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Tanto os lugares intocados quanto o ambiente construí- do podem ser interpretados como paisagens naturais. Nem sempre novas arquiteturas são necessárias para abrigar novas necessidades. A imaginação permite a reinterpre- tação e a reutilização de estruturas existentes, e, através da inserção de novos elementos, é possível reconectá-las ao contexto em que se inserem. A ideia deste projeto é a meta- morfose da paisagem sem destruir as suas características, estabelecendo um diálogo entre o passado e um futuro. Com incríveis paisagens formadas por colinas cobertas por mangue, mata atlântica e praias banhadas pelo mar da Baía de Todos os Santos, o subúrbio ferroviário de Salvador se consolidou após a construção da linha férrea Calçada-Paripe que alavancou o processo de adensamento urbano e indus- trialização na área. Em decorrência do rápido crescimento populacional e falta de planejamento urbano, os bairros do Subúrbio convivem com altos índices de pobreza e violência. A fábrica de Cimento Aratu S/A se insere nesse contex- to: Construída na década de 60, na Ponta de Sapocá, uma elevação de 30 metros que separa as praias de São-Tomé e Tubarão, no bairro de Paripe; foi desativada na déca- da de 90 por causar danos ecológicos devido à extração de calcário marinho. Hoje em dia o conjunto de estrutu- ras de concreto e metal se entrelaçam com a vegetação compondo uma paisagem monumental e misteriosa. Desconectada de seu perímetro, a ponta de Sapocá rompe a continuidade da orla entre as praias de São-Tomé e Tubarão, recentemente requalificadas, e a fábrica constitui uma bar- reira física e psicológica entre a população e a paisagem. A partir do reconhecimento da área, da identificação de demandas urbanas e sociais e da observação das potenciali- dades que possuem as estruturas da Fábrica, surge a propos- ta de transformar a Ponta de Sapocá em um Parque público: através da requalificação da paisagem e da transformação dos edifícios em novos equipamentos é possível reconectar as pessoas ao lugar, reconectar a área ao seu entorno e reconec- tar o patrimônio industrial ao seu novo contexto urbano. Para que o Parque de Sapocá se converta em um espaço público interpretado como forte agente de transformação urbana e social, capaz de gerar movimentação, reconhecimento e pertencimento entre o ser humano e a paisagem, é necessário que exista um sistema de integração entre as atividades do parque e da cidade. Atividades como o esporte, o lazer e o entretenimento são capazes de reestabelecer a ponte entre as pessoas e esse espaço, além de contribuir para a diversidade urbana do subúrbio como um todo. A proposta começa por reconsolidar a fratura urbana que consiste a ponta de Sapocá, com objetivo de conectar as pessoas aos equipamentos através da reinterpretação da paisagem natural e construída. Portanto, o trabalho explora o limiar entre a Arquitetura, o Urbanismo e o Pais- agismo, vistos como indissociáveis para a sua elaboração. ponta de sapocá PARQUE PÚBLICO EM PRÉ-EXISTENCIA INDUSTRIAL APROPRIAÇÃO DA PAISAGEM O SUBÚRBIO, A FÁBRICA E SEU CONTEXTO O PARQUE URBANO DE SAPOCÁ 1-8

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Tanto os lugares intocados quanto o ambiente construí-do podem ser interpretados como paisagens naturais. Nem sempre novas arquiteturas são necessárias para abrigar novas necessidades. A imaginação permite a reinterpre-tação e a reutilização de estruturas existentes, e, através da inserção de novos elementos, é possível reconectá-las ao contexto em que se inserem. A ideia deste projeto é a meta-morfose da paisagem sem destruir as suas características, estabelecendo um diálogo entre o passado e um futuro.

Com incríveis paisagens formadas por colinas cobertas por mangue, mata atlântica e praias banhadas pelo mar da Baía de Todos os Santos, o subúrbio ferroviário de Salvador se consolidou após a construção da linha férrea Calçada-Paripe que alavancou o processo de adensamento urbano e indus-trialização na área. Em decorrência do rápido crescimento populacional e falta de planejamento urbano, os bairros do Subúrbio convivem com altos índices de pobreza e violência.

A fábrica de Cimento Aratu S/A se insere nesse contex-to: Construída na década de 60, na Ponta de Sapocá, uma

elevação de 30 metros que separa as praias de São-Tomé e Tubarão, no bairro de Paripe; foi desativada na déca-da de 90 por causar danos ecológicos devido à extração de calcário marinho. Hoje em dia o conjunto de estrutu-ras de concreto e metal se entrelaçam com a vegetação compondo uma paisagem monumental e misteriosa.

Desconectada de seu perímetro, a ponta de Sapocá rompe a continuidade da orla entre as praias de São-Tomé e Tubarão, recentemente requalificadas, e a fábrica constitui uma bar-reira física e psicológica entre a população e a paisagem.

A partir do reconhecimento da área, da identificação de demandas urbanas e sociais e da observação das potenciali-dades que possuem as estruturas da Fábrica, surge a propos-ta de transformar a Ponta de Sapocá em um Parque público: através da requalificação da paisagem e da transformação dos edifícios em novos equipamentos é possível reconectar as pessoas ao lugar, reconectar a área ao seu entorno e reconec-tar o patrimônio industrial ao seu novo contexto urbano.

Para que o Parque de Sapocá se converta em um espaço público interpretado como forte agente de transformação urbana e social, capaz de gerar movimentação, reconhecimento e pertencimento

entre o ser humano e a paisagem, é necessário que exista um sistema de integração entre as atividades do parque e da cidade. Atividades como o esporte, o lazer e o entretenimento são capazes de reestabelecer a ponte entre as pessoas e esse espaço, além de contribuir para a diversidade urbana do subúrbio como um todo.

A proposta começa por reconsolidar a fratura urbana que consiste a ponta de Sapocá, com objetivo de conectar as pessoas aos equipamentos através da reinterpretação da paisagem natural e construída. Portanto, o trabalho explora o limiar entre a Arquitetura, o Urbanismo e o Pais-agismo, vistos como indissociáveis para a sua elaboração.

ponta de sapocáPARQUE PÚBLICO EM PRÉ-EXISTENCIA INDUSTRIAL

APROPRIAÇÃO DA PAISAGEM O SUBÚRBIO, A FÁBRICA E SEU CONTEXTO O PARQUE URBANO DE SAPOCÁ

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Quando intocada, até meados da década de 60, a paisagem da Ponta de Sapocá era constituída por mar e mata atlântica. A construção da fábrica deu espaço para as atividades humanas, tornando o seu entorno um lugar atrativo para a comunidade se estabelecer. Desde a desativação da fábrica, a veg-etação vem se desenvolvendo e reconquistando seu espaço e os edifícios vem sofrendo arruinamento pe-los castigos do sol, do sal e da natureza. Em constante transformação, a paisagem vive essa simbiose entre as construções humanas e os elementos naturais.

A intervenção na ponta de Sapocá tem como prem-issas fundamentais a preservação tanto da natureza quanto do patrimônio industrial. A sequência concei-

O galpão principal e o edifício anexo da Fábrica de Cimento dão lugar ao Ginásio Esportivo do Parque. Sob a cobertura abobadada de cento e trinta e cinco metros de comprimento estão dispostos: uma piscina de cinquenta metros, uma piscina para saltos orna-mentais e duas quadras poliesportivas para futsal, basquete, vôlei e handball. No edifício anexo, man-teve-se apenas a malha estrutural de pilares e vigas. Ao longo deste, estão dispostos: quatro quadras de squash, tênis de mesa, uma academia, e 9 salas mul-tiuso para prática de artes marciais, capoeira e dança, além da enfermaria, vestiários e a área administrativa.

A intervenção arquitetônica no galpão principal consiste em preencher as fachadas norte, sul e les-

REAPROVEITAMENTO DAS ESTRUTURAS INDUSTRIAS

PROCESSO DE ARRUINAMENTO DA COMPOSIÇÃO ARQUITETÔNICA DA FÁBRICAFORÇA DA ÁGUA NA REGIÃOEVOLUÇÃO DA VEGETAÇÃO NA PONTA DE SAPOCÁ

GALPÃO DE PRODUÇÃO DO CLÍNQUER SILOS DE ARMAZENAMENTO DO CIMENTO RESERVATÓRIOS DE ÁGUA GALPÃO DE CONTROLE SILOS DE ARMAZENAMENTO DO CRÚ

GINÁSIO ESPORTIVO COMPLEXO LÚDICO AUDITÓRIO E PLANETÁRIO RESTAURANTE MIRANTE-MEMORIAL

SÍNTESE CONCEITUAL

O VERDE, A ÁGUA E A FÁBRICA

tual acima demonstra a intenção de romper os limites da fábrica para que a vegetação possa se desenvolver e congelar o processo de arruinamento dos edifícios, permitindo a sua reutilização. Para que novas ex-periências possam acontecer novos elementos serão introduzidos permitindo a reinterpretação do espaço.

Entre o verde e a fábrica, a água assume protag-onismo enquanto elemento de conexão entre a na-tureza e o ambiente construído. Ora orgânico ora or-togonal, o desenho de um lago que permeia o platô superior do parque sugere um novo ordenamento dos fluxos, dando suporte à natureza. No platô inferior, uma Piscina de maré é implantada, catal-isando a relação entre a baía e a Ponta de Sapocá.

1959 1989 1989 2002 2006 20102002 2010 BAÍA DE TODOS OS SANTOS BAÍA DE ARATU SACO DO TORORÓ LAGOS ARTIFICIAIS DO CIA

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te, através da introdução de novas arquibancadas e escadas, o que garante o perfeito o funcionamento do edifício como também, dessa forma, garante a manutenção de sua leitura original. O galpão, que não possuía fechamentos, recebe uma pele em brise de chapa perfurada em alumínio que pro-tege o edifício sem ocultar a estrutura brutalista original. Os brises horizontais fazem uma releitura dos fechamentos originais que existiam em vári-os dos edifícios das fábricas, incluindo o edifício anexo, que consistiam em venezianas de concreto.

A introdução de um novo pavimento no galpão tem como base o melhor aproveitamento da área coberta que o edifício proporciona, onde se encaix-

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Conectar as orlas entre Tubarão e São-Tomé através de uma ciclovia; oferecer um transporte que conecte as escolas públicas com as atividades oferecidas nos novos equipamentos; e trazer um terminal marítimo que conecte Paripe ao Centro da cidade através do Parque de Sapocá, são al-gumas das propostas de integração responsáveis por diluir os limites entre o parque e a cidade.

O parque de Sapocá apresenta diversas esferas de conexões. Entre as pessoas e a paisagem, entre a natureza e a construção, entre o passado e a trans-formação. Fisicamente os caminhos propostos estão relacionados às várias escalas de interação, das mais diretas às mais subjetivas. Através de estímulos sen-soriais o parque proporciona múltiplas percepções e interpretações sobre os espaços reelaborados.

Entre os equipamentos e os acessos principais, os caminhos seguem uma lógica ortogonal, advin-da dos próprios edifícios que compõem a fábrica, evidenciando a sua monumentalidade e facilitando o seu acesso. Os demais caminhos, mais sinuosos, estão relacionados ao verde e à água, conectan-do lugares mais íntimos, proporcionando melhor permeabilidade ao longo do Parque de Sapocá.

CAMINHOS E CONEXÕES

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1

2

A

4

5 6

7

9

8

10

11

19

20

22

23

24

21

B

B

183

12

13

1415

16

17

ACESSO SÃO-TOMÉPONTO DE ÔNIBUS

ACESSO COMPLEXO ESPORTIVOPONTO DE ÔNIBUS MARQUISE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO

AUDITÓRIO

PLANETÁRIO

GINÁSIO ESPORTIVO EDIFÍCIO ADMINISTRATIVO

RESTAURANTE

COMPLEXO LÚDICO CAFÉ-MIRANTE

PLANO INCLINADO

BARES CICLOVIA

VESTIÁRIO TRILHA ECOLÓGICA

PISCINA DE MARÉ ACESSO TUBARÃO PONTO DE ÔNIBUS

TERMINAL MARÍTIMOMIRANTE-MEMORIAL

ACESSO PRINCIPALPONTO DE ÔNIBUS

ESTACIONAMENTO

PIER DA GERDAU

EQUIPAMENTO PROPOSTO EQUIPAMENTO PROPOSTO UTILIZANDO ESTRUTURAS EXISTENTES

TRILHA ECOLÓGICA

1

X X

2

4

5

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50m 100m20 23

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A

CONEXÕES

EQUIPAMENTOS

ÁGUA

VEGETAÇÃO

ÁREA TOTAL

8,91%

10,48%

6,61%

74,82%

40 HA

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O relevo acidentado da ponta de Sapocá sugere di-versas particularidades espaciais e paisagísticas. Para serem implantados de novos percursos pelo parque, muitas vezes tornou-se necessárias a criação de con-tenções. Essa técnica construtiva está consolidada na cul-tura da cidade de Salvador e, além de trazerem estabili-dade para o solo e proteção entre os desníveis também se comportam como um mobiliário urbano, servindo de assento ou apoio para a apreciação da paisagem.

O clima tropical úmido de Salvador promove um sol muito intenso no verão e chuvas torrenciais no inverno. Por isso foi necessário pensar em coberturas garantido

proteção para o público. Relacionadas aos planos que constituem as contenções, as coberturas do parque geram diferentes espacialidades seguindo uma estética semelhante. Entre o acesso principal e os equipamentos, os caminhos recebem uma marquise que os acompanha, promovendo proteção tanto para a chuva quanto para o sol.

Próximo ao mais abrupto desnível do Parque de Sapocá foi proposta uma cobertura acessível, que funcio-na como um mirante, abrigando um café na parte inferior que é invadida pelo lago. Com vista para Salvador, ao sul, e para o interior do parque, ao norte, o Café-Mirante se integra à paisagem e aos percursos do parque de Sapocá.

A paisagem existente na ponta de Sapocá é con-stituída pelos volumes da Fábrica e a vegetação, que consiste em uma densa mata atlântica, relativamente recente. O projeto busca evidenciar esta relação inte-grando os novos percursos à natureza através de uma proposta paisagística que tem como ponto de partida a preservação e a manutenção da vegetação existente.

Além de trazer tranquilidade em contraponto ao ambi-ente agressivo da fábrica de cimento, a água é fundamen-tal para o desenvolvimento da vegetação. O lago, portanto, estará atrelado ao sistema de irrigação, tanto na etapa de plantio quanto na manutenção das espécies do parque.

Para cada ponto do parque, a proposta paisagísti-ca leva em consideração as especificidades do local, as potencialidades do terreno e os usos propostos. O plantio de novas espécies, portanto, se dá em dif-erentes formas, como bosques, maciços, agrupamen-tos homogêneos, heterogêneos, ritmos, paredes, recobrimentos, forrações, alamedas ou pontos de destaque. Evidenciando perspectivas, gerando som-bra para os edifícios e trazendo pontos de referência visual e olfativa. Consequentemente, a escolha das espécies se deu através da morfologia desejada e a sua compatibilidade ao bioma da mata atlântica.

CONTENÇÕES E COBERTURAS PAISAGISMO

CONTENÇÃO

COQUEIRO AMENDOEIRA FICUS GUAPURUVÚ PALMEIRA IMPERIAL VITÓRIA-RÉGIACAMBUÍ FLAMBOYANTBARRIGUDADENDEZEIRO BAOBÁ

CONTENÇÃO MARQUISEGINÁSIO ESPORTIVO

ESTACIONAMENTO

LAGO

LAGO

CICLOVIA

CORTE A

CORTE B

CAFÉ-MIRANTERAMPA CAFÉ-MIRANTE

CONTENÇÃO

PÍER DA GERDAUCICLOVIA

AV.EDUARDO DOTOPONTO DE ÔNIBUSPISCINAS GINÁSIO ESPORTIVO

TRILHA ECOLÓGICATRILHA ECOLÓGICA

PLANTA BAIXA DE PAISAGISMO EVIDENCIANDO O PLATÔ SUPERIOR AONDE HAVERÁ MAIOR INTERVENÇÃO DEIVIDO ABAIXA DENSIDADE DE VEGETAÇÃO EXISTENTE

RAMPA DE CONEXÃO ENTRE O PLATÔ SUPERIOR E INFERIOR COM VISTA PARA A BAÍA E PARA A PISCINA DE MARÉPERCURSO EM DIREÇÃO AO CAFÉ-MIRANTE ACOMPANHADO PELA CONTENÇÃOMARQUISE ENTRE O ACESSO PRINCIPAL E O GINÁSIO ESPORTIVO

PISCINA DE MARÉ RAMPA DE CONEXÃO

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Os antigos reservatórios de água são constituídos por dois cilindros de 30m de diâmetro por 8,5m de altura, estruturados em concreto ar-mado. Um será destinado ao auditório, equipamento raro no subúrbio ferroviário, e outro ao planetário que Salvador não possui. O auditório, com capacidade para duzentas e dez pessoas, é equipado com sanitários, cabine de controle de som e de luz, área técnica, camarim e sala de apo-io. A finalidade deste equipamento é de comportar palestras, conferên-cias e apresentações teatrais, fortalecendo os diversos grupos locais.

O planetário é constituído por dois níveis. No primeiro se encontram a área técnica, os sanitários, a cantina e a bilheteria. Esta serve tanto à sala de projeção quanto ao auditório e um espaço expositivo com o tema das ciências espaciais, programa anexo recorrente em diversos planetários. Os dois pavimentos se comunicam através de circular que também fun-ciona como espaço de exposição. No segundo pavimento se encontra a sala de projeção com capacidade para cento e vinte pessoas que tem como tela uma semiesfera que se acopla sobre o volume pré-existente.

O auditório e o planetário compartilham o mesmo Foyer que serve de apoio para os visitantes ao início e ao fim das sessões. A sua cobertura está interligada à marquise que por sua vez se conecta ao acesso principal do Parque de Sapocá.

O edifício responsável pelo controle do fluxo de entrada e saí-da de material da Fábrica é constituído por três blocos: Dois laterais com salas em sequência e um central. O edifício se comporta como um túnel por onde os caminhões cruzavam, passando pela vistoria.

A transformação do edifício em restaurante mantém a sua leitura origi-nal, tendo os seus acessos pelas laterais, no bloco central. O bloco oeste é responsável pela área de serviços do restaurante que conta com: sanitários, acesso para carga e descarga, higienização, triagem, câmara de resfriamen-to, câmara de congelamento, depósito seco, área de pré-preparo, área de cocção, deposito de louça, área de finalização, área de lavagem, depósito de material de limpeza, estar de funcionários, sanitários de funcionários e lixo. Os outros dois blocos são ocupados pelo salão, com capacidade para duzentas pessoas. Externamente, a fachada leste recebe painéis de alumíno perfurado que protegem contra a insolação e se instalam entre a sequência de pilares do edifício existente, evidenciando a sua estrutura.

Implantado à uma cota inferior ao nível do lago, o restaurante é recebido por uma ‘’Praça-Arquibancada’’ onde podem acontecer apre-sentações musicais e teatrais. Entre a praça e o lago foi proposta a Ala-meda dos Flamboyants que possui potencial para usos diversos. Como por exemplo suporte para as apresentações ou um bom espaço para pic-nic, já que os flamboyants proporcionam uma sombra agradável.

AUDITÓRIO E PLANETÁRIO

RESTURANTE

ENTRADA PRINCIPAL DO PARQUE DE SAPOCÁ

VISTA PARA O INTERIOR DO PARQUE DE SAPOCÁ A PARTIR DO CAFÉ-MIRANTE

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O galpão principal e o edifício anexo da Fábrica de Cimen-to dão lugar ao Ginásio Esportivo do Parque. Sob a cobertura abobadada de cento e trinta e cinco metros de comprimento estão dispostos: uma piscina de cinquenta metros, uma piscina para saltos ornamentais e duas quadras poliesportivas para futsal, basquete, vôlei e handball. No edifício anexo, manteve-se ape-nas a malha estrutural de pilares e vigas. Ao longo deste, estão dispostos: quatro quadras de squash, tênis de mesa, uma aca-demia, e 9 salas multiuso para prática de artes marciais, capoeira e dança, além da enfermaria, vestiários e a área administrativa.

A intervenção arquitetônica no galpão principal consiste em preencher as fachadas norte, sul e leste, através da introdução de novas arquibancadas e escadas, o que garante o perfeito o funcionamento do edifício como também, dessa forma, garante a manutenção de sua leitura original. O galpão, que não possuía fechamentos, recebe uma pele em brise de chapa perfurada em

alumínio que protege o edifício sem ocultar a estrutura brutalista original. Os brises horizontais fazem uma releitura dos fechamen-tos originais que existiam em vários dos edifícios das fábricas, inclu-indo o edifício anexo, que consistiam em venezianas de concreto.

A introdução de um novo pavimento no galpão tem como base o melhor aproveitamento da área coberta que o edifício propor-ciona, onde se encaixam perfeitamente as quadras poliesportivas. Acima da piscina de saltos ornamentais, que exige uma maior ver-ticalidade do espaço, foi deixado um vazio que além da questão funcional de não gerar conflito entre a plataforma de saltos e a laje proposta, permite a manutenção da espacialidade original do edifício neste trecho, cujo pé direito máximo alcança vinte e oito metros de altura. O vazio, que possui as mesmas dimensões das quadras, é circundado por passarelas, as quais além de servir para a observação dos saltos ornamentais, gera um espaço de convívio com vista para o interior do Parque de Sapocá. Essa circulação ainda

remonta à experiência de andar por um grande corredor suspenso que existia originalmente no galpão, onde a viga superior funcio-nava como trilho para um guindaste e se comportava como uma passarela, pela qual os operários frequentemente transitavam.

A circulação vertical principal do ginásio esportivo se dá pelo edifício anexo mediante os elevadores e a escada dupla. Que se desenvolve em torno de um vazio protegido com pele de vidro, e que também funciona como coletor de águas pluviais. O edifício anexo é internamente iluminado e ventilado por uma claraboia que se sobressalta ao volume existente e acontece sobre outro vazio que atravessa os quatro pavimentos, chegando ao térreo.

A partir do térreo do edifício anexo que se abre para o parque em suas três fachadas, os nadadores e técnicos são conduzidos para a plataforma de observação das piscinas, onde se acomodarão os jurados de eventuais competições. Essa plataforma acontece sobre a cobertura dos vestiários que está a dois metros e meio acima do

nível das piscinas. Os espectadores são conduzidos para as arqui-bancadas, sob a qual estão dispostos: as áreas técnicas que com-portam os filtros e bombas, os sanitários e a cantina. Essa se abre para fora do Ginásio, o que faz aumentar o movimento da praça que está situada entre o galpão e as torres do Mirante-Memorial.

As quadras poliesportivas possuem um acesso indepen-dente que se dá pela praça, próxima ao ponto de ônibus, at-ravés de uma escada e elevadores que acontecem na fachada norte do galpão. Esse acesso possibilita que as atividades das quadras possam se estender além do horário de funciona-mento das piscinas e das outras atividades do edifício anexo.

É importante lembrar que esse ano Salvador inaugura a sua primeira piscina olímpica após a demolição da Fon-te Nova. O fomento ao esporte é muito importante para a inserção social dos jovens do subúrbio que não pos-sui piscinas públicas e carece de equipamentos esportivos.

GINASIO ESPORTIVO

CORETE A

0 5 15 20

CORETE B

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EDIFÍCIO ANEXO

GALPÃO PRINCIPAL BRISES DE PROTEÇÃO

PISCINA 50 METROS

PISCINA DE SALTOS ORNAMENTAIS

ARQUIBANCADAS

FACHADA ARQUIBANCADACIRCULAÇÃO

INDEPENDENTE

QUADRAS POLIESPORTIVAS

PLATAFORMA DE OBSERVAÇÃO

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A partir dos quatro silos originalmente responsáveis pelo armazenamento do cimento surge a ideia de transfor-ma-los num complexo lúdico. Duas das torres funcionam como circulação vertical, uma através de elevadores e es-cadas, outra através das paredes de escalada. Ambas estão conectadas às outras torres por passarelas. A ideia das salas é explorar a espacialidade do lugar através da criação de at-mosferas diferenciadas, proporcionando diversas sensações.

Durante o processo projetual foi elaborado o story-board acima que demostra a experiência direta entre

o público e o espaço que experimenta um limiar en-tre a arte e a arquitetura. As salas podem receber insta-lações tanto instalações fixas quanto temporárias de arte contemporânea, ligadas ao conceito de ‘’site specific’’ aonde as obras são pensadas para ocuparem um de-terminado espaço e perdem o sentido se transpostas.

A ideia para este espaço é explorar a intercessão entre o esporte, o lazer e o entretenimento, temática que permeia todo o parque de Sapocá, onde o público é convidado a experi-mentar um espaço expositivo de maneira corporal e sensitiva.

A setenta metros acima do nível do mar, cota estabeleci-da pelas mais altas torres da Fábrica de Cimento Aratu, o Mi-rante-Memorial apresenta uma nova perspectiva sobre a Baía, de onde será possível avistar diversas localidades como, por exemplo a ilha de Itaparica, Madre de Deus, a Ilha dos frades, a foz do rio Paraguaçu, além da cidade de Salvador.

A torre de cinquenta e cinco metros de altura continuará exercendo a função de circulação vertical por onde o públi-co sobe para apreciar a vista. As outras duas torres funcionarão como salas expositivas. Em percurso descendente, o especta-dor compreende além das fases da fabricação do cimento, as

novas tecnologias utilizadas no brasil para sua produção, que tornam a nossa indústria uma das mais ecoeficientes do mun-do, como também os danos ecológicos provocados pelo fun-cionamento da Fábrica de Cimento Aratu ao longo do tempo

A lei de responsabilidade social assegura que as grandes empre-sas gerem contrapartidas sociais. Seguindo essa prática, a Gerdau, que inclusive possui um píer de escoamento de produção localiza-do na ponta de Sapocá, criou o MM Gerdau Museu de Minas e do Metal em Belo-Horizonte, documentando e divulgando duas das principais atividades econômicas do estado. A criação do Parque de Sapocá e a transformação da Fábrica de Cimento Aratu, construída

pelo grupo Votorantim, pode estar atrelada a esse tipo de parceria Público-Privada, reconhecendo e a valorizando a importância históri-ca dos edifícios e destinando-os a atividades de interesse social.

A Fábrica carrega o estigma de medo, insegurança e degradação ambiental. É apenas uma das centenas de fábricas que foram abando-nadas na península de ItaIagipe e no subúrbio ferroviário de Salvador. O que foi um dos pioneiros centros industriais do país hoje vive um palimpsesto: aquilo que se raspa para escrever de novo. A proposta deste trabalho é de trazer a continuidade de uma história, resgatando a memória da Fábrica de Cimento Aratu, que, vista do mar, se compor-ta como um farol que se abre para o mar da Baía de Todos os Santos.

COMPLEXO LÚDICO MIRANTA-MEMORIAL

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