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Folha:_________ Proc.: 0407/2003 Rubrica: ______ MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Fundação Nacional do Índio - FUNAI Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente - CGPIMA Coordenação de Meio Ambiente – CMAM PARECER TÉCNICO 020/2008 – CMAM/CGPIMA/DAS/FUNAI Brasília, 6 de agosto de 2008 . De: Marcelo Gonçalves de Lima – Assessor DAS 102.4 Para: Iara Vasco Ferreira - Coordenadora Geral do Patrimônio Indígena e Meio Ambiente Assunto: Análise da Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Alto Juruena. Processo nº: 0407/2003 I – INTRODUÇÃO Este parecer tem como objetivo analisar a Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da bacia do Alto Juruena, no Mato Grosso. O rio Juruena forma, juntamente com o rio Teles Pires ou São Manuel, é formador do rio Tapajós, importante afluente do rio Amazonas. A bacia do rio Tapajós tem aproximadamente 460.000 km 2 , com drenagem nos estados do Mato Grosso, Pará e Amazônia. O rio Juruena possui uma extensão de 852 km (obs, o estudo apresenta duas extensões, esta e de 970 km) sendo a cabeceira do mesmo formado principalmente pelos rios Securi, Jaína e Cabixis. O alvo da AAI foi o aproveitamento energético do Alto Juruena, em um trecho de 287,05 km, da cabeceira do rio até próximo a confluência com o rio Juína, ocupando uma área de 6.848,15 km 2 . 1 De acordo com o estudo, a AAI se diferencia dos EIA/RIMAS principalmente quanto a estes aspectos: Definição do recorte geográfico, que deve necessariamente ser estabelecido com base em critérios hidrográficos e incluir as áreas de influência de todos os 1 Dois estudos foram realizados anteriormente neste trecho, um deles pela Maggi Energia S.A, em 2001 e o segundo pelo Consórcio Juruena em 2002.

PARECER TÉCNICO 020/2008 – CMAM/CGPIMA/DAS/FUNAI … · O estudo apresentado trata de 10 aproveitamentos na área propostos pelos ... (SEMAT/MT). As licenças ... No caso dos barramentos

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

Fundação Nacional do Índio - FUNAI Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente - CGPIMA

Coordenação de Meio Ambiente – CMAM

PARECER TÉCNICO 020/2008 – CMAM/CGPIMA/DAS/FUNAI

Brasília, 6 de agosto de 2008 .

De: Marcelo Gonçalves de Lima – Assessor DAS 102.4 Para: Iara Vasco Ferreira - Coordenadora Geral do Patrimônio Indígena e Meio

Ambiente Assunto: Análise da Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Alto Juruena.

Processo nº: 0407/2003

I – INTRODUÇÃO Este parecer tem como objetivo analisar a Avaliação Ambiental Integrada (AAI) da

bacia do Alto Juruena, no Mato Grosso. O rio Juruena forma, juntamente com o rio Teles Pires ou São Manuel, é formador do rio Tapajós, importante afluente do rio Amazonas. A bacia do rio Tapajós tem aproximadamente 460.000 km2, com drenagem nos estados do Mato Grosso, Pará e Amazônia. O rio Juruena possui uma extensão de 852 km (obs, o estudo apresenta duas extensões, esta e de 970 km) sendo a cabeceira do mesmo formado principalmente pelos rios Securi, Jaína e Cabixis. O alvo da AAI foi o aproveitamento energético do Alto Juruena, em um trecho de 287,05 km, da cabeceira do rio até próximo a confluência com o rio Juína, ocupando uma área de 6.848,15 km2.1 De acordo com o estudo, a AAI se diferencia dos EIA/RIMAS principalmente quanto a estes aspectos: • Definição do recorte geográfico, que deve necessariamente ser estabelecido com

base em critérios hidrográficos e incluir as áreas de influência de todos os

1 Dois estudos foram realizados anteriormente neste trecho, um deles pela Maggi Energia S.A, em 2001 e o segundo pelo Consórcio Juruena em 2002.

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empreendimentos individuais contemplados na avaliação, assim como todas as áreas potencialmente afetadas por impactos cumulativos, inclusive de maneira indireta.

• Seletividade na caracterização ambiental (diagnóstico) da área de influência, uma vez que a maior parte das informações necessárias à AAI são tratadas de maneira detalhada nos EIA/RIMAs dos empreendimentos avaliados. Desta forma, o diagnóstico na avaliação integrada tem foco na compreensão das macro-condicionantes ambientais da região de interesse ou, mais precisamente, na sua capacidade de suporte ambiental.

• Foco na análise dos impactos que são comuns a vários empreendimentos, visando avaliar sinergias e cumulatividades. Efeitos cumulativos em determinados componentes ambientais podem ser maiores que a soma dos impactos individuais de cada empreendimento sobre esses componentes, em especial quando a capacidade de suporte ambiental da área de influência é ultrapassada. Desta forma, a AAI precisa analisar os efeitos cumulativos sob a ótica da apropriação, pelo conjunto de empreendimentos avaliados, da capacidade de suporte ambiental da região.

• Ênfase maior nos impactos indiretos, uma vez que freqüentemente é com relação a

eles que se verificam as relações sinérgicas e de cumulatividade mais significativas entre empreendimentos.

• Recorte temporal mais amplo, tendo em vista que os impactos indiretos freqüentemente demoram a se materializar e uma plena compreensão dos seus efeitos exige a análise de padrões tendenciais para horizontes mais longos que os usualmente adotados em EIA/RIMAs.

O objetivo principal da AAI é a avaliação da situação ambiental à época, da bacia do alto Juruena, considerando os empreendimentos hidroelétricos já implantados, e aqueles que estavam para ser iniciados ou propostos. Foram então considerados os seguintes aspectos: • Os empreendimentos propostos nos Estudos de Inventário Hidroelétrico da bacia e

seus efeitos cumulativos e sinérgicos sobre os recursos naturais e as populações humanas (grifo meu).

• Os usos atuais e potenciais dos recursos hídricos nos horizontes atual e futuro, considerando-se as necessidades de preservação da biodiversidade e da sociodiversidade, face às tendências de desenvolvimento socioeconômico da bacia.

Objetivos específicos, acertados no Termo de Referência para a AAI, são os seguintes: • Avaliação da situação ambiental da bacia considerando os empreendimentos

hidroelétricos implantados e os potenciais barramentos.

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• Avaliação dos efeitos cumulativos e sinérgicos mais prováveis da implantação de todos os barramentos propostos.

• Apresentação de indicadores de sustentabilidade da bacia, tendo como foco os recursos hídricos e a sua utilização para a geração de energia.

• Delimitação das áreas de fragilidades e de restrições ambientais.

• Indicação de potenciais conflitos frente aos diferentes usos do solo e dos recursos hídricos da bacia e as potencialidades advindas da implantação dos aproveitamentos hidrelétricos.

• Indicação de diretrizes ambientais para a concepção de novos projetos de geração de energia elétrica, visando alcançar o desenvolvimento sustentável da bacia, de forma a: a. Subsidiar futuros estudos ambientais na bacia do Alto Juruena; b. Indicar eventuais readequações de projetos e programas quando necessário; c. Subsidiar a avaliação ambiental de futuros aproveitamentos hidroelétricos na bacia do Alto Juruena.

• Estabelecimento de diretrizes que contribuam para a redução dos riscos

decorrentes do aproveitamento hidrelétrico da bacia do Alto Juruena, tanto dos pontos de vista ambiental e social quanto do ponto de vista da manutenção da viabilidade econômica e energética dos aproveitamentos propostos.

A AAI está estruturadas nas seguintes secções: Volume I 1 Apresentação 2 Antecedentes 3 O Marco Jurídico 4 O potencial energético do rio Juruena no contexto do planejamento do setor elétrico 5 Análise de alternativas de aproveitamento 6 Descrição da alternativa de aproveitamento proposta para o Alto Juruena Volume II 7 Diagnóstico ambiental Volume III 8 Análise da paisagem 9 Quadro tendencial 10 Avaliação ambiental distribuída 11 Avaliação Ambiental Integrada 12 Conclusões 13 Referências bibliográficas 14 Equipe técnica

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A intenção deste parecer é analisar as informações a cerca dos possíveis impactos nos processos ecológicos que podem afetar os recursos naturais utilizados pelas etnias presentes na região estudada da bacia. Neste sentido são focados as seguintes subsecções, na metodologia e resultados obtidos e nas conclusões finais:

7.3 Caracterização de recursos hídricos e ecossistemas aquáticos 7.3.3 Comunidades aquáticas

7.4 Caracterização dos ecossistemas terrestres 7.4.2 Meio biótico 7.4.3 Síntese de ecossistemas terrestres

7.5 Caracterização sócio econômica 7.5.12 Terras indígenas 8.1 Critérios e metodologia de setorização 11.1 Aspectos ambientais significativos para os recursos hídricos e ecossistemas aquáticos 11.2 Aspectos ambientais significativos para os ecossistemas terrestres 11.3Aspectos ambientais significativos para o meio antrópico 11.3.5 Riscos de pressão sobre terras indígenas

II. – DESCRIÇÃO SUCINTA DO EMPREENDIMENTO O estudo apresentado trata de 10 aproveitamentos na área propostos pelos empreendedores (Tab.1 e Fig.1). Tabela 1. Empreendimentos previstos para a área estudada na avaliação AHE Potência (MW) Empreendedor

PCH Telegráfica 30,0 Juruena Participações e Investimentos S.A

PCH Rondon 13,0 Juruena Participações e Investimentos S.A

PCH Parecis 15,4 Juruena Participações e Investimentos S.A

PCH Sapezal 16,0 Juruena Participações e Investimentos S.A

PCH Cidezal 17,0 Juruena Participações e Investimentos S.A

PCH Ilha Comprida 18,6 Maggi Energia S.A

PCH Segredo 21,0 Maggi Energia S.A

PCH Jesuíta 22,2 Maggi Energia S.A

Total PCH 153,2

AHE Cachoeirão 64,0 Leilão

AHE Juruena 46,0 Leilão

Total AHE 110,0

Total Geral 263,2

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Com exceção da PCH Jesuíta, por ter um reservatório previsto de 8,38 km2, e dos AHEs, as PCHs restante estão em processo de licenciamento na Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMAT/MT). As licenças, obtidas através da apresentação de diagnósticos simplificados, venceram em janeiro de 2006, sendo que para renová-las foi solicitado a elaboração da Avaliação Ambiental Integrada. O Termo de Referência para a AAI tem foco principalmente nas alternativas de partição de queda e na avaliação de impactos sinérgicos e/ou cumulativos decorrentes da implantação do conjunto de aproveitamentos, em um horizonte de 10 e 20 anos.

III. – ANÁLISE Metodologia utilizada na avaliação Comunidades aquáticas Fitoplancton Para caracterizar a comunidade fitoplantônica na área alvo e pela ausência de dados secundários para a região, foi realizado um diagnóstico in loco, em junho de 2007. Foram feitas coletas em 6 pontos sendo 3 a jusante e 3 a montante do local proposto para o eixo da PCH Juruena. Não são especificadas, no texto, quantas coletas foram feitas em cada ponto amostral, apenas que foi usado um frasco que foi submerso por aproximadamente 15 cm da superfície do rio, sendo a amostra fixada em lugol e abrigada da luz. Zooplancton Para este grupo também foi feito uma amostragem in loco pela falta de dados secundários. Este trabalho de campo foi realizado em junho e julho de 2006, sendo amostradas áreas de correnteza nos mesmos pontos amostrais utilizados para fitoplancton, não sendo, entretanto, encontrados indivíduos deste grupo nestes locais. Foram então realizadas novas amostragens em pontos de remanso em pontos a jusante e montante do eixo proposto para a PCH Juruena e pontos a jusante e montante do local indicado para a implementação do eixo da EHE Cachoeirão. Uma observação importante feita na avaliação é que a comunidade planctônica se desenvolve melhor em ambientes lênticos do que lóticos. No caso dos barramentos a fio d’água, os ambientes lóticos tendem a transformar-se em semi-lóticos, “podendo propiciar um aumento da comunidade planctônica” . As amostras foram feitas utilizando rede cônica com um fluxômetro acoplado para medir o volume de água filtrada. As amostras foram fixadas em formol 4%, dentro de sacos plásticos e a coleta foi passiva, deixando a água passar dentro da rede. Nos remansos a coleta foi ativa deixando a rede afundar até próximo ao fundo e depois a puxando verticalmente. Bentos Este grupo foi amostrado em julho de 2006, usando redes em D, com 0,30 m de boca, em plantas aquáticas (macrófitas) e Draga de Petersen que coleta o sedimento de fundo. A rede era passada mais de uma vez nos bancos de macrófitas enquanto o a draga era jogada do barco deixando que ela atingisse o sedimento. As amostras foram lavadas e fixadas em álcool 960, dentro de sacos plásticos.

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Foram realizadas 12 amostragens em diferentes trechos do rio, a montante e a jusante de alguns dos eixos planejados para a instalação dos aproveitamentos hidrelétricos de Juruena, Cachoeirão e Jesuíta. As macrófitas foram consideradas nesta avaliação por serem indicadoras de mudanças nas características hidráulicas e limnológicas que alteram o seu desenvolvimento. O material coletado foi depositado no Laboratório de Limnologia do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. Ictiofauna O rio Juruena faz parte da bacia amazônica e, portanto deve possuir espécies típicas desta bacia, mas ao mesmo tempo possui barreiras naturais, como o Cachoeirão, com 24 m de queda, sendo possível que as comunidades ictiológicas apresentem composições distintas. Ainda, de acordo com a avaliação a “construção de barragens e, sobretudo, em seqüência, causa a interrupção do movimento migratório de peixes e a dispersão de espécies. A diminuição de áreas de várzea e o desaparecimento de lagoas marginais podem influenciar sobre a reprodução de peixes que utilizam esses habitats como criadouros das fases jovens, bem como sobre populações de peixes de pequeno porte (grifos nossos)”. As campanhas de amostragem foram realizadas de 22 de junho a 21 de julho, e 28 de agosto a 1 de setembro, todas em 2006. De acordo com a avaliação, as coletas foram realizadas nas lagoas marginais a jusante do Cachoeirão, além de informações de moradores locais, pescadores amadores, e da prefeitura municipal de Sapezal. Também foram incluídas informações sobre as atividades de pesca dos índios Enawenê-Nawê. Em outra parte do texto que também foram realizadas coletas “no meio e em ambas as margens do rio, em locais com areia, a jusante e montante do eixo da barragem, nas lagoas, nas margens e no centro”. Além disto, a “área marginal é de encosta arenosa com aprofundamento da drenagem, limitando as margens do rio, onde predomina a vegetação de cerrado, com área um pouco mais úmida em função da Mata de Galeria em ambos os lados, cobrindo as margens”. Para fazer a amostragem foram utilizadas redes de arrasto de 6m por 1,60, malha 3 e 4 mm; redes de emalhar de 10 m de comprimento por 1,65, malha 1, 2 e 2,5 cm; redes de emalhar de 20 m por 1,80 m com malha 2,4,5,7,8,10,12 e 14 cm. Também foram usadas tarrafas de 1,20 m, malha 1 cm; 1.90, malha 2 cm e 2,80 e 4 cm de malha. Indivíduos de maior porte tiveram os seus dados anotados em fichas previamente elaboradas, e os de pequeno e médio porte foram coletados, fixados em formol a 10% e etiquetados. Ecossistemas Terrestres Meio biótico Cobertura Vegetal Para fazer um mapeamento geral da área da bacia delimitada para a avaliação foram identificados os principais tipos de vegetação através do mapa do IBGE, do mapa do RADAM Brasil e do Zoneamento Sócio-econômico Ecológico do Estado do Mato Grosso. Também foi utilizado para uma escala mais fina, imagens do satélite sino-brasileiro CBERS, de agosto de 2006, ampliadas para a escala 1:250.000 para fazer o mapeamento do uso da terra. Depois da interpretação inicial, foi realizado um sobrevôo e a verificação

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em campo de algumas áreas. Para o detalhamento das áreas onde estão sendo implementados os empreendimentos seguiu a mesma metodologia para o mapeamento regional, mas também foram utilizadas imagens IKONOS de alta resolução, de outubro de 2006. Fauna . Mastofauna Em 2002 foram realizados no estado vários levantamentos faunísticos no Mato Grosso, como parte do Diagnóstico Socioeconômico do estado. O trabalho foi divulgado no Relatório Consolidado da Fauna para o Estado do Mato Grosso. Dentro deste estudo, foram registrados os mamíferos de quatro localidades da bacia do Alto Juruena: Juruena, Utiariti (rio Papagaio), Vila Bela da Santíssima Trindade e Pontes e Lacerda. A lista é extremamente reduzida, e apresenta pelo menos um erro ao classificar o Tamanduá Bandeira (Myrmecophaga tridactyla) dentro do grupo de tatus. Em Pontes e Lacerda é feito o registro de apenas uma espécie, o que mostra a precariedade dos dados. No segundo semestre de 2006, em data não descrita, a JGP realizou coletas, capturas e avistamentos com armadilhas de contenção, armadilhas fotográficas, parcelas de areia, transectos diurnos e noturnos e armadilhas de queda. Apenas é informado o esforço amostral desta última metodologia que foi de 13.440 baldes. Não é informado o esforço dos outros métodos, nem localização dos pontos, método de disposição de armadilhas, tamanho das mesmas e outros dados importantes para caracterizar o estudo. É informado que foram registrados 75 espécies, com 5 gêneros não identificados. O estudo não havia sido publicado a época deste relatório sobre a AAI. Os animais coletados foram depositados no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo e é possível que a lista conte com uma nova espécie de Monodelphis, um marsupial. Avifauna A listagem do Diagnóstico supracitado cita a presença de 856 espécies de aves para o estado. Não é especificado registros para a região alvo da AAI. Em 2006, no segundo semestre, foram feitos levantamentos em diversas áreas da Bacia do Alto Juruena, usando redes-de-neblina, ponto de escuta e playback (reprodução do canto das aves com um gravador: atrai espécies mais territorialistas e curiosas). Foram registradas 253 espécies de aves, pertencentes a 53 famílias, que foram observadas em 69 dias de amostragem, sendo o esforço amostral das redes-de-neblina de 2472 horas/rede. A curva do coletor ou acumulativa, de acordo com a AAI, não estabilizou, o que significa que mais espécies tendem a serem encontradas caso um maior esforço amostral seja feito. Outros dados secundários são usados para caracterizar locais próximos aos locais dos aproveitamentos hidrelétricos. Algumas espécies raras são citadas nestes estudos: Pica-pau-da-barriga-vermelha (Campephilus rubricollisi), Coroa-de-fogo (Heterocercus linteatus), o Beija-flor-rabo-branco (Phaethornis ruber) e o Caminheiro-zumbidor (Anthus lutescens) Também são citados o Cujubi (Pipeli cujubi) e os gaviões Gampsonyx swainsonii e Elanus leucurus. Herpetofauna Dados secundários do Diagnóstico Sócio-Econômico Ambiental do Estado do Mato Grosso apresentam espécies encontradas em cinco localidades próximas à Bacia do Alto Juruena: Juruena, Utiariti (rio Papagaio), Tangará da Serra, Vila Bela da santíssima Trindade e Pontes e Lacerda. Para a região foram encontradas então 45 espécies de

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serpentes, 11 espécies de lagartos e 23 espécies de anfíbios. Nos trabalhos de campo para o estudo do impacto ambiental dos AHEs Juruena e Cachoeirão e da PCH Jesuíta, com um esforço de coleta de 13.440 armadilhas de queda (pitfall), (não é descrito o desenho amostral deste esforço, nem tamanho dos baldes usados), além métodos de procura ativa em estradas e ad lib, foram registradas 9 espécies de anfíbios, 2 de quelônios, 16 lagartos, 17 serpentes e 1 crocodiliano (a lista traz várias espécies só descritas até o gênero). Síntese de ecossistemas terrestres Unidades de Terrenos A AAI classificou os ecossistemas terrestres em quatro unidades de relevo: rampas detrito-laterítica; colinas quartzoarenicas, rampas onduladas quartzoarenicas e planícies fluviais alagadiças, a qual nos prendemos neste parecer pela ser mais impactada pelos empreendimentos e ser extremamente relevante ecologicamente para a fauna e flora da região. As Planícies Fluviais Alagadiças são compostas por sedimentos de aluviões constituídos por níveis de areia fina, argilas e siltes com eventuais camadas de cascalho. A este solo estão associados às formações aluviais florestais e não florestais, assim como uma transição da chamada savana arbórea densa com a floresta estacional semidecidual com formações aluviais, que formam as matas-de-galeria e ciliares, ricas em matéria orgânica, constantemente úmidas, mesmo na época da seca, e sofrendo inundações,. Esta formação vegetal concentra a grande maioria dos mamíferos encontrados no Cerrado, e associado às outras formações mais abertas funcionam com elementos de conectividade na paisagem. Durante as cheias, este terrenos são bastante susceptíveis a processos de solapamento, causando assoreamento. São Áreas de Proteção Permanente, todo ou em parte, onde os lençóis freáticos são superficiais, que faz com que estas áreas sejam muito sensíveis à interferência antrópica e com uma alta vulnerabilidade a contaminação dos aqüíferos. Fauna e Vegetação – Condicionantes bióticos dos ecossistemas Nesta seção são analisados os impactos decorrentes da construção dos AHEs no meio biótico, como perda de habitat, “bloqueio de migrações”, introdução de espécies exóticas, alterações na hidrologia, qualidade de água, morfologia e composição dos rios e sistemas ribeirinhos, etc. A AAI mostra que existem áreas ainda bem preservadas no Alto Juruena, portanto mantendo a conectividade na região, beneficiando tanto a fauna quanto a fauna, pois permite mantém o fluxo gênico. Em relação à fauna são feitas algumas declarações genéricas como: “a fauna está, aparentemente, completa” e a “fauna do alto Juruena é, claramente, uma fauna transacional”, que não apresentam fundamentação ecológica ou biológica. Mas ressalta que de “fato, a riqueza taxonômica amostrada com certeza não é ainda completa, mesmo que a lista já seja, como está, muito importante”. O texto descreve uma estimativa de fauna que deva ser encontrada, mas não é descrito como foi feito esta estimativa. Terras indígenas As informações sobre as populações indígenas foram extraídas do Estudo Complementar do Diagnóstico Antropológico das Oito Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs): Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis, Cidezal, Segredo, Ilha Comprida e Divisa, da Mappa Engenharia e Consultoria Ltda., cujo relatório final é de agosto de 2007. Nele

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são apresentados os estudo dos impactos sócio-ambientais e sócio-culturais dos empreendimentos nos seguintes grupos indígenas e suas respectivas terras: Enawenê-Nawê (TI Enawenê-Nawê), Myky (TI Myky), Nambikwara (TI Nambikwara, Pirineus de Souza e Tirecatinga), Paresi (TI Paresi, Juininha, Utiariti e Uirapuru) e Erikbaktsa e Japuíra). Estas terras indígenas estão localizadas no entorno da bacia hidrográfica do rio Juruena, até a foz do rio Arinos (Fig.2) São cinco grupos com organização e línguas particulares. A AAI descreve os aspectos de apenas três terras indígenas, a seguir: Terra Indígena Paresi – Etnia Paresi Composto à época por 25 aldeias, sendo duas abandonadas, com uma população de 913 pessoas. As atividades econômicas são a agricultura, a caça e a pesca. Também é exercida a atividade de coleta de frutos silvestres e plantas medicinais, além da confecção de artesanato. A agricultura mecanizada é realizada em parceria com fazendeiros mas a atividade é baseada no roçado de toco, com a plantação de ambas as mandiocas, o cará, a batata doce, o abacaxi e a banana. O plantio mecanizado é de arroz, milho, soja e sorgo, estes dois últimos destinados a comercialização. A caça é a base protéica da tribo, junta com a pesca que é realizada nas cabeceiras dos rios Juruena, Cabixis, Papagaio, Sacre e Buriti, onde são pescados traíra, pacu, cará, lambari e outros peixes. Terra Indígena Juininha – Etnia Paresi Existem duas aldeias nesta terra. A agricultura de roçado de toco tem como cultivo mais importante a mandioca brava. Também são cultivadas em volta das casas árvores frutíferas (manga, goiaba, frutas cítricas) e o urucum, além do bambu, mandioca, batata, cará e cana-de-açúcar. Coletam mangaba, pitomba, caju do cerrado, jatobá do cerrado, pequi, buriti e plantas medicinais. A caça e a pesca também é praticada: anta, cateto, onça-parda, onça-pintada, porco-do-mato, tamanduá-bandeira, veado, cutia, gambá, paca, quati, tamanduá-mirim e tatus (canastra, peba, galinha, bola), aves (não especificadas), traíra, pacu, cará, lambari (e outros, nos rios Juruena, Securi e Sararé. Os animais, além da carne, também propiciam matérias para fazer peças ornamentais. Terra Indígena Enawenê-Nawê – Etnia Enawenê-Nawê Uma pequena parte desta terra está dentro da bacia hidrográfica do Alto Rio Juruena, próximo a confluência com o rio Juína, onde teria uma área que é utilizada para a coleta de mel. Nesta terra é encontrada apenas uma aldeia, a Matokodakwa, com 490 pessoas e 61 famílias. Possuem uma forte religiosidade separando a terra em áreas para humanos e áreas para os seres que também lá habitam, inclusive as “sombras dos mortos e os espíritos subterrâneos (Yakairiti), que dominam os recursos da natureza.” Tem como atividade econômica principais a agricultura, a pesca e a coleta de alimentos, também produzindo artesanato que são confeccionados seguindo um calendário ritualístico de pesca, plantação e coleta, determinado pelo ciclo hidrológico da região (estações de seca, enchente e vazante dos rios que correm em sue território). A agricultura é realizada através de um sistema de roça de toco, com plantações de mandioca, milho, abóbora, banana, batata-doce, cará e amendoim, algodão, tabaco e urucum. O contato com o homem branco ampliou os produtos consumidos pelos índios, incluindo então o arroz, feijão, melancia e batata. A base alimentar, entretanto, ainda é a mandioca e o milho.

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A caça é realizada para obtenção de couros e dentes que são usados em rituais e ornamentos, e um incipiente comércio de objetos artesanais. A alimentação desta comunidade é baseada no pescado, consumindo-se tucunaré, trairão, piau, pacu, matrinxã e jaú. A pesca é realizada no rio Juruena, próximo a confluência com o rio Juína, e em várias lagoas nos rios Iquê, Camararé e Papagaio, e também nos rios Doze de Outubro, Joaquim Rios, Grande e Preto. A alimentação do povo Enawenê-Nawê está diretamente associada à oferta de alimentos provindos do cerrado e áreas de transição, da usam além do pescado, a mandioca, o milho (plantados), o mel e algumas leguminosas e frutos silvestres, insetos e larvas. Análise da paisagem A AAI classifica a paisagem da bacia do Alto Juruena em três unidades de paisagem, seguindo uma classificação com forte viés antrópico. Unidade de Paisagem I: Chapada com uso agrícola São classificadas dentro desta unidade as porções mais elevadas e planas da bacia, que compõem os divisores das bacias hidrográficas dos rios Juruena e Teles-Pires. São consideradas na avaliação como “caracterizadas por grande aptidão agrícola, a qual vem sendo quase que integralmente aproveitada pelo cultivo altamente mecanizado de soja, milho e algodão.”. Uma pequena área com esta fisionomia está dentro da área de influência da Terra Indígena Paresi, nas cabeceiras do rio Juruena, ainda com cobertura vegetal intacta, composta por Savanas Arbóreas Abertas e Formações Herbáceas, com poucos processos erosivos presentes, exceção à área atravessada pela antiga BR – 364. Unidade de Paisagem II: Rampas Arenosas Florestadas São as áreas que se estendem da borda das Chapadas com Uso Agrícola até a calha do rio Juruena e seus afluentes. Possuem inclinações progressivamente maiores e com crescente disponibilidade de água, provavelmente devido ao lençol freático mais superficial. A vegetação tende, portanto, a ser mais desenvolvida. É uma área bastante sensível tanto em relação à fragilidade dos terrenos quanto do ponto quanto da conservação da biodiversidade local. Os processos erosivos são intensificados com a perda da cobertura nesta unidade da paisagem, e são processos encontrados de forma generalizada na bacia. Unidade de paisagem III: Planícies Aluviais Alagadiças Esta unidade está restrita, de acordo com a AAI, aos trechos superiores dos rios Juína e Juruena, com algumas ocorrências a montante de Cachoeirão. Na região das nascentes e da confluência, tem de 500 a 2.500 m de largura, e na região entre a barragem do Juruena e o Cachoeirão, as planícies variam entre 50 e 500 m, chegando a 2.500 m de largura em algumas confluências. Estas áreas são permanentemente inundada, sendo uma paisagem brejosa com uma cobertura de Matas Paludosas ou Formações Herbáceas, com ou sem a presença de buritis. Devido à proximidade da superfície do lençol freático, estas áreas são bastante suscetíveis a contaminações dos aqüíferos. De acordo com a AAI esta “paisagem é especialmente frágil e está sujeita ao desaparecimento com formações dos reservatórios.”

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Alguns impactos negativos levantados pela Avaliação Ambiental Distribuída nas Unidades da Paisagem (UP= Unidade de Paisagem, vide acima). Formações de alagadiços rasos permanentes UP3 Movimentos de massa e desestabilização das encostas marginais UP2 Assoreamento de remansos na foz e de afluentes UP2 Processos de erosão laminar e em sulcos UP2 Ruptura de taludes de escavação UP2 Erosão de margens e do leito fluvial a jusante UP2 Supressão de cobertura vegetal UP2 e UP3 Fragmentação e perda de habitats para a fauna terrestre UP2 e UP3 Limitação da migração de ictiofauna UP2 e UP3 Aumento da população de insetos vetores UP1 Avaliação do cenário atual com relação aos ecossistemas terrestres e aquáticos Na AAI é indicado que as unidades de paisagem que sofrerão mais impactos serão as Rampas Arenosas Florestadas e as Planícies Fluviais Alagadiças. A primeira, imprópria para a agricultura e onde costumam ficar as reservas legais das propriedades, são compostas pelas matas-de-galeria e matas-ciliares. Estas formações ao serem suprimidas expõem o solo, em inclinação, provocando assoreamentos. O estudo avalia que os impactos serão mitigados pelas medidas propostas. Entretanto, a AAI descreve que o “assoreamento de remansos na foz do rio principal e de afluentes, causa a perda de volume útil dos reservatórios, e pode ocorrer devido à diminuição da velocidade da corrente fluvial, com perda de capacidade de carga, favorecendo a deposição de sedimento na forma de deltas.” E ainda que esse “processo deverá ser maior no reservatório de Cidezal, e no reservatório de Ilha Comprida, que apresenta um canal de 12 km até o remanso do reservatório da PCH de Segredo, onde os processos erosivos fluviais deverão ser intensificados devido ao aumento da capacidade erosiva do rio causada pela diminuição da sua carga. Nos demais reservatórios esse processo deverá ser mais significativo na foz dos pequenos tributários (grifo meu).” Continua a AAI sobre os barramentos quando prontos “reterão a carga sólida de fundo do rio Juruena resultando no aumento da capacidade erosiva do rio e conseqüente risco de desenvolvimento de processos erosivos nas margens e no leito fluvial a jusante dos barramentos. Esse processo tende a ser significativo a jusante da PCH Telegráfica (i.e última pch antes das terras indígenas Enawenê-Nawê e Menkü) devido à retenção quase que TOTAL da carga de sólidos do rio Juruena, o que deve aumentar o poder erosivo de suas águas com risco de alterações nas margens e no leito fluvial. (grifo meu)” No tocante a biodiversidade esta “Unidade de Paisagem abriga a cobertura vegetal mais representativa para a fauna em termos de oferta de alimento e abrigo. Assim, deve-se esperar que esta fragmentação de habitat afete a fauna local (grifo meu).” “Estima-se que algumas espécies de mamíferos que antes eram capazes de cruzar o rio, poderão ficar impossibilitados de fazê-lo no futuro, principalmente nas áreas onde a largura dos reservatórios será significativa (> 200 m). Nesses trechos, estima-se que a elevação do nível e largura do rio poderá vir a influir nas densidades populacionais das espécies de vertebrados terrestres afetados.”

Folha:_________

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Rubrica: ______

No tocante a ictiofauna do rio Juruena “entende-se que CADA usina pode representar uma barreira ara a migração ictiofauna a jusante”. A população de peixes já possui uma barreira natural que é o Cachoeirão, porém “espera-se que a apenas a jusante das PCHs Rondon e Telegráfica sejam afetadas pela imposição de barreira à migração.” De acordo com a AAI, a qualidade da água não terá impacto significativo pela implementação das usinas. A segunda Unidade da Paisagem a ser afetada será submersa pelos reservatórios. O estudo considera que as “áreas formam lagoas marginais utilizadas para a reprodução e abrigo da ictiofauna e para abrigo e dessedentação da fauna terrestre.” Em relação à ictiofauna, a perda destes ambientes pode levar “à redução das áreas para desova e criação. (grifo meu)”. Outra questão associada à submersão desta unidade da paisagem é a criação de áreas sempre alagadas, o que pode resultar no aumento dos vetores de doenças. Os cenários para médio prazo nestas unidades de paisagem não são diferentes dos atuais. O estudo considera que no cenário de longo os impactos decorrentes da implementação e operação das 13 usinas consideradas já estejam estabilizados. Avaliação Ambiental Integrada Alteração na qualidade da água São apresentadas as seguintes alterações que podem ocorrer com a implementação dos barramentos seqüenciais no rio Juruena: - Aporte de sedimentos em decorrência de movimentação de terra durante as obras; - Aporte lateral de sedimentos em decorrência da perda de vegetação ciliar em alguns trechos do rio; - Elevação dos níveis de matéria orgânica decorrentes da decomposição da vegetação ciliar e de vegetação. Neste último ponto, observa-se a seguinte avaliação: “Em pontos específicos dos reservatórios, em especial próximo aos barramentos, pode haver redução da velocidade das águas e conseqüente acúmulo de matéria orgânica decorrente da decomposição de vegetação submersa pela elevação do nível d’água. No entanto, conforme já relatado, o rio Juruena é bastante pobre em nutrientes e esta elevação pontual da quantidade de matéria orgânica poderá ser BENÉFICA para a fauna aquática (grifo meu). Mudanças no regime fluvial Espera-se que com a implementação dos barramentos aconteçam alterações pontuais no regime fluvial devido a dois aspectos: - Criação de trechos semi-lênticos a montante dos barramentos e risco de eutrofização - Redução de vazão remanescente do rio nas usinas com canal de derivação. Ambos os aspectos não são considerados importantes. Impacto sobre a ictiofauna e demais comunidades aquáticas São considerados os seguintes aspectos que possam influenciar na comunidade de macrofauna bentônica:

Folha:_________

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Rubrica: ______

- Aumento de áreas de remansos, embora a áreas a ser inundada pelos reservatórios em geral não seja ampla; - Aumento de áreas cobertas por macrófitas, as quais se adaptam melhor em zonas de menor correnteza; - Diminuição da concentração de material em suspensão na água, pela sua deposição por redução de velocidade do rio. E são esperados os seguintes efeitos em função destes aspectos: - Um aumento de organismos bentônicos associados à macrófitas, com maior desenvolvimento destas, pós barramento; - A ampliação de áreas de remanso e a diminuição da velocidade do rio nessas áreas não somente propiciará maior crescimento de macrófitas como deposição de material particulado mais fino, o qual favorecerá algumas espécies bentônicas em detrimento de outras adaptadas a substratos duros ou de partículas mais grossas e maior velocidade de corrente; - A diminuição da correnteza também diminuirá o efeito de organismos bentônicos para longe de seu habitat original, diminuindo, portanto, a perda rio abaixo de indivíduos das populações; - O aumento de deposição de detritos nos remansos ampliará também a oferta alimentar de muitas espécies bentônicas que são detritívoras. Um das conclusões nesta seção é que “é provável que haja um aumento do número de organismos bentônicos e macrófitas após o fechamento das barragens, um fato que em si não é negativo, pois poderá resultar em maior oferta alimentar para os outros níveis tróficos da rede alimentar do rio, como, por exemplo, peixes. (grifo meu)” Os impactos esperados nas comunidades planctônicas são as seguintes: - Aumento do fitoplâncton nas áreas de remanso, que competirão com as macrófitas por nutrientes e luz, a qual será atenuada sob plantas; - Predominância de algas pequenas, de rápido ciclo de vida, que conseguem sobrepujar o fluxo da água; - Teórico desenvolvimento do zooplâncton em áreas de remanso, não somente pela menor correnteza mas pela existência de maior oferta alimentar representada pelo fitoplâncton; - Predominância de organismos zooplanctônicos de ciclo mais curto de vida, principalmente rotíferos. Mais uma vez o estudo conclui que o aumento deste grupo não representará um efeito negativo já que haveria aumento de zooplâncton nos remansos que serviria de alimento para pequenos peixes e aqueles em fase jovem. Para a ictiofauna são esperadas as seguintes mudanças de importância com a construção de hidrelétricas em seqüência: - Construção de várias barreiras (barragens) não transponíveis aos peixes; - Alagamento de proporções limitadas em função das características das hidrelétricas, as quais não formarão grandes lagos;

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Rubrica: ______

- Diminuição ou interrupção de algumas áreas de lagoas marginais que serão atingidas pelo alagamento dos reservatórios; - Desaparecimento de algumas várzeas de alagamento temporário, e ampliação de áreas de remanso nos reservatórios; - Possibilidades de aumento de macrófitas, bentos e plâncton. Os impactos negativos sobre os peixes, identificados no estudo, causados por estas mudanças são: - A reprodução de espécies migradoras será prejudicada pelas barreiras representadas pelas barragens, caracterizando um impacto que será limitado porque já existe uma barreira natural no trecho, representado pelo Cachoeirão, a qual impede a migração à montante da catarata; - Formação de sub-populações confinadas em trechos, dependendo da extensão dos barramentos; - Diminuição de locais de criadouros e alimentação de diversos espécimes pelo alagamento de lagoas marginais; - Influência sobre criadouros com a supressão de várzeas; - Diminuição da oferta alimentar de frutos com a supressão ou diminuição de trechos de mata ciliar; - Diminuição da diversidade de espécies e aumento da abundância de algumas espécies sedentárias. Como aspectos positivos são esperados: - O aumento, mesmo que limitado, de macrófitas, plâncton e bentos, incrementará a oferta alimentar para os peixes de uma maneira geral; - Áreas maiores de remanso servirão de habitat e alimentação para espécimes maiores e criadouros para as primeiras fases; - Os trechos a montante do Cachoeirão, que são pouco piscosos, poderão ter produção aumentada por incremento de algumas espécies não migradoras. Impactos significativos para a ictiofauna durante a fase de construção são: - Maior carreamento de sedimentos e outros materiais para jusante como resultado da movimentação do solo por escavação e outras atividades, - Isolamento de parte da calha do rio pela implantação de ensecadeiras para construção dos barramentos; - Alterações de velocidade do rio nos trechos de desvio; - Supressão de trechos de mata ciliar. A construção de ensecadeiras deve ser a atividade de maior impacto na ictiofauna, pois, de acordo com o estudo, os peixes ficam presos na área de construção. O texto tece alguns comentários obre as diferenças existentes a montante e a jusante do Cachoeirão: - A última hidrelétrica planejada a jusante, Telegráfica, fica a uma distância aproximada de 20 km da catarata, que corresponderia à diminuição do rio para qualquer movimento migratório de peixes em relação à situação atual sem barramentos; - O trecho a jusante possui alguns tributários, sendo alguns de porte maior que poderiam ser vias alternativas para a migração de peixes;

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Rubrica: ______

- A jusante do local da futura Telegráfica aumenta o número de lagoas marginais, as quais não deverão ser alteradas, uma vez que a vazão do rio será mantida, diminuindo riscos de influência sobre criadouros; - A montante do AHE Cachoeirão o número de tributários escasseia particularmente a montante da PCH Segredo, podendo assim haver maior influência sobre peixes migradores que, por sua vez, apresentam menor número de espécies; - Há também menor número de lagoas marginais a montante, diminuindo o impacto de seu recobrimento pelas águas dos reservatórios, devendo-se considerar também que os peixes já apresentam estratégias estabelecidas de reprodução para essas condições. Estratégias para a gestão ambiental dos ecossistemas aquáticos na Bacia do Juruena Com a construção dos barramentos e formação dos reservatórios, haverá, de acordo com o estudo, a alteração permanente da dinâmica original do rio na medida em que "introduzem novos elementos na topografia do trecho". Apesar disto “não são esperados impactos significativos nas comunidades aquáticas como decorrência da implantação dos barramentos e da formação dos reservatórios pois, sendo o Rio Juruena um rio pobre em nutrientes, e não havendo aporte de efluentes que possam contribuir com a alteração na quantidade/qualidade futura destes nutrientes, não há risco significante de acúmulo de matéria orgânico ou de eutrofização dos reservatórios.” É proposta a adoção de programa de controle semestral de qualidade das águas em pontos a montante da PCH Santa Lúcia e a jusante da Telegráfica, com amostragens nos períodos de seca e cheia, para verificar se as águas estão em conformidade com os parâmetros estabelecidos para rios de classe 2 de acordo com o Art. 50 da resolução CONAMA 357/05. A AAI recomenda que este monitoramento seja mantido por três anos, após o início das operações das últimas usinas que serão construídas, no caso Cachoeirão, Juruena e Jesuíta. Mesmo não sendo esperados impactos significativos sobre ictiofauna migratória ou sedentária de jusante e montante do AHE Cachoeirão, o estudo levanta a possibilidade de que haja a compartimentação e, portanto, o isolamento das comunidades de peixes. É recomendado então o monitoramento semestral, quantitativo das populações de peixes de cada reservatório. Este monitoramento deverá durar 3 anos (contados após o início de operação das usinas de Cachoeirão, Juruena e Jesuíta) caso não sejam detectados impactos na ictiofauna, do contrário, "deverão ser consideradas e estudadas estratégias de repovoamento com espécies nativas criadas em cativeiros locais." Aspectos ambientais significativos para os ecossistemas terrestres Alterações decorrentes da implantação dos reservatórios em cada Unidade de Terreno Em relação aos possíveis impactos nas unidades de terreno consideradas na AAI, sofrerão impactos significativos as Colinas Quartozoarênicas, as Rampas Onduladas Quartozoarênicas, e as Planícies Fluviais Alagadiças. Em relação às duas primeiras elas “são bastante frágeis e sofrerão inúmeras alterações decorrentes da implantação das barragens, da abertura de acesso e de áreas de apoio, bem como da submersão do trecho inferior das encostas que chegam ai rio. A intensificação da atividade antrópica nesses terrenos, com remoção da cobertura vegetal e exposição dos solos arenosos a ação das águas pluviais, podem provocar aumento na intensidade e na freqüência de ocorrência de

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Rubrica: ______

processos de dinâmica superficial, como por exemplo, a formação de ravinas profundas associadas aos drenos dos caminhos de serviço e áreas de solo exposto em geral, que podem assorear os canais fluviais, aumentando a carga de transporte dos rios.” Já sobre as Planícies Fluviais alagadiças a interferência dos empreendimentos é “significativa uma vez que altera a dinâmica fluvial e a manutenção desses terrenos com risco de intensificação do processo do assoreamento da foz de alguns afluentes e da retenção da carga sedimentar do rio, intensificando a ação erosiva do canal a jusante dos barramentos. E ainda “a completa submersão desses terrenos, que resulta na alteração de habitats com efeitos para a biota...”. Em linhas gerais, os impactos acumulativos sobre o meio físico esperados são: • Instabilização de margens a jusante dos barramentos; • Indução de processos erosivos, movimentos de massa e desestabilização de

encostas marginais; • Processos de assoreamento.

Geração de áreas alagadas Com a implantação dos barramentos é esperado a formação de áreas de solo

encharcado e áreas alagadas em decorrência da elevação do lençol freático, da formação de áreas de remanso dos reservatórios e pela inundação das Planícies Aluviais Alagadiças. Com a inundação destas áreas de planície espera-se a “formação de remansos de reservatório mais extensos e planos, em que pode ocorrer a alteração de solos atualmente arenosos e úmidos para solos encharcados, com perda da capacidade de suporte para a vegetação ai existente.” A AAI ainda aponta que “a formação de novas áreas alagadas rasas implica na instalação de um novo micro-ecossistema que entrará em equilíbrio alguns anos após a sua criação. Assim, espera-se que até a estabilização da fauna e flora locais, estas áreas utilizadas intensamente como área de procriação para insetos, incluindo culicídeos vetores de doenças. Este aspecto pode oferecer riscos à saúde, sendo necessário seu monitoramento” (grifo meu).

Supressão de vegetação nativa A Bacia do Juruena foi caracterizada como tendo 70% de sua área formada por

cobertura vegetal nativa, a sua maioria do tipo Savana Arbórea Aberta, Savana Parque e Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual com Formações Aluviais (Tab.2).

Tabela 2. Áreas ocupadas pelas diferentes formações vegetais identificadas na

bacia do Alto Juruena, com base no mapeamento realizado em escala 1:250.000. Bacia do Alto Rio Juruena km2 %

Savana Gramíneo-Lenhosa 35,41 0,52

Savana Parque 1.860,07 27,14

Savana Arbórea Aberta 1.882,36 27,46

Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual 283,31 4,13

Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual com Formações Aluviais

769,08 11,22

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Floresta Estacional Semidecidual Aluvial 22,27 0,33

Formações Aluviais 7,43 0,11

Vegetação Secundária 39,93 0,58

Área Antropizada 1.954,57 25,51

Total 6.854,35 100 As áreas com maior cobertura nativa estão dentro das Terras Indígenas Paresi e

Juininha, e também aquelas dentro das áreas averbadas como reserva legal. O estudo considera que alguma das áreas remanescentes tem potencial agrícola. Em função dos empreendimentos, pouca área nativa será inundada, um total de 21,62 km2, o que corresponde a 0,32% da Bacia do Alto Juruena. Entretanto, de acordo com a AAI, mesmo com a pequena supressão da área total da bacia "haverá vários impactos secundários decorrentes dessa supressão que merecem ser analisados no contexto cumulativo dos 10 empreendimentos pretendidos. Estes impactos... estarão concentrados em um segmento de aproximadamente 110 km do Rio Juruena, que corresponde a cerca de 2.000 km2 ou 30% da bacia do alto Juruena". De acordo com o estudo, a área total afetada será de 21,62 km2, ou seja, 1,08 % (Tab. 3).

Tabela 3. Área de supressão das formações vegetais localizadas no setor da

bacia do Alto Juruena com potencial de geração de energia hidrelétrica e das áreas previstas para alagamento com a implantação dos 7 e dos 10 aproveitamentos hidrelétricos previstos.

Setor da Bacia do Alto Juruena com Potencial de Aproveitamento Energético

Área Total do Setor da Bacia (2006) *

Área de Alagamento de 7 Aproveit.**

Área de Alagamento de 10 Aproveit.**

Tipos de Vegetação km2 % km 2 % km 2 %

Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual

122,04

6,09

0,14 0,82

4,45 9,06

Mata Ciliar/Floresta de Galeria 1,17 1,89

Vegetação Aluvial Arbustivo-Arbórea

Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual com Formações Aluviais

254,25

12,63

0,01

0,01

Savana Arbórea Aberta, Savana Parque e demais formações não florestais

1.031,50 51,48 4,70 9,82

Vegetação Secundária 33,90 1,69 0 0

Área Antropizada 561,88 28,04 0 0

Total 2003,57 100,00 10,47 0,52 21,62 1,08 Obs 1: (*) Estimativa baseada no mapeamento realizado em escala 1:250.000. Obs 2: (**) Estimativa baseada no mapeamento realizado em escala 1:10.000.

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Rubrica: ______

Obs 3: Os valores percentuais (%) referem-se à área total do setor aproveitável da

bacia hidrográfica do Alto Juruena. Os impactos serão diferenciados nas diferentes fitofisionomias, sendo as mais

afetadas as associadas a cursos d'água, e.g. florestas ciliares, de galeria. formações aluviais herbáceas arbustivas, arbustivo-arbóreas e as formações enquadradas na categoria Transição Savana Arbórea Densa com Floresta Estacional Semidecidual (com e sem Formações Aluviais). de acordo com o estudo , quando "o nível de profundidade do lençol freático é alterado, como ocorrerá em função do alagamento de áreas pelos reservatórios dos aproveitamentos hidrelétricos, ele provoca mudanças na composição florística e na estrutura da vegetação remanescente imediatamente vizinha aos reservatórios". Assim, novas áreas alagadiças e úmidas serão formadas em decorrência dos empreendimentos, em áreas de savana, campo e mesmo nas áreas com formações florestais "que podem até levar à total substituição por outros tipos de vegetação mais adaptados a uma nova condição ambiental. Entretanto, os dados obtidos até o momento sobre a bacia do Alto Juruena não permitem dimensionar a extensão das áreas onde este evento é passível de ocorrer, nem o tempo que a vegetação levará para se adaptar aos novos ambientes."

Efeitos Indiretos na Vegetação - Fragmentação de Vegetação Outro efeito considerado na AAI além da supressão das formações nativas acima

citada, é a fragmentação de habitats. São citados dois efeitos decorrentes deste processo: a redução parcial ou total de habitat natural e a insularização dos ambientes. A principal unidade afetada historicamente por este processo na região é a "Chapada com uso agrícola", onde estão situados os platôs, e.g. Chapada dos Parecis. No caso dos empreendimentos em questão, o impacto é diferenciado pois o processo de fragmentação é advindo do alagamento de áreas ribeirinhas e das áreas associadas às planícies, juntos as margens do Rio Juruena e próximas à foz deste. "Ela incide diretamente nas Rampas Arenosas Florestadas e nas Planícies Aluviais Alagadiças, que, em geral, são as paisagens mais preservadas. Além disto, a formação de vários reservatórios ao longo do Rio Juruena amplia a barreira física que este rio representa para o deslocamento da fauna e para os processos de polinização cruzada e de dispersão de sementes e propágulos da vegetação."

Com a formação dos reservatórios ocorrerá o alagamento e supressão da vegetação ribeirinha, que forma corredores estreitos de vegetação ao longo do Rio Juruena e dos seus afluentes. Isto provocará o isolamento de remanescentes florestais na área. Em função disso, vários processos ecológicos, como interações plantas-animais, serão modificados. O estudo aponta, entretanto, que as reservas legais existentes mitigariam estes efeitos da fragmentação de habitat. No entanto no “caso da implantação dos aproveitamentos hidrelétricos na bacia do Alto Juruena, a insularização das florestas ribeirinhas terá também efeitos indiretos sobre a sobrevivência da fauna. Como descrito no diagnóstico, as maiores densidades populacionais das comunidades faunísticas estão diretamente relacionadas à presença das florestas de galeria e ciliares.” Com o alargamento de alguns trechos do rio por causa dos reservatórios, ocorrerá também o isolamento de comunidades da flora e fauna, com “alterações no fluxo gênico de pólen entre as margens, principalmente para espécimes pertencentes a grupos botânicos onde a polinização cruzada é obrigatória. A dispersão de sementes poderá ser afetada, principalmente para espécies dependentes de vetores zoocóricos (i.e. dispersados pela fauna).”

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Rubrica: ______

As respostas da biota aos impactos decorrentes da fragmentação pelas razões descritas acima vão depender de vários fatores que não foram mensurados no estudo. De acordo com a AAI para “as formações vegetais, cada mancha remanescente terá ou estará sujeita a características únicas, como forma, área, grau de isolamento e distribuição na paisagem, que determinarão as respostas das comunidades remanescentes”. O estudo diz que poderá ou não ocorrer um novo equilíbrio das comunidades bióticas, que pode ser uma resposta imediata ou de longo prazo. Efeitos indiretos na vegetação – ampliação dos efeitos de borda Três aspectos são abordados nesta seção do estudo: o aumento da área de borda em contato com o curso d’água; o contato com o reservatório de vegetação outrora distante e não influenciada pelo rio; e a redução da área total das formações adjacentes aos reservatórios. Entre os efeitos de borda citados está o aumento da relação perímetro/área, o aumento do contato com o vento e a mudança de fatores microclimáticos e fisiológicos. O estudo indica que poderá ocorrer a estabilização dos ambientes afetados, com a formação até de novas áreas de mata-de-galeria e ciliar, sem no entanto levar em consideração outros fatores necessários para a formação destas fitofisionomias além do contato com a água. Efeitos indiretos na vegetação – impactos potenciais por espécies exóticas Através da abertura de estradas de acesso, o canteiro de obras e outras elementos necessários para a construção das usinas, espécies exóticas e ruderais podem proliferar, competindo com espécies nativas por nutrientes e outros recursos. Muitas destas espécies introduzidas são bastante agressivas no processo de colonização e também difíceis de serem erradicadas. O estudo sugere a implementação de técnicas de manejo para a contenção destas espécies, salientando, entretanto, “que no caso em pauta esse processo será limitado pelas características dos solos locais que são extremamente pobres e não tem condições de dar suporte a processos de colonização espontânea.” Aspectos relativos à biodiversidade das diferentes formações vegetais e ecossistemas presentes A bacia do Alto Juruena possui alta diversidade de espécies de flora, principalmente por ser ecótono de várias fitofisionomias, com elementos de cerrado e amazônicos. De acordo com o estudo as formações florestais possuem as maior diversidade biológica, sendo representeadas pela Floresta Estacional Semidecidual Aluvial, pela transição da Savana Arbórea Densa e a Floresta Estacional Semidecidual e pelas Florestas de Galeria. As formações predominantes na bacia seriam pertencentes à região Fitoecológica da Savana, sendo representados na região pela Savana Arbórea Aberta, pela Savana Parque e pela Savana Gramíneo-Lenhosa, ocupando cerca de 50% da área. A AAI indica que existem poucos estudos sobre a biodiversidade desta área, sendo que o estudo para a área de influência da PCH Jesuíta mostrou a existência de espécies da bacia amazônica nas áreas de Savana Arbórea Aberta, mas, de uma maneira geral o estudo aponta que “faltam estudos científicos e coletas botânicas na bacia do Alto Juruena, visto que na literatura especializada não foram encontrados levantamentos desta região” não sendo possível afirmar que existam endemismos (espécies que só ocorrem na bacia) na região da Chapada dos Parecis ou na bacia do Alto Juruena. “A supressão da vegetação decorrente da implantação dos diversos aproveitamentos hidroelétricos na bacia do Alto Juruena tende a afetar a diversidade de espécimes da comunidade vegetal, pela diminuição da abundância e do pool genético das populações locais.” Entretanto, de acordo com o estudo as áreas a serem suprimidas são pouco significativas em comparação

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à extensão dos remanescentes, “de maneira que a intensidade deste efeito deverá ser bastante limitada.” Fauna – uma análise de efeitos de prazo médio e longo A AAI tenta descrever quais seriam as possíveis mudanças na composição de fauna em decorrência da implementação dos empreendimentos, porém afirma ser impossível elencar quais espécies seriam realmente afetadas por falta de dados. Com alguns dados secundários de mamíferos carnívoros e herbívoros e as devidas áreas de vida, o texto extrapola qual poderia ser a capacidade de suporte da bacia do Alto Juruena, sem levar em consideração, entretanto o tipo de habitat das espécies. Em cima destes dados, o estudo mostra que ainda haveria área com capacidade de suporte suficiente para “continuar a sustentar uma fauna diversificada”. Estratégias para a gestão ambiental do meio físico e da biota na bacia do Alto Juruena Com a implementação das 7 PCHs que já haviam sido licenciadas à época da realização do estudo, iria comprometer o estado de conservação da vegetação nativa remanescente nas áreas vizinhas das estradas de acesso, dos canteiros de obras e das demais edificações, em especial ao longo das bordas dos caminhos de acesso e de serviço (inclusive das linhas de transmissão). Ao longo desses que haverá o maior risco de queimadas e a introdução de espécies invasoras. A instalação dos 3 aproveitamentos restantes trará as mesmas conseqüências. O estudo então indica que para conservar a biota do Alto Juruena, é exigido uma estratégia de gestão integrada da bacia “tanto do ponto de vista de monitoramento dos impactos quanto do ponto de vista de compensação ambiental”. São recomendados então as seguintes ações: • Unificação dos Programas de Monitoramento de Fauna dos empreendimentos, com

a instalação de transectos para acompanhar de forma sistêmica as alterações que acontecerão. “Essa unificação deverá permitir estabelecer, ao final da implantação dos empreendimentos (2001), um panorama quantitativo dos impactos decorrentes da implantação das usinas para a fauna da bacia do Alto Juruena como um todo”;

• Implementação de um Programa de Reconstituição de Conectividades Estratégicas

“ focando na regeneração induzida de Matas de Galeria e outras formações de porte e densidade florestal” onde houver reservatórios e aconteça a insularização de remanescentes ciliares;

• Direcionar a compensação ambiental para a preservação das áreas mais frágeis,

com foco no setor norte da bacia do Alto Juruena e com destaque para os fragmentos localizados a jusante do Cachoeirão. Juntamente com esta ação deve ser feito em conjunto um programa de regularização de Reservas Legais, com uma estratégia de averbação em condomínio. A intenção desta estratégia é garantir e “a preservação a longo prazo dos principais remanescentes de vegetação nativa no Alto Juruena, contribuindo ao mesmo tempo para a criação de uma zona tampão ao norte das Áreas Indígenas Nambikwara e Enawenê-Nawê”.

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Aspectos ambientais significativos para o meio antrópico Riscos de pressão sobre Terras Indígenas O estudo cita os estudos complementares que foram feitos para delimitar os impactos socioambientais e socioculturais dos empreendimentos do Complexo Juruena. Este estudo foi realizado em 2006 por uma equipe especializada (i.e. estudo elaborado pela Mappa Consultoria), onde foi feito um levantamento detalhado junto às comunidades indígenas Enawenê-Nawê (T.I. Enawenê-Nawê), Myky (T.I. Myky), Nambikwara (T.I. Nambikwara e T.I. Tiracatinga), Paresi (T.I. Paresi, T.I. Juininha e T.I. Utiariti) e Erikbaktsa (T.I. Erikbaktsa e T.I. Japuíra). A avaliação dos impactos, portanto, seria consolidado em documento próprio, “com a respectiva avaliação de impactos considerando a visão das comunidades consultadas”. Duas questões são tratadas, entretanto, na AAI, referentes à alteração da qualidade de água e a psicosidade do Rio Juruena, e os impactos advindos do aumento da pressão antrópica sobre as Terras Indígenas, inclusive com a eventual contaminação das águas do rio por produtos químicos usados no controle de pragas. (i.e. são transcritos ipse literi abaixo estas informações). As barragens e as Terras indígenas Duas aldeias indígenas situam-se mais próximas do limite de jusante do trecho de hidrelétricos em cascata: Nambikwara e Enawenê-Nawê. Esta segunda tribo tem a pesca como uma atividade importante para o suprimento de proteínas em sua dieta, além de valores simbólicos e ritualísticos (Santos et al. 1995). Várias espécies consumidas são de peixes migradores (piau, matrinchã, pacu, corimba, jaú, pintado). Seus métodos de pesca são: barragens de troncos e galhos, vários tipos de anzol, armadilhas, ictiotóxicos vegetais e arco e flecha. Os locais de pesca situam-se nos rios Doze de Outubro, Camareré, Juruena. Preto e Iquê, tanto nos rios propriamente como em lagoas permanentemente ligadas ao rio ou isoladas, nas áreas alagáveis. Os conhecimentos indígenas sobre a movimentação de peixes na região é grande, onde se destaca a compreensão do ciclo sazonal, que inclui o período e que formam-se os cardumes (outubro); o período da migração reprodutiva e a desova (de novembro a início de fevereiro) sendo que as larvas e primeiras fases jovens são carreadas para áreas alagáveis, onde também podem se alimentar os adultos; e o período em que os peixes retornam para a calha do rio (em março e abril), havendo depois a dispersão dos cardumes A última hidrelétrica da seqüência (em direção ao Tapajós) e a que ficará mais próxima da tribo é a PCH Telegráfica, situada a cerca de 70 km do Rio Doze de Outubro, que fica próximo ao limite sul da aldeia dos Enawenê-Nawê. O impacto teórico que a barragem poderia ter sobre esta etnia seria no caso de interferência com o movimento migratório ou com as áreas de procria das espécies consumidas. Porém, esse tipo de impacto não será significativo, haja visa que: • A migração de peixes rio acima já é impedida por uma barreira natural, o

Cachoeirão; • A construção da PCH Telegráfica encurtará o movimento ascendente no máximo

em 20 km, que é a distância aproximada entre o AHE Cachoeirão e esta última barragem planejada;

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• Os peixes migradores já utilizam tributários a jusante do Cachoeirão para a sua

migração reprodutiva, bem como suas áreas alagáveis e lagoas; • Essas várzeas e lagoas não deverão sofrer impacto das hidrelétricas, pois sendo

elas fio d’água, a vazão será mantida a jusante, exceto no trecho do canal de adução para as turbinas, que será curto.

Conclui-se portanto, que não deverá haver influência da construção das barragens sobre espécies de peixes consumidas, as quais ocupam tributários, áreas alagáveis e lagoas na área de pesca indígena, que não deverá sofrer alterações (grifo meu). A abertura de novos acessos e as Terras Indígenas Sobre a abertura de novos acessos em função da instalação dos aproveitamentos, a AAI mostra que “o padrão de acessibilidade na bacia do Alto Juruena não sofrerá alteração significativa em função da implantação dos aproveitamentos planejados. Em particular, convêm ressaltar que não haverá qualquer alteração que facilite ou torne mais provável a penetração em Áreas Indígenas da região do entorno”. Susceptibilidade à contaminação de águas superficiais e subterrâneas Uma análise de vulnerabilidade do aqüífero mostrou que as chamadas Chapadas de Uso Agrícola são as menos vulneráveis a contaminação, já que o lençol freático é mais profundo, mais de 30m. Além disto o aqüífero está coberto e a presença de sedimentos argilo-arenosos. Em relação às águas superficiais, o resultado das análises laboratoriais feitas para identificar agroquímicos e compostos secundários foi negativo para todas as amostras, indicando que não existia, à época, descarga de agroquímicos direta nos corpos d'água e não havia também descarga indireta de agroquímicos decorrente de carreamento do solo das lavouras. O estudo indica que as direções preferenciais de fluxo de água subterrânea na bacia do Juruena seguem de sul para norte, de montante para jusante e em direção à calha do rio. Esta é a premissa básica para a AAI dizer que "os povos indígenas que habitam as cabeceiras do Juruena estariam naturalmente afastadas do risco de uma eventual contam. Já os povos que vivem a jusante da bacia, até o limite da área de estudo "recebem o fluxo de água que corre da bacia, e estão afastados do risco de contaminação uma vez que conforme demonstratado, não foram identificados traços de agroquímicos nos cursos hídricos superficiais e subterrâneos. Entretanto, "o risco de contaminação das águas superficiais e subterrâneas pelos agroquímicos e insumos utilizados nas culturas agrícolas é um aspecto que deve ser considerado para a gestão integrada da bacia do Alto Juruena, tanto que do ponto de vista da conservação de recursos hídricos e pesqueiros, quanto da saúde dos povos indígenas que habitam a região". Conclusões da Avaliação Ambiental Integrada relevantes ao parecer Avaliação de impactos ambientais cumulativos Em relação aos ecossistemas aquáticos o estudo considera que nenhum dos impactos cumulativos identificados seria de grande significância/intensidade. As eventuais alterações de qualidade de água seriam temporárias e rapidamente dissipadas pela alta capacidade de transporte do rio. Os impactos permanentes seriam praticamente todos

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restritos ao trecho aproveitável, entre o remanso da AHE Juruena e o canal de fuga da PCH Telegráfica.É dado destaque, entretanto, ao "aumento do potencial erosivo das águas do rio Juruena pelo efeito da redução cumulativa da carga sólida de fundo, que oferece risco de erosão de margens a jusante da PCH Telegráfica. O estudo indica, porém, que a intensidade deste impacto iria diluir rapidamente conforme o rio receba águas dos afluentes, "tendendo a desaparecer a partir da foz do Rio Juína". Em relação à ictiofauna, conclui-se que devido à presença do Cachoeirão como barreira física é que ela "naturalmente fragmenta as faunas de montante e jusante (sic), razão pela qual o Rio Juruena, neste trecho, não é considerado um rio piscoso". "Não se espera que a ictiofauna local seja significtivaamente afetada" com a construção das barragens, ainda mais pela maioria estar planejada para ficar a montante do Cachoeirão. E ainda, "não são esperados impactos significantes na ictiofauna consumida pelas comunidades indígenas de jusante". A AAI indica que os impactos cumulativos nos ecossistemas terrestres, em especial nas matas ciliares decorrentes da supressão de vegetação, e.g. fragmentação e insularização de habitats merecem atenção pelo impacto no fluxo gênico da fauna e flora. Os riscos são considerados bastante limitados devido a pouca área impactada, já que a área total de inundação dos 10 aproveitamentos equivaleria apenas a 0,32 % da área total da bacia do Alto Juruena. O mesmo é considerado para as outras áreas impactadas das formações ciliares aluviais e de transição entre Savana Arbórea Densa e Floresta Estacional Semidecidual, as formações mais afetadas. Justifica-se ainda que o custo benefício ou custo ambiental por MW firme de 23,80 MW/km2 seria "extremamente favorável", justificando assim a supressão. Quanto ao aumento da pressão antrópica nas áreas indígenas na bacia do Alto Juruena e no entorno, o estudo considera que não que irá se materializar em algum impacto. Apenas durante a construção é que ocorrerá a atração de um contingente populacional significativo para a região. Da mesma forma não são considerados como impactantes para as comunidades indígenas os acessos e caminhos de serviço que serão abertos na região, já que serão apenas usadas para as usinas e serão controladas durante a operação das mesmas. Como novas mediadas e/ou estratégias de gestão ambiental, a AAI acha pertinentes as seguintes ações: • Monitoramento da qualidade da água a jusante e a montante do conjunto de

barramentos, até que sejam estabilizados todos os reservatórios; • Monitoramento das populações de peixes em cada reservatório e a montante e a

jusante do conjunto de barramentos, considerando caso necessário, a realização de estudos de viabilidade de programas de repovoamento;

• Estabelecimento de estratégias específicas para o controle e monitoramento de processos erosivos nas Rampas Arenosas Florestadas e no seu contato com as Chapadas com Uso Agrícola;

• Estabelecimento de estratégias específicas para o controle e monitoramento de processos erosivos nas margens do Rio Juruena a jusante do barramento da PCH Telegráfica;

• Unificação dos Programas de Monitoramento de Fauna de todos os

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aproveitamentos, de maneira a viabilizar a constituição de uma rede de transectos que permita identificar adequadamente eventuais impactos em padrões de perambulação e densidades populacionais de espécies indicadoras;

• Implantação de um Programa de Reconstituição de Conectividades Estratégicas, focando na regeneração induzida de Matas de Galeria e outras formações de porte e densidade florestal nos locais aonde a implantação dos reservatórios venha de fato resultar na insularização dos remanescentes;

• Implantação de uma diretriz única de compensação ambiental, focada na proteção das áreas atualmente melhor preservadas do Alto Juruena, e compatibilização da mesma com um programa de regularização de Reservas Legais, as quais deveriam ser concentradas em condomínios localizados nas áreas mais frágeis da bacia;

• Operacionalização de uma política de seleção e contratação de mão-de-obra de construção que privilegie a contratação de mão-de-obra local e limite a contratação de trabalhadores migrantes;

• Estabelecimento de uma política de gestão ambiental da bacia, que viabilize o controle do uso do solo e a preservação dos remanescentes florestais, integrando os agentes públicos e privados no objetivo comum de garantir a sustentabilidade em longo prazo.

IV – CONCLUSÃO:

O documento “Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Alto Juruena”, elaborado pela JGP Consultoria e Participações Ltda. Para o Consórcio Juruena e Maggi Energia S.ª, tenta fazer um diagnóstico ambiental da região hidrográfica do alto Rio Juruena. Em especial, a proposta do trabalho é verificar a capacidade de suporte ambiental atual desta área, e também como seria modificada com a implantação de oito pequenas centrais hidrelétricas e duas usinas hidrelétricas. Para tal são levantadas informações primárias, obtidas in loco, e dados secundários tirados de literatura científica e outras fontes disponíveis.

As informações primárias para a fauna e meio limnológico foram obtidas através de

levantamentos de campo em diferentes épocas entre 2006 e 2007. Não existe uma padronização ou desenho amostral descrito e, mais grave, não são feitos levantamentos durante um ciclo hidrológico completo. Ou seja, as variações sazonais não foram levadas em conta, como é praxe nestes estudos, mesmo que expeditos. Tão pouco é mencionado, com a exceção para a ictiofauna e a avifauna, o esforço amostral total em dias (Tab. 4). De qualquer forma, fica claro que não foram levantados os dados necessários para responder a pergunta proposta sobre a capacidade de suporte da bacia do Alto Juruena, tão pouca quais seriam os impactos dos empreendimentos nestes grupos. Ademais, o trabalho apresenta erros, como colocar o Tamanduá Bandeira, Myrmecophaga tridactyla, dentro de uma lista de tatus tirada de dados secundários e uma identificação errada de uma ave no registro fotográfico (foto 15 não é de um Ammodramus humeralis, mas provavelmente Arremon taciturnus), mostrando que não foi feita uma boa revisão do trabalho final por algum especialista.

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Tabela 4. Informações apresentadas sobre os levantamentos do componente

fauna e limnológico. Grupo Época do

levantamento Esforço Amostral

Esforço amostral em dias

Fitoplancton Junho de 2007 6 pontos NI Zooplancton Junho e julho de 2006 6 pontos +

complementação em remansos

NI

Bentos Julho de 2006 12 trechos do rio NI Ictiofauna Junho, julho, agosto e

setembro de 2006 NI 56

Mastofauna Segundo semestre de 2006

13.440 baldes, armadilhas e observações ad lib

NI

Avifauna Segundo semestre de 2006

2472 horas/rede, fora outros métodos

69

Herpetofauna NI 13.440 baldes e observações ad lib

NI

NI=Não Informado

Mesmo com dados incompletos, o trabalho apresenta conclusões, algumas vezes contraditórias, sobre possíveis impactos sobre a fauna e elementos limnológicos. Selecionamos três exemplos, dois ligados ao impacto na ictiofauna, uma importante fonte de proteínas para as comunidades indígenas, em especial para a etnia Enawenê-Nawê, que só se alimenta de peixes. O terceiro é sobre o impacto na fauna terrestre.

No primeiro exemplo, sobre o impacto nos sistemas aquáticos, o estudo aponta como

benéfico o aumento de nutrientes advindos da decomposição de matéria orgânica submersa e pela redução da vazão em determinados trechos. A AAI aponta isto como benéfica já que o Rio Juruena possui poucos nutrientes e que, com o aumento do fitoplancton, zooplancton e bentos associados à macrófitas, esta mudança favoreceria a ictiofauna, pois a mesma teria mais alimento. Trata-se de uma afirmação no mínimo leviana. A comunidade de peixes à época do estudo, e de outros organismos associados, estava estabelecida na bacia do Alto Juruena com certa concentração de nutrientes e outras condições, possivelmente centenárias. As comunidades, portanto, estavam adaptadas a esta situação, e em possível equilíbrio ecológico. A alteração descrita deverá favorecer espécies em detrimento de outras, alterando a cadeia trófica existente. Além disto, existe o risco de ocorrer a eutrofização de alguns trechos e lagoas marginais, fenômeno causado exatamente pelo aumento de nutrientes, causando a mortandade de peixes e o “bloom” de algas, com conseqüente degradação da qualidade dos corpos d água 2 e, possivelmente, na vazão ecológica 3 do Rio Juruena. Outras alterações na qualidade da água ainda são levantadas no 2 Agostinho, A. A., L. C. Gomes & F. M. Pelicice. 2007. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Universidade Estadual de Maringá. 3 Vazão Ecológica é a vazão mínima necessária para garantir a preservação do equilíbrio natural e a sustentabilidade dos ecossistemas aquáticos. Instrução Normativa MMA Nº 4, de 21 de junho de 2000

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estudo, cabendo um olhar mais crítico sobre o uso deste recurso para fins de geração de energia.

No segundo exemplo, é dito no texto do estudo que a riqueza de espécies de peixes

migratórios não sofrerá impacto significativo com a implementação dos empreendimentos em função da existência de uma queda água na altura do AHE Cachoeirão. Esta queda com mais de 20 metros de altura seria uma barreira natural das comunidades. O estudo tenta implicar com isto na existência de populações estanques, talvez até com espécies diferenciadas a montante (para cima) e a jusante (para baixo) da cachoeira, mesmo não apresentados dados para comprovar esta hipótese. De fato, a cachoeira impede a subida de peixes, sejam migratórios ou não, e provavelmente a descida de alevinos. Não impede, entretanto, a descida de nutrientes e material orgânico necessários para a manutenção das biota à jusante. A modificação qualitativa e quantitativa destes recursos à montante da cachoeira irá certamente afetar a biota a jusante da mesma. O estudo também indica que as lagoas marginais, tanto à montante quanto à jusante, serão impactadas. Estas lagoas marginais são importantes criadouros de peixes, portanto a alteração das suas características irá afetar as diversas metapopulações de peixes, independentes da queda d'água de Cachoeirão, mas sim pela implementação das pchs e uhes.

O terceiro exemplo trata do impacto na fauna terrestre, principalmente a relacionada

às matas-de-galeria e matas-ciliares, na qual o estudo se prende por conter a maior riqueza de mamíferos no Cerrado, menosprezando as outras fitofisionomias. Na estratificação da paisagem, o estudo classifica o relevo em três unidades: Chapada com Uso Agrícola, Rampas Arenosas Florestadas e Planícies Aluviais Alagadiças. Os impactos nas duas últimas unidades, onde são encontradas as fitofisionomias ripárias acima citadas, seriam os mais preocupantes de acordo com o estudo por causa dos processos de fragmentação e ruptura da paisagem em várias escalas. Para mitigar estes impactos o estudo sugere a reconstituição da conectividade através da regeneração de matas-de-galeria, além do direcionamento da averbação das reservas legais em condomínio, próximas ao rio. No caso destes impactos existe um fato bastante preocupante que não é levado em conta que é o afugentamento da fauna destas áreas de mata ripária para outras matas. Isto tem foi observado por comunidades indígenas Enawenê-Nawê que relataram o aumento de fauna herbívora em suas terras, prejudicando as suas áreas de cultivo. Haja vista que esta etnia não utiliza de caça, só de peixes, sem dúvida este é um grande impacto para a sobrevivência física e cultural desta etnia, que não é citado no estudo. Pode ser considerado um caso de “empacotamento de espécies” onde a população ou populações da fauna silvestre ou campestre, ultrapassa a capacidade de suporte de uma determinada área, causando a competição e deplecionamento dos recursos, trazendo prejuízo para a espécie e para outras também, neste caso, para a etnia Enawenê-Nawê. A “indução” da regeneração como solução da perda das matas ripárias é uma proposta não factível haja visto que as áreas marginais às inundações não devem ter a capacidade de sustentação de uma fitofisionomia florestal tal qual as ripárias. O fato é que existe uma mudança das características fito fisionômicas à medida que se afasta do corpo hídrico, sendo comum uma faixa de campo úmido, seguido de diferentes tipos de cerrado, muitas vezes formando ecótonos de vegetação. A fauna inclusive se beneficia disto, devido a gradientes de heterogeneidade que suportam uma riqueza de espécies diferenciada. Este, aliás, é um fator que deve ser levado em conta ao tentar aumentar a permeabilidade da paisagem para a

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fauna e flora (dispersão genética) no Cerrado, inclusive no estabelecimento de Áreas de Proteção Permanente 4, 5, 6 como é sugerido no estudo.

Existem outros problemas apontados no estudo que também mereceriam estudos

mais detalhados. O fato é que, mesmo com as medidas apontadas como mitigadoras e.g. monitoramento da qualidade da água a jusante e montante até a estabilização de todos os reservatórios, a margem de dúvida sobre a viabilidade ambiental dos empreendimentos em conjunto continua muito grande. Além disto, não é possível desprezar as possíveis mudanças na qualidade da água e os impactos advindos disto na comunidade de peixes e fauna terrestre, que garante a sobrevivência de várias etnias na região, além dos pequenos proprietários rurais. A própria Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso, em seu Parecer Técnico de Análise da AAI do Alto Juruena, de 22 de fevereiro de 2007, cita que a “implantação destes empreendimentos poderá levar “a destruição e ou modificação de habitats terrestres e aquáticos, interferindo diretamente na densidade e na diversidade das populações faunísticas e, conseqüentemente, nos povo indígenas que tem parte da sua sustentabilidade alimentar nestes ambientes” (grifo meu). Conclui este parecer técnico que entre esse e outros aspectos abordados nele levam a necessidade de complementação dos Estudos, o que corrobora com o presente parecer.

Considerações finais Havendo todas essas dúvidas sobre a viabilidade ambiental deste complexo de

empreendimentos e, em especial, no seu impacto nas comunidades indígenas principalmente a jusante do último empreendimento (e.g. TI Nambikwara e TI Enawenê-Nawê), remete-se necessariamente este parecer técnico ao Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro, da qual o Brasil foi signatário durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, que diz que “de modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental” (grifo meu). Também é necessário observar que de acordo com Lei 5.197/67 da Constituição Federal no seu artigo 1º “Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivam naturalmente fora do cativeiro, constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros, são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha”.

Por outro lado, afora as questões do impacto na biota e das incertezas de viabilidade

ambiental dos empreendimentos, fica bastante evidente pelo o estudo de que haverá um aporte muito grande de sedimentos com a implementação dos vários empreendimentos, é que isto deverá modificar a qualidade da água de forma significativa, afetando tanto a biota silvestre e campestre quanto as populações humanas dependentes destes recursos, a montante e, em especial, à jusante dos empreendimentos. De acordo com Lei 9.433/97 que 4 de Lima, M. G. & C. Gascon. 1999. The conservation value of linear forest remnants in Central Amazonia. Biological Conservation 9: 241-247. 5 de Lima, M. G. 2003. Ecologia da paisagem e cenários para conservação da avifauna na região do Parque Nacional das Emas, GO. Tese de doutorado. Universidade de Brasília. 6 Lees, A. C & C. A. Peres. 2008. Conservation value of remnant riparian forest corridors of varying quality for Amazonian birds and mammals. Conservation Biology 22(2): 439-449.

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institui o Plano Nacional de Recursos Hídricos e que dispõe na sua Seção III sobre a outorga de direitos de uso de recursos hídricos, no seu Art. 11 “O regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o exercício dos direitos de acesso à água” (grifo meu). Sendo assim, em caso de necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental, conforme previsto no inciso IV, do Art. 15, a “outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado...”.

Portanto, é o entendimento deste parecerista que, o risco ambiental advindo da

implementação de todos os empreendimentos supracitados no Rio Juruena não foi devidamente mensurado na Avaliação Ambiental Integrada aqui avaliada. Isto tanto em relação aos impactos na biota quanto, e também conseqüentemente, no modo de vida tradicional das comunidades indígenas da bacia do Rio Juruena, assim como nas condições necessárias para a sua sobrevivência, reprodução física e cultural, garantidas na Constituição Federal no seu Art. 231/88. Já foi relatado informalmente à FUNAI por indígenas da etnia Enawenê-Nawê, inclusive, que após o início da instalação de cinco PCHs no Rio Juruena, a qualidade de água degradou, assim como a quantidade de peixes diminuiu. Segue que é minha forte recomendação que seja suspensa a outorga do direito de uso dos recursos hídricos para fins de aproveitamento do potencial hidrelétrico dos empreendimentos supracitados, e que sejam efetuados estudos de impacto ambiental detalhados para determinar a viabilidade ambiental dos mesmos. Nos casos de viabilidade ambiental, provados através de estudos científicos determinados por termos de referências, deverão então ser elaborados e apresentados os Programas Ambientais Básicos com as propostas de mitigação ou compensação, se for o caso. Recomenda-se ainda que todo o processo tenha o acompanhamento da FUNAI, e, se necessário, pelo IBAMA, principalmente pelo fato do Rio Juruena ser Federal.

Sem mais, coloco-me a disposição.

Dr. Marcelo Gonçalves de Lima Biólogo

Assessor CGPIMA/FUNAI

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Figura 1. Localização dos empreendimentos descritos na AAI da bacia do Alto Juruena.

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Figura 2. Terras indígenas e unidades de conservação na região proposta para implantação dos empreendimentos no Alto Rio Juruena.