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8/14/2019 PARA QUE ENSINAR HISTRIA?
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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
PARA QUE ENSINAR HISTRIAconsideraes imprprias em uma discusso circular1
Por Dartagnan da Silva Zanela2
Um livro um mudo que fala, um surdo que
responde, um cego que guia, um morto que vive.
(Pe. Antonio Vieira)
- - - - - + - - - - -
CONSIDERAES INICIAIS
Qual o papel precpuo que um historiador deve
desempenhar? Qual o dever primeiro deste ofcio para com
a perene Verdade que se faz fugidia das mos humanas e que
de ns, reles mortais, nos exige muitas das vezes uma
dedicao reta e constante para que no nos percamos em
possveis e humanos desatinos?
Esta, no um pergunta simples de ser respondida
e, por essa mesma razo, de uma reflexo salutar e
desejvel para todos aqueles que desejam vicejar caminhos
retos. Pergunta a qual, ir nortear nossas reflexes no
correr destas laudas mal escritas por este indigno escriba.
Secundariamente, nossas impuras mos, guiadas
pelo nosso intelecto manco, iro tecer algumas
consideraes sobre o uso de imagens caricatas no ensino de
histria e bem como sobre a o exerccio de conscientizao1 Ensaio escrito para apresentao e discusso no Grupo de Rede organizadopela SEED do Estado do Paran.2Mestre em Cincias Sociais Aplicadas (UEPG, Ponta Grossa Pr), Especialistaem Pedagogia Escolar (IBPEX, Curitiba Pr) e Graduado em Histria (UNICENTRO,
Guarapuava Pr). Autor de 20 livros, atualmente, professor QPM da RedePblica Estadual do Paran e das Faculdades Campo Real (Guarapuava Pr).
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e da cidadania que tanto urge nestas terras cabralinas
habitadas por desterrados de todos os continentes.
Quanto a estas consideraes segundas, temos por
modesto intento, suscitar algumas reflexes e colocar no
centro da ciranda algumas questes que julgamos serem
basilares para podermos realmente construir um novo olhar,
realista e sincero sobre o ofcio de professor de Histria.
1. HISTRIA? PRA QU?
Esta a indagao que um educando sempre faz
quanto inicia as aulas de histria em um ano letivo
qualquer e, via de regra, o professor apresenta para ele
uma resposta do gnero, para voc ser um cidado crtico
ou, para voc explicar a realidade em que vive e por a
vai. Ou seja: o aluno faz uma pergunta de fundamental
importncia e os educadores, de um modo amplo e geral,
respondem com um conjunto de expresses no significativas,
como um reles topus (ARISTTELES; 1978).
Ora, quando algum afirma que a histria
fundamental para se entender a vida esquece-se que existem
inmeras outras maneiras de se obter este tipo de
entendimento que, em muitos casos, so to eficientes
quanto o estudo da histria. E, o educando percebe que a
maioria de sua vida continua sendo uma grande incgnita,
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mesmo que um e outro fato da vida humana tenha sido
explicado em um e outro aspecto de sua natureza e, por essa
razo, no v a mesma relevncia na disciplina que o
professor atribui, diga-se de passagem.
De mais a mais, com essa inteno o professor j
comea literalmente mentindo com ares de grande arrogncia,
visto que, o mesmo se prope a explicar a vida e , na
maioria dos casos, incapaz de entender a prpria e ser
agente transformador da mesma. Grandes promessas no tornam
algo significativo, mas sim, a sinceridade dos gestos.
E, sendo assim, lembramos que historiadores como
Peter BURKE sugerem que a funo da histria seria
simplesmente organizar o cabedal informaes sobre o
passado (1992) ou, como ensina-nos Eric HOBSBAWM, que o
historiador deve sempre lembrar coisas que a sociedade
insiste em esquecer (1998). Por esta vereda, ainda
destacaramos as palavras de Gilberto FREIRE que nos
adverte para o fato de que o ensino da histria deve ser
livre, solto, desatado de preconceitos, o estudo dos
tempores acti, leva-nos perto, o mais perto possvel,
dessa eterna fugitiva, sempre a esvair-se, deixando apenas
o perfume: a Verdade (1979). E mesmo Leopold von RANKE,
que nos explica o importante poder mostrar o caminho
correto e chegar a algum resultado que se sustente (1979).
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De nossa parte, cremos que, atravs de nossa
parca experincia junto ao magistrio desta disciplina, o
professor de histria sempre deve ter em vista quatro
funes que so inerentes ao seu ensino (ZANELA, 2008a).
Primeira de que a histria deve sempre lembrar as pessoas
que acontecimentos que no devem ser esquecidos e, em
segundo lugar, inspir-las. Assim afirmamos, fazendo uma
modesta analogia com a mitologia grega, quando esta nos
conta que Zeus ao ver o homem, percebeu que ele sofria de
uma grave falha que era o esquecimento e, por isso,
presenteou-nos com a memria, para o primeiro caso, e com
as musas, para o segundo (MNARD; 1991).
Em terceiro lugar, esta, a histria, teria por
funo propiciar momentos de reflexo sobre o sentido da
vida (no de explic-la) e (ZANELA; 2008b), por fim, sempre
quando possvel, nos divertir com suas laudas cmicas e
mesmo com suas agruras (COSTA; 2003). Ora, ou vo me dizer
que o riso pelo riso no faz parte do aprendizado da vida?
Ou temos que ter um fundo politicamente-correto por traz
das gargalhadas para que elas possam ter validade?
Ingenuidade, ao nosso ver, seria a pfia e
perigosa crena de uma pessoa estar autorizada a falar em
nome de toda humanidade e ministrar a um mancebo o que ele
dever pensar sobre A e sobre B. Inocncia sinistra que
se faz transparecer nos colquios da maioria dos
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professores desta disciplina que eles tm a misso de
conscientizar as pessoas.
Tamanho o grau de inconsistncia de declaraes
desta monta que os seus autores em nenhum momento se
flagram do grande vexame que do ao se apresentarem como
sendo portadores deste estandarte, pois, tanto se preocupam
em conscientizar a sociedade que se esquecem que a
conscincia uma categoria individual e inata (ALBERTUNI;
2006) e que, como tal, s se manifesta e se desenvolve a
partir do prprio indivduo e no de modo sistemtico e
massivo, a partir de uma interveno externa (CARVALHO;
2001) de uma pessoa que, na maioria das vezes, de tanto se
preocupar com a ordem das aes dos demais se esquece de
avaliar e ponderar sobre as suas prprias (ZANELA; 2006).
Por isso, no fim deste nterim, gostaramos de
lembrar aquela clebre ponderao do historiador Marc BLOCH
([s/d]), que nos ensina que a histria intil, para o
homo faber, mas que, tem a sua importncia para o homo
sapiens. Todavia, tentar dar uma determinada utilidade para
o saber histrico para assim melhor apetecer ao homo faber
sem elev-lo um crime intelectual duplo: o de diminuir a
magistra vitae e de enganar as almas incautas com uma
pseudo-criticidade, tal qual nos vemos hoje no cenrio
educacional brasileiro.
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2. DA INTERVENO DO PROFESSOR
As maneiras que um professor pode intervir em uma
sala de aula e bem como dentro de sua Instituio de Ensino
so as mais variadas possveis. Porm, o que fundamental
lembrarmos que nem toda aula deve ser um show, pois, o
professor, humano e no tem a obrigao de sempre dar a
melhor aula de sua vida, pois, muitas das vezes, inmeras
variveis que acabam condicionando o seu fazer pedaggico
e, inclusive, muitas vezes a sua prpria desmotivao em um
determinado dia.
Como todo e qualquer indivduo, um professor tem
os seus altos e baixos e, de mais a mais, nem mesmo os
canais de televiso que tem toda uma parafernlia
tecnolgica no so capazes de darem o melhor de si, quem o
diga um professor mal remunerado e mal equipado.
Entretanto, antes de darmos continuidade as nossas
ponderaes, destacamos que tal situao de modo algum deve
servir de justificativa para que no tomemos uma postura
auto-crtica em relao a nossa prtica educacional
(ZANELA; 2008c).
Dito isso, voltemos ao ponto do conto que, a
nosso ver, simples e, por isso mesmo, to desdenhado.
Quanto se fala em realizar uma interveno o professor
acaba ficando to preso e aficionado com os recursos que
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ele ir utilizar para incrementar o seu trabalho ou mesmo
para motivar os agentes envolvidos que acaba confundindo
estes recursos com a prpria tnica da interveno.
Ora, a natureza de uma interveno humana no se
define pelo recurso que ela usa, mas sim o intento que a
leva a realizar este algo. O uso de um determinado filme,
de matrias jornalsticas da poca, de crnicas, msicas e
mesmo de charges e nexos-murais, no definem a natureza de
uma interveno, mas sim e unicamente a inteno desta. De
nada adianta, em termos pedaggicos, realizarmos inmeras
atividades com o uso de inmeros recursos se no temos
claramente definido em nosso horizonte o que pretendemos
com toda a parafernlia proposta.
E, quando o fazer pedaggico acaba singrando por
veredas como esta, via de regra, naufraga, por esquecer de
trabalhar este elemento, que a finalidade real do gesto
educacional e, por acabar se despreocupando do elemento
motivador central, que o conhecimento que o professor tm
do assunto que estar sendo ministrado, visto que, aprender
uma jornada solitria que, em muitos casos, precisa de um
bom guia que conhea bem as picadas e trilhas do aprender
para bem orientar o seu aventureiro.
Por isso, humildemente, sugeriria a todos os meus
colegas de seara que, antes de pensarmos qualquer
interveno diferenciada em sala de aula nos perguntarmos:
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(i) o que pretendo com esta prtica? (ii) o que sei
realmente sobre este assunto? Tenho realmente uma viso
relativamente ampla sobre este tema?
Infelizmente, o no se dedicar ao aprofundamento
dos saberes de sua seara e das prximas algo comum em
meio a todas as profisses e, inclusive e principalmente,
no magistrio. Se perguntarmos a maioria dos educadores que
se arrogam a misso de conscientizadores, quantos livros
ele leu e coment-los, este, com certeza, passar vergonha.
Alis, toda e qualquer proposta superficial por
si s se auto-denuncia pela fragilidade do que est sendo
apresentado e, muitas das vezes os educadores no se
flagram desta situao indecorosa por preocuparem-se em
demasia em conscientizar a todos sem antes tomar
conscincia de si.
Um outro bom exemplo do que estamos apontando
fora um projeto de reciclagem apresentado por uma educadora
em uma feira de cincia onde todo o material que fora
utilizado pela mesma teve como destino uma fogueira nos
fundos do colgio. Uma ao de interveno apenas para
ingls ver onde, alis, os prprios alunos apenas decoraram
as falas a serem ditas mecanicamente aos visitantes.
Podemos dizer o mesmo com relao ao uso de
iconografias em sala de aula. Podemos nos indagar das
seguintes cenrios que podem vir a se desenhar. Os alunos
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Este presente ensaio tinha por objetivo realizar
uma sucinta reflexo sobre uma possvel interveno
pedaggica diferenciada em uma sala de aula na disciplina
de histria e sobre a relevncia desta disciplina.
Ponderou-se tambm sobre os desvios mais
freqentes que se d a disciplina de histria por no se
ter claro qual a natureza especfica deste saber e por
confundir-se o objetivo da interveno pedaggica com o
objeto que utilizado como elemento motivador da mesma.
Assim procedemos por crermos que um professor
deve sempre ter em mente que uma sala de aula um espao
de encontro entre ilustres desconhecidos e que, por essa
mesma razo, se no temos claro o que desejamos realizar
neste ambiente, se ns no estamos plenamente convictos e
cientes do que pretendemos, no seremos capazes de
convencer ningum de algo que, nem mesmo ns estamos
seguros.
E, por fim, se desejamos realmente propiciar ao
nosso educando a edificao de um horizonte mais amplo para
as janelas de sua alma, devemos demonstrar essa
possibilidade atravs de nossa forma de olhar e em nossa
maneira de agir e, uma mudana nesta forma do ser
professoral, em si, seria uma herclea proposta de
interveno.
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