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PROTOCOLO N° 13.844.766-9 / 13.898.745-3 / 13.891.078-4
PARECER JURÍDICO N° 001/2016
INTERESSADO: DIREF - Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal
do Instituto Ambiental do Paraná - IAP
Assunto: Análise do Decreto Estadual 2711/2015 frente ao SICAR Nacional
PARECER NP 19/2017 -PGE
Sr. Procurador,
Os procedimentos administrativos 13.844.766-9,13.893.745-3 e 13.891.078-4 foram encaminhados para análise e manifestação desta Procuradoria em razão da grande preocupação da DIREF - Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal' do Instituto Ambiental do Paraná, com relação a aplicação do Decreto Estadual 2.711/2015, que implanta o Programa de Regularização Ambiental no Estado do Paraná.
Esclarece a DIREF que o Sistema Nacional SICAR, que foi adotado pelo Estado do Paraná (Decreto Estadual 8.630/2013), ainda não está totalmente implementado, estando em funcionamento apenas o Módulo de Cadastro (CAR), uma vez que não foi apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente aos Estados o Módulo Análise dos Cadastros e, principalmente, o Módulo Regularização Ambiental — PRA.
Nos procedimentos citados, a DIREF demonstra de forma bastante clara a impossibilidade da aplicação do Decreto Estadual 2.711/2015 diante da contrariedade de alguns de seus artigos às disposições da Lei Federal 12.651/2008 que institui o CAR — Cadastro Ambiental Rural, do Decreto Federal 7.830/2012, que dispõe sobre o SICAR Sistema de Cadastro Ambiental Rural (sistema eletrônico nacional destinado ao gerenciamento de informações ambientais dos imóveis rurais), e ainda da Lei Estadual 18.295/2014 (institui o Programa de Regularização Ambiental do Paraná).Ratificando o posicionamento técnico da diretoria responsável do órgão ambiental, o Serviço Florestal Brasileiro — SFB do Ministério do Meio Ambiente, que é responsável pela administração do Sistema Nacional SICAR, emitiu a Nota Técnica n° 60 (fls.162/165 do SID 13.844.766-9), concluindo pela impossibilidade da aplicação do Decreto Estadual 2.711/2015 diante da contrariedade de alguns de seus artigos às disposições da Lei Federal 12.651/2008 e do Decreto Federal 7.830/2012.
Cita, às fls. 142 do SID 13.844.766-9, como inconsistências mais relevantes da legislação estadual os artigos que: "a) estabelecem procedimentos referentes a localização da Reserva Legal sem a análise do CAR dos imóveis rurais, cuja
1 DIREF — Diretoria responsável pelo Cadastro Ambiental Rural e pela implementação do Módulo Análise e do
Módulo Regularização Ambiental, criada para atender ao artigo 29 da Lei Federal 12.651/2012, Decreto Federal
7.830/2012 e Decreto Federal 8.235/2014.
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obrigação é do órgão ambiental estadual conforme determina o artigo 14 da Lei Federal 12.651/2012; b) medidas que representam redução dos patamares de proteção,...; c) baixas em averbações de termos de compromisso com diversos órgãos, sem a necessidade de aprovação destes órgãos e sem análise do CAR; d) a realização de novas compensações de reserva legal sem anuência do órgão ambiental, que contraria o fluxo do SISTEMA SICAR, impossibilitando a aplicação do Art. 14 da Lei Federal 12.651/2012; Este último item contraria diretamente o sistema SICAR pois a possibilidade de proposição de novas compensações na Inscrição do CAR é prevista apenas para os casos de RL já aprovados Pelo órgão ambiental. Essa ressalva consta inclusive em um "alerta" no próprio sistema CAR/Módulo Inscrição e novamente informado na Nota Técnica 60 MMA/SFB."
Diante dos argumentos técnicos constantes nos procedimentos, requer a Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal — DIREF, que esta Procuradoria analise e verifique a possibilidade de revisão do Decreto Estadual 2.711/2015, de forma a harmonizá-lo com a legislação federal, garantindo a legalidade e segurança jurídica aos técnicos, fiscais e todos aqueles que forem responsáveis pela aplicação e aprovação das solicitações referentes à revisão de Termos de Compromisso, análise e aprovação do Cadastro Ambiental Rural e Programa de Regularização Ambiental — PRA, no Estado do Paraná.
É o relatório.
O Cadastro Ambiental Rural — CAIR, foi criado pela Lei Federal 12.651/2012 — artigo 29, constituindo-se em registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.
Na sequência (mesmo ano) foi publicado o Decreto Federal 7.830/2012 que dispõe sobre o Sistema de Cadastro Ambiental Rural —SICAR (sistema eletrônico de âmbito nacional destinado ao gerenciamento de informações ambientais de imóveis rurais) e o Cadastro Ambiental Rural, estabelecendo normas de caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental — PRA (art. 1°).
Estabelece o artigo 3°, I e II do Decreto Federal 7.830/2012, que um dos objetivos do SICAR é, entre outros, receber, gerenciar e integrar os dados do CAR de todos os entes federativos, cadastrando e controlando as
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informações dos imóveis rurais, referentes ao seu perímetro e localização, aos remanescentes de vegetação nativa, às áreas de interesse social, às áreas de utilidade pública, às Áreas de Preservação Permanente, às Áreas de Uso Restrito, às áreas consolidadas e às Áreas de Reservas Legais, bem como monitorar a manutenção, a recomposição, a regeneração, a compensação e a supressão de vegetação nativa e da cobertura vegetal nestas áreas.
O § 2° do artigo 3° do Decreto Federal 7.830/2012 estabelece que "Os entes federativos que não disponham de sistema para o cadastramento de imóveis rurais poderão utilizar o módulo de cadastro ambiental rural, disponível no SICAR, por meio de instrumento de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente". Este é o caso do Estado do Paraná, que através do Decreto Estadual 8.630/2013 criou o SICAR do Paraná, integrado ao SICAR de âmbito nacional, estabelecendo em seu artigo 7° que "a implementação do SICAR-PR ocorrerá de acordo com o que determina o artigo 21 do Decreto Federal 7.830/2012".
"Art. 21. Ato do Ministro de Estado do Meio Ambiente estabelecerá a data a partir da qual o CAR será considerado implantado para os fins do disposto neste Decreto e detalhará as informações e os documentos necessários à inscrição no CAR, ouvidos os Ministros de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Desenvolvimento Agrário."
A partir do momento em que o Estado do Paraná, formalmente (Decreto Estadual 8.630/2013), adere ao Sistema Nacional SICAR, a ele está condicionado, não podendo estabelecer procedimentos por meio de atos normativos estaduais que contrariem as disposições constantes no Sistema Nacional adotado.
Conforme bem demonstrado pela DIREF, o Decreto Estadual 2.711/2015 fere tanto a Lei Federal 12.651/2008 que instituiu o CAR, como o Decreto Federal 7.830/2012, que dispõe sobre o SICAR — Sistema de Cadastro Ambiental Rural. Não se pode editar um decreto estadual que implante um Programa de Regularização Ambiental no Estado frontalmente contrário ao que estabelece o Sistema de Cadastro Ambiental por ele adotado, no qual já está incluído a Regularização Ambiental. Se a norma não é compatível com o Sistema a ser implantado não pode ser aplicada.
A seguir, passamos a demonstrar os conflitos existentes entre, não apenas o Decreto Estadual 2.711/2015 e a Lei Federal 12.651/2008, mas também em relação a Lei Estadual 18.295/2014 que institui o Programa de Regularização Ambiental — PRA no Estado do Paraná, além do Decreto
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Federal 7.830/2012, e que, implicam na impossibilidade de operação do SICAR no Estado do Paraná.
Uma vez que o Estado do Paraná aderiu ao Sistema SICAR Nacional, todos os procedimentos do PRA (Programa de Recuperação Ambiental) serão informatizados de conformidade com o que estabelece o Sistema Nacional. Conforme já esclarecido, apenas o Módulo Cadastro Ambiental Rural - CAR, do Sistema Nacional SICAR está em funcionamento, ou seja, os módulos Análise do Cadastro e Programa de Regularização Ambiental ainda não foram implantados. Entretanto o Decreto Estadual 2711/2015 estabelece prazos a serem atendidos pelo órgão ambiental com relação ao PRA - Programa de Recuperação Ambiental em seus artigos 4°, §4°, 9° §2° e 26 §1° que podem ser diferentes daqueles a serem determinados pelo Sistema Nacional de forma informatizada.
"Art. 4° É condição essencial para a adesão ao Programa de Regularização Ambiental a inscrição da posse ou propriedade no Cadastro Ambiental Rural.
§ 1° ...
§ 2° Em caso de CAR pendente, o órgão ambiental terá o prazo de 30 (trinta) dias para expedir a notificação ao interessado sobre o motivo da pendência, solicitando documentação ou esclarecimento complementar.
§ 3° O interessado terá prazo de até 180 (cento e oitenta) dias para apresentar a documentação ou os esclarecimentos.
§ 4° Após a apresentação dos documentos ou esclarecimentos pelo
interessado, o órgão ambiental terá 90 (noventa) dias para análise e deliberação."
Art. 9° O registro da reserva legal no CAR desobriga a averbação em cartório.
§ 1°
§ 2° Após o recebimento do requerimento previsto no § 1°, o órgão ambiental terá o prazo de 30 (trinta) dias para responder o pedido.
Art. 26. ...
§ 1° A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o Órgão Ambiental Estadual, em até 30 (trinta) dias, estabelecerão
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regulamento visando normatizar os procedimentos para a aprovação da reserva legal instituída por servidão "
Assim, conforme esclarecido no documento apresentado pela DIREF (fls. 14/15), ratificado pela Nota Técnica n° 60 do Sistema Florestal Brasileiro - SFB, os prazos estabelecidos pelos parágrafos acima transcritos não poderiam constar no decreto estadual, uma vez tais prazos ainda serão definidos como parâmetro do Sistema SICAR Nacional informatizado e em funcionamento, podendo ser diferentes daqueles constantes na norma estadual. uma vez que o sistema é único, os prazos devem necessariamente ser os mesmos.
Quando é iniciado o procedimento de Análise de um CAR, este entrará automaticamente como pendente. Assim, apenas poderia ser estabelecido prazo para que o órgão ambiental proceda a análise do CAR pendente quando devidamente justificada a urgência' pela parte, caso contrário a análise torna-se inviável pela ausência de viabilidade técnica e operacional.
Lembramos que o módulo análise do CAR e o módulo Análise do Cadastro e Regularização Ambiental ainda não foi apresentado aos Estados.
Observe-se o que estabelece o artigo 6° do Decreto Estadual 2711/2015:
"Art. 6° O registro no Cadastro Ambiental Rural é condição obrigatória para usufruir dos benefícios do Pagamento por Serviços Ambientais, conforme artigo 5° da Lei Estadual n° 17.134/2012."
Não basta apenas a inscrição no CAR para ser beneficiário do PSA - Pagamento por Serviços Ambientais, é necessário que a sua análise seja efetuada (Módulo Análise), bem como que a Reserva Legal esteja aprovada.
Vejamos o artigo 8° do Decreto Estadual 2711/2015:
1 O procedimento nos casos de urgência necessita de normatização pelo órgão ambiental
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"Art. 8° Qualquer irregularidade nas declarações constatadas pela análise realizada pelo órgão ambiental importará em advertência ao proprietário ou possuidor e será concedido prazo de 20 (vinte) dias para retificação ou defesa."
O artigo supra vai de encontro ao que estabelece o artigo 6° § 1° do Decreto Federal 7830/2012, que determina taxativamente que as informações são de responsabilidade do declarante, bem como que este incorrerá em sanções penais e administrativas quando as informações prestadas forem total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas.
"Art. 6° A inscrição no CAR, obrigatória para todas as propriedades e posses rurais, tem natureza declaratória e permanente, e conterá informações sobre o imóvel rural, conforme o disposto no art. 21.
§ 1° As informações são de responsabilidade do declarante que incorrerá em sanções penais e administrativas, sem prejuízo de outras previstas na legislação, quando total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas." (destacamos)
Diante das determinações acima transcritas pelo Decreto Federal 7830/2012 que dispõe sobre o SICAR e estabelece normas de caráter geral aos Programas de Regularização Ambiental de que trata a Lei Federal 12.651/2012, não pode um decreto estadual isentar o declarante de suas responsabilidades, apenas advertindo-o e concedendo-lhe prazo de 20 (vinte) dias para que as retifique ou apresente defesa, contrariando o que estabelece a normativa federal.
Ainda, chamamos a atenção para o que estabelece o artigo 5° do próprio Decreto Estadual 2711/2015, in verbis:
"Art. 5° A regulamentação do Cadastro Ambiental Rural — CAR está no conjunto de normas formada pela Lei Federal n° 12.651/2012, Decretos Federais n° 7.830/2012 e 8.235/2014, Lei Estadual 18.295/2014, Decreto Estadual n° 8.680/2013 e Instrução Normativa MMA n° 02/2014 e 03/2014." (sem destaques no original)
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O artigo 8° do Decreto Estadual 2711/2015 contraria o disposto no artigo 5° do mesmo diploma legal, uma vez que estabelece critérios contrários aqueles determinados pelas normativas federais que expressamente diz que a sua regulamentação é por elas formada.
DO TERMO DE COMPROMISSO
O artigo 10 do Decreto Estadual 2711/2015 estabelece:
"Art. 10. O Termo de Compromisso é o documento de adesão ao Programa de Regularização Ambiental, que será assinado com o órgão ambiental competente após análise do CAR, e conterá, no mínimo:
IX — Sanções aplicáveis pelo descumprimento do Termo de Compromisso, sendo que as multas serão de até 10% do valor do investimento previsto;
X — Lista das sanções e processos existentes relativas à supressão irregular de vegetação, ocorrida antes de 22 de julho de 2008, e que serão suspensas pelo período em que estiver sendo cumprido o Termo;
§ 2° Caso o interessado opte, no âmbito do PRA, pelo saneamento do passivo de Reserva Legal por meio de compensação, o termo de compromisso deverá conter as informações relativas à exata localização da área de que trata o § 6° do Art. 66 da Lei Federal n° 12.651/12, com o respectivo CAR.
§ 6° Após a assinatura do termo de compromisso, o órgão ambiental estadual fará a inserção das informações de regularização ambiental no SICAR.
A compensação da Reserva Legal, neste caso, apenas pode ocorrer depois que o módulo PRA — Programa de Regularização Ambiental do sistema SICAR estiver implantado e em funcionamento, lembrando que a
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compensação deve ser averbada em todas as matrículas envolvidas, conforme estabelece a Lei 12651/2012 em seu artigo 45 § 3° e 78 § 5°. Portanto, o disposto no § 2° acima transcrito não pode ser aplicado no momento, dependendo do funcionamento do sistema SICAR PRA.
Da mesma forma o § 6° do artigo acima transcrito não pode ser aplicado. É necessário que o módulo PRA esteja em funcionamento.
Vejamos o que estabelece o artigo 11 do Decreto Estadual 2711/2015, in verbis:
"Art. 11 Nos imóveis com Termos de Compromisso ou instrumentos similares que já tenham sido cumpridos é possível a cessão do excedente de área de vegetação nativa, para os tipos de compensação previstos nos incisos 1, II, IV no § 5° do artigo 66 da Lei Federal 12.651/12, mediante a inscrição no CA R, ainda que em razão do previsto no artigo 15 da mesma Lei."(sem destaques no original)
A aplicação da parte final deste artigo (em razão do previsto no art. 15 da Lei Federal 12.651/2012) representa uma revisão dos Termos de Compromisso já firmados e cumpridos (atos jurídicos perfeitos e acabados), uma vez que possibilita a readequação da Reserva Legal inserindo a ela o cômputo da Área de Preservação Permanente, na forma do artigo 15 da Lei Federal 12.651/2012, com a intenção de gerar um excedente, que poderia ser compensado nos termos dos incisos I, II e III da Lei Federal.
A intenção do artigo 15 é possibilitar àquele que possui imóvel com Área de Reserva Legal em extensão inferior a 20%, utilizar os mecanismos ali previstos para alcançar o percentual determinado por lei e não rever os Termos de Compromisso cumpridos gerando um excedente. Cabe aqui lembrar que o citado artigo 15 é objeto de ADIN, uma vez que possibilita a diminuição das áreas protegidas, cuja recuperação foi acordada mediante assinatura de Termo de Compromisso para sua recuperação sob a égide da Lei Federal 4771/65, antigo Código Florestal, ferindo o princípio da Proibição do Retrocesso no direito ambiental.
Este artigo do decreto estadual, permite que os proprietários de imóveis que celebraram Termos de Compromisso para recomposição das áreas de Reserva Legal e os cumpriram (ato jurídico
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perfeito e acabado), fazendo com que o limite de 20% de vegetação fosse atingido cumprindo com a determinação legal, e que mantenham nesses mesmos imóveis áreas de preservação permanente conservadas, ou em processo de recuperação, possam computar estas áreas às de Reserva Legal, perfazendo um total superior a 20%, de forma a gerar um excedente. Este excedente poderia ser compensado nos termos dos incisos I, II e IV do § 5°do artigo 66 da Lei Federal. Não é esta a intenção da norma federal.
Para melhor visualizarmos a questão transcrevemos os artigos 12, 15 e 66 § 5°, I, II e III d Lei Federal 12.651/2012.
"Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos previstos no artigo 68 desta Lei:
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento)." (destacamos)
"Art. 15. Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel, desde que:
I - o benefício previsto neste artigo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;
II - a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme comprovação do proprietário ao órgão estadual integrante do Sisnama; e
III - o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel ao Cadastro Ambiental Rural - CAR, nos termos desta Lei.
11
"Art. 66. O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação, independentemente da adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas:
111 - compensar a Reserva Legal;
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§ 5°A compensação de que trata o inciso III do caput deverá ser precedida pela inscrição da propriedade no CAR e poderá ser feita mediante:
I - aquisição de Cota de Reserva Ambiental - CRA;
II - arrendamento de área sob regime de servidão ambiental ou Reserva Legal;
IV - cadastramento de outra área equivalente e excedente à Reserva Legal, em imóvel de mesma titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma." (sem destaques no original).
Pela simples leitura dos artigos acima transcritos, podemos observar que a intenção do legislador foi a de conservar a área de Reserva Legal com vegetação nativa, tanto que o artigo 12 estabelece taxativamente que todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação Permanente. Ou seja, deve ser mantida a área de 20% do imóvel rural coberto com vegetação nativa a título de Reserva Legal, devendo também ser mantidas as Áreas de Preservação Permanente.
O artigo 66 permite que os imóveis que possuam o percentual de Reserva Legal inferior em extensão aos 20% determinados pelo artigo 12, possam regularizar sua situação compensando a área faltante de sua Reserva Legal através de área equivalente com vegetação nativa de outro imóvel e que seja excedente a Reserva Legal deste último.
Contraria frontalmente a intenção do legislador federal possibilitar que seja acrescida à Área de Reserva Legal existente de 20%, a Área de Preservação Permanente com o objetivo de gerar um excedente. Tanto não é esta a interpretação que assim dispõe o artigo 26 da Instrução Normativa 2 do Ministério do Meio Ambiente:
"Art. 26. Nos casos em que as Reservas Legais não atendam aos percentuais mínimos estabelecidos no art. 12 da Lei n° 12.651, de
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2012, o proprietário ou possuidor rural poderá solicitar a utilização, caso os requisitos estejam preenchidos, isolada ou conjuntamente, os mecanismos previstos nos arts. 15,16 e 66 da Lei n° 12.651, de 2012, para fins de alcance do percentual, quais sejam:
I — o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal;
II - a instituição de regime de Reserva Legal em condomínio ou coletiva entre propriedades rurais;
III — a recomposição;
IV - a regeneração natural da vegetação; ou
V — a compensação da Reserva Legal."(os destaques são nossos)
Analisemos, agora, o artigo 12 do Decreto Estadual 2711/2015:
"Art. 12. A revisão dos Termos de Compromisso ou instrumentos similares para a regularização ambiental do imóvel rural referentes às Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Uso Restrito firmados sob a vigência da Lei Federal n° 4.771/65, deverá ser requerida diretamente ao órgão ambiental durante a vigência do prazo de adesão ao PRA.
§ 1° A revisão de Termos de Compromisso ou instrumentos similares não dependerá de anuência de todas as partes que participaram de sua assinatura, dependendo única e exclusivamente da análise do órgão ambiental que constate o ajustamento do novo termo às condutas exigidas pelo Capítulo XIII da Lei Federal n° 12.651/2012.
§ 2° Caso o Termo de Compromisso ou similar tenha sido homologado judicialmente, será obrigatória a juntada do novo Termo ao processo correspondente, exceto para as áreas menores de 4 (quatro) módulos fiscais que deverão apresentar, judicialmente, somente o protocolo de requerimento de revisão do termo.
§ 3° Para áreas rurais de até quatro módulos fiscais que, em virtude da Lei Federal n° 12.651/12, não necessitem de regularização, a apresentação do CAR, será suficiente para o cancelamento da averbação do Termo.
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§ 4° ..."(sem destaques no original)
A Procuradoria Geral do Estado quando instada a manifestar-se sobre a possibilidade de revisão dos Termos de Compromisso firmados na égide da Lei Federal 4771/65, antigo Código Florestal, emitiu a Informação n° 141/2015 - AT/GAB/PGE (ora anexada), na qual conclui que "No âmbito doutrinário, portanto, não se admite seja mitigada a eficácia e a validade dos Termos de Ajustamento de Conduta, como consequência da entrada em vigor da Lei Federal n° 12.651/12. A manutenção dos compromissos anteriormente celebrados é concebida como corolário do princípio da segurança jurídica, bem como das garantias do ato jurídico perfeito e do direito adquirido ao meio ambiente."
Também, na mesma Informação, cita a corrente jurisprudencial majoritária que, "posicionando-se no sentido da certeza, liquidez e exigibilidade dos Termos de Ajustamento de Conduta firmados em momento anterior à entrada em vigor do novo Código Florestal, isto é, sustenta a plena eficácia e validade dos TAC anteriormente firmados." Cita como exemplos decisões do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, Superior Tribunal de Justiça - STJ, Tribunal de Justiça de São Paulo, Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Tribunais Regionais Federais da 1a e 5a Regiões.
Portanto, os Termos de Compromisso firmados na legislação anterior são atos jurídicos perfeitos, devendo ser respeitados de forma a garantir a necessária segurança jurídica e o direito adquirido ao meio ambiente. Caso haja o desrespeito a sua higidez, qualquer termo de compromisso firmado tendo como base a legislação atual (Lei Federal 12.651/2012) poderá ser desconsiderado ou modificado no futuro diante de alguma alteração na legislação, gerando insegurança jurídica e fomento ao seu não cumprimento em razão da característica de precariedade que passa a ter.
Inovou de forma abusiva o Decreto Estadual 2711/2015 no seu § 1° ao determinar que a revisão dos termos de compromisso ou instrumentos similares não dependerão da anuência de todas as partes que participaram da sua assinatura, mas tão somente da análise do órgão ambiental que constate o ajustamento do novo termo às condutas exigidas pelo Capítulo XIII da Lei Federal 12.651/2012.
Por óbvio que o Instituto Ambiental do Paraná, órgão ambiental do Estado, não tem competência para revisar termos de
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compromisso ou instrumentos similares que tenham sido firmados com o IBAMA ou com o Ministério Público. Não existe lei que ampare tal pretensão.
Diga-se que o Capítulo XIII da Lei Federal 12.651/2012 reduz a proteção ao meio ambiente concedida pela Lei Federal 4.771/1965, motivo pelo qual foram propostas Ações Diretas de Inconstitucionalidade, uma vez que ferem o princípio do não retrocesso no direito ambiental.
O § 2° do artigo 12 do Decreto Estadual impõe obrigação ao Poder Judiciário de aceitar um novo termo de compromisso diferente daquele que foi por ele homologado. Pior, ao determinar que as áreas menores que quatro módulos fiscais devem apresentar em juízo somente o protocolo de revisão do termo, está determinando que o Poder Judiciário aceite um mero protocolo, sem análise técnica do órgão ambiental do Estado, para substituir o já analisado e homologado. Há ausência total de segurança técnica e jurídica, não tendo como ser acatada pelo magistrado que analisará a questão.
O § 3° do artigo 12 do Decreto 2711/2015 ofende a Lei Federal 6015/1973 de Registros Públicos, uma vez que determina o cancelamento da averbação do Termo de Compromisso na matrícula do imóvel. Não pode um decreto estadual estabelecer normas contrárias ao que determina lei federal específica sobre registros públicos, lembrando que é de competência exclusiva da União legislar sobre registros públicos - artigo 22, XXV da Constituição Federal.
Observe-se que a Lei Federal 12.651/2012 em nenhum momento prevê o cancelamento da averbação do Termo de Compromisso na matrícula do imóvel. Entretanto, o decreto estadual determina que em áreas rurais até quatro módulos fiscais e que nos termos da Lei Federal 12.651/2012 não necessitem regularização (áreas de preservação permanente e Reserva Legal mantidas e ausência de passivos ambientais), a apresentação do CAR será suficiente para o cancelamento do Termo de Compromisso.
Ora, conforme já anteriormente esclarecido, o Módulo Análise do CAR ainda não foi implantado. Assim, sem a análise do CAR não há possibilidade do órgão ambiental verificar se as informações apresentadas pelo proprietário/possuidor do imóvel são verídicas.
Noticia-se, nos procedimentos administrativos analisados, que alguns cartórios de registro de imóveis estavam promovendo o cancelamento de averbações da reserva legal ou alterando a sua localização sem a anuência da autoridade Ambiental
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competente, em grave violação da Lei Federal 12.651/2012., amparados no Decreto Estadual 2711/2015. Qualquer ato cartorial neste sentido é nulo. Estabelece o artigo 14 da Lei Federal 12.651/2012 dispõe:
"Art. 14. A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os seguintes estudos e critérios:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o Zoneamento Ecológico-Econômico
III - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida;
IV - as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e
V - as áreas de maior fragilidade ambiental.
§ O órgão estadual integrante do Sisnama ou instituição por ele habilitada deverá aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR, conforme o art. 29 desta LeL" (destacamos)
Tais atos cartoriais estavam sendo realizados com fundamento no artigo 66 da Lei Federal 12.651/2012 e no artigo 12 do Decreto Estadual 2.711/2015. Só por este fato relatado, percebe-se, com total clareza, que o artigo 12 do Decreto Estadual deve ser revogado.
Ora, as normas devem ser interpretadas sistematicamente com a sua perspectiva teleológica bem definida. A Lei 12.651/2011,dispõe que a reserva legal deve ter a sua localização estabelecida com a anuência do órgão ambiental estadual - IAP (art. 12) e a sua compensação deve ser objeto de averbação (art. 78).
Mais especificamente a Lei Federal 6.015/1973 dispõe:
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"Art. 250. O cancelamento poderá ser total ou parcial e referir-se a qualquer dos atos do registro, sendo promovido pelos interessados, mediante sentença definitiva ou documento hábil, ou, ainda, a requerimento unânime das partes que convierem no ato registrado, se capazes e conhecidas do oficial."(sem destaques no original)
O cancelamento da averbação apenas poderá ser feita com apresentação de requerimento contendo a concordância unânime das partes que tenham assinado o Termo de Compromisso. Não pode o IAP outorgar qualquer anuência para o cancelamento de averbação de títulos que não sejam os seus.
Cabe ressaltar que a Lei Federal 12.651/2012 não estabelece a possibilidade de cancelamento de averbações de Reserva Legal, afirma apenas que o seu registro no Cadastro Ambiental Rural desobriga a averbação no Cartório de Registro de Imóveis (art. 18 § 4°).
Continuando no mesmo descompasso legal, os artigos 30, 31, 32 e 33 do Decreto Estadual 2711/2015 determinam:
"Art. 30. Os termos de compromisso, de ajustamento de conduta ou afins, que tenham sido firmados conforme exigências da Lei Federal n° 4.771/65 deverão ser adequados à Lei Federal n° 12.651/12 e, caso averbados na matrícula do imóvel, ter a averbação substituída pela apresentação do protocolo de revisão do termo." (destacamos)
O artigo 30, acima transcrito, é inconstitucional e viola diversos princípios e regras do direito. Como já esclarecido, a lei de registros públicos exige, para o cancelamento das averbações, a manifestação concreta dos interessados. Por este artigo bastaria um simples requerimento para que os termos de compromisso ambiental fossem revistos. Lembramos que o termo de compromisso tem natureza contratual, sendo que a modificação de negócios jurídicos por ato de vontade unilateral é incompatível com os princípios gerais dos contratos. Ora, o Compromissário não tem o direito de impor a sua vontade ao Compromitente. A aplicação do artigo 30 possibilita a revisão de atos jurídicos perfeitos e a modificação/supressão de direitos adquiridos.
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Como a Lei Federal 12.651/2012 é menos rigorosa do que a Lei Federal 4771/1965 (ANTIGO Código Florestal), a revisão de termos de compromisso poderá implicar em perdas ambientais e a modificação de direitos adquiridos. É nesse sentido que tem sido o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que considera a irretroatividade da lei nova (12.651/2012), não atingindo ato jurídico perfeito e direito adquirido durante a vigência da lei antiga (4771/65) - artigo 6°, caput da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - PET no Recurso Especial n° 1.240.122-PR (2011/00/0046149-6) cópia da decisão em anexo.
Ainda, recentemente o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná julgou uma ação de execução de obrigação de fazer, em que o objeto era o cumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público com um particular para a recomposição da Reserva Florestal Legal, firmado na vigência da Lei Federal 4771/65, antigo Código Florestal. A alegação do Executado de que a pretensão do Ministério Público não deveria ser deferida porque a nova lei (LF 12651/2012) regulava de modo diverso a matéria, não obteve êxito. Decidiu o TJ Paraná no mesmo sentido que o STJ, rechaçando a existência de uma anistia ampla e irrestrita, afirmando o entendimento de que a nova lei não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir a proteção dos ecossistemas - 4a Câmara Cível, Des. Relator Guido Dõbeli, Ag n° 1.135.505-2 - cópia em anexo.
Art. 31. As averbações de Reserva Legal realizadas em percentual superior ao exigido pela nova legislação, em caso de requerimento pelo proprietário, deverão ser adequadas conforme declaração do CAR ativo, após a análise pelo órgão ambiental, nos termos do §2° do art. 9°." (sem destaques no original)
Estabelece o §2° do artigo 9° ao qual faz menção o artigo 31 acima transcrito:
Art. 9° O registro da reserva legal no CAR desobriga a averbação em cartório.
§ 1° Quando for exigido CAR homologado ou com a análise concluída pelo órgão ambiental, e ainda estiver pendente, o interessado deverá comunicar a situação por escrito ao órgão ambiental.
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2° Após o recebimento do requerimento previsto no § 1°, o órgão ambiental terá o prazo de 30 (trinta) dias para responder o pedido.
Cabe aqui lembrar que a manutenção das áreas de Reserva Legal é obrigação propter rem, implicando em consequências jurídicas, entre as quais a sua natureza de direito público, ou seja, indisponível. Admitir o cancelamento de uma Reserva Legal pelo simples requerimento da parte, sem anuência do IAP, afronta a indisponibilidade do bem jurídico e viola os princípios da continuidade e do devido processo legal dos registros público.
Da forma como está redigido o artigo, o Cartório de Registro de Imóveis poderia cancelar a averbação da Reserva Legal em percentual superior ao exigido pela Lei 12.651/2012, posto que bastaria o requerimento e o transcurso do prazo de 30 dias para se efetivar o cancelamento de sua averbação. Este dispositivo afronta o artigo 250 da Lei de Registros Públicos (6105/1973), já anteriormente transcrito.
Art. 32. Nos imóveis resultantes de desmembramento, a qualquer título, de imóvel com averbação regular e no qual a cobertura florestal seja fisicamente existente conquanto permaneçam em área rural, terão averbações nos registros de imóveis, em percentuais proporcionais a cada fração, podendo, por acordo expresso das partes, a área averbada permanecer em um só dos imóveis.
A manifestação do órgão ambiental nos casos de desmembramento é imprescindível, sob pena das averbações ocorrerem em descompasso com a realidade fática e com a Lei Federal 12.651/2012. Note-se que o artigo 14 §1° da citada Lei Federal, quando fala da delimitação da área de Reserva Legal deverá ser aprovada pelo órgão estadual integrante do SISNAMA.
O artigo 32 também afronta os princípios da publicidade e informação dos registros públicos (Lei Federal 6015), posto que a introdução do gerúndio podendo implica em tornar facultativo o dever legal de informar as limitações legais ao direito de propriedade.
Art. 33. Com a apresentação do CAR ativo constando a compensação de Reserva Legal efetivada em outra área, de acordo com a legislação, os Cartórios de Registros de Imóveis promoverão o cancelamento na
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averbação da Reserva Legal anterior, promovendo a nova averbação, caso necessária"(destacamos)
Mais uma vez lembramos que o CAR ATIVO é apenas e tão somente um ato declaratório que pode ou NÃO, conter informações corretas. Retira a competência atribuída pelo artigo 14 § 1° da Lei Federal 12.651/2012, ao órgão estadual integrante do SISNAMA (IAP) de aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão no CAR, já transcrito, além do disposto no artigo 24 da Lei Estadual 18295/2014.
Por fim, o cancelamento da averbação da Reserva Legal apenas poderá ocorrer se estiver afrontando a lei de regência da época em que o ato jurídico foi realizado - tempus regit actum.
Estabelece o artigo 34 do Decreto Estadual 2711/2015:
"Art. 34. O ato de registro das Escrituras Públicas pelo Cartório de Registro de Imóveis não implicará em sua responsabilização pela veracidade das informações apresentadas no CAR, cuja responsabilidade é exclusiva do proprietário ou possuidor declarante.
Parágrafo único. A diferença entre a área informada no CAR e as constantes na matrícula ou no georreferenciamento não será considerada irregularidade."
A compensação da Reserva Legal apenas poderá ser realizada com a anuência do IAP. A responsabilidade civil ambiental é objetiva e pode, no caso concreto, alcançar todos aqueles que contribuírem para a ocorrência de danos ao meio ambiente. Observa-se, mais uma vez a importância da implantação do módulo Análise do CAR, posto que apenas depois da sua implantação é que o órgão ambiental poderá analisar a veracidade das informações prestadas pelo proprietário/possuidor.
Assim, caso as informações sejam inexatas, prestadas de forma dolosa ou culposa, resultando em dano ao meio ambiente, todos aqueles que participarem de tais atos (inclusive os Cartórios de Registro de Imóveis), responderão objetivamente pelo prejuízo causado, uma vez que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (art. 225 caput e § 3° da CF). E ainda, relembramos o que segundo o § 1° do artigo 6° do Decreto Federal 7830/2012, segundo o qual, as informações são de responsabilidade do
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declarante que incorrerá em sanções penais e administrativas, sem prejuízo de outras previstas na legislação, quando total ou parcialmente falsas, enganosas ou omissas.
Transcrevemos, agora, o que estabelece o artigo 35 do Decreto Estadual:
"Art. 35. O imóvel que tinha Reserva Legal ou Termo de Compromisso averbado, mas sem cobertura florestal, poderá após regularizar a Reserva Legal junto ao CAR através das formas descritas neste Decreto, requerer ao Cartório de Registro de Imóveis o cancelamento da situação anterior."
Não existe regularização ambiental no CAR, apenas no PRA — Programa de Regularização Ambiental.
Chamamos a atenção para o artigo 36:
Art. 36. As propriedades ou posses com área de até 4 (quatro) módulos fiscais que tenham averbado Reserva Legal em áreas desprovidas de vegetação ou Termos de Compromisso nos moldes da Lei Federal n° 4.771/65 e que se enquadrem no perfil de dispensa de regeneração, recomposição ou compensação de Reserva Legal, com o CAR ativo poderão requerer o cancelamento da averbação após a análise pelo órgão ambiental, nos termos do § 2° do art. 9°."
Este dispositivo é ilegal, pois viola o artigo 250 da Lei de Registros Públicos e o artigo 14 da Lei Federal 12.651/2012, além de afrontar a Constituição Federal. As averbações realizadas em atendimento a Lei Federal 4771/1965 constituem-se em atos jurídicos perfeitos e direito coletivo adquirido. Viola o princípio da irretroatividade da norma e contradiz a posição dominante do STJ e do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, como já anteriormente explicado.
Analisemos, agora o que estabelece o parágrafo único do artigo 19 do Decreto Estadual 2711/2015:
"Art. 19. A recomposição da Reserva Legal, de que trata o art. 66 da Lei Federal n° 12.651/2012, deverá atender os critérios estipulados pelo órgão ambiental e ser concluída em até 20 (vinte) anos, abrangendo, a cada dois anos, no mínimo um décimo da área total necessária à sua complementação.
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Parágrafo único. Obedecidas as formas de regularização previstas nas leis mencionadas no caput, a regularização poderá ser realizada diretamente no CAR ou proposta no PRA."
A regularização da recomposição da Reserva Legal não pode ser realizada no CAR porque este é apenas um cadastro, sendo que o mecanismo apropriado é o PRA - Programa de Regularização Ambiental. Este parágrafo não pode permanecer devido ao erro crasso que apresenta, pelas razões já explicitadas, podendo causar ainda mais confusão, uma vez que não pode ser cumprido.
Vejamos o artigo 20 do Decreto Estadual:
"Art. 20. A compensação de área de Reserva Legal poderá ser realizada no ato de inscrição no CAR ou posteriormente, a critério do interessado."
Conforme já restou esclarecido, a compensação da área de Reserva Legal não pode ser realizada no momento da inscrição do imóvel no CAR, uma vez que o Sistema SICAR, ao qual o Estado do Paraná aderiu, ainda não está implementado (o módulo análise ainda não foi repassado), bem como por afrontar o que estabelece o § 1° do artigo 14 da Lei Federal 12.651/2012 (o órgão ambiental deve aprovar a localização da Reserva Legal após a inclusão do imóvel no CAR).
Como bem informado pela DIREF (fls. 38 do SID 13.844.766-9) "O sistema SICAR prevê esta possibilidade somente para o previsto no artigo 21: Para os imóveis que já realizaram a compensação de Reserva Legal, em momento anterior a edição da Lei Federal n° 12.651/12, com situação averbada na matrícula do imóvel."
Da mesma forma o parágrafo único do artigo 25 do Decreto Estadual não pode ser aplicado porque o Sistema SICAR não está em funcionamento para o módulo Análise e PRA.
"Art. 25. ...
Parágrafo único. A compensação de reserva legal da área cedida em Unidades de Conservação federal ou municipal será registrada no SICAR acompanhada das informações do imóvel que está com déficit de Reserva Legal e inscrição no CAR."
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Assim, diante de todas as considerações técnicas levantadas pela Diretoria do Instituto Ambiental do Paraná, e as implicações técnicas e legais aqui exposadas que demonstram a inviabilidade de aplicação do Decreto Estadual 2711/2015, bem como a sua contrariedade com a legislação federal que rege a matéria, sugerimos que o mesmo seja revisto em sua totalidade
Curitiba, 02 de dezembro de 2016.
Cecy TherezáCercal Kréutzer de Góes
OAB/PR 14.458
ESTADO DO PARANÁ PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO Assessoria Técnica do Gabinete do Procurador-Geral
91-
(,‘
Protocolo n° 13.686.057-7
Assunto: Questionamento IAP sobre a eficácia dos termos de ajustamento de conduta
firmados anteriormente à Lei Federal n° 12.651/2012.
Interessados: Federação da Agricultura do Estado do Paraná; instituto Ambiental do
Paraná
INFORMAÇÃO N° 141/2015 — AT/GAB/PGE
I. DA CONSULTA FORMULADA
A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (fl. 35) solicita
sejam esclarecidos os questionamentos formulados pelo Instituto Ambiental do Paraná --
1AP, acerca da validade e eficácia dos Termos de Ajustamento de Conduta - TAC firmados
anteriormente à Lei Federal n° 12.651/2012 (Código Florestal).
Em fls. 31 a 34, a Autarquia esclarece que existem divergências de
entendimento jurídico quanto ao alcance da Lei Federal n° 12.651/2012 sobre situações
tratadas sob a vigência da Lei n° 4.771/65 (Código Florestal antigo).
Esclarece que inúmeros foram os TAC firmados sob a vigência da Lei
Federal n° 4.771/65 e cadastrados no SISLEG (Sistema de Manutenção, Recuperação e
Proteção da reserva Legal e áreas de Preservação Permanente).
Aduz que o artigo 12 do Decr'eto Federal no 8.235/14 (que
regulamenta a Lei Federal n° 12,651/2012) estabeleceu a possibilidade de revisão dos
termos de ajustamento de conduta, tendo essa regra sido reproduzida pela Lei Estadual n°
18.295/2014 (art. 5°), nos seguintes termos:
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-s\ ESTADO DO PARANÁ PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO Assessoria Técnica do Gabinete do Procurador-Geral
Art. 5° Os Termos de Compromisso ou instrumentos similares para a
regularização ambiental do imóvel rural referentes às Áreas de
Preservação Permanente, de Reserva Lega! e de uso restrito, firmados sob
a vigência da legislação anterior, deverão ser revistos para se adequarem
ao disposta na Lei Federal n° 12.651, de 2012,
§ 1° A assinatura do Termo de Compromisso de adesão ao PRA substituirá
automaticamente os termos anteriores desde que tenha havido prévio
requerimento, devendo ser inscrito no Sistema Nacional de Cadastro
Ambiental Rural SICAR.
§ 2° Caso não haja pedido de revisão, os termas ou instrumentos de que trata o caput deste artigo serão respeitados
Frente a esse cenário, requer seja definido o entendimento jurídico
a ser adotado pela Autarquia, para o fim de regularização das propriedades no SICAR-PR
(Sistema de Cadastro Ambiental Rural do Estado do Paraná), regulamentado pelo Decreto
n° 8.680/13, editando-se decreto regulamentador da Lei Estadual n° 18.295/2014,
considerando as seguintes hipóteses nor teadoras (f1. 34):
"(a) anulação completa do Termo de Compromisso firmado no escopo da
SISLEG. Adequando as exigências ambientais ao disposto na Lei
12,651/12, estabelecendo, quando necessário, novo termo de
comproMisso para adesão ao PRA. Independentemente do estágio de cumprimento do -1C inicial.
(b) exigência do cumprimento pelo Proprietário das obrigações pactuadas
no TC firmado no escopo do SISLEG até a data de publicação da Lei n°
12.651/12. Quando necessário estabelecimento de um novo termo de
Compromisso para adesão ao PRA conforme o disposto na Lei n° 12.651/12;
(c) exigência do cumprimento integrai cio Termo de Compromisso
estabelecido no escopo do SISLEG para a continuidade do processo de regularização ambiental da propriedade no SICAR.'
Vieram-nos os autos para manifestação.
Rua Paula Gomes, 145 j São Francisco j 80510 070 j CurHba l Parava j Brasil j [41] 3281-63001 www,p9e.prigov.br 2
- O, ESTADO DO PARANÁ PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO Assessoria Técnica do Gabinete do Procurador-Geral
1. DA APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO -- SUPERVENIENCIA DO NOVO CODIGO FLORESTAL EM RELAÇÃO
AOS TERMOS DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA ANTERIORMENTE FIRMADOS
1.1 ENTENDIMENTO DA DOUTRINF, AMBIENTALISTA
Os termos de compromisso ou termos de ajustamento de conduta
(TAC) possuem natureza jurídica de acordo ou transação' e eficácia de títulos executivos
extrajudiciais, dotados dos atributos de certeza, liquidez e exigibilidade. Dispõe o art. 5°, §
6°, da Lei n° 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública):
Art. 50 ( ..) § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo
extrajudicial. (Destacamos).
Uma vez formalizados, os TAC revestem-se da garantia do ato
jurídico perfeito (artigo 5°, inc. XXXVI' da CF/88), gerando efeitos consoante as cláusulas e
condições pactuadas entre as partes.
No caso em apreço, os Termos de Ajustamento de Conduta (ou
termos de compromisso) a que se referem os questionamentos de fls. 31 a 34 são aqueles
celebrados entre o Instituto Ambientai do Paraná - IAP, órgão público legitimado e
pessoas em situação de infração às leis ambientais.
Indaga-se acerca da situação dos termos de compromisso firmados
sob a vigência da Lei Federal n° 4.771/65 (antigo Código Florestal), frente ao advento de lei
ambiental superveniente (Lei Federal n° 12.651/2012) e, sobretudo, diante do disposto no
art, 5° da Lei Estadual n° 18.795/2014, que determina a revisão dos TAC para o fim de
adequação ao novo Código Florestal.
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de Ajustamento de Conduta Ambiental. 2ã ed. rev. e
atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, pi 69: "Ainda assim, a quase totalidade das autores
do tema se posiciona no sentido de que se trata de transação, que não envolve o bem ambiental em si, mas
a situação periférica de resguardo do mosmo."
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico pe'feito e a coisa julgada;
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Questiona-se, assim, qual é a extensão da eficácia e/ou validade dos
TAC firmados sob a vigência do Código Florestal de 1965, diante do novo regramento legal
para as matérias objeto do acordo ou transação (situações delineadas nos itens "a" a "c" de
fls. 34).
O tema em exame traduz relevante questão de direito
intertemporal (aplicação da lei no tempo), exigindo-se a ponderação de princípios que
norteiam a questão relativa à incidência de leis aos Termos de Ajustamento de Conduta
celebrados antes da entrada em vigor do novo Código Florestal.
Com efeito, o advento do Código Florestal de 2012 provocou ampla
reflexão doutrinária e um forte debate na seara jurisprudencial, quer quanto à
constitucionalidade de inúmeros dispositivos da lei, quer em relação à incidência do novo
diploma a termos de compromisso celebrados sob a égide do Código Florestal de 1965,
com todos os efeitos daí decorrentes.
No entendimento de AKAOU13, os Termos de Ajustamento Conduta
já celebrados e os processos em que houve sentença transitada em julgado não sofrem
qualquer inflexão das novas regras do Código Florestal, porque implicam reformatio in
pejus ao meio ambiente. Vale conferir:
A alteração dos limites de uma APP, a supressão da proteção de uma área anteriormente considerada como de preservação permanente, a diminuição da área de Reserva Legal ou a desnecessidade de sua instituição em alguns casos, não deverá alcançar as situações jurídicas já protegidas pelo manto _dg ato jurídico perfeito 'consubstanciado num compromisso de ajustamento de conduta, que, aliás, possui natureza jurídica de garantia mínima para a sociedade.
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Intertemporalidade e reforma do Código Florestai. In: Revista de Direito Ambiental. Ano 17, Vol. 65. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. Pág. 27-36,
Rua Paula Gomes, 1451São Francisco180510 070 ! Curitiba 1Paraná Brasil !14113281-63001www.pge.pr,gov.br 4
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No entendimento do autor', aplica-se a norma vigente ao tempo da
celebração do Termo de Ajustamento de Conduta (ultratividade do Código Florestal de
1965). Confira-se:
Nem se alegue, também, que o Termo de Ajustamento de Conduta estaria
afetado em sua essência pela edição de lei posterior menos protetiva ao
meio ambiente, pois a conduta não deixaria de estar ajustada à lei, ainda que revogada, porém ainda em vigor em relação aos fatos pendentes
(ultratividade).
Aliás, reforce-se que a ultratividade da norma vigente à época da
celebração do Compromisso de Ajustamento de Conduta se conforma
pela vedação à retroatividade da legislação superveniente no que tange
ao ato iurídico perfeito, que conforme leciona André Ramos Tavares "é
aquela relação reconhecida pelo direito que já se completou em sua
inteireza, ainda que não tenham produzido todos os efeitos .previstos no
momento de sua finalização".
Ora, é exatamente isto o que ocorre aqui, em que o compromisso firmado,
com cláusulas seguras que lhe conferem certeza, liquidez e exigibilidade,
completa a relação jurídica em sua inteireza e o seu cumprimento constitui mera produção dos efeitos, todos previstos quando de sua finalização, inclusive os preceitos secundários cominatórios, como multa
diária, por exemplo.
De igual sorte, os autores DO VALLE e BEXIGA', a partir da análise
jurisprudencial acerca da matéria, concluem que os Termos de Ajustamento de Conduta
firmados anteriormente à entrada em vigor do novo Código Florestai permanecem válidos
e eficazes, pois a lei não pode retroaqir para modificar acordos já firmados.
Para referidos doutrinadores, prevalece' "o princípio da
irretroatividade da lei para atingir os direitos adquiridos da sociedade a um ambiente
ecologicamente equilibrado, garantidos por urna legislação mais protetiva que tenha sido
revogada':
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Intertemporalidade e reforma cio Código Florestal. In: Revista de Direito Ambiental. Ano 17. Vol. FS. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. Pág. 36-40.
DO VALLE, Raul Silva Telles; BEXIGA, Caio. Há dúvidas se nova Lei Florestal se aplica a acordos firmados
antes. In: Revista Consultor Jurídico Acesso em 2809.15. Disponível em: ht-tp://www.conjur.corn.br/2014-
jul 12/raul-valle-duvidas-lei-florestal-aplica-acordos-firmados-antes
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Cumpre-nos mencionar, outrossim, a Nota Técnica n°
01/2013/PFE/1NCRA/PGF/AGL 6, elaborada a partir de estudos realizados no âmbito da
Advocacia Geral da União.
Naquele documento, ao analisar as implicações do novo Código
Florestal na atuação do INCRA, o grupo de trabalho concluiu ser aplicável a norma vigente
ao tempo da celebração do ato jurídico (no caso, do termo de ajustamento de conduta):
d) aplicação do direito intertemporal ao conceito de reserva legal
consolidada: as vistorias que consideraram a existência de déficit de
reserva legai pela não adequação a novos percentuais e deram origem a deflagração de processos administrativos com vistas à desapropriação
sancionatória consideram-se atos jurídicos perfeitos, Eventual alegação
em juízo sobre direito superveniente menos grave não deve prevalecer consoante orientação doutrinária e jurisprudencial já firmada. Porém, as
futuras vistorias deverão levar em conta o teor do art. 68, de modo que
caberá ao proprietário ou possuidor, na forma do art. 68, § lo, comprovar
que o percentual de reserva legai preservado tinha respaldo em legislação
anterior, b que impedira os técnicos de aferirem de forma negativa quanto
ao cumprimento da função social da propriedade rural.
No âmbito doutrinário, portanto, não se admite seja mitigada a
eficácia e a validade dos Termos de Ajustamento de Conduta, como consequência da
entrada em vigor da Lei Federal n° 12.651/12. A manutenção dos compromissos
anteriormente celebrados é concebida como corolário do princípio da segurança jurídica,
bem como das garantias do ato jurídico perfeito e do direito adquirido ao meio ambiente.
1.2. JURISPRUDÊNCIA - POSICIONAMENTOS DIVERGENTES ACERCA DA EFICÁCIA DOS TAC
COM O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL
No âmbito jurisprudencial, existem duas correntes que norteiam o
enquadramento jurídico a ser conterft4,0 aos Termos de Ajustamento de Conduta
celebrados sob a vigência do Código Florestal de 1965,a vista da superveniência cia Lei
Federal no 12.651/12.
6 Disponível em: http://www.agu.gov.br/page/down!oad/index/id/1.6515838
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A primeira corrente_que se apresenta como majoritária, posiciona-
se no sentido da certeza, liquidez e exigibilidade dos Terrn.os de Ajustamento de Conduta
firmados em momento anterior à entrada em vigor do novo Código Florestal, isto é,
sustenta a plena eficácia e validade dos TAC anteriormente firmados.
Cite-se como exemplo o precedente paradigmático do Tribunal de
Justiça do Paraná, no qual se enfrentou expressamente a questão da aplicação da lei no
tempo (direito intertemporal) e a situação dos termos de compromissos anteriormente
firmados. Vale conferir:
Tribunal. de Justiça do Paraná AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TAC FIRMADO NO ANO DE 2000, PARA A REGULARIZAÇÃO DE PENDÊNCIA ATINENTE À ÁREA DE RESERVA LEGAL EM IMÓVEL RURAL, DESCUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE O ÓRGÃO AMBIENTAL DEFERIU O PEDIDO ADMINISTRATIVO DE REGULARIZAÇÃO DA ÁREA MEDIANTE COMPENSAÇÃO. PRETENSÃO ADEMAIS, DE EXTINGUIR OU SUSPENDER A EXECUÇÃO COM BASE NAS DISPO_ SIOES DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL, DESCABIMENTO.TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE REVESTE EFICÁCIA DE TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL, NOS TERMOS DO ART. 5° § 6° DA LEI NI° 7.347/85 (AÇÃO CIVIL PUBLICALOBRIGAÇÃO CONSTITUÍDA SOB A ÉGIDE DA LEGISLAÇÃO ANTERIOR, ATO JURÍDICO PERFEITO. INTELIGÊNCIA DO ART. 5°,_ XXXVI DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E DO ART. 6° DO DECRETO-LEI N° 4,657/1942 LLEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO),IRRETROATIVIDADE DA LEI NOVA. MÁXIMA PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. PRECEDENTES DO STJ, EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA. DECISÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Embora a compensação com mata nativa constitua meio licito para a regularização de área de Reserva Legal, a implantação desse mecanismo depende da validação, caso a caso, do órgão ambiental competente. 2. A eficácia executiva do Termo de Ajustamento de Conduta tem lastro no microssistema legal da Ação Civil Pública (art. 5°, § 6°), de forma que o inadimplemento da obrigação assumida é causa suficiente para o ajuizamento da execução correspondente. 3. O ingresso de nova lei no ordenamento jurídico deve respeitar o ato jurídico perfeito, consoante asseguram o art. 5°, XXXVI, da Constituição Federal, e o art. 6° do Decreto-lei n° 4.657/1942 (Lei de
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Introdução às Normas do Direito Brasileiro).
4. O Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou no sentido de rechaçar a existência de uma anistia ampla e irrestrita, afirmando o entendimento de que o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir a proteção aos ecossistemas.
5. Com esse entendimento, a Col. Corte Superior "faz valer, no campo ambiental-urbanístico, a norma mais rigorosa vigente à época dos fatos, e não a contemporânea ao julgamento da causa, menos protetora da Natureza: O "direito material aplicável à espécie é o então vigente à época dos fatos". (PET no REsp 1240122/ PR, Rel. Ministro • HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
çair 02/10/2012, DJe 19/12/2012). (TJPR 4a C.Cível AI - 1135505-2 - Guaíra - Rel.: Guido Dobeli -Unânime - J. 19.08.2014)
Considerou-se, no caso, que a válida formação do TACI segundo as
normas aplicáveis à época de sua realiza o, reveste o acordo da garantia do ato jurídico
perfeito afastando-se os argumentos de inexigibilidade ou invalidada do título.
Entendeu-se, ademais, que a novel legislação abriu "aos
proprietários e possuidores uma nova vigia para a regularização ambiental de seus imóveis
rurais, mas a qual não lhes exonerou do cumprimento das obrigações perfeitamente
constituídas sob a vigência do diploma normativo anterior",
É importante frisar que o precedente acima corrobora o
entendimento hoje assente no Superior Tribunal de Justiça, no campo ambiental-
urbe n is tico.
Para a Corte Superior, há que se aplicar "a norma mais rigorosa
vigente à época dos fatos e, não, a contemporânea úo julgamento da causa, menos
protetora da Natureza': Confira-se:
Superior Trbunai de Justiça PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012). REQUERIMENTO. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE. RECEBIMENTO COMO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC NÃO APONTADA. AUTO DE INFRAÇÃO. IRRETROATIVIDADE DA LEI NOVA.
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Fls. n.°
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ATO JURÍDICO PERFEITO. DIREITO ADQUIRIDO. ART. 6.,CAPUT DA LEI DE
INTRODUÇAO AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO,
1. Trata-se de requerimento apresentado pelo recorrente, proprietário rural, no bojo de "ação de anulação de ato c/c indenizatória", com intuito de ver reconhecida a falta de interesse de agir superveniente do Ibama, em razão da entrada em vigor da Lei 12.651/2012 (novo Código Florestal), que revogou o Código Florestal de 1965 (Lei 4,771) e a Lei 7.754/1989. Argumenta que a nova legislação "o isentou da punição que o afligia", e que "seu ato não representa mais ilícito algum", estando, pois, "livre das punições impostas'. Numa palavra, afirma que a Lei 12.651/2012 procedera à anistia dos infratores do Código Florestal de 1965, daí sem valor o auto de infração ambiental lavrado contra si e a imposição de multa de R$ 1.500, por ocupação e exploração irregulares, anteriores a julho de 2008, de Área de Preservação Permanente nas margens do rio Santo Antônio. 2. O requerimento caracteriza, em verdade, pleito de reconsideração da decisão colegiada proferida pela Segunda Turma, o que não é admitido pelo STJ. Nesse sentido: RCDESP no AgRg no Ag 1.285,896/M5, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Segunda Turma, DJe 29.11.2010; AgRg nos EREsp 1.068.838/PR, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe 11.11.2010; PET nos EDcI no AgRg no Ag 658.661/MG, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJe 17.3.2011; RCDESP no CC 107.155/MT, Rei. Ministro Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJe 17.9.2010; RCDESP no Ag 1.242.195/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 3.9.2010. Por outro lado, impossível receber pedido de reconsideração como Embargos de Declaração, sob o manto do princípio da fungibiiidade recursal, pois não se levanta nenhuma das hipóteses do art. 535 do CPC. 3. Precedente do ST1 que faz valer, no campo ambiental-urbanístico, a norma mais rigorosa vigente à época dos fatos, e não a contemporânea ao julgamento da causa, menos protetora da Natureza: O "direito material aplicável ã es_pécie é o então vigente à época dos fatos. In casu, Lei n. 6.766/79, art. 4., III, que determinava, em sua redação originai, a 'faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado' do arroio" (REsp 980,709/R5, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 2.12.2008). 4. Ademais, como deixa claro o novo Código Florestal (art. 59), o legislador não anistiou geral e irrestritarhente as infrações ou extinguiu a ilicitude de condutas anteriores a 22 de julho de 2008, de modo a implicar perda superveniente de interesse de agir. Ao contrário, a recuperação do meio ambiente degradado nas chamadas áreas rurais consolidadas continua de rigor, agora por meio de procedimento administrativo, no âmbito de Programa de Regularização Ambiental - PRA, após a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural CAR (5 2°) e a assinatura de Termo de Compromisso (TC), valendo este como título extrajudicial (5 3°). Apenas a partir daí "serão suspensas" as sanções aplicadas ou aplicáveis (5 5°, grife acrescentado). Com o cumprimento das obrigações previstas no PRA ou no TC, "as multas" (e só das) "serão consideradas convertidas em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente". 5. Ora, se os autos de infração é multas lavrados tivessem sido invalidados pelo novo Código ou houvesse sido decretada anistia geral e irrestrita das violações que lhe deram origem (':onfiguraria patente contradição e ofensa à lógica jurídica a mesma lei referir-se a "suspensão" e "conversão" dacluilo_que não mais existiria; _o le_girlador não suspende, nem converte o
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nada jurídico. Val.e dizer os atitos de infração lá constituídos permanecem
válidos e blindados como atpsigrídicos perfeitos que são - apenas a sua
exigibilidade monetária fica suspensa na esfera administrativa, no
aguardo do cumprimento integral das obrigações estabelecidas no PRA ou no TC. Tal basta para bem demonstrar que se mantém incólume o interesse de agir nas demandas judiciais em curso, não ocorrendo perda de objeto e extinção do processo sem resolução de mérito (CPC, art. 267, VI). 6. Pedido de reconsideração não conhecido. (PET no REsp 12,10122/PR. Rei. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/10/2012, ale 19/12/2012)
ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. FORMAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL, OBRIGAÇÃO PROPTER REM. SÚMULA 83/STJ. PREJUDICADA A ANÁLISE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. SUPERVENIÊNCIA DA LEI 12.651/12. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO IMEDIATA. IRRETROATIVIDADE.
PROTEÇÃO AOS ECOSSISTEMAS FRÁGEIS. INCUMBÊNCIA DO ESTADO.
INDEFERIMENTO.
1. A jurisprudência desta Corte está firmada no sentido de que os deveres associados às APPs e à Reserva Legal têm natureza de obrigação propter rem, isto é, aderem ao título de domínio ou posse, independente do fato de ter sido ou não o proprietário o autor da degradação ambientai. Casos em que não há falar em culpa ou nexo causal como determinantes do dever de recuperar a área de preservação permanente. 2. Prejudicada a análise da divergência jurisprudencial apresentada, porquanto a negatória de seguimento do recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional baseou-se em jurisprudência recente e consolidada desta Corte, aplicável ao caso dos autos. 3. Indefiro o pedido de aplicação imediata da Lei 12.651/12, notadarnente o disposto no art. 15 do citado regramento. Recentemente, esta Turma, por relatoria do Ministro Herman Benjamin, firmóu o entendimento de que ''o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa Tulgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinc_ão, aponto_ de transgredir o limite constitucional Intocável e intransponível da 'incumbência' do Estado de_garantir a preservação e restauração dos processos ecológicos 'essenciais (art. 225, § 1° 1):' Agravo regimental improvido.(AgRgnoAREsp 327.687/SP, Rel. Min, HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julg. em 15/08/2013, ale 26/08/2013)
O Superior Tribunal de Justiça, como se vê dos precedentes
acima, não apenas posiciona se no sentido da validade e exigibilidade de termos de
compromisso firmados anteriormente à Lei Federai n° 12.651/2012 (irretroatividade da
norma ambiental), como também milita pela manutenção dos efeitos dos TAC celebrados,
haja vista a garantia do direito ambiental adquirido.
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No âmbito do Tribunal de Justiça de São Paulo, de igual sorte,
existem os seguintes precedentes, que militam no sentido da plena eficácia e validade de
termos de ajustamento de conduta firmados anteriormente à Lei Federal n° 12.651/2012.
Confiram- se:
Tribunal de Justiça de São Paulo
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM FASE DE EXECUÇÃO
DE SENTENÇA - CONDENAÇÃO IMPOSTA SOB A VIGÊNCIA DA LEI N°
4.771/65 - TERMO DE COMPROMISSO DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL FIRMADO SOB A ÉGIDE DE TAL TEXTO NORMATIVO - EDIÇÃO DO CÓDIGO
FLORESTAL ATUAL - LEI N° 12.651/12 - APLICAÇÃO DE SEUS DITAMES COM
O INTUITO DE SE PRESERVAR O PRINCÍPIO DA ISONOMIA - DESCABIMENTO - ARTIGOS 4°, § 1° E 62 - SENSÍVEL REDUÇÃO DO GRAU DE PROTEÇÃO DO
MEIO AMBIENTE - COISA JULGADA - PRESERVAÇÃO - PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO RETROCESSO - DECISÃO REFORMADA - RECURSO PROVIDO.
(AGRAVO DE INSTRUMENTO n° 2012816-29.2013.8,26.0000 - Relator(a):
João Negrini Filho: Comarca: Lins; Órgão julgador:1a Câmara Reservada ao
Meio Ambiente; Data do julgamento: 07/11/2013; Data de registro:
12/11/201.3)
MEIO AMBIENTE. EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA. Descumprimento de TAC. Ausência de vícios de ineficácia e validade do documento. Redução, porém, da multa imposta, a teor do disposto no art. 461, 5 6°, do CPC.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(Relator(a): Paulo Alcides; Comarca: Registro; Órgão julgador: 23 Câmara
Reservada ao Meio Ambiente; Data do julgamento: 13/08/2015; Data de
registro: 20/08/201 5)
Extrai -se do inteiro teor desse último aresta:
Ressalte-se, ainda, que em relação às regras do novo Código Florestal às
APPs, já está pacificado nas Câmaras Reservadas ao Meio Ambiente o
entendimento de que o Termo .de Ajustamento de Conduta firmado na vigência do antigo Código Florestal jLei n° 4.771/65) perfaz ato jurídico perfeito e acabado .(artigo 5°, inciso XXXV, da Constituição Federal),
inalcançaveL_poisi_p_elas novas disposições (Lei n° 12.651/2012). Inviável sujeitar o título executivo, firmado pelos recorrentes bem antes da
edição do novo diploma Florestal, às alterações legislativas advindas, sob
pena de grave afronta ao princípio da segurança jurídica.
Autorizar a aplicação das disposições mais benéficas advindas com o novo
Código florestai (em 2012) seria premiar a inércia dos agravantes em
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cumprir o TAC firmado no longínquo ano de 2007, em detrimento daqueles proprietários rurais que efetivamente cumpriram a obrigação
legal sob a égide da Lei n' 4,771/65.
Outros precedentes no mesmo sentido foram encontrados no
âmbito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
Tribunal de Justiça de Minas Gerais AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER -AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL - SUSPENSÃO DO FEITO ATÉ IMPLEMENTAÇÃO DO CAR - INVIABILIDADE - FATO OCORRIDO NA
VIGÊNCIA DA LEI 4.771/75 - NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12,6511)4 -
ART. 462- INAPLICABILIDADE - PRINCIPIO DA IRRETROATIVIDADE -
DECISÃO REFORMADA.
1. Por força do princípio da irretroatividade legal, o Novo Código Florestai
(Lei n° 12,651/12) não se aplica ao fato ocorrido sob o diploma revogado (Lei 4.771/75) e, por se tratar de direito superveniente, incabível Invocar os ditames do artigo 462 do CPC para este fim.
2. A averbação de reserva legal de propriedade rural cuja aquisição é anterior à entrada em vigor do Novo Código Florestal deve observar os ditames da lei em vigor ao tempo do fato. (7.1MG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0261.13.012201-1/001, Relator(a): Des,(a) Afrânio Vilela CÃMARA CÍVEL, julgamento em 08/09/2015, publicação da súmula em 16/09/2015)
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. - SUSPENSÃO DO PROCESSO - PROMULGAÇÃO DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL - PERDA DO OBJETO - ATO JURÍDICO PERFEITO - IRRETROATIVIDADE DA LEI CIVIL - TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA - AVERBAÇÃO DA RESERVA LEGAL - OBRIGAÇÃO DO
PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL - MINISTÉRIO PÚBLICO - COMPETÊNCIA PARA FISCALIZAR RESERVA LEGAL - INSTITUIÇÃO DA RESERVA LEGAL -INICIATIVA DO PROPRIETÁRIO. - A entrada em vigor do Novo Código Florestal em nada afeta a execução em trárnite,_cQjo título executivo_ extrajudicial consiste no Termo de
Ajustamento de Conduta firmado entre o executado e o Ministério
Público _portanto, ato jurídico perfeito, que não pode ser alcançado pela
nova Lei, eis que instituído na vigência da Lei 4.771/1965, nos termos do
art.60 § Decreto-Lei 4.657/1942 (Lei de Introdução às normas do
Direito Brasileiro, nova redação da Lei 12.376/2010). - A falta de limitação para a incidência da multa diária, não torna nulo o Termo de Ajustamento de Conduta, principalmente porque a fixação d
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termo final da incidência da multa, não constitui requisito legal para sua
imposição no Termo de Ajustamento de Conduta. Não acarreta a nulidade do Termo de Ajustamento de Conduta, o fato de
inexistir vegetação nativa no imóvel de propriedade do embargante,
tendo em vista ser obrigatória a averbação da área de reserva legal,.
yisandoprecipuamente à _areservação ambiental, como determinado_pela
Lei 4.771/1965 (Código Florestal), no seb art. 16, 5 8°, aplicável à espécie,
pois vigente à época da instituição do Termo de Ajustamento de Conduta.
- A pretensão do executado de se eximir do cumprimento do Termo de
Ajustamento de Conduta firmado com o MP afronta o princípio da boa fé
objetiva, já que sua obrigação consta do TAC firmado e a ninguém é permitido venire contra facturo proprium (pleitear em juízo contra os próprios atos). - A instituição da reserva legal é dever do proprietário, possuidor ou adquirente do imóvel rural, independentemente da existência de florestas
ou outras formas de vegetação nativa no imóvel. - O Ministério Público tem competência para fiscalizar as áreas de reserva
legal, amparado na legislação ambiental vigente. Deve partir do proprietário ou do possuidor do imóvel rural, a iniciativa
da instituição e averbação da reserva legal. (TJMG - Apelação Cível 1.0016.11.009361-0/001, Relator(a): Des.(a) Valdez Leite Machado , 14a CÂMARA CÍVEL, julgamento em 29/11/2012, publicação da súmula em 07/12/7012)
EMENTA: DIREITO AMBIENTAL, AÇÃO CIVIL PÚBLICA, CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO POR CARÊNCIA DA
AÇÃO. DESCABIMENTO. SUBSISTÊNCIA DO INTERESSE PROCESSUAL AVERBAÇÃO DE RESERVA LEGAL EM MATRICULA DE IMÓVEL RURAL. FUNDAMENTO NO ART. 16, III, DA LEI 4.775/65 (ANTIGO CÓDIGO FLORESTAL.), ADVENTO DA LEI 12.651/2012 (NOVO CÓDIGO FLORESTAL) QUE DISPENSA 1AL EXIGÊNCIA. IftRETROATIVIDADE DA LEI NOVA, OFENSA A COISA JULGADA. SEM ENÇA CASSADA.
- As condições da ação são aferíveis à luz da relação jurídica material deduzida em juizo, são elas a legitimidade ad causam, o interesse de agir ou interesse processual e a possibilidade jurídica do pedido.
- Não há que se falar em inexigibilidade do título exequendo, extinto o
cumprimento de sentença, sem resolução de mérito (art.276, VI, do CPC),
em face .a Lei n° 17.651/12, que deixou de exigir a implementação da área de reserva legal através do registro no Cartório de Imóveis. - O fato de ainda não ter sido criado o CAR (Cadastro Ambiental Rural) não implica a desobrigatoriedade da averbação da reserva legal no prazo estabelecido no art.29, 53°, da Lei 12.651/12, sob pena de inviabilizar referido instituto de proteção ao meio ambiente. - O artigo 5°, XXXVI, da Constituição Federal/88, assegura proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada, que não podem ser alcançados por alterações legislativas posteriores.
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- A obrigação de averbação da reserva legal no Cartório de Registro de Imóveis remanesce integra, decisão resguardada pelo trânsito em julgado, cuja eficácia é plena e não pode ser questionada ou afastada, o novo Código Florestal não surtirá efeitos nos autos da ação de conhecimento,
sob pena de ofensa à coisa julgada. - No reexame necessário, cassar a r. sentença, prejudicado o recurso
voluntário. (TJMG - Ap Cível/Reex Necessário 1.0016.10,003875-7/002, Relator(a)- Des.(a) Heloisa Combat , 4a CÂMARA MEL, julgamento em 24/10/2013, publicação da súmula em 01/11/2013)
Perante os Tribunais Regionais Federais que possuem precedentes
sobre a matéria, vigora igualmente o entendimento de que a legislação posterior não
pode retroagir para atingir os Termos de Compromisso firmados sob a esfera de legislação
ambiental mais protetiva, reconhecendo-se a manutenção de todos os efeitos (deveres e
obrigações assumidas) do TAC anteriorr=te celebrados. Confira-se:
Tribunal Regional Federai da 13 Região
AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (RIO GRANDE). APLICAÇÃO DA TEORIA DA
CAUSA MADURA. SUSPENSÃO DE ATIVIDADES AGRESSORAS AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL E DO POLUIDOR-
PAGADOR CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER (REPARAÇÃO DA ÁREA
DEGRADADA E DEMOLIÇÃO DE ÊDIFICAÇOES), DE NÃO FAZER (INIBIÇÃO
DE QUALQUER AÇÃO ANTRÓPICA SEM O REGULAR LICENCIAMENTO
AMBIENTAL). POSSIBILIDADE. IRRETROATIVIDADE DO NOVO CÓDIGO
FLORESTAL POR IMPERATIVO DO PRINCIPIO DA PROIBIÇÃO DA
REGRESSIVIDADE SOCIOAMBIENTAL EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE
EQUILIBRADO, ORIENTAÇÃO DA CARTA ENCÍCLICA SOCIAL-ECOLÓGICA LAUDATO SI, DO SANTO PADRE FRANCISCO, NA ESPÉCIE DOS AUTOS. REFORMA INTEGRAL DA SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE SUCUMBÊNCIA EM PROL DO VENCEDOR.
POSTULADO DA SIMETRIA. PRECEDENTE DO COLENDO STJ.
IV - Na inteligência jurisprudencial do colendo Superior Tribuna! de Justiça, o princípio da proibição do retrocesso ecológico, em defesa do meio ambiente equilibrado autoriza o entendimento de que "o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito,
direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir de tal modo e sem as necessárias compensações ambientais o patamar de proteção de ecossistemas frágeis ou espécies ameaçadas de extinção, a
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ponto de transgredir o limite constitucional intocável e intransponível da
'incumbência' do Estado de garantir a preservação e restauração dos
processos ecológicos essenciais (art. 225, § 1 1)." (AgRg no AREsp
327.687/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 15/08/2013, DJe 26/08/201 3).
(...) VII - Registre-se, por oportuno, que, não obstante as razões lançadas pelo
douto juízo monocratico, no sentido le adequar-se a atuação do órgão
ambientai às novas diretrizes estabelecidas no novo Código Florestal, no
caso concreto os autos de infração e embargo foram lavrados muito antes
da sua edk:ão não sepoclendo admitir a imposição da sua observância,
na hipótese em comento diante da proibição da regressividade
soioambiental consoante a doutrina citada de Ingo Wolfgang Sariet e
Tiago Fensterseiler.
(TRF1 - QUINTA TURMA - AC 00023163520124013804, DESEMBARGADOR
FEDERAL SOUZA PRUDENTE„ e-DJF1 DATA:22/09/2015 PAGINA:506.)
Tribunal Regional Federal da 5e Região
AMBIENTAL. PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR INOMINADA. MARGEM
DO RIO JAGUARIBE. AREA URBANA DE JOÃO PESSOA-PB. REFORMA DO
MANAIRA SHOPPING. NOVO CODIGO FLORESTAL. AREA DE PROTEÇÃO
PERMANENTE. RESPEITO AO ALO jeJRIDICO PERFEITO. PRECEDENTES
DESTA CORTE E DO STJ.
1. Apelações em face da sentença que acolheu parcialmente o pedido
para determinar a suspensão das obras de ampliação do Manaira
Shopping situadas na faixa de 50m de largura ao longo da faixa marginal
do Rio Jaguaribe, ate o julgamento finai da ação principal, por estar
situado em área de proteção ambiental, de acordo com o novo Código
Florestal.
2. O atual Código Florestai (Lei n 12.651/2012) adotou o conceito de área
de proteção permanente. em substituição a proteção da vegetação
existente na legislação anterior. Entretanto, a nova definição deve
respeitar as situaffies _Ia consolidadas, bem assim o ato 'urídico •erfeito
formado em obediência a lei anterior, visando afastar a insegurança
jurídica. Esse inclusive e o posicionamento do STJ o qual firmou o
entendimento de que "o novo Código Florestal não pode retroagir para
atingir ato jurídico perfeito, direitos ambientais adquiridos e a coisa
julgada" (AGARESR 327687, Rel. Humberto Martins, Resp 625024/RO, REsp
1.240.122/PR, Rel. Ministro Herman Benjamin). 3. Apelação da PORTAL
ADMINISTRADORA DE BENS LTDA provida para julgar improcedente a
ação cautelar, Demais apelações impro'vidas.
(-IRES - Terceira Turma- AC 200982000088445, Desembargador Federal Marcelo Navarro, OJE - Data:13/05/2014 - Pagina:1 49.)
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Portanto, ao que nos parece, para a corrente majoritária prevalece o
entendimento de que as disposições do novo Código Florestal não possuem aplicabilidade
imediata ao TAC. em vigor. Assim, sob o prisma dos princípios aplicáveis ao direito
ambiental (proibição do retrocesso ambienta! e do direito adquirido à proteção do meio
ambiente), a jurisprudência ambientalista inclina-se no sentido da garantia de preservação
e de restauração dos processos ecológicos essenciais, assegurando plena eficácia aos TAC
celebrados antes do advento dá novo Código Florestal.
Por outro lado, não se pode deixar de trazer a conhecimento urna
titor
segunda corrente_ jurisprudencial, em sentido contrario, encontrada no Tribunal de justiça
do Estado de São Paulo jTJSP e do Tribunal cleJustiça do Máto Grosso do Sul — TJMS.
Nos julgamentos abaixo, verifica-se que o Poder Judiciário admitiu a
retroaç_ão do novo Código Florestal em relação aos efeitos dos Termos de Ajustamento de
Conduta anteriormente firmados, seja o naja o fim de flexibilizar os efeitos decorrentes do
TAC 'sujeitos à adaptação da nova lei), seapara o fim de afastar a exigibilidade do acordo.
Confira m-se:
Tribunal de justiça de São Paulo
APELAÇÃO CÍVE1 - Embargos à execução - Termo de ajustamento de
conduta - Aplicação do Novo Código Florestal - Possibilidade - Previsão de adequação das obrigações no próprio instrumento - Necessidade de
dilação probatória e delimitação da extensão da obrigação - Sentença anulada, Recurso provido.
(TJSP - APELAÇÃO No 0002208-84.2014,8.26,0480, Relator(a): Eutálio Porto;
Órgão julgador: 2a Câmara Reservada ao Meio Ambiente; Data do
julgamento: 13/08/201 5; Data de registro: 18/08/2015)
Do inteiro teor desse acórdão, extrai-se a necessidade de revisão
dos termos de compromisso para o fim de ajustá-lo às novas exigências legais:
(...) uma vez alteradas tais obrigações por meio de lei, como se dá no caso, o compromisso deve ser revisto para que os compromitentes ajustem sua
conduta às novas exigências legais ou, como no caso, à nova forma como elas são exigidas. Isto porque, p_or força do ririncípio da legalidade, a Administração Pública
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não pode impor ao particular um fazer ou não fazer que não este]
previsto em lei. Com efeito, em um Estado Democrático de Direito, como
o estabelecido pela Constituição de 1988,"ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art. 5°, Com efeito, os atos públicos praticados sob a égide de urna lei antiga não
podem suplantar os comandos advindos com uma nova lei, sobretudo
quando esta regula de modo diferente os atos anteriormente ajustados,
que ainda não se aperfeiçoaram.
O fato do TAC ter o caráter de título executivo extrajudicial não implica em
dizer que ele_perderá esta característica em razão da lei nova, uma vez
que a exigência persistirá com base no título, mas nos termos da nova lei,
que veio regulamentar a conduta a ser adotada doravante.
De sorte que, a exigência continuará sendo eficaz, mas mediante a
aplicação da nova lei. Isto porque, os proprietários ou possuidores que
assinaram TAC ficarão em uma posição desigual em relação a outros que, mesmo não tendo cumprido as exigências da lei anterior, não assinaram
ajustamento de conduta e ainda haverá uma situação desfavorável de
forma geral com todos os demais proprietários ou possuidores de
imóveis, ferindo desta forma o princípio da igualdade, previsto no art, 5°
da Constituição Federal.
Assim sendo, não se pode criar duas situações diferentes à luz da nova lei,
para o mesmo tipo de relação, ou sela, os que firmaram termo de
compromisso de alistamento de conduta e os que não. De tal forma que, não se trata aqui de uma questão meramente ambiental, mas também de
segurança jurídica, possibilitando a todos que se submetam à mesma
ordem jurídica vigente.
No mesmo sentido: TJSP Agravo de Instrumento n° 2195384-
76.2014.8.26.0000 - Relator(a); Alvaro Passos - Órgão julgador: 2a Câmara Reservada ao
Meio Ambiente - Data do julgamento: 17/09/2015 - Data de registro: 24/09/2015.
Já o Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul possui os
seguintes precedentes:
Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul
EMENTA - APELAÇÃO CIVEL E REEXAME DE SENTENÇA - EMBARGOS À EXECUÇÃO - EXECUÇÃO DE TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA
HOMOLOGADO JUDICIALMENTE - PRELIMINAR DE NULIDADE DA
SENTENÇA POR CERCEAMENTO DE DEFESA - REJEITADA - MÉRITO -
ALEGAÇÃO DE CUMPRIMENTO DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE
CONDUTA - LEGISLAÇÃO SUPERVENIENTE - NOVO CÓDIGO FLORESTAL
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LEI 12.65'1/121 - APLICAÇÃO DO .ARTIGO 462 DO CPC - OBRIGAÇÕES
AJUSTADAS NO TAC INCOMPATÍVEIS COM A NOVA LEGISLAÇÃO - FALTA
DE EXIGIBILIDADE DO TÍTULO EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO -
CONDENAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO AO PAGAMENTO DE CUSTAS E DE
HONORÁRIOS NÃO CABIMENTO - AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ, RECURSOS
VOLUNTÁRIO E OBRIGATÓRIO PROVIDOS.
1. Não há nulidade da sentença, por cerceamento de defesa, se não há
necessidade de produção de prova pericial e testemunhal, podendo o
feito ser julgado antecipadamente.
2. O advento de legislação superveniente (novo Código Florestal)
trazendo normas incom_pativeis com aquelas firmadas no Termo de
Ajustamento de Conduta retiram a exigibilidade do título executivo,
impondo-se a extinção da execução.
3. É possível aplicar a legislação promulgada após a prolação da sentença,
eis que considerada fato novo superveniente e passível de aplicação de
ofício nos termos do artigo 462 do CPC.
4, A teor do artigo 18 da Lei n. 7.347/85, aplicado por analogia, não é
cabível a condenação do Ministério Público ao pagamento de custas e de
honorários acivocatícios, salvo comprovação de má-fé.
(TJMS Apelação Cível n° 0101417-47.2006.8.12.0043, Rel. Des. Vladimir
Abreu da Silva, julgado em 31.10.2013)
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PRELIMINAR DE
LITISCONSORCIO PASSIVO NECESSÁRIO - DESNECESSIDADE DE
PARTICIPAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL, PORQUANTO O ATO NÃO
MAIS DEPENDE DE AÇÃO DESTE - ALEGAÇÃO DE DESCABIMENTO DE
MUITA COMINATÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA - POSSÍVEL MÉRITO -- IMPOSIÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE DAR ANDAMENTO E DECISÃO EM
PROCESSO ADMINISTRATIVO REGULARIZAÇÃO DE RESERVA LEGAL -
SUPORTE LEGAL EM TAC ALTERADO COM A VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL - INCOMPATIBILIDADE DO ACORDO COM AS NOVAS REGRAS -AUSÊNCIA DE VEROSSIMILHANÇA - TUTELA ANTECIPADA E APLICAÇÃO
DE MUITA DESCABIMENTO - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
Tratando-se de ação de obrigação de fazer referente à alegada omissão do órgão ambiental,, não é necessária a presença do proprietário do imóvel
rural no polo passivo da ação civil pública, quando a pretensão buscada não depende mais de ato deste último. É entendimento majoritário deste Sodalício e de outros tribunais pátrios
que afigura se cabível a multa cominatória contra a Fazenda Pública nas obrigações de fazer; como meio de coerção ao cumprimento da ordem judicial emanada,
A vigência de novas regras alusivas aos procedimentos tendentes à regularização da reserva legal em propriedades rurais, criando outros limites para a atuação dos órgãos ambientais, torna incompatíveis, em .m-incio,c.?s acordos (TACM firmados com base no Código Florestal revg_gado,
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Face à existência de um sistema de transição entre a legislação pretérita e
a nova, não se verifica a presença dos requisitos de verossimilhança
suficiente para a antecipação de tutela relativa à imposição de obrigação de fazer e aplicação de multas, no que tange à constituição e registro da
reserva legal nos órgãos competentes.
O julgador não tem a obrigação de manifestar expressamente sobre todos
os dispositivos mencionados pelas partes, mas sim apreciar as matérias
expostas e decidir a ide de forma fundamentada.
(TJMS Relator(a): Juiz Jairo Roberto de Quadros; Comarca:
Sidrolândia; orgão julgador: 23 Câmara Cível; Data do julgamento:
16/06/2015; Data de registro: 17/06/2015)
Registre-se que o posicionamento acima mencionado (aplicação do
novo Código Florestal aos Termos de Ajustamento de Conduta celebrados) não é
defendido pela doutrina e, como visto, tampouco encontra amparo nos precedentes do
Superior Tribunal de Justiça, em matéria ambiental.
A matéria, de índole legal e eminentemente constitucional, não
encontra precedentes no âmbito do Supremo Tribunal 'Federal, cabendo ressaltar que
tramitam naquela Corte três Ações Diretas de Inconstitucionalidade, já recebidas e ainda
pendentes de julgamento, cujo objeto é a declaração de inconstitucionalidade de
inúmeros dispositivos do Código Florestal de 2012, inclusive daqueles relativos à
contagem das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal'.
1.3 DA EXEGESE APLICÁVEL AO ART. S. DA LEI ESTADUAL N° 18.295/14 — EDIÇÃO DE
DECRETO REGULAMENTADOR
Como visto, existem duas correntes jurisprudenciais que analisam a
eficácia daqueles acordos, após o advento do novo Código Florestal,
São elas AO! n2 4901, ADI n2 4902 e ADl n2 4903.
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Para a corrente que se apresenta como sendo majoritária, prevalece
o entendimento de que a lei nova não retroage aos TAC anteriormente firmados (garantia
do ato jurídico perfeito), ficando preservadas todas as cláusulas do acordo (deveres e
obrigações assumidos pelo infrator), diante dos princípios da vedação do retrocesso
ambiental e do direito adquirido às medidas mais protetivas ao meio ambiente,
Já a corrente jurisprudencial que se apresenta como minoritária
manifesta-se no sentido de que a eficácia/validade dos Termos de Ajustamento de
Conduta - TAC anteriormente firmados é diretamente atingida pelo advento de nova
norma reoulamentadora da matéria (Lei Federal n° 12,651/2012), seja para o fim de
considerar que o TAC passa a viger consoante as regras do novo diploma (TJSP), seja
interpretando-se que o TAC não mais possui suporte legal de validade (TJMS).
Sem embargo de ambos os posicionamentos cima, é preciso
considerar que, no Estado do Paraná, vigora o artigo 5° da Lei Estadual n°
18.295/2014, o qual impõe à Administração Pública o dever de revisão dos termos de
ajustamento de conduta aos dispositivos do novo Código Florestal, a pedido da parte
interessada.
Ainda, o §20, art. 5° da Lei impõe o dever de respeitar os termos de
compromisso ou instrumentos similares, caso não haja pedido de revisão pela parte
interessada, Vaie conferir:
Art. 5° Os Termos de Compromisso ou instrumentos similares para a regularização ambiental do imóvel rural referentes às Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito, firmados sob
a vigência da legislação anterior, deverão ser revistos para se adequarem ao disposto na Lei Federal n° 12.651, de 2012. § 1° A assinatura do Termo de Compromisso de adesão ao PRA substituirá
automaticamente os termos anteriores desde que tenha havido prévio requerimento, devendo ser inscrito no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural SICAR,
§ 2° Caso não haja pedido de revisão, os termos ou instrumentos de que trata o c.aput deste artigo serão respeitados.
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Como consequência desse dispositivo legal, no Estado do Paraná as
questões relativas à validade e eficácia dos TACI anteriormente firmados enfrentam as
seguintes situações, que podem vir a ser detalhadas em decreto regulamentador:
(a) Inexistência de pedido de revisão
Não havendo pedido de revisão, o termo de compromisso
anteriormente firmado deve ser respeitado (§20 do art. 50 da Lei Estadual n° 18.295/2014),
(4tor
isto é, o TAC permanece sendo plenamente válido e eficaz, como todos os efeitos daí
decorrentes.
Referido dispositivo de lei está em harmonia com a corrente
doutrinária e jurisprudencial que defendem o TAC como ato jurídico perfeito, não sujeito à
retroatividade da nova lei ambiental, assegurando-se a preservação da eficácia plena do
acordo.
(b) Existência de pedido de revisão
Caso seja requerida a revisão do TAC anteriormente firmado, duas
são as possibilidades de interpretação do disposto no caput do art. 50 da Lei Estadual n°
18.295/2014, a depender da corrente doutrinária e jurisprudencial que a Administração
Pública decida por adotar:
(b.1) Aplicando-se a. láctica das correntes doutrinária e jurisprudencial
majoritárias
O art. 5° da Lei deve ser interpretado no sentido de que o dever de
revisão do TAC não pode implicar em retrocesso das garantias ambientais anteriormente
existentes (proibição da vedação da reforma ambiental para pior), pois a a lei nova não
pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito (TAC) e b direito adquirido à proteção do
meio ambiente.
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Nesse caso, sugere-se que o regulamento discipline que a revisão, a
pedido da parte interessada, ficará adstrita às disposições da Lei Federal n° 12.651/2012
que não importem em diminuição das medidas protetivas ao meio ambiente.
Registre-se, porém, que a adoção desse entendimento pela
Administração Pública poderá gerar questionamentos judiciais por parte dos
compromitentes infratores, sob os fundamentos já enfrentados acima, quais sejam,
eventual ofensa aos princípios da legalidade e da isonomia em relação aos demais
proprietários de imóveis rurais que, por não terem firmado termo de compromisso em
momento anterior, poderão se beneficiar da integral incidê'ncia do novo diploma.
Lb.2) Aplicando-se a lógica da correntejurisprudencial minoritária
O art. 5° da Lei poderá ser interpretado no sentido de que o dever
de revisão do TAC a que se refere o caput abrange todos os deveres e obrigações
constantes nos respectivos instrumentos, para o fim de integral adaptação do TAC na
forma da Lei Federal n° 12.651/2012, a pedido da parte interessada.
Nada obstante, cumpre-nos registrar que a adoção desse
entendimento pela Administração Pública poderá ensejar questionar'nento por parte dos
órgãos de controle (Ministério Público e demais órgãos de proteção ao meio ambiente),
caso se entenda pela ocorrência de dano ambienta!, ao ensejo dos fundamentos já
enfrentados acima (princípio da irretroatividade da lei ambiental menos protetiva, direito
adquirido à proteção do meio ambiente e vedação do retrocesso ambiental).
Em qualquer hipótese, o regulamento não poderá estabelecer a
nulidade do TAC anteriormente firmado (por existência de disposição expressa que
considera a existência do acordo - §2° do art. 5° da Lei).
2. CONCLUSÕES
I. Como se vê da exposição acima, a doutrina se posiciona no
sentido da plena validade e eficácia dos termos de ajustamento de
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Fls. ri.°1ü___
conduta firmados anteriormente à entrada em vigor do novo _
Código Florestal.
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II. No âmbito jurisprudencial existem duas correntes, a saber:
11.1. Corrente_ Majoritária: escorada na garantia do ato
jurídico perfeito e do direito adquirido ao meio ambiente,
com ênfase no princípio da proibição do retrocesso ambiental,
posiciona-se no sentido de que os termos de ajustamento de
conduta celebrados antes da entrada em vigor da Lei Federal
n°. 12.651/12 permanecem integralmente válidos e exigíveis.
11.2. Corrente Minoritária.: fundamentada nos princípios da
legalidade e da isonomia, posiciona-se no sentido de que a Lei
Federal n° 12.651/12 incide imediatamente sobre os Termos
de Ajustamento de Conduta anteriormente firmados.
III. No Estado do Paraná, vigora o artigo 5° da Lei Estadual n0
18.295/2014, o qual impõe à Administração Pública o dever de
revisão dos termos de ajustamento de conduta aos dispositivos do
novo Código Florestal, a pedido da parte interessada, assim como o
dever de respeitar-se os termos de compromisso ou instrumentos
similares caso não haja pedido de revisão. Nesse caso, o decreto
regulamentador deverá levar em consideração o seguinte:
Inexistência de pedido de revisão: o
regulamento dever prever que o termo de compromisso
anteriormente firmado deve ser respeitado (§2° do art. 5° da
Lei Estadual n° 18.295/2014), isto é, o TAC permanece sendo
plenamente válido e eficaz, com todos os efeitos daí
decorrentes.
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111.2 Existência de pedido de revisão: duas são as
possibilidades de interpretação do disposto no caput do art.
5° da Estadual n° 18.295/2014, para o fim de edição de
decreto, a depender da corrente doutrinária e jurisprudencial
que a Administração Pública decida por adotar na elaboração
do regulamento da lei:
Aplicando-se a lógica das correntes
doutrinária e jurisprudencial majoritárias: caso adotada
essa corrente, o decreto regulamentador disciplinará que o
dever de revisão do TAC a que se refere o caput do art. 5° da
Lei 18.295/2014 fica adstrito às disposições da Lei'' Federal n°
12.65 i /2012, desde que não importem em diminuição das
medidas protetivas ao meio ambiente. A edição de decreto
consoante esse entendimento poderá gerar questionamentos
judiciais por parte dos compromitentes infratores.
01.1.2) Aplicando-se a lógica da corrente
jurisprudencial minoritária: caso adotada essa corrente, o
decreto regulamentador disciplinará as condições em que o
dever de revisão do TAC a que se refere o caput do art. 5° da
Lei 18.295/2014 permitirá as adequações ao disposto na Lei
federal n° 12.651/2012, A edição de decreto consoante esse
entendimento poderá ensejar q. uestionamentos por parte dos
órgãos de controle (Ministério Público e demais órgãos de
proteção ao meio ambiente).
IV. Diante da existência de posicionamentos jurídicos divergentes
no âmbito do Poder Judiciário e, ausente decisão do Supremo
Tribunal Federal acerca da constitucionalidade dos dispositivos do
Código Florestai de 2012 (objeto de ADI), caberá a Administração
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Pública regulamentar a matéria, ponderadas as possíveis
consequências da normatização, conforme acima explicitado.
Curitiba de outubro de 2015.
Cachoeira
Pr uraciora do Estado
Assessoria Técnica do Gabinete
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S Teria Tnlinal ch,J utip
PET no RECURSO ESPECIAL N° 1.240.122 - PR (2011/0046149-6)
RELATOR REQUERENTE : ADVOGADO : REQUERIDO :
PROCURADOR :
MINISTRO HERMAN BENJAMIN LEONILDO ISIDORO CHIARADIA ELISABETE KLAJN E OUTRO(S) INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA CARLOS DOS SANTOS DOYLE E OUTRO(S)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/2012), REQUERIMENTO. PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO CONTRA ACÓRDÃO. INVIABILIDADE. PRINCÍPIO DA FUNGIBIUDADE . RECEBIMENTO COMO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC NÃO APONTADA. AUTO DE INFRAÇÃO. IRRETROATIVIDADE DA LEI NOVA. ATO JURÍDICO PERFEITO. DIREITO ADQUIRIDO. ART. 6° CAPUT, DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO. I. Trata-se de requerimento apresentado pelo recorrente, proprietário rural, no bojo de "ação de anulação de ato c/c indenizatória", com intuito de ver reconhecida a falta de interesse de agir superveniente do Ibama, em razão da entrada em vigor da Lei 12.651/2012 (novo Código Florestal), que revogou o Código Florestal de 1965 (Lei 4.771) e a Lei 7.754/1989. Argumenta que a nova legislação "o isentou da punição que o afligia", e que "seu ato não representa mais ilícito algum", estando, pois, "livre das punições impostas". Numa palavra, afirma que a Lei 12.651/2012 procedera à anistia dos infratores do Código Florestal de 1965, daí sem valor o auto de infração ambiental lavrado contra si e a imposição de multa de R$ 1.500, por ocupação e exploração irregulares, anteriores a julho de 2008, de Área de Preservação Permanente nas margens do rio Santo Antônio. 2. O requerimento caracteriza, em verdade, pleito de reconsideração da decisão colegiada proferida pela Segunda Turma, o que não é admitido pelo STJ. Nesse sentido: RCDESP no AgRg no Ag 1.285.896/MS, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Segunda Turma, DJe 29.11.2010; AgRg nos EREsp 1.068.838/PR, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe 11.11.2010; PET nos EDc1 no AgRg no Ag 658.661/MG, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJe 17.3.2011; RCDESP no CC 107.155/MT, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJe 17.9.2010; RCDESP no Ag 1.242.195/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 3.9.2010. Por outro lado, impossível receber pedido de reconsideração como Embargos de Declaração, sob o manto do princípio da fungibilidade recursal, pois não se levanta nenhuma das hipóteses do art. 535 do CPC. 3. Precedente do STJ que faz valer, no campo ambiental-urbanístico, a norma mais rigorosa vigente à época dos fatos, e não a contemporânea ao julgamento da causa, menos protetora da Natureza: O "direito material aplicável à espécie é o então vigente à época dos fatos. In casu, Lei n. 6.766/79, art. 4°, 111, que
Documento: 241675969 - EMENTA / ACORDA() - Site certificada - DJe: 19/12/2012 Página 1 de 2
Revista Eletrônica https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/media
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$°12ele.163 tY—Weizreura‘ fe~
determinava, em sua redação original, a 'faixa non aedificaná metros de cada lado' do arroio" (REsp 980.709/RS, Rel. Mi Martins, Segunda Turma, DJe 2.12.2008). 4. Ademais, como deixa claro o novo Código Florestal (art. não anistiou geral e irrestritamente as infrações ou extingu condutas anteriores a 22 de julho de 2008, de modo a superveniente de interesse de agir. Ao contrário, a recup ambiente degradado nas chamadas áreas rurais consolidas rigor, agora por meio de procedimento administrativo , no âml de Regularização Ambiental — PRA, após a inscrição do imc Ambiental Rural — CAR (§ 2°) e a assinatura de Termo de Coi valendo este como título extrajudicial (§ 3°). Apenas a suspensas" as sanções aplicadas ou aplicáveis (§ 5°, grifo acr o cumprimento das obrigações previstas no PRA ou no TC, ' elas) "serão consideradas convertidas erre serviços de preserv recuperação da qualidade do'meio ambiente". 5. Ora, se os autos de infração e multas lavrados tivessem pelo novo Código ou houvesse sido decretada anistia gera violações que lhe deram origem, configuraria patente contra lógica jurídica a mesma lei referir-se a "suspensão" e "conver não mais existiria: o legislador não suspende, nem converte Vale dizer, os autos de infração já constituídos perman blindados como atos jurídicos perfeitos que são - apenas a monetária fica suspensa na esfera administrativa , no aguardo integral das obrigações estabelecidas no PRA ou no TC. Ta demonstrar que se mantém incólume o interesse de agi1 judiciais em curso, não'ocorrendo perda de objeto e extinção resolução de mérito (CPC, art. 267, V1). 6. Pedido de reconsideração não conhecido.
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são p
indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribi "A Turma, por unanimidade, não conheceu do pedido de reconsidera( do voto do Sr. Ministro-Relator, sem destaque e em bloco." Os Srs. IV Campbell Marques, Castro Meira e Humberto Martins votaram com Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon. Brasília, 02 de outubro de 2012(data do julgamento).
MINISTRO HERMAN BENJAMIN. Relator.
1 de 1 19/12/2016 15:35
ç
AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.135.505-2, DE GUAÍRA - VARA CÍVEL
E ANEXOS.
AGRAVANTE : LENIR REJANE DA ROSA MARCOS.
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.
RELATOR : DES. GUIDO DOBELI.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO AMBIENTAL E
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE OBRIGAÇÃO
DE FAZER AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO.
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA - TAC
FIRMADO NO ANO DE 2000, PARA A
REGULARIZAÇÃO DE PENDÊNCIA ATINENTE A
ÁREA DE RESERVA LEGAL EM IMÓVEL RURAL.
DESCUMPRIMENTO. AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE
O ÓRGÃO AMBIENTAL DEFERIU O PEDIDO
ADMINISTRATIVO DE REGULARIZAÇÃO DA ÁREA
MEDIANTE COMPENSAÇÃO. PRETENSÃO,
ADEMAIS, DE EXTINGUIR OU SUSPENDER A
EXECUÇÃO COM BASE NAS DISPOSIÇÕES DO
NOVO CÓDIGO FLORESTAL. DESCABIMENTO.
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA QUE
REVESTE EFICÁCIA DE TÍTULO EXECUTIVO
EXTRAJUDICIAL, NOS TERMOS DO ART. 5°, § 6°,
DA LEI N° 7.347/85 (AÇÃO CIVIL PÚBLICA).
OBRIGAÇÃO CONSTITUÍDA SOB A ÉGIDE DA
LEGISLAÇÃO ANTERIOR. ATO JURÍDICO PERFEITO.
INTELIGÊNCIA DO ART. 5°, XXXVI, DA
Documento assinado digitalmente, conforme MP n ° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://Www.tjprjus.br
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Agravo de Instrumento n° 1.135.505-2 fls. 2
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E DO ART. 6° DO
DECRETO-LEI N° 4.657/1942 (LEI DE INTRODUÇÃO
AS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO).
IRRETROATIVIDADE DA LEI NOVA. MÁXIMA
PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. PRECEDENTES DO
STJ. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
JULGAMENTO DE IMPROCEDÊNCIA. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
1. Embora a compensação com mata nativa
constitua meio lícito para a regularização de área
de Reserva Legal, a implantação desse
mecanismo depende da validação, caso a caso, do
Órgão ambiental competente.
2. A eficácia executiva do Termo de
Ajustamento de Conduta tem lastro no
microssistema legal da Ação Civil Pública (art. 5°,
§ 6°), de forma que o inadimplemento da
obrigação assumida é causa suficiente para o
ajuizamento da execução correspondente.
3. O ingresso de nova lei no ordenamento
jurídico deve respeitar o ato jurídico perfeito,
consoante asseguram o art. 5°, XXXVI, da
Constituição Federal, e o art. 6° do Decreto-lei n°
4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro).
4. O Superior Tribunal de Justiça já se
pronunciou no sentido de rechaçar a existência de
Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://Www.tjprjus.br
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Agravo de Instrumento n° 1.135.505-2 fls. 3
uma anistia ampla e irrestrita, afirmando o
entendimento de que o novo Código Florestal não
pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito,
direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada,
tampouco para reduzir a proteção aos
ecossistemas.
5. Com esse entendimento, a Col. Corte Superior
"faz valer, no campo ambiental-urbanístico, a
norma mais rigorosa vigente à época dos fatos, e
não a contemporãnea ao julgamento da causa,
menos protetora da Natureza: O "direito material
aplicável à espécie é o então vigente à época dos
fatos". (PET no REsp 1240122/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
02/10/2012, DJe 19/12/2012).
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de
Agravo de Instrumento n° 1.135.505-2, de Guaíra - Vara Cível e
Anexos, em que é agravante LENIR REJANE DA ROSA MARCOS e
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ.
- Trata-se de agravo de instrumento interposto
contra a decisão interlocutória de fls. 389/393-Ti, proferida nos autos
da Execucão de Obrigação de Fazer n° 0000887-60.2004.8.16.0086
movida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ em face
de LENIR REJANE DA ROSA MARCOS, mediante a qual o MM. Juiz
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Agravo de Instrumento n° 1.135.505-2 fls. 4
julgou improcedente a exceção de pré-executividade oposta pela
agravante, determinando que o processo executivo retome o seu
curso.
A agravante narra que requereu de forma
fundamentada a declaração de nulidade da execução com o
cancelamento da multa e demais cominações, e, alternativamente, a
suspensão da execução até o cumprimento integral das obrigações
estabelecidas no PRA ou no TC no qual poderá aderir a excipiente na
forma da legislação atual, mas que ainda depende da implantação
do Cadastro Ambiental Rural pelo Poder Executivo.
Sustenta, em síntese, que: (a) cumpriu o Termo
de Ajustamento de Conduta- APP e Reserva Legal e efetuou os
protocolos de inscrição no SISLEG, mas não pode ser
responsabilizada pela demora e pelas modificações procedimentais
ocorridas nos órgãos ambientais (IAP e IBAMA); (b) houve sucessivas
prorrogações do prazo final para averbação da Reserva Legal,
inicialmente estabelecido pelo Decreto 6.514/2008, de modo que a
agravante não pode ser considerada inadimplente do TAC; (c) a Lei
12.651/2012 (novo Código Florestal) não exige a recuperação da
Reserva Legal para propriedades com até quatro módulos fiscais; (d)
deve ser reconhecido que o título exequendo está com a
exigibilidade suspensa, até o cumprimento integral das obrigações
que serão estabelecidas no PRA ou no TC, de acordo com as novas
disposições trazidas pela Lei 12.651/2012 (art. 59, §§ 4° e 5°).
Argumenta que a atribuição de efeito suspensivo
à decisão agravada é a medida mais adequada, pois o
prosseguimento da execução poderá culminar na expropriação do
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bem.
Ao final, requer o provimento do recurso, para
julgar procedente a exceção de pré-executividade e declarar a
nulidade da execução, com o cancelamento das multas e demais
cominações, ou, alternativamente, para suspender a execução até o
cumprimento integral das obrigações estabelecidas no PRA ou no TC
ao qual a agravante poderá aderir.
O recurso foi recebido sem atribuição de efeito
suspensivo e o MM. Juiz prestou as informações de praxe.
O agravado não apresentou resposta e a d.
Procuradoria-Geral de Justiça lançou parecer pelo desprovimento do
agravo de instrumento.
É o relatório.
II - VOTO E SUA FUNDAMENTACAO:
Presentes os pressupostos de admissibilidade, o
recurso deve ser conhecido.
Extrai-se dos autos que, em novembro de 2000, o
Ministério Público do Estado do Paraná, por meio de sua Promotoria
de Justiça da Comarca de Guaíra, firmou com ANTONIO MARCOS, já
falecido, e com sua esposa LENIR REJANE DA ROSA MARCOS, ora
agravante, Termo de Ajustamento de Conduta com o objetivo de
regularizar pendências verificadas nas áreas de preservação
permanente e de reserva legal da propriedade rural dos
compromissários (fls. 34/35-T.1).
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Ante o inadimplemento da obrigação ajustada, o
parquet ajuizou execução de obrigação de fazer, lastreada no TAC,
objetivando impor à executada o dever de providenciar, junto ao IAP,
a regularização da área de reserva legal de sua propriedade (20% do
total da propriedade), conforme art. 16, §§ 1° e 2°, do Código
Florestal, com imposição de multa diária para o caso de
descumprimento.
A executada opôs exceção de pré-executividade,
que restou rejeitada, rendendo ensanchas à interposição do presente
agravo de instrumento.
Todavia, a conclusão erigida pelo MM. Juiz singular
deve prevalecer, uma vez que não há base fática e jurídica para
acolher a pretensão da agravante de extinção ou mesmo de
suspensão da execução.
Conquanto a agravante afirme que efetuou os
protocolos de inscrição no SISLEG e que não pode ser
responsabilizada pela demora e pelas modificações procedimentais
ocorridas nos órgãos ambientais (IAP e IBAMA), é certo que não
cumpriu o Termo de Ajustamento de Conduta no tocante à obrigação
de implantar a Reserva Legal.
Não há comprovação de que os órgãos ambientais
competentes aquiesceram com o intuito da excipiente de promover
a implantação da Reserva Legal mediante compensação com mata
nativa de propriedade situada no Parque Nacional de Ilha Grande.
Com efeito, embora se trate de meio lícito para a
regularização da área de Reserva Legal, a implementação desse
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mecanismo não se materializa com o simples requerimento
administrativo.
Ressalte-se igualmente que, apesar dos pedidos
do Ministério Público, a executada deixou de juntar aos autos cópia
autenticada do Termo de Adesão e Compromisso supostamente
assinado com o órgão ambiental (fl. 258-TJ).
Além disso, o pedido de compensação contemplou
somente os imóveis rurais constantes das matrículas de n°s 3716,
1455 e 3719, olvidando de incluir também os lotes matriculados sob
os n°s 2845 e 4080, de forma que, mesmo diante da autorização do
órgão ambiental, subsistiria a responsabilidade da agravante pela
recuperação e preservação da área devastada, porquanto não se
teria atingido o percentual legal de 20% do imóvel rural (fls.
296/298-Ti).
Tampouco se pode imputar a demora na
regularização apenas aos entraves burocráticos, tendo em vista que
o Termo de Ajustamento de Conduta foi firmado ainda no ano de
2000, e, por vários anos, os compromissários permaneceram inertes,
sem qualquer iniciativa para o adimplemento da obrigação ajustada.
Conforme observado pelo MM. Juiz singular, "para
o cumprimento da medida, bastaria o isolamento da área de forma
que, daquela data até o presente dia, a área de reserva florestal já
estaria recuperada de forma natural. É faculdade que compete à
Excipiente escolher a forma como vai cumprir a obrigação ambiental.
Contudo, os dispêndios e a demora por conta desta forma alternativa
de recuperação não podem ser imputadas ao credor, que, no caso,
trata-se de toda a coletividade, tendo em vista a preservação do
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meio ambiente constituir direito difuso".
N'outro vértice, também não prosperam as
demais teses de insurgência que a agravante invoca com o objetivo
de elidir a sua inadimplência.
Isso porque a obrigação objeto da execução
encontra-se formalizada em Termo de Ajustamento de Conduta
livremente entabulado pelos compromissários perante o Ministério
Público do Estado do Paraná, de acordo com a inteligência do art. 5°,
§ 6°, da Lei n° 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), verbis:
Art. 5° (...)
§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de sua
conduta às exigências legais, mediante cominações,
que terá eficácia de título executivo
extrajudicial. (Destacamos).
Sobre o tema, FREDIE DIDIER JR., LEONARDO J. C.
CUNHA, PAULA SARNO BRAGA e RAFAEL OLIVEIRA assim anotam:
"O art. 5°, § 6°, da Lei Federal n. 7.347/1985 prevê o
compromisso de ajustamento de conduta, celebrado
entre a parte e o Ministério Público ou outro ente
público legitimado à propositura de ação coletiva. Se o
Ministério Público ou outro ente público tomar o
compromisso de ajustamento de conduta de uma das
partes, também haverá aí um titulo executivo.
Significa que constitui título executivo extrajudicial o
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compromisso de ajustamento de conduta.'
Vale dizer: a validade e a eficácia executiva do
título derivam do aparato normativo de microssistema legal próprio,
ou seja, não estão atreladas à vigência de diploma normativo
disciplinador da matéria de fundo, de forma que o inadimplemento
da obrigação assumida é causa suficiente para o ajuizamento da
execução correspondente.
Nesse contexto, é irrelevante que o antigo Código
Florestal tenha sido revogado pela novel legislação, porquanto a
obrigação formalizada em compromisso de ajustamento de conduta
não pode ser tangenciada pela superveniência de lei que, nem de
longe, tem o condão de elidir ou mitigar a fundamental proteção ao
meio ambiente.
Mais uma vez, cabe prestigiar os percucientes
fundamentos lançados pelo d. Magistrado de origem, para quem:
"Aceitar a tese da Excipiente de que as novas diretrizes contidas na
Lei n° 12651/2012 implicariam em modificação do objeto do TAC em
execução, poderia configurar um atentado à segurança jurídica e a
existência da misologia no ordenamento jurídico pátrio, uma vez que
lei posterior estaria atacando o ato jurídico perfeito, o que é
inaceitável e inadmissível, levando-se em consideração a
interpretação teleolõgica do sistema legal."
De fato, o ingresso de nova lei no ordenamento
jurídico deve respeitar o ato jurídico perfeito, consoante asseguram o
art. 5°, XXXVI, da Constituição Federal, e o art. 6° do Decreto-lei n°
in Curso de direito processual civil : execução. Volume 5, Editora Juspodivm, 2009, p. 189.
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4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro):
Art. 5° (...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada;
Art. 6° A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e
a coisa julgada.
§ 1° Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado
segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
Portanto, é equivocada a premissa da agravante
de que o novo Código Florestal poderia repercutir sobre a
exigibilidade do TAC, o qual compromissou obrigação perfeitamente
constituída sob a égide da legislação então vigente.
Como bem lembrado no i. parecer ministerial,
"quanto à obrigação de manter Reserva Legal é imposição que está
prevista no Código Florestal de 1965, em seu artigo 16 e também no
artigo 12 do novo Códex de 2012". (fl. 430-TI).
Ato contínuo, o novo Código Florestal, em seu art.
59, reafirmou a obrigatoriedade da regularização das propriedades
rurais, apenas inovando quanto ao procedimento administrativo,
agora jungido ao Programa de Regularização Ambiental - PRA, após
a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural - CAR (§ 2°) e a
assinatura do Termo de Compromisso (§ 3°).
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Em outras palavras, abriu-se aos proprietários e
possuidores uma nova via para a regularização ambiental de seus
imóveis rurais, mas a qual não lhes exonerou do cumprimento das
obrigações perfeitamente constituídas sob a vigência do diploma
normativo anterior.
O Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou no
sentido de rechaçar a existência de uma anistia ampla e irrestrita,
afirmando o entendimento de que o novo Código Florestal não pode
retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, direitos ambientais
adquiridos e a coisa julgada, tampouco para reduzir a proteção aos
ecossistemas.
Com essa orientação, veja-se, por todos, o
seguinte aresto:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. NOVO CÓDIGO
FLORESTAL (LEI 12.651/2012). REQUERIMENTO.
PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO CONTRA ACORDA°.
INVIABILIDADE. PRINCIPIO DA FUNGIBILIDADE.
RECEBIMENTO COMO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.
VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC NÃO APONTADA.
AUTO DE INFRAÇÃO. IRRETROATIVIDADE DA LEI NOVA.
ATO JURIDICO PERFEITO. DIREITO ADQUIRIDO. ART. 6°,
CAPUT, DA LEI DE INTRODUÇÃO AS NORMAS DO
DIREITO BRASILEIRO.
1. Trata-se de requerimento apresentado pelo
recorrente, proprietário rural, no bojo de "ação de
anulação de ato c/c indenizatória", com intuito de ver
reconhecida a falta de interesse de agir superveniente
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do Ibama, em razão da entrada em vigor da Lei
12.651/2012 (novo Código Florestal), que revogou o
Código Florestal de 1965 (Lei 4.771) e a Lei
7.754/1989. Argumenta que a nova legislação "o
isentou da punição que o afligia", e que "seu ato não
representa mais ilícito algum", estando, pois, "livre das
punições impostas". Numa palavra, afirma que a Lei
12.651/2012 procedera à anistia dos infratores do
Código Florestal de 1965, daí sem valor o auto de
infração ambiental lavrado contra si e a imposição de
multa de R$ 1.500, por ocupação e exploração
irregulares, anteriores a julho de 2008, de Área de
Preservação Permanente nas margens do rio Santo
Antônio.
2. O requerimento caracteriza, em verdade, pleito de
reconsideração da decisão colegiada proferida pela
Segunda Turma, o que não é admitido pelo STJ. Nesse
sentido: RCDESP no AgRg no Ag 1.285.896/MS, Rel.
Ministro Cesar Asfor Rocha, Segunda Turma, DJe
29.11.2010; AgRg nos EREsp 1.068.838/PR, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, DJe
11.11.2010; PET nos EDcI no AgRg no Ag 658.661/MG,
Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, DJe
17.3.2011; RCDESP no CC 107.155/MT, Rel. Ministro
Aldir Passarinho Junior, Segunda Seção, DJe 17.9.2010;
RCDESP no Ag 1.242.195/SP, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 3.9.2010. Por outro lado,
impossível receber pedido de reconsideração como
Embargos de Declaração, sob o manto do princípio da
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fungibilidade recursal, pois não se levanta nenhuma
das hipóteses do art. 535 do CPC.
3. Precedente do ST.I que faz valer, no campo
ambiental-urbanístico, a norma mais rigorosa vigente
à época dos fatos, e não a contemporânea ao
julgamento da causa, menos protetora da Natureza: O
"direito material aplicável à espécie é o então vigente
à época dos fatos. In casu, Lei n. 6.766/79, art. 4°, III,
que determinava, em sua redação original, a 'faixa non
aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado' do
arroio" (REsp 980.709/RS, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, ale 2.12.2008).
4. Ademais, como deixa claro o novo Código Florestal
(art. 59), o legislador não anistiou geral e
irrestritamente as infrações ou extinguiu a ilicitude de
condutas anteriores a 22 de julho de 2008, de modo a
implicar perda superveniente de interesse de agir. Ao
contrário, a recuperação do meio ambiente degradado
nas chamadas áreas rurais consolidadas continua de
rigor, agora por meio de procedimento administrativo,
no âmbito de Programa de Regularização Ambiental -
PRA, após a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental
Rural - CAR (§ 2°) e a assinatura de Termo de
Compromisso (TC), valendo este como título
extrajudicial (§ 3°). Apenas a partir daí "serão
suspensas" as sanções aplicadas ou aplicáveis (§ 5°,
grifo acrescentado). Com o cumprimento das
obrigações previstas no PRA ou no TC, "as multas" (e
só elas) "serão consideradas convertidas em serviços
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de preservação, melhoria e recuperação da qualidade
do meio ambiente".
5. Ora, se os autos de infração e multas lavrados
tivessem sido invalidados pelo novo Código ou
houvesse sido decretada anistia geral e irrestrita das
violações que lhe deram origem, configuraria patente
contradição e ofensa à lógica jurídica a mesma lei
referir-se a "suspensão" e "conversão" daquilo que não
mais existiria: o legislador não suspende, nem
converte o nada lurídico. Vale dizer, os autos de
infração já constituídos permanecem válidos e
blindados como atos jurídicos perfeitos que são -
apenas a sua exigibilidade monetária fica suspensa na
esfera administrativa, no aguardo do cumprimento
integral das obrigações estabelecidas no PRA ou no
TC. Tal basta para bem demonstrar que se mantém
incólume o interesse de agir nas demandas judiciais
em curso, não ocorrendo perda de objeto e extinção
do processo sem resolução de mérito (CPC, art. 267,
VI).
6. Pedido de reconsideração não conhecido.
(PET no REsp 1240122/PR, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/10/2012,
DJe 19/12/2012)
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Com maior razão, deve ser aplicado esse
entendimento ao presente caso, que trata de obrigação formalizada
em Termo de Ajustamento de Conduta, cuja eficácia executiva,
conforme já explanado, goza de plena autonomia.
Ademais, consoante destacado no despacho
preliminar, o tão-só fato de que os bens da agravante estarão
sujeitos à alienação não é suficiente para autorizar a suspensão do
curso da execução. Como é cediço, fosse suficiente esse risco, toda
execução deveria ser paralisada, já que o seu prosseguimento
sempre conduziria à prática de atos de expropriação e de satisfação
do crédito. O perigo que autoriza o excepcional sobrestamento do
feito executivo é outro, distinto das consequências naturais da
execução, embora possa ter nelas a sua origem.
Ante o exposto, considerando que não há
fundamento válido para determinar a extinção ou mesmo a
suspensão da execução, voto no sentido de conhecer e negar
provimento ao recurso.
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III - DECISÃO:
Diante do exposto, acordam os Desembargadores
da Lla Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, à
unanimidade de votos em negar provimento ao recurso, nos termos
do voto do Relator.
Participaram da sessão, presidida pela
Desembargadora REGINA AFONSO PORTES, sem voto, e
acompanharam o voto do Relator os Desembargadores ABRAHAM
LINCOLN CALIXTO e MARIA APARECIDA BLANCO DE LIMA.
Curitiba, 19 de agosto de 2014.
Des. GUIDO DOBELI
Relator
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Paulo Roberto Giaser Procuracic:,, 10 Estado
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Encaminhe-se à Procuradoria (( P.G.f., sor /(de da 20 (
c_ Lilia ;done Calomeno
Procurad a do Estado - Chefe de Gabinete - PGE
Guilhermeoares Procurador-Chefe da
Coordencdcri3 do Consultivo
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?AA., 801;4; dej/t de 20 I
oné Calomeno Estado • Chefe de Gabinete • PGE Lilian
Procuradora
ESTADO DO PARANÁ PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO Gabinete do Procurador-Geral
Protocolo n° 13.893.745-3 e apensos Despacho n° 253/2017 - PGE
I. A Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal do Instituto Ambiental do Paraná encaminhou expediente ao Ilustríssimo Senhor Diretor-Presidente da referida autarquia estadual, manifestando sua preocupação com o teor do Decreto Estadual n° 2.711/2015, que implantou o Programa de Regularização Ambiental no âmbito do Estado do Paraná (vide fls 03 à 06 do Protocolo n° 13.844.766-9 apenso).
Alegou, para tanto, a Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal o seguinte, resumidamente: a) a referida Diretoria já havia se manifestado ser "prematuro editar um Decreto regulamentando procedimentos que serão totalmente informatizados por um Sistema Nacional do SICAR, que ainda não está em funcionamento" (fl. 03 do referido processo apenso); b) os artigos 12, 20 e o capítulo IV do referido Decreto "representam redução dos patamares de proteção" (fl. 04) do meio ambiente, ao permitirem a revisão de termos de compromisso já firmados; c) os prazos estabelecidos no Decreto n° 2.711/2015 para que o IAP realize os trabalhos de sua competência são muito exíguos, sendo que dificilmente poderão ser atendidos; d) "realizar compensação de reserva legal diretamente no CAR contraria a própria competência definida pela Lei 12.651/2012 pois é obrigação do IAP aprovar a compensação para a própria segurança do proprietário rural" (fl. 05 do referido processo apenso), pelo que o art. 20 do Decreto n° 2.711/2015 contrariaria o art. 14 da Lei 12.651/2012, bem como o art. 24 da Lei Estadual n° 18.265/2014.
Com base nos argumentos acima referidos, foi solicitada uma revisão do Decreto Estadual no 2.711/2015.
No protocolo n° 13.893.745-3, a Diretoria de Restauração e Monitoramento Florestal do IAP reiterou a solicitação inicial contida no protocolo n° 13.844.766-9 apenso, sendo que, finalmente, os processos foram encaminhados à Procuradoria-Geral do Estado, tendo a Procuradoria Ambiental, por meio da ilustre Advogada do Estado Dra Cecy Thereza Cercal Kreutzer de Góes, proposto parecer sobre a matéria às fls 17/37 do Protocolo n° 13.893.745-3, em relação ao qual a Chefia daquela Procuradoria Especializada manifestou sua concordância (fl. 80 - verso).
Passa-se, a seguir, portanto, à apreciação da referida proposta de parecer.
ESTADO DO PARANÁ PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO Gabinete do Procurador-Geral
II. Pois bem. Pela análise da proposta de parecer da Procuradoria Ambiental de fls 17/37 do Protocolo n° 13.893.745-3, bem como de todos os demais documentos contidos nos processos apensados, verifica-se que, efetivamente, o Decreto Estadual n° 2.711/2015 está a merecer reparos, os quais são necessários para possibilitar a sua própria aplicação na prática.
Entretanto, a referida proposta de parecer se insurge também em relação à possibilidade de revisão dos Termos de Compromisso ou instrumentos similares para a regularização ambiental do imóvel rural referentes às Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Uso Restrito firmados sob a vigência da Lei Federal n° 4.771/65, consubstanciada principalmente no "caput" do art. 12 do Decreto Estadual no 2.711/2015.
Necessário, então, ressaltar que, antes da edição do decreto regulamentador da Lei Estadual n° 18.295/2014, tal questão já foi objeto de análise da Procuradoria-Geral do Estado na Informação n° 141/2015 - AT/GAB/PGE, cuja cópia se encontra às fls. 38/62 deste processo. Transcrevo abaixo as conclusões da referida informação:
"1- Como se vê da exposição acima, a doutrina se posiciona no sentido da plena validade e eficácia dos termos de ajustamento de conduta firmados anteriormente à entrada em vigor do novo Código Florestal. 11- No âmbito jurisprudencial existem duas correntes, a saber: 11.1 - Corrente majoritária: escorada na garantia do ato jurídico perfeito e do direito adquirido ao meio ambiente, com ênfase no princípio do retrocesso ambiental, posiciona-se no sentido de que os termos de ajustamento de conduta celebrados antes da entrada em vigor da Lei Federal n° 12.651/12 permanecem integralmente válidos e exigíveis. 11.2 - Corrente minoritária: fundamentada nos princípios da legalidade e da isonomia, posiciona-se no sentido de que a Lei Federal n° 12.651/12 incide imediatamente sobre os Termos de Ajustamento de Conduta anteriormente firmados. III - No Estado do Paraná, vigora o art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014, o qual impõe à Administração Pública o dever de revisão dos termos de ajustamento de conduta aos dispositivos do novo Código Florestal, a pedido da parte interessada, assim como o dever de respeitar-se os termos de compromisso ou instrumentos similares caso não haja pedido de revisão. Nesse caso, o decreto regulamentador deverá levar em consideração o seguinte: 111.1 - Inexistência de pedido de revisão: o regulamento deve prever que o termo de compromisso anteriormente firmado deve ser respeitado (§ 2° do art. 50 da Lei Estadual n° 18.295/2014), isto é, o TAC permanece sendo plenamente válido e eficaz, com todos os efeitos daí decorrentes. 111.2 - Existência de pedido de revisão: duas são as possibilidades de interpretação do disposto no 'capuz' do art. 50 da Lei Estadual n° 18.295/2014, para o fim de edição de
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decreto, a depender da corrente doutrinária e jurisprudencial que a Administração Pública decida por adotar na elaboração do regulamento da lei: 111.1.1 - Aplicando-se a lógica das correntes doutrinária e jurisprudencial majoritárias: caso adotada essa corrente, o decreto regulamentar disciplinará que o dever de revisão do TAC a que se refere o 'capuz' do art. 5° da Lei 18.295/2014 fica adstrito às disposições da Lei Federal n° 12.651/2012, desde que não importem em diminuição das medidas protetivas ao meio ambiente. A edição de decreto consoante esse entendimento poderá gerar questionamentos judiciais por parte dos compromitentes infratores. 1111.2 - Aplicando-se a lógica da corrente jurisprudencial minoritária: caso adotada essa corrente, o decreto regulamentador disciplinará as condições em que o dever de revisão do TAC a que se refere o 'caput' do art. 5° da Lei 18.295/2014 permitirá as adequações ao disposto na Lei Federal n° 12.651/2012. A edição de decreto consoante esse entendimento poderá ensejar questionamentos por parte dos órgãos de controle (Ministério Público e demais órgãos de proteção ao meio ambiente). IV - Diante da existência de posicionamentos jurídicos divergentes no âmbito do Poder Judiciário e, ausente decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da constitucionalidade dos dispositivos do Código Florestal de 2012 (objeto da ADI), caberá a Administração Pública regulamentar a matéria, ponderadas as possíveis consequências da normatização, conforme acima explicitado".
Verifica-se, portanto, que o "caput" do art. 12 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, ao permitir a revisão dos termos de ajustamento de conduta firmados sob a égide da Lei Federal no 4.771/1965, amparou-se no "caput" do art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014 e na corrente jurisprudencial minoritária a respeito do tema. Tratou-se, portanto, de uma opção válida do Chefe do Poder Executivo, máxime considerando-se que não se tem notícia de que o art. 5° da referida legislação estadual tenha sido taxado de inconstitucional em sede de controle abstrato, bem como que o C. STF ainda não julgou as Ações Diretas de Inconstitucionalidade de dispositivos da Lei Federal n° 12.651/2012, inclusive daqueles relativos à contagem das áreas de preservação permanente e de reserva legal (vide ADI's n° 4901, 4902 e 4903).
Pode-se, inclusive cogitar que, caso o decreto regulamentador dispusesse em sentido contrário ao art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014, a sua legalidade poderia ser questionada na Justiça.
Agora, mesmo se entendendo que o "caput" do art. 12 do Decreto Estadual n° 2.711/2015 traduz uma opção juridicamente válida do Chefe do Poder Executivo Estadual, é preciso ressaltar que as observações contidas na proposta de parecer da Procuradoria Ambiental sob análise
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relativas aos respectivos parágrafos daquele artigo são pertinentes (vide fls 29 e 30 deste processo).
Portanto, o art. 12 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, mesmo que mantido o entendimento no sentido da possibilidade de revisão dos termos de ajustamento de conduta celebrados sob a vigência do Código Florestal antigo, deve ser revisto, especialmente no que tange aos seus respectivos parágrafos, de modo a afastar as ilegalidades apontadas na proposta de parecer da Procuradoria Ambiental.
Quanto ao art. 30 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, entendo que, ao invés de sua revogação, como pretendido na proposta de parecer, faz-se possível, para privilegiar o posicionamento adotado pelo Chefe do Poder Executivo quanto à possibilidade de revisão dos termos de ajustamento de conduta, apenas alterar a sua redação, a fim de condicionar a referida revisão ao requerimento do compromitente e evitar a violação da Lei de Registros Públicos, suprimindo-se a previsão de substituição da averbação do TAC no Cartório de Registro de Imóveis pela simples apresentação do protocolo de sua revisão.
Em relação ao art. 36 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, parece-me que, da mesma forma, em consonância com o art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014, ele merece ser mantido, ao contrário do defendido na proposta de parecer sob análise.
III. Diante do exposto acima, aprovo o Parecer n° 19/2017-PGE, de fls 17 à 37 do protocolo n° 13.893.745-3, da lavra da Advogada do Estado, Dra Cecy Thereza Cercal Kreutzer de Góes, da Procuradoria Ambiental, com as seguintes ressalvas:
a) o "caput" do art. 12 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, ao permitir a revisão dos termos de ajustamento de conduta firmados sob a égide da Lei Federal n° 4.771/1965, amparou-se no "caput" do art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014 e na corrente jurisprudencial minoritária a respeito do tema. Tratou-se, portanto, de uma opção válida do Chefe do Poder Executivo, máxime considerando-se que não se tem notícia de que o art. 5° da referida legislação estadual tenha sido taxado de inconstitucional em sede de controle abstrato, bem como que o C. STF ainda não julgou as Ações Diretas de Inconstitucionalidade de dispositivos da Lei Federal n° 12.651/2012, inclusive daqueles relativos à contagem das áreas de preservação permanente e de reserva legal (vide ADI's n° 4901, 4902 e 4903);
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b) não obstante a ressalva do item Ill.a acima, as observações contidas na proposta de parecer da Procuradoria Ambiental sob análise relativas aos respectivos parágrafos do artigo 12 do Decreto Estadual no 4.711/2015 são pertinentes (vide fls 29 e 30 deste processo);
c) quanto ao art. 30 do Decreto Estadual no 2.711/2015, entendo que, ao invés de sua revogação, como pretendido na proposta de parecer, faz-se possível, para privilegiar o posicionamento adotado pelo Chefe do Poder Executivo quanto à possibilidade de revisão dos termos de ajustamento de conduta, apenas alterar a sua redação, a fim de condicionar a referida revisão ao requerimento do compromitente e evitar a violação da Lei de Registros Públicos, suprimindo-se a previsão de substituição da averbação do TAC no Cartório de Registro de Imóveis pela simples apresentação do protocolo de sua revisão;
d) em relação ao art. 36 do Decreto Estadual n° 2.711/2015, em consonância com o art. 5° da Lei Estadual n° 18.295/2014, ele merece ser mantido.
IV. Encaminhe-se os presentes processos ao Instituto Ambiental do Paraná, a fim de que, com base no Parecer ora aprovado e nas ressalvas acima especificadas, sejam imediatamente iniciados estudos para a revisão do Decreto Estadual n° 2.711/2015.
Curitiba, 24 de maio de 2017.