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Parecer nº 576/2015
Lisboa, 29 de Agosto de 2015
Técnicos:
- Engenheiro José Maria Campos Ferreira, Analista Ambiental/Eng.º do Som
- Engenheiro Márcio Paulo Antunes Pedrada, Analista Ambiental/Eng.º Civil e do
Ambiente
- Engenheira Teresa Cordeiro Vieira Silva, Analista Ambiental/Engª da Energia e do
Ambiente
- Engenheira Isabel Maria Amaral Serra, Analista Ambiental/Engª Mecânica
- Engenheiro Jorge Filipe Serra Martins, Analista Ambiental/Perito em conservação do
Património (Coordenador do CROTUC)
Destinatário: Câmara Municipal da Capital
Assunto: Impacto ambiental da circulação de triciclos de animação turística nas zonas históricas
da Capital, nomeadamente nos bairros de Alfombra, Castelinho, Estrela, Alto Bairro,
Misericórdia, Santo António, Santa Maria Maior e São Vicente.
Quanto ao ruído (poluição sonora) provocado pelos veículos:
Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o ruído pode ser definido como
um som desagradável. Desta forma, pode-se definir som como sendo um fenómeno físico
ondulatório que o ouvido humano consegue detectar. É, em suma, um estímulo mecânico capaz
de provocar sensação auditiva. Sendo o ruído definido por um objectivo – desagradável – é
facilmente perceptível que este conceito vai variar de acordo com as características e percepções
que cada um possui em relação à sensação auditiva estimulada. Todavia, existem valores
determinados para definir a escala sonora a que todos estão sujeito diariamente.
A poluição sonora é uma das formas de poluição ambiental que mais se vem agravando,
exigindo soluções que controlem seus efeitos nocivos na qualidade de vida dos cidadãos. A
emissão de ruídos acima de níveis técnicos legais, pode ser prejudicial, podendo comprometer o
descanso e também prejudicar a saúde de professores e estudantes. O presente parecer tem como
objetivo principal quantificar os níveis de ruídos em diversos bairros, nomeadamente os de
Alfombra, Castelinho e Alto Bairro, e avaliar a percepção dos indivíduos quanto à poluição
sonora.
Em casa, no trabalho, nas escolas e nas atividades em geral o ruído interfere
negativamente, provocando dificuldades de atenção, concentração e descanso. O ruído constante
pode até provocar certo tipo de patologias mentais.
Documento 7
O ruído ambiente pode ser definido como o “ruído global observado numa dada
circunstância num determinado instante, devido ao conjunto das fontes sonoras que fazem parte
da vizinhança próxima ou longínqua do local considerado”. (Decreto-Lei n.º 9/2007 de 17 de
Janeiro).
Os valores limite de exposição determinados em legislação definem que as zonas mistas
– área definida em plano municipal de ordenamento do território, cuja ocupação seja afecta a
outros usos, existentes ou previstos, para além dos existentes ou previstos numa zona sensível –
não devem ficar expostas a ruído ambiente exterior superior a 65 dB(A), expresso pelo
indicador Lden – indicador de ruído diurno-entardecer-nocturno – e superior a 55 dB(A),
expresso pelo indicador Ln – indicador de ruído nocturno.
Os mesmos valores limite de exposição determinados em legislação definem, desta vez,
que as zonas sensíveis – área definida em plano municipal de ordenamento do território como
vocacionada para uso habitacional, ou para escolas, hospitais ou similares, ou espaços de
lazer, existentes ou previstos, podendo conter pequenas unidades de comércio e de serviços
destinadas a servir a população local, tais como cafés e outros estabelecimentos de
restauração, papelarias e outros estabelecimentos de comércio tradicional, sem funcionamento
no período nocturno – não devem ficar expostas a ruído ambiente exterior superior a 55 dB(A),
expresso pelo indicador Lden, e superior a 45 dB(A), expresso pelo indicador Ln.
Neste caso, tratando-se de uma zona vocacionada para uso habitacional – zona sensível -
, estas não devem ficar expostas a um máximo de 55 dB.
Foram feitos estudos e testes que nos permitem quantificar o ruído produzido pelos
veículos de animação turística – os denominados “tuk tuk”.
O valor quantificado para o ruído produzido pelos “tuk tuk” corresponde a 80dB, o qual
se encontra muito acima do recomendado para as zonas em apreço. Dado que o limiar definido
para um “desconforto sério” e o início de efeitos negativos provocados pelo ruído ambiente são
55 dB, é certo que o ruído provocado pelos referidos veículos são prejudiciais aos indivíduos ali
habitantes.
Quanto a um outro modelo de “tuk tuk” que se afirma mais ecológico, o ruído por estes
produzido, apesar de menor que o produzido pelos restantes, encontra-se ainda acima do
recomendado – 65dB.
Para efeitos comparativos, apresenta-se o gráfico seguinte:
Nível de Ruído em dB (Decibéis)
Ensurdecedor
140
130 - Armas de fogo
Altíssimo 120 - Descolagem de avião a jacto
110 - Concerto de música rock
Muito Alto 100 - Martelo perfurador de alcatrão
90 - Piano a tocar forte
Alto 80 - Despertador de campainha
70 – Aspirador
Moderado 60 - Conversação alta
50 - Conversação normal
Baixo 40 - Conversação silenciosa
30 – Biblioteca
Muito Baixo
(limiar do som)
20 – Sussurrar
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Quanto aos gases poluentes emitidos por estes veículos e seu impacto nestas zonas:
Por poluição entende-se a introdução pelo homem, directa ou indirectamente, de
substâncias ou energia no ambiente, provocando um efeito negativo no seu equilíbrio, causando
assim danos na saúde humana, nos seres vivos e no ecossistema ali presente.
A forma mais evidente de poluição do ar que encontramos rotineiramente em grandes
centros urbanos, onde há grande concentração de pessoas, são os resíduos produzidos pela
combustão do diesel que são lançados no ar por veículos. Naturalmente, os meios urbanos,
tendo uma elevada afluência de veículos, estão expostos a maiores níveis de poluição, o que
acontece na Capital.
Os bairros em questão (Alfombra, Castelinho, Estrela, Alto Bairro, Misericórdia, Santo
António, Santa Maria Maior e São Vicente) correspondem a zonas históricas que, pelo seu cariz
cultural, se encontram numa situação de maior protecção a vários níveis, nomeadamente
ambiental. Os gases poluentes emitidos por estes triciclos de animação turística têm provocado
uma elevada poluição do ar nestas zonas, o que se demonstra bastante incomodativo para os
habitantes das mesmas.
Quanto ao desgaste da calçada e das zonas históricas:
A calçada portuguesa, pelo enorme valor e relevância histórica que possui, constitui um
elemento do património cultural português. Por esse motivo, merece especial protecção por
parte das entidades públicas responsáveis e pelos cidadãos em geral.
As vibrações causadas pela deslocação destes veículos afectam a integralidade das
estruturas históricas ali localizadas.
O acesso a certas ruas destas zonas foram já vedados aos veículos automóveis, à
excepção dos pertencentes aos moradores, precisamente para efeitos de protecção daquele
território. Parece-nos imprescindível que o acesso a estes triciclos motorizados seja também
proibido, para que impedir o desgaste de património com tamanha relevância.
Pelos motivos expostos, a Comissão Regional para o Ordenamento do Território e
Urbanismo da Capital aconselha que sejam introduzidas limitações à circulação destes veículos.
Assinatura:
Jorge Filipe Serra Martins
(Coordenador da Comissão Regional para o Ordenamento do Território e Urbanismo da
Capital)