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PARECER/CONSULTA TC-043/2004 PROCESSO - TC-3160/2004 INTERESSADO - CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA VENÉCIA ASSUNTO - CONSULTA 1. ESTABELECIMENTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA, LABORATORIAL, ODONTOLÓGICA, AMBULATORIAL E HOSPITALAR PARA SERVIDORES DOS PODERES LEGISLATIVOS MUNICIPAIS E CONCESSÃO DE AUXÍLIO PARA CUSTEIO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE - POSSIBILIDADES E CONDICIONANTES. 2. ANULAR OS PARECERES CONSULTA Nº S TC-079/99 E TC-004/2003. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC-3160/2004, em que o Presidente da Câmara Municipal de Nova Venécia, Sr. José Elias Gava, formula consulta a este Tribunal, visando dirimir dúvidas acerca da legalidade da contratação, pela Administração Pública, de plano de saúde privado para seus servidores, tendo em vista o conteúdo inserto nos Pareceres Consulta de nº s 079/99 e 004/03, no sentido de ser inviável a contratação de plano de saúde privado pela Administração, bem como o de nº 025/03, que prevê a possibilidade da concessão de tal benefício, questionando para tanto, o que se segue: 1 - Poderá o Poder Legislativo do Município A, como poder independente constituído dentro do Estado democrático de direito, firmar convênio com instituição privada para contratação de assistência médica, laboratorial, odontológica, ambulatorial e hospitalar para seus servidores, vinculados ao regime geral da previdência social, e respectivos dependentes mediante

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PARECER/CONSULTA TC-043/2004

PROCESSO - TC-3160/2004

INTERESSADO - CÂMARA MUNICIPAL DE NOVA VENÉCIA

ASSUNTO - CONSULTA

1. ESTABELECIMENTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA,

LABORATORIAL, ODONTOLÓGICA, AMBULATORIAL E

HOSPITALAR PARA SERVIDORES DOS PODERES

LEGISLATIVOS MUNICIPAIS E CONCESSÃO DE AUXÍLIO

PARA CUSTEIO DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE -

POSSIBILIDADES E CONDICIONANTES. 2. ANULAR OS

PARECERES CONSULTA NºS

TC-079/99 E TC-004/2003.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC-3160/2004,

em que o Presidente da Câmara Municipal de Nova Venécia, Sr. José Elias

Gava, formula consulta a este Tribunal, visando dirimir dúvidas acerca da

legalidade da contratação, pela Administração Pública, de plano de saúde

privado para seus servidores, tendo em vista o conteúdo inserto nos Pareceres

Consulta de nºs 079/99 e 004/03, no sentido de ser inviável a contratação de

plano de saúde privado pela Administração, bem como o de nº 025/03, que

prevê a possibilidade da concessão de tal benefício, questionando para tanto, o

que se segue:

1 - Poderá o Poder Legislativo do Município A, como poder

independente constituído dentro do Estado democrático de direito,

firmar convênio com instituição privada para contratação de

assistência médica, laboratorial, odontológica, ambulatorial e

hospitalar para seus servidores, vinculados ao regime geral da

previdência social, e respectivos dependentes mediante

e021918
Texto
DOE 14.12.2004, p. 25
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contribuição, tanto por parte dos servidores como por parte da

Câmara Municipal? Poderá fazê-lo por resolução? 2 - Poderá o

Poder Legislativo do Município A, dotado de autonomia

administrativa e financeira, conceder aos seus servidores, através

de resolução, auxílio para custeio de assistência à saúde,

devidamente consignado em folha de pagamento? Poderá fazê-lo

através de resolução? 3 - Em caso positivo, quais os

condicionantes, critérios e limites a serem observados para a

instituição do benefício de assistência médica dos servidores

públicos do legislativo?

Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que

lhe seja formulada na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme

artigo 1º, inciso XVII, da Lei Complementar nº 32/93.

RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito

Santo, em sessão realizada no dia trinta de novembro de dois mil e quatro, por

unanimidade, acolhendo o voto do Relator, Conselheiro Marcos Miranda

Madureira, preliminarmente, conhecer da consulta, para, no mérito, respondê-la

nos termos da Instrução Técnica nº 225/04 da 8ª Controladoria Técnica, firmada

pela Controladora de Recursos Públicos, Srª Mônica da Silva Ramos, abaixo

transcrita:

Ultrapassada a fase do artigo 97, caput, da Resolução TC 182/2002 (Regimento Interno), vieram-nos os autos a fim de nos pronunciarmos quanto ao mérito da proposição. Trata o presente feito de consulta formulada a esta Colenda Corte pelo Ilmo. Sr. José Elias Gava, Presidente da Câmara Municipal de Nova Venécia, trazendo questões que envolvem aspectos referentes à contratação de serviços de assistência à saúde, nos termos a seguir apresentados: 1 - Poderá o Poder

Legislativo do Município A, como poder independente constituído dentro do Estado democrático de direito, firmar convênio com instituição privada para contratação de assistência médica, laboratorial, odontológica, ambulatorial e hospitalar para seus servidores, vinculados ao regime geral da previdência social, e

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respectivos dependentes mediante contribuição, tanto por parte dos servidores como por parte da Câmara Municipal? Poderá fazê-lo por resolução? 2 - Poderá o Poder Legislativo do Município A, dotado de autonomia administrativa e financeira, conceder aos seus servidores, através de resolução, auxílio para custeio de assistência à saúde, devidamente consignado em folha de pagamento? Poderá fazê-lo através de resolução? 3 - Em caso positivo, quais os condicionantes, critérios e limites a serem observados para a instituição do benefício de assistência médica dos servidores

públicos do legislativo? É o relatório. DO MÉRITO No que tange ao primeiro questionamento realizado, que argüi acerca da possibilidade do Poder Legislativo Municipal firmar convênio com instituição privada para contratação de serviços de assistência à saúde para seus servidores, vinculados ao regime geral da previdência social, e respectivos dependentes mediante contribuição, tanto por parte dos servidores como por parte da Câmara Municipal, e ainda se tal convênio pode ser realizado por meio de resolução, é possível identificar que este Colendo Tribunal já se posicionou quando interrogado acerca de matéria semelhante. De início é preciso destacar que ocorreu uma impropriedade na nomenclatura utilizada pelo consulente, uma vez que o ato descrito na consulta (prestação de serviços privados de saúde mediante pagamento em contraprestação) constitui na realidade um contrato, e não um convênio, conforme a narrativa. No contrato, diferentemente do convênio, os interesses das partes não são comuns, mas opostos e diversos, justamente o que ocorre no caso apresentado. “Convênio e contrato não se

confundem, embora tenham em comum a existência de vínculo jurídico fundado na manifestação de vontade dos participantes. No contrato, os interesses são opostos e diversos; no convênio são paralelos e comuns. Neste tipo de negócio jurídico, o elemento fundamental é a cooperação, e não o lucro procurado por celebrar contratos.” CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 11ª ed. Rio de Janeiro : Ed. Lumen Juris, 2004. P.

196. No Parecer/Consulta TC 025/2003 restou afirmado a possibilidade de se firmar contrato quando se tiver como propósito alcançar os objetivos acima elencados. Em que pese este Tribunal de Contas ter tratado a matéria de forma diversa em momentos anteriores, o seu mais recente posicionamento é no sentido de entender cabível a realização de contratos na mencionada área, conforme a argumentação a seguir apresentada: [...] Assim, integrando-se à nossa

alçada oferecer manifestações de caráter estritamente técnico-jurídico, de cuja elaboração necessariamente devem se divorciar juízos valorativos de outra ordem, torna-se imperioso esclarecer se a aparente quebra da

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isonomia, inicialmente suscitada como impedimento à concessão do benefício, é, de fato, juridicamente qualificada. Portanto, a despeito da discussão que salutarmente possa ser travada social e politicamente, faz-se, no presente caso, imprescindível uma análise

objetiva do princípio retratado. Através de pesquisas de ordem prática, verificou-se que a concessão de planos de saúde privados, como forma de benefício a servidores públicos, tem se tornado uma constante, tanto em órgãos públicos federais, quando em Estados e Municípios. A título exemplificativo, podemos destacar que na Lei Federal n.º 8.112/90 - que dispõe sobre o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das fundações públicas federais - expressamente se prevê sistema de seguridade social destinado a dar cobertura aos riscos a que está sujeito o servidor e sua família, ali se incluindo o benefício de assistência à saúde (art. 184, III

1). E mais, no art. 230 do mesmo estatuto

federal, também há previsão no sentido de que “a assistência à saúde do servidor, ativo ou inativo, e de sua família, compreende assistência médica, hospitalar, odontológica, psicológica e farmacêutica, prestada pelo Sistema Único de Saúde ou diretamente pelo órgão ou entidade ao qual estiver vinculado o servidor, ou, ainda,

mediante convênio, na forma estabelecida em regulamento”,

sendo possível citar o Supremo Tribunal Federal, a

Procuradoria Geral da República e o Tribunal de Contas da União como alguns dos órgãos federais que já operacionalizaram sua instituição. Já no âmbito dos Estados, podemos citar o de Santa Catarina (Lei Complementar Estadual n.º 179, de 23.06.1999), o de Mato Grosso do Sul (Lei Estadual 2.207, de 28.12.2000) e do Paraná como alguns dos que possuem previsão legal para instituição do benefício de assistência à saúde do servidor público estadual. [...] Pela conjugação destes dispositivos verifica-se ser garantido tanto aos servidores públicos, como aos trabalhadores urbanos e rurais, “salário mínimo [...] capaz de atender suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e

previdência social”. Mas, a despeito do intento

1 “Art. 184. O Plano de Seguridade Social visa a dar cobertura aos riscos a que estão sujeitos o servidor e

sua família, e compreende um conjunto de benefícios e ações que atendam às seguintes finalidades: [...] III -

assistência à saúde. Parágrafo único. Os benefícios serão concedidos nos termos e condições definidos em

regulamento, observadas as disposições desta lei.”

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generalizante da norma, nunca se questionou a legalidade da concessão de auxílio-alimentação aos servidores públicos, paralelamente à remuneração que, em tese, seria suficiente para cobertura daquela necessidade. Tampouco se adjetivou como atentatório ao princípio da

isonomia a concessão de auxílio-transporte, auxílio-creche e outras espécies de benefícios. Na verdade, não vingariam altercações deste sentido por ser claramente perceptível que os fins pretendidos pelo texto constitucional ainda são de difícil alcance na prática. O fato é que, ao se tratar de benefício de assistência à saúde, a discussão se torna mais intensa pelo justificado inconformismo decorrente do atual sistema de saúde público, que, como já dissemos, faz aflorar no senso comum a idéia de estar a própria Administração Pública reconhecendo a existência de falhas neste setor. As oposições, portanto, não haverão de se basear em preceitos de ordem constitucional ou legal; antes, estarão pautados num sentimento de aparente injustiça, que somente poderá ser aplacada mediante a adoção de providências para melhoria daquele sistema e para garantia do efetivo acesso da população a serviços médicos e ambulatoriais de qualidade. [...] Resta claro, por conseguinte, a existência de evidente distinção entre conclusões de caráter estritamente jurídico e opiniões de cunho político-social. [...] Cabe lembrar, ademais, que o

próprio Egrégio Superior Tribunal de Justiça, com base na expressa previsão da Lei federal n.º 8.112/90, ainda que indiretamente, reconheceu a legalidade da instituição do Plano de Saúde em favor dos servidores públicos, chegando, inclusive, em virtude da forma pela qual criado o benefício no citado diploma normativo, a estendê-los aos inativos [...]”. Desta feita, é possível observar a possibilidade da realização de contrato que venha a ter como objeto a escolha de instituição privada com o fim de prestar assistência médica, laboratorial, odontológica, ambulatorial e hospitalar para seus servidores, bem como para os respectivos dependentes, inclusive com base em posicionamento já firmado por este Tribunal. A possibilidade de realização do contrato concedendo o benefício de assistência privada à saúde dos servidores deverá vir prevista na lei que criou o regime jurídico dos beneficiários, não havendo que se falar em resolução, uma vez que assuntos referentes a direitos de servidor deverão estar tratados no regime jurídico dos mesmos. “O regime jurídico dos servidores

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civis consubstancia os preceitos legais sobre a acessibilidade aos cargos públicos, a investidura em cargo efetivo (por concurso público) e em comissão, as nomeações para funções de confiança;

os deveres e direitos dos servidores; a promoção e respectivos critérios; o sistema remuneratório (subsídios ou remuneração, envolvendo os vencimentos, com as especificações das vantagens de ordem pecuniária, os salários e as reposições pecuniárias); as penalidades e sua aplicação; o processo administrativo; e a aposentadoria”. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo

Brasileiro. P. 384. [Grifo nosso] Dessa forma, havendo a previsão da possibilidade de concessão da assistência privada à saúde no regime jurídico, o detalhamento e a implementação da mencionada assistência poderá dar-se por meio de resolução. Destaca-se presumir-se, nessa hipótese, não existir nenhuma vedação no próprio Regime Jurídico quanto a regulamentação infralegal do benefício. Conforme trazido no mencionado Parecer/Consulta 025/03 o Superior Tribunal de Justiça já se posicionou de forma a entender pela legalidade da instituição de planos de saúde em favor dos servidores públicos, como é possível aferir a seguir: Cabe

lembrar, ademais, que o próprio Egrégio Superior Tribunal de

Justiça, com base na expressa previsão da Lei federal n.º

8.112/90, ainda que indiretamente, reconheceu a legalidade da

instituição do Plano de Saúde em favor dos servidores

públicos, chegando, inclusive, em virtude da forma pela qual

criado o benefício no citado diploma normativo, a estendê-los

aos inativos, conforme infere-se dos seguintes julgados: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - MAGISTRADO APOSENTADO - ISONOMIA DE SUBSÍDIOS - ATIVOS E INATIVOS - PLANO DE SAÚDE - BENEFÍCIO CUSTEADO PELO TRIBUNAL - CARACTERÍSTICAS - LINEARIDADE E GENERALIDADE - EXCLUSÃO DOS JUÍZES DE PRIMEIRO GRAU INATIVOS - OFENSA AOS ARTS. 5º, CAPUT E 40, § 8º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - PAGAMENTO DE PARCELAS ANTERIORES À IMPETRAÇÃO - EFEITOS PATRIMONIAIS PRETÉRITOS – IMPOSSIBILIDADE - SÚMULAS 269 E 271 DO STF. I- A Carta Política garantiu a paridade de vencimentos e proventos entre servidores na ativa e aposentados, inclusive, eventual modificação dos primeiros alcança os inativos. II - Ao subsidiar plano de saúde para juízes em atividade e desembargadores ativos e inativos, deixando de estender tal vantagem aos juízes de direito aposentados, o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia restou por malferir o princípio constitucional da isonomia, vez que tratou de forma desigual magistrados, pelo simples fato de integrarem ou não um Colegiado. II - Ademais, o custeio do plano de saúde representa vantagem incluída nos subsídios dos magistrados da ativa, ancorada na linearidade e generalidade de sua concessão. Desta forma, conforme orientação pacificada pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal

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de Justiça, tais vantagens concedidas aos servidores em atividade devem ser estendidas aos aposentados, por força do disposto no § 8º, do art. 40, da Constituição Federal de 1988. III - A teor do disposto nos verbetes Sumulares 269 e 271 do Pretório Excelso, a via do mandado de segurança é distinta da ação de cobrança, pois não se presta para vindicar a concessão de efeitos patrimoniais pretéritos, anteriores à impetração do "writ". IV - Recurso ordinário conhecido e parcialmente provido. (STJ. ROMS 12101/BA. Re. Min. Gilson Dipp. DJ de 31.03.2003, p. 235). ADMINISTRATIVO. SERVIDORES PÚBLICOS INATIVOS. DIREITO À ASSISTÊNCIA MÉDICA. EXCLUSÃO DOS PLANOS DE SAÚDE DOS SERVIDORES ATIVOS. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. EXISTÊNCIA. - O artigo 230, da Lei nº 8.112/90 assegura aos servidores públicos ativos e inativos a prestação de serviços de assistência à saúde por meio de sistema de convênio, cujo atendimento deve fundar-se nos princípios de universalidade, uniformidade e seletividade. - A participação em programa de saúde que beneficiou os servidores ativos do quadro funcional do Ministério dos Transportes deve ser estendido aos inativos e pensionistas, mediante desconto de participação. - Segurança concedida. (STJ. MS 4570/DF. Rel. Min. Vicente Leal. DJ de 03.05.1999, p. 92). CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - PROVENTOS - QUINTOS INCORPORADOS - REAJUSTE NOS TERMOS DA LEI Nº 9.030/95 - ART. 40, § 4º, CF/88. 1. Os benefícios do programa de convênio médico implementado no âmbito do Ministério dos Transportes para os servidores ativos, devem ser estendidos, também, aos servidores inativos, a par de uma interpretação teleológica dos arts. 40, § 4º, da Constituição Federal, bem assim, do art. 230, da Lei nº 8.112/90, na medida em que os servidores aposentados e pensionistas devem ser estendidos os benefícios e vantagens - quaisquer que sejam a sua natureza - concedidos aos servidores em atividade, uma vez que a concessão de um plano de saúde mostra-se passível de ser aferida monetariamente, vindo a representar, de conseguinte, um ganho patrimonial para seus beneficiários, traduzindo um verdadeiro aumento na contraprestação a que fazem jus pelos serviços prestados à União, mormente nos dias atuais, em que a remuneração dessa parcela de trabalhadores vem sofrendo uma crescente perda em seu poder aquisitivo. 2. Segurança concedida. (STJ. MS 4572/DF. Rel. Min. Anselmo Dantas. DJ de 01.02.1999, p.

101). Dessa forma, existindo a previsão legal prescrevendo a possibilidade de contrato com o fito de viabilizar a assistência privada na área de saúde, seria então possível a realização de procedimento licitatório por parte do Poder Legislativo do município, a fim de contratar os serviços que entender suficientes para o atendimento das necessidades de seus servidores. Não haveria, portanto, necessidade de resolução para a consumação de tal feito, vez que bastaria a realização de certame licitatório, respaldado, este, no regramento legal

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previamente existente. No que tange ao segundo questionamento do consulente, torna-se necessário um esclarecimento acerca da perquirição feita. O consulente fala em “auxílio para custeio de assistência à saúde, devidamente consignado em folha de pagamento”. Queremos crer que a questão versa acerca da possibilidade do custeio do serviço de assistência à saúde ser arcado de forma bilateral, tanto por parte do poder legislativo (auxílio), como por parte do servidor (consignação em folha de pagamento). Entendemos possível uma contraprestação por parte do servidor, dessa forma poderia ser determinado que o auxílio para o custeio do serviço estivesse condicionado ao pagamento de uma parcela do custo pelo servidor (contraprestação), que poderá ocorrer na forma de consignação em folha de pagamento, naturalmente com a devida permissão do titular da folha. Essa possibilidade tem por base a autonomia administrativa e financeira dos entes municipais, porém é preciso que se observe os limites orçamentários dos mesmos. Para tanto é necessário a existência de dotação orçamentária para a realização do feito, e devida indicação da fonte de custeio que irá suportar tal despesa, a fim de se preservar a transparência e o equilíbrio das contas públicas. Todavia, é preciso ressaltar que o pagamento por parte dos servidores deverá observar alguns limites legais. Em caso de inexistência de Regime Jurídico em determinado município prevendo a situação, entendemos pela possibilidade de aplicação analógica da Lei Complementar 46/94 (Regime Jurídico dos Servidores do Estado do Espírito Santo), que em seu artigo 74, parágrafo único, estabelece um limite máximo de desconto na ordem de 70% (setenta por cento) sobre os vencimentos e vantagens atribuídos ao servidor em sua folha de pagamento, na forma a seguir apresentada: LC 46/94. Art. 74. Mediante autorização do

servidor público, poderá haver consignação em folha de pagamento, a favor de terceiros, custeada pela entidade correspondente, a critério da administração, na forma definida em regulamento. Parágrafo único - A soma das consignações facultativas e compulsórias não poderá ultrapassar setenta por cento dos vencimentos e vantagens permanentes atribuídos ao

servidor público. Fundamental que se destaque nesta oportunidade que a aplicação da LC 46/94 na hipótese narrada, dar-se-ia por analogia (com base no art. 4ª da Lei de Introdução ao Código Civil - “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”), uma vez que tal norma vincula apenas os servidores estaduais, não incluindo, portanto, aqueles servidores pertencentes à esfera municipal em

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respeito à autonomia dos entes federados, sendo, insistimos, uma aplicação meramente analógica na hipótese de inexistência de ordenamento regrando a situação ora discutida. “A analogia consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante. [...] Esta [a analogia] se baseia na presunção de que duas coisas que têm entre si um certo número de pontos de semelhança possam conseqüentemente assemelhar-se a um outro mais”. MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro : Forense, 2001. P. 540 e 550. A respeito dos condicionantes que deverão ser observados para a instituição do benefício tratado na presente consulta, ressaltamos os elementos trazidos no Parecer/Consulta TC 025/2003: “Conquanto não haja incompatibilidade da

instituição do comentado benefício com o ordenamento pátrio,

cumpre arrolar, apenas a título de orientação, alguns

parâmetros e limites que deverão ser utilizados pela entidade

que eventualmente o instituir, a fim de se prestar fiel

obediência aos princípios regentes da Administração Pública,

dentre os quais se destacam o da legalidade, o da isonomia, o

da transparência, o da economicidade e o da moralidade. E,

sem querer esgotar as condicionantes a serem observadas no

caso de concessão do benefício, podemos citar as seguintes

como algumas das que deverão nortear a Administração

Pública: 1) O benefício deve, necessariamente, ser instituído

mediante lei da entidade a que estiverem vinculados os

servidores, observando-se, em qualquer caso, a fim de se

evitar sua concessão ilegítima, critérios mínimos de

razoabilidade e economicidade. 2) Em observância ao princípio

da isonomia e da impessoalidade, o benefício não deve ser

instituído somente para favorecer determinada classe ou grupo

de servidores, sendo vedado, portanto, qualquer previsão legal

destinada a privilegiar apenas determinada categoria. 3) Caso

haja opção pela contratação de empresa operadora do plano

de saúde, tal ato deve ser precedido de licitação. 4) Para

escolha da empresa contratada, deverão ser observadas as

regulamentações do regime de contratação e prestação de

saúde suplementar expedidas pelo Ministério da Saúde e

órgãos vinculados - Conselho de Saúde Suplementar (CONSU)

e Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 5) A título de

orientação, considerando a sistemática comumente adotada

por órgãos e entidades que já operacionalizaram o benefício,

sugere-se que o pagamento do plano de saúde seja custeado

de forma paritária pela Administração e pelo servidor. 6)

Considerando que o servidor poderá ser onerado com o custo

do plano, o usufruto do mesmo deverá ser sempre em caráter

facultativo, consoante, aliás, já decidiu o STJ por meio das

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decisões RMS-9668, publicada no DOU de 12.02.2001, e ROMS

10.925/GO, publicada no DOU de 05.03.2001 2. 7) Conforme já

havia sido esclarecido por meio da Consulta de n.º 004/2003,

em hipótese alguma podem ser utilizados recursos do sistema

de previdência próprio de servidores para cobertura dos

gastos do benefício de plano de saúde. Isto porque a

destinação dos recursos dos fundos previdenciários está

condicionada as hipóteses previstas no art. 201 da

Constituição da República, não sendo possível desviá-los nem

mesmo para os outros segmentos da seguridade social

(assistência social e assistência à saúde). 8) Em qualquer

caso, é de se destacar que a concessão do benefício não gera

direito adquirido, podendo o ente público competente para

legislar sobre a matéria suprimi-lo a qualquer tempo, tendo em

vista que tal vantagem não se incorpora automaticamente ao

vencimento, nem gera direito subjetivo à continuidade de sua

percepção3”. CONCLUSÃO Com base no exposto, opinamos

para que, no mérito, a presente consulta seja respondida no sentido da possibilidade de se firmar contrato com instituição privada para o estabelecimento de assistência médica, laboratorial, odontológica, ambulatorial e hospitalar para os servidores dos poderes legislativos municipais, sendo tal feito primeiramente pautado na Magna Carta que elenca em seu artigo 6º, dentre os direitos sociais, o direito à saúde, devendo, para se constituir validamente, estar respaldado na legislação municipal. A respeito da concessão de auxílio para custeio de assistência à saúde consideramos possível, desde que observadas as limitações estabelecidas pelo orçamento do município e devida previsão no mesmo. Destaca-se, mais uma vez, a impossibilidade de se utilizar recursos provenientes do sistema de previdência próprio dos servidores para a cobertura dos gastos com a assistência privada à saúde sobre a qual versa a presente consulta. Ressalta-se, ainda, que a parte do custeio por tal serviço, que ficará a cargo dos servidores municipais, deverá enquadrar-se no percentual máximo previsto em lei para as consignações em folha de pagamento, além de observar os demais condicionantes anteriormente apresentados que deverão

2 Ambas possuem a seguinte ementa: “Previdenciário. Servidores civis e militares do Estado de Goiás.

Contribuições para o IPASGO. Leis estaduais 10.150/86 e 12.872/96. Custeio para assistência social e

saúde. Facultatividade.” 3 Administrativo. Financiamento, pelo erário, de plano de saúde privado, em favor de servidor. Liberalidade

que não gera direito adquirido. Supressão do benefício que, sobre possível, a qualquer tempo, impunha-se

na hipótese, já que estava a colocar os apelantes em situação privilegiada com relação aos demais

funcionários estaduais, todos regidos pelo mesmo regime jurídico. Apelo desprovido. (TJMG. Apelação

Cível n.º 155.313/0. Rel. Des. Aloysio Nogueira, in “Boletim de Direito Administrativo”, n.º 02/2001, p.

161/165).

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servir como norte para a concessão do benefício ora discutido. Esse é o nosso entendimento.

RESOLVEM, ainda, os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do

Espírito Santo, na mesma sessão, anular os Pareceres Consulta nºs TC-079/99

e TC-004/2003.

Presentes à sessão plenária da apreciação os Srs. Conselheiros Valci José

Ferreira de Souza, Presidente, Marcos Miranda Madureira, Relator, Mário Alves

Moreira, Umberto Messias de Souza, Dailson Laranja, Enivaldo Euzébio dos

Anjos e Elcy de Souza. Presente, ainda, o Dr. Ananias Ribeiro de Oliveira,

Procurador-Chefe do Ministério Público junto a este Tribunal.

Sala das Sessões, 30 de novembro de 2004.

CONSELHEIRO VALCI JOSÉ FERREIRA DE SOUZA

Presidente

CONSELHEIRO MARCOS MIRANDA MADUREIRA

Relator

CONSELHEIRO MÁRIO ALVES MOREIRA

CONSELHEIRO UMBERTO MESSIAS DE SOUZA

CONSELHEIRO DAILSON LARANJA

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CONSELHEIRO ENIVALDO EUZÉBIO DOS ANJOS

CONSELHEIRO ELCY DE SOUZA

DR. ANANIAS RIBEIRO DE OLIVEIRA

Procurador-Chefe

Lido na sessão do dia:

FÁTIMA FERRARI CORTELETTI

Secretária Geral das Sessões

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e021918
Texto
Este texto não substitui o publicado no DOE 14.12.2004