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1 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro, fevereiro 2014

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Os efeitos da estiagem na produção aquícola dos reservatórios Por Jomar Carvalho [email protected]

 os últimos meses muitos adquiriram o inusitado hábito de acompanhar nos noticiários o nível

dos reservatórios brasileiros, uns preocupados com o racionamento de água e energia elétrica, outros com o próprio bolso, já que há indícios de que a conta de eletricidade subirá para cobrir os custos da geração das usinas térmicas. O noticiário meteorológico tem destacado as cheias históricas na Região Norte, espe-cialmente em Rondônia, e a severa estiagem em boa parte do resto do país, principalmente nas Regiões Nordeste e Sudeste. A má notícia vem do Inmet - Instituto Nacional de Meteorologia, e dá conta de que pouca ou nenhuma água cairá nas áreas onde se

Cadê a água que estava aqui?

localizam os reservatórios que hoje sofrem com a estia-gem, pelo menos até o início do período úmido da Região Sudeste, que começa na segunda quinzena de setembro.

Os piscicultores que utilizam esses reservatórios para a produção de pescado em tanques-rede têm pas-sado por momentos difíceis. Poucos estão conseguindo sair ilesos deste cenário, onde se misturam escassez de chuva, altas temperaturas, mortalidades súbitas e pouco ganho de peso, resultado da necessária redução do manejo alimentar em resposta às altas temperaturas. A contabilidade final tem fechado com prejuízos, queda na produção e na produtividade e descompasso do ciclo de povoamento e despesca.

Açude do Castanhão - Foto: Lívia Barreto

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Espécies marinhas na Galícia

Seca nos reservatórios

Volume útil (%)

Afluência m3/s

Defluência m/s

Déficit m3/s

Furnas 32,3 324 928 604

Nova Ponte 28,4 138 327 189

Três Marias 20,5 182 356 174

Furnas, Três Marias Nova Ponte

Em Minas Gerais a seca atingiu de forma contunden-te os principais reservatórios e mudou a rotina de muitos piscicultores que produzem nos tanques-rede instalados em Furnas, Três Marias e Nova Ponte, grandes geradores de energia elétrica. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação desses reservatórios é preocu-pante. Em 6/03/2014 o lago de Furnas estocava apenas 32,3% da sua capacidade hídrica, enquanto Nova Ponte, localizado na região do Triângulo Mineiro, estocava 28,4% e Três Marias, outro importante reservatório operado pela CEMIG no Rio São Francisco, acumulava só 20,5% da sua capacidade. A situação fica ainda mais preocupante se observarmos os enormes déficits hídricos de cada um desses reservatórios (Tabela).

Situação dos reservatórios de Furnas, Nova Ponte e Três Marias em 6 de março de 2014

Fonte: ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico

Segundo Alex Novaes, da Novaes e Martins Aquicul-tura, de Passos (MG), a queda dos níveis dos reservatórios já afeta produtores mineiros desde 2012. Em 2013 a situação se agravou sensivelmente a partir de julho, evoluindo até os níveis críticos atuais. Em muitos braços do reservatório de

Furnas a água desapareceu. Em determinados locais a água distanciou mais de 5 km das margens usuais e o mato já cresceu mais de 2m de altura. Em alguns municípios foram registradas temperaturas de até 32ºC, que fizeram com que muitos produtores abandonassem suas áreas, migrando para áreas mais seguras, até de outros municípios, com mais água e temperaturas mais amenas. Mortalidades súbitas e um desempenho zootécnico prejudicado pela alimentação reduzida, fazem parte desse cenário de pre-juízos, cuja extensão é ainda difícil de avaliar.

Área outrora alagada do reservatório de Furnas nos

municípios de Areado e Alterosa - Fotos: Alex Novaes

Tanques-rede no seco em razão da estiagem no reservatório de Furnas no município de São José da Barra-MG - Foto: Alex Novaes

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Ilha Solteira

A situação dos piscicultores do reservatório de Ilha Solteira é muito parecida com a dos produtores mineiros. Segundo Emerson Esteves, da Peixe Vivo Aquicultura, de Santa Fé do Sul (SP), alguns produtores já perderam bastante peixe por conta dos baixos teores de oxigênio. Mas todos estão perdendo em crescimento porque, com a água acima de 30o, chegando até 32º, os piscicultores estão reduzindo a taxa de arraçoamento em 40 a 50%, para evitar bacteriose e problemas com oxigênio. Como não conseguem alimentar o peixe do jeito que deveriam, os produtores estão tendo pre-juízos com a perda de peso. Segundo Emerson, que também é presidente da Câmara Setorial do Pescado do Estado de São Paulo, neste início de março o volume do reservatório deve estar pela metade do normal. O nível, que normalmente oscila de 1 a 1,3m, agora está 4 metros abaixo, trazendo, em alguns braços, problemas de acesso aos tanques.

Ainda sobre os efeitos da seca, Emerson falou de atraso de povoamento e da produção, que interfere dire-tamente no fluxo de caixa. “Esse último ano foi o pior pra gente, porque tivemos um inverno muito rigoroso que se estendeu até outubro, com água a 20-21º, seguido de um verão com pouca chuva e um sol muito intenso”, disse. Hoje são 35 produtores que juntos produzem anualmente 20 mil toneladas. Para essa safra, essa produção deve cair para 15 mil toneladas, uma queda de 25-30% da produção, porque muita gente não conseguiu povoar tudo por conta do inverno, e quem conseguiu povoar está nessa briga com o verão, conclui Emerson.

Sobre medidas para aliviar essa situação, disse que os piscicultores não receberam nenhum apoio por parte do governo. “Pelo contrário, o governo só está causando pro-blema com o licenciamento ambiental aqui no reservatório de Ilha Solteira. Há uma briga entre a Cetesb, que entende

tudo de uma forma, e o governo do Estado de São Paulo, que entende de outra forma, e não conseguem entrar em um acordo para termos um licenciamento ambiental mais simplificado e mais rápido. E, sem licença ambiental a gente não consegue pegar recurso nenhum no banco, não temos acesso ao Plano Safra e é tudo muito complicado. Assim, cada um tem que se safar por si só”, conclui abor-recido Emerson Esteves.

Espécies marinhas na Galícia

Seca nos reservatóriosCastanhão

Mais conhecido como Castanhão, o Açude Padre Cícero, inaugurado em 2003, não se destina a geração de energia elétrica. Suas águas servem para irrigação, abas-tecimento urbano, principalmente da região metropolitana de Fortaleza, piscicultura, além da regularização da vazão do Rio Jaguaribe. Atualmente o Castanhão sofre os efeitos de uma longa estiagem da maior seca dos últimos 50 anos, que reduziu dramaticamente o seu volume para 37% da

Açude do Castanhão - Foto: Lívia Barreto

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afetados, entre eles Sítios Novos, Pentecoste e General Sam-paio. Esta migração não recebeu apoio dos órgãos públicos, até porque muitos produtores ainda não possuem em seu nome as outorgas. Entretanto, a chegada desses produtores ao Castanhão, levou os governos Municipal, Estadual e Fe-deral, através de suas representações, a implementar ações para o bom desenvolvimento da atividade, principalmente no que diz respeito ao ordenamento do parque, que é atual-mente o maior entrave. A demanda para este ordenamento, ou seja, a organização na distribuição dos tanques nos res-pectivos espelhos, já foi repassada ao Ministério da Pesca e Aquicultura há mais de um ano, mais precisamente desde a criação da Secretaria de Aquicultura e Pesca do Município de Jaguaribara. Até agora, segundo a Secretária Executiva Lívia Barreto, não obtiveram retorno algum. Enquanto isso, as mudanças de espaço e organização dos tanques estão sendo realizadas por conta das associações, seguindo orientações de profissionais quase que de maneira voluntária.

Alta temperatura, mortalidade e alimentação redu-zida estão afetando bastante a produção no Castanhão. Segundo Lívia Barreto, medidas emergenciais estão sendo tomadas para dar mais segurança e evitar que ocorram novas mortalidades de peixes, entre elas a análise diária e o controle rígido dos parâmetros de qualidade da água, principalmente temperatura e oxigênio dissolvido, que oscilam bastante em determinadas áreas dos parques. O afastamento dos tanques-rede para áreas mais profundas foi uma ação também implementada. Ainda segundo Lívia Barreto, inúmeras reuniões foram realizadas com o Banco

Espécies marinhas na Galícia

Seca nos reservatórios

sua capacidade, segundo dados da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (COGERH). Para o DNOCS, que opera o açude, a gravidade está no fato de que se continuar sem chover, o Castanhão secará em dois anos.

Segundo Lívia Barreto, Secretária Executiva de Aqui-cultura e Pesca do Município de Jaguaribara, desde 2004, quando o açude alcançou a cota ideal, não havia acontecido problemas dessa natureza. Mas com a diminuição do nível do açude, surgiram os problemas com a piscicultura. No segundo semestre do ano passado morreram 100 toneladas de tilápia, já em decorrência das mudanças dos parâmetros da água.

Além disso, por conta da estiagem no Estado do Ceará, o Castanhão também recebeu piscicultores de outros açudes

Barragem do açude do Castanhão com desnível de 15m em março de 2014 - Foto: Lívia Barreto

A falta de ordenamento com a correta distribuição dos tanques-rede é entrave no açude do Castanhão. Providências já foram solicitadas ao MPA - Foto: Lívia Barreto

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De Jaguaribara para todo o Brasil O programa “Quinta da Tilápia” já é um sucesso nas ondas do rádio

O açude do Castanhão se tornou o maior polo produ-

tor de tilápia do Ceará, e conquistou um espaço de destaque entre os principais polos produtores deste peixe. Por tudo isso reúne nos munícipios do seu entorno um número sig-nificativo de produtores, técnicos e empresas fornecedoras de insumos, que juntos formam uma emergente e próspera indústria aquícola em torno da tilápia. Dentre os municí-pios envolvidos, Jaguaribara se destaca por concentrar as principais iniciativas voltadas para integrar todos os que fazem parte dessa cadeia produtiva, e o intuito é um só: profissionalizar cada vez mais todos os envolvidos.

A grande novidade foi a escolha do rádio como ferramenta de integração. Por sua enorme capilaridade este veículo se tornou muito eficiente para discutir o contexto da tilapicultura cearense, levando informações direciona-das para todo o público envolvido direta ou indiretamente com a atividade. Com esse espírito foi criado o programa “Quinta da Tilápia”, todo feito por produtores e técnicos que atuam no Castanhão, que vai ao ar todas as quintas--feiras, entre 12h e 13h, na Rádio Jaguaribara 104,9 FM. E o melhor de tudo é que todos os piscicultores do Brasil, até do mundo, que desejarem não apenas ouvir, mas também participar das entrevistas, basta apenas acessar, no dia e hora do programa o endereço www.jaguaribarafm.com.br. Quem quiser participar ao vivo com perguntas pode enviar pelo e-mail: [email protected], ou ligar para (88) 9922-7727 (Tim). A conversa é totalmente coloquial e o clima do programa acaba sendo o de um bom papo entre produtores, quando falam com gosto do que fazem.

Ronaldo Melo, da empresa Aquicultura CE, Bessa Jr. e Daniel Ricarte, piscicultores, estão à frente da iniciativa de levar as dicas e outras informações, com o intuito de ajudar no dia a dia do piscicultor, principalmente neste momento

delicado de estiagem. O formato do programa Quinta da Tilápia, conduzido por eles, contempla uma abertura onde são feitos comentários gerais sobre os últimos programas, agradecimentos e a divulgação de eventos relacionados com a atividade, princi-palmente os gastronômicos, que na região não são poucos. O pro-grama segue com entrevistas com convidados, que normalmente são autoridades locais, presidentes de associações, técnicos das empresas de insumos, entre outros. Outro momento importante é o da divulgação de dicas técnicas, feitas por um profissional que faz comentários sobre aspectos importantes como qualidade de água, manejos, etc. Os temas relacionados ao mercado também estão na pauta, principalmente o mercado dos locais onde se comercializa a tilápia no Ceará, Bahia, Piauí, entre outros.

Na avaliação de Ronaldo Melo, a repercussão dos programas tem sido muito positiva, sendo possível perce-ber claramente que os produtores estavam carentes deste tipo de informação, se mostrando receptivos e acolhedores com o que é divulgado através do programa, inclusive com participações ao vivo.

Seca

nos

res

erva

tóri

os do Brasil e o Banco do Nordeste, onde os piscicultores têm financiamento e necessitavam de renovação. O Banco do Nordeste atendeu prontamente as solicita-ções dos produtores e, além de disponibilizar novas linhas de crédito, prolongou os prazos de pagamento dos financiamentos já realizados, além de fornecer descontos bem consideráveis, de até 80%.

Lívia sustenta ainda que a Secretaria de Aqui-cultura e Pesca de Jaguaribara, está tentando promover a união entre empresários produtores e os produtores associativos, para que não haja grandes dificuldades e atritos nessa fase delicada que estão enfrentando. Os produtores particulares estão se integrando através de

eventos sociais e um programa semanal de rádio, onde levam profissionais para o repasse de informações técnicas, que têm dado ótimos resultados.

A análise da produção de 2013 já permite avaliar a influência dos novos produtores que migraram para o Cas-tanhão. Ainda que a produção tenha caído, a presença desses piscicultores já fez com que, apenas no segundo semestre de 2013, a produção total tenha sofrido um acréscimo superior a 30%. No ano que passou a produção do Castanhão ficou ao redor das 18 mil toneladas, enquanto a produção total do Estado do Ceará, afetado pela seca, caiu 17% em relação a 2012, ficando em 25 mil toneladas, segundo dados da Asso-ciação Cearense de Aquicultores (ACEAQ).

Primeira transmissão radiofônica do programa Quinta da Tilápia no estúdio da Jaguaribara FM entrevistando o Prefeito Francini. Em pé: Lívia Barreto - Secretária Executiva de Aquicultura e Pesca de Jaguaribara, Daniel Ricarte (Piscicultura Santa Tereza) e Ronaldo Melo (Tilápia CE). Sentados: Prefeito Francini ao microfone, Camilo Diógenes (produtor e presidente da Aceaq - Associação Cearense de Aquicultores) e Bessa Júnior (Santo Pedro Aquicultura)