12
para morder os grandes lábios desta hora

Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jonatas Onofre (Paulista, 91) é editor do fanzine “Telégrafo da Noite”, gravou um “Zine/Disco” – em parceria com Zizo e Carlos Nascimento – guarda alguns textos no laminalucida.blogspot.com.br, no deberna.blogspot.com.br e nas revistas: Zunái, Mallarmargens, O mutum, Jornal Relevo, Portal Interpoética e Portal Vermelho. Está nas antologias: Miniantologia do CCSP, Desvio para o vermelho: treze poetas contemporâneos, Poemas para a Palestina e nos fanzines do Coletivo Lambadaria. Escreveu “Opusfabula” (Cepe, 2015), “Entre o Tigre e o Eufrates” (inédito) e “Li tuas mãos na fumaça de um atentado” (inédito). É um dos curadores do selo La Bodeguita

Citation preview

Page 1: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

para morder os

grandes lábios

desta hora

Page 2: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre
Page 3: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

para morder os grandes lábios

desta hora

(por jonatas onofre)

Page 4: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

1.

o sim está próximo,

dizem os primeiros loucos

o sim está chegando,

algo muito parecido com

uma profecia, mas é só

um recado mofando numa porta

carcomida ,

Page 5: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

2.

aqui não é lugar

pra sonhar com

chuva e sóis de LSD,

eu penso

demais em paralisia

cerebral - disse uma pessoa

dentro da mesma

sombra em que a outra

respondeu - quero gritar,

façam como eu,

esqueçam de mim.

Não tem como saber quem fala

agora.

Lábios no escuro se movem

sobre lábios no escuro.

Nunca quem fala se sabe.

Page 6: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

3.

[soletre qualquer palavra

só pra não esquecer como se diz,

como se faz pra conversar

e morrer ao mesmo tempo,

há outra boca ainda,

está muito perto e

quase morta, faça ela

dissolver-se num gemido,

faça tudo o que não quiser]

Page 7: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

4.

minha geração - não haja

mas permaneça, esse

solene rebanho

pastando seus medos

entre doses de

alcatrão e tragos de ganja

entre leituras beat e surtos

de concretismo pornô

entre crises de ciúme e

minuciosos ménage a trois

Page 8: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

5.

todos gostamos de dançar

enquanto a bad vibe chega até nós

dance até que tudo seja histeria

e gemidos de fratura exposta

dance até que nada mais esteja

no maldito lugar em que você antes

se encontrava

dance até que teu nome seja

legião ou jurema

Page 9: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

6.

[não, nunca o ar ensolarado

de quando se abre um biscoito

da sorte, um poema assim

nem cabe na minha ausência de

bolsos,

nunca me salvaria

e vou aceitando

minha camisa frágil

desmanchando-se

no íntimo do breu]

Page 10: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

7.

[nesses tempos nada

mais se pode querer

além de uma vida

súbita

nesses tempos tudo

mais se pode perder

antes de uma morte

estúpida]

[Qualquer metrópole suplica pelos suicídios de seus

poetas: seja com gás, com navalhas ou com

sintagmas.

Está escancarada a caça ao que ainda não tem

feições nem nome.

Eis nossa primeira persona non grata.]

Page 11: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

la bodeguita edições –março de 2016

“killing horses since 2016”

Page 12: Para morder os grandes lábios desta hora, por Jonatas Onofre

la bodeguita