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Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: - Página: A4,A6 - Publicação: 19/04/20 URL Original: Para se blindar, Bolsonaro começa a mostrar fatura de suas projeções da pandemia Para se blindar, Bolsonaro começa a mostrar fatura de suas projeções da pandemia Presidente tenta se antecipar sobre impacto econômico do vírus para explorar em 2022 retórica de que a sua resposta era a mais acertada 19.abr.2020 à 1h00 Gustavo Uribe BRASÍLIA O presidente Jair Bolsonaro tem intensificado estratégia de blindagem política para tentar evitar que os efeitos da pandemia do coronavírus sejam usados contra ele na disputa eleitoral de 2022. O plano consiste, neste primeiro momento, na defesa pública de que o coronavírus se trata de uma adversidade pequena, que não justifica medidas restritivas que podem aumentar o desemprego no país. A ideia é que, ao se antecipar agora sobre os impactos econômicos que são praticamente inevitáveis, o presidente explore, na corrida eleitoral, a retórica de que a sua postura era desde o início a mais acertada, mesmo que contrariando as recomendações das autoridades de saúde . Jair Bolsonaro na crise do coronavírus

Para se blindar, Bolsonaro começa a mostrar fatura de suas … · Sem Opção Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: - Página: A4,A6 - Publicação:

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    Veículo: Folha de S. Paulo - Caderno: Poder - Seção: - Assunto: - Página: A4,A6- Publicação: 19/04/20URL Original:

    Para se blindar, Bolsonaro começa a mostrar fatura desuas projeções da pandemiaPara se blindar, Bolsonaro começa a mostrar fatura desuas projeções da pandemiaPresidente tenta se antecipar sobre impacto econômico do vírus paraexplorar em 2022 retórica de que a sua resposta era a mais acertada19.abr.2020 à 1h00

    Gustavo UribeBRASÍLIAO presidente Jair Bolsonaro tem intensificado estratégia de blindagem política para tentar evitar que os efeitos da pandemia docoronavírus sejam usados contra ele na disputa eleitoral de 2022.O plano consiste, neste primeiro momento, na defesa pública de que o coronavírus se trata de uma adversidade pequena, quenão justifica medidas restritivas que podem aumentar o desemprego no país.A ideia é que, ao se antecipar agora sobre os impactos econômicos que são praticamente inevitáveis, o presidente explore, nacorrida eleitoral, a retórica de que a sua postura era desde o início a mais acertada, mesmo que contrariando as recomendaçõesdas autoridades de saúde. Jair Bolsonaro na crise do coronavírus

    https://www1.folha.uol.com.br/autores/gustavo-uribe.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/crise-do-coronavirus-expoe-81-da-forca-de-trabalho-a-risco-de-perda-de-renda.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/crise-do-coronavirus-expoe-81-da-forca-de-trabalho-a-risco-de-perda-de-renda.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/bolsonaro-aponta-ao-stf-e-de-novo-pede-o-relaxamento-de-normas-de-isolamento.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/bolsonaro-aponta-ao-stf-e-de-novo-pede-o-relaxamento-de-normas-de-isolamento.shtmlhttps://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1662258094144903-jair-bolsonaro-na-crise-do-coronavirus#foto-1662258094737546

  • Jair Bolsonaro de máscara durante entrevista coletiva sobre o coronavírus Adriano Machado - 18.mar.20/Reuters Na última sexta-feira (17), em conversa com um grupo de apoiadores, Bolsonaro deixou clara a sua intenção. Ele ressaltou, emfrente ao Palácio da Alvorada, que chegará o momento em que as pessoas dirão: “Bolsonaro tem razão”.O objetivo é não permitir que a crise sanitária prejudique seu capital político e associe seu governo a uma recessão econômica.O desempenho da economia costuma ser um dos elementos que ajudam a definir uma eleição presidencial.“Espero que não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados na minha pessoa”,disse o presidente, em entrevista. Assim, além de criar uma vacina eleitoral para que não seja responsabilizado pela piora dos dados econômicos, Bolsonaropoderá culpar e cobrar a fatura de eventuais adversários, como os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio deJaneiro, Wilson Witzel (PSC).Os dois, seguindo orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde), adotaram o isolamento social com o objetivo de achatara curva de contágio, em uma tentativa de evitar que o sistema de saúde entre em colapso.“Além do vírus, agora também temos o desemprego, fruto do fecha tudo e fica em casa”, criticou Bolsonaro recentemente.Mesmo que o isolamento social seja bem-sucedido, este também poderá ser explorado pelo presidente, na avaliação deassessores palacianos. A aposta é que, com menos mortes pela Covid-19, a tendência seja de a população minimizar os efeitosdo isolamento social e, assim, passar a concordar com a tese de Bolsonaro de que as medidas de restrição são exageradas.A mesma lógica usada na defesa da atividade econômica tem sido reproduzida ao pregar a utilização da hidroxicloroquina parapacientes em estágio inicial da doença. Carreata contra Doria e em apoio a Bolsonaro em São Paulo

    https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/04/quarentena-em-sao-paulo-e-prorrogada-ate-10-de-maio.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/wilson-witzel-governador-do-rio-diz-que-esta-com-coronavirus.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/wilson-witzel-governador-do-rio-diz-que-esta-com-coronavirus.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2020/04/bolsonaro-quer-ampliar-servicos-fora-de-quarentena-e-deixa-parte-do-governo-em-tensao-maxima.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/sem-cloroquina-e-com-testes-que-nao-existem-bolsonaro-se-rende-a-realidade.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/sem-cloroquina-e-com-testes-que-nao-existem-bolsonaro-se-rende-a-realidade.shtmlhttps://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1664334944255754-carreata-contra-doria-e-em-apoio-a-bolsonaro-em-sao-paulo

  • ???????Manifestantes em carreata contra o governador de São Paulo João Doria e a favor do presidente Jair Bolsonaro FábioVieira/FotoRua/Folhapress Mesmo sem haver estudos conclusivos sobre o sucesso na cura do coronavírus, Bolsonaro adotou o medicamento comobandeira política. A rede bolsonarista chegou até mesmo a apelidá-lo de “remédio do Bolsonaro”.A estratégia é a mesma: ao politizar o assunto neste momento, o presidente pretende explorá-lo como uma bandeira eleitoralcaso a substância seja comprovada como a mais eficaz para enfrentar a doença.Um estudo chinês recente, porém, apontou que a hidroxicloroquina não tem apresentado resultados melhores que os cuidadosque costumam ser prescritos para o tratamento.“Pode ser que a cloroquina não dê certo, mas você não tem outra alternativa no momento”, disse o presidente na quinta-feira(16). “Essa é a minha opinião de leigo, eu faria isso [usar mesmo antes de finalizar os estudos]”, acrescentou.As apostas de longo prazo feitas por ele são consideradas arriscadas pelo núcleo moderado do Palácio do Planalto. Isso porque,apesar de terem o potencial de evitar que ele seja culpado por um desastre econômico, podem vinculá-lo a uma tragédiasanitária caso se repita no Brasil o cenário enfrentado por países como Itália, Espanha e Estados Unidos.Pelo menos em curto prazo, o discurso do presidente causou arranhões em sua imagem, motivou panelaços em todo o país eafetou o seu potencial de mobilização nas redes sociais. De acordo com a última pesquisa Datafolha, o ex-ministro da Saúde LuizHenrique Mandetta teve quase o dobro da aprovação do presidente na gestão da crise.Com uma posição oposta à de Bolsonaro em relação ao isolamento social, Mandetta foi demitido na quinta-feira. Pesquisado Datafolha mostrou que a exoneração dele foi reprovada por 64%. O ex-deputado federal do DEM foi substituído pelooncologista Nelson Teich, que defende um equilíbrio entre medidas que preservem a vida e evitem o desemprego.A estratégia de Bolsonaro foi inspirada inicialmente pela resposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em umprimeiro momento, o americano também comparou o coronavírus a uma gripe comum e avaliou como exagerada a preocupaçãoem torno da doença.Bolsonaro cumprimenta apoiadores na praça dos Três Poderes

    https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/03/chineses-concluem-que-hidroxicloroquina-nao-e-melhor-que-cuidado-usual-contra-coronavirus.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/coronavirus-gera-mais-temor-nos-eua-do-que-terrorismo-e-ataques-nucleares-diz-pesquisa.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/aprovacao-do-ministerio-da-saude-dispara-e-e-mais-do-que-o-dobro-da-de-bolsonaro-diz-datafolha.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/aprovacao-do-ministerio-da-saude-dispara-e-e-mais-do-que-o-dobro-da-de-bolsonaro-diz-datafolha.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/bolsonaro-demite-mandetta-e-convida-nelson-teich-para-o-ministerio-da-saude.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/demissao-de-mandetta-por-bolsonaro-e-reprovada-por-64-diz-datafolha.shtmlhttps://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1664354078252792-bolsonaro-cumprimenta-apoiadores-na-praca-dos-tres-poderes

  • ???????O presidente Jair Bolsonaro acena e conversa com apoiadores na rampa do Palácio do Planalto na tarde deste sábado (18) PedroLadeira/Folhapress Com o aumento do número de casos nos Estados Unidos, Trump modulou o discurso. No Brasil, Bolsonaro também ensaioualterar o tom, seguindo conselho da cúpula militar do Palácio do Planalto, mas acabou desistindo.Segundo relatos feitos à Folha, o presidente foi convencido a não abandonar sua estratégia pelo filho e senador FlávioBolsonaro (Republicanos-RJ) e pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS).A avaliação foi a de que, ao desistir da defesa da flexibilização do isolamento social, o presidente estaria assumindo quecometeu um equívoco, dando razão para críticas, inclusive dentro de sua base de apoio.Além disso, o discurso afinado com as orientações das autoridades de saúde já havia sido incorporado por todos os prováveisadversários do presidente na próxima eleição. A conclusão foi a de que seria mais vantajoso a ele, portanto, seguir nocontraponto.Assim como o presidente, Terra é favorável a uma quarentena vertical, ou seja, que só sejam isolados os grupos de risco, edefende a utilização da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a Covid-19 em estágio inicial. Projeções contra Bolsonaro durante a pandemia

    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/osmar-terra-pede-sintonia-entre-bolsonaro-e-mandetta-e-diz-que-quarentena-vai-matar-o-brasil.shtmlhttps://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/osmar-terra-pede-sintonia-entre-bolsonaro-e-mandetta-e-diz-que-quarentena-vai-matar-o-brasil.shtmlhttps://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1663251229350200-projecoes-contra-bolsonaro-durante-a-pandemia

  • ???????O VJ Spencer no centro de São Paulo; ao fundo, projeção em um prédio com a frase "Ainda temos esperança" JardielCarvalho/Folhapress Terra foi cotado para substituir Mandetta, mas sofreu forte resistência da cúpula militar, para a qual a indicação de um político eamigo do presidente para o posto poderia ampliar o desgaste causado com a troca no comando da pasta.“Eu gosto muito do Osmar Terra. As opiniões dele são muito parecidas com as minhas”, disse Bolsonaro na quinta-feira. “Ele éuma pessoa que entende do assunto e espero que ele esteja certo”, acrescentou.Já Flávio, que ajuda na interlocução do pai com o setor empresarial, tem sido ouvido por Bolsonaro desde o início da crisesanitária. O primogênito foi o principal defensor da retórica do presidente de que não deve haver histeria no país e que aatividade econômica não pode ser paralisada.AS PROJEÇÕES DO PRESIDENTEFANTASIATese: Após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, Bolsonaro disse que o coronavírus era “muito mais fantasia” ese tratava de uma “gripezinha”Realidade: Até o momento, mais de 2 milhões de pessoas foram contaminadas pelo coronavírus e mais de 150 mil morrerampor causa da doença no mundoGRIPESTese: O presidente defendeu que outras gripes virais mataram mais do que o total de pessoas que o coronavírus levaria a óbitoe que, portanto, não fazia sentido reagir com histeria à pandemia mundialRealidade: De 2010 a 2019, 1.645 pessoas morreram infectadas no Brasil pelo vírus que causa a gripe nos meses de janeiro aabril. Até agora, o novo coronavírus já provocou mais de 2.000 mortesCHINATese: Bolsonaro afirmou que os efeitos da pandemia estão superdimensionados e disse que na China, primeiro epicentro dadoença, o coronavírus estava “praticamente acabando”Realidade: O número de diagnósticos da doença tem caído na China, mas na sexta-feira (17) foram registrados 357 novoscasosQUARENTENA VERTICAL

  • Tese: Na tentativa de evitar que recaia sobre seu governo a culpa por um aumento do desemprego, o presidente defendeu aadoção de uma quarentena vertical (apenas para os grupos de risco da doença) e criticou o isolamento horizontal. “A dose doremédio não pode ser excessiva”, disseRealidade: A maior parte das unidades da federação, no entanto, seguiu a orientação do Ministério da Saúde e manteve oisolamento horizontalHIDROXICLORIQUINATese: Na tentativa de reverter um desgaste em sua imagem, Bolsonaro passou a defender a prescrição da hidroxicloroquina,usada para tratar o lúpus e a artrite reumatoide, em pacientes em estágios iniciais do coronavírus. A rede bolsonarista chegouaté mesmo a apelidar a substância de “remédio do Bolsonaro”Realidade: As pesquisas científicas apontam que a substância tem demonstrado resultados satisfatórios, mas seu efeito aindanão é conclusivo. Um estudo chinês apontou que a hidroxicloroquina não tem apresentado resultados melhores que os cuidadosque costumam ser prescritos para o tratamento da doençaPICOTese: Bolsonaro disse no último dia 12 que parecia que o vírus “estava começando a ir embora”Realidade: Só na sexta-feira foram registradas 217 mortes pelo coronavírus. A previsão do Ministério da Saúde é que o quadromais agudo ocorra entre maio e junho