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1 Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e seu Entorno: Quais perpectivas para consolidar um Ambiente de Inovação? Categoria - Artigo Completo Lucas Baldoni 1 André Tosi Furtado 2 Resumo: A consolidação do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp em Campinas (SP) consiste em um processo em curso, neste caso, fatores internos e externos à Universidade podem influir nas tomadas de decisão. O estudo do entorno do Parque, neste caso, os empreendimentos de alta tecnologia, por exemplo, as ICTs e os outros Parques Tecnológicos que compõem o referido entorno inferem uma lógica territorial que lança perspectivas para a consolidação de um ambiente de inovação. O objetivo do presente trabalho é discutir as perspectivas de relacionamento entre o Parque da Unicamp e seu entorno afim de que no futuro essas relações ocorram de forma orgânica dentro de um possível ambiente de inovação. Palavras-Chave: Geografia da Inovação; Parques Científicos e Tecnológicos, Universidade Empreendedora e Ambientes de Inovação. 1 Geógrafo - Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UNICAMP. Contato: (19) 992978851 Email: [email protected] 2 Economista - Professor Titular do Dep. de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da UNICAMP e Professor credenciado no Programa de Pós Graduação em Geografia. Contato: (19) 35214558. Email: [email protected] UNICAMP -Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Geociências Rua João Pandiá Calógeras,51. CEP:13083-870 Campinas (SP) Brasil.

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Parque Científico e Tecnológico da Unicamp e seu Entorno:

Quais perpectivas para consolidar um Ambiente de Inovação?

Categoria - Artigo Completo

Lucas Baldoni1

André Tosi Furtado2

Resumo:

A consolidação do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp em Campinas (SP) consiste

em um processo em curso, neste caso, fatores internos e externos à Universidade podem

influir nas tomadas de decisão. O estudo do entorno do Parque, neste caso, os

empreendimentos de alta tecnologia, por exemplo, as ICTs e os outros Parques Tecnológicos

que compõem o referido entorno inferem uma lógica territorial que lança perspectivas para a

consolidação de um ambiente de inovação. O objetivo do presente trabalho é discutir as

perspectivas de relacionamento entre o Parque da Unicamp e seu entorno afim de que no

futuro essas relações ocorram de forma orgânica dentro de um possível ambiente de inovação.

Palavras-Chave: Geografia da Inovação; Parques Científicos e Tecnológicos, Universidade

Empreendedora e Ambientes de Inovação.

1 Geógrafo - Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UNICAMP. Contato:

(19) 992978851 Email: [email protected] 2 Economista - Professor Titular do Dep. de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências da UNICAMP e Professor

credenciado no Programa de Pós Graduação em Geografia. Contato: (19) 35214558. Email: [email protected]

UNICAMP -Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Geociências

Rua João Pandiá Calógeras,51. CEP:13083-870 – Campinas (SP) – Brasil.

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Science and Technology Park of Unicamp and its surrounding:

What perspectives to consolidate an Innovation Environment’s?

Category - Full Article

Baldoni, Lucas ¹

Furtado, André Tosi ²

Abstract:

The consolidation of “Science and Technology Park of Unicamp” in Campinas (SP) consists

of an ongoing process, in this case, internal and external factors can influence the university in

decision making. The study around the Park, in this case, the endeavors of advanced

technology, for example, ICTs and other Technology Parks that comprise said around infer a

territorial logic that launches prospects for consolidating an environment of innovation. The

objective of this paper is to discuss the perspectives of relationship between the Park and its

surroundings from Unicamp in order that in the future these relationships occur organically

within a possible environment of innovation.

Keywords: Geography of Innovation; Science and Technology Parks, Entrepreneurial

University and Environment of Innovation.

___________________

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¹ Geographer - MSc student of Post-Program Graduate Institute of Geosciences – Unicamp. Contact (19) 992978851 Email:

[email protected]

2 Economist – Prof. Dr. of Dept. Science and Technology Policy - Institute of Geosciences – Unicamp. Professor accredited of Post-

Graduate Program in Geography. Contact: (19) 35214558. Email: [email protected]

UNICAMP, University of Campinas - Institute of Geosciences Street Joao Pandia Calógeras, 51. CEP :13083-870 - Campinas (SP) – Brazil

1. Introdução.

O Parque Científico e Tecnológico da Unicamp está em processo de consolidação,

especificamente, de negociação para instalação dos laboratórios de P&D através da parceria

entre empresas e a universidade. Entende-se que o Parque, sobretudo, a Unicamp e a cidade

de Campinas (SP) devem ser atrativos. Assim, a análise sobre o entorno deste Parque, ou seja,

os empreendimentos de alta tecnologia, em especial, os que circundam o referido Parque,

localizado no Campus da Unicamp, permite o entendimento de uma lógica local capaz de

lançar perspectivas para a formação de um ambiente de inovação.

O Parque da Unicamp é um processo em curso, neste caso, fatores internos e externos

à universidade podem influir nas tomadas de decisão. Nesse sentido, verifica-se a importância

das relações que o Parque pode estabelecer com as ICTs e os outros Parques Tecnológicos

localizados em Campinas (SP) com o objetivo de mover ações para a inovação a partir da

escala local afim de que essa transborde para a escala regional.

O presente trabalho visa apontar as perspectivas de relacionamento entre o Parque da

Unicamp e os elementos de seu entorno afim de que no futuro tais relações ocorram de forma

orgânica. Portanto, compreender tais elementos, ou seja, os empreendimentos de alta

tecnologia do entorno do “Parque Científico e Tecnológico da Unicamp” permite discutir as

possibilidades para materialização deste Ambiente de Inovação na escala local, a cidade de

Campinas (SP). Por último, espera-se com o presente estudo tecer discussões acerca das

possibilidades de ações conjuntas entre o Parque da Unicamp e seu entorno.

2. Reflexão sobre os Parques Científicos e Tecnológicos no Brasil.

De início, em especial, principalmente neste estudo, tem-se como principal espaço de

inovação o Parque Científico e Tecnológico, que em síntese caracteriza-se como um

empreendimento, espontâneo ou planejado, em área pública ou privada, destinado à instalação

de grandes empresas (âncoras) e, também, preparados para as médias ou startups e pequenas

empresas inseridas nas Incubadoras.

Lalkaka e Bishop (1995), afirmam que o conceito de Parque Tecnológico obteve

gênese nos EUA, tendo como experiência pioneira o Stanford Research Park, que facilitou o

surgimento da região do Silicon Valley na California. Desde então, os Parques Tecnológicos

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são considerados como um empreendimento imobiliário que usufrui da vantagem da

proximidade, como uma fonte significativa de capital intelectual, ambiente empreendedor e

infraestrutura compartilhada.

Cabe, neste estudo, afirmar a diferença entre o Parque Tecnológico e o Parque

Científico, pois muitas vezes os conceitos se confundem entre as bibliografias. Tal diferença

consiste: a) No ator que exerce governança sobre eles, sendo ele o Governo Local ou a

Universidade; b) A localização do Parque, ou seja, prédios pertencentes às áreas públicas do

intra-urbano ou dentro de um Campus Universitário; c) Tipo de Instalação, sendo permanente

ou temporária; e, d) Atividade de Pesquisa desenvolvida, ou seja, pesquisas focadas em

produtos ou de carater exploratório. A seguir o Quadro 1, resume tais caracteríticas.

Quadro 1: Diferenças entre Parques Tecnológicos e Parques Científicos.

Fonte: Adaptado de Inova-Unicamp (2010).

Entende-se que, tanto o Parque Tecnológico, quanto o Parque Ciêntífico são espaços

de inovação, pois no sentido amplo possuem os mesma função, que segundo Oliveira (2009),

consiste em oferecer condições favoráveis de localização, além de fornecer o melhor suporte

técnico, científico e informacional visando alavancar o processo de desenvolvimento da

região e criar o ambiente inovador para que novas empresas possam se instalar e se

desenvolver. E, no se que refere aos objetivos gerais, Quince, Lobley e Acha (1994)

consideram que os Parques devem: a) Promover a criação e o crescimento de novas empresas

de base tecnológica; b) Atrair instituições de pesquisas governamentais e privadas; c) Atrair

projetos de investimento mais amplos e d) Realizar a transferência de tecnologia para a

indústria local.

Pode-se considerar, segundo Benko (1996), que os Parques Tecnológicos devem ser

implantados em regiões com algum potencial instalado de C&T e em áreas próximas as ICTs.

A defesa desse modelo de empreendimento argumenta que a implantação de Parques

provocaria uma industrialização em que empresas de alta tecnologia, criadas nas localidades

Espaços de Inovação Características Principais

Parques Tecnológicos

Áreas Públicas ou Privadas sujeitas ao zoneamento definido pelo Plano

Diretor, que possibilitam a instalação física permanente de laboratórios e a

produção científica com alto conteúdo tecnológico, além do desenvolvimento

de produtos e processos inovadores.

Parques Ciêntíficos

Área pertencente à universidade ou instituição de pesquisa sujeita à regras

locais, com ocupação temporária via projetos em parceria ou incubação de

empresas. As instalações de laboratórios são de uso temporário e/ou

compartilhado e as tecnologias apresentam-se em fase de pesquisa

exploratória.

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ou para elas atraídas, seriam centrais. Assim, os Parques foram idealizados a partir de três

atributos: operacional, físico e de localização. O operacional, definiria uma junção de

instituições de pesquisas que ofereceriam novas tecnologias ao setor produtivo. O físico,

compreenderia o conjunto dos macrossistemas técnicos, como pequenas e médias empresas,

universidades, ICTs, ferrovias, sistemas de comunicação e informação presentes em uma

mesma localidade. E, a localização, o que remete à materialização do empreendimento em um

local sugerido como ideal devido seus fatores locacionais.

Medeiros (1997) elenca as pré-condições para a implantação do Parque: a) Existência

de instituições de ensino e pesquisa que possuam densidade tecnológica em algumas áreas; b)

Apoio governamental, sendo da União, Estado e/ou Município; c) Existência de Empresas que

se interessem pelas novas tecnologias; d) Parcerias e projetos conjuntos entre acadêmia e

empresas; e) Estruturas organizacionais convenientemente organizadas.

Conforme Courson (1997), o Parque pode ser visualizado como um sistema ou uma

rede, pois tal espaço trata-se de uma organização complexa e evolutiva e dinâmica. Por isso,

em sua origem, o Parque pode possuir duas vertentes: i) A associação, no mesmo lugar ou no

entorno de outros espaços de inovação: universidades, laboratórios de pesquisa, empresas de

alta tecnologia e serviços correlatos, e, ii) As ligações, fluxos e relações entre esses diversos

espaços de inovação. Esses fluxos são parcialmente intensos; permanentes ou periódicos;

constantes ou até mesmo, raros. O tipo de fluxos variam, pois as relações podem ser físicas ou

basear-se na troca de informações, na busca de financiamentos e empréstimos, na feitura de

encomendas, nos atos de transferências, na tomada decisões e nas trocas ciêntíficas.

Dessa forma, para existir e garantir sua permanencia em determinado local, o Parque

deve buscar a sinergia entre seus componentes. Essa sinergia deve gerar efeitos econômicos,

por exemplo, novos empregos, novas empresas e valor agregado. Ainda, deve gerar efeitos

ciêntíficos, por meio de progressos tecnológicos e evolução das pesquisas. Contudo, para

atingir tais propósitos, o empreendimento precisa se desenvolver, de modo constante e

progressivo, tanto no plano interno como no externo. Por isso, para cumprir com seus

objetivos, é necessário que o Parque possua rapidamente: 1) Tamanho razoável; 2) Ligações

fortes e permanentes entre seus componentes; 3) Apoio dos poderes públicos; 4) Política de

comunicação e promoção externas; e, 5) Investimentos importantes, tantos públicos como

privados. (COURSON, 1997)

O Modelo de Stanford também chegou ao Brasil, porém nossa realidade histórica e

geográfica apresenta-se diversa do Silicon Valley. No Brasil, as relações entre Universidades e

Empresas desenvolveram-se tardiamente. De acordo com Kunz (2003) e Righi (2009), a

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trajetória histórica da base científica e industrial do Brasil evidencia a divergência entre os

interesses dessas duas comunidades. A distância entre univeridades e empresas é explicada

pelas políticas contraditórias observadas ao longo da história, que fizeram com que não

houvesse tal aproximação.

Porém, Steiner, Cassim e Robazzi (2012) afirmam que é típico no Brasil que os

Parques se localizem próximos a universidades devido a presença maior de geradores de

conhecimento e, principalmente, de recursos humanos. Tal proximidade geográfica pode gerar

sinergias e oportunidades de maneira mais veloz, visto que o país despertou-se tardiamente

para a inovação. E, muitas vezes, nota-se que apesar de possuir locais com boa capacidade de

gerar conhecimento, não foi capaz de produzir, concomitantemente, uma política eficaz de

uso do conhecimento.

De acordo com Lahorgue (2004), a concepção de que os Parques são elementos

importantes dos sistemas de inovação está presente no contexto global há, pelo menos três

décadas, e, como todo fenômeno novo, os Parques têm seus pioneiros, ou seja, os primeiros

seguidores e protagonistas da fase de aceleração desse movimento. No Brasil, a expansão

geográfica da implantação dos parques vai se acentuar nos anos 1990.

Hoje, praticamente todos os países têm pelo menos um projeto de Parque

Tecnológico instalado. Importante parcela do crescimento se dá em países

emergentes, principalmente na Ásia e na América Latina. Na China, por

exemplo, existiam, em 2003, mais de 70 parques tecnológicos. Esses partes

têm, inclusive, funcionado como intrumento de atração e de fixação dos

estudantes chineses que estão no exterior.(LAHORGUE, 2004, p. 56)

No Brasil, os primeiros incentivos para fomentar tal desenvolvimento tiveram início

na década de 1980 com a criação do Programa Brasileiro de Parques Tecnológicos pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, com objetivo de

alavancar uma nova realidade econômica e socail no país. A criação da Lei da Inovação,

gerou um novo impulso ao desenvolvimento desses espaços de inovação no país. Paralela à

iniciativa do CNPq tem-se a instituição do Programa Nacional de Apoio às Incubadoras de

Empresas e aos Parques Tecnológicos – PNI, cujo objetivo consistiu em fomentar e

consolidar as incubadoras de empresas e parques.

A gestação das condições para a implantação de parques tecnológicos no

Brasil vai estender-se ao longo da década de 1990. A relativa demora na

efetivação de projetos concretos deveu-se, de um lado, ao fato de que a

pressão por alternativas de localização das empresas de base tecnológica não

se fazia sentir mais fortemente e, de outro lado, pela escassez de recursos

para a implantação de infra-estrutura requerida. ( LAHORGUE, 2004, p. 59)

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No panorâma realizado pela ANPROTEC em 1992 verificou-se a existência de apenas

20 Parques no país. Mas, em seguida, no panorâma 2003, foram identificados 12 projetos, 11

em estágio de implantação e 10 em operação, totalizando 28 Parques Tecnológicos mais 3

Parques Mistos, e 2 Agroindustriais. Nesse total de 33 espaços em operação, já se observava a

presença de 130 empresas, entretanto, somente 6 Parques localizavam-se fora das regiões Sul

e Sudeste. (LAHORGUE, 2004)

Aproximadamente dez anos depois, o estudo do MCTI e CDT/UnB (2013), identificou

que, considerando os valores informados pelos respondentes (80 Parques), há no Brasil 939

empresas instaladas nos Parques que geram 29.909 empregos e absorvem mão de obra

altamente qualificada. Também, identificou-se no mesmo ano, 94 iniciativas de Parques

Científicos e Tecnológicos no país.

Baseado no referido estudo, principalmente, no que refere à distribuição geográfica

dos Parques no Brasil, conforme Figura 1, nota-se que há uma concentração nas regiões Sul e

Sudeste, tanto nas fases de projeto, implantação e operação. Em contrapartida, embora o

Norte, Nordeste e Centro-Oeste, possuam consideráveis unidades geradoras de conhecimento,

por exemplo, Universidades e ICTs, verifica-se a necessidade de ações mais dirigidas às

regiões para a implantação desses espaços de inovação. De maneira geral, o cenário brasileiro

indica que suas diferentes fases de desenvolvimento, os Parques enfrentam desafios muitas

vezes devido a complexidade dos seus projetos, visto que envolvem elevado grau de

incerteza.

Porém, de acordo com o MCTI e CDT/UnB (2013) verifica-se que, Parques em

diferentes estágios de desenvolvimento possuem composição diferenciada de recursos. Os

Parques na fase de projeto ou em implantação tendem a ser mais dependentes de recursos dos

governos. Assim, constata-se que a viabilidade financeira de um parque tecnológico envolve

um esforço conjunto das três esferas de governo (federal, estadual e municipal). Os Parques

que encontram-se em operação têm conseguido captar mais recursos para suas ampliações

junto à iniciativa privada. Portanto, uma vez em operação, esses espaços passam a ter uma

maior facilidade de captação de recursos privados e atração de empresas inovadoras.

Foram registrados investimentos na ordem de 5,8 bilhões de reais, sendo

22% oriundos de recursos federais, 42% estaduais ou municipais e 36%

privados. Para cada real investido pelo governo federal, os parques

alavancaram cerca de quatro reais de fi nanciamento de outras fontes, com a

clara demonstração de que os governos têm atuado como catalisadores e

apoiadores destes investimentos na sua fase de maior risco. (MCTI,

CDT/UNB, 2013, p. 32)

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Além dos benefícios científicos e tecnológicos, os Parques têm uma participação

socioeconômica importante com reflexos altamente positivos na geração de empregos de alta

qualificação e na atração de empresas inovadoras para as regiões onde estão inseridos. As

áreas de atuação dos parques brasileiros envolvem: tecnologia da informação e comunicação,

energia, biotecnologia, saúde, petróleo e gás natural. Também, observa-se que a

disponibilidade de espaço físico não representa obstáculo para o desenvolvimento dos parques

tecnológicos. Entretanto, é importante destacar que existem diversos desafios a serem

enfrentados para a consolidação desses espaços de inovação, por exemplo, a legalização

fundiária. (MCTI, CDT/UNB, 2013)

Oberva-se hoje o crescimento de iniciativas para consolidação desses espaços tanto

pelo seu potencial a longo passo, quanto pela amplitude de seus resultados quando se objetiva

fazer marketing de determinada região ou governo. Em resumo, apesar de algumas

deficiências no que tange seu Sistema Nacional de Inovação e os desafios a serem

enfrentados, o Brasil conseguiu construir alguns Parques Ciêntíficos e Tecnológicos que

impactam dinâmica local.

Figura 1: Distribuição Geográfica dos Parques no Brasil.

Fonte: MCTI e CDT/UnB (2013)

3. A cidade de Campinas (SP) no contexto do Sistema Paulista dos Parques Tecnológicos

(SPTec).

No ano 2002, com objetivo de ampliar sua capacidade em CT&I, o governo do Estado

de São Paulo, por meio de sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico, organizou um

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grupo de pesquisadores e especialistas para estudar os Parques Tecnológicos. E, o resultado

desses estudos trouxe, em fevereiro de 2006, o SPTec (Sistema Paulista de Parques

Tecnológicos), através do Decreto n° 50.504, que em síntese consiste na ação de apoio e

suporte ao desenvolvimento de Parques no Estado objetivando atrair investimentos e gerar

novas empresas intensivas em conhecimento.

No início o foco era apoiar cinco Parques no estado de São Paulo: Campinas, São

Carlos, São José dos campos, Ribeirão Preto e São Paulo. Em seguida, por meio do Decreto

54.196/09, foram redefinidos os critérios para o credenciamento dos Parques no SPTec, quer

em caráter provisório, quer em caráter definitivo. Esse credenciamento consiste em um

reconhecimento institucional capaz de dar maior visibilidade e credibilidade ao Parque.

Também, nos termos do Decreto 58.768, de 20/12/2012, há incentivos fiscais para empresas

instaladas nos Parques Tecnológicos do SPTec. Assim, a partir do credenciamento provisório,

já torna-se é possível a unidade de gestão do Parque pleitear recursos financeiros,

principalmente para realização de estudos necessários para implantação desse espaço de

inovação.

Para fazer parte do SPTec, o governo local, a Universidade, ou outra entidade gestora

do Parque deve encaminhar um ofício à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,

Tecnologia e Inovação do Estado solicitando sua inclusão. Em seguida, após a aprovação dos

documentos, o credenciamento será efetuado por meio de uma resolução válida por dois anos.

Para obter o credenciamento provisório, esse interessado deve comprovar a propriedade de

uma área de no mínimo 200 mil m², enviar documento manifestando apoio à implantação do

parque subscrito por empresas e ICTs locais, também deve-se enviar o projeto básico do

empreendimento, contendo o projeto urbanístico e estudos prévios de viabilidade econômica,

financeira e técnico-científica.

Atualmente, conforme Mapa 1, são 28 iniciativas no Estado, o Parque Tecnológico de

São José dos Campos foi o primeiro a receber o status definitivo no Sistema. Desde então,

outros cinco parques também receberam este título: Parque Tecnológico de Sorocaba, Parque

Tecnológico de Ribeirão Preto, Parque Tecnológico de Piracicaba, Parque Tecnológico de

Santos e Parque Tecnológico de São Carlos (ParqTec). Também, hoje existem 14 iniciativas

com credenciamento provisório: Araçatuba, Barretos, Botucatu, Campinas (cinco iniciativas),

Parque Universidade Vale do Paraíba (Univap), Santo André, São Carlos EcoTecnológico,

São José do Rio Preto e São Paulo (duas iniciativas: Jaguaré e Zona Leste).

De acordo com Steiner, Cassim e Robazzi (2012), o Sistema Paulista de Parques

Tecnológicos foi instituído pelo governo paulista com o objetivo de estruturar uma política

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que incentive a criação e a articulação de parques tecnológicos no Estado de São Paulo. Para

isso é necessário articular os três níveis do poder público, os diversos setores da academia e o

setor privado, tanto o industrial como o de serviços e o imobiliário.

Mapa 1: Municípios possuidores de Parques Tecnológicos conforme Status no Sistema

Paulista de Parques Tecnológicos (SPTec).

Baldoni, Amaral e Furtado (2014), afirmam que com o resultado da criação do SPTec,

Campinas já possui cinco iniciativas de Parques Tecnológicos, fato que a destaca de outras

cidades do Estado de São Paulo, pois é o única com mais de duas iniciativas. Os Parques são:

Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, Polis de Tecnologia do CPqD do Centro de

Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, CTI-Tec do Centro de Tecnologia da

Informação Renato Archer, o CIATEC II da Prefeitura Municipal e o TechnoPark que é

privado. Estas inciativas entraram no SPTec por meio de credenciamento prévio,

respectivamente nos anos 2008, 2010, 2011 e os dois últimos em 2013.

Porém, são muitas as razões para a ausência de resultados expressivos a partir destas

iniciativas, em termos de políticas públicas locais. Entre estas há fatores econômicos, legais,

institucionais, políticos, entre outros. A falta de diálogo, e consequentemente de

entendimento, impossibilitou a continuidade das ações, principalmente por parte do poder

público local. Por esta razão, em 1999, os dirigentes das principais ICTs, liderados pelo reitor

da Unicamp, passaram a se reunir para discutir ações conjuntas que pudessem superar as

dificuldades encontradas neste processo histórico de Campinas. Para tanto, em 2002, os

dirigentes de onze ICTs instituíram a Fundação Fórum Campinas, cuja missão é criar ações

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para promover, ampliar e intensificar a utilização de CT&I para potencializar o

desenvolvimento sócio-econômico. Nesse contexto, o objetivo principal é criar elos mais

fortes para que ICTs, empresas, governo e demais integrantes do ecossistema de inovação

atuem conjuntamente e de forma sistêmica. (BALDONI; AMARAL; FURTADO, 2014)

A integração destes atores visando um trabalho sinérgico é condição para o sucesso

econômico e social, com vista ao um desenvolvimento sustentavél. Deste modo, considera-se

que a união das ICTs em torno a um projeto de desenvolvimento local apoiado na inovação é

um mecanismo eficaz para vencer as barreiras apontadas anteriormente. A seguir, o Quadro 1,

elenca as principais ICTs presentes em Campinas.

Quadro 1: Instituições do Sistema Local de Inovação de Campinas (SP).

Instituição Fundação

IAC - Instituto Agronômico 1887

IZ – Instituto de Zootecnia 1905

IB – Instituto Biológico 1937

PUC-Campinas – Pontifícia Universidade Católica de Campinas 1941

ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos 1963

UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas 1965

CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral 1967

CPqD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações 1976

CTI – Centro de Tecnologia da Informação - Renato Archer 1982

Embrapa Meio Ambiente 1982

Embrapa Informática Agropecuária 1985

Embrapa Monitoramento por Satélite 1989

FITec Inovações Tecnológicas 1994

Venturus Centro de Inovação Tecnológica 1995

CNPEM Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM)

1997

LNLS — Laboratório Nacional de Luz Síncrotron

CTBE - Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol

LNBio - Laboratório Nacional de Biociências

LNNano - Brazilian Nanotechnology National Laboratory

Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun 1997

Instituto de Pesquisas Eldorado 1999

Fonte: Baldoni, Amaral e Furtado (2014).

Dentro do contexto do SPTec, as ICTs presentes em Campinas começaram a enviar

esforços de forma integrada, em especial, a partir da instituição da Fundação Fórum

Campinas, que passou a promover diversas iniciativas, visando proporcionar maior

aproximação e integração com os setores empresarial e governamental. Com isto, afirma

Baldoni, Amaral e Furtado (2014), que os primeiros resultados já foram alcançados no

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decorrer destes últimos dez anos de atuação, no sentido de se promover um consenso entre

estes atores em relação à importância estratégica da CT&I para o desenvolvimento regional.

Mais recentemente com a criação e efetiva estruturação dos Parques Tecnológicos em

Campinas, foi possível de institucionalizar o relacionamento entre as partes, por meio dos

primeiros instrumentos jurídicos, na forma de Acordos de Cooperação e Convênios, que

criaram assim uma base de diálogo permanente e uma pauta bem definida e focada de ações a

serem realizadas.

A somatória desses espaços de inovação possibilitam à cidade de Campinas

perspectivas para consolidar um dinâmico Ambiente de Inovação. Em especial, o Parque da

Unicamp pode ser considerado uma iniciativa de grande importância, que movida por uma

ICT, desde de 2003 vêm atuando como protagonista para alavancar o desejado Ambiente de

Inovação em Campinas, para posteriormente ampliá-lo para um Sistema Local e Regional de

Inovação. Por último, verifica-se que na atualidade de algumas das cidades mais competitivas

do mundo buscam desenvolver estratégias que ampliem a capacidade de sua indústria de gerar

mais inovação com o objetivo de fortalecer seu desenvolvimento sócioeconômico, e, em

Campinas não é diferente. A consolidação de um Ambiente de Inovação através da iniciativa

do Parque da Unicamp em Campinas, dentro do SPTec, não se limita à presença de um bom

aparato de CT&I, mas também o estabelecimento de uma boa infraestrutura urbana e social,

visando proporcionar alta qualidade de vida para seus habitantes.

4. Parque Científico e Tecnológico da Unicamp.

O Parque da Unicamp teve seu início a partir de uma proposta apresentada à Secretaria

de Desenvolvimento do Governo do Estado de São Paulo no ano 2008, e, atualmente,

encontra-se na etapa final de instalação das infraestruturas que inserem-se nas áreas do

Campus “Zeferino Vaz” da Unicamp no Distrito de Barão Geraldo em Campinas (SP). A

proximidade geográfica entre a Unicamp e os laboratórios de P&D das empresas que serão

instaladas no referido Parque caracteriza a estratégia empreendedora da universidade e

estabelece maiores oportunidades para a execução de uma das missões da Agência de

Inovação (Inova-Unicamp).

Observa-se que o Parque pode vir a se constituir numa importante estrutura de suporte

para projetos estratégicos da Universidade que venham a contribuir com o desenvolvimento

econômico e social, através da efetiva transferência de tecnologia, do desenvolvimento de

novos conhecimentos e da inovação para setores públicos ou privados, localizados dentro do

Campus e no seu entorno. Conforme Baldoni e Furtado (2013), o entorno da universidade é

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favorável para novas empresas e a proximidade geográfica entre essas empresas e a Unicamp

cria um ambiente propício para reter na região mão de obra altamente qualificada.

A implantação do Parque poderá capacitar a Unicamp no que se refere ao

desenvolvimento de experiências inovadoras quanto à organização, evolução e gestão desse

tipo de empreendimento, podendo inclusive se constituir numa nova área de conhecimento,

relacionada ao estudo das formas de contribuição da C&T para o desenvolvimento econômico

e social, considerando as novas exigências do desenvolvimento sustentável. Outra estratégia,

externa à universidade, deve propiciar a detecção e captação constante de interesses e

necessidades, junto aos setores públicos e privados, que possam vir a se constituir em

parcerias, com foco na transferência de tecnologia e inovação. (INOVA-UNICAMP, 2011).

Considerando a complexidade para a consolidação do referido Parque, ainda em curso,

torna-se necessário o envolvimento de demais setores internos da Unicamp, assim como de

representantes externos, de modo a garantir a formulação de diretrizes de consenso no que se

refere ao direcionamento e evolução do Parque. Externo ao Campus Zeferino Vaz e nas

proximidades do Parque Ciêntífico e Tecnológico da Unicamp, já encontra-se em

funcionamento a “Inovasoft”, criado em 2006, e, segundo Inova-Unicamp (2011) sua atuação

consiste no desenvolvimento de projetos; pré-residência de projetos de negócios; e, residência

de empresas nascentes.

O Parque irá abrigar laboratórios de P&D em que se desenvolverão relações entre

pesquisadores das empresas, docentes e estudantes da Unicamp criando um ambiente de

conhecimento a fim de estreitar ainda mais relações com empresas. Porém, vale destacar que

há uma regra restrita nas negociações para incorporar novos laboratórios no Parque, apenas

serão admitidas iniciativas que contemplem convênios com grupos de pesquisa da Unicamp,

visto que a presença do Parques no interior da universidade ajudará a difundir as tecnologias

concebidas através de apoio ao empreendedorismo e as pequenas empresas localizadas no seu

interior, nas suas proximidades, e, consequentemente, na cidade. (BALDONI; AMARAL.

FURTADO, 2014)

O Parque da Unicamp, analisado sob a perspectiva de um Ambiente de Inovação, pode

ser considerado um vetor para promover a inovação, pois consistitui-se em um ambiente

estruturado para promover a atuação conjunta de empresas e ICTs visando promover e

acelerar a geração de inovação. Sem dúvidas, o Parque é um modelo quanto à sua importância

e eficiência organizacional. Desta forma, as ICTs de Campinas, em conjunto com a Fundação

Fo´rum Campinas e o governo estadual, vêm atuando conjuntamente para criar as condições

para o estabelecimento de um ecossistema de inovação sinérgico e dinâmico.

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Os resultados alcançados até o momento evidenciam a estratégia de carater

empreendedor da Universidade, que visa estreitar as relações com as empresas e outras ICTs.

De acordo com Baldoni e Furtado (2013), a vinda de laboratórios e centros de P&D de

grandes instituições para o Parque favorecerão a formação de redes de relacionamentos com

potencial para impactar a dinâmica do Campus universitário, e, sobretuto, a cidade de

Campinas, que irá beneficiar-se dessa nova dinâmica. Por exemplo, o último resultado de

esforço da equipe de gestora do Parque (Agência de Inovação da Unicamp) foi o Centro de

P&D da empresa Lenovo. Este foi fruto de uma ação conjunta entre governo (estadual e local)

com a Unicamp, e, demonstrou que esforço conjunto dos atores locais é um fator fundamental

de sucesso individual e conjunto.

5. Perspectivas para a consolodição de um Ambiente de Inovação a partir do Entorno

do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp.

De início, pode-se de verificar que apesar das muitas iniciativas ao longo da trajetória

de Campinas, a necessária aproximação entre governo, empresas e universidades não

aconteceu de forma suficientemente efetiva para resultar em um impacto significativo na

geração de inovação, principalmente em nível local.

Conforme Baldoni, Amaral e Furtado (2014), o exemplo de Campinas revela a

necessidade de uma estratégia conjunta desses três atores que preconizam o Modelo Triple

Helix. Contudo, observa-se que algumas medidas de estreitamento de relacionamento entre as

ICTs presentes no município, realizadas por meio da atuação da Fundação Fórum Campinas

já existem. Por ser um processo complexo, os resultados alcançados ainda não foram

suficientes para a efetiva consolidação de um Ambiente de Inovação, mas quando

contrapostos ao potencial local pode-se afirmar que o processo promete ser promissor.

As perspectivas para a consolodição de um Ambiente de Inovação a partir do entorno

do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp apontam que, embora existam obstáculos a

serem transpostos, os componentes do entorno do Parque da Unicamp podem atuar como

instrumentos facilitadores para consolidação do Ambiente de Inovação em Campinas.

Ainda, destaca-se que a iniciativa de se criar tantos Parques Tecnológicos em

Campinas, liderados principalmente por ICTs de renome, tem auxiliado a superar as barreiras

existentes até o momento para a integração dos atores e a promoção do trabalho sinérgico

afim de torna-los empreendimentos exitosos. No Mapa 2, observa-se, em destaque, o

retângulo vermelho em que se localizam os empreendimentos que circundam a Unicamp,

local em que pode-se haver a consolidação de um Ambiente de Inovação no município, visto

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que segundo o Plano Diretor de Campinas (2006), a área em estudo está dentro da Macrozona

3 - Área de Urbanização Controlada, onde se prevê a criação do Eixo Empresarial e um Eixo

Tecnológico e Científico. Os empreendimentos que compõem a área de estudo podem ser

visualizados, no Mapa 3, onde destaca-se a distribuição geográfica cuja proximidade entre

eles caminha no sentido de favorecer a uma possível interação e troca de conhecimento.

Partindo desse princípio, a vizualização do Ambiente de Inovação como um todo permite uma

análise conjunta dos elementos que compõem a área foco do presente trabalho. Também,

conforme o Quadro 3, pode-se observar as principais atividades dos empreendimentos que

compõem o recorte espacial utilizado na pesquisa.

Quadro 3: Características dos Empreendimentos e Instituições Selecionados.

Empreendimentos Fundação Atividades

UNICAMP 1965 Formação de recursos humanos, incentivo à Pesquisa e Extensão.

CPqD 1976 Manter a capacidade em Pesquisa e Desenvolvimento na área de

Telecomunicações.

INOVASOFT 1982

Fomento ao empreendedorismo e desenvolvimento de negócios em

TI. Também, acolhe projetos inovadores em parceria com empresas e

outras organizações.

CTI 1982 Unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação, que atua na pesquisa e no desenvolvimento em TI.

CIATEC – I 1986

Promoção de infraestrutura para favorecer a proximidade e a

integração das atividades dos setores de indústria, comércio,

educação, serviços, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento.

INCUBADORA CIATEC 1996

Incentivo ao desenvolvimento tecnológico, com objetivo de incubar

empreendimentos de base tecnológica, visando o crescimento

econômico local.

CIATEC – II 1997

Possibilitar infraestrutura para atividades dos setores de indústria,

comércio, educação, serviços, tecnologia e P&D conforme diretrizes

da Macrozona 3.

CNPEM 1997

Opera a fonte de luz Síncrotron e um conjunto de instrumentações

científicas para análise dos mais diversos tipos de materiais,

orgânicos e inorgânicos.

INCAMP 2010 Apoio, criação e desenvolvimento de empresas inovadoras de base

tecnológica.

SANTANDER 2010

Contituição de um pólo de tecnologia, pesquisa e processamento, que

inclui um Data Center de última geração para expansão da sua rede

de agências e da base de clientes.

Elaboração Própria.

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Pode-se considerar que existem alguns fatores críticos que são essenciais para o

sucesso de um Parque e seu entorno, por exemplo, a) o suporte das autoridades locais,

regionais ou nacionais; b) a presença de instituições de pesquisa e treinamento; c) sistema de

incentivos creditícios e tributários; d) disponibilidade de terrenos destinados aos

empreendimentos tecnológicos; e) infraestrutura; e, f) qualidade urbanística e ambiental.

Nesse sentido, no que tange a área de estudo e as perspectivas para consolidar um Ambiente

de Inovação, pode-se considerar que tais elementos estão presentes neste fragmento do

território de Campinas, mas, o processo histórico de cada um deles é desconexo, mesmo que

dentro dos objetivos do Plano Diretor. Tal fato, justifica a atual necessitade de maior

interlocução destes com os demais, e, ainda com outras ICTs presentes na cidade.

As perspectivas para tornar tal área um Ambiente de Inovação indicam, à priori, que

Campinas necessita da junção destes espaços de inovação, visto que adquiriu uma série

empreendimentos voltados ao setor de alta tecnologia, que a princípio encontram-se dispersos

no território da cidade. Porém, em específico, na área de estudo observa-se uma concentração

de tais empreendimentos, principalmente movidos pelos Parques Ciatec-I e Ciatec-II, que

cosntituem especificamente o entorno da Unicamp, mas que perderam seus objetivos devido

principalmente à troca de gestão do governo local, assim, não se verificou a materialização

ideal para alavancar a vocação de Campinas.

Apesar de sua composição territorial voltada aos emprendimento de alta tecnologia, tal

área apresenta uma paisagem predominantemente rural (marcada pelo agronegócio) mesmo

nas estradas proximas ao CPqD, CNPEM e ao Campus da Unicamp devido o processo de

formação de Campinas atrelado à expansão do café. Também, é importante apontar a presença

de outros empreendimentos de abrangência internacional, no caso o Banco Santander, que por

finalidade se destoa dos outros elementos, pois não compõe atividades de cunho

prioritariamente tecnológico, mas encontra-se inserido no terreno destinado ao Parque Ciatec

II e condiz com um dos eixos do Plano Diretor previsto para Macrozona 3.

Verifica-se que além do Banco Santander, o CPqD e o CNPEM estão inseridos no

terreno do Parque II da Ciatec. Tal terreno foi planejado conforme as diretrizes do Plano

Diretor do município. Porém, as políticas do governo local ao longo da história não foram

suficientes para consolidar nesta área um ambiente de inovação.

A presença das Incubadoras da Unicamp e da Ciatec além do Inovasoft permitem

dinamizar a criação desse ambiente, principalmente no que tange a proximidade geográfica

como agente facilitador para o contato face a face dos recursos humanos que desenvolvem

suas atividades de P&D nesses empreendimentos, como na Universidade.

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Portanto, em meio a necessidade de manter a vocação da cidade, verifica-se que a

finalização desse ambiente de inovação que circunda o Campus da Unicamp, passou a ter

como ator principal a própria Universidade, em específico, através da implantação do seu

Parque, afim de que ele se relacione com os outros empreendimentos de mesmo cunho

presentes no seu entorno. Por último, pode-se considerar que os resultados obtidos pelos

Parques, promovidos por algumas ICTs, em especial, a Unicamp, numa escala menor,

constituem indicadores importantes do sucesso a ser alcançado com esta integração.

6. Considerações Finais.

De fato, a área em estudo apresenta uma lógica ainda desigual perante as perspectivas

lançadas para essa porção do território campineiro, pois nota-se além de uma paisagem ainda

presa ao ambiente rural, a falta de infraestrutura, principalmente de transporte que ainda

consistem num obstáculo que promove a falta de dinâmicidade ao território. Nesse caminho,

há necessidade de solucionar os problemas da estrutura de CT&I da área, como também,

melhorar a qualidade de vida dos moradores de bairros próximos.

Todos esses obstáculos são resultado de discordâncias entre políticas públicas ao

longo da história de Campinas e compõem o entorno do Parque da Unicamp. As perpectivas

podem ser favoráveis na medida em que essas barreiras forem quebradas. Tanto os incentivos

do SPTec e da Fundação Forúm Campinas são válvulas para alavancar a consolidação de

Parques em Campinas. Em especial, se forem mantidas as ações do Parque Científico e

Tecnológico da Unicamp, pode-se esperar perspectivas positivas para a constituição de um

Ambiente de Inovação na áera de estudo.

De modo geral, Campinas tem se caracterizado como um polo regional de

desenvolvimento em P&D, sobretudo, reconhecido em nível internacional, porém carente de

políticas adequadas que tragam dinamicidade ao município e sustentem seu pioneirismo em

atividades em CT&I. Desse modo, considera-se que a dimensão geográfica tem fundamental

importância neste contexto, uma vez que o local exerce forte influência neste processo, sendo

imprescindível seu estudo para elaboração de políticas publicas afim de que as perspectivas e

ações do Parque da Unicamp possam se tornar realidade.

7. Agradecimentos.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo auxílio

recebido, mediante Processo número 2013/07702-0. Também, à Agência de Inovação da

Unicamp.

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8. Referências.

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