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País em brasa livro de crónicas editado há 2 anos

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Título original“PAÍS EM BRASA”Copyright © 2011, Mário Dorminsky/Cinema Novo CRLTodos os Direitos Reservados

Design Gráfico e CapaPrumma | Marketing & Design ConsultancyRevisãoCarla VieiraPré-Impressão, impressão e acabamentoPenagráfica - Artes Gráficas Lda.

ISBN 978-989-20-2586-5Cinema Novo CRLRua Aníbal Cunha, 84 - Sala 1.64050 - 048 Porto

Agradecimentos: Luís Filipe Menezes, João Dorminsky, Carla Vieira e Lauren Maganete

A Beatriz Pacheco PereiraSobretudo pelo apoio durante os últimos seis anos, numa altura em que enveredei também pela vida política activa.

Crónicas publicadas no Jornal Grande Porto

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PAÍS EM BRASAmário dorminsky

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Mário DorminskyNascido no Porto em 1955. Frequentou Arquitectura. Foi-lhe concedido pelo Estado Português a Comenda das Artes, entre as mais diversas distinções. Foi Fundador da Cooperativa Cinema Novo CRL em 1976 e do Festival Internacional de Cinema do Porto em 1981.Jornalista desde 1977 em “O Primeiro de Janeiro”, exerceu a profissão até 1991 no “Sete”, “Notícias da Tarde”, ”Jornal de Notícias” e “Comércio do Porto”. Mantém desde 1971 actividade de cronista nos mais diversos órgãos de Comunicação Social. Desde 1991 vocacionou a sua actividade exclusivamente para o cinema, tendo criado duas distribuidoras, parti-cipado em júris internacionais de Festivais como o de Cannes e participado em diversos Conselhos Nacionais de referência nas áreas da Cultura e Turismo. Tem editados diversos livros entre os quais

“Escola de Animação de Zagreb”, “Roger Corman” ou “História do Cinema”. É desde 2005 vereador da Câmara Municipal de Gaia, ocupando os pelouros da Cultura e Turismo.

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PREFÁCIO

A oportunidade de um livro faz-se de múltiplos factores e circunstân-cias. A febre editorial dos últimos anos tem dado à luz do dia livros que mais valia terem ficado no sossego dos computadores ou dos tinteiros – para aqueles mais “old fashioned”.

Não é o caso deste livro do Mário Dorminsky. Desde logo, porque o autor não precisa deste livro para ter espaço público suficiente para exprimir as suas opiniões. Mas, mais importante: o livro tem oportu-nidade porque nos fala sobre a situação político-económica presente (factor 1); porque perspectiva uma saída para a crise (factor 2); porque baseia a sua mensagem na análise do que se passou nos últimos dois anos da vida do País (contexto/circunstância).

É por isso um livro actual. Revejo-me em muitas das opiniões que o Mário Dorminsky expendeu. Ao ler o título do livro “o país em brasa” lembrei-me que os 2 anos após o 25 de Abril passaram à História como

“os anos da brasa”.

Vivia-se o PREC e, de uma certa maneira, vivemos hoje numa espécie de PREC financeiro, com a arbitrariedade a tomar conta dos mercados e o caos instalado nas bolsas e nas praças financeiras..Como no PREC, também não se vislumbra uma autoridade europeia forte, determinada e legitimada para dar a volta à situação. É bem verdade que a História se repete umas vezes como tragédia, outras como farsa.

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Se nos “anos da brasa” fomos capazes de dar a volta à situação, estou convencido que do “país em brasa” vai surgir um país mais coeso, mais solidário e mais desenvolvido. Estou mesmo convencido que vamos ver “a luz ao fundo do túnel”, como diz o Mário.

Sem possuir nenhuns dotes divinatórios, recordo, porém, que há pouco menos de 10 anos critiquei a União Europeia por ter imposto um limite de 3% ao défice orçamental. Estava na cara que os países mais pobres, como Portugal, teriam dificuldade em cumprir. Jacques Delors pensou o mesmo.

Há anos que venho criticando “esta” globalização, que coloca países culturalmente assentes nos princípios da Revolução Francesa, onde os direitos humanos, sociais e políticos estão constitucionalmente consa-grados, e países onde esses direitos são postergados.

O resultado a que chegamos não me espanta, mas, como no PREC e nos “anos da brasa”, sei que vamos encontrar a luz ao fundo do túnel. Por muitos “verões quentes” que tenhamos que passar…

Luis Filipe Menezes

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INTRODUÇÃO Um retrato deste Portugal em brasa no qual temas recorrentes são as Indústrias do Turismo, as da Cultura e a Regionalização. Será even-tualmente um livro efémero porque é opinativo, perspectiva o futuro e reflecte sobretudo sobre o estranho percurso deste País nos últimos dois anos: o final da época Sócrates e os primeiros tempos de Pedro Passos Coelho no Governo do País. Como se de prefácios se tratassem, escolhi três textos de abertura que expressam o meu pensamento sobre estes assuntos, depois largamente abordados ao longo do livro.É um livro que certamente não servirá, não vai servir, a nenhum histo-riador que pretenda abordar no futuro este período temporal que marca para a posteridade uma das piores crises político/financeiras que Portugal viveu e continua a viver, nestes últimos séculos. A opção que tomei em editar estas crónicas por ordem de publicação, ajuda também a entender a minha leitura deste período conturbado, em geral feita normalmente por antecipação ao que, de facto, viria a acontecer. No fundo também alguns contributos para o ultrapassar de uma situação que todos pretendemos seja rapidamente colmatada, de forma a podermos reaver a dignidade de cidadãos do Mundo. Concluo com uma crónica ficcionada. Uma ficção que não gostava viesse a ser uma realidade, até porque estou seguro de que, apesar dos tempos difíceis que vivemos, poderemos, sem sobressaltos de maior, começar a ver a tal “luz ao fundo do túnel” e, passo a passo, atingirmos o nosso objectivo.M.D.

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1.TURISMO

UM DIAMANTE EM BRUTO Portugal é um diamante em bruto. É um país que geograficamente é porta de entrada na Europa das Américas e da África. Está no centro do Mundo! Tem história. Teve poder. Descobriu as Américas, África, passou pela Ásia. Teve e tem países amigos que já fizeram parte de um Portugal rico e próspero. Está virado para o mar e tem um conjunto de microclimas que lhe proporciona paisagens completamente diversas e, pode-se dizer sem qualquer receio, das mais belas do Mundo. Desde sempre soube criar um património fantástico.

É um país que sempre viveu da agricultura e do mar, onde a indústria, apesar de ser um sector sempre importante se foi desenvolvendo e impondo no Mundo, sobretudo nas vertentes da tecnologia e do saber. Somos respeitados naquilo em que somos bons.

Criamos nestes últimos anos uma forte e prestigiada imagem interna-cional na valência da Arquitectura, sobretudo através da actual Facul-dade do Porto de onde emergiram alguns dos grandes arquitectos nos últimos 30 anos. No cinema temos uma imagem de criatividade e somos reconhecidos pela diferença do nosso cinema em relação ao que é produzido na Europa e no Mundo. Somos criativos.

Sempre soubemos ultrapassar as dificuldades que nos surgiram pela frente mas… hoje em dia somos um povo deprimido. Um País em depressão. Portugal enfrenta, uma crise social que tende a agravar-se.

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A débil situação económica em que nos encontramos, a deslocalização de indústrias (nacionais e estrangeiras) para outros países onde as condições laborais são mais fáceis, a dificuldade em criar padrões de qualidade e de competitividade atraentes para o investimento na indústria e no comércio e a crescente perda de referências e de capaci-dade de criar trabalho e receitas por parte das pequenas e médias empresas (que constituem a maioria do tecido empresarial português) são alguns dos factores que infelizmente caracterizam na actualidade o mercado nacional.

Se Portugal é claramente débil em numerosos campos, tem um forte potencial em duas áreas onde a tradição, a criatividade e os recursos naturais fornecem todas as mais-valias para a criação de zonas de mercado capazes de dinamizarem a economia e de atraírem novos visitantes e novos investimentos, privados, públicos, nacionais e estran-geiros. Refiro-me às INDÚSTRIAS DO TURISMO E DA CULTURA e da sua ligação intrínseca ao desenvolvimento das áreas dos SERVIÇOS.Portugal tem sido promovido exclusivamente como um país do Sul da Europa, com uma oferta turística centrada em dois únicos produtos - sol/mar e golfe e um país de gentes hospitaleiras. Estes elementos eram, e são, factores de atracção, a que se deve adicionar a qualidade do atendimento, um património invejável, o “life-style”, a modernidade e a inovação.

Mas Portugal tem mais do que isto: tem um potencial de oferta turís-tica muito diversificado. Tem uma cultura rica em eventos culturais

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e desportivos de impacto internacional. Tem esse património histó-rico/arquitectónico importantíssimo que vai do neolítico, passando pelo romano, barroco até chegar à modernidade; tem uma ligação única aos Oceanos (temos a maior zona económica exclusiva na Europa; um território marítimo que é 18 vezes o Continental); temos aldeias (muitas) completamente recuperadas mas onde ainda não existe sequer uma pensão ou até um café, temos uma expressão musical única - o fado e a nossa música pop, rock, erudita ou folclórica (emergente de um belíssimo Cancioneiro Popular, temos a nossa grande gastronomia, os tais diversificados microclimas capazes de nos transformar, tal como aconteceu com o Luxemburgo, República Checa ou até Estónia num enorme estúdio de cinema… mas nem uma Film Comission, que todos os países criaram, nós fizemos. Temos assim muito para oferecer a quem nos visita e um forte trabalho a fazer para nos darmos a conhecer como um espaço especial para a criação de indústrias ligadas também ao espectáculo e, ao showbizz em particular. Será suficiente olhar o Mundo moderno e basta espreitar aqui mesmo para o lado, para Espanha, e percebemos rapidamente que apostas estão a ser feitas… Turismo… Turismo… Turismo, que é já a segunda maior indústria de Espanha. Outonos e Invernos vocacio-nados para a terceira idade… Primavera e Verão para os mais jovens. Preços diferentes, preços competitivos na hotelaria, na alimentação mantêm vivo o turismo sobretudo nas grandes cidades e em toda a zona do Mediterrâneo. Até a Galiza, a região dita mais pobre de Espanha está a crescer fortemente nesta área. A criação de um aero-porto gigante em Santiago de Compostela é exemplo disso e pode

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significar um ataque ao Aeroporto do Porto, considerado um dos melhores do Mundo, mas que ainda só está aproveitado em 30% das suas capacidades. Somos um diamante em bruto. Onde não falta sequer a beleza única do Douro. Não será que esta é mesmo a solução mais imediata para a situação actual deste Portugal?

Abril 29, 2011

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2. CULTURA

LUTAR PELA CULTURA É UM DESÍGNIO NACIONAL

Anda na internet, em particular no Facebook, um logótipo que relembra uma das valências mais importantes de qualquer País civili-zado: “Lutar pela Cultura”, diz. Parece que já nos esquecemos que é a Cultura que permite manter a identidade de um Povo.

Eu sei que vivemos tempos difíceis. Tempos em que os portugueses sentem no dia a dia as dificuldades de sobreviver aos cortes que, Governo e agora União Europeia e FMI, fizeram e vão ainda fazer no

“Estado Social”, terminologia sempre teoricamente defendida por todos os partidos políticos. Quando falo em “Estado Social” falo na manu-tenção das condições de vida que cada português tem de ter para poder sobreviver às políticas desastrosas dos nossos Governos desde 2001, altura em que a dita “crise” se começou a fazer sentir.

Não houve coragem nas alturas próprias para analisar a situação económico-financeira do País e, particularmente nos últimos 6 anos controlar o descontrolo total das contas públicas e que nos colocaram na situação presente. Agora só temos duas alternativas: ver tudo a ruir como um autêntico “baralho de cartas” ou “arriscar”. Lutar contra a situação que se vive é a única lógica existente. Lutar pela nossa digni-dade com a nossa Cultura. Refiro-me à Cultura numa altura em que esta parece estar completamente afastada da nossa realidade, mas não.

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A cultura é uma das poucas coisas que nos resta para dizermos que somos portugueses de alma e coração e que preserva o nosso SER. Vivemos num país em que os nossos governantes, desde sempre, olham para a denominação “Cultura” como algo elitista, que não dá votos, algo que não interessa para nada. Daí os orçamentos miseráveis que sempre temos tido a nível de Governo e autarquias, para essa valência fundamental do nosso quotidiano, sobretudo nos tempos que correm. No entanto, a Cultura é uma Indústria e forte. Gera 0, 6 % do Produto Interno Bruto Nacional, um valor superior às muito apoiadas e subsi-diadas indústrias dos têxteis ou a automóvel. Se à cultura anexarmos a indústria do Turismo, atingimos actualmente cerca de 15% do PIB e, se percebermos que a sua fusão proporciona um crescimento signifi-cativo dos Serviços poderíamos também ver diminuido o número de falências de empresas no sector, a natural manutenção de emprego e, até o seu crescimento.

Há mais de vinte anos que, por toda a Europa as Indústrias da Cultura e do Turismo, têm sido uma solução óbvia para o fortalecimento do PIB. A criação de uma política sustentada nessas valências faria crescer obviamente a nossa economia. Vale a pena apostar na Cultura...

Maio 6, 2011

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3.REGIONALIZAÇÃO

É URGENTE A REGIONALIZAÇÃO

Vive-se com dificuldade. Os bens de consumo têm preços exorbitantes comparados com os nossos parceiros europeus, sobretudo com os dos vizinhos espanhóis. Tem-se perdido o gosto pela vivência do quoti-diano. Só se fala de crise, de apertar o cinto, de recessão económica, isto apesar do nosso Primeiro-Ministro dizer continuamente que “já saímos da recessão”. Andamos “em baixo”.

Os nossos políticos estão quase desacreditados. A nossa Justiça não é célere. O Serviço Nacional de Saúde continua a não dar resposta às necessidades dos portugueses. O Ensino entrou em “recessão técnica” com o feroz ataque do Estado aos professores. Proíbem-se livros de serem vendidos nas livrarias, desacreditam-se jornalistas, limita-se a Liberdade de Expressão etc, etc. Parece surrealista viver num país assim, passados que são, mais de três dezenas de anos do Abril de 74.

Mas, pelo menos, eleições há. E aos montes!!! Vêm aí as Legislativas e logo a seguir as Autárquicas. Já tivemos recentemente as Europeias. Aí cerca de 50% dos recenseados votaram, os outros, esses ficaram em casa. E agora? Que vão eles fazer? Depois dos debates televisivos a que temos assistido, a vontade é mesmo de ir votar, mas “em branco”. Um voto que, nos tempos que correm, tem uma importância relevante. Será um voto de todos aqueles que não ACREDITAM neste Portugal.

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E como chegamos a este ponto? Basicamente porque não nos dão um futuro visível para um quotidiano que valha a pena viver.

O que nos têm prometido os nossos responsáveis políticos? Que solu-ções realistas e credíveis para o comum dos cidadãos nos oferecem os nossos líderes políticos? Nada! Pelo menos, pedia-se-lhes que nos fizessem ver uma ”luz ao fundo do túnel” para que o nosso ego fosse um pouco mais “para cima”. Assim, que resposta pensam ter dos portugueses?

Vemos um Estado a desmoronar-se. Vemos os Municípios a tentar “salvar-se” com os poucos recursos que lhes são postos à disposição. Vemos alguma iniciativa pela parte dos políticos que estão mais perto de nós. Vemos, no fundo, que sem regionalização não vamos lá.

Entretanto, os poucos que trabalham violentamente para o Estado poder pagar todos aqueles que vivem à custa da segurança social, sobretudo a classe média, sofre. Produz-se pouco. Não há crescimento da nossa economia. E, para “ajudar”, os patrões aproveitam-se da situa-ção e da crise financeira, servindo-se como desculpa para “cortar” nas condições de trabalho… nos trabalhadores que mandam para o desem-prego. Vivemos assim num Portugal “parado”, à espera, e estranha-mente sem propostas alternativas para ultrapassar a sua débil situação financeira.

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Mas veja-se o que acontece em Espanha. Os vencimentos, se bem que um pouco superiores aos praticados em Portugal, permitem o acesso aos bens de consumo, que são consideravelmente mais baixos. Aí, os combustíveis são mais baratos. Numa ida ao supermercado, e isto tendo em conta estudos comparativos entre os dois países, a diferença de preços atinge os 50% a menos. A roupa ou os sapatos são dos mais em conta da Europa. Na habitação, quer no sistema de aluguer, quer através de compra, mesmo contraindo empréstimos bancários, até nos melhores “bairros” espanhóis, os alugueres ou as prestações bancárias são mais baixas. Até no tabaco e nos automóveis há uma diferença de preços inacreditável.

Também no sector turístico a Espanha é mais atractiva que Portugal. Os restaurantes são, ou mais baratos ou ao mesmo preço de Portugal e os hotéis são claramente mais acessíveis aos bolsos de qualquer hóspede. Na Cultura, o IVA é insignificante, daí que os livros, DVD´s, o acesso a Museus e até a aquisição de obras de arte é muito mais atractiva para o comprador. Porquê? Porque foram atempadamente implementadas políticas de defesa do consumidor e pouco se ouve falar de crise ou recessão. Mantém-se assim uma “calma” junto da popu-lação que garante a continuidade da produtividade e, logicamente, a manutenção da economia. Muito embora a “crise” tenha também chegado a Espanha, o seu Governo investe na sua imagem a nível internacional e fez do turismo, na maioria dos casos associado à cultura, um garante para um crescimento sustentado do sector de serviços. Aliás, no passado ano, o turismo cultural foi a maior indústria de Espanha.

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Porque será que os nossos governantes, em vez de olharem para o umbigo e estarem sobretudo preocupados com a manutenção de um poder centralista considerando-se donos da verdade absoluta, não olham para o lado e seguem o exemplo dos nossos vizinhos?

Mas não ficam por aqui as diferenças entre as políticas destes dois países. Não é por acaso que em Espanha há regiões e estas assumem o seu poder, limitando uma qualquer veleidade centralista do Governo espanhol. Será isso verdadeiramente o que Portugal precisa? Venha a Regio-nalização que nós damos a volta a isto! Vive-se com dificuldade. Tem-se perdido o gosto pela vivência do quotidiano. Só se fala de crise, de apertar o cinto, de recessão económica, isto apesar do nosso Primeiro-Ministro dizer continuamente que “já saímos da recessão”. Andamos

“em baixo”.

Os nossos políticos estão quase desacreditados. A nossa Justiça não é célere. O Serviço Nacional de Saúde continua a não dar resposta às necessidades dos portugueses. O Ensino entrou em “recessão técnica” com o feroz ataque do Estado aos professores. Proíbem-se livros de serem vendidos nas livrarias, desacreditam-se jornalistas, limita-se a Liberdade Expressão etc, etc. Parece surrealista viver num país assim, passados que são, mais de três dezenas de anos do Abril de 74.

Mas, pelo menos, eleições há. E aos montes!!! Vêm aí as Legislativas e logo a seguir as Autárquicas. Já tivemos recentemente as Europeias. Aí cerca de 50% dos recenseados votaram, os outros, esses ficaram em casa. E agora? Que vão eles fazer? Depois dos debates televisivos

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a que temos assistido, a vontade é mesmo de ir votar, mas “em branco”. Um voto que, nos tempos que correm, tem uma importância relevante. Será um voto de todos aqueles que não ACREDITAM neste Portugal. E como chegamos a este ponto? Basicamente porque não nos dão um futuro visível para um quotidiano que valha a pena viver.

O que nos têm prometido os nossos responsáveis políticos? Que solu-ções realistas e credíveis para o comum dos cidadãos nos oferecem os nossos líderes políticos? Nada! Pelo menos, pedia-se-lhes que nos fizessem ver uma ”luz ao fundo do túnel” para que o nosso ego fosse um pouco mais “para cima”. Assim, que resposta pensam ter dos portugueses?

Vemos um Estado a desmoronar-se. Vemos os Municípios a tentar “salvar-se” com os poucos recursos que lhes são postos à disposição. Vemos alguma iniciativa pela parte dos políticos que estão mais perto de nós. Vemos, no fundo, que sem regionalização não vamos lá.

Outubro 25, 2009

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UM PAÍS DE TURISMO

Portugal está cada vez mais centralizado em Lisboa. Indústria, Serviços, Cultura, Turismo e muitos outros sectores ali se sediaram. Esta é verdadeiramente um enclave num país, cada vez mais esquecido pelos poderes públicos, sendo aí que se encontra o maior potencial económico para se poder dar um primeiro “pontapé” na chamada

“crise”. Refiro-me à imprescindível aposta nas indústrias do Turismo e da sua ligação intrínseca ao desenvolvimento exponencial da área dos serviços que tal aposta permitiria.

Este Portugal tem igualmente um forte potencial em áreas onde a tradição, a criatividade e os recursos naturais fornecem todas as mais-valias para a criação de zonas de mercado, também elas, capazes de dinamizarem o tecido empresarial e, de atraírem novos visitantes bem como óbvios investimentos, sejam eles privados, públicos, nacionais e estrangeiros.

Portugal tem sido visto como um espaço do Sul da Europa, com uma oferta turística centrada em dois únicos produtos - sol e mar, sendo claramente um país de gentes hospitaleiras. Estes elementos são factores de atracção a que se deve adicionar a qualidade do atendimento, um património invejável, o “life-style”, a modernidade e a inovação.

Mas Portugal tem muito mais para oferecer. Tem um potencial turístico muito diversificado e totalmente esquecido. Tem uma cultura

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rica em eventos culturais e desportivos de impacto internacional. Tem um património histórico/arquitectónico importantíssimo que vai do neolítico, passando pelo romano, barroco até chegar à modernidade e que precisa de algum restauro. Tem uma ligação única aos Oceanos (possuímos a maior zona económica exclusiva na Europa - um território marítimo que é 18 vezes o Continental); Possui aldeias lindíssimas (muitas) completamente recuperadas, onde não existe sequer uma pensão ou até um café, situação que facilmente se resolveria. Tem uma expressão musical única - o fado e a nossa música pop, rock, erudita ou folclórica (emergente de um belíssimo Cancioneiro Popular). Tem a nossa excelente gastronomia e vinhos de magnífica qualidade. Tem diversificados microclimas que alteram de forma radical o seu aspecto paisagístico. Por todas estas realidades, tal como aconteceu com o Luxemburgo, República Checa ou até Estónia temos um país capaz de se transformar rapidamente num enorme estúdio de cinema, o que proporcionaria receitas fantásticas..

Temos assim muito para oferecer a quem nos visita, mas ainda muito trabalho a fazer para nos darmos a conhecer como um espaço especial para a criação de uma grande indústria turística.

Enfrentamos hoje uma crise que estranhamente tende a agravar-se. A débil situação económica em que nos encontramos, a natural deslocalização de indústrias (nacionais e estrangeiras) para outros países onde as condições laborais são mais fáceis, a dificuldade em criar padrões de qualidade e de competitividade mais atraentes para o investimento na indústria e nos serviços é algo assustador o que

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provoca uma crescente perda de referências culturais, de capacidade em criar postos de trabalho o que também provoca a perda de receitas por parte das pequenas e médias empresas (que constituem a maioria do tecido empresarial português) e que têm sido um garante da produção em Portugal. Mas também estas são mal tratadas.

Não sou, nem quero ser detentor da verdade mas, não será mesmo o Turismo a grande aposta que Portugal deve fazer?

Outubro 13, 2009

UM PAÍS MINÚSCULO CHAMADO…LISBOA

Sou claramente defensor da regionalização baseada nas cinco comi-ssões de coordenação já existentes em Portugal. Considero que essas futuras regiões poderão mais facilmente dialogar com o Governo e com a União Europeia, dado que os seus eleitos (sim, defendo a eleição directa destes órgãos) são conhecedores das realidades regio-nais e locais, o que não acontece actualmente com quem se senta nos gabinetes do Governo.

Serão, admito, Governos Regionais com responsabilidades muito próximas daquelas que correspondem ao Governo do País. A nível financeiro em vez das autarquias terem de enviar integralmente para Lisboa o dinheiro que recebem dos impostos autárquicos, geririam as regiões, com base nessas verbas e, com a captação de investidores

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privados, fossem eles portugueses ou estrangeiros poderiam avançar com outros projectos de interesse regional. Tal é possível. No caso de Gaia isso tem sido evidente. Em dez anos de mandato de Luís Filipe Menezes conseguiu captar muito mais de mil milhões de euros em investimentos privados e… essa “entrada” financeira continua… com investimentos vindos do Oriente, do norte de África, Ocidentais e também portugueses. Curiosamente quase todos nas áreas do turismo e da tecnologia. Sem essa política, de governar uma cidade como se fosse um país, a transformação total de Gaia nos últimos anos seria impensável.

Os Governos Regionais teriam de ter a responsabilidade de lidar com políticas como as de ensino, sociais, habitacionais, culturais e com aquela que poderia ser a nossa maior indústria… o turismo, que faria crescer os serviços de forma gigantesca e permitiria diminuir o desem-prego. Estes governos não teriam naturalmente responsabilidades na política externa mas teriam naturalmente palavra nas políticas que o Governo Central quererá implementar no País.

Cabe naturalmente aos políticos eleitos para a nossa Assembleia da República criar juridicamente a estrutura destas regiões capazes de fazer lobby com o Estado para defender as propostas políticas que teriam de apresentar aos seus eleitores.

Quanto aos órgãos autárquicos seriam naturalmente braços armados de cada Governo Regional e teriam praticamente as mesmas competências que possuem hoje em dia, só que não se “deslocariam”

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continuamente ao Poder Central, para andar a mendigar as verbas necessárias para que o País pudesse ser mais equilibrado e não fosse como agora… mera paisagem.

E tudo isto porquê, se de facto somos um pequeno país. Já não há sedes de grandes empresas a norte… todas foram para Lisboa. Se se quer

”subir na vida” tem de se ir para a capital. Ali está tudo e… todas as (poucas) oportunidades que este Portugal nos oferece nos tempos que correm. Poderíamos ter, por exemplo, uma comunicação social voca-cionada para cada região. Media capaz de nos informar do que ali se passa para não sermos obrigados a ter só conhecimento do que se passa na Capital.

Claro que estas linhas, estes conceitos, são empíricos. Mas temos o exemplo de Espanha e da maioria dos países da Europa para “aprender” a copiar como é que as regiões funcionam e isso é uma atitude que só demonstraria inteligência.

É que se éramos um país pequeno… ele agora é minúsculo. É mesmo só… Lisboa.

Outubro 17, 2009

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REGIÕES OU AUTARQUIAS?

Estamos a cerca de uma semana das eleições autárquicas. Enquanto candidato à vereação da Câmara de Gaia, abstenho-me naturalmente de tecer quaisquer comentários sobre estas eleições de características bem diversas em relação às recentes legislativas, que colocaram Portugal “à beira de um ataque de nervos”!

Um dos meus maiores desejos que estas legislativas poderiam proporcionar, tem a ver com a possibilidade de se poderem vir a realizar acordos de princípio entre partidos, para que o dossier

“regionalização” pudesse ser um dos primeiros temas significativos de discussão a nível nacional nos tempos que se avizinham. No fundo, abordar uma das poucas soluções que pode e deve ser “esmiuçada” para ultrapassar a crise em que nos encontramos.

Apesar do esforço de todos aqueles que têm tentado tornar claro aos portugueses a necessidade urgente de termos um país regionalizado, e este tema ter sido “esquecido” nestas eleições, muitos há que têm publicamente assumido a necessidade desta mudança estrutural na sociedade portuguesa.

Ainda recentemente e, por iniciativa da Câmara Municipal do Porto, realizaram-se diversas conferências sobre o tema, nas quais a conclusão unânime (apesar de divergências de pormenor entre os intervenientes) foi claramente a favor de uma reestruturação administrativa em Portugal que irá obrigar obviamente a alterações na nossa Constituição.

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Nós, os que defendemos a regionalização, já tivemos “o pássaro na mão” e deixamo-lo voar. A verdadeiramente idiota discussão então havida, se se havia de criar cinco ou sete regiões administrativas, levou os portugueses a votar contra esta clara necessidade para o país, no referendo então realizado. Fossem cinco ou sete regiões, isso interessa-me pouco, muito embora, para o país que somos a própria lógica das cinco comissões de coordenação regional que já temos, facilitaria ainda mais a implementação desta reestruturação política.

Quem então estava “no contra” dizia que a regionalização serviria para criar mais “tachos”. Que teria custos elevadíssimos para o País. Enfim... e o progresso que tal traria às regiões com a participação de políticos que, em vez de estarem fechados nos seus gabinetes na Capital, governando o “país” como se este se resumisse a Lisboa, fossem verdadeiros eleitos das populações e conhecessem bem as necessidades de cada uma delas. Ter cinco ou sete, como queiram, representantes directos dos portugueses a lutar pelos seus interesses junto do Poder Central seria, por si só, um passo de gigante para acabar com o centralismo político lisboeta em que este país caiu.

Dei-me ao trabalho de ler os programas dos partidos com assento parlamentar para ver o que propunham sobre o tema. Estranhamente só encontrei duas referências, uma até nem sequer assumida, sobre a regionalização. Nos programas do PSD e do Bloco. Transcrevo a do PSD porque é elucidativa do desinteresse total que este tema aparenta ter para quem nos governa: “Ponderaremos as várias propostas efectuadas para, em sede de revisão constitucional, aperfeiçoar a auto-

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nomia regional sem abandonar a unidade do Estado”! Quanto ao Bloco vai um pouco mais longe. “Que se crie um modelo de regiões que, tendo como ponto de partida os territórios das actuais Comissões de Coor-denação e Desenvolvimento Regional, tenha amplo consenso popular e amplie a capacidade de participação dos municípios na determinação das prioridades de investimento; Dote estas regiões de organismos eleitos, evitando a multiplicação de burocracias e concentrando-se na resposta a responsabilidades concretas na coordenação regional dos sistemas de transportes, habitação e outras políticas sociais”. Ponto final.

Defendo a regionalização e através dos parcos meios ao meu alcance lutarei por ela. Mas, enquanto se mantiver a ditadura de Lisboa sobre este país, temos na próxima semana a oportunidade para votar de forma massiva nos nossos candidatos às autarquias, provando aos nossos governantes que os autarcas são, neste momento, os únicos que nos podem defender.

Outubro 26, 2009

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NEM O ÓBVIO SABEMOS COPIAR

Estamos a dois dias de eleições legislativas. Haverá seguramente neste “Grande Porto” muitos artigos baseados nas últimas sondagens, nos fait-divers da campanha, “esmiuçando” todos os envolvidos neste

“último combate”. Vou assim abordar um tema diferente. Um tema que me é caro e no qual não deixarei de insistir, apesar de ter estado ausente dos débeis programas eleitorais que nos foram dados a conhecer pelos principais partidos políticos.

Portugal tem estado sempre ligado ao mar e aos oceanos em todos os planos: na história, na vivência das nossas gentes, na poesia, na gastronomia… Para além da legitimidade histórica, esta ligação ao mar é-nos reconhecida internacionalmente. Os oceanos associam-se ao tema das Descobertas (que foi uma primeira experiência de globalização…).

Mesmo assim não aprendemos nada com a história. Já fomos um grande país. Conquistamos o planeta. O Tratado de Tordesilhas “deu-nos” metade do Mundo. Éramos negociantes e criamos indústrias extre-mamente rentáveis. 500 anos depois vivemos uma crise que parece não ter fim. Mas estas “crises” não são novidade na nossa história. Já fomos salvos pelo ouro vindo do Brasil ou até pelas verbas que inicialmente fomos buscar à antiga Comunidade Económica Europeia.

Os novos Quadros Comunitários são mais uma oportunidade para fazer Portugal sair desta débil situação económica, mas neste Mundo globalizado é necessário perceber que temos de ser extremamente

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diplomáticos. A deslocalização de indústrias (nacionais e estrangeiras) para outros países onde as condições laborais são mais fáceis, a dificuldade em criar padrões de qualidade e de competitividade atraentes para o investimento na indústria e no comércio e a crescente perda de referências e de capacidade de criar trabalho e receitas por parte das pequenas e médias empresas (que constituem a maioria do tecido empresarial português) são alguns dos factores que, infelizmente, caracterizam o actual mercado nacional. Mas se Portugal é débil em numerosas valências, tem um forte potencial em duas áreas onde a tradição, a criatividade e os recursos naturais fornecem todas as mais-valias para a criação de zonas de mercado capazes de dina-mizarem a economia e de atraírem novos visitantes e novos inves-timentos, privados, públicos, nacionais e estrangeiros. Refiro-me às indústrias do turismo e da cultura e da sua ligação intrínseca aos serviços. Portugal tem sido visto, em geral, como um país do Sul da Europa, com uma oferta turística centrada em dois únicos produtos (sol/mar e golfe), um país de gentes hospitaleiras, do passado/tradição. Estes elementos eram, e são, factores de atracção, a que se deve adicionar elementos tão importantes como a qualidade, o “life-style”, a modernidade e a inovação. Mas Portugal tem mais do que isto: tem uma oferta turística muitíssimo diversificada. Tem um património histórico/arquitectónico importantíssimo. Temos rios como o Douro e as suas encostas; temos aldeias lindíssimas completamente recu-peradas; temos a nossa grande gastronomia. Temos…

A área do turismo tem de ser encarada como a actividade económica com o maior potencial de gerar trabalho e riqueza neste País.

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Portugal tem tudo para oferecer a quem nos visita. Porque será que os nossos governos não conseguem ver o óbvio? Basta olhar para o lado. As indústrias do turismo e da cultura foram em 2008 das mais rentáveis de muitos países europeus. Copiar o óbvio...é seguramente algo de inteligente.

Outubro 30, 2009

O MEU “AVIÃOZINHO”... FOI-SE?

Tudo o que se tem dito sobre a Red Bull Air Race não deixa de ser algo de “normal”. Os “meninos” de Lisboa querem tirar-nos mais um

“brinquedo”, tal como já acontece praticamente com tudo. Mas aqui a situação é grave. Tem a ver com as pessoas, os serviços e um retomar, mesmo que por pouco tempo, da economia a Norte. Senão veja-se: são os aeródromos da região esgotados com jactos particulares dos senhores do dinheiro, são os restaurantes cheios, os hotéis esgotados. É uma época em que o comércio pode respirar um pouco, numa região em crise total.E a questão turística, será de desprezar? Alguma vez o Norte tem a possibilidade de conquistar o planeta audiovisual? É que não estamos a falar das imagens de uma qualquer TV de “Curral de Moinas” ou do pequeno jornal local. A realidade é que a CBS, ABC, BBC, Sky News, Euronews e a maioria dos canais de TV estão no Porto/Gaia para levar esta corrida para todo o Mundo e com eles, uma imagem turística desta região.

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Será também interessante constatar que os pilotos da Red Bull consideram a “pista” do Porto/Gaia como a melhor e mais empolgante da Europa. Daí que, para não se manterem no Norte, é porque haverá

“razões que a razão desconhece” mas que envolvem muitos milhões. Falou-se inclusivamente que seriam os patrocinadores - a TMN era um deles - que queriam o Red Bull em Lisboa. Como é que tal é possível quando, a nível de marketing e de imagem, a TMN tem todo o interesse em mostrar-se mais no Norte, onde a sua implantação é bastante inferior à da sua concorrência? Mas a “malta” do Red Bull” não gosta de brincadeiras e com esta “guerra” absolutamente infantil e inaceitável, pensa (se é que tal já não aconteceu) realizar esta prova em Espanha. É que a tentativa de levar para Lisboa este evento de dimensão mundial pode deixar-nos “a ver navios” em vez de aviões! Será assim papel da Administração Central prevenir os malefícios de uma negociação onde estão envolvidos agentes públicos, nomeada-mente Câmaras, os organismos relacionados com o Turismo e algumas das grandes empresas portuguesas parceiras do evento.

Não interessa apontar o dedo a ninguém, pois é fácil perceber-se que a eventual transferência desta prova para o Sul teria que ter a anuência do Estado através dos seus organismos públicos e também da autarquia lisboeta. É naturalmente compreensível que assim seja, dado que todos querem ter “no ar” um acontecimento desta envergadura.

As assimetrias entre Lisboa e as restantes regiões, como tenho vindo a defender nestas páginas do GP, só pode ser resolvida susten-tadamente com a Regionalização. Mas esta não é apenas uma situação pontual

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a exigir intervenção superior. É claramente mais uma vergonha para o País.

À Red Bull, obviamente, interessa-lhe “business”. Faça-se ele no Norte, no Sul, neste Portugal ou em Espanha. E, de preferência, “montar” o melhor negócio possível. Esta é, também, uma razão para que os organismos de Estado percebam que o mercado não olha a pontos cardeais. Perceber isso, é a função de quem nos governa sobretudo o saber que não se pode tirar a uns para dar a outros sem pensar nas consequências. No fundo, o que interessa, é conquistar cada vez mais

“terreno” e, que se “lixe” o Norte!

Novembro 13, 2009

DA LUZ PARA A ESCURIDÃO...

Nestas últimas semanas tive oportunidade de ter estado uns dias em Paris e em Londres. Dizer que se sente a crise económica em França ou na Grã-Bretanha não é visível nas suas capitais. Sei que há muito turista nas ruas. Que estas cidades são destinos “natalícios” por excelência mas, o que me parece mais significativo, é que a “pobreza” está muito bem escondida! Sabemos que estes países, tal como outros, se encontram numa situação económica grave mas apostam num turismo já conquistado ao longo dos anos e promovem-no, agora também, com o “Natal”! Conseguem assim “encaixes” financeiros gigantes na área dos serviços, desde a hotelaria à venda de castanhas(!).

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Implementam centros de interesse, para gente de todas as idades, nas suas mais famosas avenidas, ruas e praças. Vendas de Natal com milhares de casinhas decoradas, situadas em pontos estratégicos das duas cidades, que possuem também áreas de apoio de alimentação e outras destinadas aos mais miúdos. Os estabelecimentos comerciais, esses continuam a vender e, excluindo os Campos Elísios e a Regent Street onde as lojas de marca já têm clientes certos, tal como os grandes armazéns tipo Printemps em Paris ou o Liberty e o Harrows em Londres, locais onde não se pode dizer que os preços são atractivos, estes chamam também a atenção dos clientes com a montagem de montras que são um verdadeiro espectáculo de magia, todas elas decoradas pelos maiores designers do Mundo. Entretanto o pequeno e médio comércio abre completamente as suas portas ao “Natal”. Verdadeiros saldos de bons produtos são colocados à disposição de quem tiver algumas libras ou euros. Não será assim de admirar que as ruas estejam apinhadas de gente carregada de sacos (e, nestes fins-

-de-semana de Dezembro, a longa Oxford Street e a Regent Street em Londres estão vedadas completamente ao trânsito para que haja uma maior fluência de transeuntes!). Áreas como o Les Halles, Carnaby Street, Covent Garden, Picadilly Circus mantêm as suas lojas abertas à noite. Os restaurantes, “brasseries” e cafetarias servem, sem parar, ou no seu interior, ou nas simpáticas esplanadas que, apesar do frio que se fazia sentir (em ambas as cidades), estavam apetrechadas com aquecedores a gás capazes de criar a sensação bem agradável de estarmos em pleno Verão. As Galerias e Museus tinham filas impressionantes para ver exposições como a de Renoir e Matisse no Grand Palais, uma muito completa mostra de Rodin no Museu com

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o mesmo nome em Paris (aqui mais uma nota para a greve de pessoal do admirável Centro Georges Pompidou, que o obrigou a fechar as suas portas) ou uma grande mostra denominada “De Montezuma aos Aztecas” no Museu Britânico, isto só para referirmos os eventos mais importantes. As noitadas da “Rive Gauche”, os velhos Lido e Moulin Rouge, sempre com largas horas de espera para se poder entrar e as do

“South End” com a sua meia centena de musicais e de peças de teatro sempre cheios (o “Priscilla, Queen of the Desert” é notável!) e do agora mais elitista “Soho” onde as discotecas, bares, com e sem música ao vivo, deixam na rua durante horas (!) ao frio e à chuva as centenas de jovens que ali querem passar parte da sua noite. Muito mais se poderia dizer destas políticas de turismo, como é o caso das iluminações luxuosas que se podem apreciar nas principais artérias (curiosamente feitas por uma empresa portuguesa). Caras felizes.

“malta” divertida. Muita animação.

De regresso ao Porto... Lojas vazias, alguma animação natalícia em dois pontos da “baixa”, iluminações em tempo de crise... É o país que temos...

Dezembro 18, 2009

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CONTAS A VIDA NO PAÍS E… NO PSD

O Orçamento está garantido. Não sei se o mesmo se pode dizer do País, mas a previsão das suas próprias contas passará com o acordo PS, PSD e CDS. Contas a prazo para muitos, contas à vida para a maior parte. É que os sinais de retoma são ténues e chamar-lhes sinais já é dar por garantido que os mesmos se vêem. Por enquanto, só deles ouço falar. É que se contam pelos dedos os Portugueses que nos últimos meses viram ou sentiram os “sinais” de que se fala. Seja como for, enquanto Português sinto-me satisfeito - provisoriamente - com acordo que os três partidos alcançaram para que as contas do ano sejam aprovadas, o que deve acontecer antes de 12 de Março. Claro que há questões em que os três partidos não estão de acordo. A visão do governo minoritário de Sócrates não é a mesma que o PSD tem para recuperar as contas do País. Porém, ao próprio PSD competia respeitar esta última etapa, obrigatória, após a escolha eleitoral dos Portugueses. Não estavam em causa os direitos, liberdades e garantias, nem havia factores de risco real da soberania nacional para que o PSD se opusesse na Assembleia da República.É por isso que considero óbvia a abstenção do PSD anunciada no início desta semana pela líder social-democrata. E também porque Manuela Ferreira Leite sabe que tem que ganhar tempo para que o partido se reorganize e eleja uma nova liderança.Não havendo espaço para rupturas, também não se pode dizer que haja candidatos (até porque assumidos só há um, Passos Coelho e mais nenhum) de continuidade. Mesmo com o nome de Aguiar Branco entre os elegíveis, não me parece que alguém queira levantar essa

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bandeira. Já na semana passada enunciei personalidades que ou dispu-tarão a liderança do PSD ou a influenciarão sobremaneira.O que pode é haver ruptura com uma certa forma de estar na política. Se entre os elegíveis (não rejeito a possibilidade de um candidato surpresa, com congresso antes ou depois de possíveis, e desejadas

“directas”) há uns que representam as elites, uma certa “nobreza”, que reclama a herança de Sá Carneiro, e há outras personalidades que podem vir a espevitar o lado mais popular do cidadão que vota em alguém que o governe. E estou convencido que esse lado mais popular do PSD pode sobressair do período de reflexão que se aproxima.Quando digo popular, digo um partido que respeite a enorme massa urbana nas principais cidades; que consiga criar condições para a revi-talização das pequenas e médias empresas; que conjugue a estratégia do País com sectores de produção em dificuldade, como os da agri-cultura e das pescas; e que reforme em definitivo a Função Pública, ajustando os técnicos às necessidades e diminuindo o despesismo e o excesso de peso na “máquina do Estado”. E para isto é preciso encontrar quem fale a mesma linguagem que as pessoas cujos quotidianos se fazem com algum esforço e empenho. Até porque são estas pessoas que estão tão cansadas de esperar, como de ouvir bem-falantes. É por isso que, tal como já tinha dito no último GP, nomes como os de Luís Filipe Menezes, Marco António Costa, João Jardim, Mendes Bota e outros poderão influenciar de forma incomensurável a renovação no PSD. São, também eles, nomes associados a esse grande objectivo nacional que é a Regionalização. Matéria que, confesso, gostaria de ver como uma das principais bandeiras do próximo líder social-democrata.

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PS. Afinal o actual Ministro Miguel Relvas mandou a Regionalização para as “calendas”… o que me leva a pensar na manutenção da lógica centralistas do actual Governo…

Janeiro 29, 2010

OS MEDIA E A TENTAÇÃO DO PODER

Devo começar por dizer que não confundo censura com manipulação. Defendo, por isso, que os ataques à Liberdade de Imprensa que nos últimos dias marcaram a agenda política e promoveram um intenso debate público têm origem na tentativa de manipulação editorial dos órgãos de comunicação social (OCS) privados. Não têm, quanto a mim, origem nas decisões editoriais dos vários OCS, mais especificamente, das suas direcções e chefias. E é por isto que considero que não se deva falar de censura, mas sim de manipulação de informação.O Governo está no centro desta tempestade. José Sócrates afirma a pés juntos que não tinha nenhum plano para controlar os Media menos “amigáveis”. Mas alguns dos seus colaboradores mais próximos terão feito gala de uma arquitectura que não permite outra leitura. É certo que os Portugueses só entendem o que se passa devido aos detalhes vindos a público por divulgação de conversas que a Lei impedia. O que nos cria a todos um grande dilema, cujo diagnóstico ficará sob reserva nos próximos dias: o do cumprimento da Lei perante matéria de valia jornalística fundada e, ao mesmo tempo, de ética questionável.

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A credibilidade da governação está em causa. Sendo ou não a publi-cação das escutas uma espécie de Caixa de Pandora, o primeiro-

-ministro está em causa porque não foi verdadeiro quando há uns meses se referiu ao andamento do negócio da PT/TVI; está em causa porque deixa rolar a tese de que não gizou nenhum plano para controlar os Media quando as evidências são as que conhecemos. E tudo isto acontece quando vê ser aprovado um Orçamento crucial para a recuperação económica de Portugal. Pelo que também o próprio se põe em causa quando o partido que lidera (o PS) desafia a Oposição para uma moção de Censura, obrigando-a a ficar com o ónus da crise política que isso poderia acarretar.

Mas voltemos à questão da manipulação da Imprensa. Claro que tudo isto entronca, também, na velha questiúncula do Segredo de Justiça, que serve uns e prejudica outros. Mas também devemos equacionar com muita frontalidade o facto de a Liberdade de Expressão ser conceito da família de Liberdade de Imprensa. Que é como quem diz, tudo o queremos procurar fazemo-lo primeiro na Internet. E na Internet não há ética jornalística. Há Livre Expressão pura e dura. Quanto muito, há apenas ética pessoal, do indivíduo que escreve ou denuncia, de gente que pode ou não ser mais ou menos civilizada. E depois há ainda os interesses de cada um…

Porém, a confirmarem-se os rumores de tentativa de controlo dos Media - tentação de qualquer cidadão com Poder - mais vale que a regulação na Internet seja um pouco, diga-se, darwiniana: a natureza

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dos conteúdos encarregar-se-á de preservar os mais dignos e menos-prezar a calúnia simples e o interesse mesquinho.

PS(D): Quando falo de Governo, penso nas alternativas. E, neste momento, há três: Passos Coelho, Paulo Rangel e Aguiar Branco (pela ordem de apresentação das suas candidaturas). E neste momento só me ocorre dizer que à Democracia faz bem o debate e a troca de ideias.

Fevereiro 19, 2010

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PRESIDENCIAIS, PSD E MADEIRA...

PRESIDENCIAIS - Quando um, cada vez mais amplo, núcleo de “notáveis” começa a dar o seu apoio à candidatura à presidência de Fernando Nobre, personalidade que se poderá considerar da área da esquerda moderada, muito embora já tenha estado com o Bloco (e já há algum tempo com o próprio PSD). Quando já está no terreno a candidatura, desde sempre anunciada, do histórico do PS, Manuel Alegre. Quando ainda falta saber que outros candidatos vão dividir os votos “à esquerda”, admito que Cavaco Silva, a candidatar-se como tudo leva a crer, terá assegurado definitivamente, esta semana, o seu segundo mandato presidencial.

E esta conclusão parece ser fácil de tirar.

Com um Governo em desgaste acentuado, José Sócrates (como se viu até na entrevista que deu a Miguel Sousa Tavares na SIC, na qual

“estremecia” a cada pergunta que o escritor/jornalista lhe fazia) e o seu núcleo no Partido Socialista, estarão muito pouco interessados em escrutínios que podem levar a um conjunto de desfechos negativos no(s) combate(s) eleitoral(is) que se avizinha(m). Admito que o PS vai poupar recursos e deixar que Alegre, que conta com as “espingardas” do Bloco de Esquerda e Fernando Nobre, façam “as despesas” da casa e ainda, jogar na indecisão aparente do próprio PCP, que não deu a entender, para já, qual a sua posição oficial (ou oficiosa) sobre os actuais candidatos ou, sobre aquele que vão apresentar como costuma ser habitual.

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Depois, vai ter ainda de lidar com algumas das mais notáveis personalidades do PS que estarão divididas entre duas barricadas… à esquerda. Creio assim que o Partido Socialista não dará qualquer apoio oficial a Alegre ou a Nobre a curto prazo. Mas o que será claro é que o eleitorado tradicional socialista dividir-se-á entre ambos, situação que permite revisitar os cenários de Janeiro de 2006 que foram, todos eles, favoráveis ao, na altura, Presidente eleito.

PSD: Também a três se vai fazer o debate político que proporcionará a eleição do próximo líder do PSD. Com Passos Coelho, Rangel e Aguiar Branco podia até usar-se uma argumentação idêntica à refe-rida mais acima, nomeadamente a propósito da divisão dos militantes que apoiaram Manuela Ferreira Leite na sua eleição e que, naquele caso, “abalroaram” Pedro Passos Coelho e Santana Lopes. O tempo urge para os sociais-democratas criarem uma alternativa política, respeitada a nível nacional, que lhes permita ter uma posição de força perante o actual Governo, o que claramente seria extremamente positivo para a Democracia, Portugal e, naturalmente, para os portu-gueses, que necessitam rapidamente de soluções, alternativas a sério, que terão de emergir do debate interno no maior partido da Oposição.

Independentemente das minhas preferências por qualquer líder, gostaria que aquele que vier a ser futuro candidato ao lugar de primeiro-ministro, carregue na sua agenda toda a motivação possível para desenhar e lançar politicas que, garantindo as obrigações internacionais do Estado português perante a Europa, possam aqui criar “uma luz ao fundo do túnel” para que o ego dos portugueses possa vir “ao de cima”

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e, que a nível produtivo (com a reconversão desse tecido agora “rasgado”) possa permitir sem receios o renovar do investimento privado em Portugal, com a natural criação de postos de trabalho que tal propor-cionará e, que poderá ser mais rápida, quanto mais célere for a aprovação e a implementação da Regionalização em Portugal.

Fevereiro 25, 2010

UMA TRAGÉDIA EM LUME BRANDO

Devastadora como um qualquer tsunami, apenas mais lenta e em agonia, a crise económica que se vive no Norte não é culpa só deste Governo. É de todos os Governos que tivemos desde o 25 de Abril de 1974 tendo em conta decisões absurdas que, logo nos anos seguintes à “revolução”, foram assumidas pelos nossos responsáveis políticos e militares. Ao contrário de Espanha que viveu um processo histórico semelhante ao nosso, não soubemos preservar o futuro. E mais não digo porque a história do pós 25 de Abril ainda está para se fazer. Obviamente não sou, nem nunca fui defensor do Estado Novo. Sempre lutei, na clandestinidade, contra ele. Mas a situação a que chegamos, sobretudo a partir de 2001, poderia ter sido evitada ou, pelo menos apaziguada se não tivéssemos cometido muitos dos erros, eu diria trágicos, para que pudéssemos estar atentos a um qualquer “crash” como o que tivemos o ano passado e que continuamos a sentir no nosso quotidiano.

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O desemprego, pelo seu lado, que começou a aumentar e a assolar o Norte muito antes de Sócrates ser Governo, creio até que tal se iniciou, de forma mais visível, aquando da entrada em Portugal dos primeiros apoios comunitários, altura em que as verbas destinadas à formação e à reconversão de trabalhadores e empresas foram sendo desviadas para empresários oportunistas, sem que o Estado tivesse posteriormente assumido uma qualquer posição sobre o que estava a acontecer. Naturalmente o PIB do Norte é o mais baixo do País. A sua economia já foi chão que deu uva, apesar do Douro e a sua produção vinícola ainda contar para os “números” das exportações…Claro que o período que vivemos assume um mediatismo forte, até porque a Comunicação Social só conhece o presente e explora-o até “ao tutano”, esquecendo-se das razões que nos trouxeram até à situação em que vivemos e que mexe com o espírito solidário de todos nós. Mas as razões que “queimam em fogo lento” o desenvolvimento desta região, que já foi a mais produtiva e criadora de riqueza do País, é das que entram a custo nas agendas políticas. A centralização, cada vez mais forte, senão total de Portugal em Lisboa e Vale do Tejo faz esquecer os Media da autêntica tragédia em que vivemos no resto do País.Os números estão aí. O Norte, que já tinha o PIB mais baixo e o desemprego mais alto de Portugal, conhece agora a calamitosa liderança dos pedidos de insolvência empresariais nos últimos dois meses. O Porto é o distrito com mais empresas a fechar: 154. Braga tem o terceiro maior número: 88. O segundo é Lisboa com 109, mas o número de empresas existentes em Lisboa, enormemente superior, torna esse número muito relativo.

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As coisas estão más, toda a gente discute, parece-me, questões de forma e não de conteúdo. Argumentam-se extremismos, exageros… Usam-se fórmulas regimentais e regimentos de areia para os olhos de quem já vê mal, já não ouve e mal aguenta tanto desgaste. O não conseguir pagar a prestação da sua casa ao banco, o não poder comprar até comida, roupa ou outros bens de consumo necessários à manu-tenção de um estilo de vida a que as pessoas “conquistaram a pulso” é terrível. E muito mais se pode dizer sobretudo sobre o acesso à educação, aos serviços médicos e jurídicos até porque muitos portu-gueses têm razões de sobra para colocar os seus empregadores em tribunal ou até o próprio Estado, coisa que não fazem porque não podem pagar e, as Centrais Sindicais, só servem para teorizar, não para

“resolver” os seus problemas.

Há que combater o excesso e o despesismo, nomeadamente do Estado. Mas se este mantiver as políticas anunciadas, vão ser os portugueses a pagar ainda mais as veleidades de quem está no Poder. Haja justiça que a dívida nacional não deve ser paga à custa de quem já pouco tem. Nem todos ganham 5 mil ou 20 mil euros por mês. Esses que paguem a crise. A tecla assim é sempre a mesma e já parece um fado. Há que apoiar as pequenas e médias empresas. Há que criar condições de tesouraria às empresas que esperam tempos infinitos pelos pagamentos de instituições públicas como o Governo, autarquia e outros. No fundo um ciclo vicioso que leva a que os atrasos de pagamentos de dívidas de uns levem ao atraso da resolução das dívidas de outros.

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Não me parece que não há soluções uni-partidárias para o País. Há, claro, um desgaste na credibilidade da actual governação; há números de desemprego no País nunca vistos (10,5%). De uma maneira ou de outra, nenhuma solução o é, de facto, se se mantiver o centralismo que procura tudo solucionar na capital e manda para segundas núpcias o que se passa no resto do País.Acabo como comecei: como magma que queima devagar a terra que percorre, o centralismo deixa ardidas as terras que esquece. O Norte definha todos os dias. Não quero esquecer as outras regiões, mas o que aqui se passa é uma tragédia em lume brando.

Março 10, 2010

JÁ SE CORTA MAIS NO NORTE DO QUE NA CASACA

MÁS NOTÍCIAS. Gostaria de não ter que voltar a este assunto. Sinceramente, preferia nunca mais passar por queixinhas ou pela ideia de que falo sempre das mesmas coisas. Mas, conhecidas as notícias do início desta semana e lidos os principais especialistas na matéria (pois a coisa podia ser só especulação…), não consigo perceber como é que o actual Governo, através do seu Plano de Estabilidade e Crescimento, consegue despudoradamente afectar mais o Norte, quando esta é a região que piores salários tem, a que mais desemprego apresenta, onde mais empresas estão a fechar, onde os níveis de qualidade de vida decrescem todos os dias.

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A crise afectou toda a gente em Portugal, é verdade. E todos temos que ajudar. Também é verdade. Mas é estranho que as medidas de austeridade previstas afectem e penalizem mais as pessoas e as empresas do Norte. Entre as várias decisões do Governo para diminuir a despesa pública e patrocinar o crescimento são adiadas, mantem-se projectos megalómanos como o TGV ou o novo aeroporto de Alcochete. Mas…os investimentos a Norte, reduzem-se aos mínimos essenciais. É boa aposta? São medidas bem pensadas, bem ponderadas? Nao. Não é, de certeza, justo. O que pretendo é alertar, também eu (porque outros o têm feito), e que Portugal não é apenas Lisboa.

E, uma vez mais, cirurgicamente se tira a quem já tem pouco e onde há cada vez menos pessoas.

Sem vaticinar uma mexicanização dos territórios que envolvem a capital, a continuar este tipo de gestão de Portugal, qualquer dia só há gente concentrada num grande círculo em torno das Sete Colinas. E é com estes amargos de boca que vejo, por exemplo, gente a investir os seus créditos e a sua sapiência num Norte que definha a olhos vistos. Gente com coragem, que não desiste.

BOAS NOTÍCIAS. Com as férias da Páscoa a chegar, as primeiras noites sem chuva serviram para que a Baixa do Porto se enchesse de gente. Mas não se pense que a gente apareceu com o bom tempo. Não, já lá andavam. Mas em recinto fechado… Entre a Avenida dos Aliados e o Hospital de S. João, com Cedofeita a Norte e os Clérigos a Sul, as ruas do centro da cidade são já um “case study” para urbanistas de

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muito lado. Os espaços de lazer aumentam como cogumelos, aparecendo numa nesga de um qualquer edifício. E são às dezenas, de porta em porta, subindo a rua de Ceuta, passando nas Galerias de Paris e na Cândido dos Reis, rumando ao Piolho e entrando na zona de Cedofeita e Carlos Alberto.

E há gente que vem de Lisboa, de Viana, da Galiza… Há jovens que decidem vir passar os fins-de-semana ao Porto. Alguém sabe, consegue reconhecer o valor estratégico de uma onda destas? Há dias, escrevi nestas páginas sobre os quase dois mil estudantes do Programa Erasmus que, de todo o Mundo, chegaram este ano à Universidade do Porto. Algo que nos orgulha a todos, nortenhos, sejamos nós do Porto, de Gaia ou de Matosinhos. Ou mesmo de Braga e Famalicão, ou até de Vila Real. E desta vez não temo que nos subtraiam a Baixa como subtraíram a Red Bull Air Race. É que, apesar da enorme inveja, tecnicamente ainda não é possível transplantar meia dúzia de quar-teirões do Porto algures entre o Terreiro do Paço e o Jardim Zoológico, até porque o Bairro alto e as Portas de Sto. Antão já são centros de animação q.b. para os cerca de três milhões e meio de “lisboetas”.

Março 17, 2010

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O PAÍS DAS OPORTUNIDADES PERDIDAS

Tenho que fazer um preâmbulo. Sou alguém que adora um país, chamado Portugal. Fecho o preâmbulo dizendo que ser um patriota não me impede de ver Portugal, de “fora”, a partir das experiências que tenho tido a feliz oportunidade de viver em países, uns mais perto e, outros mais longe do nosso cantinho. E, só para dar um exemplo, custa-me andar por Espanha e pensar e, que muito dificilmente teríamos por cá as “borlas” que os museus de Madrid dão aos seus visitantes, permitindo que todos usufruam de momentos culturais acima da excelência artística. É em Espanha; é aqui ao lado!

A estagnação (ou, na melhor das hipóteses, o crescimento mínimo verificado nos últimos anos antes da actual crise) da primeira década do século XXI reflecte-se sintomaticamente na forma como os mais jovens e os mais notáveis licenciados vislumbram na saída do País, uma tábua de salvação para as suas carreiras e, até para modelos de vida, pelos quais “queimaram pestanas” anos a fio. Há até quem assegure que os números de emigrantes lusos nos últimos dez anos só têm comparação com os idos anos 60 quando, os que exigiam respeito pelo indivíduo e pelas liberdades, abandonaram Portugal para, de fora, poderem melhor combater a ditadura vigente. Pois hoje, parece-me, que fogem a um outro fascismo: o económico. Fogem das oportu-nidades que não lhes são concedidas ou que pura e simplesmente não existem; fogem de um sistema caduco e assente em relações sócio-económicas que, inúmeras vezes, roçam a irregularidade e a ilega-lidade; fogem de um quotidiano que os cercearia daquilo por que sonharam se por cá se mantivessem.

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E um país que não deixa os seus jovens sonhar é um país condenado ao envelhecimento, ao apodrecimento dos seus valores e das intenções, um país que perderá muito da sua massa crítica e funcional nos próximos tempos. Sim, podemos falar em fuga de cérebros a uma escala nunca vista no Portugal contemporâneo.

As portas abertas da Europa - do Trabalho à Educação - e o florescimento de novos mercados, nomeadamente os de língua portuguesa (Angola, Brasil, Moçambique…) estão a tornar-se numa esteira de fuga acelerada. Na internet abundam informações sobre empregos (sim, empregos, essa coisa rara!) em multinacionais a instalar-se em Angola. Os investi-gadores portugueses encontram quem invista no seu conhecimento nas universidades e institutos espanhóis, ingleses, franceses, alemães… Tudo isto enquanto um sem número de profissionais que vêem as suas carreiras a estagnar por cá. Profissionais experientes que fazem as contas e preferem reformar-se antecipadamente. Todos perdemos com isso. Não porque, assim, se abram oportunidades para os mais novos, mas porque as vagas não são meros números. Cada um no seu lugar: do jovem talento ao especialista a distância não é comparável e cada vaga que perde um valor de experiência não pode ser substituída por outro valor que não o da experiência.

E não se pense que são números atirados à sorte. Segundo o Observatório da Emigração, saíram para o estrangeiro 70 a 75 mil portugueses no ano passado. Números só comparáveis aos idos 60’s. As actuais perspectivas de crescimento, quase nulas, apontam para mais 10 anos com tudo mais ou menos como está. Ora, ficar neste marasmo é algo

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que, compreende-se, não atrai os mais novos, capazes de desafios em terras mais longínquas, ainda com muito pouco a perder e com prati-camente nada a segurá-los à sua terra.

E é isto que torna o cenário pior que o dos anos de fuga à Pide e à Guerra Colonial. Sem desprezar uns e outros, quem foge agora são os que estudaram anos e anos, que estão qualificados para os desafios do desenvolvimento civilizacional, talentos inequívocos e gente que muito poderia contribuir para o crescimento da nossa Pátria.

Sinto que se perdeu uma grande oportunidade. É a crise, dirão alguns. Não! Foram políticas erradas de muitos anos, que não conseguiram que Portugal tenha capacidade de resposta a uma crise deste tamanho. Uma coisa é aguentá-la. Outra é fazer crescer o País sustentadamente. Um advérbio de modo que não tem modo prático na prática política!

Março 26, 2010

UM OUTRO TURISMO QUE PORTUGAL TEM PARA OFERECER

Douro, Minho, Bairrada, Dão, Estremadura, Alentejo…aproveitando os seus diferenciados microclimas, quintas recuperadas e enólogos de grande experiência vindos dos 5 cantos do Mundo, transformaram Portugal num dos mais afamados países produtores de vinhos de qualidade.

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O Vinho português perdeu finalmente a sua imagem de “vinho da casa” e foi conquistando terreno no imaginário dos epicuristas, aqueles que defendem os prazeres como caminho para a felicidade, isto segundo Epicuro, filósofo da velha Grécia!

Assim os néctares das regiões vitivinícolas nacionais estão, cada vez mais, a ganhar imagem e peso comercial internacionalmente. Tudo isto graças a um esforço fantástico de muitos dos seus empresários, aqui e ali apoiados por estruturas estatais, embora sempre aquém do envolvimento e competência de organismos similares em países como Estados Unidos (Califórnia, Napa Valley), África do Sul (Cabo, Winelands), Itália, Espanha, Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia ou Itália. Mas é claro que os vinhos de excelência não chegam à dezena de nacionalidades à escala planetária e Portugal está agora entre essa elite.

Formamos e recebemos nos últimos anos, enólogos, engenheiros agrónomos, “sommeliers”, gestores de turismo, “mão-de-obra” espe-cializada, tudo com o objectivo de produzir e servir cada vez melhores serviços e melhor vinho… Mas sente-se ainda a falta de uma estratégia global.

O Turismo em Portugal prossegue trilhos de pedras, como se fossem atalhos para chegar rápido ao destino. Não é, confesse-se, a melhor política. Sobretudo quando cada produtor é obrigado a criar o seu próprio trilho.

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Claro que as regiões de Vinho não podem ter um tipo de turismo idêntico ao algarvio. O charme e a contemplação da beleza natural, o inigualável património histórico em áreas que são, por vezes, Património Mundial da Humanidade, assim como a degustação dos vinhos e restantes gastronomias locais, não se compadecem com a lógica de “chamar” milhares de pessoas por quilómetro quadrado, como acontece com as recorrentes campanhas turísticas que são feitas divulgando o Sul, Lisboa e Vale do Tejo. Tem de existir uma outra perspectiva de promoção turística para “vender” a nossa imagem nestas áreas em que Portugal tem muito para oferecer.

Passear nas terras do Douro ou do Alentejo é, sem dúvida, uma opção adulta. Algo que apenas o amadurecimento dos prazeres pessoais consegue transformar em diversão pura. Não se julgue, por isso, que se trata de uma questão elitista sob o ponto de vista social. Pelo contrário. É apenas uma questão de gosto, quando muito… refinado!

Mas voltemos ao assunto propriamente dito. Portugal continua com o futuro hipotecado enquanto não houver coragem para apostar e investir no que é realmente… Portugal.

Já sabemos que este país vende-se através da imagem do “sol”, mas para conquistar turistas temos de alargar o conceito de oferta e esse passa precisamente pelos seus vinhos, pela natureza, pelas preocu-pações ecológicas, pela cultura, por eventos desportivos e sobretudo pelo prazer do lazer, da ocupação dos tempos livres em zonas bem

“servidas” em termos de serviços de qualidade, no fundo sectores que

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os responsáveis pelo Turismo em Portugal ainda acham que não devem ser prioridades, ao contrário do que acontece com a maioria dos países Europeus, da Oceânia ou do continente norte-americano.

Notam-se assim claramente preconceitos face ao “prazer de viver” enquanto produto de indústria turística à escala nacional o que tem impedido que os legisladores e outros responsáveis políticos assumam de vez que é preciso investir e apoiar estas áreas de negócio voca-cionadas para a diversão, o bem-estar, os tempos livres. Até parece ser uma vergonha ou algo menos digno promover Portugal como um país em que uma pessoa possa divertir-se!

Mas voltando novamente aos vinhos, o problema é que em Portugal é difícil afirmar em voz alta que o Vinho dá emprego. Ou que o Vinho traz turistas. Ou que o Vinho e a sua relação com as classes mais abastadas não é um conjunto de pecados insuportáveis para o cidadão comum: da gula à luxúria!

Quem se passeia pelas quintas sobranceiras ao Douro, ou pela paisagem imensa do Alentejo, ou pelas veredas luxuriantes do Minho sente-se mais rico, mais abastado que qualquer outro com mais dinheiro no bolso. A riqueza é espiritual. E a gula alimenta a alma. E todas geram negócio, que por sua vez gera emprego e tudo isso dá saúde social.

Não basta termos no Vinho um produto de qualidade mundial. Temos que o mostrar. Saber mostrar. Investir fortemente na sua imagem no

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exterior e cativar assim milhares de turistas. Porque o Vinho, ao contrário do Sol, consome-se todo o ano. E, turisticamente falando, as quintas e as regiões vinícolas, são visitáveis durante as quatro estações do ano. Já para não falar das vantagens económicas que o aumento da exportações vinícolas poderiam trazer.

Porém, diz quem sabe, que também não se pode aumentar a produção de forma gigantesca de um momento para o outro. O néctar sairia prejudicado. Mas criando-se o equilíbrio de forma a manter a quali-dade e aumentar as produções, o produto estaria ainda mais valorizado no mercado.

Imagine-se agora num hotel virado para o Douro, num fim de tarde solarengo ou mesmo enublado, sentindo uma pequena brisa, sentado numa bela cadeira e, bem acompanhado por um excelente Douro, uns queijinhos, respirando ar puro ou um pouco mais poluído caso queira estar a fumar um bom charuto?

Março 30, 2010

O CORREDOR DO PODER E O “NOSSO” EURO CORREDORES.

Nas últimas semanas andei a divagar sobre os caminhos (ou a falta deles) para as novas gerações que tentam singrar profissionalmente no nosso País. E falei da fuga de cérebros, da emigração de jovens

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qualificados com licenciaturas que procuram noutros países as oportunidades que escasseiam em Portugal. E subitamente vi-me encostado no sofá a ver um debate - o Corredor do Poder - que consegue sentar cinco figuras da política nacional (uns com mais tempo de antena acumulado que outros) que, mais dos que os partidos que representam, são o espelho claro de que o envelhecimento daquilo que são, hoje em dia, as classes dominantes são um certo obstáculo ao aproveitamento do que de mais fresco poderá acontecer nos nossos… corredores do Poder. Talvez por isso seja um corredor, associado à sensação de movimento, de percurso; e não a cadeira do Poder, algo mais conotado com a ideia de inacção e situacionismo.

Ana Drago (BE), Margarida Botelho (PCP), Nuno Melo (PP), Marcos Perestrello (PS) e Marco António Costa (PSD) conseguem transmitir novas ideias e abordagens para os assuntos, passam até alguma irreverência face às linhas mais tradicionais e/ou vigentes dos seus partidos. E dei comigo a pensar que há tanta gente, entre os trintas e os quarentas, que tanto poderia dar ao nosso cantinho lusitano, bastando para isso que tivesse mais oportunidade.

Claro que não podemos cair agora numa espécie de fado, vertendo lágrimas e destilando revoltas porque muitos dos nossos mais bem formados começam a investir as suas carreiras e sabedoria em países estrangeiros. É hora e momento de dar a volta à situação.

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COESÃO PELAS RUAS DA AMARGURA.

Leio pelas páginas de Economia dos vários Media que a coerência monetária é coisa que está a passar por algumas complicações na União Europeia. A Europa Central, com a Alemanha à cabeça, tem torcido o nariz às ajudas destinadas à Grécia, país que vive uma autêntica bancarrota. E já se fala na possibilidade de extinguir a Zona Euro enquanto espaço de unidade monetária comum. A moeda euro-peia está sobrevalorizada (especialistas estimam em mais de 20 por cento) na Grécia, Portugal, Espanha e Itália. Já para não falar do conjunto de países de Leste, onde o nivelamento económico face ao rigor financeiro dos alemães enquanto líderes monetários pratica-mente não existe.

O facto de andar a ouvir falar da possibilidade de se criarem dois Euros diferentes atira por terra com os propósitos da convergência económica e com o espírito de uma Europa a uma só velocidade face às fortes economias dos EUA/Canadá e Japão, e das emergentes Coreia do Sul, China, Índia, Rússia e até Brasil.

Não é preciso ser-se um grande especialista para perceber que alguns cenários tidos como firmes e sinónimos de avanço civilizacional, sobretudo na Europa, estão agora a tremer como varas verdes. A coesão europeia, tão mais difícil desde que somos 27 países muito pouco parecidos no que diz respeito a economias internas, começa a esfumar-se. As desconfianças são muitas e o assédio ao superhávit alemão é tendencialmente perigoso. Porém, voltar às fronteiras sócio-

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económicas é um cenário que ninguém quer ver materializado. As diplomacias estão em ebulição, mas os mercados reagem de forma estranha a esta Europa que também tem sido estranha aos mercados, nomeadamente no seu relacionamento com os países consumidores (Leste e Mediterrânicos) e com aqueles que poderão fazer circular muito dinheiro nas trocas comerciais, nomeadamente as chamadas economias emergentes. Mas até essas têm forte concorrência… em alguns dos integrantes da União.

Confirma-se: a coisa não está fácil e há contas que, mesmo fazendo-se de cabeça, nem sempre dão os resultados lógicos e matemáticos.

Abril 4, 2010

FÉRIAS, LAZER E CULTURA...

O passado fim-de-semana funcionou para os portugueses como uma espécie de mini-férias. Num país em que a produtividade tem de aumentar consideravelmente e a iniciativa dos privados tem de ver o exemplo vir de cima, o Estado decidiu dar a tarde de quinta-feira livre e, muitas autarquias, também a segunda. Tivemos assim quase cinco dias de “descanso” por um lado com os serviços públicos encerrados e, por arrasto, uma quantidade de empresas a funcionar a meio-gás ou a gás nenhum. Mas se tal aconteceu nas áreas administrativas, nos serviços, este período é uma espécie de “balão de oxigénio” para o sector. Mas podia ser muito melhor.

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Na realidade, um País que tem como principais atractivos a sua intrínseca bonomia, o sol, que aproveitou para nos visitar nesses dias abriu as portas à temporada turística. Este chamamento turístico é também ajudado em Portugal por um maior índice de segurança para os turistas até porque eles sabem que este país é um destino de custos baixos e com serviços de média/grande qualidade capaz de lhes proporcionar uns dias de tranquilidade e a oportunidade de fazerem umas compras. Aqui falo sobretudo dos nossos vizinhos espanhóis que nos invadem naturalmente durante estes dias e que fazem aumentar consideravelmente as taxas de ocupação da hotelaria e também dos serviços de restauração.

Ao fim de uma semana, não se conhecem naturalmente números concretos das movimentações turísticas dos que fazem férias cá dentro, muito embora, a exemplo do que tem acontecido nos últimos anos, a procura do destino Portugal (sobretudo a Sul) seja uma evidência. Mas com a “crise” a manter-se nas parangonas dos jornais e na agenda dos políticos, a Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo fez seguramente valer a sua experiência na matéria e anunciou, ainda na semana passada, que os números de visitantes que aproveitariam a pausa da Páscoa seriam bem mais que os do ano passado. E tal sucede sem que se faça publicidade de maior. Os operadores turísticos garantiram programas de qualidade a preços baixos e eles próprios, fizeram o papel de um Estado que ainda não considera estes sector da Indústria como fundamental para o País.

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Por sua vez os portugueses aproveitaram os preços “de saldo” propor-cionados por agências de todo o Mundo e debandaram para o estran-geiro fazendo programas que lhes proporcionariam também o descon-trair um pouco e “fugir” deste país massacrado diariamente pelos Media com notícias sobre a “crise” e a necessidade de “apertar o cinto”. É que muitas vezes, excepto para aqueles que se meteram em casa durante estes dias, torna-se mais barato fazer estas “excursões” do que ficar por cá, gastando gasolina, comendo em restaurantes ou ainda acedendo a propostas de lazer, como uma simples ida ao cinema.

Das duas, uma: ou não vivemos “conscientemente” uma crise medonha ou o Português faz “das tripas coração” para ir relaxar - mais quilómetro menos quilómetro - fora de casa. E os números da referida associação serão tudo menos especulativos, pois trata-se de uma entidade cujos integrantes lidam com reservas e marcações antecipadas.

Mas voltando ao Porto e à chamada “invasão espanhola”. De Lisboa ao Algarve. Mas se é verdade que essas regiões estão já preparadas para a industrialização do lazer, uma das mais importantes indústrias do Mundo, a Norte tal ainda não acontece, apesar de ser um dos destinos mais propícios para fazer férias neste início de Primavera. Em vez de assumir as suas características e mostrar-se como espaço com uma identidade cultural própria, apesar da diversidade das suas comu-nidades, usos e costumes.

Não vi, como gostava de ter visto, quaisquer campanhas publicitárias ao Lazer no Norte. Ao comércio, à sua paisagem, ao seu património,

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à sua vida nocturna. Compreendo que seja difícil sem meios financeiros disponíveis ver os responsáveis pelo Turismo a Norte promover “lá fora” o que temos para oferecer, inclusive os nossos produtos culturais mais atractivos. Porém, como é possível apresentar nos media estran-geiros o que temos para oferecer.

O turismo em Portugal (e do Norte em particular) precisa de uma estratégia de comunicação consistente e eficaz. Ousada e descom-prometida.

Só para falarmos do Porto, gostava de ver promoção, por exemplo para o comércio, para cultura e o lazer. Para as artes e a música de toda a Europa a propósito das galerias de arte de Miguel Bombarda, para os clubes das Galerias de Paris e Cândido dos Reis, da nova pop arte e atitude que povoa as ruas entre Cedofeita e além dos Aliados, até ao cimo de Passos Manuel. Era importante mostrar que há palcos alternativos, que há música ao vivo com bandas mais ou menos conhe-cidas, portuguesas e estrangeiras. Tudo isso tem que ser mostrado, sem complexos ou preconceitos. Assumir, em definitivo, que a noite é também turismo, é investimento e é assunto sério para gerir. Que o diga Lisboa e o Algarve.

Portugal tem futuro na indústria do lazer. Mas é preciso que tal lógica seja assumida como um meio para fazer entrar “euros” neste país. Uma indústria que os principais países da Europa exploram e promovem. É crucial que o Estado assuma esse papel. Que de uma vez por todas assuma claramente que as indústria do Turismo e da Cultura são

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o que “está a dar” e que Portugal é um país que “encaixa” perfeitamente neste conceito. E volto a dar o exemplo - veja-se os espanhóis - promovem o país em todo o Mundo tendo garantido que as suas principais cidades são destinos prioritários para o turismo. Assim garantiram esta Indústria como sendo a segunda mais valiosa do país. E nós?

Abril 9, 2010

HAVERÁ PERDA DE SOBERANIA COM A CRIAÇÃO DAS REGIÕES TRANSFRONTEIRIÇAS?

Há muito que acredito que as zonas transfronteiriças têm de ser geridas com um entendimento claro entre países, melhorando assim consideravelmente as condições de vida de comunidades, que à custa de uma História pejada de conflitos territoriais há muito terminados, prosseguem separadas social e economicamente. Talvez por isso escreva hoje sobre a lógica da criação do chamado Eixo Atlântico, que poderá apresentar-se como um meio que possa solucionar a questão da perda de serviços de saúde em Valença do Minho.

Li, no início da semana, que o Tratado de Cooperação Transfronteiriça entre Portugal e Espanha poderá contribuir para amainar a contes-tação das gentes da região de Valença, que se viram privadas das urgências na cidade e têm recorrido ao mesmo serviço em Tuí, já do lado de lá da fronteira.

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Apesar da distância - ao recorrer aos serviços do lado espanhol - não ser relevante, outras questões administrativas, porém, levantam-se quando se trata de serviços cobertos ou não pelo cartão europeu de seguros de saúde. Algo automaticamente ultrapassável com o referido tratado, desenhado e promovido pela entidade Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular.

Tenho um conhecimento aprofundado do fulgor que o Eixo Atlântico pode emprestar aos municípios de fronteira. O meu envolvimento com a estrutura da entidade tem sido de imensa colaboração e, sou natural-mente dos que apoiam as soluções transfronteiriças no cenário sócio-económico da União Europeia. Basta recordar o conceito de euro-cidade, que já funciona entre Chaves e Verin. Ambas as comunidades encontram-se praticamente unidas geograficamente e as questões administrativas são resolvidas em conjunto. Como se os dois muni-cípios fossem um só. Claro que se podem levantar sempre algumas questões de soberania, mas nada que a diplomacia e o empenho dos visados não resolvam. Aliás basta conhecer o bem-estar resultante desse entendimento.

Já experimentámos, com sucesso, fórmulas de identidade cultural comuns. A montante, pela capacidade de entendimento em projectos culturais transversais, associando experiências e pessoas do Norte de Portugal e da Galiza. Fizemo-lo com a primeira Capital da Cultura do Eixo Atlântico, há quase um ano. E a jusante porque os resultados foram excelentes, provando que as audiências também procuram artes e espectáculos que não são apenas os “impostos” pelas “ditaduras” das

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televisões ou das campanhas associadas apenas aos grandes nomes do

show-business internacional, normalmente conceptualizadas numa lógica

britânica ou norte-americana. Sublinho que nada tenho contra estas últimas

estéticas. Mas sinto-me responsável, quer pelas minhas funções políticas,

quer enquanto produtor cultural, pela prioridade que devemos assumir

quando desenvolvemos projectos no sentido do enriquecimento cultural

e intelectual daqueles que nos são mais próximos.7

E, numa visão mais global e pragmática, com um País excessivamente centralizado como o nosso, sou mesmo adepto dos protocolos, acordos e tratados transfronteiriços. Por exemplo, o Norte português tem encontrado objectivos comuns com a Galiza. Objectivos esses congre-gados no grupo político e de pressão junto das instâncias europeias a que se denominou Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular. E que, em termos práticos, poderá ser uma das soluções objectivas e mais rápidas no que diz respeito à reestruturação de uma série de serviços públicos de primeira necessidade sejam nos transportes, nos acessos, na gestão das cidades, nos mercados, nas redes de cultura que podem permitir para além de um importante intercâmbio cultural, descentralizar e fazer chegar a cultura às populações dessas regiões e, porque não, na saúde….

Abril 16, 2010

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COINCIDÊNCIAS DA NATUREZA?

Não faltam documentários, estudos e reportagens sobre as alterações climáticas provocadas pelas feridas do rasto humano na Terra. Todos nós, mais ou menos atentos ao assunto, já nos apercebemos que o Homem está a estragar o seu quotidiano. Mas não o faz de forma inconsciente. Está a fazê-lo conscientemente e à espera que o vizinho (que é ele próprio) faça o que toda a gente recomenda: menos poluição, menos tragédias ambientais provocadas por negligência e mais poupança dos recursos naturais. O Homem está a destruir devagarinho a sua própria casa e quem vier depois que feche a porta!

Mas será tudo assim tão trágico e irreversível? Quero acreditar que não. E por duas razões: a primeira porque somos cada vez mais os que tentam mudar hábitos e procuram a preservação da Natureza e dos seus recursos; a segunda porque sou dos que acreditam que a Natureza, sempre que teve que resolver… resolveu. Com mais ou menos intensidade, mas encarregou-se ela própria de acertar as condições para que sobrevivesse. E são muitos os exemplos disso, a começar pelas eras glaciares.

Aqui e ali leio, vejo e ouço que uma das consequências a prazo do vulcão da Islândia (que tanto avião manteve em terra) será a dimi-nuição da temperatura média na região durante alguns (não muitos) anos em cerca de um grau. Ora, queixando-se a comunidade científica que um dos problemas mais prementes é o aquecimento global, nomeadamente junto às calotas polares…

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A confirmarem-se estas expectativas, chego a acreditar que a Terra se vai encarregar de corrigir o que o Homem está a estragar. E se por um lado isso me transmite a sensação que o planeta se salvará à custa das suas “células brancas”, por outro penso que isso se traduzirá num crescendo de vulcões a expelir lava e cinza a três mil metros de altura (Islândia), tsunamis com ondas de 30 metros de altura (Indonésia), chuvas torrenciais que arrastam lama das montanhas (Madeira) e terra-motos de grande magnitude (Índia, Chile, Paquistão, Irão, China)… isto só para falar nos últimos tempos. Coincidências?

E depois temos a Economia! Quanto custou aos vários países esta paragem e este caos com as companhias aéreas paradas? As contas deverão conhecer-se muito em breve. Mas tenho a certeza que serviriam, no mínimo, para munir a Europa de uma rede de transportes terrestres de grande qualidade e de grande velocidade. Mas é sempre a mesma coisa: agora que dava jeito o TGV, a maior parte dos países (Portugal incluído) não tem dinheiro para investir em projectos estruturantes.

As companhias aéreas reclamaram pelo regresso aos céus, ainda a organização internacional que regula o tráfego aéreo não considerava haver condições de segurança para tal. Mas a pressão exercida foi claramente um sinal do desconforto económico de muitas companhias. A chantagem com os passageiros (deixando alguns abandonados nos aeroportos até haver voos) e os custos das companhias que assumiram esta despesa extra de quem ficou em terra serão números assustadores. A que se juntam a estagnação económica e a ausência de produção (tanta mercadoria parada, tanta decisão adiada) durante mais de uma semana.

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Fernando Pinto, presidente da TAP, referiu prejuízos bem superiores aos registados após o fatídico 11 de Setembro de 2001. As principais companhias internacionais registam dezenas de milhões de euros de prejuízo por dia. A associação mundial do sector fala em 230 milhões diários.

Coincidência ou não, a terra vociferou cinza e cuspiu fogo para avisar o Homem do quão volátil é a sua condição enquanto elemento da Natureza. Coincidência ou não, eu tomaria isto como um aviso, por muito metafórico que possa parecer.

Abril 23, 2010

QUERO A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SEDIADA NO PORTO!!

O País está em crise. De Norte a Sul? Evidentemente que sim, mas para alguns a situação que se vive parece ser só uma questão de conceito e... os resultados práticos desse “conceito” são a continuidade do “despesismo” o que leva a que os ricos sejam mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Já agora pergunta-se... que será feito dentro de alguns anos… meses… da classe média portuguesa?

Bem, como disse, é tudo uma questão de conceito. A Norte as contas já entram no negativo há muito tempo. As contas das empresas tendem para a falência pois não vendem os produtos que manufacturam ou

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serviços; as contas das pessoas que estão desempregadas e perdem o poder de compra; as contas das autarquias que se endividam até ao limite para colmatar falhas de um Estado Central e de uma Lisboa macrocéfala… E é aí, na capital, que o conceito diverge dado que a “crise” é aparentemente, e apenas, um período onde os ganhos são menores.

Vem isto a propósito das recentes decisões de colocar as SCUT do Litoral Norte ao abrigo do tão em voga conceito do utilizador/pagador. São três as vias em causa: Norte Litoral, Costa da Prata e Grande Porto. Estamos a falar da região mais carenciada e empobrecida do momento (aqui esqueço-me propositadamente do interior Norte) onde as empresas contam os cêntimos e os empreendedores continuam a pensar pagar portagem só de ida… emigrando para Sul e depois, muito provavelmente para o estrangeiro. Como é estranho que num país da nossa dimensão e com o modelo administrativo que temos que o Norte continue a “pagar” quase tudo! Agora que “passou” mais um aniversário do 25 de Abril, bem se pode dizer que a “democracia” não passa por aqui!

Falemos de um outro conceito, o da criatividade. O Presidente da República, nas celebrações do 25 de Abril, considerou o Porto como a região (porque sou dos que acham que o Porto é apenas o coração de uma grande metrópole urbana, constituída por vários municípios) indicada para se investir nas indústrias criativas. O Porto como pólo dinamizador das “fábricas” do século XXI, da era digital, do multi-média, da cultura em geral, a cidade dos “neurónios” em prol da esté-tica, da comunicação e da arte. Obviamente concordo. Diria mais:

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Não podemos continuar a perder os nossos criativos, os nossos empreendedores. Faz sentido o que Cavaco Silva disse, uma vez que é do Norte que existe mais emigração de qualidade para o estrangeiro, sobretudo os mais jovens que, desiludidos com o País, com os políticos e com a falta de oportunidades de emprego só “lá por fora” vêem as portas abrirem-se.

Estas opções pela Criatividade (e pelo Mar) que o PR manifestou são sinal de uma visão óbvia para o País. Mas parece ser irónico que seja apontada ao Norte a criatividade quando a maior parte da indústria que compra serviços criativos e artísticos esteja sedeada no mercado de Lisboa! Senão, vejamos: produção de vídeo, audiovisuais, rádio, serviços informáticos… tudo áreas cujas principais sedes de decisão, encontros de gestores e mercado (na óptica dos produtores e dos consumidores) fixaram-se em Lisboa.

E quando assim é, não basta o Presidente apregoar publicamente sua visão. É extremamente importante que se tomem medidas nesse sentido, que se criem condições para a instalação de empresas na região e que se apoie aquelas que já cá estão. E já são muitas. Segundo números de um estudo da Fundação de Serralves, há dois anos havia já mais de duas mil empresas desses sectores na região Norte, empregando cerca de 11 mil pessoas. É bom? É. Este número vai crescer? Com certeza, nem que seja por osmose face à evolução dos tempos e das tecnologias. Mas poderá competir com o mercado lisboeta? Provavelmente não. Para isso teria que haver um crescimento económico significativo que permitisse mais consumo, mais dinheiro

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a circular, mais clientes para produtos criativos e, sobretudo, mais disposição e tempo de cidadania para o lazer e para as artes, algo que apelaria naturalmente um turismo mais amplo e de qualidade. Será possível mudar o rumo dos acontecimentos? Sim. Venham para o Norte os fundos estruturais necessários (e que estão a ser usados sobretudo pelo Sul) que uma luz poderá surgir no fundo do túnel. Mas será possível que tal possa vir a acontecer? Lamento mas não acredito em “milagres”!

Abril 30, 2010

DIAS DIFÍCEIS, OS QUE AÍ VÊM...

CONTAS. Os dias estão difíceis. Portugal, este país de nobres vontades mas de pés de barro no que toca ao fazer, não estava preparado para uma crise económica global. É verdade que temos um país com muitos quilómetros de auto-estrada, embora do género “todas as auto-estradas vão dar a Lisboa”, como um velho ditado romano. É também verdade que Portugal é um líder mundial no que diz respeito às energias alternativas, embora continue a importar electricidade. Os paradoxos são muitos e sempre foram conhecidos. A diferença é que hoje não nos fazem sorrir.

Claro que há sinais que podem parecer estranhos e carecem de expli-cações técnicas, para as quais não me sinto habilitado. Mas não deixa de ser relevante para o comum dos Portugueses ver a Bolsa apresentar

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ganhos superiores a 10 por cento entre as empresas cotadas no índice mais mediático (o famoso PSI-20) no dia em que se fica a saber que aqueles que auferem salários por trabalhar correm o risco de ver os mesmo salários sofrer cortes por via dos impostos e que poderão já sentir a guilhotina sobre o subsídio de Natal.

O que os Portugueses que vivem à custa do seu trabalho têm dificuldade em perceber é que sejam sempre eles (aos quais se juntam os pequenos e médios empresários) a pagar a factura apresentada a Bruxelas, a mesma que tão bons sinais recolheu do mercado global em poucas horas.

No dia em que escrevo esta crónica, quer o aumento de impostos, quer o corte no subsídio do 13º mês (como provavelmente noutros) são ainda matéria não oficializada. É provável que hoje (sexta-feira), já todos os Portugueses conheçam o plano renovado de combate ao défice (o PEC), cujos ajustes draconianos vão doer no bolso dos consumidores, nos armazéns dos comerciantes e nas tesourarias das empresas.

Já todos sabemos o que nos espera. Importante seria, por isso, confiar em quem põe tudo em prática. E nesse caso - e falo por mim - não estou lá muito confortável. Vejo com esperança, porém, o sentido de Estado que a Oposição liderada por Passos Coelho tem colocado à disposição do actual Governo.

FRANÇA. A Globalização tem custos e sistematização quase com vida própria. Já há muito que ponderava, até por alguma predilecção e

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“defeito” profissional, como anda a Cultura francesa a resistir ao avanço da ditadura da linguagem inglesa naquilo a quem ainda hoje se chama Ocidente (foi-se a Guerra Fria, mantém-se a geo-estratégia). E li, esta semana, que o Espanhol começa a ultrapassar o Francês como disciplina curricular nas escolas secundárias portuguesas. Sinais interessantes para nós, que começamos a ultrapassar o preconceito dos “ventos e casamentos” com os “nuestros hermanos”, mas preocupantes para a influência cultural da França no Mundo, e em particular em Portugal, onde esteve vigorosa em séculos anteriores. Aliás, a questão da Língua e o terreno que o Francês - enquanto veículo de comunicação - está a perder no planeta é algo que tem estado em particular efervescência nos “think tanks” do país da Marselhesa.

Maio 16, 2010

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O FUTEBOL COMEÇA A ESCONDER A REALIDADE DO PAÍS...

Quem se passeasse, no passado sábado, pelos cafés da Baixa do Porto - e acredito que tenha acontecido o mesmo no resto do País - veria os portugueses a puxar pelo Inter como muitos não puxam por equipas nacionais nas competições europeias. Tudo porque em Madrid uma vitória da equipa italiana seria também uma vitória de Portugal, já que a estratégia, a competência e a motivação daquele conjunto de joga-dores passava pela arte do português José Mourinho.

A conquista - mais uma - do emigrante português de maior sucesso (pelo menos, o mais mediático a par de Cristiano Ronaldo) teve eco em Portugal. Mas um eco de simpatia e boa disposição numa tarde de sábado que acalmou, por momentos, as agruras de semanas de alguma crispação e desencanto com as novidades que vamos recebendo quando se fala do nosso futuro mais próximo: subida de impostos, mais taxas, menor poder de compra, aperto aos créditos pessoais e às empresas, subida do desemprego, limites ao empreendedorismo… um sem-número de notícias que a todos provocam apreensão e muito desencanto.

Mas até no futebol nem tudo são rosas. Claro que a aproximação de um Mundial onde Portugal começa a marcar de forma significativa o panorama nacional da informação, criando alguma expectativa a todos os que acompanham o fenómeno. E até mesmo em quem não vibra com as possíveis vitórias dos seus clubes todas as semanas. Porém, o primeiro ensaio da Selecção, contra Cabo Verde na segunda-feira passada, não deu para entusiasmar o Povo. E o sobrolho que se

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ergue conforme aumenta o nível de apreensão deu sinais claros de que poderemos estar a concorrer a mais uma oportunidade perdida. De qualquer forma esta é mais uma situação que levará os portugueses a fugir à realidade do quotidiano algo que será sempre importante para quem decide e pode avançar com propostas ainda mais duras para os bolsos dos portugueses.

Agora que passei o meu momento de treinador de bancada, regresso às pequenas grandes coisas da região: exulto com a concorrência de um académico estrangeiro à Reitoria da Universidade do Porto (UP). Não se leia nisto qualquer preferência pessoal. É apenas o reco-nhecimento internacional a provar o grau de excelência daquela que é uma das instituições de maior prestígio sediadas a Norte. E o momento é considerado pela comunidade académica como histórico. A isto se junta, conforme já referi nas páginas deste semanário, um cada vez maior número de jovens que, via Erasmus, vêm estudar para a UP.

Outra referência para o prémio que a UNESCO entendeu atribuir ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, adquirindo o estatuto de Reserva Mundial da Biosfera. As preocupações ambientais estão cada vez mais na ordem do dia e não basta que cada um meça a sua pegada ecológica. São necessárias medidas urgentes na defesa e criação de mais espaços verdes e de mais floresta. Ao menos aqui, e à custa da aposta nas energias renováveis, Portugal tem estado na linha da frente… pela positiva.Ouço também notícias de que o Governo poderá estender a decisão de

“portajar” todas as SCUT e não apenas as do Norte (três no Grande Porto). Não que seja justa a existência de portagens nesses troços de

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auto-estrada, construídos por ausência de alternativas no que se refere a estradas nacionais. Mas porque, diz o Povo e bem, ou pagam todos ou não há moralidade. E o Norte, sobretudo as comunidades do Distrito do Porto, muito têm sofrido com o agravamento continuado do custo de vida e com o aumento de taxas para o Estado, ajudando a provocar desertificação dos espaços urbanos mais pequenos, desemprego e um número extraordinário de falências e insolvências na região.

Maio 23, 2010

REGIONALIZAÇÃO, PARTIDOS E MOVIMENTOS...

Defendo claramente a Regionalização enquanto factor de equilíbrio e de sustentabilidade nacional. Esta será igualmente uma das poucas soluções plausíveis para um crescimento gradual da economia portu-guesa. Tais princípios, sobre os quais já me debrucei várias vezes, obrigam-me a pensar de forma o mais objectiva possível, em torno do denominado Partido Norte, cuja criação foi anunciada há umas semanas.

Um partido para que seja credível junto dos eleitores necessita de elaborar um programa de acção claro que possa ser aceite com agrado pelos cidadãos. Logicamente, um partido, tem por objectivo conquistar uma representatividade parlamentar capaz de poder ser um parceiro efectivo da nossa democracia. No caso de um partido com caracte-rísticas regionais, como parece ser a vocação do Partido Norte, este

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terá de ter como objectivo máximo a Regionalização. No entanto também pergunto: a concretização da dita regionalização, com tudo o que estaria inerente a tal decisão política dos portugueses, não esva-ziaria de conteúdo os objectivos desse partido? Um partido regio-nalista em Portugal é importante neste momento político que vivemos? Admito que sim. Mas só, até conseguirmos regionalizar Portugal. Sinto, por isso, que há oportunidade para a criação de um partido (ou vários) de características regionais em Portugal, que assumam igualmente a luta pela melhoria das condições de vida dos portugueses (sobretudo a Norte), numa altura em que o centralismo lisboeta é cada vez mais evidente. Mas se fosse só um Movimento Cívico? Não conquistaria este mais adeptos?

Junho 18, 2010

E PORQUE NÃO UM GRANDE MOVIMENTO CÍVICO?

Na passada semana escrevendo sobre o Partido Norte, terminava a minha crónica com uma pergunta: e se fosse só um Movimento Cívico? Como então referi nada tenho contra a criação de um partido que assuma a luta pela melhoria das condições de vida dos portugueses (sobretudo a Norte), sobretudo numa altura em que o centralismo lisboeta é cada vez mais evidente. Mas…há sempre um mas: as teias do poder! Um partido é uma estrutura organizada que tem ser sufragado em eleições. Há muitos, mesmo muitos cidadãos que, apesar de poderem estar de acordo com os ideais e conceitos programáticos

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de um partido como este, não é “gente de partido”. Não gostam de estar envolvido na política activa e não querem que, muitas vezes,

“outros pensem por eles”. Um partido como o Partido Norte terá assim alguma dificuldade em conquistar para “quadros” nomes conhecidos da vida pública portuguesa. Isto até porque, mesmo aqueles que possam estar de acordo com as suas teses, estão em muitos casos

“presos” a outros partidos já existentes em Portugal. Por outro lado num partido com as características do Partido Norte tem de existir um controlo rígido sobre o cumprimento exemplar do seu programa de acção. Se por um lado já é um espaço político mesclado de divergências ideológicas dificilmente numa Assembleia da República, como é a nossa, conseguiria fazer vingar as suas ideias e projectos dada a quase impossibilidade de “conquistar” coligações, precisamente com os partidos que têm vindo a ser os responsáveis pelas políticas que temos.

Sinto assim ser mais firme e coesa a ideia da criação de um grande movimento cívico apartidário, que agruparia as diferentes tendências ideológicas e sociais num único objectivo: descentralizar Portugal, concretizar a Regionalização e extinguir-se no momento em que tal acontecesse. Desse imenso contributo destacaria as vantagens: força da opinião pública, liberdade de pensamento, convicções e o não apego declarado ao Poder. Um movimento de cidadãos conseguirá fazer passar a mensagem aos Portugueses com melhores resultados que mais um partido político.

Junho 18, 2010

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LÁ VAMOS CANTANDO E RINDO!

As famílias portuguesas enfrentam cada vez mais dificuldades e, de acordo com um novo estudo divulgado esta semana, existem cerca de 31 por cento de portugueses a viver no limiar da pobreza apesar de receberem apoios do Estado.

A investigação levada a cabo pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho não entra em conta com o factor de que mais de 25% dos portugueses possuem rendimentos incapazes de satisfazerem as suas necessidades mínimas, sendo os mais vulneráveis os idosos, as famílias monoparentais e os menos instruídos.

Assim é fácil de concluir que cerca de 60% da população portuguesa (sobre)vive numa situação indigna de um país do chamado “Primeiro Mundo”.

No entanto, e tendo em conta dados já anteriormente tornados públicos, 87% das famílias portuguesas vivem acima das suas posses estando completamente endividadas, sendo que muitas delas integram desempregados à procura do primeiro emprego ou de longa duração, situação que tudo leva a crer se vá agravar no próximo ano, segundo os cálculos do próprio Governo.

Em reacção ao trabalho do ISCTE, a ministra do Trabalho em vez de se solidarizar com a situação dos portugueses ajudou ainda à “festa” referindo, em particular, o facto de os subsídios de todo o tipo não

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serem eternos: “O normal das sociedades é trabalhar e não estar a utilizar um subsídio”, disse Helena André esquecendo-se do previ-sível crescimento exponencial do desemprego nos próximos anos.

Num país à beira da falência social, num país com uma economia “presa por um fio” e com um sistema bancário na bancarrota, o estudo acima referido inclui uma referência que não deixa de ser verda-deiramente diabólica: “Apesar desta realidade, os portugueses consi-deram-se felizes. Mais de 70% dos inquiridos admitem viver satisfeitos, sendo a família e os amigos as justificações apontadas”.

Sinceramente, acho que vivo num país surrealista quando se sabe esta semana que foi promulgado pelo Presidente da República o “pacote de medidas de austeridade”, que obrigará os portugueses a apertar ainda mais o cinto.

Haja alegria e felicidade e… quem vier atrás que… feche a porta!

Junho 18, 2010

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O ESTADO (DEPRIMIDO) DA NAÇÃO…

Nos últimos cinco anos, cerca de 350 mil portugueses emigraram. A crise, afinal, começou antes do seu anúncio formal. Dá uma média de 70 mil por ano, mas acredito que 2009 tenha sido o ponto de partida para muitos mais que a média. E não se pense que estamos a falar de emigração ao estilo dos Anos 60. Falamos de gente de todas as idades e categorias sociais e profissionais. Basta olhar para os números anunciados por uma estrutura sindical de médicos, que aponta para um acréscimo de 19 por cento de profissionais daquele sector entre os emigrantes portugueses. Saem do País, portanto, trabalhadores quali-ficados e “massa cinzenta”, o que augura pouco a nosso favor.

Mas há mais números para assustar: o número de empresas que se apresentaram à insolvência aumentou 2,5 por cento face a números de período análogo: este ano, no primeiro semestre, fecharam 1840 empresas. A maior parte delas no Norte, conforme já tinha referido em crónica anterior.

Há um ponto interessante, ainda assim, no meio de tanto número negro: a maior parte dos emigrantes escolhe Angola como destino. Entre as economias emergentes do planeta, há duas muito atractivas para os portugueses: Angola e Brasil. A primeira porque emerge; a segunda porque resistiu à crise mundial.

Todos sabemos que onde não há dinheiro normalmente ninguém tem razão. E para que as decisões e opções sejam consistentes, sustentáveis

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e estratégicas é necessária a confiança colectiva. E essa, confesso, vejo faltar, mais do que o dinheiro para o pão e para a casa, com o devido respeito a quem já isso falta.

A encruzilhada portuguesa é, quanto mim, uma questão de confiança em quem nos vai apertar o cinto. Acredito que não há milagres económicos no horizonte e isto só vai ao sítio com políticas de investimento correctas e com cortes orçamentais nos excessos. Vai doer no imediato, mas com as pessoas certas, as soluções acabam por aparecer. Há é que mudar o estado deprimido da Nação.

Julho 18, 2010

UNS CINTOS MAIS IGUAIS QUE OUTROS

Li há dias palavras de um autarca de uma freguesia de Guimarães, alertando os Média para o aumento do número de desempregados como factor de incremento da prostituição na zona do Vale do Ave. Registe-se, já agora, que conforme o Instituto do Emprego e Formação profissional vimaranense, no concelho há 12.884 pessoas sem vínculo laboral no concelho, das quais 7.026 (a maioria) são mulheres.

Ora, se juntarmos a este número (que reflecte apenas os inscritos nos centros de emprego) o incontável e nunca conhecido número de pessoas que nunca teve um emprego (registado) ou não encontra trabalho (mesmo com rendimento não declarado), então é caso para

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não nos escondermos atrás de terminologias suaves e semânticas politicamente correctas. Estamos diante de uma tragédia social. Mais uma no Vale do Ave.

A crise nacional, dos mercados mundiais e até a bolha (furada) imobiliária dos EUA não explica tudo. Não explica, sobretudo, porque se fazem sentir estes dramas sociais com mais intensidade no Norte de Portugal. O que explica, isso sim, são anos e anos de Centralismo, de concentração administrativa que suga cérebros e empreendedores para perto do pólo decisório e nevrálgico do País.

Podemos condenar as empresas por investirem recursos na malha urbana de Lisboa? Não! O mercado lá tem mais hipóteses e sobreviver financeiramente é um direito que assiste a quem investe trabalho e dinheiro. Mas podemos condenar quem pode distribuir o poder, a decisão, a eficiência administrativa por Portugal fora. Para que nem homens, nem empresas, nem máquinas tenham que estar na órbita concêntrica da capital.

É que o cinto, quando aperta, devia ser para todos. Mas tem havido uns cintos mais iguais que outros.

Julho 18, 2010

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URGE UM PACTO PARA A JUSTIÇA

Justiça tardia nunca é justiça, nem para o mais facínora nem para o (in)justiçado. Isto a propósito de alguns casos que começam agora a clarificar-se, a encerrar-se ou até mesmo a sentenciar-se.

Independentemente dos desfechos - e não se retire das minhas palavras qualquer julgamento às acusações, decisões e/ou sentenças dos tribu-nais, juízes e procuradores -, nunca se fará Justiça quando o tempo que passa entre o início de uma arguição ou acusação permite que os indícios criminais se desvaneçam ou sejam manipulados, que a boa imagem dos que podem estar inocentes se enlameie nas quase sempre cegas críticas sociais e populares; ou que a competência de quem investiga e de quem julga seja colocada em causa, a maior parte das vezes, por razões que não lhes podem ser atribuídas, como a ausência de condições de trabalho, de recursos insuficientes ou até de formação para confrontar a criatividade de quem pratica os crimes.

Todas as máximas e ditados sobre a Justiça são milenares. Vêm dos primórdios da História e com a organização grega e o poder romano desenvolveram-se em torno daquilo que são hoje os direitos, liberdades e garantias de cada cidadão, instituição ou empresa. Mas o que se passa em Portugal revolta-me.

Em pouca coisa sou adepto de pactos de regime. Por princípio, os partidos ou outros representantes apresentam-se a escrutínio e o Povo escolhe como quer e por quem quer ser governado. Mas abro esta

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excepção: um pacto de regime é urgente em defesa da Justiça, da nossa identidade cultural.

Um pacto que não exclua ninguém. Que abranja todos os partidos, que envolva todos os agentes (magistrados, advogados, procuradores, polícia, universidades…) sociais. É urgente porque esperar anos para que se faça Justiça (e as vítimas sofram desgaste psíquico ou se empe-nhem financeiramente para o provar) ou para tentar limpar uma imagem suja pelas calúnias e difamações (ou até por erros judiciais) é coisa que não pode acontecer da forma como tem acontecido.

Julho 18, 2010

CHUMBADA DA GROSSA!

A ideia de se acabar com o “chumbos” na escolaridade obrigatória em Portugal é surrealista e demonstra uma total incompetência do Governo em pensar o futuro. Apesar de esse ser o regime adoptado nos países do Norte da Europa, as comunidades escolares, parentais, docentes e outras são diametralmente diferentes das portuguesas. Infelizmente é como comparar países do primeiro Mundo com um quase Terceiro Mundista…Portugal.

É verdade que os níveis de competência dos alunos universitários da Finlândia, Suécia, Dinamarca ou Noruega são considerados elevados e, por isso, prova-se com facilidade, que esse regime de passagem

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automática durante a escolaridade pré-universitária é algo de racional, até porque ali também foram criados cursos complementares destinados aos “menos aptos”.

Não é preciso estarmos munidos de grandes estudos para provarmos que a realidade escolar em Portugal é completamente diferente, bastando para tal ler as comparações que os jornais fizeram nos últimos dias entre as características do ensino em Portugal e nos mais diversos países da Europa.

Aqui, se há pouco alunos, fecha-se a escola e aumentam-se turmas uns quilómetros mais adiante; e aulas de apoio são coisa que econo-micamente é lida como despesa do Estado! Se a leitura fosse, pelo menos, social (conforme também se faz nos países nórdicos), podia chamar-se investimento do Estado…

E depois há os factores pessoais e psicológicos das crianças, os tais que ajudam a moldar carácter e a crescer de forma integrada no meio e, ao mesmo tempo, a adquirir a força para que cada um se distinga pessoal e profissionalmente. E, isso tenho a certeza, não se conseguirá com a facilidade do modelo nórdico. Até a própria latinidade se encarregará de mudar as “regras do jogo”.

Ninguém me convence que, nos próximos anos, as crianças que não entenderem como enfrentar obstáculos e desafios, como os mais que normais testes ao seu conhecimento e competências, tornar-se-ão jovens adultos capazes de empreender, participar e vencer numa

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sociedade em mutação constante como é a nossa. Tal como tenho a certeza, sendo esta medida implementada, que o seu nível de compe-tência será ainda mais deficiente, do que o de todos aqueles que se

“instruíram” nos já de si débeis sistemas educacionais que se têm adoptado em Portugal, eu diria, nas últimas décadas.

Agosto 5, 2010

FOGO NO MATO E FUMO NAS CONTAS

O hemisfério Norte, a viver o período de Verão, está a arder. Há incêndios à escala global. Claro que os fogos em Portugal são os que mais nos escaldam. Mas as imagens dos russos - aos milhões - a circularem de máscara nas suas cidades é impressionante. Resta saber que custos globais (na Natureza e na Economia) acarretarão. Já no hemisfério Sul, a viver as estações mais frias, a calma é absoluta nesse capítulo. Mas diga-se, a propósito, que quando os cenários se invertem, a calamidade incendiária não é tão grande, apesar de haver mais floresta, mais mato e capim para arder. E o que distingue os dois hemisférios? Nem mais nem menos que a presença mais (a Norte) ou menos (a Sul) acentuada do Homem, o voraz comandante das cadeias da Natureza. Há, naturalmente, excepções nesse território abaixo do equador. Mas são excepções que confirmam a regra: são grandes incêndios perto dos aglomerados humanos, e mais na América Latina que na África profunda, onde há mais o que arder, mas menos quem acenda fósforos.

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Em Portugal contabilizam-se já - à hora a que escrevo esta crónica - dois bombeiros mortos e cerca de 20 milhões de euros de prejuízos. O flagelo é anual e parece não haver como resolvê-lo. As medidas necessárias obrigam, entre outras, à manutenção diária (não apenas sazonal) de milhares de quilómetros quadrados de floresta, mato e baldios. Ora, num País onde grassa o desemprego, seria de esperar que já tivesse havido investimento consistente e uma estratégia nacional para combater fogos e formar vigilantes florestais, técnicos adaptados às situações ou até mesmo um qualquer departamento nacional com ramificações regionais para tudo isso.Mas não. A gente vê o País a arder e passa a factura depois. Contas feitas (e elas fazem-se todos os anos), os custos dos fogos davam para pagar a essa gente e muito mais (exceptuando prémios chorudos para gestores estatais) e ainda ficávamos com as florestas mais ou menos intactas. E isso são contas que não se podem fazer no imediato, são ganhos que não acontecem, é dinheiro que se esfuma!

Agosto 5, 2010

INDÚSTRIAS DA CULTURA E DO LAZER FALA-SE DELAS…MAS NÃO SE FAZ NADA…

Vivemos tempos difíceis. Há duas opções a tomar: ver tudo a ruir como um autêntico “baralho de cartas” ou “arriscar”. Ficar parado não é solução. Lutar é a única lógica existente. Se falarmos de Cultura parece que a situação ainda é mais complexa e...muito grave. Vivemos

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num país em que os nossos governantes, desde há muitos anos, ou até talvez desde sempre, olharam para a denominação Cultura como algo elitista, que não dá votos. Daí os orçamentos miseráveis que temos sempre tido a nível de Governo e autarquias, para essa valência funda-mental da nossa vida quotidiana e, sobretudo nos tempos que correm, para a economia de um país. O que vemos é que parece ser mais “lógico” dar uns euros largos a uma qualquer empresa estrangeira para produzir componentes de automóveis em Portugal, fora toda a logís-tica para que ela aqui se instale, do que fazer parcerias culturais com natural retorno planeando uma política cultural consistente e susten-tada para o país que somos no sentido de se criar uma forte Indústria da Cultura e do Lazer. Não uma política elitista. Uma política cultural que seja trabalhada por “patamares” para, aos poucos poder chegar a um cada vez mais amplo núcleo da população. Há mais de vinte anos que, por toda a Europa e, porque não dizê-lo, em todo o Primeiro Mundo, as Indústrias da Cultura, em paralelo e em conjugação com as indústria do turismo, têm sido uma solução óbvia para a implemen-tação de uma indústria do lazer que também vem permitindo um crescimento generalizado do sector dos serviços. Tal faz mover a economia permitindo ver os tais euritos a circular, algo que não acontece em Portugal. Por cá, pelo menos para já, a primeira coisa a cortar... é na Cultura...

Setembro 3, 2010

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MAIS PROPOSTAS E MENOS CONVERSA, sff

E lá tivemos o famoso fim-de-semana da “rentrée” política em Portugal. O PSD apesar de já a ter feito no Algarve, aproveitou a Universidade de Verão do PSD para Passos Coelho responder a José Sócrates que, em Matosinhos, disse mais do mesmo. O PC jogou em casa, na Atalaia, esgrimindo os argumentos do costume e CDS e Bloco equilibraram a balança política, à direita e à esquerda, com teorizações sobre a situação em que vivemos. Propostas para sair da crise: ZERO. Comum a todos a triste situação que se avizinha com o possível

“chumbo” do orçamento de Estado para 2011.

Não me parece que ameaçar com dividendos a retirar (leia-se: eventuais votos em massa do eleitorado) de uma hipotética crise política, seja a melhor solução para a crise económica e de desen-volvimento de Portugal. Mas leio e releio, ouço e revejo os discursos do primeiro-ministro e não encontro, nas suas palavras de pós-férias, soluções, estratégias ou focos em preocupações vitais no quotidiano dos Portugueses, das nossas empresas e instituições.

Por outro lado, o PSD apresenta propostas em timings e fórmulas que emprestam às opções de liberalização económica o disfarce de “papão”, quando as mesmas deveriam ser apresentadas em “trajes” de trabalho e de garantes do crescimento necessário para a criação de empregos, salvação das pequenas e médias empresas e credibilização das instituições, obrigando o Estado ao seu papel de fiscalizador de um mercado que se pretende mais competitivo.

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Não deixa, porém, de ser verdade que Passos Coelho revela responsabilidade política e de Estado mais do que suficiente para que o Governo e o partido que o apoia se vejam obrigados a implementar um orçamento para 2011 com parte das medidas económicas propostas pelos sociais-democratas.

Com os restantes partidos como meros barómetros de governação presente ou futura, esta confrontação ideológica faz mais sentido agora do que mais tarde, na hora do voto.

É verdade que faltam ideias e sobejam crispações. Mas, tal como na Selecção Nacional de Futebol, às vezes não interessa quem tem razão quando a situação, por si só, obriga a mudanças profundas.

O problema é que os portugueses já começam a estar fartos de “esperar”…

Setembro 3, 2010

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E ASSIM VAI ESTE PAÍS À BEIRA MAR PLANTADO!

Todas as semanas trago aqui alguns dos meus espantos! Grandes assuntos dominam a actualidade - Orçamento, Justiça e até futebol -, mas o quotidiano das pessoas é feito, dizem os poetas, de pequenos nadas. E duas notícias chamaram-me a atenção no início desta semana. Não sou dado a teorias da conspiração, mas enquanto se discute o destino de Carlos Queiroz, as razões (ou falta delas) do mau momento do Benfica e quem vai apoiar quem no Parlamento para que haja no País manual de custos e receitas para 2011, ainda há jovens que entram no Ensino Superior com média abaixo do 10 e há - pasmo! - bónus financeiros para que os hospitais façam tudo o que devem fazer para tratar as vítimas de avc’s , isto é enfartes...(e devem ser cada vez mais tendo em conta o “Estado da Nação”!)

O objectivo desta última medida (ainda à espera de assinatura da Ministra da Saúde) é a redução da mortalidade e incapacidade das pessoas que sofrem acidentes vasculares cerebrais ou enfartes do miocárdio. Até aqui, tudo bem. Mas não estamos a falar de um novo tratamento ou de nenhuma descoberta ao nível da investigação clínica. Estamos a falar de cuidados e atenções melhorados e redobrados. Sinceramente, custar-me-ia não fazer esta pergunta: então por que não era feito assim antes? Ou devemos pensar que os doentes não eram devidamente tratados?

Já a questão dos estudantes que chegam às universidades (em 38 licenciaturas) com médias de 9,5... bem, só pode ser para garantir à

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propaganda do Governo. A existência de um número substancial de jovens que, estatisticamente, passam a contar para o quadro de alunos universitários! Duvido, claro, das consequências práticas desta solução. Mesmo que alguns protagonizem o milagre de se transformarem em estudantes empenhados e futuros técnicos competentes, muitos mais serão aqueles que mais tarde só terão mesmo um “canudo” porque as suas “licenciaturas” de facto não lhes darão lugar (excepto através da famosa e cada vez mais prolífera “cunha” numa qualquer actividade.

E assim vai este país à beira mar plantado!!!!

Setembro 8, 2010

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NO FUNDO É MESMO UMA QUESTÃO DE CULTURA

Não há muitas opções para sair da crise. De qualquer forma ainda acho que vale a pena “arriscar”. A única solução é não ficar parado. Lutar por um objectivo é a lógica possível, isto se quisermos que algo mude neste país.

Algumas são as indústrias que ainda têm potencial de crescimento em Portugal, sobretudo aquelas que estão viradas para a “imagem” e a

“tecnologia”. Indústrias que se suportam em empresas geridas por gente jovem e às quais se tem de dar particular atenção. Esses que já olham para um Mundo Global e não só para este cantinho da Europa. Exportam tecnologia, projectos, conceitos e muitas vezes “vão com eles” porque em Portugal não têm o futuro assegurado. Interessante é também saber que 23 a 25% da população portuguesa (sobre)vive no âmbito de duas das mais importantes Indústrias dos nossos dias, a da Cultura e a do Turismo…isto é, aquelas que nos proporcionam esse Lazer que nos faz afastar da realidade do quotidiano e fazem crescer os serviços. No fundo, aquelas que fazem o dinheiro circular em vez de se manter depositado numa banca cada vez mais “agarrada” e que limita o desenvolvimento da nossa economia. Mas aqui surge mais um problema. Vivemos num país em que os nossos governantes olham para a denominação Cultura como algo elitista, que só procura o subsídio. Uma actividade para esses alguns poucos que não dá votos. Não pensam que ao apoiar a Cultura estão a investir em Portugal.

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Dentro dessa lógica, que já não foi secular (!), sempre os zero vírgula qualquer coisa que vemos, cada ano, consignados no Orçamento de Estado… para o Ministério da Cultura e a inexistência de um orçamento forte e com objectivos claros para o sector do Turismo.

Aparentemente parece ser mais “lógico” dar uns euros largos a uma qualquer empresa estrangeira para produzir componentes de automóveis em Portugal bem como toda a logística para que ela aqui se instale, do que fazer parcerias turístico/culturais com obriga-toriedade de retorno.

Mas, mesmo assim a Cultura, impregnada que está nos cidadãos existe. Só assim se explica que se vejam milhares de pessoas nas festas tradicionais portuguesas que se realizam por todo o país, nos festivais de cinema, de música, de teatro, nas animações culturais como uma qualquer “Feira Medieval”, iniciativas de Municípios ou de privados que quase se autofinanciam com as receitas dos serviços. Só assim se explica o inundar das “baixas” das grandes cidades “noite dentro”, em particular aos fins-de- semana, por uma movida jovem que “gasta o seu “poupado” dinheiro no lazer. É que sem um pouco de Lazer que os afaste da realidade, como poderão os portugueses continuar a aguentar a contínua “informação” de que a recessão está aí.

Já sabemos. Estamos fartos de saber no “buraco” em que nos meteram. Senhores governantes resolvam a situação. Lutem nessa Europa, que é a nossa, para garantir para Portugal, para os portugueses, melhores condições de vida.

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Agora sem agricultura, sem pescas, sem indústria pesada e pensando só em obras megalómanas e a implementação de novos impostos directos ou indirectos sobre uma população cada vez mais pobre, não vamos seguramente sair mesmo da estagnação em que se encontra o país. No fundo, é tudo uma questão de Cultura. De formação. De olhar o Mundo de hoje e aplicar uma política cultural, consistente e sustentada na nossa oferta turística e de serviços para o país que somos. Não uma política cultural elitista. Uma política cultural construída por “patamares” para, aos poucos, poder chegar a um cada vez mais amplo núcleo da população. Há mais de vinte anos que, por toda a Europa e, porque não dizê-lo, em todo o Primeiro Mundo, as Indústrias da Cultura em conjugação com as do Turismo, têm sido solução para a implementação de uma forte Indústria do Lazer que, como disse, vem permitindo um crescimento generalizado do sector de serviços. Mas por cá, a primeira coisa a “cortar”... é na Cultura...Mas será a Cultura algo diabólico, não rentável e mais subsídio-dependente do que as outras indústrias? Não. De forma alguma. Quando se apoia a cultura, tal como já disse, INVESTE-SE no futuro.

Lutem. É para isso que o povo português elege os seus governantes. E... sim, isso é muito importante, não se façam de surdos, cegos e mudos, vejam o que Espanha está a fazer, ou a Alemanha, ou o França ou, enfim, quase toda a Europa, apostando nas indústrias do Turismo em ligação com as da Cultura. Se conhecemos e, eventual-mente, queremos ir a Cannes, Avignon, ou Salzburgo é porque ali, acontece algo... um festival de cinema, um de teatro ou um de música.

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Se queremos ir a Bilbao... é porque há ali um novo Museu. Praga, Barcelona, Paris, Londres são cidades monumentais, mas também cheias de cultura e de espaços de lazer, daí apelativas aos turistas. E os serviços são uma fonte de receitas considerável. Não será tal óbvio?

Mas será mesmo a Cultura uma actividade subsídio-dependente? Sim, quando é apelidada de serviço público. Tem de o ser. Mas essa é a

“cultura” do Estado. Este tem de garantir financiamento para os seus teatros, museus, fundações, o restauro e preservação do nosso património. E porque não uma fatia desse “bolo” para os projectos que emergem de privados? Que se faça, pelo menos, uma Lei do Mecenato que, tal como nos Estados Unidos, abra a porta às empresas privadas para poderem, sem receio, apoiar a cultura, criando parcerias. Porque é que as verbas que estas têm de pagar anualmente de IRC não podem ser deduzidas numa percentagem significativa em função do inves-timento destas empresas na cultura. Assim poder-se-ia garantir que os projectos com futuro e de qualidade, se continuassem a realizar sem sobressaltos.

No fundo é tudo TAMBÉM…uma questão de CULTURA!

Setembro 3, 2010

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VAMOS TER DE PAGAR...A BEM OU A MAL!

Há velhas máximas que, desconstruídas e decompostas, revelam como vai o País. Diz-se tradicionalmente “em casa onde não há pão, todos ralham e todos têm razão”. De facto têm razão... o país está num caos. Há já uma grande maioria da população que não vê nenhuma “luz ao fundo do túnel” para poder viver o seu quotidiano. O problema é que a situação desses e, de muitos outros, vai piorar. E muito. Todos os indicadores económicos levam a pensar isso. Quem vai pagar a dívida do país que já se hipotecou a nível internacional? Nós todos. Entretanto Portugal definha e há cada vez menos dinheiro para pagarmos as nossas contas e logicamente para o País pagar as suas dívidas.A realidade é que há um problema de gestão. Nem sequer é uma questão política. É de competência. Não temos técnicos qualificados capazes de encontrar soluções para o país sair da crise. Não há propostas concretas para os portugueses, sejam eles os gestores, sejam os trabalhadores poderem fazer acelerar a economia deste País. A única lógica que vem existindo é a do corte nos salários, no pagamento das pensões e sobretudo nos impostos directos e indirectos que temos, cada vez mais de pagar. O buraco financeiro do País apresenta números inconcebíveis: há um défice diário de 37 milhões de euros, anunciou a Imprensa esta semana (creio que aqui haverá um certo exagero...). A despesa pública assusta investidores nacionais e internacionais, os mercados, os credores e esta “pescadinha-de-rabo-na-boca” resulta no aumento do preço do... dinheiro.

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Agora volta o fantasma do Fundo Monetário Internacional a pairar sobre a Economia portuguesa. Tal é muito mau. É sinónimo que estamos a “bater no fundo”. Mas, às tantas, é preferível alguém de fora vir fazer aquilo que os de dentro não conseguem... ou não querem para continuar no poder. Com ou sem FMI, vamos ter que cortar nos salários e nas prestações sociais. Baixar a despesa pública é uma necessidade óbvia, não há alternativa. Mas, como disse ainda esta semana Medina Carreira, antigo ministro das Finanças, o corte afectará seis milhões de portugueses. O preço político de tais medidas será incomportável para qualquer partido sentado no Governo.

Mas também ficaria bem a muita gente alguma contenção no despe-sismo. Claro que é sempre muito difícil conter certos e deter-minados hábitos (muitos deles perfeitamente inúteis) de quem gere dinheiros públicos. Sobretudo daqueles que quase nunca na vida tiveram que pagar contas das suas empresas ou mexer nas suas poupanças.

Tenho para mim que anda para aí muita gente a mexer no dinheiro que é de todos sem as competências ou até o civismo necessário para o fazer. De país “desenvolvido” do “Primeiro Mundo” estamos a tornar-nos rapidamente num daqueles países africanos a quem chamam “País em vias de desenvolvimento”... tal significa Alguns poucos ricos e milhões que vivem sem nada. É triste.

Setembro 24, 2010

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19 MEDIDAS PARA “FECHAR” UM PAÍS…E DEPOIS?

E… não sei se a coisa fica por aqui. Não sei se esta é a derradeira factura da incompetência da gestão deste País, das oportunidades perdidas e das muitas opções erradas dos nossos Governos nos últimos anos.

Corte nos salários da Função Pública por decreto, conduz a salários mais “curtos” no sector privado. Leva a gente que tem menos condições financeiras para comprar (bens básicos, sobretudo, que são o grosso do sector comercial) a não o fazer. A bloquear a circulação de dinheiro, necessário para a manutenção de uma economia com alguma resistência a situação que vivemos. Há que produzir ou importar menos. E produzir menos implica ainda menos gente necessária para produzir. E menos gente a trabalhar...mais e mais desemprego. Mais uma “pescadinha de rabo na boca”.

Há um conjunto de erros que, por muito sentido de Estado a que a governação obrigue (ou mesmo a EU), são neste momento imper-doáveis. É certo que a prioridade é a redução do défice. Tão verdade como o facto de não haver dinheiro para cumprir com as obrigações externas da gigantesca dívida pública que vamos diaria-mente acumulando (isto enquanto nos continuarem a emprestar uns euritos).O IVA a 23 por cento é um travão total à economia. E o convite aos processos ilegais de facturação, é um doce para a chamada economia paralela, que especialistas contabilizam como fazendo circular cerca de 20 por cento do dinheiro que está na rua. E nós que temos a Espanha aqui tão perto!

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Parece-me que mexer - mais uma vez - no bolso de quem tem menos não é a melhor solução para diminuir a pressão dos mercados inter-nacionais sobre Portugal. As assimetrias vão aumentar aceleradamente e os protestos estarão aí, em todo o lado.

E a forma desesperada como o Governo procura truques contabi-lísticos e financeiros - como o Fundo de Pensões da PT - para apre-sentar credenciais e credibilidade nas contas do ano é tapar o sol com a peneira. E este “negócio”, para além de ainda dar para pagar os famosos submarinos (!) vai ser, a curto prazo, mais um imposto indi-recto para os contribuintes, dado que o Estado passa a ser responsável pelo pagamento das pensões dos milhares de funcionários da PT, muitas delas milionárias…

Mais medidas urgentes, duras, serão necessárias. Creio que não. Das 19 anunciadas umas são mais justas mas, a maior parte são muito injustas. A verdade é que tudo isto já se previa há muito tempo, tal como há duas semanas ainda aqui escrevia. E se tivesse havido a coragem de começar a tomar medidas, pelo menos, há um ano, algumas das “machadadas“ anunciadas na passada Quarta-Feira, seguramente não pareceriam tão duras.

No meio de tudo isto, há um hipotético…mas credível… cenário de crise política, que também tira “imagem” a Portugal junto dos nossos credores.

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Haja responsabilidade, mas não incendiando o País. E responsabilidade. Sobretudo da parte do Governo, por estar provado que, a gerir sozinho este Portugal, só nos tem “oferecido” dissabores.

Setembro 29, 2010

NÃO HÁ ORGÃOS AUTÁRQUICOS A MAIS EM PORTUGAL?

O fantasma de uma crise política e a crise económica abafaram um pouco a reentrada da Regionalização (de novo) na agenda do País. O que me motiva a não a perder de vista. E a propósito de contenção e de uma reforma administrativa/política de Portugal, sou dos que acre-dito que só é possível uma Regionalização deste País desde que se diminua o número de freguesias (4257) de cada município (308) e se fundam, também, alguns desses municípios.

Essa é uma das questões mais polémicas da nossa organização administrativa. Não é lógico, nem racional, e este é só um exemplo: Barcelos tem 89 freguesias. Isso sim, são empregos políticos em demasia. Criar cinco Governos Regionais, na lógica das Comissões de Coordenação existentes, que possam ter voz junto do Poder Central e da Europa, seria uma solução mais que óbvia e aceitável, desde que bem explicada, aos olhos de todos os cidadãos.

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No entanto há naturalmente quem não concorde, até porque é um dossier que cria muita polémica. Em debate de ideias, dizia-me há dias um cidadão: “Experimente fundir Massarelos ou Leça com Canidelo. Os municípios como se redimensionam? Matosinhos integra-se no Porto ou vice-versa? Ou então é absorvido por Vila do Conde ou Gaia?” Retorqui: “Esses exemplos não são obviamente lógicos na perspectiva do que admito ser uma primeira solução que abra portas a uma regionalização inteligente e democrática. Nos outros países foi feita... por que não em Portugal? Também não acho que os poderes de um governo, que são governar, devam ser beliscados. O que admito é que temos micro-gestões administrativas carregadas de “empregos polí-ticos” e que tal situação poderia ser minimizada com a redução drástica dos órgãos autárquicos existentes, até porque o exemplo de Barcelos não é o único em Portugal… há muitos…

Até não defenderia a Regionalização (pelo menos nesta situação economicamente trágica que temos vivido) se a chamada Grande Lisboa não “abrigasse” metade da população portuguesa. Ainda no fim-de-semana passado, quando fui a Coimbra ver, diga-se, um grande espectáculo dos U2, decidi ir pela velha “número 1” e parar em cerca de uma dezena de cidades como Arouca, Águeda, incluindo o famoso (!) circuito turístico à Pateira de Fermentelos, Anadia, Sangalhos (onde dei uma vista de olhos rápida ao Museu Berardo...) e não vi vivalma. Até tive dificuldades em encontrar um restaurante aberto. Estava quente, um sol espectacular, no fundo, um dia para passear. Se isto é o nosso litoral como estarão as Beiras ou Trás-os-Montes?

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Um dado concreto: Beja representa 11.5% da área total de Portugal continental e a sua população representa apenas 1.6% de portugueses. Para quê então a estrutura administrativa que temos com mais de três centenas de municípios, muitas mais cidades e, milhares e milhares de freguesias. Devemos ter um rácio de políticos por cidadãos que não dá para acreditar. E... quem paga tudo isso? Nós todos. Aliás pagamos tudo... e agora, já fora do PEC 3, também as pensões dos funcionários da PT, e da banca, que são mais uns milhões de euros por mês que saem dos nossos bolsos.

PS.: Sabia lá eu que esta revisão político-administrativa do País estaria para breve. Creio ter de estar concluida até Julho de 2012… para se cumprir o acordo realizado com a famosa “troika”.

Outubro 5, 2010

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UM PAÍS PRESO POR UM FIO…

De mal a pior? Pelo menos assim parece, embora não seja novidade: a economia portuguesa, segundo dados do Fundo Monetário Inter-nacional (FMI, o tal que pode vir aí “ajudar” a governar...), pode decair 1,4% em 2010. Já não bastava a crise, as medidas para apertar os cintos e a desconfiança generalizada na governação, levamos agora com esta triste e penosa premonição: haverá crescimento negativo para o ano.

Na realidade, esta encruzilhada poderia, como já muitos disseram, ter sido evitada se o Governo de José Sócrates tivesse assumido as responsabilidades há cerca de um ano e evitasse, dessa forma, um conjunto de imposições draconianas, daquelas que agora assustam trabalhadores, empresários, gestores e investidores. Isto é, há todo um mercado internacional em sobressalto com os problemas de Portugal e todo um País espantado e “espartilhado”, a tentar perceber como foi possível não fazer frente a uma crise há muito anunciada (mesmo essa, a tal crise internacional) e ter-se perdido este ano de 2010 em movimentações que mais não foram que a tentativa de perpetuação no Poder ou das subvenções que o mesmo permite e garante.

Vale a pena atentar nas palavras do Presidente da República neste Centenário da República. Vale a pena perceber que acima de todas as tricas políticas está todo um povo e o seu potencial de desenvolvimento, que foi penhorado nos últimos anos. Vale a pena perceber que abaixo dos poderes - do Político ao Financeiro, passando pela Justiça - estão dez milhões de pessoas que querem perceber como tudo isto aconteceu.

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E enganá-las será permitir… que volte a acontecer.

Independentemente das soluções, há responsabilidades a atribuir. E penso até que só assumindo responsabilidades é possível contribuir para aquilo que o Presidente da República preconiza para Portugal: recuperar a confiança em nós próprios e permitir que a governação seja, nos próximos tempos, feita em torno de um grande consenso, não só político (porque nesse estamos quase todos de acordo), mas sobretudo partidário.

Outubro 13, 2010

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ESTARÁ (ESTAVA!) O ORÇAMENTO EMBRUXADO?

Estamos em tempo de Halloween e parece que há bruxas e bruxedos na questão da discussão sobre o orçamento de Estado para 2011. Talvez sim, talvez não. No fundo o que existe é apenas um “desacerto” entre os dois partidos mais representativos dos Portugueses. Se o PS se mantém “preso” ao mesmo, o PSD protagoniza, na lógica da defesa dos cidadãos, um papel que lhe é favorável politicamente nos tempos actuais. Sem fórmulas exactas para nos libertarmos da “crise”, ou talvez mais da recessão que o País vive, não deixo de olhar esta situação mais pelo lado político, do que por esse emaranhado de jogos financeiros que mais parecem um nó cego para quem fez o orçamento e para quem tem de o analisar e propor alternativas.

Vou partir do princípio de que o Governo tem uma parte significativa de “culpas” no cartório. Mas a crise internacional não explica tudo, muito menos a incapacidade para a enfrentar. E digo isto porque, apesar de ser Governo, não me parece que a equipa de José Sócrates tenha conquistado a legitimidade política com que tem vindo a tentar esgrimir os seus argumentos em defesa do orçamento. Até porque a situação que vivemos já pouco tem a ver com orçamentos, nem o de fazer cedências na sua discussão. O que se exige ver do Governo são políticas objectivas e claras para o País poder avançar com outra estratégia, com outras medidas que sustenham o défice e que o levem para valores aceitáveis internacionalmente. Medidas que mantenham a capacidade de funcionamento do nosso sistema económico, a sua competitividade e que não estrangule as pequenas e médias empresas

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que são, ainda, o motor do desenvolvimento e da manutenção do emprego que os privados proporcionam em Portugal. Parece-me, e só para dar dois exemplos, que a sugestão de diminuir, em um quarto de ponto percentual, a Taxa Social Única a ser paga pelas empresas, poderia ser uma justa medida de entre as várias apresentadas pelo PSD nos encontros havidos esta semana com o Governo. Tal como seria a suspensão, e posterior reavaliação, das chamadas parcerias Público-Privadas, um dos maiores sorvedouros dos dinheiros públicos no País, nos últimos anos.

Mas não. As discussões bloquearam e todos se preparam para o debate orçamental na Assembleia da República, no próximo dia 3 de Novembro. Espera-se, agora, que a já tradicional Noite das Bruxas, o famoso Halloween importado dos Estados Unidos e já celebrado em Portugal, faça descer sobre este País umas bruxas que, no Parlamento, possam oferecer aos deputados da Nação umas poções mágicas e algumas mezinhas enfeitiçadas, que sejam capazes de convencer, quem tem que decidir, o que fazer com os nossos dinheiros - sim, porque eles são de todos nós - no ano que se aproxima e nos vindouros.

Outubro 30, 2010

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MILHÕES PARA UNS, “TOSTÕES” PARA OS OUTROS…

Leio esta semana que quatro dos bancos mais representativos do sector em Portugal obtiveram lucros, entre Julho e Setembro, de 4,1 milhões de euros por dia! Se multiplicarmos por 92 dias chegamos à conclusão que estes (que também representam pessoas, pessoas que investem as suas poupanças no sistema bancário) lucraram, nesses três meses, 377,2 milhões de euros. O curioso - ou dramático - é que tudo isto se passa em plena crise económica, com a maior parte dos portugueses a terem que apertar violentamente o cinto…preparando-se para, a partir de Fevereiro olharem para os seus recibos de vencimento (aqueles que não estão no desemprego - diga-se que exponencial) e ficarem com os “cabelos em pé” com tantos cortes. Esses que desde o próximo Janeiro, sentirão claramente um aumento generalizado do custo de vida. Mais vale prevenir do que “estourar” e os que tiverem a sorte de ainda receberem o subsídio de Natal…guardem-no porque vai fazer falta para aguentar este “embate” de início de ano.

Serve isto para dizer que talvez com um pouco de sensibilidade e estratégia política se conseguisse envolver de forma significativa a Banca privada no que é um desígnio nacional: a recuperação económica do País. Poderão os nossos economistas dizer que o sistema bancário terá de ser forte e de ser ele a dar uma imagem internacional de segurança ao País. Mas quando se sabe que temos um Estado com uma dívida internacional pesada, que não se sabe quando virá a ser paga, esperava-se logicamente que se esgotassem todos os recursos existentes no País. Não é o que acontece. Curvamo-nos ante a ganância

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que impele aos lucros imediatos enquanto se deixa a classe média, cada vez mais empobrecida e sem possibilidade de gerir a sua vida e pagar as suas contas mensais. Não tenho, assim, medo desse crescente

“crédito mal parado” que assusta o sistema bancário em face dos lucros que este vem obtendo em contínuo.

Agora que a aplicação dos dinheiros públicos bem como as previsões de receitas de 2011 estão aprovados, este “mau orçamento”, assim o definem TODOS parece, segundo os analistas, não ser credível. Isto é, não vai permitir ao Estado cumprir com os objectivos do défice, prevendo-se já a aplicação de um PEC 4 no início de Abril/Maio do próximo ano...Ainda anteontem a dívida pública aumentou novamente dado o Estado ter pago os juros da dívida a que estava obrigado, aumentando novamente a nossa dependência do exterior.

Apesar disso, o PSD conseguiu , quanto a mim, e numa lógica de defesa do chamado “Estado Social”, proporcionar alguma razoabilidade às contas do próximo ano, que por si só serão péssimas para a maioria dos Portugueses e para nossa economia. No entanto, este nunca deixará de ser um Orçamento da equipa de Sócrates, mas será de louvar a atitude, eu diria sábia, do maior partido da Oposição que soube manter as suas responsabilidades de Estado e, ao mesmo tempo, marcar de forma muito firme a sua posição sobre a governação socialista, dando mostras de estar preparado para assumir um novo rumo do País… mal possa! Isto a propósito do “dito por não dito” na questão do TGV que pode custar ao Governo uma moção de censura na Assembleia da República logo após as Presidenciais. Ficou já o

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aviso, bem antes das possíveis tréguas de Natal e da campanha para as presidenciais em que Cavaco Silva parece, segundo as sondagens, não ter adversário que lhe faça frente. Algo lógico quando os portugueses sabem que ele fez um mandato seguro e que, nas alturas certas, chamou a atenção (não pode fazer mais pelas suas competências constitucionais) do Mundo político português para as dificuldades que se avizinhavam para Portugal.

O ónus está do lado do PS e do Governo. Têm de assumir este orçamento mas numa perspectiva social. O primeiro tiro já deveria ter sido dado aos submarinos… não o foi. O segundo? Esse foi mesmo nos pés… com o TGV. Não é um bom prenúncio e, uma crise política neste momento, não é seguramente algo que o País necessite.

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SÓ PODEM ESTAR A GOZAR CONNOSCO…

Só podem estar a gozar comigo. A gozar com as pessoas das regiões mais desfavorecidas (onde desponta o Norte) e com os Portugueses em geral. Ainda o orçamento para 2011 não foi aprovado e já o Governo

“ameaça” com o dar prioridade à construção do TGV? Ao troço Poceirão-Caia? Nesta altura? É certo que a verba que a Europa prometeu ao projecto (fala-se em mil milhões de euros) não pode ser desviada para qualquer outra obra ou necessidade. Mas eu pergunto: quantos milhões, por outro lado, teremos que pagar para que todo o projecto TGV em Portugal (não esquecer que Vigo-Porto-Lisboa é troço constante da proposta portuguesa aprovada nas instâncias europeias) funcione de facto? Qual é a rentabilidade para o País do TGV? Onde estão esses estudos para que possamos acreditar que esta é uma necessidade premente para Portugal em vez da construção de escolas ou hospitais?

E pergunto: o TGV é mesmo necessário? Agora? Sobretudo esse troço? Claro que não. Aliás, a ser necessário é-o precisamente no troço atirado para as calendas: Vigo-Porto-Lisboa. Tanto mais que a ligação Madrid- Lisboa cria dois problemas aos Portugueses: promove mais as idas a Madrid que as vindas a Lisboa e obriga à construção da terceira ponte sobre o Tejo. Que é como quem diz, esta última comprova a necessidade de ter uma enorme obra pública em Lisboa que possa resolver a prazo alguns milhares de empregos, desde o do simples trolha ao multi-competente engenheiro, sobretudo agora que o desem-prego começa a assombrar a capital. Em resumo, estas iniciativas não

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são vitais para a economia portuguesa. Pelo contrário, gastar-se-á muito mais, haverá ainda mais endividamento, os portugueses terão um PEC 4, mas o que me quer parecer é que a ideia será a de passar as contas - essas malfadadas contas - ao Governo seguinte.

Ora se o TGV é evitável, já dispensável é a confusão e o ruído provo-cado pelas vozes do Governo que soam cada vez mais dissonantes. Ele é o Ministro das Finanças a dizer uma coisa ao Financial Times e, a esclarecer com outra, sobre o que disse e não disse ao poderoso periódico inglês. É também o Ministro dos Negócios Estrangeiros a sugerir vários tipos de “acasalamento” entre o PS e o PSD para uma governação de união nacional enquanto outras vozes (quer do Governo quer do partido que o apoia) consideram tal ideia uma autêntica traição a José Sócrates… E, já agora, li algures que Luís Amado poderia vir a ser solução interna do PS, para substituir o Primeiro-Ministro no seu cargo…nem digo nada…nem eu nem o Presidente da República que considera “que se fala de mais em Portugal”…

E enquanto o Governo e os seus apoiantes (?) demonstram o nervo-sismo e a inquietude nacional, não haverá também mercados que resistam. Aliás, a imagem que passa é a de um desgoverno governa-mental, descrença nas suas próprias contas e um certo devaneio contabilístico que deixa no ar as suspeitas de que, afinal, o que se está a fazer não é nenhum controlo de contas públicas nem de contenção nos gastos… é pedir “tirem-nos daqui”(!!!) e depressa.

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Já andava preocupado, agora ainda mais porque esta outra crise, a política, ainda vai no adro. Quanto a nós Portugueses já nos sentimos indignados, e ainda vamos ficar pior quando por estes dias começarmos a olhar para os talões de supermercado, facturas e extractos bancários com os olhos de quem está a ser espoliado da razão de tanto esforço e labuta diários para pagar TGV´s e pontes sobre o Tejo dos nossos bolsos. Escandaloso é o termo que se pode utilizar. Uma afronta grave a todos os portugueses.

Novembro 5, 2010

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PRIMAVERA, ANDORINHAS…E FMI…

Fazem-se apostas sobre a vinda, ou não, do Fundo Monetário Internacional (FMI) para gerir as nossas contas públicas. Sucedem-se os sinais dessa eventualidade, quase certeza. Entretanto, a somar ao desespero que vai no Governo (e nos bolsos dos portugueses) pelo contínuo aumento da dívida e das despesas públicas, as palavras recentes da Primeira-Ministra alemã tiveram um tremendo eco negativo para diversos países, e lógicamente para Portugal, nos mercados financeiros isto não esquecendo que temos ainda de

“aguentar” com os “palpites” dessas perigosas agências de “rating” norte-americanas que continuam a fazer o seu papel de “marketing” puro e duro, no sentido de tentarem ao máximo equiparar o dólar com a moeda europeia.

Voltando à Srª Merkl, claro que eu preferia que tivesse dito que, agora com a Irlanda sob o controlo do FMI, a Península Ibérica já não estaria a condicionar o seu desenvolvimento ao pagamento das contas e dos empréstimos nacionais aos mercados estrangeiros, nomeada-mente os que são dominados pela alta Finança germânica. Que é como quem diz: é fácil mandar “umas bocas” lá de cima. Cá por baixo bem berramos, mas ninguém nos quer ouvir.

Claro que assim, a já anunciada derrapagem na execução orçamental deste ano e a desconfiança internacional na capacidade do Governo de José Sócrates em implementar as medidas de austeridade previstas no Orçamento de 2011, são motivos mais do que suficientes para

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acreditarmos que a Primavera poderá trazer as andorinhas e… o FMI.Seguindo-se as Presidenciais no espectro da evolução política de Portugal (o Natal será fátua trégua, pois apresentará números baixos para a Economia), é natural que a reeleição de Cavaco Silva (parece-me óbvia, à distância) seja um factor de interesse e positivo para os ditos mercados. Os segundos mandatos presidenciais no nosso País são sempre vincados por uma maior intervenção política do Chefe de Estado. É admissível que, ou por desistência socialista ou por moção de censura no Parlamento, o Governo possa também cair. Mas a verdade é que, salvo alguma atitude relevante no plano das contas do Estado - falo de nova derrapagem que sobressalte os mercados internacionais - com ou sem FMI, o PSD dará margem de manobra governativa máxima a José Sócrates de forma a não ficar com

“a criança nos braços” e com o ónus de ser o culpado da crise política que entretanto se gerará.Mas a Europa, a mesma que nos deu dinheiro para “matar” sectores produtivos como a agricultura e as pescas, brada agora com a incapacidade produtiva e de criar riqueza dos Portugueses. É de facto fantástico. A pressão é mesmo muita sobre o nosso País e, na minha opinião, até poderá obrigar, mesmo a curto prazo e, por “imperativo Nacional”, à criação de uma temporária coligação governamental…parece futurologia a mais mas, o tempo o dirá…

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QUERER DAR, SEM NADA RECEBER… ASSIM É O POVO PORTUGUÊS

Notícias do início da semana estimavam que 100 mil portugueses poderão nem “cheirar” o subsídio de Natal. Ao mesmo tempo, mais algumas das grandes empresas nacionais anunciavam a distribuição antecipada de dividendos, escapando dessa forma ao “fisco” que se anuncia um pouquinho mais pesado para a grande Finança. E no mesmo dia ainda li em vários sítios que um grupo de milionários norte-americanos andava em campanha para... pagar mais impostos!!! (sim, leram bem).

Com estas três situações em mente, todas elas prestes a conviverem com a nossa realidade nos próximos dias (nenhuma servirá a outra), sou “assaltado” por uma cena que revela o quão irónica pode ser a vida e heróico pode ser cada um de nós. Estou precisamente a pensar no que retirar destes três casos para escrever esta crónica quando uma senhora, já com alguma idade e muita humildade no vestir, se acerca da saída do supermercado onde eu ia entrar. Nessa zona, alguns voluntários das campanhas estilo Banco Alimentar (devia ser mesmo essa, nem reparei devidamente) preparam-se para a deixar passar. A olho nu, não parecia haver condições daquela senhora “investir” nos outros. Pois bem, não foi assim. Parou, olhou, perguntou e... tirou do saco um pacote de arroz e entregou-o a um mocito. Não voltou atrás para comprar outro. Pelo reduzido número de compras que trazia não era mesmo uma pessoa abastada, bem pelo contrário. Tive, porém, a certeza que não seria bafejada com a distribuição de dividendos

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de qualquer sociedade anónima, pelos benefícios da maior taxação de riqueza nos Estados Unidos e que há muito não parecia ter direito a qualquer subsídio de Natal. Nada recebe…mas sabe dar.

Dirão os mais cépticos: já vi muita gente andrajosamente vestida para poupar dinheiro e amontoar riqueza... É mais ou menos o mesmo raciocínio que fazem aqueles que contabilizaram três milhões de grevistas que não paralisaram um país e o mesmo que aqueles que não conseguem ver no desalento generalizado, a forma mais digna de deixar o Poder. Este exemplo e, como muitos outros a imagem real dos portugueses. Não queremos berrar, não fazemos greves, mesmo quando todos as fazemos ao trabalhar…até porque temos de dar o exemplo a quem nos (des)governa e que deixou o País chegar a esta encruzilhada sem saída à vista. Mas há algo que ninguém pode contestar: nas horas difíceis há essa estranha solidariedade popular que só o enorme coração do Português consegue entender e gerir. Saber dar, sem nada receber é a resposta deste Povo a quem lidera este Portugal. Até quando?

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QUANDO O ESTADO TIRA A MANTA AO PARCEIRO

A manta é curta e, já se sabe, quando se puxa de um lado, destapa-se de outro. E, normalmente, puxar a manta em vez de juntar os corpos não é boa solução e demonstra inabilidade da parte de quem a segura. E é da falta de habilidade e de mais um enrodilhado problema que surgiu das necessidades de travar a despesa pública, nomeadamente nas parcerias com os privados, que por aqui vou “entrar”…

Por um lado, as pessoas - cada uma por si - estão a sentir, cada dia que passa, o encarecimento do seu quotidiano (o pão já subiu e a gasolina nem se fala - pois não se tem falado mesmo e, tem subido violentamente) ao passo que, no geral, objectivamente perderam uma fatia, que é sempre significativa, do seu salário. Por outro lado, alguns agentes colectivos - instituições e corporações instaladas - usam o seu capital de influência para tentar que os cortes não os atinjam (se calhar a solução é mesmo ir para os Açores!!!). De tal forma que alguns, até conseguem excepções parlamentares... isto a propósito de uma decisão do Governo em repor alguma “seriedade” nos contratos de associação escolar, que prevêem o investimento do Estado em escolas privadas quando não existem públicas no local onde as primeiras estão instaladas.

Sem discutir as vantagens ou desvantagens do ensino público e privado, o sistema estava instalado. Mal instalado? Alguns contratos não deviam ter sido assinados por não se cumprirem os requisitos institucionalizados? Bem, provavelmente sim. Mas, se é verdade que o Estado só devia “patrocinar” a educação de alunos no privado se não

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houvesse por perto algum estabelecimento da rede pública, também é verdade que a interpretação circunstancial, uma circunstância de anos, diga-se, levou a que muitos agentes educativos (e os seus investidores) privados se lançassem no aproveitamento das benesses que, apesar de bem definidas em letra de Lei, estavam muito mal implementadas. Tudo feito numa lógica de um certo “faça-se e depois vê-se”. Agora, claro, queixa-se o Estado que está a pagar o que não deve e queixam-se as instituições que investiram sem que ninguém na altura lhes dissesse, de forma peremptória e inequívoca, que não podiam usufruir do referido contrato de associação. E quem lhes devia ter dito era... o Estado, que é como quem diz, “alguém” do Ministério da Educação. Pelo contrário o Estado (ou alguém por ele) assinou e, em alguns casos, até sugeriu o reforço da rede escolar (onde já existia a pública) com estabelecimentos de ensino particular.

A moralidade, quando chega tarde, não serve a ninguém. Mais vale renegociar a coisa, porque tirar a manta desse lado também tapa muito pouco do outro...

Dezembro 12, 2010

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CULTURA = ZERO PONTO…QUALQUER COISA

Seja “zero ponto um” ou “zero ponto nove”, é sempre menos que “um” de qualquer coisa. Não chega a ser “um”, vive sob o estigma do zero à esquerda, mesmo mascarado pelo ponto. O mesmo ponto que mascara o investimento do Governo na Cultura. Até se pode dizer que não foi só este; até se pode argumentar que, apesar da crise, o algarismo à direita do “zero ponto” não baixou face ao ano anterior; até se pode justificar com a trágica ideia de que as artes não enchem a barriga do pobre. Esquecemo-nos é que enchem a alma de todos, a mesma que precisa de

“alimento” para que possamos imaginar como fazer um País melhor.

Claro que o dinheiro não estica. E a cultura do subsídio tem que ser muito bem estruturada para não ser confundida com as práticas da “mão estendida” que tão mau resultado deram nos últimos anos. É funda-mental reavaliar critérios e, sobretudo, intensificar os apoios dos privados - financeiros ou outros - às práticas culturais fora de Lisboa.

É que se há região que não precisa de subsídios para as Artes e Espectáculos é precisamente a da capital. Lisboa tem dois vectores essenciais à equação de sucesso de uma qualquer actividade cultural: enorme concentração de pessoas (público) e de órgãos de comunicação (promoção). Em Lisboa basta estar no cartaz e saber promover a tempo e horas, isto para além do tradicional e sumptuoso apoio da Câmara, e até do próprio Estado, que querem vender turisticamente a Capital tendo de lhe garantir “conteúdos”.

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A penúria acontece pelo resto do país. É assim em Braga que precisa de apoios, é Bragança, Guimarães (porque não… apesar de ser em 2012 Capital Europeia da Cultura…), Castelo Branco, Viseu, Beja, Covilhã, Santarém, claro, o Grande Porto…e não falo de dinheiro vivo. Falo de políticas sustentadas e viradas para as realidades sociais. Falo de estruturas, vantagens competitivas como benefícios fiscais a mecenas, patrocinadores e promotores. Falo de regulamentação do IVA para produtos e produções culturais. Falo de formatação cuidada do turismo patrimonial e até religioso (um parceiro que não se deve ignorar), sempre tão apagado naquela que é a nação com a identidade mais antiga da Europa. Falo do óbvio. Do saber que encontra sempre pela frente a ignorância, o facilitismo, um “deixa lá” que “esses” só querem dinheiro para “nada” continuarem a fazer…

Com a indústria tradicional condenada por estratégias “comuns”, sem pescas nem agricultura, pouco resta a um País que até deveria ser fácil de gerir. Ficámos com o Sol e com essa interminável capacidade de criar, de actuar, de fazer música, de pintar, de esculpir, de escrever... No fundo, tudo aquilo que são os traços de carácter e identidade de um povo.

No fundo, talvez não seja preciso mais dinheiro, talvez faltem apenas zeros à direita nos QI’s da inteligência de quem manda...

Dezembro 17, 2010

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QUERIDO PAI NATAL: DÁ-ME UM GOVERNO QUE SAIBA GOVERNAR…

Sinceramente não entendo. Andam a retirar-nos dinheiro dos venci-mentos, a aumentar os impostos directa e indirectamente, a aumentar o IVA, a cobrar portagens nas SCUT´s… mas o Governo por seu lado utiliza estas verbas para aumentar as suas despesas gerais! Aliás este Governo entrou, já há muito tempo, no jogo do “crédito mal parado”, tal como muitas famílias portuguesas, que foram “apanhadas” nesta

“embrulhada” previsível desde 2001 quando a crise atacou os mercados Mundiais.

Dizem-nos que iremos ultrapassar a “crise”, esquecendo-se de referir que vai ser à nossa custa. Sim, porque quem paga a crise somos nós. Quem paga o Estado somos nós todos! E, sentimo-nos roubados diariamente. Até, porque o Governo pode “gastar” o que lhe apetece mas, ao mesmo tempo está a limitar fortemente a nossa qualidade de vida. E, subserviente como é em relação à EU, aceita sem contestar (porque será?) as dúvidas que esta coloca à capacidade do Governo atingir as metas a que se propôs e, já se fala em novas medidas “contra” os cidadãos portugueses! Parece que somos todos umas “marionetas” que, ao contrário dos nossos parceiros europeus “comemos e calamos”. Eu, não me posso calar e aproveito este espaço para “gritar”, para “fazer greve”, para arremessar uns comentários “a quente” sobre esta situação ridícula e totalmente inaceitável em que o nosso Governo está a colocar este País aos olhos da Europa e do Mundo.

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E é por isso mesmo que este é um Natal estranho, feito sob as lâminas dos mercados financeiros, sob as revelações do Wikileaks e sob uma angustiante sensação de insegurança no futuro. Por muito que as conversas comecem com temas ligeiros, neste Natal vamos sempre acabar por falar da “crise” nos seus mais diversos aspectos, sociais e políticos.

Claro que acredito que a “mais bela das noites”, usando uma linguagem da magia cinematográfica ou de liturgias da época, tem esse condão muito especial de juntar as famílias, de as motivar para o Bem, para a entreajuda e para a solidariedade. Como se fosse uma pontuação com vigor exclamativo nos 365 dias escritos do ano.

É qualidade técnica, um rigor total, força no querer e firmeza nas decisões que o País precisa para sair do seu próprio marasmo. Mas é vital que esse querer e essa firmeza tenham em conta as pessoas, as suas ansiedades e as suas necessidades. Claro que ninguém pode viver acima das suas posses, mas às tantas é preciso criar condições para que as pessoas, que são capazes e competentes se bem dirigidas, melhorem a sua qualidade de vida em função do resultado do seu esforçado trabalho. E, nesse ciclo contínuo chamado Economia, ajudem - com o seu poder de compra - as restantes, preservando empregos, muni-ciando as universidades com jovens sãos e aguentando sustentadamente políticas sociais destinadas aos mais desfavorecidos, mas sempre com o objectivo de diminuir o número destes beneficiários e não cortando no seu apoio. A isto, muito linearmente, chama-se Governar.Vejo, por isso, com bons olhos a estratégia do PSD e de Pedro Passos

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Coelho nestes degraus de preparação para eventualmente vir a governar Portugal, em busca das melhores pessoas, das melhores competências, independentemente do seu posicionamento mais à esquerda ou à direita do espectro político. Estou convencido que a preferência pelas competências e o rigor do “casting” ajudarão a melhorar, num prazo razoável, a estrutura económico-social do País.

Dezembro 23, 2010

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HAJA MODERAÇÃO, RESPEITO POR QUEM TRABALHA…ATÉ, PORQUE SOMOS NOS QUE LHES PAGAMOS…

Entrei em 2011 a pensar que o Homem moderno, tal como é reconhe-cido por inúmeras teses e especialistas, foi o animal que, em perma-nente desafio face ao seu meio ambiente e à sua própria inteligência, demorou cerca de 200 mil anos a chegar ao seu actual estado. Que é como quem diz, os últimos dois mil anos - sobretudo para a História do Ocidente e da Europa - são uma parte muito pequena do esforço e da conquista Humana.

Diria que nos últimos 20 anos o Homem criou soluções, conceitos, fórmulas e tecnologias capazes de fazer das viagens à Lua uma brinca-deira de crianças. (Mesmo assim, os Chineses querem ir lá dar um pulito, só para provar que não é só pelo dinheiro que querem conquistar o Mundo...). É pena que em Portugal, depois de tanta esperança, de tanta evolução - somos até uma nação com gente ligada às mais novas tecnologias, às melhores empresas do sector, criadores de soluções de todo o tipo e para todas as necessidades, no Mundo... -, seja tão difícil resolver as “continhas” deste País.

Percebo a lógica de acabar com as pensões da Função Pública a quem se encontra a trabalhar e a auferir um salário, por consequência. Compreendo, porém, que não seja fácil gerir a perda desses direitos (porque o eram) adquiridos pelos agora afectados. Ou seja, é-me difícil compreender como pôde o Estado ter oferecido tantas benesses ao longo do tempo, como puderam os vários responsáveis ceder, dos bens

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públicos, garantias que qualquer criança que saiba somar dois mais dois saberia que mais tarde não haveria como as pagar!

Percebo também a lógica dos sindicatos em rumarem aos tribunais para se socorrerem da Justiça no sentido de evitar os cortes salariais na Função Pública. É lógico, mas, na actual conjuntura, fará já algum sentido? E não são os agentes da Justiça também pagos pelo erário público? Julgarão em causa própria? Na realidade, a primeira semana de 2011 parece-se muito com o ano passado, o ano que todos queremos esquecer. Pelas inconsequências de actos e de gestos governativos e das próprias oposições.

Há sempre coisas que fazem pouco sentido e que não me fazem sentir alguma esperança nos próximos tempos. Acredito que as palavras do Presidente da República no seu discurso de início de ano possam ajudar muita gente a meter a mão na consciência. Pela lógica, se for reeleito, exige-se a Cavaco Silva que seja um dos protagonistas da luta firme contra a pobreza e o desemprego e que denuncie, tal como nós todos devemos fazer, os exageros e gastos de que Estado e empresas públicas (e privadas) tal como o próprio sugeriu aos protagonistas da cena pública, governantes, partidos e cidadãos em geral.

Por favor, e a bem dos Portugueses, dava jeito que houvesse um pouco mais de entendimento, tolerância e inteligência. Que não se extre-massem as situações e as ideias de forma a não transformar o País num barril de pólvora idêntico aos que se vão vendo por esse Mundo fora. Ainda vamos a tempo desses entendimentos, creio eu. E um dos bons

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exemplos vem de Espanha que, apesar dos aumentos de bens e serviços neste início de ano, a “crise” é vivida de uma forma moderada, sem que os direitos adquiridos pelo cidadão comum não tivessem sido atingidos, sobretudo nos vencimentos, na saúde ou no ensino. Até porque o que se conquista a pulso (e muito vem do 25 de Abril de 74), não pode nunca ser retirado aos cidadãos, sobretudo devido aos erros de quem nos Governa. E foi tão triste o nosso Ministro das Finanças afirmar que os

“cortes são para sempre”. Que rica prenda de Natal.

Janeiro 6, 2011

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TENHAM MEDO! MUITO MEDO… QUE ESTE PAÍS VAI DE MAL A PIOR!

Da semana passada para esta, as notícias surgem em forma de calei-doscópio: desde o mundo cor-de-rosa manchado de vermelho-sangue ao multicolor estampado nos negócios do Estado Português: o vermelho-já-pálido da China e o azul-choque-de-crise da União Euro-peia por via do Banco Central Europeu. E houve também branco-nerazzurri (italiano para pretos e azuis) de José Mourinho e Jorge Mendes, dois portugueses - os melhores do Mundo - num outro mundo - o do futebol.Começo pelo treinador e pelo empresário de jogadores. O orgulho português não se deve ficar pelos momentos de glória. É preciso que todos encaremos o desporto - rei como uma indústria florescente (das poucas) em Portugal. Dá emprego a muitas dezenas de milhares de pessoas e ajuda, com as “exportações” de jogadores, à entrada de divisas estrangeiras. Os prémios de Mourinho e Mendes foram conquistados pelo trabalho diário de cada um, dos que os acompanham nesse mundo que, à medida de cada um (e ao emblema também), é muitas vezes criticado e olhado de soslaio por tantos que não encontraram no futebol a mesma paixão.Mas mais que o pontapé na bola, o que dava mesmo jeito era um pontapé na crise. É certo que a semana começou com alguns sinais positivos: o Banco Central Europeu lá deu uma ajudinha financeira e, 24 horas depois, o Governo consegue uns bons milhões no leilão da dívida pública, vendo baixar os juros da mesma nos mercados internacionais.

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O poderio financeiro da face capitalista (!!) chinesa veio mesmo em nosso socorro e agora parece que a dita ajuda externa poderá não ser necessária. O problema é que o assunto tem dias “sim” e dias “não”. Há que esperar, porém, novos capítulos, mesmo depois do presidente da Comissão Especial do Parlamento Europeu sobre a crise financeira, ter revelado que Portugal tem saída, mesmo conduzido pelos (pasme-se) Portugueses...O que não parece mesmo, umas vezes melhor, outras pior, é a vida de todos nós. Baixa de nível de qualidade de vida todos os dias e, além da nova recessão já anunciada pelo Banco de Portugal, há que contar com a desgraça de mais 50 mil compatriotas que, se calcula, perderão os seus empregos durante o presente ano, isto segundo a mesma instituição. E fica já aqui um aviso à navegação: não se esqueçam que a curto prazo já não vão receber… mas pagar o IRS em dívida de 2010 e, que no início de 2012 (e mesmo que não existam mais cortes nos vencimentos) teremos de voltar a pagar um IRS bem mais elevado do que estamos habituados, até porque quase nada se pode deduzir e os escalões foram alterados em alta. Se este “aviso” é para todos nós… coitadas das pequenas e médias empresas que, para além de terem de pagar mais impostos pelos seus trabalhadores vão ver o seu IRC subir por aí acima. Cuidado…muito cuidado…com o que nos espera…Estejam atentos. É mesmo para dizer…Tenham medo…muito medo…até parece que estamos a viver “dentro” de um filme de terror”, só que este… é REAL.

Janeiro 14, 2011

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HÁ UM LONGO, MUITO LONGO CAMINHO A PERCORRER...

Tal como no ano passado, infelizmente, o ano começa com uma tragédia humanitária. EM 2010 no Haiti; em 2011 no Brasil. As tragé-dias não são quantificáveis, muito menos comparáveis. Se houve milhares ou centenas, pouco interessa, que a dor de uma só pessoa, de uma só família é, só por si, algo que não é mensurável.

As cheias no Brasil revelam - infelicidades pessoais à parte - que esse país-irmão, tido como exemplo de milagre económico, tem ainda muito que percorrer e construir para que a grande massa dos seus cidadãos - e não apenas os das grandes cidades - vivam condignamente.

Mas as grandes tragédias têm a particularidade de nos fazer relativizar agruras diárias e perspectivas menos interessantes do futuro mais próximo. Claro que isso não resolve a crise da dívida pública portuguesa ou a ausência de ideias para a Democracia nacional, muito maltratadinha neste período eleitoral, o qual culminará no Domingo com a eleição do Chefe de Estado.

Desabafos à parte, parece-me que na próxima semana - já com a definição ao nível da Presidência ou dos blocos políticos para uma segunda volta, o que muito me surpreenderia - haverá condições para se começar a pensar mais seriamente naquilo que será Portugal durante os restantes 11 meses deste ano e anos futuros..

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Não comungo das teses de governações conjuntas ou soluções de unidade nacional. Mas há algumas matérias em que, mais do que nunca, os partidos com assento parlamentar deveriam assumir pactos sérios de regime: nomeadamente na Justiça e em matérias que dizem respeito aos reguladores sociais e económicos.

É que, por muito que se esteja mais à direita ou mais à esquerda, mais progressistas ou mais conservadores, se há défices que afectam os portugueses diariamente são as matérias relacionadas com a Justiça e aquilo que todos conhecem por inspecção ou avaliação dos negócios entregues a privados ou a parcerias público-privadas.

Os agentes reguladores e institutos de arbitragem institucionalizada têm que ter um papel mais determinante na resolução de problemas do cidadão comum. Num País que necessita urgentemente (e estará nesse caminho) de diminuir um pouco mais o peso do Estado na economia, o Estado tem que assumir cada vez mais esse papel de árbitro em defesa do consumidor e do cidadão contribuinte.

E sem nomear nenhum desses agentes, a verdade é que, ou por falta de informação dos cidadãos e empresas, ou por falta de margem de manobra dos próprios reguladores e fiscalizadores, não se pode dizer que a arbitragem do consumo e da economia em geral no nosso País seja um exemplo implantado. Há melhoras, é certo. Mas há ainda um caminho grande a percorrer.

Janeiro 21, 2011

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JÁ VIVEREMOS NUM REGIME COMUNALISTA?

Eu não sei se a troca directa de produtos, que na escola aprendemos ser a mais primitiva forma de negócio, é um retrocesso no desenvolvimento do nosso País. Mas, entre o lado curioso da coisa e o seu lado prático, a verdade é que há dias os Media noticiaram o exemplo de um restaurante que pagava com refeições a fornecedores.

Caricaturas à parte, às tantas foi a forma mais prática de salvar um negócio. E, por incrível que pareça, tem sido necessária muita ginástica mental e algumas soluções radicais para que as pequenas e médias empresas sobrevivam a esta enorme crise.

Quando se diz que falta dinheiro, poucos pensam imediatamente nas transacções comerciais. A verdade, é que as empresas que compram para produzir não pagam aos fornecedores porque estes, normalmente, também demoram a receber. E este ciclo vicioso não tem sido quebrado, pelo contrário, teima em perpetuar-se.

No meio de todo este furacão está o Estado. O Estado que até flexibilizou o seu sector empresarial para poder pagar mais rápido aos seus fornecedores, sem o crivo e a burocracia do tribunal de contas e outros agentes fiscalizadores do próprio Estado.

Ora, hoje em dia, o Estado é o principal devedor e, ao mesmo tempo, o pagador preferencial para os que têm tesouraria firme, pois cobram mais caro a um Estado que precisa de tempo para saldar as suas contas.

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E outro ciclo vicioso entra na de si viciada engrenagem.

Podemos associar ainda a isto o facto de o Estado ser esmagadoramente o maior empregador. E aqui não tem prazos alargados: tem que pagar todos os meses…

Sim, falta dinheiro. Falta muito dinheiro, fecham centenas de empresas por mês, há pessoas que já não têm dinheiro suficiente para as despesas familiares, há milhares a viver no limite da decência humana…

Sim, repito-me. As coisas não estão bem. É preciso atitude política mais séria. Porque são os políticos, uns melhor e outros pior, que fazem a gestão de tudo isso que falei. Somos nós - também sou político - que temos que agir em consciência, não gastar o que não podemos e fazer o melhor possível com o que sobra.

Tal como o dono do restaurante que troca refeições por fornecimentos necessários ao negócio, vamos ver se temos mais imaginação e seriedade na gestão do erário público. Chega de topos de gama para tudo e para todos. Chega, antes que passemos à fase de trocar peles por setas…

Janeiro 31, 2011

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ALERTA VERMELHO: TEMOS DE APOSTAR FORTE NO “SÁ CARNEIRO”...

Hoje o tema é turismo e transportes. Um em particular, o avião, e esse que agora é considerado um dos dez melhores aeroportos do Mundo e, o terceiro de média dimensão (creio eu). Muitas asneiras já se fizeram na gestão desta infra estrutura fundamental para todo o Norte e Centro de Portugal, bem como para a vizinha Galiza. Perdemos, devido a erros graves, o receber e trabalhar com algumas das mais fortes companhias de aviação do Mundo como a Air France, a British Airways, Sabena, Ibéria, Varig, isto só para falar em algumas. Não há praticamente voos directos do Porto para quase nenhuma parte da Europa e, muito menos, do Mundo, isto exceptuando as low-cost que por ali ainda “param”. O aeroporto “Francisco Sá Carneiro” poderá estar em vias de “fechar portas”, isto se lermos nas entrelinhas o que se tem escrito nos jornais em relação à criação (já a avançar) de um grande aeroporto internacional mesmo junto a Santiago de Compostela. Teremos de ser competitivos nos preços e serviços prestados às companhias que ainda trabalham no aeroporto nortenho, como a Lufthansa (a única das

“grandes” que ali se manteve a operar) ou, de outra forma, perdemos também o ainda pouco turismo que já temos. E, o mais natural, é a TAP entrar em falência!

Mas, algumas conquistas - que podemos ou não fulanizar ou atribuir colectivos mais ou menos autónomos - são-me especialmente saborosas. Como o exemplo do Aeroporto Sá Carneiro, que desde Setembro tem uma companhia low cost como principal operadora.

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A irlandesa Ryanair, cujos voos de custos aparentemente controlados a transformaram num vector fundamental em qualquer equação turística, atingiu no Aeroporto Sá Carneiro a cota de 36 por cento, ultrapassando a portuguesa TAP, apenas com 32.

Na realidade, com a administração da TAP a centralizar ainda mais as opções de escala na estrutura lisboeta (compreende-se, pois é preciso apresentar números que justifiquem um novo aeroporto numa qualquer margem do Tejo), o factor “alternativo” está a fazer da gare aérea nortenha um ponto de chegada (e de partida) para muitos milhares de turistas.Na minha opinião, já se perdeu algum tempo no que diz respeito à rentabilização de toda essa movimentação, que gera turismo, serviços e fomenta a economia regional. Já se perdeu tempo em criar projectos - âncora que puxem ainda mais estrangeiros para a nossa região, para as várias cidades que, desde a Galiza até ao Mondego poderão usufruir desta “invasão” tranquila.

Mas antes de colocar os turismos, as autarquias, os agentes particulares em jogo, este é o momento (e já o é há algum tempo) de se decidir o que fazer com a estrutura aeroportuária do Norte (dizer do Porto é redutor). Só uma administração empenhada e focada apenas nos objectivos do equipamento poderá ajudar a gerar os impactos necessários ao aproveitamento cabal das operadoras aéreas internacionais. Ou seja, concorrendo de igual para igual com a estrutura (esta ou a próxima) de Lisboa, pois sou dos que acredito que a concorrência (dentro das regras de sã convivência) ajuda ao desenvolvimento.

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Claro que há a possibilidade dessa gestão passar para um modelo de parceria público-privado, conforme sugere estudo recente da Univer-sidade do Porto, ideia que foi acolhida pelas forças vivas da região, mas ainda em fase (algo longa) de debate público.

De uma forma ou de outra, a verdade é que aquela infra-estrutura é relevante e extremamente estratégica para o desenvolvimento da região e, por consequência do País.

Sim, a fórmula de desenvolvimento de uma nação não centralista é essa. Ou devia ser.

Fevereiro 5, 2011

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ESTE NORTE CADA VEZ MAIS TRISTE...CADA VEZ MAIS POBRE...

O meu País tem destas coisas: nunca ninguém sabe lá muito bem se uma deliberação do Governo - seja ele qual for - é algo para ser cumprido ou não. São vários os exemplos, são vários os avanços e retrocessos (uns mais mediáticos que outros), mas a verdade é que passos à frente ao mesmo tempo que passos atrás, não levam a lado nenhum.

Vem isto a propósito de notícias desta semana sobra a histórica e muito portuguesa Linha do Tua. Todos sabemos que as ferrovias estão a passar por uma fase complicada, sem grandes planos estratégicos, embora tantas vezes equacionadas em planos de mobilidade ou até turísticos.

Na terça-feira passada, os autarcas de Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Murça, Vila Flor e Alijó estiveram na Assembleia da República, onde protestaram o abandono da histórica ligação ferroviária, intimamente ligada ao desenvolvimento daqueles municípios. Vieram de lá carregados de intenções, mas não as suficientes para que acreditem que a Linha do Tua sobreviva ao andar dos tempos.

Pragmáticos, pediram que se avance para um sistema de mobilidade intermodal e que se crie uma agência de desenvolvimento regional, que possa gerir os meios e recursos que se conquistem para substituir a perda da Linha do Tua.

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O avanço da barragem é inevitável, tal como o encerramento da ferrovia. Espero é que seja evitável mais uma concentração de poderes na capital caso se avance no sentido da proposta dos responsáveis políticos daqueles municípios. Não seria, infelizmente, caso raro...

Mas o maior problema será, uma vez mais, o tempo que se perde com decisões e indecisões a propósito dessas mesmas decisões. Parece brincadeira, mas não é. Os autarcas, uns dos PS e outros do PSD, lamentam o atraso na discussão do... encerramento! Isto contado nuns países que tenho visitado, ninguém acreditaria. É verdadeiramente surrealista!

E de atraso em atraso lá vamos nós. O tempo perdido, incomensurável, é uma das mais nefastas características da praxis à portuguesa. A gente até sabe fazer, só que demora. Demora mais do que a vontade das comunidades em mudar, em desenvolver, em ver feito tudo o que lhes é prometido.

E à Esquerda e à Direita, os deputados lá lhes foram dizendo que ainda não há notícias da adjudicação da barragem do Tua e outras desculpas que nem de placebo servem.

Viver no Norte não é fácil. Continua e continuará a ser uma das regiões mais pobres da Europa. Mas, olho para tudo isto com ingenuidade, até porque tento preservar por razões de ética e, até de saúde mental, a minha ilusão de que as coisas vão mudar. Acho que necessitamos de um “passe de magia” que nos possa permitir viver uns anitos mais

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felizes a curto prazo e já agora... que situações como as do comboio do Tua se resolvessem com lógica. Haja esperança em dias melhores, em governos não centralistas, no fundo num Portugal digno e que permita a todos nós ser um país do qual todos nos orgulhemos.

Fevereiro 11, 2011

CRÓNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA...

Nem o título é novo, nem sequer o jogo de palavras e ideias. Mas, na realidade, à data em que escrevo esta crónica, o governador do Banco de Portugal anunciou que o País “já está em recessão”. Já? Não estava antes, há dias, há semanas? Há meses?

Vamos por partes. Gabriel Garcia Marquez escreveu a “Crónica de uma morte anunciada” de modo a que a mesma morte, do mesmo personagem, fosse vivida pelo leitor pelos múltiplos ângulos das múltiplas personagens desse fabuloso livro (já agora, fica aqui a sugestão, para ler ou reler).

A parte que se segue é a parte do cidadão comum. O cidadão que perdeu poder de compra de há dois ou três anos a esta parte. É até uma parte muito parecida com o a do cidadão que perde o emprego ou que é obrigado a descontar impostos sobre recibos verdes travestidos de posto de trabalho. É a parte onde a recessão não precisa de ser anunciada formalmente: já a vivem. E vivem-na com a intensidade dos

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números em crescendo, bastando recordar dados desta semana relativos ao desemprego: recorde nacional e ultrapassada a fasquia dos 11 por cento.

Agora a parte do cidadão mais informado, mais vivido e com garantias salariais correspondentes a um elevado grau académico ou a de técnico superior do Estado. É também a parte do colaborador sénior de empresa privada ou pequeno/médio empresário que faz contas à vida todos os meses: também já não precisava de ser avisado da recessão. Essa já por aí andava, mas mais que pelo aviso, muitos já se tinham preparado, ora para a flexibilização das suas atribuições profissionais, ora para a adequação dos seus produtos e serviços ao mercado que já definhava. Uns aguentaram, outros não, mas já todos sabiam que a recessão andava aí.

Vamos agora à parte do cidadão político. Dos menos aos mais mediáticos, já todos o sabíamos. Apenas uns o escondiam para não definhar às custas das responsabilidades do próprio partido; outros davam-na maior do que o que era, retirando margem de manobra a medidas menos eleitoralistas. A diferença é que, normalmente, de um lado ou de outro, o cidadão político usa mais a recessão do que sofre com ela. A ver se o Mundo ainda aceita isso. No Egipto não aceitaram, nem na Tunísia...

Ainda falta a parte do cidadão investidor, a parte da Banca... Bem, a recessão é apenas algo de que se aproveitam para subir juros do dinheiro que emprestam. Aqui não há recessão, há lucros em contínuo... ou define-se o nível de recessão.

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E por fim há os puros. Ou os putos. Na realidade, é mais brinquedo menos brinquedo, acabam eles por pensar, e ajustam bonecos e bolas à realidade de um tempo que passa devagar no seu quotidiano, mas vertiginosamente depressa para o seu futuro. E, nesse caso, a tal de recessão, que é coisa que eles nem soletrar ainda sabem, vai penhorar-lhes o futuro, condicionar-lhes a educação, travar-lhes descobertas e suster o próprio avanço civilizacional.

A recessão já aí estava, mas foi agora anunciada! Pode ser que a realidade seja o tal “estalo” que todos - uns mais que outros - precisávamos para assumir as nossas responsabilidades enquanto cidadãos.

Fevereiro 17, 2011

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PARA QUÊ REGIONALIZAR O QUE JÁ ESTÁ “REGIONALIZADO”?

Ainda pensei que, por ser Inverno, tivesse sido assaltado por uma febre súbita. Mas voltei a ler a notícia e não: estava lá. Houve mesmo quem propusesse que a região-piloto (a eventual rampa do processo de Regio-nalização) fosse em Lisboa(!) e há um mês falou-se no Algarve… em tempos de Fantas, valerá a pena dizer que tais ideias são “fantásticas”!

Como é que se pode “gozar” com um tema tão sério e importante como este? Se fosse o Minho e Grande Porto, áreas que integram a região “mais pobre da Europa”, aí sim, notar-se-ia coragem e vontade dos nossos governantes de levar para a frente este, que para mim é um desígnio nacional mas… este Norte continua (e continuará infelizmente por alguns anos mais…) a ser qualquer “coisa” residual para este país minúsculo a que se chama “Lisboa”.

Ironia e sarcasmo de parte, esta introdução serve-me apenas para ponderar muito seriamente sobre a existência de uma corrente ideolo-gicamente bem preparada, que não consegue vislumbrar soluções políticas e orgânicas para o País que não aquelas que centralizam, como disse, todo o Poder na capital.

E pergunto-me se ainda vale a pena continuar a explicar, tal como se explica a uma criança de cinco anos, que o Centralismo coloca toda a máquina do Estado num único local, que o Poder faz convergir para

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esse local todos os centros de decisão, sejam eles públicos ou privados e que isso é desastroso para o País.

Basta ver que mais de metade dos fundos comunitários continuam a convergir para Lisboa e que o rendimento per capita de um cidadão da Grande Lisboa é, na maioria dos casos, quase mais um terço que no resto do País.

Três décadas depois de implantada a Democracia, custa-me que o velho jargão do antigo e caduco regime ainda esteja na ponta da língua dos que desabafam as agruras no Porto, Bragança, Castelo Branco, Beja ou Faro: Lisboa é cidade e o resto é a tal “paisagem”.

O problema é que ainda por cima é uma “paisagem” que definha conti-nuamente. Enquanto se perora sobre as virtualidade do TGV (tê-las-á, mas falta-nos dinheiro e estratégia séria para também ter palavra sobre o tema), fechou mais uma fundamental estrutura de saúde pública em zona deprimida: Celorico de Basto. O Serviço de Atendimento Perma-nente (SAP) agora encerrado não servia apenas aquele concelho, será importante referir.

Os critérios meramente economicistas de hoje (que poupam uns euritos para se enganar os critérios públicos das Finanças) vão ser caríssimos para a sociedade no futuro próximo. Na realidade, aqui pelo Norte e por outras regiões já o estamos a pagar...

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Não fazer a Regionalização é continuar a pôr mais de metade dos Portu-gueses a pagar as facturas dos restantes. É travar o desenvolvimento e acentuar assimetrias. Não regionalizar é continuar a permitir o enve-lhecimento das comunidades e a desertificação interior e até do Norte em geral.

Por isso, dizer que Portugal não pode gastar agora dinheiro a reciclar o regime é enganar as pessoas, é mentir aos cidadãos. O País - este regime - tem é de ser reciclado. A Democracia tem que melhorar as suas ferramentas ao nível da cidadania. E uma delas é, indubitavelmente, a Regionalização.

Fevereiro 24, 2011

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HAJA CORAGEM PARA TOMAR DECISÕES DIFÍCEIS

Convenhamos: a questão de fundo na (não) Regionalização é o desem-prego no sector público que a mesma provocaria na capital, afectando toda a área metropolitana de Lisboa. Haverá estudos que o confirmem, mas mesmo sem termos acesso aos mesmos, é fácil perceber que a deslocalização de competências tornaria excessivos milhares de postos de trabalho na administração central. Este é - em sentido figurativo - o tumor que a operação de regionalizar obrigaria a tratar com pinças muito delicadas.É verdade que nos últimos 20 anos (já o era antes, mas menos acentuado) milhares de quadros deixaram as suas cidades em busca das oportunidades que só Lisboa parecia garantir. Mas se a Regio-nalização avançasse era preciso deslocalizar quase outros tantos de Lisboa para os vários pontos do País onde o sector administrativo regional precisasse de vir a empregar gente com qualificações para exercer as tais competências. Os serviços adstritos a essas competên-cias passariam a estar sedeadas na região para onde foram transferidas.É certo que em Viana, Bragança, Braga, Évora, Porto, Faro... em todas as restantes regiões e pólos urbanos não falta quem o saiba fazer. Não é à toa que reclamam para si essa administração. Não só por razões logísticas e politicamente sérias (não faz sentido resolver questões locais da Beira Alta no Rossio), mas porque ainda há muita gente que fica nas suas terras também com o sentido de ajudar a evitar a desertifi.cação material e de ideias.Há cidades em Portugal que já têm a sua história, o seu passado de riqueza social em convívio directo com os fantasmas da pobreza

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e falência que vagueiam por casas, lojas e empresas em ruínas e sem gente a viver ou a trabalhar. Um círculo de decadência que aperta os corações citadinas, vindo das antigas cinturas rurais e industriais que circundavam Fafe, Trofa, Santo Tirso, Famalicão, Beja, Évora, Castelo Branco, Montalegre, Tavira, Portimão...Se os centros dessas cidades evoluíram no plano da construção (a urbanidade disfarça-se com prédios novos nos centros e no primeiro círculo em torno dos mesmos), já a sua riqueza vai-se perdendo com a ruína empresarial e produtiva dos círculos externos à urbe. Aqueles que desde a Revolução Industrial estavam para a organização territo-rial como os machos que levavam comida aos ninhos no mundo animal.Devagar (ou nem tanto), as cidades médias definham e mais tarde será impossível recuperar. Era crucial que se começasse a passar a mensagem de que os empregos de Lisboa terão que ser repartidos pelo resto do Portugal. Por todas as razões e mais uma: o resto de Portugal tem o direito à sua própria identidade regional sem que, até essa, seja definida e desenhada por três ou quatro gabinetes técnicos contratados por cinco ou seis direcções públicas em função da necessidade de cinco ou seis estudos e pareceres que permitam a seis ou sete ministros travar o direito de cada cidadão, na sua terra, gerir a matéria local (a local, friso) como ele e os seus conterrâneos bem entendem.É que em tanto gabinete, público e privado, sedeado em Lisboa gastam-se milhões a pensar uma rua que só custaria milhares se fosse pensada e construída por quem lá passa todos os dias.

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SANTO ENGENHEIRO SÓCRATES

É o que de facto me apetece dizer num dia como o de hoje, após ter dificilmente visto - quase de tortura se tratou - na passada quarta-feira, uma entrevista de hora e meia do Primeiro-Ministro de Portugal à SIC. Digo Portugal porque estranhamente o nosso PM mais me pareceu o representante de uma espécie de um novo FMI “disfarçado”, tantas e tantas vezes repetiu que “sem mais cortes na despesa, com a apresentação deste PEC 4 em Bruxelas, os mercados internacionais e a Europa, deixariam de olhar Portugal como um país responsável e capaz de ultrapassar a crise económica que vivemos”. Esta ideia foi repetida até à exaustão a uma jornalista que não o entrevistava mas que deixava o Engenheiro José Sócrates “assustar” continuamente os portugueses, utilizando as técnicas das Igrejas, tipo Reino de Deus, em que se repete até à exaustão um conceito até que ele se fixe completamente nas nossas mentes. O elemento “chantagem política” esteve também sempre presente: ou é assim, ou o País não tem qualquer futuro. Os culpados foram sempre os outros - uma oposição que não deixa o governo governar como quer e lhe apetece. O que ele está a fazer é sempre

“definitivo”, “fundamental”, “coerente”. Santo Sócrates, portanto.

Nada explicou em relação sobre o porquê destes novos cortes na “despesa”, excepto que eram fundamentais para a “convergência económica”(!). Nada foi dito aos portugueses sobre o resultado deste novo apertar de cinto. Isto é, qual a importância deste PEC 4 para a felicidade dos portugueses e que benefícios daí poderão advir para as suas sacrificadas vidas.

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É que os chamados “cortes na despesa”, segundo Sócrates, não são em algo que inclua a aquisição de viaturas de luxo, a redução de custos de economato, os jantares oficiais, as viagens, de…de…mas inclui, sim, por exemplo a comparticipação do Estado nos medicamentos. Esse corte na despesa “pouparia aos portugueses”- sim, a nós que somos o Estado, porque somos nós que pagamos a quem nos governa - 80 milhões de euros. 80 milhões que sairão, não das reais despesas do Estado mas dos bolsos dos cidadãos e, em particular, dos mais pobres que verão os seus medicamentos menos comparticipados por esse mesmo Estado. Os “cortes na despesa” são também para o PM, os cortes nas pensões. Nas pensões de quem trabalhou toda uma vida e que, ao longo de todos esses anos pagou ao Estado, juntamente com as empresas, cerca de 35% dos seus vencimentos. Cortes na despesa? Qual despesa?

E porque não deixar os portugueses que já estão com o cinto bem apertado e cortar, isso sim, nas obras públicas como o TGV ou o aeroporto de Lisboa ou a nova ponte sobre o Tejo? Para que é que num período de enorme contenção vamos “empenhar”, quase penhorar o povo português para realizar obras faraónicas e que, neste momento só podem interessar… nem sei a quem? O TGV?… Que arranjem, como devem, uns pequenos lanços da linha Norte-Sul e já teremos um comboio que fará em duas horas e pouco o trajecto Porto-Lisboa. Será preciso mais agora? Ou o que é importante é ir de TGV de Lisboa para Madrid em quatro horas, quando o avião é muito mais rápido - uma hora - e muito mais barato? Um aeroporto novo quando o de Lisboa já foi ampliado (podiam era acabar com as obras de vez- já lá vão cinco anos e ainda continuam lá os barracões, ou pré-fabricados como lhe

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queiram chamar, provocando uma péssima imagem do país que somos), sendo que é urgente dar vida nova ao Aeroporto Sá Carneiro, considerado o terceiro melhor da Europa, que trabalha a 30% das suas possibilidades, tendo perdido para Lisboa praticamente as grandes companhias de aviação - só lá ficou uma!

Isso, sim, seriam cortes na despesa e muito superiores aos conseguidos com qualquer PEC. Estamos comprometidos com tais obras com a Europa? E depois? Não é o Sr. Primeiro-Ministro que diz que o importante é o Pacto de Estabilidade e Crescimento e a redução do défice? Não se garantiria sem a realização destas obras um crescimento real da nossa economia? Não surgiriam novas empresas? Não se conseguiria diminuir o desemprego? É que dizer que estas obras dariam emprego a muitos portugueses, não é verdade. Veja-se o exemplo dos Estádios do Europeu e de outras Grande Obras Públicas em Portugal que, para se concretizarem, precisaram de “importar” milhares de trabalhadores do Leste Europeu e da África para serem feitos.

Não será este um país em ESTADO DE CHOQUE?

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PAÍS EM BRASA, ECONOMIA A ARDER

Portugal está em brasa e os juros da dívida soberana fazem arder as melhores expectativas de recuperação financeira. Há um buraco nas contas que se abre nas bordas, mas tem fundo, isso tem. Um fundo para onde vamos todos se não houver mudanças urgentes na gestão do País.Quem empresta dinheiro a Portugal desconfia cada vez mais da nossa capacidade de honrar os compromissos de pagamento desses mesmos empréstimos. Temos que provar que somos capazes de produzir riqueza e de pagar dívida para que esses receios façam baixar os juros que o País paga e os das contas de todos nós.Em resumo, o Governo já não tem crédito e quando assim é a credi-bilidade política e social não fica abalada: fica completamente estilhaçada!Sendo a recessão uma realidade que não é mais possível disfarçar, nem os números do desemprego, nem o encerramento de centenas de empresas por mês, urge uma alteração na situação política antes que o desgoverno seja irreversível. Precisamos de técnicos competentes a governar o País. De criatividade e acção, porque de política (e de políticos) já não se espera nada.É importante que o próximo Governo, a sair da escolha do Povo - e o cenário político poderá levar-nos a eleições mais cedo que o previsto - não caia nos mesmos erros estruturais deste. Mudem-se as menta-lidades, perca-se o “desejo” de “poder” e “mãos à obra”, uma obra gigantesca que, a ser bem explicada aos cidadãos poderá ter deles todo o apoio.Mais do que as políticas imediatas e necessárias, é vital que a estrutura administrativa de Portugal recupere não só a credibilidade como a funcionalidade e eficácia. Ora, nestes dois últimos casos, não é mais

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possível manter gabinetes políticos num esquema centralista a decidir sobre infra-estruturas a 200, 300 ou 400 quilómetros do Terreiro do Paço. São ineficazes, caros e desbaratam recursos financeiros pela distância e obrigatoriedade de intermediação.Apenas com um processo célere de Regionalização se revitalizará a economia com sustentabilidade e velocidade. O fortalecimento das cidades pelo País fora, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior, revitalizará as contas do Estado, promoverá a economia, fomentará o investimento e criação de empresas, beneficiará o número de empregos e, defini-tivamente, fará de Portugal uma nação capaz de sobreviver aos tempos difíceis. O País não pode continuar parado. E é assim que ele está. A todos os níveis. Aposte-se no Turismo, a indústria com rendimentos imediatos e que já salvou outras economias do Mundo inteiro. Aposte-se na tecnologia, na inovação… nos jovens.Uma última palavra para o Japão. Não é possível viver, hoje em dia, sem olharmos o que se passa fora de portas. A tragédia provocada pelo tsunami ainda está em curso, com repercussões ainda desconhecidas. Há cinco mil mortos, oito mil desaparecidos, localidades reduzidas a nada e o terror nuclear a ensombrar já a capital Tóquio. Um cenário assustador. E ainda outra para a Líbia, sobretudo para os libaneses. O Mundo está convosco. Estamos atentos e a nossa solidariedade está também convosco.

Março 25, 2011

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O FINANCIAL TIMES JÁ PROPÕE QUE PORTUGAL SEJA UMA PROVÍNCIA…DO BRASIL!

Os escândalos começam a vir a público. Na área dos privados, 822 mil euros saem esta semana dos cofres do BCP para António Vara, ex-vice presidente do banco, 600 mil dos quais referentes a um período em que este já não assumia as suas funções (porque indiciado no processo

“Face Oculta”). Será também interessante saber que, nessa mesma altura, o mesmo senhor estava envolvido em África com um consórcio brasileiro ligado à construção civil…. Entretanto nas empresas públicas os anunciados défices gigantes da REFER, da CP e de muitas outras empresas do Estado, assumidamente gerados pelas práticas políticas do PS e cujos vencimentos principescos pagos aos seus gestores ao longo de anos e anos, a par de autênticas gestões danosas, vão levar a pré-falências para meados do corrente ano, caso o Estado não volte a intervir!

É esta a imagem do país. A imagem que se dá deste Portugal “à beira de um ataque de nervos” a toda uma Europa que nos olha de soslaio e, que seguramente vê “micro” situações como estas servirem (natu-ralmente) para nos descredibilizar ainda mais aos seus olhos e aos do Mundo.

Também nos “passos perdidos” da União Europeia, a nossa imagem “anda de rastos”. Apesar do que nos é dito, junto do BCE e parti-cularmente nos conselhos e comissões das Finanças e da Economia da UE, a situação de Portugal não é de todo considerada fácil. Estranho é

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que os nossos deputados europeus sabem disso, os quadros superiores da União também…mas a comunicação social, sobretudo a portuguesa, que logicamente tem de ter conhecimento do que ali se passa, nada pode dizer sobre esta pouco credível “imagem” de Portugal. Tal seria desastroso para a UE se a real situação de Portugal fosse tornada pública, poderia vir a causar um autêntico efeito dominó, com efeitos desastrosos para a Europa…a começar já pela nossa vizinha Espanha. Mesmo assim jornais, como o prestigiado Financial Times, “diverte” os seus leitores com sugestões de soluções para Portugal sair da crise. Este admite que Portugal passe a ser “uma província do Brasil”, assegurando que Portugal só teria vantagens nisso. E continua

“A União Europeia considera Portugal problemático: sem governo, com alta resistência à austeridade e fraca performance económica crónica (o PIB estagnou totalmente na última década)”. As negociações “são duras”, refere o artigo. E continua “aqui está uma ideia inovadora para lidar com a situação: a anexação pelo Brasil”, prosseguindo, elencando as virtudes deste novo Brasil: “um país onde se fala português e onde o PIB tem crescido, em média, 4% ao ano na última década. Portugal seria uma grande província, mas longe de ser dominante: com 5% da população e 10% do PIB”, acrescenta. “Para a casa portuguesa”, seria bem melhor do que se manter ligado à velha e cansada União Europeia”, conclui o jornal.

Entretanto, por cá inicia-se uma autêntica, e já pré-anunciada, guerra fratricida entre os partidos que passa por chantagens, insultos e muitos comentários a despropósito numa altura de crise económica como a que vivemos: “Deitaram o Governo abaixo e não são alter-nativa a nada”,

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dizem uns. “Não temos medo de José Sócrates” respondem outros. “O PSD criou esta crise política e não apresenta soluções alternativas ao nosso PEC 4” ou “PSD transforma-nos na anedota da Europa”, diz o PS ou “Sócrates sempre foi visto como um capacho para a Europa” responde o PSD. Mas Portugal continua a chamar a atenção de jornais internacionais de referência. O britânico “Times” espera “mais dois meses de campanha eleitoral num ambiente de ameaça de recessão, com elevado desemprego” e manifesta preo-cupação em relação “à aplicação de novas medidas de austeridade”. E, em Espanha, o “El Pais” já abre o jogo referindo que Portugal será o único responsável pela crise avassaladora que o país vai sofrer nos próximos tempos. Resumindo… venham as eleições depressa, apli-quem-se as medidas que tiverem de ser aplicadas e, pelo menos, dê-se uma imagem da coragem de um povo que até agora deu tudo e que espera pelo menos, de quem nos governa, que dignifique o nome de PORTUGAL.

Março 31, 2011

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PORTUGAL SERVE DE PEÃO NA GUERRA DÓLAR VS EURO

Ainda na semana passada me referia ao efeito dominó que a UE previa após serem divulgados os números reais da dívida portuguesa. Parte deles vieram a público e já… Zapatero anuncia que não se vai recandi-datar às eleições legislativas de 2012… Entretanto a reunião do Banco Central Europeu sobre as taxas de juro e as estimativas do PIB na Zona Euro, relativo ao 4.º trimestre de 2010, esteve esta semana no centro das atenções dos analistas financeiros, agências de rating e logicamente investidores, sobretudo europeus e norte-americanos. Ontem o BCE divulgou as taxas de juro na Zona Euro, de forma a travar o aumento das pressões inflacionistas. Foi uma acção positiva tendo em conta os forcings constantes da economia norte-americana sobre a europeia, que se vai aproveitando da complicada situação económica de países como a Grécia, Irlanda ou Portugal, “exemplos” negativos para aquilo que os norte-americanos já apelidam de uma ”economia europeia antiquada e sem perspectivas de futuro”, no fundo uma “estratégia de marketing” para influenciar os mercados internacionais de forma a favorecer um dólar que continua em queda e que não faz “arrancar” a economia dos EUA.

Mas se as notícias para a economia europeia não são assim tão más como se apregoa nos media, começam agora a tornar-se mais claros os números desastrosos da nossa dívida pública. Na prática correspondem, em todos os parâmetros, a 50 % dos reais(!). Temos um défice superior a três por cento desde 2003 e com a revisão realizada na passada semana pelo INE aos défices desde 2007, arriscamo-nos a ficar nove anos com

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valores acima dos permitidos por Bruxelas. Com as revisões agora feitas, a última vez que Portugal conseguiu terminar o ano com um défice orçamental abaixo da meta estabelecida no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), foi em 2002, quando este se ficou nos 2,94 %. A década de défices abaixo dos 3 por cento poderá ou não terminar se, em 2012, o Governo saído das eleições de 5 de Junho seguir à risca o que se comprometeu com os seus parceiros europeus, algo que está no segredo dos Deuses! Note-se que em 2010, o valor do défice foi na realidade de 8,6 por cento. Dada a situação de rotura financeira total do País, na passada sexta-feira o IGCP realizou um leilão extraordinário da dívida portuguesa de médio prazo no valor de 1500 milhões de euros. Esta colocação extraordinária de dívida no mercado foi conseguida e serve para o Estado conseguir pagar as despesas com a dívida pública que terá este mês, no qual terá, não só, de pagar 754 milhões de euros em juros, mas também cerca de 4,25 mil milhões de euros decorrentes da amortização de uma linha de obrigações do Tesouro que vence a 11 de Abril! É tempo de ir “tapando buracos” e para ouvir atentamente o que foi dito por um porta-voz do FMI que Portugal, mesmo cumprindo todas as regras impostas pelo fundo, nem nos próximos dez anos terá uma economia saudável. Será mesmo assim? Como é possível termos chegado a este ponto? Quem é que assume esta irresponsa-bilidade? Quem é que nos tem desgovernado durante os últimos 10/11 anos… numa altura em que a actual crise financeira Mundial se começou a sentir e ainda havia tempo de desenvolver políticas de contenção? A resposta… sabemo-la todos.

Abril 12, 2011

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QUEREMOS SABER O QUE SE PASSA COM ESTE PAÍS

Não quero meter o “bedelho em seara alheia” mas, sinceramente não sei o que se passa neste momento com as estruturas de comunicação e de marketing político. Estas foram seguramente criadas ou contra-tadas pelos principais partidos políticos para esta a campanha eleitoral que, aliás, já vai em velocidade de cruzeiro. Os partidos dependem delas como de “pão para a boca” dado que se trata de uma área funda-mental, particularmente na política.

Mesmo que não tenha sido possível contratar os ”tradicionais” técnicos estrangeiros para o efeito devido a restrições financeiras temos em Portugal, e mesmo dentro dos partidos, gente com grande capacidade nesta área. No fundo o que têm de fazer é o estudo aprofundado das formas de comunicar de forma a fazer passar uma (a) mensagem.

Não sou nenhum especialista nesta vertente mas há coisas básicas que não se podem fazer e que prejudicam violentamente essa comunicação.

A mais importante é que é preciso ter sempre em conta a antecipação da notícia, daquilo que pretendemos transmitir.

Fica sempre a “ganhar” quem for o primeiro a “lançar a farpa”. A resposta, por muito pomposa que possa ser, já não tem o mesmo impacto na comunicação social. Passa muitas vezes desapercebida e não chega aos destinatários, neste caso, a população em geral.

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Tem de ser a falar por “slogans” e frases curtas para as televisões. Quem ouve, só fixa “chavões”. Memorizam-se muito mais facilmente do que os discursos, por mais pedagógicos que eles possam ser. O sistema “cassete”, como utiliza e muito bem, o PCP, é cada vez mais útil e já está a ser copiado por outros partidos. O conceito a transmitir tem de ser curto, incisivo, fácil de captar…e, tanto se repete que, mesmo que seja uma inverdade (uma mentira pura e simples…), quem a diz insistentemente, chega ao ponto de até se acreditar nela.

Não vou aqui falar sobre a comunicação, partido a partido, mas é óbvio que, se uns fizeram “o trabalho de casa”, outros ainda estão muito atrasados como se tem visto sobretudo nos debates televisivos. Clara é a lógica comunicacional de José Sócrates…leva “estocadas de morte” de Paulo Portas ou de Francisco Louçã e sai do estúdio dizendo à Comunicação “ganhei claramente o debate”. Independentemente do que se tenha passado durante aqueles 40 minutos antes o que os Media vão dizer é que “Sócrates diz que ganhou o debate” e o seu oponente, perplexo, por muito que possa tentar esgrimir argumentos já não vê a sua mensagem “passar”.

Culpa da Comunicação Social? Sim. Mas o que também é importante e é fundamental é conhecer o meio e os timings para “comunicar”.Comunicar em política é também falar a uma só voz. A voz do líder tem de ser reproduzida até à exaustão sem que areia alguma se interponha na mensagem a transmitir. Mas nem todos fazem isso e falham, também aí, na mensagem a transmitir.O contacto directo.

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O trabalho porta a porta, de feira em feira, continua a ser fundamental. É o contacto directo. É a forma de os políticos se darem a conhecer

“ao vivo” - a sua imagem televisiva não é seguramente igual da do “frente a frente”. Inaugurações ou eventos de cariz mais elitista ou dirigidos a militantes, não têm efeito algum em termos políticos numa campanha porque, quem lá está, já sabe em quem vai votar. Pode aproveitar-se é os segundos que as TV´s às vezes proporcionam antes ou depois dessas acções para com frases curtas, com os tais “chavões” dizer “mais do mesmo”. Tal é importante porque, já lá diz o ditado popular, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

As acções de rua, muitas vezes apelidadas de “arruadas”, só conseguem efeito se bem preparadas e têm de ser anunciadas não só junto da Comunicação Social mas sobretudo junto da população. De um Povo que está cada vez mais afastado dos políticos e que os “mede” a todos pela mesma “bitola”. Sabendo-se da nossa tendência e quase desígnio de aceitar facilmente o “quanto mais me bates, mais gosto de ti”(!) quando há políticos que são ou se consideram “diferentes,” estes têm de fazer sentir essa diferença no contacto directo com os eleitores particularmente junto dos mais “indecisos”. E onde estão eles? Pela lógica nas classes mais atacadas no seu dia-a-dia pelas medidas várias dos diversos PEC´s.

As classes media alta e alta já sabem em quem vão votar ou até, se vão votar em branco. Serão os outros, a maioria de nós, particularmente a classe média e aquela que perdeu capacidade para “aguentar” este novo dia-a-dia, aqueles para quem a atenção dos partidos tem de ser dirigida.

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Há outras coisas…haver muito cuidado a comentar as sondagens que por aí proliferam. “O resultado? Só no fim do jogo” já dizia um conhecido jogador de futebol.

A luta contra a abstenção e o voto em branco é igualmente fundamental porque influencia profundamente os resultados de umas eleições como estas que aí vêm. Sabe-se de antemão quais os partidos mais beneficiados com uma fraca votação dos portugueses no próximo dia 5 de Junho. Já há estudo sobre isso. São os do bloco central do espectro político português…mas também nunca se sabe o que os portugueses podem fazer num dia de sol…até poderão ir votar!

Resumindo, o que temos visto e ouvido nesta campanha eleitoral? Pouca informação objectiva, clara, transparente. Algo de fundamental quando sabemos, que não tivemos acesso a ela durante muitos anos em Portugal. Queremos saber qual é o verdadeiro Estado da Nação e se há de facto alguma “luz ao fundo do túnel”. Esta é a contrapartida que nos têm de dar para garantir o “esforço” que estão a pedir a todos nós e a nos OBRIGAREM a votar conscientemente em 5 de Junho.

Maio 13, 2011

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GLOBALIZAÇÃO:TAMBÉM UMA ARMA DE MARKETING

Inventou-se, não há muito tempo, um termo muito peculiar: “globalização”. Esta denominação emerge do aparecimento da internet e, traduz-se num Mundo em que a informação circula, facilitando o livre acesso ao conhecimento, à notícia, à imagem em tempo real. Depois veio à tona outro chavão: “economia global”. Estas terminologias vieram a transformar o Mundo tal como o conhecíamos e permitir aquilo a que se pode chamar uma autêntica “guerra” económica, emergente não de teorias políticas mas de conceitos de “marketing” bem sustentados e aparentemente credíveis. A liderança de todo este “jogo” parte dos Estados Unidos ou não fossem eles especialistas em desenvolver e aplicar as novas tecnologias ao serviço do que quer que seja.

Entretanto na Europa surge a velha CEE, actual União Europeia, um bloco aparentemente de parcerias a nível político que, ao criar a chamada

“moeda única”, o Euro, rapidamente se tornou num espaço económico para lutar contra as investidas contínuas de um dólar em queda, sobretudo por influência do crescimento das economias orientais, em particular a chinesa e japonesa. Estas economias começaram a ameaçar os Estados Unidos, ou melhor muitas das suas grandes empresas, ao adquirir fortes participações no capital das mesmas, fazendo tremer a sua balança comercial e a sua moeda. Pouco tempo depois na América Latina surge timidamente o Mercosul uma versão da CEE, mas já virado exclusivamente para a defesa das frágeis economias dos países que o constitiuiram. Foi um projecto falhado até

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porque não conseguiram implementar políticas económicas comuns, mas a ideia era a mesma da criação da CEE: defenderem-se do ataque norte-americano, emergente de políticas dominadas por Wall Street, com a conivência do Governo norte-americano e, o apoio das chamadas

“agências de rating”. Estas, aproveitando um certo descontrolo e sobre-tudo as assimetrias económicas dos países europeus e da América Latina

“atacavam”, com estratégias bem definidas através de “classificações” por elas próprias criadas, as várias economias mundiais. Muito ajudadas pelos Media norte-americanos que divulgavam amplamente esses

“estudos” das agências de “rating”, levavam a que essa informação, aparentemente séria, fosse difundida pelo Mundo através da Internet sendo rapidamente aproveitada por todos os meios de comunicação.

Sedentos de conteúdos os Media iam publicando de uma forma alarmista toda essa informação como se de total “verdade” se tratasse. Autêntico ”marketing económico” obrigava assim os países “mais fracos” a ver limitada a sua acção e influência política e económica. Poder-se-á dizer que estas agências já existem há muito tempo e que a sua influência a nível Mundial já existia. É um facto. Mas com a tal “globalização”, a penetração destes conteúdos, sobretudo através da Web, levou a que a sua influência passasse a ser muito ampla até porque os seus “estudos” já não eram só do conhecimento dos Governos e de alguns economistas, como também do comum dos cidadãos que facilmente acedia a essa

“informação”.

Assim se vem fazendo a “guerrilha económica”. Assim os norte-ameri-canos tentam “atacar” as moedas Mundiais mais fortes. Assim se criam

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crises como a que vivemos pelo descontrolo dos Governos mais frágeis na gestão dos seus países. Assim também se tornam claras as fragilidades económicas de cada país. Assim também “descobrimos” a realidade do nosso Portugal…

Maio 22, 2011

O QUE É NACIONAL É BOM!

Quando entro num supermercado ou, numa qualquer outra grande área comercial, deparo-me com a existência de muitos produtos importados de todos os cantos do Mundo. Não são muitos, os de origem portuguesa, os que por ali se podem encontrar . Poder-se-á dizer, e como razão… vivemos numa economia global. Quem vende procura o mais barato e coloca os produtos à disposição de forma a cativar, através do preço, os compradores. Quem sai beneficiado é o consumidor final, mas...

Vivemos momentos difíceis e com tendência para piorar. Já há alguns anos que as cadeias de supermercados criaram os seus “produtos brancos”. São cada vez mais. Pelo que consta quem os produz são empresas portuguesas de qualidade que assim garantem, para além da venda destes, a colocação nas grandes superfícies dos seus produtos de marca em condições mais favoráveis. Garantem também a manut-enção dos postos de trabalho, rentabilizando o potencial de produção que possuem. Mas se tal acontece com as grandes empresas capazes

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de fazerem estes negócios, as mais pequenas são autenticamente destruídas mandando os seus trabalhadores para o desemprego. Estranho Mundo este em que vivemos! No entanto há ainda quem lute para combater estes hábitos que os portugueses foram adquirindo da ida às grandes superfícies.

Ao falar das cadeias de supermercados em Portugal tenho consciência que estas são os autênticos “papões” da pequena mercearia, do pequeno comércio que pouco se readaptou aos tempos que correm. Mas há ainda quem sobreviva. São normalmente estruturas familiares e, desde que consigam pagar a renda das lojas são, também eles, consumidores finais. Vão às grandes superfícies e compram os produtos que mais vendem. Mesmo assim têm um problema grave, não podem adquirir os tais produtos brancos dada a exclusividade da sua venda nos supermercados. Assim, muitos vão a Espanha e “entram” no mercado paralelo adquirindo produtos a preços mais baixos para poder fazer

“concorrência” e garantir a manutenção dos seus clientes. Outras pequenas lojas de serviços de primeira necessidade especializaram-se. São pomares e vendem o que produzem, são frutarias e fazem o mesmo. Estas até conseguem mesmo ter sucesso. Muitas vezes são produtos biológicos e atraem naturalmente mais os consumidores. Não são muitas mas, outras pequenas lojas de serviços, trazem de vários pontos do país produtos de qualidade. Não serão lojas gourmet mas, muitas vezes, conseguem garantir clientes fiéis que vão comprar os seus queijos, enchidos ou salgados, estes últimos feitos por particulares, e que conseguem vender por preços competitivos. Ainda com engenho pequenas lojas situadas em grande áreas habitacionais montaram

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serviços de venda de refeições para “fora”. Nos tempos que correm e, não exagerando nos preços, são também pequenas “empresas” que conseguem rentabilizar a sua actividade e até, criar alguns postos de trabalho. É uma autêntica luta diária pela sobrevivência, uma espécie de “David contra Golias” que estes pequenos comércios têm de fazer às grandes superfícies. Claro que para isso é necessário trabalhar muitas horas por dia e, mesmo assim, a vida não é nada fácil para eles. Mas honra lhes seja feita…produzissem assim todos os portugueses, vendêssemos mais produtos nacionais, gastasse menos o Governo e Portugal, sim Portugal, poderia mesmo “sair” desta crise num muito mais curto espaço de tempo do que se prevê.

Junho 4, 2011

“ESTÁ NA HORA DE MUDAR” NÃO PODE SER SÓ UM SLOGAN

Afinal quem tem mesmo razão é sempre o povo. Sabe premiar e sabe castigar. Não são precisas manifestações de rua, ocupação de praças ou outras formas de luta quando, através do voto, se torna clara a forma de pensar da população portuguesa. Eu sei que a abstenção foi elevada e que tal representa descontentamento, mas não creio que desinteresse. Quem votasse normalmente PS e não quisesse dar ao PSD ou a um outro qualquer partido uma oportunidade para gerir o País, segura-mente que ou faria como cerca de 250 mil portugueses, votava “em branco” ou nem sequer punha os pés numa qualquer secção de voto.

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Eu sei que vivemos o tempo da “geração à rasca”. Eu até diria da “população à rasca”. Eu sei que o desemprego aumenta assusta-doramente, que a classe “média” está a desaparecer e a ter dificuldades para manter as suas despesas do quotidiano, que a situação das famílias, particularmente nos próximos tempos, ainda vai piorar. Eu sei que vamos ser julgados e controlados regularmente pelos nossos credores em função de novas lógicas (esperemos) de governação que teremos. Eu sei que PSD, PS e CDS assinaram um “contrato” com a Europa e o FMI que tem de ser cumprido rigorosamente. Eu sei que a respon-sabilidade está agora nas mãos dos nossos governantes para reduzir a dívida de um Estado em vias de “bancarrota”. Mas acredito. Acredito que a classe política que vai tomar as rédeas do poder e, a que fica agora na oposição, tem consciência disso e que não pode, nem quer, destruir o País. Não irá querer manter as assimetrias cada vez mais evidentes no território nacional. Que vai lutar para garantir que haja mais equilíbrio nas contas públicas. Que, tal como os cidadãos, também o Estado vai ter de “apertar o cinto”. Eu sei que esse apertar de cinto pode fazer crescer a economia se, também os bancos, forem obrigados a garantir às pequenas e médias empresas capacidade financeira para criar emprego, para garantir um gradual maior equilíbrio entre os que ainda podem pagar a crise e aqueles que caminham para a pobreza. Eu sei que os portugueses quiseram dar uma oportunidade ao PSD. Que quiseram ter um jovem que arregaça as mangas para “gerir” este País. Um jovem que tem de constituir um governo capaz. Politicamente e tecnicamente. Um Governo que garanta aos portugueses uma “transparência” na sua governação capaz de nos permitir perceber que irá haver luz ao fundo do túnel. Que vale a penar esforçarmo-nos por produzir mais.

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De exportar mais. De voltarmos a ter vontade. Vontade de, em conjunto, reconstruirmos este Portugal. A primeira coisa a fazer será o tentar renegociar do empréstimo da EU/FMI de forma a que as medidas a tomar nos próximos tempos não sejam tão duras, como é previsível pelo acordo actual. Acredito que se vai olhar para a globalidade do País e não só para Lisboa garantindo que este possa ser de novo repovoado. Que terá de ser aproveitada a nossa fantástica forma de saber receber quem nos visita e o lindíssimo país que temos para criar um plano turístico à sua medida, que terá de ser acompanhado por um crescente aumento de programas de impacto nas áreas do lazer e cultura capazes de atrair ainda mais turismo. Claro que há a agricultura e as pescas para serem revitalizadas. Que o ensino é fundamental para as gerações futuras não cometerem os erros do passado. Que a saúde seja tratada como se de um bem de primeira necessidade se tratasse ou que a justiça seja célere e eficaz. Até porque é “justo” que este povo que sempre deu o melhor de si possa voltar a ter o seu Portugal.

Junho 4, 2011

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NÃO SE ESQUEÇAM…CULTURA E TURISMO REPRESENTAM 15% do PIB

Apostar no crescimento do Lazer de forma a poder garantir o cres-cimento das empresas através da interligação entre a Cultura e o Turismo é um dos principais desígnios deste País.

A Espanha, em menos de 15 anos, decidiu apostar na ligação da Cultura com o Turismo criando uma Indústria que é agora a segunda mais importante desse país, algo que aliás já acontece na maioria dos países europeus e norte-americanos. Promove os eventos, as cidades, no fundo os destinos turísticos em que vale a pena apostar. Numa interligação dinâmica entre o Ministério da Cultura e o da Economia pôs de pé uma forte indústria do lazer sendo actualmente um dos destinos turísticos mais importantes da Europa. Fez assim crescer o comércio, diminuir o desemprego e garantiu dinheiro a circular.

Depois de ler e reler os programas dos partidos políticos para as últimas legislativas estas valências quase não são referidas. Pena é que em Portugal se continue a pensar na cultura como “gastar” e não como

“investir” sendo-lhe atribuídos orçamentos de 0,000000 qq coisa. No entanto é estranho ver o Estado apoiar uma qualquer empresa estrangeira para produzir componentes automóvel. A razão dada é sempre a mesma: é mais importante apoiar uma indústria tradicional do que promover a imagem de um Portugal culto e turístico que faça crescer rapidamente a sua área de serviços e logicamente o emprego.

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Mas, o que tem de se dizer claramente é que a Cultura é uma Indústria e, muito importante para o país. Gera 0,7 % do Produto Interno Bruto Nacional, um valor superior às muito subsidiadas indústrias, como a dos têxteis ou a já referida automóvel. E o Turismo gerou em 2010, 14,4% do PIB. Juntos são mais de 15%!

Este não prestar de atenção à Cultura e ao Turismo até faz jus à lógica centralista deste minúsculo país chamado Lisboa (quando é que as assimetrias acabam de vez?) e que vive à custa daquilo a que denomina de “paisagem”. Aí Lisboa tem razão. Temos paisagem, património, temos boa gastronomia, bons vinhos, sabemos receber, criando uma excelente imagem a quem nos visita. Tudo isto é objectivo, está testado e provado.

A culpa de toda esta situação em que vivemos é também de todos nós, sobretudo daqueles que vivem na “paisagem”. Quando vemos que perdemos de facto todo o poder político (não temos qualquer voz a nível nacional), que deixamos quase de poder concretizar projectos culturais autónomos (exportamos os criadores normalmente para o estrangeiro) que perdemos por completo o poder económico (as sedes das grandes empresas que estavam sediadas a Norte saíram para o tal micro país), é natural que eventos de grande dimensão, sejam marginalizados quer pelo Estado, quer pelas agências de publicidade e pelos seus cada vez mais jovens, pouco informados e facilmente manipulados marketeers que controlam as contas de publicidade das grande empresas capazes de patrocinar, tal como acontece “lá fora”, a Cultura. Mas esta “paisagem” que é também o país do desemprego,

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o país dito subsídio dependente é afinal o país quem subsidia largamente a macro centralista Lisboa.

Insistir em fazer cultura no Norte, uma das regiões mais pobres da Europa da UE, é uma questão de princípio. É uma questão cultural, de formação... de educação. É o anti-oportunismo político partidário. É ser independente. É também, num país como este, ser quase masoquista - mas é uma forma de independência total dos lobbys dominantes e de liberdade de expressão. Curioso é também que, quem se mantém nesta “paisagem” e que tem algum poder utilize sempre a chamada “crise” para justificar tudo, particularmente a sua não intervenção na cultura. Aí o totalmente disperso e inconsequente poder político existente a Norte também copia o Governo nos seus orçamentos para a Cultura…recados à parte, só no resta dizer: pensem, discutam, arranjem soluções. Todos nós já damos o que temos e, quase o que não temos, para que este país se mantenha à tona. Cumpram a vossa parte deste acordo que fizemos desde 1974, que é a democracia. Mas haja esperança. Com o apoio e iniciativa de alguns poucos com visão..até poderemos chegar longe, isto porque Portugal...será sempre o nosso País, de que muito nos orgulhamos.

Junho 16, 2011

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SAIR DA CRISE…SEM CONVULSÕES SOCIAIS

Com a nomeação dos Secretários de Estado, o Governo fica completo. Resta saber o que se vai fazer com os institutos, comissões, fundações, empresas públicas... Estão à vista fusões, a revisão do financiamento dos organismos do Estado, o fim dos recibos verdes, a continuação dos cortes (espero que não muitos!) à Função Pública. Fala-se muito das autarquias virem a ter de reduzir, no seu todo, cerca de 300 milhões de Euros. Fala-se de privatizações…muitas. Concordo plenamente com Luís Filipe Menezes que na RTPn sugeriu esta semana haver priva-tizações parciais no sentido de se poder tirar mais rentabilização dessas alienações. Enfim, parece não haver alternativas a estas e a muitas outras medidas violentas que vão atacar a classe média e, espero, também as classes mais abastadas. O acordo com a Troika a tal obriga. Espero que haja um maior (um total) controlo dos impostos a pagar quer pelas empresas, quer pelos trabalhadores que a título individual conseguem muitas vezes fugir às suas obrigações fiscais. Espero um travão nas obras públicas, sobretudo nas megalómanas. Espero que, de uma vez por todas, os portugueses percebam que estamos no limite da bancarrota e que repensem as suas vidas. Espero que se possa reduzir o crédito mal parado e permitir à banca “abrir os cordões à bolsa”, garantindo a quem quer pôr a economia a funcionar em pleno e criar emprego, as condições para o fazer. Espero que todos nós (e particular-mente os representantes dos trabalhadores) compreendamos a situação em que o país se encontra e que não entremos em convulsões sociais, obrigando-nos depois a pagar as quebras de produtividade a que essa situação leva… a Grécia não é exemplo para ninguém… Mas espero

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sobretudo, que, e em contrapartida, o Governo dê o exemplo. Espero que este aposte em áreas que têm tido uma continuidade de investimento em Portugal, como é o caso do Turismo e do Lazer, chamando assim mais visitantes a Portugal, permitindo um crescimento dos serviços e a circulação do dinheiro que o País precisa para fazer crescer a sua economia. Que aposte nas tecnologias, não deixando fugir para o estrangeiro aqueles que mais valor têm. Que aposte nas indústrias que têm sido o suporte da nossa débil economia com as suas exportações. Que não haja facilitismo nos despedimentos colectivos, como parece estar a acontecer nos estaleiros de Viana, e que garanta junto dos nossos parceiros europeus que empresas como esta possam voltar a ter o impacto na nossa economia que sempre tiveram. Que aproveite o estranho repto que a UE lhe fez de olhar de novo para o mar e incentivar as pescas e de olhar para o interior garantindo uma agricultura renovada - isto apesar dessa mesma EU ter sido a respon-sável pelo seu quase desaparecimento. Que repovoe o país aproveitando todo o seu potencial. Que dê apoio às pequenas e médias empresas de forma a que estas não fiquem estranguladas e o desemprego não aumente ainda mais. Que dê o exemplo a todos nós, de forma a que todos nós sintamos que estamos a trabalhar para um desígnio nacional - sair da crise em que nos encontramos.

Junho 12, 2011

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QUEREMOS ACREDITAR MAS PRECISAMOS DE VER “A LUZ AO FUNDO DO TÚNEL”

Nos últimos tempos tenho abordado alguns temas que julgo importantes neste “Grande Porto”. Não me esqueci da minha luta pela regionalização nem dos contributos que muitos deram e têm dado para esta importantíssima decisão que os portugueses deveriam fazer através de um novo referendo. Não me esqueci dos mercados paralelos que emergem desde há meses em Portugal, nem sequer da necessidade de consumirmos cada vez mais, ou até sempre, produtos nacionais. Não me tenho esquecido das pescas e da agricultura, algo de fundamental para a produtividade deste país que viu, com a sua entrada na então CEE, limitações de todo o tipo que fizeram desmembrar a já de si débil situação em que estas áreas estavam. Não me esqueci de referir a necessidade de uma reestruturação urgente da estrutura político-administrativa portuguesa, algo que agora num período de tempo demasiadamente curto terá de ser feita (até Junho de 2012), sendo algo que terá de ser feito com extremos cuidados sobretudo pela autêntica guerra civil que pode surgir devido à redução das freguesias e das cidades muitas delas dominadas por um clientela política que mais não quer do que manter o seu “poder” local. Não me esqueci da necessidade do repovoamento deste país e das vantagens que teríamos em pensar que, se apostarmos na fronteira com a Espanha, é meio caminho andado para o aumento de produtividade do país. Não me esqueci do fecho das pequenas e médias empresas e logicamente do desemprego que tal origina, sobretudo devido ao facto da banca ter praticamente deixado de lhes garantir empréstimos,

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por pequenos que fossem. Não me esqueci de defender um serviço nacional saúde compatível com as possibilidades financeiras de cada português. Do ensino público. Do apoio social aos mais desprotegidos e aos mais idosos. Não me esqueci dos jovens, sobretudo dos que terminaram os seus cursos superiores, que não têm portas abertas ao mercado de emprego, sendo muitas vezes obrigados a emigrar. Não me esqueci da habitação e das limitações que, novamente a banca, tem criado à aquisição de casa nova, especialmente pelos mais jovens. Não me esqueci dos funcionários públicos que têm vindo a ver nos seus recibos de vencimento os “cortes” que têm tido nos seus salários, não sendo estes responsáveis pela má gestão do país nos últimos anos. Não me esqueci de abordar a força da web no “passar” da mensagem e da importância que esta tem na chamada Globalização. Não me esqueci da Cultura e que sem ela continuaremos a viver na ignorância, não veremos o nosso Património recuperado, que esta representa 0,7 do PIB nacional e que juntamente com o Turismo chega aos 15% desse PIB sendo claramente uma das maiores Indústrias portuguesas. Não me esqueci de lembrar aos responsáveis por este país que, ou actuamos rapidamente nesta área ou perdemos a hipótese de competir a nível europeu com os outros países, especialmente com a Espanha que continua a criar condições para a sedimentação daquela que já é a segunda Indústria do País entrelaçando Cultura e Turismo o que faz crescer exponencialmente o sector dos serviços e permite a criação de milhares de postos de trabalho. Não esqueci de abordar muitas vezes o tema do Turismo não de uma forma teórica mas pragmática, mostrando pela evidência que é nessa área que são feitos os poucos investimentos que os privados têm realizado em Portugal. Não me

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esqueci de referir que o crédito mal parado nos bancos tem a única solução de se reverem os escalões do IRS, até porque quem pediu empréstimos se teria possibilidade nessa altura de os pagar, tal não acontece agora. Não me esqueci de referir que o subsídio de desemprego é muito baixo. Não me esqueci de referir que Portugal mais parece um país do Terceiro Mundo em que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres…são realmente cada vez mais pobres e começam a absorver a chamada classe média portuguesa. Não me esqueci de referir que Portugal, que este novo Governo terá mesmo de renegociar a dívida, em particular os elevadíssimos juros que vamos ter de pagar por este último empréstimo da ECOFIN. Não me esqueci de dizer que ainda nos sentimos portugueses e temos orgulho nisso mas que a classe política tem de ser a primeira a dar o exemplo e gerir o País de uma forma transparente para que possamos ver uma luz ao fundo do túnel. Não me esqueci…por favor lembrem-se disto (apesar dos PEC´s), não podemos continuar a perder continuamente o poder de compra. Isso acontece na Grécia e o dinheiro não circula e… quando tal acontece a economia pára e sendo assim entramos na bancarrota de vez…Desejo o melhor a este novo Governo mas não se esqueçam que Portugal é um diamante em bruto e que tem de ser lapidado rapidamente para que a nossa produtividade possa aumentar e, em conjunto com um Governo credível, colocar Portugal no patamar em que estava para que possa merecer a confiança dos mercados e a nossa economia possa realmente crescer.

Junho 24, 2011

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EPÍLOGOMARÇO 2012...NUM PAÍS CHAMADO ECOFIN!

Temos dentro de dois meses a possibilidade rara de governar um país chamado Portugal. É uma oportunidade única para fazermos o nosso futuro. É a democracia a funcionar em pleno. Saibamos escolher...

Um inquérito publicado a passada semana num site nacional de referência trazia a público números claros sobre a actual situação do país. 79% dos portugueses trabalham na função pública (na educação, medicina, advocacia, nas autarquias e no Governo), 6% nas áreas da banca e dos seguros (isto apesar das privatizações), 16% nos serviços (curiosamente ocupada basicamente por brasileiros, ucranianos e outros cidadãos que emigraram do Leste) e, pouco mais de 3% no chamado “mundo empresarial.

Do mesmo inquérito ressalta que os portugueses que mantêm os seus empregos têm uma média de idade de 57 anos, e que destes 72% são homens. Curioso é verificar que o desemprego chegou aos 32%, sendo que 21% são mulheres e 9%, jovens à procura de um primeiro emprego.

Com os cortes sucessivos nos vencimentos do funcionalismo público e nas pensões, (note-se que ainda há dois meses foi suspenso o subsídio de desemprego), a área de serviços é aquela em que existe algum equilíbrio. Todos têm de comer e os hiper e supermercados continuam a manter-se abertos três dias por semana, devido à permissividade das leis laborais em vigor e à impossibilidade de poderem importar do

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estrangeiro bens de consumo de primeira necessidade. A legislação introduzida pelo ECOFIN, e que obrigou muitos portugueses a aban-donar as grandes cidades no sentido de se dedicarem à produção agrícola e à criação de animais, passando a viver no interior, permitiu a criação de cooperativas que garantem o fornecimento aos hipers dos mais diversos bens de consumo. As privatizadas empresas de trans-portes, agora todas nas mãos de estrangeiros, conseguiram no passado mês ser lucrativas, pela primeira vez dado o afluxo generalizado de cidadãos que deixaram de poder utilizar os seus transportes privados devido aos elevadíssimos custos do diesel e da gasolina. Os cafés e restaurantes continuam a fechar portas e as marmitas com comida são um companheiro fiel de todos aqueles que vão para o trabalho. Duas TV´s e três rádios nacionais, bem como um semanário que persiste em manter-se à luz do dia e que é vendido pelos velhos ardinas, garantem o fruir da informação que nos chega de Bruxelas, aqui, repetida até à exaustão pelo actual governo. O aumento para 10 horas/dia do horário de trabalho está a ser bem recebido pelos trabalhadores, dado assim não terem sequer tempo livre para “pensar” em sair de casa. Os aumentos dos custos de electricidade e água não afectam assim grandemente os portugueses dado que estes praticamente vão a casa para comer e dormir. Entretanto a taxa de natalidade baixou quase para o nível “0” e a de emigração, maioritariamente jovem, aumentou para os 23%. Os Magalhães são já sete milhões e quinhentos mil e servem já de moeda de pagamento do crédito de habitação para muitos portugueses.

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As notícias de Bruxelas via ECOFIN (União Europeia, FMI e Banco Central Europeu) não são brilhantes. Admite-se que o Fundo de Pensões seja de novo cortado em 7%, isto apesar da idade da reforma ter passado para os 75 anos. Consta que o Estado português dentro de três meses não tem capacidade para pagar as reformas em vigor dado que a taxa de mortalidade em Portugal diminuiu 12%. Dados curiosos numa altura que o Concurso Público para o TGV Lisboa-Madrid vai terminar e faltam dois meses para as empresas apresentarem propostas para o novo aeroporto de Alcochete.

Ecofin, 15 de Março de 2012...se continuássemos no mesmo caminho...

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ÍNDICE

Introdução .........................................................................................................7TURISMO ........................................................................................................9Um Diamante em BrutoCULTURA ......................................................................................................13Lutar pela Cultura e um Desígnio NacionalREGIONALIZAÇÃO ...................................................................................15É Urgente a RegionalizaçãoRECUEMOS A OUTUBRO DE 2009 Um País de Turismo .....................................................................................20Um País Minúsculo Chamado…Lisboa ....................................................22Regiões ou Autarquias ..................................................................................25Nem o Óbvio Sabemos Copiar ................................................................... 28O Meu Aviãozinho... Foi-se? .......................................................................30Da Luz para a Escuridão ..............................................................................32Contas à Vida no País e…no PSD ..............................................................35Os Media e a Tentação do Poder ................................................................37Presidenciais, PSD e Madeira .....................................................................40Uma Tragédia em Lume Brando ................................................................42Já se Corta mais no Norte do que na Casaca ............................................45O País das Oportunidades Perdidas ...........................................................48Um outro Turismo que Portugal tem para Oferecer ............................ 50O Corredor do Poder e o “nosso” Euro .....................................................54Férias, Lazer e Cultura .................................................................................57Haverá Perda de Soberania com a Criação das Regiões Transfronteiriças ........................................................................................... 61

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Coincidências da Natureza ..........................................................................64Quero a Presidência da República sediada no Porto ..............................66Dias Difíceis, os que ai Vêm .........................................................................69O Futebol Começa a Esconder a Realidade do País ...............................72Regionalização, Partidos e Movimentos ...................................................74E Porque não um Grande Movimento Cívico? ...................................... 75Lá Vamos Cantando e Rindo ...................................................................... 80O Estado (deprimido) da Nação .................................................................79Uns Cintos Mais iguais que Outros ...........................................................80Urge um Pacto para a Justiça ......................................................................82Chumbada da Grossa! ...................................................................................83Fogo no Mato e Fumo nas Contas .............................................................85Indústrias da Cultura e do Lazer, Fala-se delas…mas não se Faz Nada… ....................................................86Mais Propostas e Menos Conversa, sff ....................................................88E assim vai este País à Beira Mar Plantado .............................................90No Fundo É Mesmo uma Questão de Cultura .......................................92Vamos Ter de Pagar…A Bem ou a Mal! ...................................................9619 Medidas para “Fechar” um País…E Depois? .....................................98Não há Órgãos Autárquicos a mais em Portugal? ..............................100Um País preso por um Fio… ....................................................................103Estará (Estava) o Orçamento Embruxado? ...........................................105Milhões para Uns, “tostões” para os Outros… .....................................107Só podem estar a Gozar Connosco… .....................................................110Primavera, Andorinhas…e FMI… .........................................................113Querer Dar, sem Nada Receber…Assim é o Povo Português ............115Quando o Estado tira a Manta ao Parceiro ............................................117

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Cultura=Zero Ponto…Qualquer Coisa ..................................................119Querido Pai Natal: Dá-me um Governo que saiba Governar ............121Haja Moderação, Respeito por quem Trabalha…Até, porque Somos nos que lhe Pagamos ...............................................124Tenham Medo! Muito Medo…Que este País vai de Mal a Pior ........127Há um Longo, Muito Longo Caminho a Percorrer… .........................129Já Viveremos num Regime Comunalista ................................................131Alerta Vermelho: Temos de Apostar Forte no “Sá Carneiro”… .......133Este Norte cada Vez mais Triste…cada vez mais Pobre ....................136Crónica de uma Morte anunciada ............................................................138Para que Regionalizar o que já esta “Regionalizado”? .........................141Haja Coragem para Tomar Decisões Difíceis .......................................144Santo Engenheiro Sócrates .......................................................................146País em Brasa, Economia a Arder ............................................................148O Financial Times já propõe que Portugal seja uma Província…do Brasil! .................................................................151Portugal serve de Peão na Guerra Dólar vs Euro ................................154Queremos saber o que se Passa com este País ......................................156Globalização - Também uma Arma de Marketing ..............................160O que é Nacional é Bom! ...........................................................................162

“Está na Hora de Mudar” Não pode ser Só um Slogan ........................164Não se Esqueçam..Cultura e Turismo representam 15% do PIB .....167Sair da Crise…sem Convulsões Sociais ..................................................170Queremos Acreditar mas Precisamos de ver “A Luz ao Fundo do Túnel” ....................................................................................172EPÍLOGO 175Março 2012…Num País Chamado ECOFIN!

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