. Assim, primeiramente, deve-

mos nos opor a essa impressão de um

exército turco “historicamente laico e

secular”, pois esta visão não está exata-

mente correta. O exército é uma institui-

ção que compõe a ordem atual, e sempre

tem intervido na política com o objetivo

de preservar os interesses da burguesia.

Estes interesses capitalistas podem cor-

responder tanto a uma restauração secu-

lar, quanto a uma restauração islâmica.

Até 2011, as tensões entre o exérci-

to e o AKP se davam principalmente

acerca das preferências geopolíticas do

Estado e da formação ideológica da soci-

edade turca. A burguesia turca, em quase

todas as suas frações, abraçou o modelo

representado pelo AKP, e em seu progra-

Durante a tentativa de golpe

militar na Turquia, os comunistas brasi-

leiros acompanharam de perto os acon-

tecimentos através de um militante que

estava no país. A seguir, segue resumo de

entrevista concedida pela Juventude do

Partido Comunista – Turquia à União da

Juventude Comunista – Brasil, juventu-

de do PCB.

1-A Turquia enfrentou uma tentativa

de golpe militar. Sabe-se que desde que

o partido de Erdoğan, AKP, entrou no

poder em 2003, existem tensões entre o

exército, historicamente laico e secular,

e o governo, islâmico e conservador.

Porém, o presidente Erdoğan culpa o

clérigo Fethullah Gülen, exilado nos

Estados Unidos, acusando-o de ser o

mentor por trás do golpe, através de seu

grupo, a Cemaat. Até o momento o que

se sabe sobre as reais motivações do

golpe? Quem é Fethullah Gülen e

quais são os planos da Cemaat? Qual a

relação, nos últimos anos, entre o parti-

Entrevista com Juventude TKP

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recorrente e apoiada entre os grupos da

esquerda liberal. É um fato que Bashar

al-Assad já tem dado diversos passos em

direção a uma transformação neoliberal;

porém, desde que essa operação imperi-

alista contra a Síria tomou forma, o povo

sírio tem feito de tudo para defender seu

país dos grupos jihadistas e dos tais “re-

beldes moderados” que as potências

imperialistas tentam sustentar. O braço

opositor na Síria deve esperar sua derro-

ta, pois este não tem raízes dentro da

nação. Por outro lado, a tentativa de

explicar os acontecimentos por um

espectro de referências religiosas acaba

se tornando um pensamento reacionário,

que nada tem de “moderado”. Desta

forma, podemos dizer que não há dife-

rença entre o Estado Islâmico e outros

grupos jihadistas na Síria, todos lutando

com armas e soldados providenciados

por vários países da ordem imperialista,

incluindo os EUA, países da UE e, even-

tualmente, a Turquia. Enquanto tenta-

mos evitar os planos belicistas do gover-

no do AKP na Turquia, estamos, tam-

bém, orgulhosos da honrosa resistência

do povo sírio. Além disso, mantemos

uma ótima relação de camaradagem com

o movimento comunista na Síria.

4 - Em 2017, no centenário da Revolu-

ção Russa, acontecerá, na Rússia, o

XIX Festival Mundial da Juventude e

Estudantes. O que a juventude do KP

espera deste momento importante,

onde as juventudes progressistas, revo-

lucionárias e anti-imperialistas do

mundo inteiro estarão reunidas?

Em circunstâncias onde os triunfos his-

tóricos do movimento comunista estão

em jogo, será uma importante mensa-

gem política honrar o centenário da Gran-

de Revolução Socialista de Outubro. Ao

lado das sérias discussões e debates den-

tro do próprio movimento comunista, a

missão de criar novas fontes de encora-

jamento em nome da perspectiva leni-

nista da luta de classes deve ser uma

tarefa universal a todas juventudes comu-

nistas de nossa era.

O próprio Fethullah Gülen é um repre-

sentante dos interesses estadunidenses

na Turquia, e sua organização é conheci-

da por cooperar com os serviços de inte-

ligência norte-americanos. É claro, tam-

bém, que o movimento gülenista é o

mentor por trás da falha operação mili-

tar, então a intervenção dos EUA torna-

se óbvia. Isso explica o porquê dos EUA

e da OTAN terem esperado até o último

momento das confrontações militares se

cessarem para aí sim denunciarem a

tentativa de golpe militar.

Por outro lado, a Rússia e o Irã não

perderam tempo para declarar apoio a

Erdoğan. Agora podemos esperar uma

reaproximação entre a Turquia e a Rús-

sia. Pelo lado de Erdoğan, esse tipo de

consequência é certamente derivado de

eventos recentes. Por exemplo, após a

tentativa de golpe, alguns oficiais milita-

res eurasiáticos kemalistas, exonerados

e presos antes de 2010, foram reconde-

corados com os postos retirados da

Cemaat. Para dar outro exemplo, o

encontro de Putin com Erdoğan, que

estava planejado para ocorrer em setem-

bro, foi remarcado para uma data mais

próxima. Essas são transformações

importantes. De qualquer forma, não se

espera que a Turquia rompa com a alian-

ça atlântica, mas sim que o AKP tome

um posicionamento reprovador em dire-

ção aos EUA, ao invés de inverter sua

posição geopolítica.

3- É notório o apoio do governo turco

aos chamados “rebeldes moderados”

na Síria. Qual a posição do KP acerca

do conflito no país vizinho?

Mesmo que tenha começado com rea-

ções públicas legítimas das classes popu-

lares, a tão chamada “Primavera Árabe”

rapidamente se transformou em uma

operação imperialista para remodelar os

regimes tradicionais dos países árabes

onde o capital internacional mantinha,

anteriormente, pouco (se algum) contro-

le. Como partido comunista, nós nunca

saudamos tais eventos nomeando-os de

“revolução”, tendo sido uma análise

sar de haver várias seitas menores, cha-

madas de “cemaat”, dentro da vertente

sunita do Islã, a organização de Gülen,

como uma das mais poderosas, passou a

ser identificada com a própria palavra

“cemaat”. A Cemaat é mais como um

movimento de esquemas que têm se

infiltrado em posições-chave dentro do

mecanismo estatal, com vários anos de

operações encobertas e redes de contato

com uma aparência não-política, dife-

rentemente do AKP, que vem de uma

tradição de militância política-islâmica e

que tem abertamente se adaptado ao

mundo da política. Para Erdoğan, essa

aliança com a Cemaat, que durou até

2013, era a chave para abrir o caminho

que o levaria ao poder. Os esquemas da

Cemaat no judiciário eram influentes na

dissolução da burocracia kemalista (ten-

dente ao secularismo), especialmente no

exército. Em todas as instituições estata-

is, eles compartilharam os cargos retira-

dos de burocratas kemalistas exonerados

ou presos. Porém, logo após o rompi-

mento, a Turquia mais uma vez testemu-

nhou outra rivalidade intraestatal. Deve-

mos distinguir as tensões entre o AKP e

o exército antes e após 2011: agora as

forças que se encaram frente a frente e o

que elas representam politicamente são

diferentes.

A tentativa de golpe, organizada

principalmente pelos oficiais gülenistas

do exército, foi uma operação militar

que aspirava à eliminação de Erdoğan,

que é considerado um parceiro descon-

fiável e visto como uma fonte de crise

política. Então podemos dizer que esta

foi uma tentativa de uma restauração de

pequena escala resultando em violência

e uma agressão militar de alta escala.

2- O presidente do Equador, Rafael

Correa, uma vez disse que “nunca vai

haver golpe nos EUA porque não existe

uma embaixada americana lá”. Existe

qualquer evidência de influência

estrangeira sobre a tentativa de golpe?

Dos Estados Unidos, Rússia ou qual-

quer outro país?

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Setembro 2016 - Ano 02

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Setembro 2016 - Ano 02

Mulheres Revolucionárias:Rosa Luxemburgo

“Lênin, Trotsky e seus amigos

foram os primeiros a dar o exemplo ao

proletariado mundial. Eles são ainda os

únicos que podem exclamar com Huten:

Eu ousei! Eis o que é essencial e dura-

douro na política dos bolcheviques.

Conquistando o poder e colocando pra-

ticamente o problema da realização do

socialismo, fica-lhes o mérito imorre-

douro de terem dado o exemplo ao prole-

tariado internacional e um enorme

passo no caminho do ajuste de contas

final entre o capital e o trabalho no

mundo inteiro. Na Rússia, o problema

não poderia ter sido senão colocado. E é

nesse sentido que o futuro pertence em

toda a parte ao bolchevismo”.

Libertada apenas em 1918, este-

ve à frente da Liga Espartaquista e parti-

cipou da fundação do Partido Comunista

da Alemanha (KPD) em 31 de dezem-

bro. Após a derrocada da revolução ale-

mã, em 15 de janeiro de 1919, Rosa e os

principais líderes do Partido foram pre-

sos e levados para interrogatório, jamais

sendo vistos novamente. Rosa e Liebk-

necht foram executados e seus corpos

jogados nas águas geladas de um canal

em Berlim. Permanecem atuais e neces-

sárias as frases de Rosa: “Há todo um

velho mundo ainda por destruir e todo

um novo mundo a construir. Mas nós

conseguiremos”.

precoce morte não impediu que vida e

obra servissem de exemplo e guia para

comunistas e socialistas de todo o mun-

do. Nas palavras de Lenin, ela era a “a

águia polonesa”.

Num ambiente fortemente mar-

cado por tradicionalismos e machismo,

Rosa defendeu sua tese de doutorado

ainda em 1898 e logo em seguida partici-

pou de intensa polêmica com o maior

expoente do socialismo evolucionista,

Eduard Bernstein. Opondo-se ao refor-

mismo e defendendo a perspectiva revo-

lucionária, Rosa afirmou: “Entre a

reforma social e a revolução, a socialde-

mocracia vê um elo indissolúvel: a luta

pela reforma é o meio, a revolução social

é o fim”.

Rosa foi presa em 1914 sob acu-

sação de incitar a desobediência civil nas

suas duras críticas à guerra e ao imperia-

lismo, mas, mesmo presa, cumpriu

importante papel junto à vanguarda da

classe proletária alemã. Ironizando a

postura das lideranças da Social Demo-

cracia europeia em relação à guerra afir-

mou: “Proletários de todos os países,

uni-vos em tempo de paz e degolai-vos

uns aos outros em tempo de guerra”. Em

apoio ao processo revolucionário, escre-

veu A Revolução Russa, tecendo críticas

aos bolcheviques, mas reconhecendo

que:

Mulheres Revolucionárias: Rosa

Luxemburgo

Grande teórica do marxismo e uma

das principais revolucionárias socia-

listas de todos os tempos, Rosa partici-

pou ativamente da luta contra o refor-

mismo encarnado na socialdemocra-

cia, fundando, em 31 de dezembro de

1918, o Partido Comunista da Alema-

nha (KPD).

Nascida na Polônia em 5 de

março de 1871, Rosa Luxemburgo se

tornaria uma da principais teóricas e

militantes da história do marxismo. Suas

contribuições ao marxismo viriam em

múltiplas esferas: polemizando no inte-

rior do movimento socialista alemão

contra o revisionismo, contribuindo com

a renovação do pensamento teórico,

analisando o movimento de desenvolvi-

mento do imperialismo e cumprindo

destacado papel na reorganização do

movimento comunista europeu e mundi-

al após a traição dos principais dirigen-

tes e organizações vinculados à Interna-

cional Socialista.

Rosa Luxemburgo foi assassi-

nada em janeiro de 1919, junto com Karl

Liebknecht, pelas forças do governo

alemão, que contava com a colaboração

da Social Democracia Alemã, cuja trai-

ção já havia sido denunciada por ela. Sua 1. LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou Revolução, prefácio.

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11

Setembro 2016 - Ano 02

cia conjuntural em estratégia política

permanente: “Naquela ocasião, o boico-

te foi justo, não porque seja certo abster-

se, de modo geral, de participar nos par-

lamentos reacionários, mas porque foi

levada em conta, acertadamente, a situa-

ção objetiva, que levava à rápida trans-

formação das greves de massas em greve

política e, sucessivamente, em greve

revolucionária e em insurreição. (...)

Mas transportar cegamente, por simples

imitação, sem espírito crítico, essa expe-

riência a outras condições, a outra situa-

ção, é o maior dos erros”. E afirmava:

“...a participação num parlamento demo-

crático-burguês, longe de prejudicar o

proletariado revolucionário, permite-lhe

demonstrar com maior facilidade às

massas atrasadas a razão por que seme-

lhantes parlamentos devem ser dissolvi-

dos, facilita o êxito de sua dissolução,

facilita a 'supressão política' do parla-

mentarismo burguês”.

Os ensinamentos das táticas

bolcheviques são um legado de inesti-

mável importância para os partidos que

mantêm a perspectiva da revolução soci-

alista. Segundo Lenin, somente através

de um trabalho prolongado de agitação e

propaganda e da dura experiência con-

creta das lutas, será possível construir

um movimento verdadeiramente de

massas e verdadeiramente revolucioná-

rio. A teoria, como diziam Marx e

Engels, não é um dogma, mas sim um

guia para a ação.

com grupos reformistas. Lenin dizia que

“preparar uma receita ou uma regra geral

('nenhum compromisso') para todos os

casos é um absurdo. É preciso ter a cabe-

ça no lugar para saber orientar-se em

cada caso particular”. Lenin citou como

exemplo o Tratado de Paz de Brest-

Litóvski (1918) com os alemães. A

sobrevivência do primeiro Estado prole-

tário dependia da saída da guerra. O tra-

tado representou perdas territoriais para

os soviéticos, mas foi necessário para

que o regime soviético conseguisse se

fortalecer e pudesse realizar suas enor-

mes tarefas. Lenin dizia: “rejeitar os

compromissos 'por princípios', negar a

legitimidade de qualquer compromisso,

em geral, constitui uma infantilidade que

é inclusive difícil de se levar a sério. O

político que queira ser útil ao proletaria-

do revolucionário deve saber distinguir

os casos concretos de compromissos que

são mesmo inadmissíveis, que são uma

expressão de oportunismo e de traição, e

dirigir contra esses compromissos con-

cretos toda a força da crítica”. Para qual-

quer compromisso deve-se levar em

conta a conjuntura nacional e internacio-

nal, a correlação das forças sociais, ou

seja, a análise concreta de uma situação

concreta, garantida sempre a indepen-

dência política da classe trabalhadora.

A não participação dos comu-

nistas em eleições parlamentares defen-

dida pelos esquerdistas foi igualmente

atacada por Lenin. Citando o exemplo

do boicote às eleições em 1905, ele com-

batia a transformação daquela experiên-

A derrocada da II Internacional

diante da Primeira Guerra Mundial e a

Revolução Socialista Russa fizeram com

que revolucionários rompessem com os

partidos sociais-democratas e organizas-

sem os Partidos Comunistas, seções

nacionais da III Internacional, constituí-

da sob a liderança dos revolucionários

russos. Lenin identificou, como os

principais inimigos do bolchevismo em

sua trajetória vitoriosa, o oportunismo

de direita e o revolucionarismo peque-

no-burguês. Em relação ao último, afir-

mava que “passa-se facilmente para uma

posição ultrarrevolucionária, mas é inca-

paz de manifestar serenidade, espírito de

organização, disciplina e firmeza. O

pequeno-burguês 'enfurecido' pelos

horrores do capitalismo é, como o anar-

quismo, um fenômeno social comum a

todos os países capitalistas”. Alguns

partidos comunistas, procurando dife-

renciar-se dos partidos reformistas da

socialdemocracia, enveredaram errada-

mente por uma linha política sectária,

ultraesquerdista, na contramão da políti-

ca bolchevique. Lenin, preocupado com

essa política nefasta aos interesses do

movimento operário e da revolução

socialista, escreveu “Esquerdismo, doen-

ça infantil do comunismo”, onde polemi-

za e explica as táticas bolcheviques para

os comunistas alemães, italianos e ingle-

ses.

Os esquerdistas defendiam que

para afastar o partido da influência

burguesa, deveria se manter a “pureza

política e ideológica”, evitando alianças

A atualidadeda tática Leninistana lutapolítica

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Setembro 2016 - Ano 02

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(21021), candidato a vereador em Nova

Friburgo (RJ), em coligação com o

PSOL, cujo candidato a Prefeito é o

combativo deputado federal Glauber

Braga. Com experiência na luta contra a

ditadura, em defesa da educação pública

e dos direitos dos trabalhadores, Rico

destaca, em sua campanha, a formação

de conselhos populares nos bairros e

comunidades, para que a própria popula-

ção possa decidir sobre questões essen-

ciais à sua vida, como a saúde, os trans-

portes, a educação, a moradia”.

Em São Paulo, o PCB participa

da aliança com o PSOL, apoiando Luiza

Erundina para a prefeitura e lançando,

para a Câmara Municipal, os camaradas

Mazzeo (21021), professor da USP, e

Lígia Fernandes, militante da UJC e do

Coletivo Feminista Classista Ana Mon-

tenegro. Em Belo Horizonte, o professor

da UFMG Pablo Lima é candidato a

vice-prefeito na chapa com o PSOL e o

camarada Túlio Lopes (21000) vem a

vereador. Em Fortaleza (CE), Roberto

Santos (21234), diretor do sindicato dos

trabalhadores da construção civil, é um

dos candidatos a vereador do PCB na

coligação com o PSOL e mantém acesa

a luta por moradia e contra a exploração

capitalista. Em todas as cidades, a cam-

panha eleitoral é entendida pelo PCB

como instrumento de consolidação da

alternativa socialista nas lutas popula-

res.

É importante destacar que o

PCB “desenvolve uma linha política

revolucionária e acha que, nas eleições,

deve ocorrer um debate profundo sobre a

vida dos trabalhadores nas cidades e no

campo, que não está descolada da situa-

ção do país e do mundo. Os candidatos

do PCB não participam de eleições ape-

nas para tentar ganhá-las, mas para fazer

com que esse debate exista, avançando a

luta dos trabalhadores e a organização

dos movimentos sociais”.

Uma candidatura comunista para

enfrentar uma cidade partida e voltada

aos interesses das elites, uma campanha

que busca envolver os trabalhadores

para inverter a lógica política e construir

uma cidade voltada para os interesses da

classe trabalhadora. É possível mudar o

curso do Rio com o poder popular”.

Outro camarada ouvido pelo

Poder Popular foi o professor Rico

O Partido Comunista Brasileiro

(PCB) está presente nas eleições muni-

cipais deste ano com 234 candidatos,

alcançando um total de 48 municípios e

15 estados. Nas candidaturas majoritári-

as, são 24 coligações com o PSOL, 23

próprias e 2 em aliança com o PSTU.

Apesar de ter crescido em rela-

ção a eleições anteriores, a participação

do Partido ainda é pequena no mapa

eleitoral como um todo e em compara-

ção com os partidos burgueses porque

“nós, do PCB, não somos um partido

eleitoreiro, não queremos crescer a partir

de alianças e ou acordos oportunistas,

incompatíveis com nossas ideais e con-

vicções”, esclarece documento do Comi-

tê Central. As alianças realizadas com os

partidos de esquerda, notadamente o

PSOL, atendem as resoluções do XV

Congresso de buscar formar um bloco de

esquerda ant icapi ta l i s ta e ant i -

imperialista, no rumo do Poder Popular e

da luta pelo socialismo.

Os candidatos do PCB

Em algumas cidades, como

Jaboatão dos Guararapes (PE), o PCB

lançou candidatura própria a prefeito e

vice, além de vários candidatos a verea-

dor. É o caso também de Ipatinga (MG),

onde o camarada Daniel Cristiano con-

corre à Prefeitura. Em outros municípi-

os, porém, optou por candidaturas a vere-

ador em coligação com o PSOL, como

no Rio de Janeiro, em que o PCB apoia

Marcelo Freixo e aposta em Heitor

(21321) para o retorno dos comunistas à

Câmara Municipal:

“Nossa candidatura a vereador

no Rio de Janeiro se apresenta como uma

campanha militante, radicalmente em

defesa da classe trabalhadora, de seus

direitos bem como em defesa da amplia-

ção dos espaços democráticos e de parti-

cipação popular no processo político.

ELEIÇÕES 2016:Só a Luta muda a Vida!