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MESTRADO CONTABILIDADE E CONTROLO DE GESTÃO Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como método de avaliação de clientes O caso de uma empresa HoReCa João Fernando Machado Lopes 2019

Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

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Page 1: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

MESTRADO

CONTABILIDADE E CONTROLO DE GESTÃO

Para além da Rentabilidade:

O Costumer Lifetime Value como

método de avaliação de clientes

O caso de uma empresa HoReCa

João Fernando Machado Lopes

2019

Page 2: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

ii

PARA ALÉM DA RENTABILIDADE: O COSTUMER LIFETIME VALUE COMO MÉTODO DE AVALIAÇÃO DE CLIENTES

O CASO DE UMA EMPRESA HORECA

João Fernando Machado Lopes

Dissertação

Mestrado em Contabilidade e Controlo de Gestão

Orientado por

Professor Doutor João Francisco Alves Ribeiro

2019

Page 3: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

iii

Agradecimentos

Para a elaboração da presente dissertação, não posso esquecer todos os que me apoiaram de

forma mais ou menos direta, e sem os quais não seria possível a concretização deste projeto

pessoal.

Ao orientador desta dissertação, Professor Doutor João Francisco Alves Ribeiro, pelo seu

interesse, partilha aberta de conhecimentos e disponibilidade sempre demonstrados ao longo

da elaboração deste trabalho.

À minha família, pelos princípios e valores que me transmitiram, e que manterão comigo ao

longo da vida, pelo carinho, força e capacidade de resiliência que sempre me incutiram e que

tão essenciais foram para a concretização deste trabalho.

À minha companheira, pela compreensão, motivação e o amor que sempre demonstrou e

que foram essenciais para a concretização deste meu objetivo.

Aos diversos professores com quem contactei ao longo do meu percurso académico e que

me transmitiram conhecimentos que possibilitaram o desenvolvimento das minhas

competências técnicas.

À empresa que se disponibilizou para a realização do estudo sem colocar constrangimentos

na sua aplicação, e que tão essencial se torna na concretização de mais um passo no meu

percurso académico e profissional.

À minha chefia que sempre apoiou a concretização de um passo que entendi essencial para

o meu desenvolvimento e que sempre me ajudou a potenciar as minhas competências

profissionais.

Aos meus colegas e amigos, que, com o seu companheirismo e amizade, me apoiaram ao

longo do meu percurso.

Page 4: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

iv

Resumo

O conhecimento e atuação sobre clientes são considerados de uma forma unânime elementos

essenciais na gestão das organizações. Para além dos custos de comercialização dos produtos,

verifica-se um peso relevante dos custos de servir clientes, e uma necessidade de

compreender a forma como os custos “estruturais” e as ações estratégicas e de marketing

sobre clientes impactam no valor da empresa.

Os estudos práticos baseiam-se usualmente na análise de rentabilidade histórica obtida, mas

é duvidoso que se consigam abranger os benefícios e custos gerados ao longo de uma relação

comercial. Com efeito, estas análises têm dificuldades em captar aspetos como o impacto da

aquisição de novos clientes nos cash flows futuros, ou o valor para a empresa que os esforços

de marketing proporcionam, nomeadamente ao nível da retenção de clientes, ou ainda a

explicitação dos custos incorridos em diferentes momentos da relação com os clientes.

O modelo Costumer Lifetime Value (CLV) pode contribuir para colmatar esta lacuna, pois

propõe a análise de clientes assente nos custos e benefícios obtidos ao longo de uma relação

comercial, através das suas variáveis de custos de aquisição, retenção e perda. Porém, trata-

se de um modelo sobretudo desenvolvido num plano teórico, sendo limitados os estudos

que procuraram ilustrar a sua operacionalização, explorando os aspetos envolvidos na sua

implementação e os resultados com ela obtidos. Assim, os objetivos deste trabalho são, por

um lado, o de promover um exemplo de operacionalização do CLV, conjugando-o com os

princípios do sistema de custeio Activity Based Costing (ABC), explorando os principais passos

envolvidos e, por outro, analisar os resultados obtidos com uma solução deste tipo.

Metodologicamente, o estudo conduzido incidiu sobre uma empresa do setor HoReCA,

tratando-se de um setor onde, para além da elevada rotação de clientes, existem significativos

esforços e custos na aquisição de novos clientes, o que torna igualmente relevante a

capacidade de retenção, por forma a maximizar a rentabilidade dos investimentos efetuados.

Os resultados obtidos apontam para uma capacidade de aplicação do CLV, através do ABC,

que não dista das análises de rentabilidade clássicas em termos de dificuldade de

implementação. São adicionados novos elementos para a organização, sendo que a perspetiva

gerada sobre o valor que diferentes segmentos ou clientes aportam à organização se altera

com a aplicação do CLV, o que tem reflexo nas decisões operacionais e estratégicas da

empresa.

Page 5: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

v

Abstract

Knowledge about customers and their performance are unanimously considered essential

elements in the management of organizations. In addition to cost of sales, there is a

significant weight of customer service costs, and a need to understand how structural costs

and the implementation of relationship-marketing strategies impact the company’s value.

Empirical studies are usually based on an analysis of historical profitability, but it is doubtful

whether they can cover the benefits and costs provided over the duration of their relationship

with the firm. Indeed, these assessments struggle to explain aspects such as the impact of

costumer acquisition on future cash flows, the value to the company that the marketing

efforts provide, namely in terms of customer retention, or the disclosing of costs incurred at

different times in the relationship with customers.

The Costumer Lifetime Value (CLV) model can help to fill this gap by proposing customer

analysis based on the costs and benefits obtained over a business relationship, through its

acquisition, retention and loss cost variables. However, it is a model mainly developed in a

theoretical plan, with a limited number of studies that tried to illustrate its operationalization,

exploring the aspects involved in its implementation and the results obtained with it. Thus,

the aims of this work are, on the one hand, to promote an example of CLV

operationalization, combining it with the principles of the Activity-Based Costing (ABC),

exploring the implementation steps involved and, on the other hand, examine the results

obtained with such a solution.

Methodologically, the study is based on a company that operates on the HoReCa sector,

which is a sector where, in addition to the high customer turnover, there are significant

efforts and costs in acquiring new customers, which also makes retention capacity relevant,

in order to enhance the return on the investments made.

The results indicate that implementation of CLV is possible, through ABC, which is not

substantially different from a classic profitability analysis in terms of implementation

difficulty. New elements are added to the organization, and the perspective generated on the

value that different segments or customers bring to the organization changes with the

application of the CLV, which is reflected in the company's operational and strategic

decisions.

Page 6: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

vi

Índice

1. Introdução .................................................................................................................................. 1

2. Valor do cliente: das perspetivas tradicionais ao CLV ......................................................... 4

2.1. Custo de Aquisição do Cliente e Taxa de Aquisição ................................................... 7

2.3. Custo de Retenção do Cliente e Taxa de Retenção ..................................................... 9

2.4. Custos de Perda do Cliente ........................................................................................... 13

2.5. O ABC como sistema de custeio do CLV .................................................................. 14

3. Metodologia ............................................................................................................................. 17

4. Estudo de Caso ........................................................................................................................ 19

4.1. Sistema de Custeio em vigor ......................................................................................... 19

4.2. Clientes e Áreas de Negócio .......................................................................................... 20

4.3. Empresa e estrutura organizativa ................................................................................. 22

4.4. Atividades desenvolvidas na organização .................................................................... 25

4.4.1. Direção Comercial .................................................................................................. 26

4.4.2. Direção de Logística ............................................................................................... 27

4.4.3. Direção Industrial ................................................................................................... 32

4.4.4. Direção de Suporte ................................................................................................. 35

4.4.5. Direção Financeira.................................................................................................. 38

4.4.6. Direção de Marketing ............................................................................................. 40

4.4.7. Direção de Sistemas de Informação .................................................................... 41

4.5. Resumo de atividades e repartição de custos .............................................................. 41

4.6. Análises tradicionais de clientes .................................................................................... 46

4.7. Aplicação do modelo CLV ............................................................................................ 50

4.8. Discussão dos resultados ............................................................................................... 54

5. Conclusões ............................................................................................................................... 57

Page 7: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

vii

6. Bibliografia ............................................................................................................................... 60

Page 8: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

viii

Índice de Figuras

Figura 1 – Critérios de hierarquização de clientes – elaboração própria ................................... 5

Figura 2: Determinantes do custo de aquisição – elaboração própria ....................................... 8

Figura 3 - Determinantes da lealdade do cliente (Vogel et. al., 2008) ...................................... 12

Figura 4: Variáveis influenciadoras do CLV– elaboração própria ............................................ 14

Figura 5 - Passos para implementação ABC (Gunasekaran et. al., 1998) ................................ 16

Figura 6 - Fontes de informação e motivações para a sua utilização ....................................... 18

Figura 7 – Segmentação de clientes a adotar no modelo de CLV ............................................ 21

Figura 8 - Peso dos diversos departamentos na estrutura de custos ........................................ 24

Figura 9 - Divisão dos custos nas respetivas direções ................................................................ 25

Figura 10 - Principais atividades e indutores do departamento comercial .............................. 27

Figura 11 - Principais atividades e indutores da direção logística ............................................. 31

Figura 12 - Principais atividades e indutores da direção de produção ..................................... 34

Figura 13 - Principais atividades e indutores da direção de suporte ........................................ 37

Figura 14 - Principais atividades e indutores da direção financeira .......................................... 39

Figura 15 - Principais atividades e indutores da direção de marketing .................................... 40

Figura 16 - Principais atividades e indutores da direção de sistemas de informação ............ 41

Figura 17 - Resumo atividades desenvolvidas e relação com variáveis do CLV .................... 42

Figura 18 - Repartição primária de custos pelas atividades ....................................................... 45

Figura 19 - Resumo com imputação de custos totais anuais por segmento de clientes ........ 49

Figura 20 - Aplicação do CLV aos segmentos de clientes ......................................................... 53

Figura 21 - Análise de ranking de segmentos de acordo com critério de avaliação ............... 54

Page 9: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

1

1. Introdução

O valor da empresa e os modelos de avaliação inerentes são temas há muito estudados no

mundo das Finanças e da Gestão, assim como o da rentabilidade de clientes. Sendo os

clientes um dos elementos chave nas organizações, compreender o que de facto influi no

valor que estes trazem e que poderão acrescentar no futuro para a organização é crítico, mais

ainda do que o foco na sua rentabilidade histórica.

O contexto de grande competitividade que as empresas enfrentam determina que o valor que

os clientes adicionam à organização se torne num aspeto chave para que estas consigam

monitorizar e maximizar a sua performance no longo prazo, assegurando igualmente uma

relação mais profícua e próxima com os seus clientes, compreendendo-os melhor (Vogel et.

al., 2008).

O objetivo do estudo passa por analisar, numa empresa do setor HoReCa, a aplicação do

Costumer Lifetime Value (CLV) aos diversos segmentos de mercado em que a mesma opera.

A escolha desta empresa prende-se com o facto de existir tipicamente neste setor uma

elevada rotação de clientes, nos quais se observa um esforço para o estabelecimento de novas

relações comerciais, atendendo a que são efetuados empréstimos de equipamentos,

investimentos para a decoração dos pontos de venda e, em alguns casos, a conceção de

financiamento a clientes, sendo celebrados contratos de fornecimento que se irão estabelecer

durante um determinado período. Deste modo, torna-se igualmente crítica a capacidade de

retenção e fidelização dos clientes, que representa igualmente um custo significativo para a

empresa, por forma a obter uma maior rentabilização dos investimentos já realizados. A

análise do CLV, permitirá não só sumariar o resultado das ações passadas da organização,

mas também compreender quais os segmentos que adicionam mais valor à mesma,

permitindo uma maior seletividade e clarificação estratégica em termos futuros, bem como a

prestação de auxilio no diligenciar de medidas que permitam à empresa gerir os custos que

cada atividade induz, seja na aquisição, retenção ou perda de clientes.

Através da revisão de literatura, pretende-se estruturar e identificar quais os determinantes

que afetam não só a rentabilidade do cliente, mas sobretudo o valor que estes acrescentam.

Esta aplicação possibilita uma ótica de análise que trata um cliente como um centro de

investimento, analisando o cash-flow que liberta e poderá libertar no futuro para a empresa.

Page 10: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

2

Pela análise de literatura, existe uma larga exploração ao tema do valor do cliente, que tem o

seu foco essencialmente numa parte das variáveis que afetam o valor do mesmo. Com este

estudo pretende-se elencar, de um modo estruturado e aplicado a uma proposta de modelo

de valorização dos clientes, a diversidade de conceitos que a literatura já dispõe.

Adicionalmente, o carácter eminentemente teórico em que o CLV é apresentado, sem um

desenvolvimento em termos operacionais e sem uma relação prática, é ultrapassado com a

conexão entre o modelo teórico e o método de custeio baseado em atividades ABC, sendo

o cliente o objeto de custo. Este estudo de caso visa suprir a escassa utilização e análise

prática do CLV até ao momento, sendo a aplicação do modelo preditivo a segmentos de

clientes de uma determinada empresa, a principal pista para desenvolvimento futuro

proposta por Estrella-Ramon et. al. (2013)

Ao focar o nível de análise no cliente, os tomadores de decisão conseguirão maximizar o

valor da empresa através de uma atuação específica em cada um, compreendendo de uma

forma mais clara, quais os impactos da sua atuação a um nível micro, no valor do cliente, e

macro, no valor da empresa.

Adicionalmente, compreender o que afeta o valor que o cliente adiciona à empresa, poderá

contribuir para uma melhor avaliação das equipas comerciais, bem como de cada um dos

parâmetros que influenciam o seu valor. Por outro lado, é possível compreender o impacto

dos esforços dos departamentos de marketing, trabalho administrativo e de suporte no valor

do cliente.

Como ponto de partida, o modelo que se pretende construir relaciona custos de aquisição,

retenção e perda, que obviamente poderão ter uma diferente expressão dentro de cada setor,

país, empresa e segmento de mercado. Ainda assim, pretende-se que seja abrangente e

ajustável a cada uma dessas realidades específicas.

Deste modo, pretende-se identificar qual o melhor método de segmentação e hierarquização

de clientes em termos de valor para a empresa, que custos e rendimentos incluir no

tratamento desta análise e se a análise de rentabilidade consegue captar todas as variáveis que

influenciam o seu valor.

Assim sendo, podem ser resumidos como os principais objetivos deste trabalho a

apresentação do CLV como método de avaliação e mensuração do valor de clientes e a

Page 11: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

3

análise dicotómica face às perspetivas de anualização de custos e análises de rentabilidade.

Em suma, pretende-se compreender:

• Como operacionalizar o CLV?

• Quais as dificuldades e aspetos técnicos de aplicação?

• Qual o valor acrescentado para a análise de clientes?

• Que resultados e vantagens gera para a organização?

No capítulo 2, irão ser analisados os diversos critérios de hierarquização de clientes, sendo

posteriormente definido e apresentado um modelo de determinação do valor da relação com

o cliente, definido por CLV. Partindo desse modelo serão analisadas as suas variáveis e a

forma são influenciadas pelas ações realizadas nas organizações. Adicionalmente, é incluída

uma breve introdução ao ABC e a sua influência e contributo prático para a aplicação do

CLV. Uma vez enquadrado o modelo a aplicar, será explicado no capítulo 3 qual a

metodologia a adotar, sendo que, por fim, será efetuado um estudo de caso, capítulo 4, em

que será desenhado um sistema de custeio que permite o apuramento do CLV dos diversos

segmentos de mercado em que a empresa opera e a sua relação com as atividades da empresa,

bem como uma análise dicotómica entre diferentes critérios de segmentação e o potencial

contributo para a tomada de decisão para a organização.

Page 12: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

4

2. Valor do cliente: das perspetivas tradicionais ao CLV

A identificação e análise dos clientes que adicionam mais valor à empresa poderá seguir

diversos critérios, o que produzirá atuações e comportamentos distintos a todos os níveis

organizacionais. Um dos mais primários e objetivos critérios de definição dos clientes com

maior relevância é o das vendas. Se considerarmos o volume como critério de escalonamento,

estaremos a definir que os clientes mais importantes são os que compram uma maior

quantidade de artigos. Este indicador tem obviamente alguns benefícios em organizações

que tenham produtos indiferenciados e em que não exista disparidade de preços e descontos.

Adicionalmente, e caso tal não aconteça, o critério de valor de vendas supre o problema da

diferenciação de preço por cliente. A heterogeneidade de produtos, naturalmente com

diferentes custos unitários, poderá complexificar a análise ao valor de vendas, pelo que a

análise pela margem bruta complementa e melhora a eficácia desta análise.

Para os critérios anteriormente definidos se tornarem efetivos e levarem à correta

hierarquização dos clientes, é necessário que não exista uma grande diferenciação no que

concerne a custos associados a clientes e não relacionados com o produto (custos de

fornecimento, administrativos ou serviço de apoio), investimento e esforço efetuado para a

aquisição e retenção do cliente. Como tal muitas vezes não sucede, recorre-se a uma análise

de rentabilidade do cliente em termos históricos, definida por Estrella-Ramon et. al. (2013)

como “o cálculo dos rendimentos e gastos incorridos num período específico de tempo” e

que permite englobar todos os custos, investimentos e imputação dos custos de esforço,

selecionando assim os que mais rentabilidade libertaram para a empresa.

Shin et. al. (2012), indicam que o ABC representa um papel essencial na mensuração dos

custos de servir o cliente, tendo como objetivo último o apuramento da sua rentabilidade e

do valor que adicionam à empresa. Ao alocar os custos dos serviços aos respetivos clientes

a empresa torna mais claro o valor que estes adicionam, o que impacta nos esforços de

aquisição, de retenção dos clientes atuais e ainda em estratégias como a definição e

discriminação de preço de acordo com esse valor. Compreender o valor do cliente influi na

alocação de esforços aplicados, podendo inclusive permitir compreender que oferta, serviços

ou até clientes devemos “despedir” e “abandonar”.

No modelo que irá ser estudado, e conceptualmente no CLV, o valor do cliente é definido

como o valor atual dos cash-flows esperados para cada cliente (Estrella-Ramon et. al., 2013).

Page 13: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

5

As principais diferenças apontadas por Estrella-Ramon et. al. (2013) do modelo de CLV face

à análise de resultados passam pelo horizonte temporal a que se referem, isto é, o valor

presente de cash-flows futuros face a um cálculo aritmético da diferença entre rendimentos e

gastos incorridos. Adicionalmente, a base de cálculo considera um período mais alargado de

tempo que os custos incorridos num único ano, bem como a sua perspetiva centrada no

presente e futuro e não numa análise à posterior de factos passados. Por último, é apontado

o seu potencial para definição de estratégias de marketing e a sua capacidade de incorporar

o valor dos investimentos de marketing no valor do cliente, mais do que numa perspetiva de

aumento de custos que a análise de rentabilidade sugere.

Deste modo, iremos conseguir priorizar os clientes de acordo com o que é esperado em

termos de cash-flow futuro e que possibilitam a maximização dos recursos das organizações

e um foco nos seus clientes chave.

FIGURA 1 – CRITÉRIOS DE HIERARQUIZAÇÃO DE CLIENTES – ELABORAÇÃO PRÓPRIA

Estrella-Ramon et. al. (2013) introduzem o conceito de CLV tendo em vista a identificação

das variáveis que influem no valor do cliente. No seu modelo, é reconhecida a importância

de identificar os clientes com maior rentabilidade atual e que irão estabelecer relações

rentáveis num prazo mais longo.

𝐶𝐿𝑉 = 𝑎𝑚 − 𝐴 + 𝑎 ∗ (𝑚 −𝑅

𝑟) ∗ [(

𝑟𝑛

1−𝑟𝑛)] 1

1 A = Custo de aquisição

Costumer Lifetime Value

Rentabilidade

Margem Bruta

Vendas

Page 14: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

6

Ao modelo proposto será considerado igualmente o custo que a empresa incorre no

momento da perda, seja na recuperação de investimentos realizados, ações de contencioso e

pré-contencioso, bem como custos de reputação e imagem. Daí resulta:

𝐶𝐿𝑉 = 𝑎𝑚 − 𝐴 + 𝑎 ∗ (𝑚 −𝑅

𝑟) ∗ [(

𝑟𝑛

1 − 𝑟𝑛)] −

𝐿

(1 + 𝑑)1/(1−𝑟)

Partindo desta proposição, podemos definir que o valor do cliente depende da margem bruta,

do custo de aquisição, retenção e perda e ainda das respetivas taxas de retenção, aquisição e

desconto.

O conceito de valor do cliente é definido por Estrella-Ramon et. al. (2013) como o somatório

individual do valor da relação com cada cliente, sendo:

𝐶𝐸 = ∑ 𝐶𝐿𝑉𝑖

𝑁

𝐼=𝐿

Holm et. al. (2012) referem o conceito de valor acrescentado como estando enraizado nas

culturas anglo-saxónicas, embora seja reconhecido que a sua definição não é clara. Muitas

vezes, o conceito de valor acrescentado é visto como a rentabilidade que os produtos

apresentam, ignorando-se o valor que a oferta ao cliente de acordo com as suas necessidades

proporciona. A título de exemplo são referidas as empresas de automóveis americanas que

não conseguiram compreender o desejo dos seus consumidores por viaturas mais pequenas

e eficientes, abrindo desde modo espaço para a entrada no mercado de concorrentes

oriundos de outros países e com uma proposta de valor ajustada.

Assim sendo, podemos entender que o conceito de valor acrescentado para as empresas visa

a compreensão do que os clientes valorizam, adequando a sua oferta de acordo com as suas

pretensões, nunca descurando a necessidade de efetuar uma análise de custo-benefício que a

proposta de valor implica para a empresa.

a = Taxa de aquisição m = Margem bruta R = Custo de retenção L = Custo de perda r = Taxa de retenção d= Taxa de desconto

𝑟𝑛= r/(1+d)

Page 15: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

7

As variáveis que afetam os CLV serão dissecadas nas próximas secções, sendo que a análise

de margem bruta e de taxa de desconto são consideradas como um dado do modelo e não

exploradas na análise.

Fica de igual modo patente a necessidade de concretização e identificação dos drivers que

determinam cada uma das variáveis que serão estudadas, não sendo desenvolvida a ideia de

rentabilidade em termos concretos. Deste modo, e tendo em vista a operacionalização do

modelo, será utilizado o ABC como sistema de custeio uma vez que foca a sua abordagem

nos custos que as atividades induzem. Por forma a facilitar a sua interpretação e aplicação no

estudo de caso que será levado a cabo, será igualmente efetuada uma introdução ao ABC.

2.1. Custo de Aquisição do Cliente e Taxa de Aquisição

Como primeira variável a ser analisada, serão revistos os custos que incorrem no momento

de início da relação comercial com o cliente.

D'Haen et. al. (2013) apontam para a existência de um foco na retenção de clientes, uma vez

que tendencialmente existe uma maior informação e com custos inferiores, sendo

reconhecido que, quer a aquisição, quer a retenção de clientes, têm igual importância para as

organizações. A título de exemplo, são apontadas empresas em crescimento com as startups

e as empresas a explorar novos mercados, onde a aquisição de novos clientes assume

relevância superior, mas também em empresas maduras, onde os novos clientes funcionam

como substitutos dos clientes que se vão perdendo ao longo do tempo.

D'Haen et. al. (2013) apresentam igualmente o processo de aquisição de cliente como um

funil de vendas, onde são identificados os clientes suspeitos2, onde se inclui todo o mercado

com potencial acessível para a empresa. Posteriormente, passa-se para uma fase de

identificação dos prospetos3, definidos como clientes suspeitos que detêm determinadas

características que a organização prossegue. Uma vez identificados os clientes, são iniciados

os contactos, antes da sua consumação e estabelecimento da relação comercial. A sua

identificação como funil é bastante oportuna, uma vez que permite claramente compreender

que existe uma taxa de aquisição de clientes que é relativamente baixa face ao potencial do

mercado – os valores apontados rondam os 10% dos prospetos, o que significa que uma

2 Tradução direta de Suspects 3 Tradução direta de Prospects

Page 16: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

8

eventual variação na taxa de aquisição de clientes, tem igualmente impacto num menor custo

de aquisição de clientes.

Importa sumariar o processo de aquisição de clientes e o seu impacto no custo de aquisição.

Para a angariação de um novo cliente terão de ser investidos esforços na sua segmentação e

identificação de clientes alvo, o que facilita a compreensão do mercado e das suas

especificidades, sendo posteriormente desenvolvida a oferta e a respetiva comunicação junto

do cliente de acordo com a definição de clientes alvo. Após esta fase, haverá lugar à

prospeção de novos clientes e negociação com estes, tendo em vista o estabelecimento de

uma relação comercial. A figura 2 pretende sumariar as variáveis identificadas como

influenciadoras do custo de aquisição do cliente.

FIGURA 2: DETERMINANTES DO CUSTO DE AQUISIÇÃO – ELABORAÇÃO PRÓPRIA

Tendo em vista a angariação de novos clientes, terão de ser efetuados estudos e análises que

visem compreender as diferentes necessidades de cada segmento de mercado, sendo

selecionados os segmentos alvo, ajustando-se e desenvolvendo-se uma oferta específica.

Tendo sido definidos os alvos e a oferta específica, a empresa poderá levar a cabo uma

comunicação de oferta direcionada especificamente para os segmentos que considera como

alvo de angariação.

Para além de considerar os custos dessa comunicação como fazendo parte do valor de

aquisição do cliente, o modelo de CLV permite identificar e analisar quais os segmentos com

maior valor e sobre os quais poderão ou não ser direcionados maiores esforços de

comunicação e angariação (Nemati et. al. 2018)

Identificação de Segmentos Alvo

Desenvolvimento de Oferta

Comunicação da Oferta

Prospeção de Novos Clientes

Negociação Investimento Inicial

Page 17: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

9

Uma vez comunicada e clarificada a oferta, importa efetuar abordagens a potenciais alvos,

sendo efetuada uma comunicação direta, que carece de um desenvolvimento de ferramentas

que permitam uma melhor argumentação comercial, dispêndio de tempo, formação à equipa

comercial e visitas ao cliente.

Paralelamente a este processo é efetuada uma negociação com o cliente, que se repercute por

exemplo no desconto aplicado, o que impacta o valor do cliente.

Uma vez consumada e efetivada a relação comercial, a empresa irá incorrer e efetuar alguns

investimentos que deverão ser englobados no custo de aquisição. Deste modo, aspetos mais

operacionais - como a formação inicial, normas e apoio à utilização, serviço de instalação e

disponibilização de equipamentos; ou eminentemente financeiros relacionados com o

aumento do fundo maneio – na componente da concessão de crédito ao cliente, aumento do

nível de stocks; ou ainda relacionados com ofertas específicas a clientes, descontos especiais

ou até algum tipo de investimento financeiro no cliente deverão ser mensurados.

Uma outra variável em termos de angariação de clientes e alargamento da relação com

clientes atuais é proposta por Zhang et. al. (2013), que identificam e testam a relação entre a

inovação em termos de produto e o seu impacto no valor do cliente. Estes propõem que as

inovações de produto impactam na capacidade de aquisição de novos clientes,

desenvolvendo igualmente uma reputação de marca inovadora, podendo incrementar

igualmente a satisfação e retenção de clientes. Todos estes impactos e o seu valor para a

empresa podem ser mensurados através do modelo de CLV.

Naturalmente que cada uns destes fatores podem ter diferentes impactos dentro de cada

empresa, setor e país. Em qualquer caso, pretende-se que cubram todas as especificidades de

cada negócio com diferentes intensidades.

2.3. Custo de Retenção do Cliente e Taxa de Retenção

As empresas não dedicam a totalidade dos seus esforços na aquisição dos novos clientes.

Deste modo, é natural que o modelo de determinação do valor do cliente releve a

componente de custos de retenção. De acordo com Dalci et. al. (2010), o custo de

encontrar e ganhar um novo cliente em empresas de serviços é cinco vezes maior que o custo

de retenção de clientes atuais. Adicionalmente, a informação e análise dos clientes atuais

encontra-se mais desenvolvida dentro das organizações, não implicando um

Page 18: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

10

desenvolvimento de bases de dados para o tratamento e identificação de potenciais clientes

(Thomas, 2001). Este efeito justifica, adicionalmente um foco na retenção de clientes, que

segundo Thomas (2001), pode ser igualmente influenciada pela estratégia de aquisição de

clientes – políticas mais agressivas para a aquisição de novos clientes podem colocar em causa

a retenção dos clientes atuais e impactar na rentabilidade futura da empresa.

A natureza do custo de retenção é distinta do de aquisição, embora possam estar relacionados

em alguns aspetos, nomeadamente no que respeita ao desenvolvimento de oferta, que pode

ajudar a reter e a aprofundar a relação com os clientes atuais.

Assim, foram identificados como custos de retenção de cliente o serviço de pós-venda e

prestação de garantias, custos de fornecimento – nomeadamente transportes e deslocações

ao cliente; comunicação com o cliente, administrativos - como a faturação e cobrança; e de

processos internos para a concretização da venda – através, por exemplo, do processamento

de encomendas; bem como os aspetos de marketing relacional. Poderão, do mesmo modo,

ser levados a cabo investimentos de manutenção do cliente, relacionados com a substituição

de investimento inicial ou até de expansão das relações com clientes atuais.

Os investimentos para a conquista de clientes são muitas vezes encarados como custos

pontuais, que não voltam a ser incorridos. Contudo, esses investimentos podem carecer de

manutenção ou substituição após o final da vida útil e em caso de a relação comercial ainda

estar estabelecida.

Neste tipo de investimentos é necessário efetuar uma análise da relação comercial com o

cliente, garantindo que esse investimento serve os melhores interesses da organização. Shin

et. al. (2012) ressalvam que devemos efetuar essa ponderação e determinar se devemos

“despedir” o cliente ou empenhar esforços para manter as relações atuais.

Por outro lado, a relação atual pode requerer determinados investimentos de expansão, por

forma a sustentar a relação atual, garantindo o aumento do potencial de venda aos clientes

atuais.

Os esforços de retenção de clientes tendem a não resultar na manutenção da sua totalidade.

Podemos considerar que a taxa de retenção determina o sucesso relativo na retenção dos

clientes atuais.

Para tal foram identificados três focos de atuação sobre os quais a taxa de retenção é

influenciada. Primeiramente, a lealdade do cliente é um dos fatores apontados para a maior

Page 19: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

11

capacidade de retenção de clientes, não sendo de desprezar o efeito de eventuais vínculos

contratuais com o cliente, os esforços de angariação e o seu impacto na retenção de clientes.

Para Reinartz et. al. (2003), empresas orientadas para a gestão do cliente precisam de

considerar a forma como as suas atividades impactam na duração da relação com diferentes

clientes. Em particular, a existência de relações não contratuais reforça a necessidade de uma

análise e compreensão da dinâmica temporal envolvida no relacionamento de um cliente com

a empresa, prevendo, por exemplo, a intenção de um cliente terminar o relacionamento –

podendo garantir um esforço de retenção mais eficaz e direcionado para um cliente em maior

risco de mudança. Reinartz et. al. (2003) acrescentam que é imperativo desenvolver uma

estrutura que incorpore a vida útil do cliente na sua rentabilidade projetada, devendo ser

igualmente identificados os seus custos e impactos em termos de retenção e a forma como

influenciam o valor para o cliente. Tal significa que deve ser medida a vida útil e os benefícios

que esta incorpora, bem como os fatores que podem explicar a variação na duração – a

análise do CLV aplicada permite precisamente medir impactos de variações de custos de

retenção e da respetiva taxa de retenção no valor que a relação do cliente proporciona à

empresa.

Vogel et. al. (2008), identificam como driver do valor de cliente em termos de vendas futuras

a lealdade do cliente. De acordo com o modelo de Vogel et. al. (2008), a lealdade do cliente

é influenciada pelo valor para o cliente, isto é, o rácio entre o benefício que obtém

(exemplificado pelo produto adquirido) e o que tem de sacrificar para o obter (exemplificado

pelo preço pago pelo produto), pelo capital relacional, definido pelo link entre os clientes e

a marca ou empresa e expressa através da confiança que o consumidor deposita na qualidade

do produto ou serviço que lhe é disponibilizado e pelo capital da marca, sendo a perceção

de força, exclusividade e atratividade da marca essenciais para fortalecer a lealdade do cliente.

Page 20: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

12

FIGURA 3 - DETERMINANTES DA LEALDADE DO CLIENTE (VOGEL ET. AL., 2008)

Tendo em vista um menor risco e proteção face às incertezas na aquisição de um novo

cliente, considerando até a relevância dos custos de aquisição, são em alguns casos específicos

celebrados contratos de fornecimento e estabelecidos vínculos contratuais indexados à

relação comercial.

Estes têm um efeito de garantia durante a duração do contrato, sendo que, após a sua

cessação não terão valor. Na duração do contrato, o vínculo contratual funciona como uma

opção de compra sobre uma determinada penalidade inerente.

Por outro lado, a existência de uma carteira de clientes com maior nível de contratação irá

refletir-se no modelo através de uma menor taxa de desconto, evidenciando um menor risco

face à mesma carteira de clientes cujo vínculo não esteja firmado.

Ainda assim, Holm et. al. (2012) apontam que a longevidade da relação comercial não é

apenas função da força desse relacionamento, medida, por exemplo, a partir de vínculos

contratuais. Existem uma diversidade de fatores aleatórios que podem influenciar o seu

desenvolvimento, isto é, podem existir casos em que, apesar de existir um relacionamento

fraco, a existência de falta de alternativas percebidas ou um efeito de rotina façam com que

a relação comercial perdure. Para além destes efeitos, é apontada uma questão essencial,

relacionada com o ocorrer de episódios críticos na relação com o cliente, que fazem aumentar

a disponibilidade para terminar a relação comercial. Tal ocorre de uma forma mais substancial

em relações comerciais relativamente menos sustentadas e fortes, mas que em casos de

relações com maior vínculo podem ter um grande impacto, sobretudo se forem mal geridos

Lealdade do

Cliente

Capital Relacional

Valor para o Cliente

Capital da Marca

Page 21: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

13

e resolvidos. Por outro lado, uma gestão destes episódios de uma forma eficaz e profícua,

resulta num reforço e estreitamento dos laços da relação com o cliente.

O processo de angariação e retenção de clientes é habitualmente dissociado, no entanto o

excessivo foco na conquista de novos clientes poderá impactar negativamente na retenção

dos atuais, que Dong et. al. (2011) designam por efeito de estagnação.

Por outro lado, Dong et. al. (2011) sinalizam o efeito antagónico do impacto do esforço de

preço para aquisição de novos clientes e a sua repercussão na satisfação e lealdade dos clientes

atuais.

Existe uma certa dificuldade na mensuração destes efeitos, no entanto estarão espelhados e

refletidos numa diferente taxa de retenção e na respetiva capacidade de aquisição de novos

clientes.

2.4. Custos de Perda do Cliente

O término da relação comercial implica que a empresa incorra em diversos custos, muitas

vezes não facilmente reconhecidos e observados. Apesar de esta não ser uma variável incluída

no modelo de CLV proposto, a mesma foi abrangida, uma vez que o final da relação

comercial implica uma série de custos e recuperação de investimentos que deverão ser

tratados da mesma forma que os custos de aquisição e de retenção, corrigido do seu valor

temporal. Assim sendo, é importante considerar que a perda de um cliente implica custos

relacionados com a troca, ações de pré-contencioso, como por exemplo, recuperação de

conta corrente ou cumprimento de obrigações contratuais, bem como de contencioso no

caso do término de relação implicar algum incumprimento de vínculos estabelecidos. Por

outro lado, importa notar que a perda de um cliente pode significar alguns benefícios, como

a recuperação de alguns investimentos efetuados, recebimento do crédito disponibilizado e

a eventual obtenção de penalidades inerentes a vínculos contratuais. Não pode igualmente

ser descurado o efeito reputacional que acarreta, ainda que a sua mensuração e aplicação

prática possa ser bastante complexa e difícil.

A figura seguinte visa sumariar as influências que cada variável pode sofrer em termos de

CLV, tal como explanado ao longo do capítulo:

Page 22: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

14

Custos de Aquisição

Marketing e Desenvolvimento Oferta

Comunicação

Prospeção e Negociação

Investimento inicial

Custos de Retenção

Serviço pós-venda

Fornecimento

Comunicação com o cliente

Custos Administrativos e Processos

Marketing Relacional

Investimento de Manutenção

Taxa Retenção Lealdade do Cliente

Vínculos Contratuais

Custos de Perda

Custos de Troca

Recuperação de Investimento

Pré-contencioso

Contencioso

Efeito Reputação

FIGURA 4: VARIÁVEIS INFLUENCIADORAS DO CLV– ELABORAÇÃO PRÓPRIA

2.5. O ABC como sistema de custeio do CLV

Por forma a aplicar e a quantificar os custos que cada atividade relacionada com clientes e a

sua associação ao CLV é utilizado o sistema de custeio baseado em atividades, designado por

ABC.

Shin et. al., (2012), reconhecem que a visão mais académica em termos de estudos de

marketing, analisando diferentes custos de diferenciação de serviços a clientes, tem vindo a

ser incrementada pela cada vez maior oferta de serviços diferenciados, sendo que se

reconhece que os sistemas de custeio de que estes dispõem, não são tendencialmente capazes

de diferenciar os diferentes custos que cada atividade acarreta. Ainda assim, apontam o ABC

Page 23: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

15

como o único sistema capaz de captar e alocar custos tendencialmente indiretos, tornando-

os específicos. É inclusive indicado como um elemento que coloca em evidência a forma

como clientes aparentemente lucrativos podem colocar em causa a organização devido aos

seus elevados custos de serviço.

Para comprovar a importância de uma correta mensuração dos custos das atividades

relacionadas com o cliente, Shin et. al., (2012) apontam para diversos conceitos, como a curva

de baleia - que define que os lucros estão concentrados essencialmente em 20% dos clientes,

sendo que 50% destes destroem valor para a empresa, ou, no caso de empresas business-to-

business a existência de cerca de 10% dos clientes como elementos destruidores de valor

segundo Kaplan e Narayanan (2001); ou o estudo da McKinsey que aponta que os clientes

não rentáveis representam cerca de 30% a 40% da carteira de clientes das empresas segundo

Leszinski et. al. (1995).

É necessário compreender que o ABC pode representar e incorporar algumas limitações

relacionadas. Kaplan e Anderson (2004) apontam que a diversidade de atividades realizadas

torna moroso o processo de implementação. Por outro lado, é necessário que os drivers de

cada atividade consigam captar de uma forma correta a complexidade de cada tarefa, sob

pena de se incorrer numa imprecisa alocação de custos. Por último, é apontado o elevado

custo de atualização e reavaliação dos sistemas de custeio implementados.

Por forma a ser aplicado um sistema de custeio ABC, é importante definir quais os

procedimentos e passos para a sua implementação. Gunasekaran et. al. (1998) sumariam os

seguintes passos para a sua implementação:

• Identificação de objetos de custo, que deverão estar diretamente relacionados com a

estratégia da empresa – no âmbito deste estudo serão utilizados como objetos de

custo os produtos ou os clientes, especificando qual o momento da relação comercial

em que esse custo ocorre, isto é, aquisição, retenção ou perda.

• Análise de atividades chave desenvolvidas na empresa e que induzem custos, sejam

estes diretos ou indiretos.

• Definição dos métodos de alocação de custos, na qual deverão ser utilizados

indutores de custos que estejam relacionados diretamente com cada uma das

atividades identificadas

Page 24: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

16

• Monitorização de aplicação do sistema de custeio, fomentando o sentimento de

pertença através da análise dos resultados de acordo com as responsabilidades.

FIGURA 5 - PASSOS PARA IMPLEMENTAÇÃO ABC (GUNASEKARAN ET. AL., 1998)

É neste sentido que será adotado o ABC como ferramenta por excelência para uma

mensuração das atividades e das diversas variáveis que estão incluídas no CLV, ainda que

devam ser compreendidas as suas limitações e incoerências nas aplicações práticas que sejam

tomadas.

Implementação ABC

Identificação de objetos de

custo

Análise de atividades

chave

Definição de indutores de

custo

Monitorização de aplicação

Page 25: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

17

3. Metodologia

A metodologia para o projeto de investigação a aplicar baseia-se num estudo de caso aplicado

a uma empresa do setor HoReCa. A escolha da análise de estudo de caso é uma das

proposições do estudo, que visa a quantificação do modelo teórico de CLV. Deste modo,

estaria à partida descartada uma análise confinada a uma perspetiva qualitativa do modelo,

uma vez que não é esse o objetivo a que se propõe este trabalho. Atendendo a que a aplicação

envolve a obtenção de informação interna das empresas, seria complexa a aplicação a

múltiplas empresas ou a um setor completo, quer pelas dificuldades de obtenção e

compilação dos dados de diversas empresas, quer pela existência de alguns indicadores

específicos para setores.

Por forma a consubstanciar o estudo, em termos de fontes de informação, irá ser tomada

como base a informação disponibilizada pela empresa através dos seus registos

contabilísticos, informação analítica interna e relatórios disponibilizados, observação e

entrevistas informais a diversos colaboradores da empresa nos diversos departamentos em

que operam. As motivações para o recurso às diversas fontes de informação podem ser

sumariadas na seguinte tabela:

Fonte de Informação Motivação

Registos

Contabilísticos

Análise da estrutura de custos

Recolha de custos por departamento

Informação analítica

interna

Análise da estrutura de custos não detalhada nos registos

contabilísticos

Recolha de custos por departamento não detalhados nos registos

contabilísticos

Detalhe de rubricas de custo incluídas em cada departamento

Análise de registos efetuados nos sistemas de informação e

contributo para sistema de custeio

Informação de indutores de custo e outras informações

disponibilizadas nos sistemas informação

Análise de relatórios

Compreensão das atividades e custos da organização

Obtenção de informação para desenho de indutores e atividades

Page 26: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

18

Relação das diversas atividades com o cliente

Observação

Identificação de atividades chave desenvolvidas

Compreensão da ligação com o cliente e do momento da relação em que ocorrem

Visão sobre atividades não identificadas nos relatórios e não mensuradas nos registos internos e divulgações

Entrevistas

informais

Compreensão da estrutura organizativa da empresa e ligação interdepartamental

Melhor compreensão das diversas atividades desenvolvidas

Identificação de potenciais necessidades de registo de informação

Melhorias na informação analítica

Potenciar identificação de eventuais tarefas não observáveis no momento da presença no departamento

FIGURA 6 - FONTES DE INFORMAÇÃO E MOTIVAÇÕES PARA A SUA UTILIZAÇÃO

Para serem obtidos os indicadores e dados necessários, serão utilizados diversos mecanismos

internos que a empresa dispõe para registo das suas operações, sejam estes através dos

registos efetuados no ERP (Enterprise Resource Planning) pelos utilizadores, a análise de

entradas no CRM (Customer relationship management) de clientes ou na mobilidade efetuados

pela equipa comercial, para além de alguns registos manuais disponibilizados.

As etapas para a sua implementação passam por uma análise do sistema de custeio em vigor

na empresa e compreensão de que forma a informação disponível possibilita a aplicação do

modelo. Posteriormente será analisada a estrutura de clientes e do negócio, e a forma como

esta se encontra segmentado e estruturado. Nestas duas fases, as fontes de informação

baseiam-se de uma forma mais intensiva na análise dos registos contabilísticos, informação

interna e relatórios da empresa. Segue-se a análise exaustiva à estrutura organizativa e aos

diversos departamentos que a compõem, que possibilitam, por um lado, compreender a

forma como se organizam, mas igualmente a construção de uma proposta de relação dos

custos que estes apresentam e a forma como se relacionam com o cliente nas suas diversas

fases da relação comercial, sendo aqui adicionada uma componente de observação direta nos

diversos departamentos e a realização de algumas entrevistas informais.

Será com base nestas informações que se procurará aplicar um modelo de avaliação de

carteira de clientes da empresa, aplicando o CLV e analisando os seus resultados.

Page 27: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

19

4. Estudo de Caso

Tendo em vista a concretização e apuramento em termos práticos do CLV, será aplicado o

modelo apresentado por forma a determinar o valor de cada segmento de clientes com

expressão dentro da empresa, recorrendo à identificação das atividades que afetam o valor

do cliente à luz do ABC.

O estudo incide sobre uma empresa do setor HoReCa, que produz e comercializa café e

produtos relacionados, operando em diferentes segmentos de mercado e com diferentes

especificidades. A escolha desta empresa prende-se com o facto de existir tipicamente neste

setor uma elevada rotação de clientes, nos quais são realizados fortes investimentos iniciais

para o estabelecimento de relações comerciais. Deste modo, torna-se igualmente crítica a

capacidade de retenção e fidelização dos clientes, o que representa igualmente um custo

significativo para a empresa, por forma a assegurar uma maior rentabilização dos

investimentos já realizados.

A análise do CLV, permitirá não só sumariar o resultado das ações passadas da organização,

mas também compreender quais os segmentos que adicionam maior valor, permitindo uma

maior seletividade e clarificação estratégica em termos futuros, como o auxílio no diligenciar

de medidas que permitam à empresa gerir os custos que cada atividade induz, seja na

aquisição, retenção ou perda de clientes.

4.1. Sistema de Custeio em vigor

A primeira fase de trabalho passa pela análise do sistema de custeio atualmente em vigor na

organização e da forma como a informação se encontra disponível na organização.

Em primeira instância, existe um elevado foco no fecho mensal de contas contabilísticas,

resultado da existência de reportes de informação de gestão mensal para os acionistas. Assim,

uma elevada percentagem da informação de gestão assenta em elementos contabilísticos que

apresentam à partida já alguma divisão por categorias de custos e que permitem uma análise

de naturezas de custos de uma forma global e genérica.

Às demonstrações financeiras de base são adicionados mapas de detalhe das rubricas

essenciais, tal como acontece por exemplo com a rubrica contabilística de fornecimentos e

serviços externos ou gastos com pessoal.

Page 28: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

20

Paralelamente, existe um enfoque na análise de informação de vendas como forma de avaliar

o desempenho da área comercial, o que, pese embora a grande abrangência dos indicadores

atualmente utilizados, é apontado como uma lacuna uma vez que o desempenho destes influi

diretamente nas variáveis que estão designadas para o modelo de CLV que baseia o estudo.

A informação de custos tem vindo a sofrer ajustamentos de forma a que consiga responder

e identificar as naturezas de custos e departamentos, ao invés de apenas revelar informação

contabilística. É esta base de informação de custos por natureza e tipologias que irá ser

tomada como suporte de trabalho, por forma a conseguirmos construir um sistema de

custeio que possibilite o apuramento, em última instância, do CLV.

4.2. Clientes e Áreas de Negócio

Sendo uma empresa que opera com maior pendor no HoReCa, pese embora a sua atuação

se alargue até ao Retalho, a sua atividade visa a comercialização de produtos que são

colocados à disposição dos consumidores finais através de Hoteleiros e Retalhistas. Ainda

assim, existem múltiplos canais de distribuição de produtos nos dois canais de maior relevo

dentro da organização.

Deste modo, e no que respeita ao HoReCa o modo de distribuição divide-se em:

• Comercialização direta através de vendedores: este canal de distribuição inclui todos

os vendedores que a empresa tem ao seu dispor e na qual a sua atividade se baseia na

recolha de produtos em armazém e na venda aos clientes através de visitas periódicas,

incluindo naturalmente a atividade de faturação e cobrança.

• Distribuição indireta através de agentes: ao contrário da distribuição direta, neste

canal a comercialização dos produtos junto do cliente, bem como as respetivas

atividades de faturação e cobrança corre por conta de um terceiro designado

distribuidor, o qual coloca encomendas junto da empresa e procede à gestão de

stocks e distribuição dos produtos junto dos hoteleiros.

Ao compararmos diretamente os dois canais de distribuição, conseguimos compreender que

apresentam diferentes custos e que poderão apresentar diferentes rentabilidades e valor

acrescentado para a empresa.

Nos distribuidores, as atividades de distribuição dos produtos aos clientes, cobrança e

prospeção de novos clientes no mercado são delegadas junto do distribuidor, o que implica

Page 29: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

21

naturalmente menores custos de distribuição quando comparados com os vendedores. Ainda

assim, a margem de comercialização dos produtos terá de ser partilhada com o distribuidor,

o que implica que exista um trade-off entre os menores custos de distribuição e uma menor

margem de rentabilidade.

Atendendo ao critério de análises de grupos de segmentos de clientes, importa igualmente

analisar os restantes segmentos nos quais a empresa opera. A empresa comercializa produtos

a operadores de retalho, que posteriormente são colocados à disposição de consumidores

finais, na sua maioria para consumo em casa – canal agora designado por Retalho.

Adicionalmente, existe alguma expressão num outro segmento relacionado com o retalho,

sendo a sua tipologia de clientes mais direcionada para profissionais, nomeadamente do

HoReCa, que adquirem produtos para os seus estabelecimentos junto dessas centrais de

compras – doravante designados por Cash & Carry. Outro dos segmentos em que se

encontra presente é o Office, onde a empresa tipicamente disponibiliza equipamentos e

comercializa os produtos específicos, estando esta oferta direcionada para escritórios e

empresas. Os operadores de Vending são tipicamente outra categoria de clientes que a

empresa serve, fornecendo produtos que serão posteriormente utilizados pelos operadores

para abastecer os clientes finais.

Podemos sumariar a segmentação da análise de CLV obedecendo a critérios que respeitam,

por um lado, a tipologia de pontos de venda que a empresa fornece, bem como os canais de

distribuição utilizados:

FIGURA 7 – SEGMENTAÇÃO DE CLIENTES A ADOTAR NO MODELO DE CLV

HoReCa Vendedores HoReCa Agentes Retalho

Cash & Carry Office Vending

Page 30: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

22

4.3. Empresa e estrutura organizativa

Tendo em vista o desenho e a construção do modelo de CLV é relevante compreender a

estrutura organizativa da empresa e as naturezas de custos identificadas e que à partida já são

conhecidas na organização.

A empresa está organizada em direções, que em alguns casos englobam diversos

departamentos, e que têm naturalmente diferentes pesos na estrutura de custos. Para o

estudo, serão levados em consideração os cash-flows despendidos através de uma análise

normalizada e que considera os últimos 3 anos de cada rubrica. A escolha deste horizonte

temporal prende-se com o começo do tratamento desta informação e da possibilidade de

acesso, que já revela uma base sólida para testar eventuais distorções em algum ano em

específico.

Partindo para uma análise mais exaustiva à estrutura organizativa poderíamos dispor da

seguinte forma:

1. Direção Comercial: representa 28% dos custos da empresa, sendo a informação

atualmente disponibilizada dividida pelas respetivas funções que estão englobadas.

Genericamente as funções que fazem parte da Direção Comercial são as de

vendedor, cujas funções assentam no abastecimento e serviço ao cliente, prospetor

que incorpora em exclusivo e com maior enfoque uma parte do trabalho dos

vendedores que consiste na identificação, abordagem e conquista de novos clientes,

gestor comercial e direção comercial. No caso da área comercial, será essencial a

análise das atividades que realizam para se conseguir compreender o esforço e o custo

que cada atividade de servir e gerir clientes implica, bem como a sua divisão entre o

foco na retenção e aquisição de novos clientes;

2. Direção Logística: o seu peso de 21% reflete à partida os custos de assistência técnica

(75% de peso da direção), seja através de técnicos internos ou subcontratação para

reparação de equipamentos em oficina ou deslocação e intervenções no cliente, e de

logística que englobam o trabalho de transporte de produtos para clientes e a gestão

de produtos em armazém – através dos custos com fiel de armazém, transportes

entre armazéns e manutenção das facilities;

3. Direção Industrial: com um peso substancialmente inferior na estrutura de custos

(5%), e apesar de estarmos a tratar de uma empresa que se dedica à atividade

Page 31: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

23

industrial, tem os seus custos divididos entre rubricas relacionadas com a produção

de produtos e equipamentos industriais (sejam operadores, combustíveis,

eletricidade, manutenção industrial ou compra e transporte de matérias primas) e

controlo de qualidade;

4. Direção Suporte: a direção de suporte inclui todos os custos relacionados com o

apoio e complemento à área comercial (5%), seja através da faturação, back-office -

mais direcionado para a abertura de clientes, análise de negócios, ações de cobrança

e pré-contencioso, bem como tratamento de clientes perdidos; contencioso e

controlo de gestão;

5. Direção Financeira: inclui os custos de gestão de tesouraria e financiamentos,

atividades de contabilidade e emissão de recibos, bem como os recursos humanos,

representando 4% dos custos totais da organização;

6. Direção Marketing: a atividade da direção (2%) visa o desenvolvimento das marcas

do portfólio da empresa, através da comunicação ou de eventos, bem como a

componente de gestão de produto;

7. Direção Sistemas Informação: garantindo o suporte informático à atividade do

negócio, a direção representa 1% dos custos totais da organização.

Partindo da análise da estrutura de custos departamentais, podemos sem grande surpresa

concluir que as principais rubricas de custos estão relacionadas com o investimento em

clientes, área comercial e serviço de apoio ao cliente. Numa análise simplista e incluindo

apenas estas rubricas como custos de serviço ao cliente, conseguimos compreender que

pesam 85% dos cash-flows despendidos pela organização, o que legitima e reforça a

necessidade de um enfoque na análise de rentabilidade de clientes. Adicionalmente, e

compreendendo que a principal rubrica, com um peso de 35% na estrutura de custos, é a de

investimento, existe uma forte limitação no indicador de rentabilidade uma vez que o

horizonte temporal desse investimento poderá não estar corretamente refletido, enviesando

eventuais análises que possam ser feitas. A utilização do CLV mitiga o problema desse

diferimento através da variável taxa de retenção da carteira de clientes. Deste modo, é

igualmente entendido à partida que o modelo a aplicar poderá apresentar inclusivamente

benefícios no tratamento e análise do valor temporal que esse investimento irá conseguir

acrescentar para a organização.

Page 32: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

24

FIGURA 8 - PESO DOS DIVERSOS DEPARTAMENTOS NA ESTRUTURA DE CUSTOS

Direção Área Funcional Peso

Relativo

Peso

Total

Investimento Clientes

(34,7%)

Investimento 100,0% 34,7%

Direção Comercial

(27,7%)

Vendedores 68,2% 18,9%

Prospetores 4,9% 1,3%

Gestores Comerciais 26,9% 7,5%

Direção Logística

(20,6%)

Assistência Técnica 73,8% 15,2%

Logística 22,9% 4,7%

Compras 3,3% 0,7%

Direção Industrial

(5,3%)

Produção 72,7% 3,9%

Manutenção 10,8% 0,6%

Qualidade 16,4% 0,9%

Direção Suporte

(5,3%)

Faturação 2,7% 0,1%

Back-Office 16,0% 0,8%

Contencioso 75,2% 3,9%

Investimento Clientes34,7%

Comercial27,7%

Logística20,6%

Industrial5,3%

Suporte5,3%

Financeiro4,2%

Marketing1,4%

Sistemas Informação

0,8%

PESO ESTRUTURA CUSTOS

Page 33: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

25

Controlo Gestão 6,1% 0,3%

Direção Financeira

(4,2%)

Tesouraria e Financeiro 61,3% 2,6%

Contabilidade 30,3% 1,3%

Recursos Humanos 8,5% 0,4%

Direção Marketing

(1,4%)

Marcas 70,3% 1,0%

Gestão Produto 29,7% 0,4%

Direção Sistemas

Informação (0,8%)

Suporte Informático 48,8% 0,4%

Desenvolvimento 51,2% 0,4%

FIGURA 9 - DIVISÃO DOS CUSTOS NAS RESPETIVAS DIREÇÕES

4.4. Atividades desenvolvidas na organização

Uma vez descrita a estrutura organizativa e o seu peso na estrutura de custos da empresa,

tendo em vista o consubstanciar do modelo de CLV, é essencial analisar a relação das diversas

rubricas de custo com as atividades desenvolvidas na empresa e a sua interligação com o

objeto de custo e com as variáveis aquisição, retenção e perda de clientes.

Analisando as rubricas atualmente detalhadas para cada a direção, conseguimos compreender

que existem diversas situações que terão de ser tratadas de diferente modo:

• Rubricas que se relacionam diretamente com as variáveis do modelo, o que acontece

por exemplo com o transporte para clientes;

• Rubricas nas quais existe informação analítica internamente disponível que possibilita

uma correta alocação ao seu objeto, como é o caso da subcontratação e consumo de

peças por intervenção;

• Rubricas que requerem a utilização de indutores relacionados com as atividades

específicas desenvolvidas e que permitem uma estimativa de imputação ao seu objeto

de custo e variável do modelo;

• Rubricas que pela sua natureza não se relacionam com um objeto de custo e variável

do modelo ou que não são induzidos por este, e que, deste modo, não serão

imputados nem alocados a clientes, permanecendo tratadas como gastos gerais.

Page 34: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

26

Por forma a analisar as diferentes atividades e relação com o modelo apresentado, foram

percorridas as diversas direções da empresa, sendo que os próximos pontos visam explanar

a relação dessas atividades com indutores que permitam uma imputação efetiva ao cliente.

4.4.1. Direção Comercial

Comercial – os custos desta rubrica incluem as seguintes categorias:

• Custos incorridos com vendedores - as suas atividades estão direcionadas

essencialmente para a visita a clientes, que consomem grande parte do tempo diário

de cada vendedor. Ainda assim, o controlo efetivo das visitas não vinha a ser aplicado

na empresa, sendo apenas registadas as visitas sem qualquer informação adicional.

Será importante, e está em desenvolvimento na organização um sistema de

monitorização das visitas a clientes (e de registo da deslocação e tempo que dedicam

em cada visita), bem como das designadas visitas de prospeção e negociação com

clientes, por forma a conseguir-se efetuar um tratamento mais cuidado desta rubrica

de custos que tem um peso significativo na organização. Ainda assim, é possível

desde já inferir os custos de cada visita através dos registos de visita existentes e

admitindo homogeneidade no que respeita à sua duração e deslocação. O mesmo se

aplica às restantes atividades de prospeção e negociação, bem como ao apoio aos

técnicos na recolha de investimentos no fim da relação comercial com os clientes.

• Custos incorridos com prospetores – esta rubrica de custos apresenta as mesmas

limitações apontadas no ponto anterior. Ainda assim, o foco das suas atividades está

mais direcionado para a identificação de novos clientes e a negociação de condições

comerciais com estes, tendo em vista o estabelecimento de relação comercial. Ao

contrário do que sucede com os vendedores, é difícil assumir-se homogeneidade nas

visitas uma vez que as negociações e prospeções podem oscilar bastante em termos

de complexidade e morosidade. Esta nota reforça a importância do desenvolvimento

de informação analítica que possibilite uma mensuração e imputação mais apurada

dos custos destas atividades.

• Custos incorridos com gestores comerciais – As funções dos gestores comerciais

passam pelo apoio e monitorização dos vendedores, através do acompanhamento

em visitas, bem como o apoio nas negociações e prospeções com clientes, sendo

responsáveis pela sua formalização e apresentação de negócio para aprovação

Page 35: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

27

interna. Adicionalmente, têm funções de acompanhamento da situação de clientes e

eventuais necessidades de renegociações contratuais ou novos investimentos em

clientes existentes, bem como a comunicação de clientes perdidos, que despoleta o

processo de recuperação de investimento e de perda do cliente.

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Comercial

Pessoal: Vendedor Prospeção de novos clientes Nº Visitas a clientes potenciais Aquisição

Negociação com clientes Nº Propostas apresentadas Aquisição

Visitar clientes Nº Visitas a clientes existentes Retenção

Levantamento de investimentos Nº Visitas de levantamento de

investimentos

Perda

Pessoal: Prospetor Prospeção de novos clientes Nº Visitas a clientes potenciais Aquisição

Negociação com clientes Nº Propostas apresentadas Aquisição

Pessoal: Gestor

Comercial

Prospeção de novos clientes Nº Visitas a clientes potenciais Aquisição

Negociação com clientes Nº Propostas apresentadas Aquisição

Visitar clientes Nº Visitas a clientes existentes Retenção

Análise de renegociações e

reinvestimento Nº Renegociações

Retenção

Comunicação de cliente perdido Nº Fichas de cliente perdido Perda

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 10 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DO DEPARTAMENTO COMERCIAL

4.4.2. Direção de Logística

Assistência Técnica – os custos da área funcional dividem-se nas seguintes rubricas:

• Subcontratação e consumo de peças na prestação de serviços de assistência – nestas

rubricas existe informação analítica que nos permite detalhar as tipologias de

intervenção e a sua relação com a aquisição, retenção e perda de clientes. No caso,

as rubricas de instalação de equipamentos em clientes novos e a recuperação de

equipamentos usados em oficina para colocação em clientes estão diretamente

relacionadas com a aquisição de clientes, ao passo que a prestação de serviços de

assistência técnica após instalação está associada à retenção e manutenção da relação

comercial com o cliente. O final da relação comercial dita o levantamento de

equipamentos, rubrica essa relacionada diretamente com os custos de perda;

Page 36: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

28

• Custos incorridos com técnicos – a relação entre custos de técnicos de oficina e de

rua, sejam os custos com pessoal ou de viaturas podem ser diretamente relacionados

com as atividades por estes desenvolvidas. Para tal, teremos de recorrer a indutores

que nos permitam inferir e imputar . A informação atualmente disponível no sistema

de informação permite mensurar o tempo de cada intervenção técnica e os

quilómetros percorridos para cada intervenção, sendo deste modo um indicador

sólido dos custos incorridos em termos de técnicos em cada visita;

• Materiais consumíveis – pela sua reduzida materialidade e pela dificuldade de

imputação às diferentes folhas de obra, existe um conjunto de materiais

considerados como consumíveis e que não são afetos a nenhuma intervenção

específica. Deste modo, a empresa poderá desenvolver mecanismos que permitam

alocar estes consumos de uma forma mais profícua. Ainda assim, o indicador

proposto para esta rubrica passa pela imputação por unidade das tipologias de

intervenção em que estes materiais são maioritariamente consumidos, isto é, nas

recuperações de equipamentos e nos serviços técnicos ao cliente;

• Custos incorridos com gestor de assistência técnica – o trabalho do gestor desta área

funcional passa pela análise e alocação de intervenções aos respetivos técnicos ou

definir a necessidade de subcontratação, tarefas nas quais não existe uma grande

diferenciação no tratamento de cada um dos tipos de intervenção, sendo adequada

a utilização de um indicador de nível unitário. Adicionalmente, faz parte das suas

funções o tratamento de reservas de equipamentos para clientes, que não apresenta

grande variação de complexidade e de consumo de recursos;

• Custos incorridos com gestor de oficina - o gestor de oficina dedica o seu tempo ao

acompanhamento das intervenções internas e ao trabalho da oficina, sendo

responsável máximo pela análise e controlo de qualidade dos equipamentos

recuperados. Ao contrário do que acontece com as restantes intervenções, não existe

nenhum registo dos consumos de recursos e tempo afeto a cada controlo de

qualidade, o que pode ser apontado como umas das necessidades de

desenvolvimento de informação mais prementes desta área funcional – e que

limitam a escolha do indicador para o modelo apresentado;

• Custos incorridos com administrativos – os elementos administrativos de assistência

técnica dedicam o seu tempo a tratar e registar as solicitações de clientes e internas

relativas a intervenções. Não existindo um registo eficaz de afetação de trabalho a

Page 37: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

29

cada pedido de intervenção, poderá ser utilizado como indutor da sua atividade o

número de intervenções para cada uma das tipologias.

Logística – as principais rubricas de custos logísticos estão relacionadas com:

• Transportes para clientes – existe uma alocação direta entre o custo específico de

cada transporte ao respetivo cliente, sendo esta uma rubrica relacionada com os

custos de retenção do cliente;

• Transportes internos e custos relacionados com facilities – embora possa ser

percebido que a existência de uma diversidade de facilities deriva da dispersão

geográfica da carteira de clientes, não pode ser diretamente inferido que sejam ações

junto de clientes que ditam a existência das mesmas, pelo que no caso de análise do

valor de cliente, serão tratados como custos gerais não alocados. Em análises de

carteira de clientes numa perspetiva geográfica estes custos deveriam ser imputados.

• Custos incorridos com fiel de armazém – o fiel de armazém tem como principais

atividades a preparação de encomendas para clientes e de cargas de viaturas para

vendedores, para além da receção de mercadorias e conferência de artigos em stock.

Uma vez que todas as suas ações se tornam mais complexas de acordo com a

quantidade de artigos que envolvem, foram selecionados indicadores de nº de linhas

em cada documento emitido;

• Custos incorridos com rececionista, porteiro e na manutenção de edifícios –

atendendo à sua relação intrínseca a cada edifício, mais do que a clientes em

específico, opta-se por não alocar estes custos a nenhuma das variáveis do modelo.

Compras – as principais rubricas de custos com as compras estão relacionadas com:

• Manutenção de viaturas – o processo de acompanhamento e manutenção de viaturas

pode ser repartidos por cada viatura, uma vez que não diferem em grande medida,

sendo posteriormente imputados em função dos custos com visitas a clientes;

• Custos incorridos com Gestor de Compras – o gestor de compras dedica-se à

adjudicação de compra de materiais específicos para clientes e ao planeamento de

compras e respetivas ordens de produção. Ainda que possam existir algumas

especificidades, o processo de compras acaba por ser uniforme em cada atividade.

Page 38: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

30

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Assistência Técnica

Subcontratação e

Consumo de Peças

Instalação de investimentos Aquisição

Recuperação de equipamentos Aquisição

Prestação de serviço de assistência Retenção

Levantamento de investimentos Perda

Técnicos

Instalação de investimentos Tempo/Distância para instalação de

equipamentos Aquisição

Recuperação de equipamentos Tempo para recuperações em oficina Aquisição

Prestação de serviço de assistência Tempo/Distância para prestação de assistência Retenção

Levantamento de investimentos Tempo/Distância para levantar equipamentos Perda

Materiais

Consumíveis

Recuperação de equipamentos Nº Equipamentos recuperados internos Aquisição

Prestação de serviço de assistência Nº Serviços de AT internos Retenção

Gestor Assistência ao

Cliente

Análise e reserva de equipamentos a colocar Nº Equipamentos reservados Aquisição

Tratamento de pedidos de instalação Nº Equipamentos instalados Aquisição

Tratamento de pedidos de recuperação Nº Equipamentos recuperados Aquisição

Tratamento de pedidos de serviço de assistência Nº Serviços de AT Retenção

Tratamento de pedidos de levantamento Nº Equipamentos levantados Perda

Gestor Oficina Controlo a equipamentos recuperados Nº Equipamentos recuperados internos Aquisição

Administrativos Receção e registo de pedidos de instalação Nº Equipamentos instalados Aquisição

Receção e registo de pedidos de recuperação Nº Equipamentos recuperados Aquisição

Page 39: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

31

Receção e registo de pedidos de serviço de

assistência Nº Serviços de AT Retenção

Receção e registo de pedidos de levantamento Nº Equipamentos levantados Perda

Logística

Transporte para Clientes Retenção

Transportes internos Geral

Custos Pessoal: Fiel de armazém

Preparação de encomendas Nº de linhas de encomendas Retenção

Receção de mercadorias Nº Receções de mercadoria Produto

Conferência de stock Qtd, de artigos em stock Produto

Preparação cargas viaturas Nº Cargas viaturas Produto

Manutenção Edifícios Geral

Rececionista Geral

Porteiro Geral

Compras

Gestor Frota Manutenção de viaturas Nº Viaturas Retenção

Compras Adjudicação de compra de materiais Nº linhas específicas em propostas comerciais Aquisição

Emissão de ordens de compras Nº Ordens de compra Produto

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 11 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO LOGÍSTICA

Page 40: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

32

4.4.3. Direção Industrial

Produção – com a maioria dos custos incorridos alocados ao produto, relacionando-se com

o modelo de CLV através da margem de comercialização, os custos da área funcional

dividem-se nas seguintes rubricas:

• Transporte de matéria prima e despesas de importação – pela sua natureza, os custos

de transporte e importação das matérias primas estão diretamente relacionados com

o custo da matéria prima, que deve incorporar estas rubricas na determinação e

análise do seu custo. Desta maneira, não existindo neste momento na empresa uma

relação direta entre estes custos e a sua compra específica (procedimento que se

deverá desenvolver), deverá ser utilizado um indicador de volume consumido;

• Combustíveis – ao consumo de matérias que são utilizadas essencialmente na torra

dos produtos, como por exemplo o gás, e nas quais não existe facilidade na recolha

de informação de consumos efetivos, propõe-se um indicador de volume de matéria

prima consumido, assumindo-se uma uniformidade de tempo e consumos por torra.

Um registo mais efetivo da informação de tempo e quantidades por torra poderia

levar a um ajustamento do indicador para as horas de torrefação despendidas;

• Custos incorridos com torrefator – o torrefator dedica o seu tempo no

acompanhamento e controlo do processo de torra. Apresenta as mesmas limitações

descritas no ponto anterior;

• Custos incorridos com operador de produção – à semelhança do torrefator, os

operadores de produção têm como atividade o controlo e acompanhamento do

processo de embalamento dos produtos, participando em algumas partes do

processo produtivo. Uma vez que existem diferentes produtividades e cadências

inerentes às diversas máquinas utilizadas, opta-se pela utilização do consumo efetivo

de recursos por unidade de tempo para cada unidade produzida;

• Eletricidade – não sendo de fácil determinação à partida dos consumos que cada

equipamento industrial efetua, é proposto um indicador que determina quais os

consumos em termos de tempo de utilização de cada equipamento. O grande

pressuposto inerente é que o consumo por unidade de tempo de cada equipamento

é similar, matéria que poderá ser sujeita a avaliação técnica futura;

• Limpeza de instalações e consultoria – ainda que o valor destas rubricas possa ser

influenciado pelo volume produzido, não existe nenhuma relação direta entre as suas

Page 41: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

33

atividades desenvolvidas e o modelo de valorização de clientes apresentado,

incluindo as variáveis de custo com o produto. Deste modo opta-se pela sua não

alocação e manutenção nos custos gerais da empresa;

Manutenção – sendo a sua atividade central a manutenção dos equipamentos industriais, a

sua alocação à margem dos produtos irá depender do consumo efetivo da cada uma das suas

rubricas a cada um dos equipamentos, sendo estas:

• Manutenção industrial externa – subcontratação de intervenções específicas e

técnicas em equipamentos. Está em desenvolvimento um sistema que permite alocar

a cada equipamento a respetiva intervenção;

• Consumíveis e custos incorridos com técnico de manutenção – por forma a medir

o impacto que cada equipamento exige em termos de manutenções, existe já em

vigor um registo que permite alocar os consumos efetivos de materiais a cada

intervenção em equipamentos, bem como o tempo consumido pelos técnicos

internos em cada intervenção, sendo esse o indicador utilizado para a imputação dos

custos com o técnico de manutenção aos respetivos equipamentos e

consequentemente às unidades produzidas de cada produto.

Qualidade – as principais rubricas de custos com controlo de qualidade estão relacionadas

com:

• Custos incorridos com técnicos de qualidade – os elementos do controlo de

qualidade dedicam o seu tempo a efetuar análises regulares quer às matérias

primas, produto acabado e mercadorias rececionadas em armazém. No que

respeita às matérias-primas, os controlos de qualidade são efetuados em função do

volume de café torrado, à semelhança do que acontece com o produto acabado.

Relativamente às mercadorias, é efetuado um controlo de uma amostra em cada

receção destes materiais. Adicionalmente, a atividade de desenvolvimento e

controlo de produtos está incluída nesta área, sendo processos de controlo que não

são muito distintos em termos de consumos de unidade de tempo;

• Auditoria, controlo de qualidade e contribuições– atendendo à sua natureza

industrial, existem um conjunto de certificações, contribuições para associações do

setor e auditorias que a empresa está sujeita, que não se relacionam diretamente

Page 42: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

34

com o modelo nem com as atividades desenvolvidas. Deste modo mantêm-se

como custos gerais.

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Produção

Combustíveis Torra de matéria-prima Volume matéria-prima

consumida

Produto

Despesas

Importação

Transporte e compra de matéria-

prima

Volume matéria-prima

consumida

Produto

Transporte

matéria-prima

Transporte e Compra de matéria-

prima

Volume matéria-prima

consumida

Produto

Eletricidade Consumo de eletricidade

equipamentos Horas de produção

Produto

Operador

Produção

Controlo de equipamentos de

produção Horas de produção

Produto

Torrador Torra de matéria-prima Volume matéria-prima

consumida

Produto

Limpeza Geral

Consultoria Geral

Manutenção

Manutenção

Industrial

Manutenção de equipamento industrial Produto

Consumíveis Manutenção de equipamento industrial Produto

Técnico

Manutenção

Manutenção de equipamento

industrial

Horas máquina Produto

Qualidade

Técnico

Qualidade

Análise de matéria-prima Volume matéria-prima

consumida

Produto

Controlo ciclo produtivo Volume produto acabado

produzido

Produto

Análise de mercadorias Nº linhas artigos rececionados Produto

Desenvolvimento de produtos Nº de testes de produto Produto

Auditoria e Controlo Qualidade Geral

Contribuições Geral

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 12 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO DE PRODUÇÃO

Page 43: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

35

4.4.4. Direção de Suporte

Back-Office – as principais rubricas de custos com o back-office estão relacionadas com:

• Custos incorridos com assistente comercial – sendo a sua existência relacionada com

o apoio e suporte à área comercial, as suas atividades dividem-se em abertura de

clientes, relacionadas com a aquisição de clientes, a análise de renegociações e

reinvestimento em clientes existentes, atualização de ficha de clientes ao longo da

relação comercial, bem como a prestação de ações de pré-contencioso em situações

de incumprimento contratual, sendo estas atividades relacionadas com a retenção de

clientes. No momento da perda, e antes da passagem para contencioso, é

comunicada pela área comercial a perda do cliente, que é posteriormente analisada

e tratada pelo suporte comercial. Adicionalmente existe um trabalho de lançamento

e análise de consumos em clientes de distribuidores, que se consubstancia na

emissão de uma nota de crédito. Na seleção dos indicadores são utilizados apenas

indicadores de nível unitário, dada a dificuldade de mensuração do tempo

despendido em tarefas eminentemente administrativas;

• Informação de crédito – a abertura de um novo cliente determina a análise de risco

de crédito e do cliente, sendo analisada a informação de novos contribuintes criados.

Faturação – as principais rubricas de custos com faturação estão relacionadas com:

• Custos incorridos com faturação – a atividade dos colaboradores de faturação

centra-se na emissão de faturas relativas a guias de remessa emitidas centralmente e

na introdução de encomendas a ser enviadas e emitidas pela sede. O trabalho de

faturação é induzido pela faturação de guias em aberto e sua conferência, sendo que

a introdução de encomendas um processo mais complexo em função do número de

produtos encomendados. Deste modo os indicadores utilizados diferem no número

de faturas emitidas e número de linha em encomendas introduzidas;

• Serviço de faturação – esta rubrica inclui os custos relacionados com o serviço de

faturação e colocação de encomendas eletrónica, sendo o seu custo associado à

emissão de faturas através destes portais;

• Custos incorridos com controlo de crédito – o controlo de crédito visa um reforço

das competências comerciais em termos de cobrança e controlo de valores

pendentes em conta corrente. A sua atuação passa pela ação e contacto junto dos

Page 44: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

36

clientes tendo em vista a cobrança e análise de valores em aberto em conta corrente,

nomeadamente o envio de segundas vias e comprovativos de entrega. Por se

tratarem de tarefas administrativas e cujo o registo de consumo de recursos efetivos

é de difícil alcance, mais uma vez recorre-se a indicadores de nível unitário, que não

revelam o grau de complexidade que diferentes ações podem incorporar.

Contencioso – as principais rubricas de custos com contencioso estão relacionadas com:

• Custos incorridos com advogados – a atuação dos advogados da empresa visa a

análise e acompanhamento dos processos que são enviados pela área comercial para

seu tratamento. Para tal, são realizadas e registadas diversas ações, sendo que com

base nestas iremos alocar os seus respetivos custos. Ainda assim, e tratando-se de

processos com multiplicidades de casos e complexidades, a alocação efetiva a cada

processo seria crítica, embora não exista nenhum registo de informação desta

natureza na empresa;

• Despesas de contencioso e penalidades: considerando o processo jurídico, a empresa

incorre numa diversidade de despesas que são alocadas ao respetivo processo, bem

como as penalidades inerentes a cada um dos processos, estando deste modo

sinalizados os efetivos benefícios e custos inerentes à perda do cliente.

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Back-Office

Informação

Crédito

Análise de risco de crédito a

clientes Nº novos contribuintes abertos

Aquisição

Pessoal:

Assistente

Comercial

Abertura de clientes Nº novas fichas clientes abertas Aquisição

Ação de pré-contencioso Nº de clientes com ação de pré-

contencioso

Retenção

Análise a códigos de desbloqueio Nº de códigos avaliados Retenção

Análise de renegociações e

reinvestimentos Nº de renegociações

Retenção

Atualização de ficha de clientes Nº de clientes intervencionados Retenção

Lançamento e análise de

consumos

Nº de notas crédito a

distribuidores emitidas

Retenção

Tratamento de clientes perdidos Nº de fichas de cliente perdido Perda

Page 45: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

37

Faturação

Pessoal:

Faturação

Introdução de encomendas Nº de linhas de encomendas Retenção

Emissão de faturas Nº de faturas emitidas Retenção

Serviço

Faturação

Faturação Eletrónica Nº de faturas eletrónicas Retenção

Pessoal:

Controlo

Crédito

Ações de cobrança Nº de ações de cobrança Retenção

Conciliação de contas corrente Linhas de conta corrente sujeitas a

análise

Retenção

Contencioso

Pessoal:

Advogado

Ações de Contencioso Nº de ações de contencioso Perda

Despesas Contencioso Perda

Penalidades Perda

Pessoal: Controller Geral

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 13 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO DE SUPORTE

Page 46: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

38

4.4.5. Direção Financeira

Contabilidade – pense embora à partida seja espectável que o departamento de contabilidade

não realize muitas atividades relacionadas com os produtos e os clientes, a análise das rubricas

determina algumas relações com variáveis do modelo de CLV:

• Custos incorridos com técnico de contabilidade – se a emissão de documentos

contabilísticos é um procedimento que não depende da relação com o cliente, o

técnico de contabilidade realiza igualmente o tratamento de cheques, procedendo ao

seu registo e desconto, estando este trabalho intimamente relacionado com a relação

com o cliente;

• Custos incorridos com faturas de compras – o tratamento das faturas de compras a

fornecedores refere-se na sua maioria a compras de mercadorias e matérias primas.

Este valor deverá ser incluído na valorização dos produtos, utilizando o critério de

número de linhas incluídas em faturas de compra;

• Custos incorridos com recibos – para lá da emissão de recibos em alguns clientes

que realizam pagamentos diretos e não no vendedor, faz parte das suas funções a

análise e conferência dos documentos emitidos pelos vendedores, ambas

relacionadas com a relação corrente com clientes;

• Custos de auditoria e consultoria – atendendo ao normativo em vigor a empresa

incorre em custos de auditoria que não são influenciados diretamente por nenhuma

variável do modelo, sendo que se propõe que não exista nenhuma alocação a

clientes, à semelhança dos custos de consultoria.

Financeiro – as principais rubricas de custos financeiros estão relacionadas com:

• Custos incorridos com tesoureiro – à semelhança do lançamento de compras, o

processamento de pagamentos refere-se na sua maioria a compras de mercadorias e

matérias primas. Deste modo propõe-se uma imputação dos custos com tesoureiro

em função do número de pagamentos;

• Custos de financiamento – a sua imputação junto de clientes está refletida via taxa

de desconto, que impacta diretamente no custo de retenção com clientes. Ainda

assim, diferentes clientes podem exigir investimentos em fundo de maneio que são

recuperados total ou parcialmente no final da relação comercial. Deste modo, a

evolução do valor de crédito concedido a clientes é considerada como um custo de

Page 47: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

39

retenção de clientes, considerando a sua recuperação como custo (no caso benefício)

de perda de clientes.

Recursos Humanos – sendo a sua existência elementar para o funcionamento da organização,

não se pode concluir que exista alguma relação causa-efeito entre as suas atividades e os

custos incorridos com clientes e produtos, pelo que todas as suas rubricas deverão ser

tratadas como custos gerais.

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Contabilidade

Consultoria Consultoria Geral

Custo Auditoria Custo Auditoria Geral

Pessoal:

Contabilidade

Emissão documentos contabilísticos Geral

Tratamento de cheques de

clientes Nº Cheques tratados

Retenção

Pessoal: Faturas

Compra

Lançamento de faturas de

compras

Nº linhas em faturas de

compra

Produto

Pessoal: Recibos Elaborar prestação de contas Nº Documentos emitidos Retenção

Emissão de recibos Nº Recibos sede Retenção

Financeiro

Custo

Financiamento

Custos de Financiamento Taxa de desconto Retenção

Conceção de conta corrente a

clientes novos

Variação de conta corrente

em clientes novos

Aquisição

Investimento em Fundo

Maneio

Variação de conta corrente

em clientes ativos

Retenção

Recuperação de conta

corrente

Variação de conta corrente

em clientes perdidos

Perda

Pessoal:

Tesouraria

Emissão de pagamentos Nº Ordem de pagamentos

emitidos

Produto

Recursos Humanos

Consumíveis Geral

Eventos Geral

Pessoal: Recursos Humanos Geral

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 14 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO FINANCEIRA

Page 48: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

40

4.4.6. Direção de Marketing

Marketing – apesar do seu foco quase exclusivo na relação com o cliente e na gestão do

portfólio de produtos da empresa, é a difícil alocação de custos do departamento de

marketing às variáveis que influenciam a relação de clientes, existindo muitos custos que são

associáveis a marcas, mas não a clientes. Pese embora a dificuldade de mensuração, a empresa

deveria desenvolver medidas que permitam inferir o impacto que os seus esforços de

marketing poderão impactar na captação e retenção de clientes. Ainda assim, da análise de

rubricas:

• Custos incorridos com técnico de imagem – a sua ação visa a gestão da imagem das

marcas no ponto de venda através da elaboração de maquetes, relacionadas com a

aquisição de clientes e por outro lado o desenvolvimento da imagem dos produtos

em comercialização e introduzidos no mercado. Pela sua componente criativa e

diferenciadora, poderia ser profícuo desenvolver indicadores que permitam uma

melhor inferência da afetação de recursos;

• Restantes rubricas – pese embora a maioria da informação analítica disponível

permita uma alocação às marcas e produtos comercializados pela empresa, a sua

distância face aos custos que são de facto incorridos com clientes determina que não

exista uma alocação aos custos com produtos comercializados

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Marketing

Pessoal: Técnico

Imagem

Elaborar de Maquetes e

Imagem PdV

Nº Maquetes e imagem PdV

apresentados

Aquisição

Desenvolvimento de produtos Nº de novas imagens de

produtos introduzidas

Produto

Pessoal: Comunicação Geral

Eventos Geral

Registo Marca Geral

Comunicação Marcas Geral

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 15 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO DE MARKETING

Page 49: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

41

4.4.7. Direção de Sistemas de Informação

Sistemas de informação– sendo o seu trabalho de prestar suporte informático à atividade da

empresa, os seus custos podem ser considerados como inerentes ao modelo de negócio que

a empresa utiliza e às necessidades de informatização dos processos, não sendo por isso

alocáveis a clientes por nenhuma das variáveis do modelo, sendo deste modo tratados como

custos gerais.

Rubrica Atividade Indutor Tipo

Sistemas de Informação

Suporte Informático Geral

Pessoal: Técnico Informática Geral

Pessoal: Direção Geral

FIGURA 16 - PRINCIPAIS ATIVIDADES E INDUTORES DA DIREÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

4.5. Resumo de atividades e repartição de custos

Concluída a análise aos departamentos da empresa, a figura 17 procura elencar as diferentes

atividades e a forma como estas se relacionam com as variáveis do modelo.

Será com base na mensuração de cada uma destas atividades, através de uma repartição

primária dos custos de cada um dos departamentos pelas atividades e posteriormente da sua

aplicação aos respetivos segmentos de clientes, que será possível a consubstanciação e

quantificação do modelo de CLV.

Numa análise prévia, é desde logo visível a existência de um elevado número de atividades

relacionadas com a retenção de clientes, sendo que as atividades relacionadas com produtos

têm também alguma expressão.

Em seguida, será efetuada a respetiva repartição primária por forma a compreender-se o

impacto de cada uma das variáveis na estrutura de custos global da empresa.

Page 50: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

42

FIGURA 17 - RESUMO ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E RELAÇÃO COM VARIÁVEIS DO CLV

Prospeção de

novos clientes

Negociar com

clientes

Elaborar de

maquetes e

imagem PdV

Abertura de

clientes

Análise de risco

de crédito a

clientes

Adjudicação de

compra de

materias

Análise e reserva

de equipamentos

a colocar

Recuperação de

equipamentos

Investimento em

aquisição de

clientes

Instalação de

investimentos

Introdução de

encomendas

Preparação de

encomendas

Transporte para

clientesVisitar clientes

Manutenção de

viaturas

Emissão de

faturas

Faturação

eletrónica

Lançamento e

análise de

consumos

Análise a códigos

de desbloqueio

Emissão de

recibos

Elaborar

prestação de

contas

Ações de

cobrança

Conciliação de

contas corrente

Tratamento de

cheques de

clientes

Investimento em

Fundo Maneio

Ação de pré-

contencioso

Análise de

renegociações e

reinvestimentos

Atualização de

ficha de clientes

Receção de

pedidos de

assistência

Prestação de

serviço de

assistência

Comunicação de

cliente perdido

Tratamento de

clientes perdidos

Receção de

pedidos de

levantamento

Levantamento de

investimentos

Ações de

contencioso

Despesas

contenciosoPenalidades

Recuperação de

conta corrente

Emissão de

ordens de

compras

Transporte e

compra de

matéria-prima

Receção de

Mercadorias

Conferência de

Stock

Preparação

cargas viaturas

Lançamento de

faturas de

compras

Emissão de

pagamentos

Análise de

matéria-prima

Análise de

mercadorias

Torra de matéria-

prima

Consumo de

eletricidade

equipamentos

Controlo de

equipamentos de

produção

Controlo ciclo

produtivo

Manutenção de

equipamento

industrial

Desenvolviment

o de produtos

Aquisição

Retenção

Perda

Produto

Page 51: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

43

Uma vez descritas as principais atividades inerentes às diferentes rubricas de custos, importa

proceder à repartição primária dos custos das rubricas pelas respetivas atividades, bem como a

identificação e quantificação dos seus indutores. Esta repartição visa a consubstanciação

numérica do modelo teórico do CLV e a perceção da repartição dos custos da empresa às

variáveis de aquisição, retenção, perda e margem.

A figura 18 procura resumir essa mesma repartição que foi levada a cabo. Em algumas das

atividades a informação de custos por rubricas atualmente existentes na empresa não possibilita

uma identificação direta dos custos incorridos de facto nessas atividades, pelo que foi necessário

assumir alguns pressupostos em termos de afetação de recursos em cada atividade. Assim sendo,

poderá ser importante para uma determinação mais apurada dos custos incluídos, que a empresa

consiga sinalizar e desenvolver mecanismos de identificação dos consumos efetivos e do esforço

aplicado em cada atividade. A título de exemplo, a repartição dos custos com vendedores pelas

diversas atividades seguiu um pressuposto de tempo teórico, que cada indutor das atividades

que estes realizam consome, uma vez que não existem registos efetivos de consumos de tempo

dedicado à prospeção de novos clientes, negociação com clientes, visitas e levantamentos de

investimentos. Essa limitação já havia sido sinalizada como ponto de melhoria para a

determinação de indutores que aproximem a alocação de custos, de acordo com a real afetação

de esforço e recursos da empresa.

Passando para a análise da repartição primária propriamente dita, podemos imediatamente

concluir que existe um elevado peso dos custos com retenção de clientes, que significam 60%

dos custos totais da empresa. Deve ser dada ênfase a esta conclusão, uma vez que apesar de na

empresa se entender a aquisição de clientes como essencial para o negócio, uma grande parte

dos custos estão direcionados para a retenção, ressalvando-se a necessidade de maior foco na

empresa em atuar junto destes custos, por forma a conseguir aumentar o valor da relação com

o cliente.

Por outro lado, e tal como seria expectável, dada a natureza do negócio, os custos de aquisição

seguem-se como a segunda categoria com maior relevo (29%), o que revela a elevada rotação e

índice de aquisição de clientes que se verifica na empresa. Os custos de aquisição têm inerentes

a si uma necessidade do diferimento desses valores, uma vez que se referem a uma relação

comercial que vigora por um determinado período. Contabilisticamente existe, normalmente,

uma depreciação e diferimento de custos em função da vida útil do bem e do período a que se

referem, respetivamente, sendo esta uma limitação, uma vez que se reconhecem as atividades

Page 52: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

44

de aquisição como um elemento inerente ao início da relação comercial, não sendo mais

incluídos nos restantes períodos.

A elevada rotação de clientes impacta igualmente nos custos de perda, que neste caso

representam um benefício para a empresa, uma vez que a perda de clientes implica, por um lado,

a recuperação do crédito concedido, pela via da redução de conta corrente, e por outro lado, a

obtenção de penalidades contratuais que estão implícitas no fim da relação comercial com os

clientes. No que respeita aos custos de perda, obviamente que esses benefícios são líquidos dos

custos suportados com a perda efetiva dos clientes, pese embora deva ser ressalvado que não

estão incluídos eventuais impactos negativos em termos de marcas e outros efeitos negativos na

carteira de clientes atual e futura que a perda de clientes implica.

A última rubrica em termos de variáveis de modelo está relacionada com os custos direcionados

para atividades associadas aos produtos e à sua disponibilização junto dos clientes. Apenas 5%

dos custos relacionados com atividades são direcionados para os produtos, apesar de existirem

um elevado número de atividades identificadas. Estes valores excluem os custos com matérias

primas e mercadorias comercializadas. O seu reduzido peso demonstra, igualmente, que uma

análise de clientes confinada apenas à margem bruta estaria a desconsiderar uma elevada

percentagem de custos que são, igualmente e diretamente, relacionados com clientes.

Adicionalmente, os custos gerais representam 13% dos custos com atividades incorridas na

empresa, sendo que não serão tratados pelo modelo, nem alocados a nenhum segmento de

clientes em específico, uma vez que, pela análise de custos efetuada anteriormente, não foi

possível identificar atividades que os relacionem com os clientes ou com os produtos. A sua

alocação a quaisquer segmentos poderia enviesar e deturpar a análise de valor acrescentado da

relação com os clientes.

Como conclusão, o reduzido peso nos custos relacionados com produtos e custos gerais (18%),

pode ser, à partida, algo surpreendente numa empresa industrial, sendo, no entanto,

demonstrador de que a relação com o cliente é de facto o ponto vital para a organização e para

a determinação dos custos que a empresa incorre em cada momento.

Page 53: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

45

FIGURA 18 - REPARTIÇÃO PRIMÁRIA DE CUSTOS PELAS ATIVIDADES

Tipo Atividade Valor Indutor Driver Indutor

Aquisição Prospeção de novos clientes 313 000 € 9 505 33 € Nº Visitas a clientes potenciais

Aquisição Negociar com clientes 263 550 € 2 764 95 € Nº Propostas apresentadas

Aquisição Elaborar de maquetes e imagem PdV 9 000 € 1 937 4,6 € Nº Maquetes e Imagem PdV apresentados

Aquisição Abertura de clientes 10 200 € 1 771 5,8 € Nº novas fichas clientes abertas

Aquisição Análise de risco de crédito a clientes 4 500 € 1 607 2,8 € Nº novos contribuintes abertos

Aquisição Adjudicação de compra de materiais 17 550 € 2 321 7,6 € Nº linhas específicas em Propostas comerciais

Aquisição Análise e reserva de equipamentos a colocar 8 400 € 3 662 2,3 € Nº Equipamentos reservados

Aquisição Recuperação de equipamentos 690 850 € 22 630 31 € Tempo para recuperações em oficina

Aquisição Instalação de investimentos 88 450 € 3 013 29 € Tempo para instalação de equipamentos

Aquisição Investimento em aquisição de clientes 1 050 000 € n/a n/a n/a

Aquisição Conceção de conta corrente a clientes 245 142 € n/a n/a Variação de conta corrente em clientes novos

Retenção Introdução de encomendas 6 000 € 21 900 0,27 € Nº de linhas de encomendas

Retenção Preparação de encomendas 46 000 € 21 900 2,1 € Nº de linhas de encomendas

Retenção Transporte para clientes 110 000 € n/a n/a n/a

Retenção Visitar clientes 1 936 200 € 119 768 16 € Nº Visitas a clientes existentes

Retenção Manutenção de viaturas 12 000 € 58 207 € Nº Viaturas

Retenção Emissão de faturas 6 000 € 7 495 0,80 € Nº de Faturas emitidas

Retenção Faturação eletrónica 2 500 € 376 6,6 € Nº de Faturas eletrónicas

Retenção Lançamento e análise de consumos 12 364 € 347 36 € Nº de notas crédito a distribuidores emitidas

Retenção Análise a códigos de desbloqueio 10 200 € 1 531 6,7 € Nº de códigos avaliados

Retenção Emissão de recibos 8 500 € 3 731 2,3 € Nº Recibos Sede

Retenção Elaborar prestação de contas 8 500 € 9 276 0,92 € Nº Documentos Emitidos

Retenção Ações de cobrança 6 000 € 4 732 1,3 € Nº de ações de cobrança

Retenção Conciliação de contas corrente 6 000 € 3 007 2,0 € Linhas de Conta corrente sujeitas a análise

Retenção Tratamento de cheques de clientes 10 000 € 1 927 5,2 € Nº Cheques tratados

Retenção Investimento em fundo de maneio 82 668 € n/a n/a Variação de conta corrente em clientes ativos

Retenção Investimento em manutenção de clientes 2 450 000 € n/a n/a n/a

Retenção Ação de pré-contencioso 10 880 € 1 899 5,7 € Nº de clientes com ação de pré-contencioso

Retenção Análise de renegociações e reinvestimentos 118 880 € 827 144 € Nº de renegociações

Retenção Atualização de ficha de clientes 7 356 € 69 312 0,11 € Nº de clientes intervencionados

Retenção Prestação de serviço de assistência 653 850 € 12 655 52 € Tempo/Distância para prestação de assistência

Perda Comunicação de cliente perdido 36 000 € 1 854 19 € Nº de Fichas de Cliente Perdido

Perda Tratamento de clientes perdidos 6 120 € 1 854 3,3 € Nº de Fichas de Cliente Perdido

Perda Levantamento de investimentos 106 700 € 910 117 € Tempo/Distância para levantar equipamentos

Perda Ações de contencioso 65 000 € 33 427 1,9 € Nº de ações de contencioso

Perda Despesas contencioso 300 000 € n/a n/a n/a

Perda Penalidades -990 000 € n/a n/a n/a

Perda Recuperação de conta corrente -213 596 € n/a n/a Variação de conta corrente em clientes perdidos

Produto Emissão de ordens de compras 9 450 € 4 916 1,9 € Nº Ordens de Compra

Produto Transporte e compra de matéria-prima 105 000 € 2 300 000 0,05 € Volume matéria-prima consumida

Produto Receção de mercadorias 46 000 € 1 990 23 € Nº Receções de Mercadoria

Produto Conferência de stock 5 750 € 300 19 € Qtd de artigos em Stock

Produto Preparação cargas viaturas 17 250 € 3 489 4,9 € Nº Cargas Viaturas

Produto Lançamento de faturas de compras 12 000 € 57 000 0,21 € Nº linhas em Faturas de Compra

Produto Emissão de pagamentos 17 000 € 4 080 4,2 € Nº Ordem de Pagamentos Emitidos

Produto Análise de matéria-prima 6 250 € 2 300 000 0,00 € Volume matéria-prima consumida

Produto Análise de mercadorias 6 250 € 10 968 0,57 € Nº linhas artigos rececionados

Produto Torra de matéria-prima 42 000 € 2 300 000 0,02 € Volume matéria-prima consumida

Produto Consumo de eletricidade equipamentos 58 000 € 5 449 11 € Horas de produção

Produto Controlo de equipamentos de produção 103 000 € 5 449 19 € Horas de produção

Produto Controlo ciclo produtivo 6 250 € 2 000 000 0,00 € Volume Produto Acabado produzido

Produto Manutenção de equipamento industrial 55 000 € 4 325 13 € Horas Máquina

Produto Desenvolvimento de produtos 9 250 € 3 188 2,9 € Nº de testes de produto

Total 9 196 214 € 100%

Retenção 5 503 898 € 60%

Aquisição 2 700 642 € 29%

Perda -689 776 € -8%

Produto 498 450 € 5%

Geral 1 183 000 € 13%

Page 54: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

46

4.6. Análises tradicionais de clientes

Uma vez efetuada a repartição dos custos da empresa pelas respetivas atividades e determinação

dos indutores disponíveis e mais adequados ao momento atual, o próximo passo visa a alocação

aos respetivos segmentos de clientes que a empresa opera. Tal constituirá a base para a aplicação

e determinação do valor dos clientes para a empresa. Numa abordagem inicial, será elaborada

uma análise dos métodos mais tradicionais anteriormente discutidos, isto é, vendas, margem

bruta e rentabilidade. Posteriormente confronta-se os resultados obtidos com os da aplicação

do CLV. Esta proposta consubstancia-se na figura 19, que resume os custos e investimentos

incorridos anualizados e a sua proposta de distribuição.

Como primeira nota, podemos entender o quadro como a aplicação de uma análise de

rentabilidade mais standard no que respeita a segmentos de clientes, ainda que com ligeiras

variantes relativamente ao tratamento de alguns custos, nomeadamente a questão do

investimento em clientes, uma vez que os valores apresentados não estão sujeitos a qualquer

depreciação ou outro tratamento contabilístico, representando o seu valor anual absoluto. Outra

das variantes é reconhecer a variação de alguns saldos como input para as rubricas, no caso o

aumento do saldo de clientes com os quais a empresa inicia uma relação comercial, a sua variação

uma vez estabelecida a relação comercial e a sua redução no momento da perda do cliente. Este

reconhecimento reflete e aproxima-se de eventuais valores que não se consigam recuperar no

momento da perda do cliente e da sua variação ao longo da relação comercial, o que

contabilisticamente é tratado através de estimativas para imparidades de clientes.

Tendo em consideração estas notas entre o modelo aplicado e uma proposta contabilística mais

clássica, podemos considerar que esse primeiro quadro consegue resumir e retirar conclusões

no que respeita à rentabilidade dos diversos segmentos da empresa, em termos de benefícios e

custos obtidos anualmente.

Por forma a complementar a análise utilizada para a proposta de CLV como método mais

detalhado de análise de clientes, irá ser tomada a figura 1 que analisa a dicotomia entre os

diferentes critérios de segmentação de clientes. Utilizando o critério de avaliação através do

volume de vendas, é percetível que o segmento de HoReCa Vendedores apresenta maiores

valores, seguido do HoReCa Agentes e Cash & Carry. Contudo, esta análise e critério para a

hierarquização de clientes estaria distorcida uma vez que, conforme é notado no quadro, existem

diferentes margem dos produtos para os referidos canais – a título de exemplo, apesar do

Page 55: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

47

volume de vendas, a margem dos produtos no Cash & Carry é substancialmente inferior (8%)

à média da empresa (56%). Deste modo, deve ser alargada a análise à margem dos produtos,

refletindo essas assimetrias em termos de margem. Assim, passamos a ter o Office em

detrimento do Cash & Carry como terceiro segmento que acrescenta maior margem anual de

comercialização dos produtos. No HoReCa, a alteração de critério não determina quaisquer

alterações, uma vez que não existem diferenças relevantes em termos de margem percentual

quer entre si, quer face à empresa. A alteração de critério de vendas para a margem consegue

que o canal com menor expressão em termos de volume de vendas, se torne no terceiro canal

com maior contribuição para margem bruta anual global.

Atendendo que a tipologia de serviços prestados pela empresa a cada segmento difere, a margem

dos produtos não consegue apurar de forma eficaz os contributos líquidos para o resultado

global da empresa. Deste modo, e recorrendo à imputação e atribuição de custos relacionados

com clientes aos respetivos canais, conseguiremos determinar uma margem mais apurada no

que respeita ao seu real contributo para os resultados da empresa. À partida, e de acordo com

as perceções que existem, é expectável que os canais com maior margem dos produtos sejam

maiores consumidores de recursos internos e exigentes em termos de serviço ao cliente. As

conclusões da aplicação do modelo confirmam-no, tendo em conta que, por exemplo, no

Office, os custos anuais incorridos com clientes representam 72% do volume de vendas, tendo

o HoReCa Vendedores um custo de serviço 38% e o HoReCa Agentes de 29%.

A alteração de critério para uma análise de rentabilidade dita conclusões similares ao critério do

volume de vendas, ainda que o diferencial dos segmentados de HoReCa face aos restantes

aumente substancialmente. Podem igualmente ser consideradas outras conclusões que poderão

ter reflexo igualmente na estratégia que a empresa leva a cabo em termos de canais, uma vez

que o Retalho e o Office apresentam margem nulas e negativas respetivamente, ao passo que o

Vending é, após os segmentos de HoReCa, aquele com maior margem, apesar de ser atualmente

o segmento com menor volume de vendas. Deste modo, poderíamos à partida concluir que,

apenas com base na análise de rentabilidade, e não considerando outras variáveis estratégicas e

internas à empresa, o foco deveria ser exclusivo no HoReCa e nos restantes segmentos a aposta

dirigida ao Vending, uma vez que existe uma maior margem líquida. Deveria igualmente ser

equacionado o abandono ou reformulação da estratégia de atuação em segmentos como o

Retalho e o Office – que potencialmente estaria condenado ao abandono, dada a sua forte

contribuição negativa para os resultados globais da empresa.

Page 56: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

48

As conclusões apresentadas não consideram, contudo, o horizonte temporal que os esforços

alocados aos recursos existentes e os benefícios que poderão trazer à organização. Para se

considerar a análise da margem líquida efetuada, importa analisar sob uma outra perspetiva a

natureza dos custos apresentados e o que induz as suas diferenças. Uma grande parte dos custos

com o Office respeitam a custos de aquisição com clientes, o que reflete os investimentos feitos

pela empresa para a angariação de novos clientes para este canal. Obviamente que considerar

este custo na análise de rentabilidade, não é possível medir os benefícios esperados que essa

angariação de clientes irá proporcionar ao longo da relação comercial, cujos não conseguem ser

medidos num único período, mas que são mensuráveis através do valor que a relação com o

cliente irá proporcionar à empresa. É com vista a este fim que se propõe a aplicação do modelo

de CLV, que visa evitar uma certa “miopia” da análise de rentabilidade no que concerne à relação

comercial. Naturalmente que este efeito é tanto mais evidente quanto maior for a dinâmica que

os segmentos de clientes apresentem, o que reforça a importância da existência de uma alterativa

à avaliação de rentabilidade de clientes, uma vez que um maior esforço na abertura de novos

clientes e para crescimentos sustentados e futuros, podem ser interpretados como elementos

que não acrescentam valor. É com vista à mensuração desse valor, que será analisado o próximo

tópico.

Page 57: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

49

FIGURA 19 - RESUMO COM IMPUTAÇÃO DE CUSTOS TOTAIS ANUAIS POR SEGMENTO DE CLIENTES

Custo TotalHoReCa

Vendedores

HoReCa

AgentesRetalho

Cash &

CarryOffice Vending

Vendas 22 003 314 € 16 608 314 € 2 700 000 € 700 000 € 1 500 000 € 375 000 € 120 000 €

Custo Produtos -9 698 450 € -6 211 668 € -1 288 218 € -588 818 € -1 385 387 € -138 732 € -85 627 €

Margem Produtos 12 304 864 € 10 396 646 € 1 411 782 € 111 182 € 114 613 € 236 268 € 34 373 €

Custo Líquido Aquisição -2 700 675 € -2 247 314 € -234 936 € -30 495 € -53 255 € -126 017 € -8 658 €

Custo Líquido Retenção -5 503 906 € -4 405 283 € -780 062 € -92 052 € -60 193 € -146 134 € -20 182 €

Custo Líquido Perda 689 808 € 410 872 € 231 285 € 15 835 € 27 120 € 810 € 3 887 €

Custo Líquidos Gerais -1 183 000 €

Custos Totais -8 697 773 € -6 241 726 € -783 713 € -106 712 € -86 329 € -271 340 € -24 954 €

Margem Anual 3 607 091 € 4 154 920 € 628 069 € 4 470 € 28 285 € -35 072 € 9 419 €

Custo Produtos % Vendas -44% -37% -48% -84% -92% -37% -71%

Margem Produtos % Vendas 56% 63% 52% 16% 8% 63% 29%

Custo Líquido Aquisição % Vendas -12% -14% -9% -4% -4% -34% -7%

Custo Líquido Retenção % Vendas -25% -27% -29% -13% -4% -39% -17%

Custo Líquido Perda % Vendas 3% 2% 9% 2% 2% 0% 3%

Custo Líquidos Gerais % Vendas -5%

Custos Totais % Vendas -40% -38% -29% -15% -6% -72% -21%

Margem Anual % Vendas 16% 25% 23% 1% 2% -9% 8%

Page 58: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

50

4.7. Aplicação do modelo CLV

Por forma a conseguir aplicar e calcular o valor da relação com o cliente, importa apurar os

valores com cada uma das suas variáveis. Deste modo, é necessário apurar o número de clientes

conquistados, perdidos e ativos no período em análise, e que determinam os valores

apresentados anteriormente. A informação disponível da empresa possibilita a identificação

desta informação de forma fiável, uma vez que existe monitorização desta informação com base

mensal. Uma limitação face ao modelo proposto é a questão da taxa de aquisição de clientes,

atendendo à falta de informação sobre a quantidade de clientes em prospeção face ao número

de clientes conquistados. Esta limitação implica que não seja possível medir com fiabilidade a

eficácia da prospeção de novos clientes e a sua respetiva taxa de sucesso – sugere-se deste modo

à empresa que desenvolva mecanismos que permitam identificar os seus prospetos, por forma

a conseguir, inclusive, monitorizar a sua capacidade em angariar clientes no mercado e

compreender outro tipo de problemas operacionais com a sua abertura.

Não obstante da taxa de aquisição, todas as restantes variáveis são possíveis de calcular com a

informação já disponibilizada. Deste modo, os custos de aquisição por cliente resultam da

divisão dos custos de aquisição pelo número de clientes conquistados, os custos de retenção

resultam da divisão dos custos de retenção pelo número de clientes ativos e os custos de perda

são relativos ao número de clientes perdidos – ver figura 20.

Para análise interna da empresa, pode naturalmente ser indicada uma análise exaustiva a cada

uma das atividades que são geradoras dos custos que estão a ser alocados a cada uma das

variáveis e segmentos. Neste âmbito, iremos passar a analisar as principais variações entre

segmentos, atendendo a que os custos das variáveis de aquisição, retenção e perda diferem.

Em termos de custos de aquisição com clientes, os valores absolutos sofrem algum

enviesamento pelo efeito da conceção de crédito a clientes no momento inicial, determinando

um maior valor para o Cash & Carry, uma vez que se tratam de clientes de volume e com prazos

de pagamento mais dilatados face aos restantes – o que influencia igualmente os custos de perda.

Para além desta questão, importa notar que o segmento HoReCa Vendedores apresenta um

custo de aquisição mais elevado, considerando maiores necessidades de investimento inicial –

tal como nos Agentes, embora estes apresentem menores custos uma vez que existe uma

partilha de esforços.

Page 59: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

51

No que respeita à manutenção de clientes, apesar das atividades realizadas diferirem em grande

medida, não existem grandes diferenças em termos de valores por cliente, o que ainda assim não

é revelador dos diferentes consumos de recursos e alocações por segmentos de cada atividade.

A título de exemplo, os segmentos do HoReCa exigem muito mais em termos de custos com

as visitas regulares a clientes, serviço de assistência e em termos de renegociações e

reinvestimentos, ao passo que os restantes canais são mais consumidores em termos de custos

com transportes para clientes, tratamento de encomendas e emissão de faturas e outros

pequenos processos administrativos de emissão de recibos e análises de conta corrente. Deste

modo, a aplicação do modelo possibilita uma melhor compreensão dos custos incorridos com

os diferentes modos de servir e reter os clientes em cada um dos canais. Adicionalmente,

importa notar que apesar dos valores serem similares, cada canal apresenta diferentes margens

absolutas por cliente, o que implica que o valor acrescentado para a empresa deste esforço de

retenção seja distinto.

Por fim, os custos de perda são apresentados como benefícios líquidos. Tal deriva de os

benefícios, obtidos com penalidades contratuais (no caso do HoReCa) e recuperação dos valores

de conta corrente em aberto, suplantarem os custos que a empresa incorre com o fim da relação

comercial, nomeadamente com o tratamento administrativo, o levantamento dos investimentos,

ou eventuais ações de contencioso. Ainda assim é possível observar que, para além do Cash &

Carry - pelo efeito de conta corrente; e no HoReCa - pelo efeito das penalidades, existem

diferenças consideráveis entre cada um dos segmentos no que respeita ao benefício líquido pela

perda de clientes. Como nota complementar e ainda prévia a outras conclusões, importa

salientar que a apresentação da perda de um cliente como um indicador com saldo benéfico,

não significa que o aumento dos índices de perda determine um aumento do valor da carteira

ou sequer de um aumento da rentabilidade para a empresa. Para tal é necessário considerar que

a perda de um cliente implica, por um lado, a não obtenção da margem de comercialização, e

por outro, a diminuição da taxa de retenção de clientes, o que impacta direta e negativamente

no CLV.

Uma vez explanadas as principais diferenças da aplicação das variáveis do CLV, é relevante

analisar os respetivos resultados. Concretizando: o segmento de HoReCa Vendedores

apresenta-se como o principal elemento de criação de valor para a empresa, com cada cliente da

carteira a adicionar 4 996€ ao longo da sua relação comercial com a empresa. No segmento de

HoReCa Agentes esse valor cai para metade (2 501€) o que é revelador, por um lado, da menor

Page 60: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

52

margem de comercialização que a empresa opera neste segmento, mas também de uma menor

vida útil do cliente estimada a partir de uma taxa de retenção de 73%. Dando relevo a este fator,

importa destacar que este diferencial seria altamente atenuado se a empresa conseguisse igualar

a capacidade de retenção destes clientes para 84% dos vendedores. Se tal se verificasse, e

atendendo a que o que difere os segmentos é apenas a forma de abastecimento dos mesmos, o

valor por cliente dos agentes passaria para 3 512€. Deste modo, podemos concluir que o CLV

consegue captar não só informação sobre os custos e rendimentos obtidos num determinado

período, como reconhecer valor ao aumento da capacidade de retenção desses mesmos clientes.

Após a análise, revendo apenas os custos e rendimentos incorridos numa perspetiva anual,

teríamos sido induzidos a abandonar o segmento de Office. Contudo, a aplicação do CLV

determina este como o terceiro canal em que cada cliente mais contribui, com um valor de 1 434

€ por cliente. Esta variação é facilmente justificada pelo elevado índice de abertura neste canal

(145 clientes novos em 252 clientes ativos), o que determina elevados investimentos e custos

com a aquisição, que acontecem apenas num momento e não se irão manter ao longo da relação

comercial. Deste modo, é possível compreender o incremento que esse investimento está a

proporcionar na carteira, bem como quantificar o seu valor absoluto, uma vez que a abertura de

clientes possibilitou um aumento de 207 930 € na carteira para 361 351 €, conseguindo-se deste

modo analisar os benefícios que se perspetivam já descontados dos custos incorridos e refletidos

na análise de rentabilidade normal.

Como última conclusão, podemos indicar que todos os segmentos de clientes em que a empresa

opera adicionam valor para a organização, ainda que o contexto de escassez de recursos e

necessidade de efetuar uma alocação mais correta desses recursos tenha por base os diferentes

valores que cada um destes segmentos implica e acarreta.

Page 61: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

53

FIGURA 20 - APLICAÇÃO DO CLV AOS SEGMENTOS DE CLIENTES

Custo TotalHoReCa

Vendedores

HoReCa

AgentesRetalho

Cash &

CarryOffice Vending

Nº Clientes Conquistados 1 307 cl 896 cl 218 cl 30 cl 12 cl 145 cl 6 cl

Nº Clientes Perdidos 1 400 cl 954 cl 325 cl 40 cl 19 cl 52 cl 10 cl

Nº Clientes Ativos 6 497 cl 5 104 cl 899 cl 139 cl 80 cl 252 cl 23 cl

Nº Clientes Total 7 897 cl 6 058 cl 1 224 cl 179 cl 99 cl 304 cl 33 cl

Taxa de aquisição 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Vendas por cliente 2 786 € 2 742 € 2 206 € 3 911 € 15 152 € 1 234 € 3 636 €

Margem Produtos por cliente 1 558 € 1 716 € 1 153 € 621 € 1 158 € 777 € 1 042 €

Custo Líquidos Aquisição por cliente -2 066 € -2 508 € -1 078 € -1 016 € -4 438 € -869 € -1 443 €

Custo Líquidos Retenção por cliente -697 € -727 € -637 € -514 € -608 € -481 € -612 €

Custo Líquidos Perda por cliente 493 € 431 € 712 € 396 € 1 427 € 16 € 389 €

Taxa retenção 82% 84% 73% 78% 81% 83% 70%

Vida útil 5,6 anos 6,4 anos 3,8 anos 4,5 anos 5,2 anos 5,8 anos 3,3 anos

Taxa de desconto 2,50% 2,50% 2,50% 2,50% 2,50% 2,50% 2,50%

Margem Bruta Anual 1 558 € 1 716 € 1 153 € 621 € 1 158 € 777 € 1 042 €

Custo Aquisição -2 066 € -2 508 € -1 078 € -1 016 € -4 438 € -869 € -1 443 €

Fator Retenção 4 257 € 5 420 € 1 776 € 430 € 2 534 € 1 512 € 1 311 €

Fator Perda 429 € 368 € 648 € 354 € 1 255 € 13 € 358 €

Valor Cliente 4 178 € 4 996 € 2 501 € 389 € 509 € 1 434 € 1 268 €

Valor Carteira 28 233 223 € 25 499 797 € 2 248 102 € 54 102 € 40 713 € 361 351 € 29 157 €

Page 62: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

54

4.8. Discussão dos resultados

Tendo como objetivo do estudo de caso a aplicação prática do modelo de CLV, podemos

concluir que a mesma se considerou viável e como elemento que acrescenta valor para a

organização.

É indissociável desta análise o efeito paradoxal entre conclusões que se podem tirar através

dos diferentes critérios de avaliação de clientes, sejam as vendas, a margem bruta, a

rentabilidade ou o CLV, podendo ser concluído que a introdução de critérios mais complexos

e completos introduz uma melhor informação para a tomada de decisão, aproxima a empresa

do racional de maximização do valor da empresa como um todo e de uma mais direcionada

atuação junto de cada cliente.

A tabela seguinte visa resumir a posição relativa de cada segmento, de acordo com o critério

de avaliação de clientes. Tal como foi sendo apontado ao longo das secções anteriores,

existem diferentes margens de comercialização dos produtos em cada segmento, o que

depende da estratégia e capacidade negocial da empresa, daí os critérios de volume de vendas

e margem bruta apresentarem divergências. Adicionalmente, tal como é percebido na

organização, os custos de servir divergem, pelo que a rentabilidade apresentada encontra

variações face aos critérios anteriores. O principal efeito de alteração entre a análise de

rentabilidade e CLV está no Office, que passa de um segmento com rentabilidade anual

negativa, para o terceiro com maior valor por cliente. Tal reflete, e conforme mencionado

anteriormente, um elevado índice de abertura de clientes, o que impacta diretamente nos

custos de aquisição incorridos e imputados a este segmento, onerando a sua rentabilidade no

período em análise. Este impacto seria tanto maior, quando mais fino o nível de análise, isto

é, quando aplicado a cada cliente, as diferenças entre critérios tornar-se-ia mais significativa.

FIGURA 21 - ANÁLISE DE RANKING DE SEGMENTOS DE ACORDO COM CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO

Segmento VendasMargem

Bruta

Rentabili

dade

Valor

Cliente

Valor da

Carteira

HoReCa Vendedores 1 º 1 º 1 º 1 º 1 º

HoReCa Agentes 2 º 2 º 2 º 2 º 2 º

Retalho 4 º 5 º 5 º 6 º 4 º

Cash & Carry 3 º 4 º 3 º 5 º 5 º

Office 5 º 3 º 6 º 3 º 3 º

Vending 6 º 6 º 4 º 4 º 6 º

Page 63: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

55

Atendendo a que o âmbito do estudo visa propor o CLV como elemento que consegue ir

além da análise de rentabilidade, podemos concluir que o principal fator de diferenciação

prende-se com a capacidade em conseguir avaliar num horizonte temporal, no qual os custos

e benefícios se referem, não se confinando a apenas um ano ou a critérios contabilísticos de

diferimento temporal de custos. Por outro lado, é possível compreender que as diferentes

atividades podem ser relacionadas com diferentes momentos da relação com o cliente,

exigindo-se uma análise do trade-off de recursos afetos, tendo em vista uma melhor e mais

benéfica relação com o cliente. Outras das vantagens passam pela possível gestão de serviços

aos clientes, através do seu alargamento ou redefinição, bem como a análise das atividades

que de facto acrescentam valor para o cliente e para a empresa. Por último, torna-se

mensurável o impacto de decisões de gestão no cliente ao nível dos custos com as atividades

de outras variáveis, como a capacidade de aquisição e retenção de clientes, que são fatores

não destacados e facilmente identificáveis numa análise de rentabilidade.

Propõe-se, assim, uma análise interna detalhada das variáveis e das atividades nelas inseridas

por parte da empresa, já em linha com as conclusões e determinações que os resultados da

aplicação do modelo apontam.

Em termos de utilização mais estratégica, o apuramento do CLV pode ser utilizado como

ferramenta de reavaliação da estratégia em vigor para cada segmento, facilitando igualmente

a compreensão do impacto de eventuais alterações estratégicas na rentabilidade imediata da

empresa, por um lado, mas igualmente no valor da carteira de clientes e, consequentemente,

no valor da empresa.

Outra sugestão, que poderá ser tomada em consideração pela empresa, passa pela avaliação

de critérios de segmentação de clientes mais adaptados a diferentes especificidades, afetando

o valor do cliente e a forma como este é servido. A título de exemplo, podem ser

considerados fatores como a contratação, dimensão dos clientes dentro do mesmo segmento

ou distribuição geográfica dos mesmos. Deste modo, poderão ser retiradas conclusões que

adicionem mais valor para a gestão, que possibilitem uma atuação mais focada e que

acrescentem valor junto dos clientes e para as empresas.

Genericamente, e como principais conclusões para a gestão da empresa em estudo, podem

ser tomadas as seguintes considerações:

Page 64: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

56

• Componente de custos de aquisição de clientes com peso significativo, pelo que é

importante efetuar uma análise ao valor acrescentado da aquisição de clientes;

• Mais de metade os custos da empresa são direcionados para a retenção de clientes,

sendo muitos desses custos não relacionados com a rede comercial, pelo que será

importante analisar drivers de custos e quais os seus impactos e benefícios ao nível da

retenção de clientes;

• Os custos de perda - ainda que apresentados como benefícios líquidos, através da

obtenção de penalidades; carecem de análise de custo benefício entre perda do cliente

- com o abdicar da sua margem de contribuição anual, diluição de custos de aquisição

e outros impactos não mensurados diretamente; e respetiva poupança ao nível dos

custos de retenção e penalidades potenciais;

• Apesar de se tratar de uma empresa industrial, o peso dos custos relacionados com

produtos na estrutura global da empresa é reduzido;

• Necessidade de desenvolver e aplicar um sistema de custeio que permita

acompanhamento de custos, uma vez que, para além da margem de comercialização,

existem diferentes custos de servir os clientes, seja ao nível da aquisição, retenção ou

perda de clientes, pelo que análises de vendas ou margem podem estar sujeitas a forte

enviesamento:

• Compreender que a rentabilidade anual pode ser enviesada por custos de natureza

não anual e com um horizonte temporal mais alargado, podendo levar a decisões

estratégicas não consonantes com o real valor que os clientes adicionam à empresa;

• A proposta de modelo aponta para que todos os segmentos acrescentem valor para

a organização, pelo que será importante escalar e direcionar a atuação num contexto

de escassez de recursos;

• Necessidade de avaliar e aprofundar análise a clientes com maior, menor e valor de

relação negativo, por forma a conseguir uma atuação específica junto destes e

incrementando o valor da empresa.

Page 65: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

57

5. Conclusões

Este trabalho visa a proposta de um modelo de análise de clientes que consiga avaliar o valor

que os clientes adicionam à organização durante a sua relação com a empresa.

Relativamente à operacionalização do CLV, conclui-se que a utilização do sistema de custeio

ABC possibilita a consubstanciação do modelo, ainda que exista alguma complexidade e

necessidade de desenvolvimento nos sistemas de informação das organizações, por forma a

conseguir-se uma mensuração o mais correta possível das suas atividades, sob pena de

enviesar completamente conclusões que se possam retirar do modelo. Ainda assim, as suas

limitações e dificuldades não distam muito de uma análise de rentabilidade de clientes mais

clássica. Através deste estudo, é possível identificar diversas utilidades em que o CLV,

aplicado e conjugado com um sistema de custeio que consiga captar os principais drivers de

custo, acrescenta valor. Pode afirmar-se que o estudo proporcionou a concretização das

premissas iniciais, isto é, o CLV apresenta-se como um método de avaliação e mensuração

do valor de clientes que acrescenta valor, com um potencial de aplicação prática e com

utilidade para os utilizadores da informação.

A sua utilização acrescenta valor para a análise de clientes, uma vez que, essencialmente,

existe uma desmistificação da análise de rentabilidade anual como método único de avaliação

de rentabilidade e do desempenho da organização. Tal é conseguido através de menor foco

na anualização de custos, analisando não só a tipologia de custos que são induzidos por

clientes num período restrito, mas também no respetivo horizonte temporal em que essa

relação se proporciona – mais do que uma eventual análise de diferimento e especialização

muito apurada, em busca de uma anualização o mais correta possível dos custos. Deste

modo, pode ser concluído que o CLV disponibiliza uma análise num horizonte alargado,

considerando os benefícios e custos que a relação com o cliente implicam para a empresa.

Adicionalmente, possibilita uma melhor compreensão dos resultados anuais da empresa à luz

da estratégia que está a ser levada a cabo, bem como uma melhor mensuração do impacto

que futuras estratégias poderão ter nos resultados futuros das organizações. Como último

grande valor acrescentado, pode ser identificado o potencial do CLV para avaliação de

empresas como um todo, sendo o valor da empresa determinado pelo somatório do valor

dos clientes que a compõe – neste aspeto será essencial explorar o tratamento dos custos

gerais que não são considerados pelo modelo. Por outro lado, o modelo não penaliza

empresas que estejam em investimento e em franco crescimento, podendo ser apontado

Page 66: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

58

como potencial elemento com capacidade de avaliar empresas que se enquadrem neste

cenário – permitindo igualmente que exista um aumento do foco no valor acrescentado para

as empresas e não para a rentabilidade. Finalmente, pode ser um elemento potencialmente

considerado em eventuais operações de Spin Off ou na compra de carteiras de clientes.

Relativamente aos resultados e vantagens que o CLV gera para a organização, conclui-se que

existe uma maior orientação para o cliente, permitindo aumentar a atuação junto do cliente

e dos custos de o servir. A compreensão dos custos, com tipologias de clientes atuais, é um

elemento facilitador para análises mais adequadas e atuações mais direcionadas junto dos

clientes atuais no futuro, bem como em clientes futuros, ao perceber os potenciais encargos

que representarão para a empresa no futuro e as perspetivas de relação com os mesmos.

Assim, é possibilitada uma diferenciação em termos de atuação e mensuração da estratégia

levada a acabo para diferentes segmentos de clientes, bem como uma avaliação mais apurada

de cada negócio com uma clara perceção dos diferentes impactos ao longo da relação. No

entanto, os impactos não se limitam à perspetiva comercial e da relação com o cliente da

empresa, uma vez que é possível, igualmente, compreender-se, para cada departamento, a

forma como os custos são gerados e a evolução dos diversos drivers ao longo do tempo. As

variáveis de aquisição, retenção e perda são de natureza simples e intuitiva - ainda que se

reconheça a sua complexidade de aplicação e de mensuração; o que facilita a informação para

os decisores e gestores da organização, bem como a análise de razoabilidade e de diferenças

entre cada uma das atividades. A sua aplicação é geral a todas as empresas, ainda que em

empresas em que os custos de aquisição e perda não sejam tão relevantes, e em que o foco

esteja, de uma forma substancial, nos valores de retenção de clientes, ocorra alguma perda

de relevância – uma vez que os custos de retenção podem ser encarados como custos

facilmente anualizáveis e sem grandes perigos de enviesamento.

Naturalmente que existem alguns pressupostos que devem ser considerados e que podem

gerar alguma distorção nas análises. A existência da uniformidade de clientes dentro de cada

segmento pode não ser conseguida de uma forma sustentada, pelo que deve ser sempre

analisado ao detalhe cada segmento, por forma a identificar eventuais elementos enviesados,

e se necessário explorar uma melhor e mais densa categorização. Por outro lado, é essencial

explorar uma variável base do modelo – que corresponde ao período da relação com o

cliente, medido através da sua taxa de retenção e da sua avaliação fiável. Ainda que os dois

pontos anteriores sejam alcançados, continua por avaliar se a carteira de clientes que a

Page 67: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

59

empresa abarca é representativa do mercado em que atua e que diferenciais existem face a

este, sob pena de na sua estratégia não conseguir atuar sobre segmentos e tipologias de

clientes distintos e que poderiam acrescentar valor para a empresa.

Em termos de pistas para desenvolvimento futuro, poderão ser introduzidos e estudados de

uma forma mais estruturada e aprimorada das variáveis do modelo. A título de exemplo,

pode ser utilizada a forma como é medida a duração da relação com cliente – avaliando a

taxa de retenção como o indicador que mede a duração da relação – uma vez que existem

clientes na carteira com diferentes níveis de fidelidade, isto é, uma taxa de retenção de 25%

não determina que em 4 anos a carteira se renove na sua totalidade. A sua identificação como

potencial avaliador de empresas implica que sejam avaliados os custos não incluídos no

modelo e de que modo serão tratados nesse âmbito.

A intensificação e existência de um maior número de estudos de aplicação prática poderá

permitir uma compreensão da abrangência do modelo e da sua utilização em diversos setores

e mercados, sendo necessário avaliar os seus resultados, eventuais desenvolvimentos e

alargamento do estudo sobre as variáveis incluídas no CLV.

Ainda que tenham sido levemente explorados na abordagem e introdução teórica, não foram

incluídos nem mensurados alguns benefícios práticos do estabelecimento de relações

comerciais e custos inerentes à perda – por não serem mensuráveis fiavelmente – bem como

o seu reflexo no valor de cliente – conceitos de marketing como o valor que a relação do

cliente adiciona em termos de valor da marca ou na potencial aquisição de clientes futuros e

o seu contrário no momento de perda.

Como última conclusão e conexão para investigação futura, podemos indicar que o CLV

possibilita uma melhor interligação dos resultados com a estratégia da empresa, bem como a

identificação dos indicadores chave para a sua avaliação e implementação. Deste modo,

poderá ser avaliada a forma mais profícua de ligação com a estratégia da empresa, criando-

se, por exemplo, monitores de avaliação de variáveis chave para o negócio e dos respetivos

custos que implicam para cada segmento de clientes.

Page 68: Para além da Rentabilidade: O Costumer Lifetime Value como

60

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