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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência 925 – Ação anulatória – contribuição previdenciária – INSS – servidores celetistas – regime próprio de previdência – cobrança indevida “Tributário e processual civil. Ação anulatória. Contribuições previdenciárias do INSS. Servidores estaduais celetistas vinculados ao regime próprio de previdência do Estado de Pernambuco. Recolhimento efetuado ao IPSEP. Cobrança indevida. 1. As contribuições previdenciárias cujos fatos geradores ocorreram após a EC 8/1977, e antes da vigência da Constituição Federal de 1988, possuem prazo de prescrição trintenário. Precedentes do STJ. 2. Após a Constituição Federal o prazo prescricional passou a ser quinquenal, nos termos do art. 174 do CTN, tendo em vista a natureza tributária das contribuições. 3. A CDA 31245151-2, referente ao período de 09/1984 a 07/1988, foi cancelada de ofício pela administração tributária. 4. A CDA 315476729 foi atingida pela prescrição porquanto o fato gerador ocorreu entre abril a julho de 1991, a Notificação Fiscal ocor- reu em 30.09.1991 e a Execução apenas foi ajuizada em 24.11.1999, o que revela o transcurso do prazo prescricional. 5. Quanto à CDA 308620461, cujo fato gerador ocor- reu entre abril a junho de 1981, e que ainda estava sob a égide do prazo prescricional trintenário, a notificação ao contribuinte ocorreu em 29.01.1982, portanto o termo final para o ajuizamento da Execução Fiscal seria em 29.01.2012, após o ajuizamento da presente demanda, que ocorreu em 30.06.1997. 6. No que tange à CDA 313273537, constituída em 31.08.1990, o INSS foi cientificado da decisão final em recurso adminis- trativo em 24.11.1994. Desse modo, a execução fiscal que foi ajuizada em 25.11.1999, encontra-se tempestiva. 7. As dívidas fiscais que se pretende anular dizem respeito a contribuições previdenciárias cobradas pelo INSS sobre as remunerações dos servidores de autarquia estadual (DER), vinculados a regime próprio de previdência. 8. Os arts. 13 das Leis nºs 8.212 e 8.213, de 1991, estabeleceram que ‘o servidor civil ou militar da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, bem como o das respectivas autarquias e fundações, é excluído do Regime Geral de Previdência Social consubstan- ciado nesta lei, desde que esteja sujeito a sistema próprio de previdência social’. 9. Por sua vez, a antiga CLPS (Consolidação das Leis da Previdência Social, consubstanciada no Decreto nº 89.312, de 23.01.1984, em vigor à época dos períodos sob cobrança) dis- punha de maneira semelhante em seu art. 4º: ‘A Previdência Social Urbana não abrange: I – o servidor civil ou militar da União, Estado, Território, Distrito Federal ou Município, bem como o de autarquia respectiva, sujeito a regime próprio de Previdência Social, observado o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 6º; II – o trabalhador e o empregador rurais’. 10. O próprio fiscal da Previdência constatou, no seu relatório acostado à fl. 49, que a autarquia estadual efetuou os recolhimentos das contribuições dos seus servidores, regidos pela CLT, para o IPSEP. Destarte, não se pode exigir recolhimento de contri- buições previdenciárias ao INSS relativas a tais servidores. 11. Releve-se, ainda, que os referidos servidores, contratados pelo Estado sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho, tinham garantida a concessão de aposentadoria pela Lei Estadual nº 6.478, de 1972. 12. Correta a sentença que considerou indevida a cobrança fiscal. Precedentes deste Tribunal: AC 420896, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima, DJ 24.07.2008, p. 198. Apelação e remessa necessária improvidas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0007267-81.1997.4.05.8300 – (19614/PE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Geraldo Apoliano – DJe 18.06.2013 – p. 370) 926 – Acidente do trabalho – lesão no joelho – ação acidentária – cabimento “Ação acidentária. Alegação de perda auditiva, incapacitante, adquirida na atividade profissional. Suposto acidente do trabalho que teria gerado lesão em joelho. Nexo cau- sal descartado pela prova pericial quanto a ambas as alegações. Quadro auditivo com

Parte eral – Ementário de Jurisprudência 55 - parte geral - ementario de... · indevida. Para a responsabilização do empregador, nos termos da legislação civil (art. 186 do

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Parte Geral – Ementário de Jurisprudência

925 – Ação anulatória – contribuição previdenciária – INSS – servidores celetistas – regime próprio de previdência – cobrança indevida

“Tributário e processual civil. Ação anulatória. Contribuições previdenciárias do INSS. Servidores estaduais celetistas vinculados ao regime próprio de previdência do Estado de Pernambuco. Recolhimento efetuado ao IPSEP. Cobrança indevida. 1. As contribuições previdenciárias cujos fatos geradores ocorreram após a EC 8/1977, e antes da vigência da Constituição Federal de 1988, possuem prazo de prescrição trintenário. Precedentes do STJ. 2. Após a Constituição Federal o prazo prescricional passou a ser quinquenal, nos termos do art. 174 do CTN, tendo em vista a natureza tributária das contribuições. 3. A CDA 31245151-2, referente ao período de 09/1984 a 07/1988, foi cancelada de ofício pela administração tributária. 4. A CDA 315476729 foi atingida pela prescrição porquanto o fato gerador ocorreu entre abril a julho de 1991, a Notificação Fiscal ocor-reu em 30.09.1991 e a Execução apenas foi ajuizada em 24.11.1999, o que revela o transcurso do prazo prescricional. 5. Quanto à CDA 308620461, cujo fato gerador ocor-reu entre abril a junho de 1981, e que ainda estava sob a égide do prazo prescricional trintenário, a notificação ao contribuinte ocorreu em 29.01.1982, portanto o termo final para o ajuizamento da Execução Fiscal seria em 29.01.2012, após o ajuizamento da presente demanda, que ocorreu em 30.06.1997. 6. No que tange à CDA 313273537, constituída em 31.08.1990, o INSS foi cientificado da decisão final em recurso adminis-trativo em 24.11.1994. Desse modo, a execução fiscal que foi ajuizada em 25.11.1999, encontra-se tempestiva. 7. As dívidas fiscais que se pretende anular dizem respeito a contribuições previdenciárias cobradas pelo INSS sobre as remunerações dos servidores de autarquia estadual (DER), vinculados a regime próprio de previdência. 8. Os arts. 13 das Leis nºs 8.212 e 8.213, de 1991, estabeleceram que ‘o servidor civil ou militar da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, bem como o das respectivas autarquias e fundações, é excluído do Regime Geral de Previdência Social consubstan-ciado nesta lei, desde que esteja sujeito a sistema próprio de previdência social’. 9. Por sua vez, a antiga CLPS (Consolidação das Leis da Previdência Social, consubstanciada no Decreto nº 89.312, de 23.01.1984, em vigor à época dos períodos sob cobrança) dis-punha de maneira semelhante em seu art. 4º: ‘A Previdência Social Urbana não abrange: I – o servidor civil ou militar da União, Estado, Território, Distrito Federal ou Município, bem como o de autarquia respectiva, sujeito a regime próprio de Previdência Social, observado o disposto nos §§ 2º e 3º do art. 6º; II – o trabalhador e o empregador rurais’. 10. O próprio fiscal da Previdência constatou, no seu relatório acostado à fl. 49, que a autarquia estadual efetuou os recolhimentos das contribuições dos seus servidores, regidos pela CLT, para o IPSEP. Destarte, não se pode exigir recolhimento de contri-buições previdenciárias ao INSS relativas a tais servidores. 11. Releve-se, ainda, que os referidos servidores, contratados pelo Estado sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho, tinham garantida a concessão de aposentadoria pela Lei Estadual nº 6.478, de 1972. 12. Correta a sentença que considerou indevida a cobrança fiscal. Precedentes deste Tribunal: AC 420896, 3ª Turma, Rel. Des. Fed. Paulo Roberto de Oliveira Lima, DJ 24.07.2008, p. 198. Apelação e remessa necessária improvidas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0007267-81.1997.4.05.8300 – (19614/PE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Geraldo Apoliano – DJe 18.06.2013 – p. 370)

926 – Acidente do trabalho – lesão no joelho – ação acidentária – cabimento“Ação acidentária. Alegação de perda auditiva, incapacitante, adquirida na atividade profissional. Suposto acidente do trabalho que teria gerado lesão em joelho. Nexo cau-sal descartado pela prova pericial quanto a ambas as alegações. Quadro auditivo com

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diagnóstico não ocupacional (‘disfunção tubárea’). Problema em joelho oriundo de jogo de futebol. Ausência de cerceamento. Descabimento da conversão do julgamento em diligência diante da firmeza da prova técnica e documental. Sentença de improcedência mantida. Negado provimento ao recurso.” (TJSP – Ap 0020770-69.2011.8.26.0053/SP– 17ª CDPúb. – Rel. De Paula Santos – DJe 24.04.2013 – p. 1512)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de acórdão discutindo o nexo causal para configuração da lesão sofrida pelo jogador como acidente do trabalho.O TRT da 2ª Região já se pronunciou em matéria semelhante:“Acidente de trabalho. Ausência de nexo causal. Indenização moral e material indevida. Para a responsabilização do empregador, nos termos da legislação civil (art. 186 do CC), exige-se a presença concomitante de três elementos: a ofensa ao bem jurídico tutelado, o efetivo dano e o nexo causal. A despeito de incontroverso o acidente no ambiente de trabalho e a redução da capacidade física do trabalhador, os dois peritos que atuaram no feito não encontraram compatibilidade da lesão experimentada com o acidente-tipo. Extrai-se da prova técnica, ao revés, que a ruptura de ligamentos do joelho é bastante frequente em atletas, especialmente jo-gadores de futebol, sendo que o próprio reclamante noticia a prática de tal esporte antes do acidente. Além disso, o lapso de dois anos entre o acidente e a cirurgia, com piora do quadro a despeito do afastamento previdenciário, evidencia a com-pleta dissociação causal. Recurso do autor a que se nega provimento. Da sentença de fls. 570/573, recorre o reclamante, por meio das razões de fls. 576/585, nas quais alega que o perito não conseguiu avaliar corretamente a existência das lesões decorrentes do acidente de trabalho, sendo imprestável a prova técnica realizada. Pugna pela elaboração de novo laudo, ou, alternativamente, seja dado provimento aos pedidos de danos materiais e morais em razão das sequelas incapacitantes. Isenção de custas à fl. 573. Contrarrazões das reclamadas às fls. 589/592 e fls. 593/596.” (TRT 2ª R., Proc. 0193100-07.2007.5.02.0029, (20120846645), Rel. Des. Rovirso A. Boldo, DJe 07.08.2012)”Para a Advogada Mônica Yoshizato Bierwagen:“No que se refere ao nexo causal, igual dificuldade pode ser percebida quando nos deparamos com ‘eventos de causalidade múltipla’, isto é, aqueles em que, pela interposição de diversas circunstâncias, torna-se difícil precisar qual delas é a causadora do dano, o que complica a aferição da existência do dever de indenizar. Afinal, como já dito acima, não basta constatar a existência de um prejuízo mate-rial ou moral (dano), e tampouco de uma ação ou omissão antijurídica (conduta culposa); é necessário que entre eles haja um elo que os una, ou seja, que, a teor do art. 1.060 do CC, o dano tenha provindo de efeito direto e imediato da conduta lesiva que haja nexo causal, portanto.Nesse sentido, a doutrina refere-se a três principais teorias que procuram explicar, cada qual à sua maneira, essa relação nos eventos de causalidade múltipla, seja atribuindo responsabilidade a todos os agentes, indistintamente (teoria da equi-valência das condições), seja atribuindo-a a apenas um ou alguns deles (teoria da causalidade adequada) ou, ainda, a todos, mas no limite de sua participação (teoria dos danos diretos e imediatos), o que, evidentemente, leva a resultados práticos bastante diversos.Assim, para uma melhor compreensão da matéria, dividiremos este breve estudo em duas partes: uma teórica, para exposição das três teorias mencionadas, e outra de cunho estritamente prático, com as consequências principais de cada uma delas numa demanda indenizatória. Certamente este trabalho não visa oferecer uma resposta final e acabada sobre o assunto, já que, por sua extensão e complexidade, exigiria uma reflexão muito

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além da que estes comentários podem proporcionar. No entanto, se este breve apanhado de ideias puder fomentar no leitor algum interesse sobre o assunto, servindo de estímulo para um estudo mais aprofundado, teremos por atingido esse nosso propósito, qual seja, de se voltar uma maior atenção para o nexo causal nos eventos de causalidade múltipla.Teorias sobre o nexo causal nos eventos de causalidade múltiplaComo já mencionado, a doutrina nacional menciona três teorias que procuram estabelecer os limites do nexo causal: 1) teoria da equivalência das condições; 2) teoria da causalidade adequada; e 3) teoria dos danos diretos e imediatos.A primeira, também denominada teoria da conditio sine qua non, consiste em atribuir a qualidade de ‘causa’ a todo e qualquer fator que intervenha no resultado danoso. É a teoria adotada pelo art. 13 do Código Penal, embora nesse caso seja aplicada com algum limite (causa seria tudo o que contribui para o resultado, res-trita, no entanto, à existência do elemento subjetivo). Na seara privada essa teoria foi criticada por não ser capaz de distinguir as causas mais ou menos relevantes, conduzindo todos os fatores que influenciaram na perfectibilização do dano à cate-goria de causa. Nesse sentido, Washington de Barros Monteiro observa que ‘essa teoria é passível de várias críticas: ela amplia a noção de causalidade e, por via de consequência, a da própria responsabilidade. Não permite, outrossim, eliminar como irrelevantes senão as condições que se mostram ‘indiferentes’ à produção do dano. Desde que determinada condição, porém, se tornou necessária para que o dano surgisse, deverá ser ela admitida como ‘causa’ no sentido jurídico, apta a gerar a responsabilidade civil. O maior defeito da teoria é o de que ela não permite distinção alguma entre a maior ou menor eficácia, a maior ou menor proximidade das várias condições e assim, por aplicação da doutrina, chegar-se-á à responsa-bilização do agente pelas conseqüências muito remotas ou excepcionais de seus atos’.[...]A segunda, a teoria da causalidade adequada, diferentemente da teoria da equiva-lência das condições, pondera que ‘causa’ seria apenas o evento mais apto a gerar o dano na forma como se apresenta. Assim, embora tenha havido a participação de mais de um agente na causação do fato, apenas será responsabilizado quem praticou a conduta que levaria, pelo desenrolar esperado dos fatos, àquele resul-tado danoso. Raimundo Gomes de Barros, em primoroso artigo intitulado ‘Relação de causalida-de e dever de indenizar’, oferece exemplo bastante elucidativo que facilmente pode aclarar a questão: ‘[...] Se alguém retém ilicitamente uma pessoa que se aprestaria a tomar certo avião, e teve, afinal, de pegar um outro, que caiu e provocou a morte de todos os passageiros, enquanto o primeiro chegou sem incidente ao aeroporto de destino, não se poderá considerar a retenção ilícita do indivíduo como causa (jurídica) do dano ocorrido, porque, em abstrato, não era adequada a produzir tal efeito, embora se possa asseverar que este (nas condições em que se verificou) não teria se dado se não fora o fato ilícito. A ideia fundamental da doutrina é a de que há uma relação de causalidade adequada entre fato e dano quando o ato ilícito praticado pelo agente seja de molde a provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência comum da vida’.Apesar da proximidade dessa teoria com os limites traçados pelo art. 1.060 do CC, a doutrina que a rechaça observa a dificuldade de se abstrair, nessa hipótese, qual seria a conduta mais provável a gerar o dano, lembrando que o que é provável não é certo.E, por derradeiro, a teoria dos danos diretos e imediatos, também chamada de teoria da relação causal imediata, na tentativa de aglutinar as duas primeiras e aplicar seus princípios com alguma temperança, conclui que entre o ato ilícito e o

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dano deve existir uma relação de causa e efeito direta, respondendo cada agente tão somente por aquilo que resultou imediatamente de seu ato. Um exemplo de Wilson Melo da Silva, citado por Carlos Roberto Gonçalves, pode melhor elucidar a questão: ‘O agente primeiro responderia tão só pelos danos que se prendessem a seu ato por um vínculo de necessariedade. Pelos danos consequentes das causas estranhas responderiam os respectivos agentes. No clássico exemplo do acidenta-do que, ao ser conduzido em uma ambulância para o hospital, vem a falecer em virtude de tremenda colisão da ambulância com um outro veículo, responderia o autor do dano primeiro da vítima, o responsável pelo seu ferimento, apenas pelos prejuízos de tais ferimentos oriundos. Pelos danos da morte dessa mesma vítima em decorrência do abalroamento da ambulância, na qual era transportada ao hos-pital, com o outro veículo, responderia o motorista da ambulância ou o do carro abalroador, ou ambos. Mas o agente do primeiro evento não responderia por todos os danos, isto é, pelos ferimentos e pela morte’. Consequências práticas de cada uma das teoriasComo já dito na introdução deste trabalho, conforme se adote uma ou outra teoria, há resultados diversos para a responsabilização dos agentes envolvidos no fato, o que, evidentemente, deve influir, no aspecto prático, na propositura e nos inciden-tes do processo até a decisão final.Todavia, antes de adentrarmos às questões processuais, é curial uma rápida di-gressão acerca da partilha de responsabilidades entre os autores do dano, sem o que parte das conclusões restaria sem a devida explicação.Pois bem. Uma vez reconhecida a possibilidade de imposição do dever de indeni-zar a mais de uma pessoa pelo mesmo fato, não se pode deixar de definir se essa responsabilidade constituir-se-ia em obrigação conjunta ou solidária. Afinal, se conjunta, a demanda dirigida a apenas um dos responsáveis limitar-se-ia a conce-der apenas a sua cota-parte na indenização total, ao passo que, sendo solidária, a propositura da ação em face de um dos causadores do dano permitiria ao lesado o reclamo da verba in totum.A resposta a essa questão é expressamente fornecida pelo art. 1.518, in fine, do Código Civil, ao estabelecer que, ‘se tiver mais de um autor a ofensa, todos res-ponderão solidariamente pela reparação’. Trata-se, evidentemente, de uma norma de cunho protecionista com relação ao lesado, garantindo-lhe a possibilidade de escolher, dentre seus ofensores, aquele que melhor possa atender ao pleito inde-nizatório.Dessarte, uma vez constatada a solidariedade entre os agentes e, por conseguinte, a possibilidade de se demandar um ou outro ofensor, chega-se à primeira conse-quência prática da eleição de uma ou outra teoria, qual seja, a de que caberá ao autor primeiramente identificar quem são os responsáveis e, dentre eles, qual ou quais pretende demandar: se, por exemplo, ocorre um acidente automobilístico que causou lesões corporais na vítima, e esta, uma vez socorrida, foi para o hos-pital e ali veio a falecer em virtude do desabamento do teto, segundo a teoria da equivalência das condições, tanto o causador do acidente como o hospital serão coautores e, por isso, solidariamente responsáveis pelo dano; todavia, se aplicada a teoria da causalidade adequada, caberá exclusivamente ao hospital a respon-sabilidade pela morte, pelo que, caso a demanda seja dirigida contra o causador do acidente, deverá ser extinta por ilegitimidade ad causam passiva; e por último, adotando-se a teoria dos danos diretos e imediatos, o causador do acidente só poderá responder pelos danos resultantes da lesão e o hospital, pela morte, não se aplicando as regras da solidariedade.Ainda como consequência da solidariedade imposta pelo art. 1.518 do CC, uma segunda conclusão possível é a de que, uma vez proposta a ação em face de um ou alguns dos ofensores, os demais poderão (1) ser demandados em ação regres-siva autônoma, ou (2) ser chamados ao processo, conforme faculta o art. 77,

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III, do CPC, que assim dispõe: ‘É admissível o chamamento ao processo: [...] III – de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum’. Entretanto, como último comentá-rio, deve-se observar que tal expediente (chamamento ao processo) é vedado pelo art. 280, I, do CPC, que não admite, no rito sumário, a intervenção de terceiros, salvo a assistência, e na legislação especial, pelo art. 10 da Lei dos Juizados Es-peciais (Lei nº 9.099/1995).[...] Como foi possível notar pelos singelos exemplos acima elencados, o estudo do nexo causal nos eventos de causalidade múltipla vai muito além da teorização e se aplica, sem dúvida, a eventos corriqueiros do dia a dia; daí a nossa preocupação em enfatizar a necessidade de observação do fato não apenas da ótica do dano ou da conduta, mas, igualmente, da relação de causalidade, esperando, dessa forma, termos evidenciado a fundamental importância desse pressuposto na estrutura da responsabilidade civil.” (Breves comentários sobre o nexo causal nos eventos de causalidade múltipla. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 4 jun. 2013)

927 – Acidente do trabalho – pagamento de benefício previdenciário – inobservância das regras de proteção e segurança do trabalhador – ação regressiva – cabimento

“Previdenciário. Ação regressiva do INSS. Acidente de trabalho. Pagamento de benefício previdenciário. Inobservância das regras de proteção e segurança do trabalhador. Culpa do empregador constatada. Constituição de capital. Impossibilidade. 1. O INSS ajuizou a presente demanda com o objetivo de obter, regressivamente, a condenação da Ibi Plast do Nordeste Ltda. ME ao pagamento de todos os valores por ele despendidos, bem como dos que sobrevierem, em virtude da concessão de benefícios previdenciários (auxílio--doença e, posteriormente, auxílio-acidente) a segurado, em decorrência de acidente de trabalho. 2. Consoante art. 120 da Lei nº 8.213/1991, é assegurado o direito de regresso da Previdência Social contra os responsáveis em casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho. Para a caracterização da obrigação de in-denizar, exige-se a presença de certos elementos. São eles: (a) o fato lesivo; (b) o nexo de causalidade entre o eventus damni e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente e (c) o dano. 3. Na hipótese dos autos, todos os elementos neces-sários a configurar a responsabilidade da parte ré estão presentes. 4. De acordo com o relatório da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), no dia 13.05.2005, um trabalhador teve a sua mão direita lesionada por esmagamento, ocorrendo a amputação com perda das falanges média e distal dos 2º e 3º dedos, ao tentar retirar peça que estava presa na área do molde de máquina injetora de plásticos que operava. Os auditores do trabalho apontaram alguns fatores relacionados ao infortúnio, tais como: falha na antecipação de risco em decorrência do empregado ser novo na função e ausência de treinamento para realização das tarefas sem riscos de acidentes. 5. A ré foi negligente ao não proporcionar o treinamento específico e adequado ao funcionário recém-contratado (admitido em 01.02.2005) e que exercia função não habitual e de risco, bem como em não entregar todos os EPIs – Equipamentos de Proteção Individual necessários à execução da tarefa de operador de injetora, omitindo-se, portanto, na tomada de medidas de proteção in-dividual e coletiva no ambiente laboral. 6. Ressalte-se que, a despeito de a empresa ter realizado o PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Operacional, o PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e o PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, não há provas de que as medidas ali preconizadas te-nham sido, realmente, implementadas. Não restou demonstrado nos autos que a vítima recebeu os materiais de segurança para a função que exercia (operador de injetora de plástico), tampouco que recebeu o treinamento adequado para utilizá-los. 7. Comprova-

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dos a negligência da parte ré, o resultado lesivo para o INSS e o nexo causal entre a ação e o dano, deve ser reconhecida a responsabilidade da promovida no evento, impondo--se o dever de indenizar todos os gastos suportados pela Previdência em decorrência do acidente em questão, enquanto perdurar aquela obrigação. 8. No tocante ao pedido de constituição de capital, não deve ser acolhida a pretensão do INSS. É que, consoante os arts. 20, § 5º, e 475-Q do CPC, a constituição de capital apenas é cabível nas ações de indenização por ato ilícito que incluir prestação de alimentos, não sendo este o caso dos autos. 9. Apelação parcialmente provida.” (TRF 5ª R. – AC 2007.81.00.006367-0 – (558264/CE) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. Francisco Cavalcanti – DJe 11.07.2013 – p. 161)

Comentário Editorial SÍNTESEA matéria abordada no acórdão em destaque diz respeito à propositura de ação regressiva pelo INSS:Os dispositivos da Lei nº 8.213/1991, rezam:“Art. 120. Nos casos de negligência quanto às normas padrão de segurança e higiene do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva, a Previdência Social proporá ação regressiva contra os responsáveis.Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das prestações por acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem.”O direito de o INSS ingressar com a ação nascerá com o pagamento ao segurado do benefício de auxílio-doença decorrente do acidente do trabalho sofrido por ele.No caso, a propositura da ação se deu pelo fato de a empresa não ter observado as Normas de Segurança e Medicina do Trabalho.O Procurador Federal Miguel Horvath Junior pondera:“A ação regressiva tem natureza indenizatória, visando reparar o dano causado pelo empregador ou por terceiro. A ação é de direito comum. Lembrando-nos que a Justiça Comum abrange tanto a Justiça Federal, quanto as Justiças Ordinárias dos Estados. O direito de regresso do INSS é direito próprio, independentemente do trabalhador ter ajuizado ação de indenização contra o empregador causador do acidente de trabalho. Não sendo possível compensar a verba recebida na ação acidentária com a devida na ação civil, pois as verbas têm naturezas distintas. As indenizações são autônomas e cumuláveis.A responsabilidade civil que fundamenta a ação regressiva surge em virtude do não cumprimento (omissivo ou comissivo) das normas de prevenção, caracterizando o ato ilícito (aquele praticado em desacordo com a norma jurídica destinada a proteger interesses alheios; é o que viola o direito subjetivo individual causando prejuízo a outrem, criando o dever de reparar tal lesão). O ato ilícito caracteriza-se por ação ou omissão voluntária.A responsabilidade no caso é subjetiva, ou seja, para sua caracterização é neces-sária a comprovação da culpa ou dolo do empregador. A responsabilidade civil subjetiva tem como seu fato gerador o ilícito. O ilícito pode ser definido como con-duta omissiva ou comissiva que se afastou do conceito de bonus pater familias, gerando a obrigação da reparação.O dever de ressarcir os danos gerados pela prática de atos ilícitos decorre da culpa em sentido amplo e estrito. A culpa, em sentido amplo, deve ser entendida como violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato inten-cional ou de omissão de diligência ou de cautela complementar e incluiu o dolo (intenção de causar a violação do dever jurídico). Já a culpa em sentido estrito compreende a imperícia, impudência e a negligência.A proteção contra acidentes de trabalho ao ser transferida para a sociedade trans-formou-se em seguro social. Cabe ao INSS propor ação regressiva, reconhecendo que a autarquia previdenciária, enquanto órgão da Administração Pública indireta,

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age sempre visando o bem da coletividade, não podendo utilizar-se do princípio da disponibilidade do patrimônio público.[...]Conquanto este instrumento ainda não esteja sendo utilizado em larga escala, já surte efeitos como v.g., a exigência das grandes seguradoras de documentos que comprovem a adoção de medidas preventivas visando garantir a incolumidade do trabalhador e a melhoria do meio ambiente laboral.A ação regressiva seria um instrumento para forçar o cumprimento das normas de segurança e higiene laboral, pois muitas vezes os empresários preferem não assumir o risco da responsabilidade do risco e melhorar as condições do meio ambiente laboral, certos que dificilmente sofrerão as conseqüências destes atos em face da ineficiência ou inoperância da máquina estatal em cobrar-lhes a sua cota de responsabilidade, sendo beneficiados por esta conjuntura estatal desfavorável.Estatísticas da OIT (Organização Internacional do Trabalho) informam que na Amé-rica Latina ocorrem cerca de 2 milhões de acidentes de trabalho por ano. A nível mundial, a cada ano são registrados 160 milhões de novos casos de enfermidades laborais, consumindo cerca de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Se-gundo estas estatísticas, a maioria dos acidentes de trabalho ocorridos se devem a causas evitáveis e especialmente à falta de motivação e conhecimento. A proteção dada pelos sistemas previdenciários aos segurados que sofreram acidente de tra-balho deveria ir além da reabilitação profissional, indo até a obrigação de recoloca-ção do reabilitado na empresa lesante, tendo em vista que inexiste na maioria das convenções coletivas de trabalho previsão de direito à reintegração e estabilidade definitiva por moléstia profissional ou acidente-tipo de forma mais abrangente (a previsão da estabilidade provisória do art. 118 da Lei nº 8.213/1991 é meramen-te paliativa).” (Ação regressiva em ação acidentária. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 22 jul. 2013)

928 – Acidente do trabalho – segurado carpinteiro – queda de telhado – lesão do man-guito rotador do ombro esquerdo – incapacitação temporária – benefício devido

“Previdenciário. Ação acidentária. Acidente de trabalho. Segurado. Carpinteiro. Queda de telhado durante a jornada de trabalho. Lesão do manguito rotador do ombro es-querdo. Incapacitação temporária para o exercício de atividade laborativa. Afirmação. Lesões. Consolidação. Sequelas. Aferição. Incapacidade laborativa parcial e permanente para o exercício do trabalho habitual e para o desempenho de atividades que exijam abdução de braço acima da linha do ombro, carregamento de peso ou uso de força com membros superiores. Auxílio-doença acidentário. Concessão. Capacidade laborativa re-sidual. Aferição. Reingresso no mercado de trabalho. Possibilidade. Encaminhamento a programa de reabilitação profissional. Necessidade como medida antecedente a even tual aposentação. 1. A concessão do auxílio-doença acidentário exige a comprovação por aquele que o reclama da ocorrência do acidente que o vitimara e afetara sua capacidade laborativa, o dano, que é representado pela lesão que refletira na sua capacidade, o nexo de causalidade enlaçando o sinistro ou a enfermidade que o acometera às atividades profissionais desempenhadas e, por fim, a perda temporária da sua capacidade de tra-balho. 2. Emergindo do acervo probatório elementos que conferem lastro à aferição da origem etiológica das lesões que afligem o segurado e afetam sua capacidade laborativa, resplandecendo que são originárias do acidente de trabalho que o vitimara, assiste-lhe o direito de fruir do auxílio-doença acidentário desde a aferição da restrição laborativa até que recupere a capacidade para o exercício da atividade habitual, ou seja reabilitado em outra atividade profissional que lhe garanta a subsistência ou, caso considerado irrecu-perável, seja aposentado por invalidez. 3. Apurado que as lesões que afetaram o obreiro

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o incapacitaram definitivamente para o exercício de suas atividades habituais, não o in-capacitando, contudo, completamente de forma a ensejar sua aposentação, deve ser in-cluído em programa de reabilitação profissional de forma a ser readaptado em atividade compatível com a capacidade que lhe remanesce, notadamente porque a aposentadoria por incapacidade tem como premissa a completa e integral incapacitação do segurado. 4. Concluído o programa de reabilitação profissional com êxito, resultando na reinserção do segurado no mercado de trabalho, cessa o fato gerador do auxílio-doença que lhe fora destinado, devendo-lhe, em contrapartida, ser assegurada a fruição de auxílio-acidente a partir do dia seguinte à cessação daquele benefício, à medida que, conquanto não sido acometido por sequelas que determinassem sua completa e integral incapacitação, a redução da sua capacidade laborativa decorrente do acidente laboral que o afetara, refletindo na contraprestação remuneratória que auferirá, enseja que seja contempla-do com a compensação indenizatória assegurada pelo legislador (Lei nº 8.213/1991, art. 86). 5. Submetendo-se o obreiro a programa de reabilitação profissional que o repute irrecuperável e impassível de reabilitação em atividade laborativa que lhe garanta a sub-sistência, deixará de perceber o auxílio-doença acidentário que lhe fora deferido e será contemplado com a aposentadoria por invalidez acidentária, que lhe será devida a partir do dia imediatamente seguinte ao da cessação daquele benefício, conforme disciplina normativa encartada nos arts. 62 e 43, caput, ambos da Lei nº 8.213/1991. 6. Apelação e remessa necessária conhecidas e parcialmente providas. Unânime.” (TJDFT – Proc. 20110110393770 – (682183) – Rel. Des. Teófilo Caetano – DJe 10.06.2013 – p. 61)

929 – Aposentadoria – certidões de tempo de serviço expedidas – cancelamento pela administração 14 anos depois – ofensa ao princípio da segurança jurídica – con-figuração

“Administrativo. Servidor público. Cancelamento de ato de aposentadoria pela admi-nistração. Indenização de contribuições previdenciárias referentes a tempo de serviço rural para fins de contagem recíproca. Exigibilidade. Decisão do Tribunal de Contas da União. Em face do princípio da segurança jurídica, a garantir a estabilidade das relações jurídicas, não se afigura razoável o cancelamento administrativo de certidões de tempo de serviço já expedidas e, consequentemente, da aposentadoria estatutária concedida ao impetrante, mediante a utilização de tempo de serviço rural reconhecido, certificado e averbado pelo INSS, independentemente de prévio aporte contributivo (art. 201, § 9º, da CF, antes art. 202, § 2º, da CF), ainda que sob o fundamento da exigibilidade de inde-nização (pretérita) das respectivas contribuições, para fins de contagem recíproca. Com efeito, o cumprimento da decisão do TCU em 2008, quatorze anos depois de emitidas as CTSs, implica a quebra da confiança, que deve pautar toda e qualquer relação jurídica, sobretudo na hipótese em que há alteração de interpretação conferida pela Administra-ção Pública à legislação de regência. Malgrado a indenização das contribuições previ-denciárias seja devida (art. 96, inciso V, da Lei nº 8.213/1991), a Administração Pública dispõe de meios próprios para perseguir o seu crédito. Por exemplo, a ação de cobrança, não constituindo medida adequada o uso de meios coercitivos indiretos, para alcançar esse desiderato. Não obstante esse entendimento, ao analisar situação fática semelhante à de que tratam os autos, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a legalidade do ato administrativo de cancelamento de aposentadoria, fundada em decisão do Tribunal de Contas da União, anos após a concessão do benefício, ante a ausência de indenização do período de labor rural (contribuições previdenciárias), cuja exigibilidade é incontro-versa.” (TRF 4ª R. – Ap-RN 2008.70.00.019159-1/PR – 4ª T. – Relª Juíza Fed. Vânia Hack de Almeida – DJe 05.04.2013 – p. 315)

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Transcrição Editorial SÍNTESEConstituição Federal:“Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; (Redação dada pela Emen-da Constitucional nº 20, de 1998)III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º. (Redação dada pela Emenda Cons-titucional nº 20, de 1998)[...]§ 9º Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão finan-ceiramente, segundo critérios estabelecidos em lei. (Incluído dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)”

930 – Aposentadoria – renúncia para fins de aproveitamento do tempo de contribui-ção e concessão de novo benefício mais vantajoso – impossibilidade

“Apelação em mandado de segurança. Previdenciário. Aposentadoria. Renúncia para fins de aproveitamento do tempo de contribuição e concessão de novo benefí-cio mais vantajoso. Impossibilidade. Sentença denegatória da segurança mantida. Re-curso não provido. Des. Fed. Messod Azulay Neto, Relator 2ª Turma Especializada.” (TRF 2ª R. – AC 2012.51.01.102742-3 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Messod Azulay Neto – DJe 14.06.2013)

Comentário Editorial SÍNTESETrata-se de apelação cível interposta pela segurada, que julgou improcedente o pedido e denegou a segurança requerida pela impetrante para que fosse reconhe-cido o direito à renúncia à sua aposentadoria, assim como à concessão de uma nova aposentadoria mais vantajosa, sem a necessidade de devolução de valores pagos pelo INSS.O instituto em destaque diz respeito à desaposentação.O instituto da desaposentação, de acordo com a melhor doutrina e jurisprudência, é o ato de o segurado, já contemplado pelo benefício previdenciário, exercitar seu direito de renunciar ao benefício.Essa temática é fruto de mais uma construção doutrinária e jurisprudencial, não havendo amparo legal em nosso ordenamento jurídico.Um dos pontos mais controvertidos do tema diz respeito à necessidade ou não da devolução das mensalidades recebidas em razão da aposentadoria renunciada. Para alguns juristas e Tribunais, é essencial a devolução do montante recebido para que a desaposentação seja sustentável, sendo imprescindível o restabelecimento do status quo ante. Já para outros, a parcela tem caráter alimentar não sendo possível a sua devolução.

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Em notícia publicada, recentemente, o Projeto de Lei do Senado nº 91/2010, de autoria do Senador Paulo Paim, permite a renúncia da aposentadoria, para recál-culo do benefício. O novo texto assegura a contagem do tempo de contribuição e recálculo do benefício para uma nova aposentadoria. Para o Advogado Luiz Fernando S. Dória Junior admite-se:“Desaposentação é ato administrativo formal, vinculado, provocado pelo interes-sado, o qual almeja ao desfazimento da manutenção das mensalidades da apo-sentadoria, compreendendo a desistência com declaração oficial desconstitutiva. ‘Desistência correspondendo à revisão jurídica do deferimento da aposentadoria anteriormente outorgada ao segurado’.[...]O desfazimento do benefício – aposentadoria – reclama a exteriorização da vontade do requerente, o qual deseja voltar ao status quo ante e concretizar um direito personalíssimo de refazer a situação jurídica anterior à aposentadoria. A desapo-sentação é ato pessoal que depende exclusivamente da vontade expressa do titular do direito, sendo preferível que ele pessoalmente a manifeste por escrito.Outrossim, desaposentar-se é direito subjetivo do titular da relação jurídica de pre-vidência social, envolvendo praticamente as mesmas pessoas da concessão, órgão gestor e titular do direito, o qual pode almejar a portar o tempo de serviço para outro regime. Independe da vontade da administração, tendo em vista que se trata de ato unilateral impulsionado exclusivamente pelo interessado.[...]Mediante a concretização do ato da desaposentação, há a desconstituição do es-tado jurídico de jubilado, retornando a pessoa à condição de não aposentado. Trata-se do exercício de um direito subjetivo, razão pela qual e, em face da defini-tividade da prestação previdenciária, não há desaposentação de ofício.Urge evidenciar que não se trata de anulação nem de nulidade, visto que a con-cessão da aposentadoria observava as regras legais e caracterizava o ato jurídico perfeito. Há a constituição de um novo status jurídico: de desaposentado.Na desaposentação, cessam a manutenção e o pagamento das mensalidades, o benefício antes concedido finda-se e o tempo de serviço é portado para o mesmo ou outro regime.Ademais, cumpre destacar que o segurado terá a aposentadoria cancelada caso este retorne ao labor, sem prejuízo do tempo de serviço anterior. ‘Prosseguindo com as contribuições, terá direito adiante (a rigor, até mesmo a uma nova aposentadoria por invalidez)’.De regra, o principal objetivo do desaposentando é portar o tempo de serviço ou de contribuição do regime de origem para outro regime de previdência social. Normalmente, do Regime Geral da Previdência Social para o regime próprio da previdência social.[...]Outrossim, calha destacar a recente decisão do col. STJ em processo julgado em 08.05.2013, quando restou confirmado que o aposentado tem o direito de renun-ciar ao benefício para requerer nova aposentadoria em condição mais vantajosa, e que para isso ele não precisa devolver o dinheiro que recebeu da previdência. Seguem trechos abaixo, in verbis:‘Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares, dispensando-se a devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja renunciar para a con-cessão de novo e posterior jubilamento. [...] A não devolução de valores do bene-fício renunciado acarreta utilização de parte do mesmo período contributivo para pagamento de dois benefícios da mesma espécie, o que resulta em violação do

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princípio da precedência da fonte de custeio, segundo o qual nenhum benefício pode ser criado, majorado ou estendido sem a devida fonte de custeio.’ (REsp 1334488, Rel. Min. Herman Benjamin, J. 08.05.2013)Destarte, embora seja um tema bastante recente, a jurisprudência pátria, espe-cialmente o Tribunal de Contas da União e o Superior Tribunal de Justiça, já vem reconhecendo o direito dos segurados à desaposentação.” (A desaposentação e a não obrigatoriedade da devolução das parcelas recebidas. Revista SÍNTESE Direito Previdenciário, Porto Alegre, a. XII, n. 54, p. 105, maio/jun. 2013)

931 – Aposentadoria por idade rural – ausência dos requisitos legais – pagamento in-devido

“Processo civil. Previdenciário. Aposentadoria por idade rural. Ausência dos requisi-tos legais. Vínculo urbano em nome do esposo. Agravo legal improvido. Para obten-ção da aposentadoria por idade rural no valor de um salário-mínimo, exige-se a idade de 55 anos, se mulher, e 60 anos, se homem e o efetivo exercício de atividade rural, ainda que descontínua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefí-cio, por tempo igual ao número de meses idêntico à carência do benefício em questão (arts. 48, 142 e 143, da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991). Para os rurícolas, dispensa--se a comprovação de recolhimentos de contribuições, sendo suficiente a prova da idade mínima e do exercício de atividade rural, dentro do período estabelecido no art. 142 da referida lei. O entendimento jurisprudencial, no que diz respeito ao reconhecimento do labor rurícola, atina-se no sentindo de que é insuficiente apenas a produção de prova testemunhal, salvo na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no regulamento (art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/1991), mas requer a existência de início de prova material, corroborado por robusta prova testemunhal para demonstração da atividade rural. Desnecessário que a prova material abranja todo o período imedia-tamente anterior ao requerimento do benefício, desde que a prova testemunhal seja robusta, permitindo sua vinculação ao tempo de carência. Em relação à possibilidade de extensão do início de prova material a outro integrante do grupo familiar, também já se encontra pacificado o entendimento no âmbito do eg. STJ. O requisito etário restou preenchido em 1996 (fls. 33), anteriormente, portanto, ao ajuizamento da ação. A parte autora apresentou certificado de cadastro de imóvel rural relativo aos anos de 2003/2005 (fls. 32); cópia da ação de usucapião proposta por Luiz Toesca e outros, entre eles os herdeiros de Pedro Toesca, falecido marido da autora, para aquisição de terras por eles ocupadas há mais de 20 anos (fls. 34/44); recibos relativos à venda dos bens hereditários deixados por Cirilo Toesca, para Luiz Toesca, pelos demais herdeiros, nos anos de 1973, 1976 e 1980 (fls. 45/49); contrato de compra de uma gleba rural, firmado por Luis Toesca no ano de 2003 (fls. 53/55); documentos relativos à aquisição de terras rurais por Cirilo Toesca, sogro da autora, nos anos de 1923 e 1944 (fls. 56/76). O início de prova material se resume apenas a documentos que comprovam a posse de um imóvel rural por parte do marido da autora. De outro lado, na certidão de casamento juntada a fls. 33, relativa ao ano de 1963, o marido aparece qualificado como ‘do comércio’. Ademais, os extratos do CNIS, juntados a fls. 99/100 demonstram que ele possuiu vínculo como ceramista duran-te 12 anos, até 1982. Por fim, o marido da autora faleceu em 1987 (fls. 33). Embora a au-tora receba pensão por morte de trabalhador rural, em função da aposentadoria do mari-do, o fato é que não há nenhum documento nos autos qualificando o mesmo, em algum momento, como trabalhador rural, o que torna impossível analisar desde quando e em que condições ele exerceu atividade rural. Saliente-se que a mera posse de uma proprie-dade não indica a que tipo de finalidade ela atende, de modo que não há como afirmar

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que a autora e a família dela trabalhem em regime de economia familiar, o qual se baseia numa produção rudimentar para subsistência, podendo incluir o comércio de pequenas quantidades dos excedentes da produção. O acervo probatório colacionado nada trouxe neste sentido. Por sua vez, a prova testemunhal foi vaga visto que a primeira testemunha não soube dizer no que o marido da autora trabalhava e a segunda afirmou que ele traba-lhava numa olaria, da qual o depoente comprou tijolos, e nunca viu os filhos e o marido da autora trabalhando na roça. Assim, infere-se desta prova que a autora vivia em área rural e até cultivava alguns gêneros, no entanto, o marido possuía outra fonte de renda e quanto aos filhos, não ficou demonstrado se atuavam na atividade rural da propriedade dos pais. De acordo com o art. 11, §§ 1º e 9º, da Lei nº 8.213/1991, não restou caracte-rizada a economia familiar. Portanto, não restou preenchido o requisito da carência exi-gido, nos termos adrede ressaltado, para fins de concessão da aposentadoria por idade rural. Isso porque a lei exige comprovação de atividade rural em período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou implemento do requisito etário, de modo que a carência não restou satisfeita (90 meses de contribuição exigidos para 1996, ex vi, do art. 142 da Lei nº 8.213/1991). Ausentes os requisitos, indevido o benefício pretendi-do. Agravo legal improvido.” (TRF 3ª R. – Ag-Ap-RN 0023646-78.2009.4.03.9999/SP – 7ª T. – Relª Desª Fed. Mônica Nobre – DJe 26.06.2013)

Comentário Editorial SÍNTESECuida de acórdão proferido pelo TRF da 3ª Região reconhecendo a ausência de requisitos para a concessão do benefício de aposentadoria por idade do rurícola.A aposentadoria do rurícola está prevista no art. 48, § 1º, da Lei nº 8.213/1991, cuja redação é a seguinte:“Art. 48. [...]§ 1º Os limites fixados no caput são reduzidos para sessenta e cinqüenta e cin-co anos no caso de trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea g do inciso V e nos incisos VI e VII do art. 11. (NR) (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.876, de 26.11.1999, DOU 29.11.1999)§ 2º Para os efeitos do disposto no § 1º deste artigo, o trabalhador rural deve comprovar o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontí-nua, no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício, por tempo igual ao número de meses de contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computado o período a que se referem os incisos III a VIII do § 9º do art. 11 desta lei. (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 11.718, de 20.06.2008, DOU 23.06.2008)§ 3º Os trabalhadores rurais de que trata o § 1º deste artigo que não atendam ao disposto no § 2º deste artigo, mas que satisfaçam essa condição, se forem considerados períodos de contribuição sob outras categorias do segurado, farão jus ao benefício ao completarem 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e 60 (sessenta) anos, se mulher. (Parágrafo acrescentado pela Lei nº 11.718, de 20.06.2008, DOU 23.06.2008)[...].”Acerca do tema, o Professor Wladimir Novaes Martinez leciona:“O trabalhador rural evidenciará ter 60 anos de idade, e isso é feito habitualmente com a certidão de nascimento, também valendo a certidão de casamento em que constar a data do nascimento. A trabalhadora rural precisará demonstrar ter 55 anos de idade, convencendo o INSS mediante os mesmos meios de prova.As normas administrativas passam ao largo do conceito de trabalhador rural, pre-sumindo que seja fácil a determinação, o que não é verdade. Elas não fixam há

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quanto tempo ele precisa estar ocupado com as lides rurícolas. Até que reforcem essa exigência, a anotação da ocupação na CTPS e a atividade exercida pelo em-pregador serão bastante.Mesmo sem contribuição, até 17 anos depois de 24.07.1991 ainda é devida a aposentadoria por idade igual ao salário mínimo (MP 316/2006). O STJ vem estendendo à esposa, quando prova o trabalho em regime de economia familiar, o direito ao benefício, mesmo que o marido o receba.Aqui se situa o maior problema sociológico, pré-jurídico e hermenêutico da pre-vidência social: direito dos rurícolas ao benefício mínimo ‘sem terem contribuído’ [sic] e a enorme dificuldade dos obreiros de provarem o trabalho rural. É impos-sível relacionar ou citar as dezenas de milhares de decisões do STJ a respeito de cada caso particular, quando uma prova tênue (inerente ao habitat) é aceita ou não.O Repertório de Jurisprudência IOB registra centenas de decisões a respeito, como é o caso da extensão do direito supra-referido à esposa do marido rurícola (nºs 2/24512, 2/24467, 2/24271, 2/23549, 2/23361), bem como os casos de diarista esposa do segurado especial (nº 2/23692), direito existente à rurí-cola diarista com depoimento apenas testemunhal (nº 2/24466), possibilidade de perda da qualidade de segurado não afetar o direito (nºs 2/24317, 2/24222, 2/22444, 2/24128, 2/23075), carência integralizada após a perda da qualidade de segurado (nº 2/23407), inexistência da necessidade do esgotamento da via administrativa (nº 2/24223), imóvel qualificado como latifúndio por exploração (nº 2/24076), registro civil servindo como início de prova material (nº 2/23880), benefício indevido em virtude de fraude na anotação da CTPS (nº 2/23787), cer-tidão de casamento como prova do trabalho (nºs 2/23785 e 2/23266), certidão de casamento insuficiente como meio prova (nº 2/23503), subsistência do direito com base no depoimento testemunhal (nº 2/23691).” (Aposentadoria por idade. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 18 jun. 2013)

932 – Aposentadoria por invalidez – acréscimo de 25% – assistência permanente – comprovação – termo inicial

“Previdenciário. Aposentadoria por invalidez. Majoração de aposentadoria por invali-dez. Acréscimo de 25%. Assistência permanente comprovada. Termo inicial. Honorá-rios advocatícios. Comprovada a incapacidade total e permanente é devida a concessão de aposentadoria por invalidez, a contar do indeferimento administrativo. Devidamente comprovada à necessidade de assistência permanente de terceiros para a realização de atividades diárias, é devido o acréscimo de 25% à aposentadoria por invalidez desde a data da sua concessão.” (TRF 4ª R. – Ap-Reex 0002616-18.2013.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Néfi Cordeiro – DJe 05.06.2013)

933 – Aposentadoria por tempo de contribuição – professor – comprovação do perío-do – pagamento devido

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de contribuição. Professor. Comprovação. Juros de mora. Honorários advocatícios. 1. Comprovado o exercício da atividade de professora por mais de 30 (trinta) anos, devida a concessão do benefício de aposenta-doria especial por tempo de contribuição ao professor, a partir da data do requerimento administrativo, datado de 26.06.2009 (fl. 136), nos termos do art. 201, § 8º, da Consti-tuição Federal c/c o art. 142, da Lei nº 8.213/1991, ressalvada a prescrição qüinqüenal. 2. O col. STJ já decidiu que a declaração de ex-empregador, bem como, a certidão por ele expedida, podem servir como início de prova material para comprovar a atividade laboral (STJ, AGA, Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 493545/SP, Relª

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Min. Laurita Vaz, Julg. 17.06.2003, DJ 04.08.2003, p. 385). 3. A obrigação do recolhi-mento de contribuições previdenciárias é do empregador, nos termos do art. 30, I, a e b, da Lei nº 8.212/1991. 4. Atualização monetária de acordo com os índices do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal e juros de mora de 1% ao mês a partir da citação válida (Súmula nº 204 do STJ). 5. Honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, observando-se ao dis-posto na Súmula nº 111 do STJ. 6. Apelação e remessa oficial improvidas.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0003429-86.2011.4.05.9999 – (18425/PB) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Marcelo Navarro Ribeiro Dantas – DJe 03.06.2013 – p. 196)

934 – Aposentadoria por tempo de serviço – exposição a agentes biológicos – conver-são de tempo especial em comum – hipótese de admissibilidade

“Previdenciário. Aposentadoria por tempo de serviço. Atividade especial. Exposição a agentes biológicos. Conversão de tempo especial em comum. Requisitos implementa-dos. Aposentadoria especial é devida aos segurados que trabalhem sob efeito de agentes nocivos, em atividades penosas, insalubres ou perigosas. Para o trabalho exercido até o advento da Lei nº 9.032/1995, bastava o enquadramento da atividade especial de acordo com a categoria profissional a que pertencia o trabalhador, segundo os agentes nocivos constantes nos róis dos Decretos nºs 53.831/1964 e 83.080/1979, cuja relação é con-siderada como meramente exemplificativa. Com a promulgação da Lei nº 9.032/1995 passou-se a exigir a efetiva exposição aos agentes nocivos, para fins de reconhecimento da agressividade da função, através de formulário específico, nos termos da lei. Somente após a edição da MP 1.523, de 11.10.1996, tornou-se legitimamente exigível a apresen-tação de laudo técnico a corroborar as informações constantes nos formulários SB 40 ou DSS 8030. Legislação aplicável à época em que foram prestadas as atividades, e não a do momento em que requerida a aposentadoria ou implementadas as condições legais necessárias. Conversão do tempo especial em comum. Possibilidade. Lei nº 6.887/1980, mantida pela Lei nº 8.213/1991 (art. 57, § 5º), regulamentada pela Lei nº 9.711/98 e pelo Decreto nº 2.782/1998. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. Atividade especial comprovada por meio de formulários e de laudos técnicos que atestam a exposição do autor a agentes biológicos no exercício da função de atendente de enfermagem, conso-ante Decretos nºs 53.381/64, 83.080/79 e 2.172/97. Reconhecimento de atividade espe-cial nos períodos de 04.01.1976 a 20.01.1979, 25.01.1979 a 11.07.1980, 01.09.1980 a 22.05.1981, 16.06.1981 a 03.03.1983, 03.05.1983 a 01.10.1983, 21.10.1983 a 09.02.1984, 11.02.1984 a 26.01.1987, 01.10.1987 a 03.02.1988, 04.02.1988 a 22.05.1989 e de 01.02.1989 a 14.10.1999. Períodos trabalhados em atividades comuns e especiais totalizando 31 anos, 01 mês e 18 dias até 15.12.1998. Impossibilidade de cômputo do tempo trabalhado após a EC 20/98 para o cálculo do coeficiente do be-nefício, ante o não cumprimento da exigência contida no inciso I, combinado com o § 1º do art. 9º da Emenda Constitucional nº 20/98. Renda mensal inicial correspondente a 76% do salário de benefício. Termo inicial fixado na data do requerimento adminis-trativo (09.05.2000). Correção monetária das parcelas vencidas se dará nos termos da legislação previdenciária, bem como da Resolução nº 134, de 21 de dezembro de 2010, do Conselho da Justiça Federal, que aprovou o Manual de Orientação de Procedimentos para os cálculos na Justiça Federal. Juros de mora devidos à razão de 6% (seis por cento) ao ano, contados a partir da citação, nos termos do art. 219 do Código de Processo Civil. A partir da vigência do novo Código Civil, Lei nº 10.406/2002, deverão ser computa-dos nos termos do art. 406 deste diploma, em 1% (um por cento) ao mês, nesse caso até 30.06.2009. A partir de 1º de julho de 2009, incidirão, uma única vez, até a conta

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final que servir de base para a expedição do precatório, para fins de atualização mo-netária e juros, os índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009. Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, consoante o disposto no art. 20, §§ 3º e 4º, do Código de Processo Civil, considerando as parcelas vencidas até a data da sentença, nos termos da Súmula nº 111 do Superior Tribunal de Justiça. Sendo o autor beneficiário da assistência judiciária gratuita e figuran-do no pólo passivo autarquia federal, não há incidência de custas processuais. Embora devidas despesas processuais, a teor dos arts. 11 da Lei nº 1.060/1950 e 27 do Código de Processo Civil, não ocorreu o efetivo desembolso. Remessa oficial e apelação do INSS parcialmente providas para reconhecer o caráter especial das atividades realizadas ape-nas nos períodos de 04.01.1976 a 20.01.1979, 25.01.1979 a 11.07.1980, 01.09.1980 a 22.05.1981, 16.06.1981 a 03.03.1983, 03.05.1983 a 01.10.1983, 21.10.1983 a 09.02.1984, 11.02.1984 a 26.01.1987, 01.10.1987 a 03.02.1988, 04.02.1988 a 22.05.1989 e de 01.02.1989 a 14.10.1999, com possibilidade de conversão. Apelação do autor provida para condenar o réu ao pagamento de aposentadoria por tempo de ser-viço proporcional (76% do salário de benefício), ante a apuração de 31 anos, 01 mês e 18 dias, desde o requerimento administrativo (09.05.2000). Devida a gratificação natali-na. Correção monetária e de juros de mora, nos termos acima preconizados. Honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, considerando as prestações vencidas até a sentença. Sem condenação em custas e despesas processuais.” (TRF 3ª R. – AC 0011577-32.2004.4.03.6105/SP – 8ª T. – Relª Desª Fed. Therezinha Cazerta – DJe 18.07.2013 – p. 732)

935 – Auxílio-acidente – possibilidade de cumulação com aposentadoria por invalidez – fato gerador diverso – sequela incapacitante anterior à modificação legislativa – benefício devido

“Previdenciário. Restabelecimento. Auxílio-acidente. Possibilidade de cumulação com aposentadoria por invalidez. Fato gerador diverso. Sequela incapacitante anterior à mo-dificação legislativa. Honorários advocatícios. Súmula nº 111 do STJ. Critérios dos juros de mora. 1. Trata-se de cancelamento de benefício de auxílio-acidente, concedido em 1982, em função da impossibilidade de cumulação com o benefício de aposentado-ria por invalidez, concedido em 2006, nos termos dos §§ 2º e 3º do art. 86 da Lei nº 8.213/1991. 2. Foi solicitado, pelo Juízo a quo, que a autarquia previdenciária se ma-nifestasse acerca dos fatos geradores que motivaram a concessão dos benefícios, não res-tando demonstrado que se tratava da mesma causa incapacitante, impeditiva da cumula-ção. 3. Verifica-se, também, que a sequela que reduziu a capacidade laborativa do autor é anterior à modificação legislativa perpetrada pela Lei nº 9.528/1997, não podendo ser prejudicado o seu direito adquirido. 4. A matéria já está inclusive decidida no âmbito da administração previdenciária, de acordo com a Súmula nº 44 da AGU, a qual dispõe que é permitida a cumulação do benefício de auxílio-acidente com benefício de aposenta-doria quando a consolidação das lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, que resulte sequelas definitivas, nos termos do art. 86 da Lei nº 8.213/1991, tiver ocor-rido até 10 de novembro de 1997, inclusive, dia imediatamente anterior à entrada em vigor da Medida Provisória nº 1.596-14, convertida na Lei nº 9.528/1997, que passou a vedar tal acumulação. 5. As Turmas da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça já se manifestaram no sentido de que o auxílio suplementar, previsto na Lei nº 6.367/1976, foi incorporado pelo auxílio-acidente, após o advento da Lei nº 8.213/1991. Tendo a apo-sentadoria sobrevindo em data anterior à Lei nº 9.528/1997, que vedou a possibilidade

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de cumulação dos benefícios, a regra proibitiva não a alcança, em respeito ao princípio do tempus regit actum. 6. É devido o restabelecimento do benefício de auxílio-acidente. 7. Os honorários advocatícios devem ser mantidos em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, devendo, entretanto, sua incidên-cia ser limitada às parcelas vencidas nos termos da Súmula nº 111 do STJ. 8. Os juros moratórios e a correção monetária serão devidos, respectivamente, no percentual de 1% ao mês e pelos índices da legislação previdenciária, sendo os primeiros até a entrada em vigor do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, sendo a partir daí nos seguintes termos: ‘As condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança’. 9. Apelação parcialmente provida, apenas para determinar os critérios dos juros de mora e estabelecer a observância da Súmula nº 111 do STJ.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 0002078-10.2013.4.05.9999 – (27850/PB) – 4ª T. – Rel. Des. Fed. Rogério Fialho Moreira – DJe 12.07.2013 – p. 172)

936 – Auxílio-acidente – reabilitação profissional – vista pessoal – Fazenda Pública – prazo em dobro – intempestividade

“Previdenciário. Apelação. Ação acidentária. Auxílio-doença acidentário. Auxílio-aci-dente. Reabilitação profissional. Vista pessoal. Fazenda Pública. Prazo em dobro. In-tempestividade. 1. A admissibilidade dos recursos está subordinada ao preenchimento de certos requisitos, ou pressupostos. Uns são objetivos, dizem respeito ao recurso em si mesmo, objetivamente considerado; outros são subjetivos, dizem respeito à pessoa do recorrente. 2. No caso, o procurador do INSS foi intimado pessoalmente da sentença em 26 de novembro de 2012 (segunda-feira) (fl. 209), tendo a contagem do prazo recursal se iniciado em 27 de novembro do mesmo ano, (terça-feira). Sendo de 30 dias o prazo para a interposição de apelação pelo INSS, por gozar ele da prerrogativa do prazo em dobro, e tendo em vista e suspensão do prazo recursal pelo recesso forense, o termo final do recurso ocorreu em 14 de janeiro de 2013 (segunda-feira). Assim, tendo o apelo sido interposto em 15 de janeiro de 2013 (fls. 211/215), é induvidosa a sua intempestivida-de. 3. Por força do art. 17 da Lei nº 10.910/2004, os procuradores federais possuem a prerrogativa de vista pessoal, cujo prazo recursal, que é contato em dobro, tem início a partir da vista pessoal e não da publicação da sentença no Diário de Justiça Eletrônico. 4. Precedente da casa. 4.1 ‘Verificada a ocorrência de omissão quanto à aplicabilidade do art. 17 da Lei nº 10.910/2004, que determina a intimação pessoal dos procuradores federais, devem ser acolhidos os embargos declaratórios para, sanando-se o vício, conhecer do recurso de apelação interposto pelo INSS, cujo prazo tem início a partir da vista pessoal e não da publicação da sentença no Diário de Justiça Eletrônico [...]’ (Acórdão nº 437758, 20030111118406APC, Rel. Natanael Caetano, 1ª Turma Cível, DJe 10.08.2010, p. 202). 5. Recurso não conhecido.” (TJDFT – Proc. 20110112198492 – (691747) – Rel. Des. João Egmont – DJe 11.07.2013 – p. 141)

937 – Auxílio-doença – conversão em aposentadoria por invalidez – enfermidade tem-porária – descabimento

“Previdenciário. Auxílio-doença. Conversão em aposentadoria por invalidez. Enfermida-de temporária. Danos morais não caracterizados. 1. Os documentos anexados aos autos demonstram que o autor está incapacitado temporariamente para o desempenho da ati-vidade profissional, não fazendo jus à conversão do auxílio-doença em aposentadoria

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por invalidez. 2. A despeito de a perita do juízo não poder assegurar que em período anterior a 2009 já estaria o demandante incapacitado, o tempo decorrido entre 2005 e 2007, cuja incapacidade foi reconhecida administrativamente, os laudos anexados aos autos datados de junho de 2007 e maio de 2008, corroborados pela bateria de exames a qual o autor vem sendo submetido ao longo dos anos, e das sucessivas concessões de benefício, indicam a existência da incapacidade a partir de 2007. 3. São devidas as parcelas atrasadas a partir de 2007, descontadas aquelas já pagas pelo INSS, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros de mora de 1% ao mês, a contar da citação, até o dia 29.06.2009, após o qual deverá ser observada a nova redação do art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, determinada pela Lei nº 11.960/2009, com vigência a partir de 30.06.2009. 4. O sofrimento, apesar da grande relevância, não é por si só suficiente à caracterização do dano moral. Por outro lado, não há que se culpar a administração por, na apreciação do pedido, ter se orientado de forma distinta do entendimento ado-tado por este juízo. Em sede administrativa, pautou-se o réu em laudo elaborado por seu servidor, que naquelas circunstâncias adotou a posição que lhe pareceu ser a mais conveniente, distinta da conclusão exarada pela perita do juízo. 5. Remessa necessária e apelação desprovidas.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2007.51.17.005653-7 – 1ª T.Esp. – Rel. Antonio Ivan Athié – DJe 09.07.2013)

938 – Auxílio-doença – incapacidade laborativa – comprovação por perícia judicial – benefício devido

“Processual civil e previdenciário. Auxílio-doença percebido pelo de cujus. Reconhe-cimento da incapacidade laborativa pelo perito. Deferimento das parcelas à cônjuge supérstite. Apelo improvido. 1. Cuidam os presentes autos de reexame necessário e ape-lação cível interposta pelo INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social contra decisão do MM. Juiz de Direito Titular da 21ª Vara Cível da Comarca de Fortaleza/CE, em face da decisão que julgou parcialmente procedente o pedido de pagamento das parcelas referentes ao benefício do auxílio-doença percebido pelo cônjuge falecido da apelada ao cônjuge supérstite, Maria Célia da Silva. 2. Observa-se que o Magistrado de primeira instância agiu com o costumeiro acerto ao determinar o pagamento das verbas referentes ao auxílio-doença no período de 14 de outubro de 2006 a 25 de maio de 2008, pois ve-rificou-se que o recorrido não possuía mais condições de laborar, percebendo o auxílio previdenciário conforme atestado pelo experto do Instituto Nacional de Seguridade So-cial. 3. ‘Com relação à concessão de aposentadoria por invalidez, este Superior Tribunal de Justiça possui entendimento no sentido da desnecessidade da vinculação do Magis-trado à prova pericial, se existentes outros elementos nos autos aptos à formação do seu convencimento, podendo, inclusive, concluir pela incapacidade permanente do segura-do em exercer qualquer atividade laborativa, não obstante a perícia conclua pela incapa-cidade parcial’ (Precedente: AgRg-Ag 1102739/GO, Rel. Min. Og Fernandes, 6ª Turma, DJe 09.11.2009) (AgRg-Ag 1420849/PB, Rel. Min. Vasco Della Giustina (Desembarga-dor Convocado do TJRS), 6ª Turma, Julgado em 17.11.2011, DJe 28.11.2011) (grifo nos-so). 4. Apelação conhecida e improvido.” (TJCE – Ap-RN 0053404-77.2007.8.06.0001 – Rel. Carlos Alberto Mendes Forte – DJe 17.07.2013 – p. 41)

939 – Auxílio-doença – restabelecimento – perícia prévia realizada por perito do INSS – supressão da perícia judicial – inocorrência

“Previdenciário. Restabelecimento de auxílio-doença. Perícia prévia realizada por pe-rito do INSS. Nulidade da perícia e da sentença. 1. Versando a lide sobre o restabele-cimento de auxílio-doença, a produção da prova pericial acerca da moléstia alegada

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pela parte autora é considerada essencial ao deslinde da questão, eis que apenas diante da incapacidade laborativa é possível reconhecer-lhe o direito ao restabelecimento do benefício pleiteado. 2. A designação de perícia prévia, realizada por médico do INSS, para fins de realização de audiência de conciliação, não supre a necessidade de reali-zação de perícia judicial, por expert designado pelo juízo, cujas conclusões prevalecem sobre os atestados médicos e perícias administrativas, eis que em posição equidistante do interesse das partes. 3. A despeito de não ter a parte autora requerido a realização de prova pericial, o ilustre Magistrado a quo, a teor do disposto no art. 130 do Código de Processo Civil, deveria, com sustentação na busca da verdade real, ter determinado a produção da mencionada prova, apresentando os seus próprios quesitos, conforme lhe faculta o inciso II do art. 426 do CPC. 4. Acerca do deferimento da tutela anteci-pada, constata-se a plausibilidade do direito e a verossimilhança das alegações através dos atestados médicos expedidos por profissionais do Sistema Único de Saúde – SUS juntados aos autos, que demonstram ser a parte autora portadora de doenças potencial-mente incapacitantes. 5. Sentença anulada. Antecipação de tutela deferida.” (TRF 2ª R. – AC 2013.02.01.000036-9 – (576800) – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Marcelo Pereira da Silva – DJe 15.07.2013)

940 – Auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez – incapacidade temporária ates-tada pela prova pericial – benefício devido

“Apelação cível. Previdenciário. Obreira que postulou o recebimento do benefício previ-denciário de auxílio-doença e/ou sua conversão em aposentadoria por invalidez. Incapa-cidade temporária atestada pela prova pericial, que merece ser prestigiada. Sentença que corretamente concedeu o benefício auxílio-doença. Recurso improvido. Demonstrado pela perícia médica que o obreiro acidentado em serviço está incapacitado, temporaria-mente, para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze dias) consecutivos, o benefício cabível é o auxílio-doença acidentário e não a aposentadoria por invalidez, mantendo-se a sentença recorrida que está fundamentada em laudo peri-cial despido de vícios.” (TJMS – Ap 0001350-71.2010.8.12.0031 – 5ª C.Cív. – Rel. Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva – DJe 19.07.2013)

941 – Benefício assistencial – idade e estado de miserabilidade – comprovação – pres-crição – inocorrência

“Previdenciário. Benefício assistencial. Concessão. Idade e estado de miserabilidade comprovados. Prescrição. Inocorrência. Antecipação de tutela. 1. Inexistindo critério numérico atual tido por constitucional pelo STF (declaração de inconstitucionalidade do critério de ¼ do salário-mínimo, previsto no § 3º do art. 20 da LOAS – Rcl 4374), inviável o indeferimento do benefício pelo simples fato de a renda per capita ser superior a ¼ do salário-mínimo. Cuidando-se de renda que pouco supera esse parâmetro e consi-deradas as restantes circunstâncias do caso concreto, tenho por verificada a situação de miserabilidade. 2. Para fins de composição da renda mensal familiar, entendo que não pode ser computado o benefício de aposentadoria por idade recebido pelo esposo idoso da autora, de valor mínimo, considerado necessário a sua sobrevivência digna (aplica-ção analógica do parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741/2003, Estatuto do Idoso). 3. Tendo restado comprovados os requisitos etário e a situação de miserabilidade, é de ser mantida a sentença que condenou o INSS a conceder à autora o benefício assisten-cial. 4. Apenas as parcelas anteriores ao quinquênio que antecede a propositura da ação é que são alcançadas pela prescrição. Súmula nº 85 do STJ. 5. Atendidos os pressupostos

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do art. 273 do CPC – a verossimilhança do direito alegado e o fundado receio de dano irreparável –, é de ser mantida a antecipação da tutela deferida na sentença.” (TRF 4ª R. – AC 0006522-16.2013.404.9999/PR – 6ª T. – Rel. Des. Fed. João Batista Pinto Silveira – DJe 10.07.2013 – p. 277)

942 – Benefício assistencial – pessoa idosa e portadora de deficiência – comprovação – termo inicial

“Previdenciário e processual civil. Benefício de amparo social à pessoa portadora de deficiência e ao idoso. Art. 203, V, CF/1988. Lei nº 8.742/1993. Termo a quo. Correção monetária. Juros de mora. Honorários advocatícios. Custas processuais. Implantação do benefício. 1. Presentes os pressupostos legais para a concessão do benefício de presta-ção continuada denominado amparo social à pessoa portadora de deficiência física e ao idoso (art. 203 da CF/1988 e art. 2º, V, Lei nº 8.742/1993), pois comprovado que a parte requerente é deficiente e que não possui meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. 2. O fato de a renda familiar per capita ser superior a ¼ (um quarto) do salário-mínimo não impede que outros fatores sejam considerados para a avaliação das condições de sobrevivência da parte autora e de sua família, fazendo com que a prova da miserabilidade necessária à concessão do benefício assistencial seja mais elástica. Precedentes. 3. Termo inicial do benefício conforme comando sentencial. 4. Correção monetária com base nos índices do Manual de Cálculos da Justiça Federal, até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, a partir de quando se aplica o IPCA-E. 5. Juros de mora de 1% ao mês, observados os respectivos vencimentos, reduzindo-se a taxa para 0,5% ao mês a partir da Lei nº 11.960/2009. 6. Nos feitos processados perante a Justiça Estadual, o INSS é isento do pagamento de custas nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Mato Grosso. 7. Prevalência da regra cunhada na Súmula nº 111 do STJ para fins de fixação dos honorários advocatícios. 8. Relativamente ao adiantamento da pres-tação jurisdicional, seja em razão do cumprimento dos requisitos exigidos no art. 273 do CPC, ou com fundamento no art. 461, § 3º, do mesmo Diploma, fica esta providência efetivamente assegurada na hipótese dos autos, já que a conclusão daqui emergente é na direção da concessão do benefício. 9. Em qualquer das hipóteses supra fica expressamen-te afastada a fixação prévia de multa, sanção esta que somente é aplicável na hipótese de efetivo descumprimento do comando relativo à implantação do benefício. 10. Apelação e remessa oficial parcialmente providas.” (TRF 1ª R. – AC 2009.01.99.026672-4/MG – Relª Desª Fed. Neuza Maria Alves da Silva – DJe 16.07.2013 – p. 27)

943 – Benefício previdenciário – concessão fraudulenta – estelionato previdenciário – configuração

“Penal e processual penal. Concessão fraudulenta de benefício previdenciário. Crime de estelionato. 1. Tratando-se de concessão fraudulenta de aposentadoria, com base em dados falsos sobre a contagem do tempo de serviço, cuja falsidade era de conheci-mento do beneficiário e do servidor do próprio Instituto Previdenciário que recebeu o pedido de aposentadoria, o fato mais se identifica ao tipo do art. 171 c/c § 3º (estelionato qualificado), do que ao do art. 312 (peculato), ambos do Código Penal. Comprovadas a materialidade e a autoria do delito, é de confirmar-se o juízo condenatório, porém com a classificação correta do delito para estelionato qualificado e fixação da pena adequada. 2. Provimento parcial das apelações. Extensão do resultado ao acusado que não apelou (art. 580 do CPP).” (TRF 1ª R. – ACr 2004.39.00.001451-5/PA – Rel. Des. Fed. Olindo Herculano de Menezes – DJe 18.07.2013 – p. 250)

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Comentário Editorial SÍNTESEO v. acórdão cuidou da configuração do crime de estelionato da concessão fraudu-lenta do benefício previdenciário.O crime está previsto no seguinte dispositivo do Código Penal:“Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento:Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.§ 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.§ 2º Nas mesmas penas incorre quem:Disposição de coisa alheia como própriaI – vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própriaII – vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;Defraudação de penhorIII – defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;Fraude na entrega de coisaIV – defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguroV – destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;Fraude no pagamento por meio de chequeVI – emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.§ 3º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.”O Dr. Luiz Flávio Gomes explica:“No estelionato previdenciário (fraude na obtenção de benefício dessa natureza) a lesão ao bem jurídico (patrimônio do INSS) não se prolonga continuamente (sem interrupção) no tempo. Trata-se de lesão instantânea (logo, delito instantâneo: cf. TRF 3ª R., AC 1999.03.99.005044-5, Rel. André Nabarrete, DJU 10.10.2000, 2ª S., p. 750).Precisamente coincidente com o que acaba de ser afirmado é a posição da Supre-ma Corte:‘Concluído o julgamento de habeas corpus em que se discutia, para fins de ve-rificação do prazo prescricional, a natureza do crime de estelionato imputado ao paciente – candidato a prefeito que, em troca de promessa de voto, providenciou certidão de nascimento de eleitora com a data de nascimento adulterada para que esta obtivesse perante o INSS a aposentadoria por idade (v. Informativo nº 207). Trata-se, na espécie, de habeas corpus contra acórdão do STJ que entendera con-figurado o caráter permanente da mencionada infração, por se tratar de fraude na percepção de benefício previdenciário, que dura no tempo, devendo ser considera-

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da como termo inicial da prescrição a data em que cessou o recebimento indevido da aposentadoria (CP, art. 111, III). A Turma acompanhou o voto do Ministro Marco Aurélio, Relator, considerando que a mencionada conduta caracteriza-se como crime instantâneo de resultados permanentes, e deferiu o habeas corpus para declarar extinta a punibilidade do paciente pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva a partir do dia em que confeccionada a certidão de nascimento falsa (CP, art. 111, I).’ (STF, HC 80.349/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, Informativo STF nº 215, 18/19 dez. 2000 e 1/2 fev. 2001, p. 2-3)No HC 84.998, J. 02.08.2005, o STF (1ª T., Rel. Min. Marco Aurélio) reiterou seu antigo posicionamento no sentido de que o estelionato previdenciário configura crime instantâneo, de efeito permanente.Em cada parcela indevida recebida há uma lesão patrimonial. Sendo assim, um resultado jurídico autônomo em relação a cada ato de recebimento injusto. A con-duta fraudulenta (apresentação de tempo de serviço falso, por exemplo) é uma só. Mas os resultados jurídicos são diversos.Não se trata, destarte, de afirmar que estamos diante de uma só conduta desdo-brada em vários atos (o que levaria à conclusão da existência de um único crime), nem tampouco diante de um crime permanente (visto que cada concreta lesão patrimonial é instantânea). Também não parece ser o caso de se asseverar que o crime é único, constituindo os posteriores recebimentos indevidos mero exaurimen-to do delito precedente. Nesse sentido: TRF 3ª R., ACr 1999.03.99.005044-5, Rel. André Nabarrete, DJU 10.10.2000, p. 750.O recebimento reiterado de parcelas previdenciárias indevidas produz vários resul-tados jurídicos (vários recebimentos ilícitos), porém, decorrentes não da realização de diversas condutas autônomas ex ante dotadas de periculosidade, senão de uma só. Com uma conduta só o agente produz vários resultados jurídicos. Isso é o que chamamos de concurso formal de crimes (CP, art. 70). Impossível vislumbrar-se, na hipótese, o crime continuado, justamente porque sua primeira exigência é a pluralidade de condutas (CP, art. 71), que não está presente no recebimento con-tinuado de benefícios previdenciários (no sentido do crime continuado, cf. Camila Sant’Ana David de Souza)1.Nossa conclusão: Quem, com uma só conduta fraudulenta (dotada de periculosi-dade ex ante), produz vários resultados jurídicos (lesões ao bem jurídico tutelado, em contextos fáticos e momentos distintos), responde por concurso formal de cri-mes. O estelionato previdenciário reiterado consistente no recebimento de parcelas mensais, configura, por conseguinte, hipótese de concurso formal (CP, art. 70). A prescrição, conseqüentemente, conta-se consoante o disposto no art. 119 do CP, que diz: ‘No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada um, isoladamente’.” (Estelionato previdenciário: crime instantâneo ou permanente? Crime único, continuado ou concurso formal?. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 23 jul. 2013)

944 – Benefício previdenciário – revisão – alteração do teto de contribuição – aplica-ção retroativa aos benefícios concedidos antes das EC 20/1998 e EC 41/2003 – impossibilidade

“Previdenciário. Constitucional. Revisão de benefício. Alteração do teto de contribui-ção. Aplicação retroativa aos benefícios concedidos antes das Emendas Constitucionais nºs 20/1998 e 41/2003. Impossibilidade no caso. Honorários advocatícios. 1. A pretensão em obter reajuste do benefício concedido, antes da edição das EC 20/1998 e 41/2003, de acordo com os novos tetos nelas estabelecidos, encontra em perfeita sintonia com a jurisprudência dos Tribunais e do col. Supremo Tribunal Federal. 2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do RE 564.354, reconheceu que ‘não ofende o

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ato jurídico perfeito a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional nº 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional nº 41/2003 aos benefícios previdenciários li-mitados a teto do regime geral de previdência estabelecido antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional’ (RE 564354, Relª Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, Julgado em 08.09.2010, repercussão geral, mérito, DJe-030 Divulg. 14.02.2011, Public. 15.02.2011, Ement., v. 02464-03, p. 00487). 3. Porém, a Carta de Concessão/Memória de Cálculo de fls. 25/26 demonstra que o cál-culo da RMI da aposentadoria do autor teve por base a média dos 36 (trinta e seis) últimos salários de contribuição, devidamente corrigidos, da qual se originou o salário de bene-fício de R$ 944,07, sobre o qual incidiu o coeficiente de 1.0 para a fixação da RMI do benefício do autor. Assim, o salário de benefício do autor foi fixado exatamente no valor correspondente à média de suas últimas 36 (trinta e seis) contribuições e, por conseguin-te, ele não foi limitado ao teto que, à época, correspondia a R$ 957,56. Portanto, não faz jus à revisão pleiteada. 4. Honorários advocatícios arbitrados em R$ 678,00 (seiscentos e setenta e oito reais), suspensa sua exigibilidade em face da gratuidade judiciária con-cedida à fl. 76. 5. Apelação provida.” (TRF 1ª R. – AC 0031774-46.2011.4.01.3800/MG – Rel. Juiz Fed. Conv. Cleberson José Rocha – DJe 17.07.2013 – p. 1343)

945 – Competência – Justiça Estadual – aposentadoria complementar – reconhecimento“Agravo de instrumento. Ação de cobrança de benefício de aposentadoria complemen-tar. Contrato de natureza civil. Competência. Justiça Estadual. Recurso conhecido e pro-vido. Compete à Justiça Estadual processar e julgar litígios instaurados entre entidade de previdência privada e participante de seu plano de benefícios. Recurso conhecido e provido.” (TJMS – AI 4004146-55.2013.8.12.0000 – 2ª C.Cív. – Relª Juíza Vilson Bertelli – DJe 22.07.2013)

946 – Competência – Justiça Federal – ação regressiva – reconhecimento“Agravo de instrumento. Ação regressiva movida pelo INSS em face de empresa empre-gadora em virtude de acidente de trabalho. Ressarcimento. Competência da Justiça Fede-ral. Indeferimento de prova testemunhal. 1. Tratando-se de ação, de natureza cível não trabalhista, objetivando o ressarcimento das despesas relativas ao benefício previden- ciário de pensão por morte, em virtude de acidente de trabalho sofrido por ex-segurado, a competência para julgar e processar o feito é da Justiça Federal. 2. A prova testemunhal não se mostra suficiente para descaracterizar a eventual culpa da empresa agravante, se não houve observância das normas de higiene, segurança e saúde do trabalho, conforme laudo juntado aos autos. 3. Agravo de instrumento a que se nega provimento.” (TRF 2ª R. – AI 2012.02.01.018845-7 – (222574) – 8ª T. – Rel. Juiz Fed. Conv. Alexandre Libonati de Abreu – DJe 10.07.2013)

947 – Contribuição previdenciária – adicional de férias – não incidência“Processual civil. Agravo legal. CPC, art. 557, § 1º. Tributário. Contribuição previ-denciária. Adicional de férias. Não incidência. 1. A utilização do agravo previsto no art. 557, § 1º, do CPC deve enfrentar a fundamentação da decisão agravada, ou seja, deve demonstrar que não é caso de recurso manifestamente inadmissível, improcedente, pre-judicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo Tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior. Por isso que é inviável quando o agravante deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agra-vada (STJ, Ag-REsp 545.307, Relª Min. Eliana Calmon, J. 06.05.04; REsp 548.732, Rel.

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Min. Teori Zavascki, J. 02.03.2004). 2. O STF firmou entendimento no sentido de que ‘somente as parcelas incorporáveis ao salário do servidor sofrem a incidência da con-tribuição previdenciária’ (STF, AgRg-Ag 727.958-7, Rel. Min. Eros Grau, J. 16.12.2008), não incidindo no adicional de férias (STF, AgRg-Ag 712.880-6, Rel. Min. Ricardo Lewan-dowski, J. 26.05.2009). O Superior Tribunal de Justiça (STJ, EREsp 956.289, Relª Min. Eliana Calmon, J. 28.10.2009) e a 5ª Turma do TRF da 3ª Região (TRF da 3ª Região, AC 0000687-31.2009.4.03.6114, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 02.08.2010) passa-ram a adotar o entendimento do STF, no sentido de que não incide contribuição so-cial sobre o terço constitucional de férias. 3. Agravo legal não provido.” (TRF 3ª R. – AI 0005850-59.2013.4.03.0000/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. André Nekatschalow – DJe 17.06.2013 – p. 509)

948 – Contribuição previdenciária – agentes políticos – Município – efeitos“Previdenciário. Constitucional. Contribuição previdenciária. Agentes políticos. Muni-cípio. Contribuição para a Seguridade Social. Lei nº 9.506/1997. Inconstitucionalidade. Efeitos retroativos. Impossibilidade de convalidação pela EC 20/98. Validade da cobran-ça com a edição da Lei nº 10.887/2004. Existência de interesse de agir. I – Por decisão da vice-presidência do TRF 5ª Região, traz-se de volta para julgamento, recurso que foi interposto pela Fazenda Nacional, na parte referente à prescrição quinquenal prevista na LC 118/2005, observando-se a decisão do STF, em sede de repercussão geral, bem como do STJ em recurso repetitivo. II – O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral (CPC, art. 543-C, § 3º) decidiu pela inconstitucionalidade da segunda parte do art. 4º da LC 118/2005, prevalecendo o voto da Ministro Ellen Gracie, que considerou aplicável o novo prazo de cinco anos as ações ajuizadas após o decurso da vacatio le-gis de 120 dias, ou seja, a partir de 09.06.2005 (STF, RE 566621/RS, Min. Ellen Gracie, DJ 11.10.2011). III – O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.269.570/MG, DJe 04.06.2012, pela sistemática do art. 543-C do CPC, assentou que para as ações ajuizadas a partir de 09.06.2005, aplica-se o art. 3º da Lei Complementar nº 118/2005, contando-se o prazo prescricional dos tributos sujeitos a lançamento por homologação em cinco anos a partir do pagamento antecipado de que trata o art. 150, § 1º, do CTN. IV – Aplicação dos arts. 543-B, § 3º, e 543-C, § 7º, do Código de Processo Civil. Juízo de retratação. V – Remessa oficial e apelação parcialmente providas, para que seja observa-da a prescrição das parcelas referentes aos cinco anos que antecederam o ajuizamento da ação.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 2008.81.02.000190-9 – (15668/CE) – 4ª T. – Relª Desª Fed. Margarida Cantarelli – DJe 28.06.2013)

949 – Contribuição previdenciária – associação desportiva – cobrança – requisitos – sentença reformada

“Tributário. Ação anulatória de débito fiscal. Contribuição previdenciária. Associação desportiva amadorista. Art. 2º da Lei nº 5.939/1973. Não comprovação dos requisi-tos. Sentença reformada. Remessa oficial e apelação do INSS providas. I – O direito à substituição da contribuição patronal geral pela contribuição prevista no art. 2º da Lei nº 5.939/1973 exige que a sociedade desportiva não profissional comprove: 1. tratar--se de entidade integrante obrigatória do Sistema Desportivo Nacional, organizada sob a forma comunitária, conforme disposto na Lei nº 6.251/1975, art. 2º e no Decreto nº 77.210/1976; e 2. manter a prática de pelo menos três modalidades de esportes olím-picos, com participação oficial em cada uma dessas modalidades com auferimento de renda, comprovação que deverá ser reiterada anualmente, nos termos do parágrafo úni-

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co do art. 3º do Decreto nº 77.210/1976. Precedentes jurisprudenciais. II – Na espécie, ainda que a apelada tenha provado a sua filiação às Federações Paulista de Judô, Nata-ção, Volleyball e Basketball, não se desincumbiu do ônus da prova dos demais requisitos (art. 333, I, do CPC), razão pela qual não faz jus ao benefício fiscal estabelecido pelo art. 2º da Lei nº 5.939/1973. III – Sentença reformada. Remessa oficial e apelação do INSS providas.” (TRF 3ª R. – Apelação/Reexame Necessário nº 0702909-77.1994.4.03.6106/SP – Juiz Fed. Conv. Souza Ribeiro – DJe 30.07.2012)

Comentário Editorial SÍNTESEEm 2007, houve a publicação da Lei nº 11.457, concretizando o intento almejado pelo governo federal de unificação das receitas federais, promovendo a fusão da Secretaria da Receita Federal à Secretaria da Receita Previdenciária, constituindo a Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB, órgão da Administração direta subordinado ao Ministro de Estado da Fazenda.Desde então, à Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arreca-dação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições previdenciárias (que antes estavam sob os cuidados do INSS):I – devidas pelas empresas, incidentes sobre a remuneração paga, devida ou cre-ditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço, mesmo sem vínculo empregatício, arts. 22 e 22-A da Lei nº 8.212;II – devidas pelos empregadores domésticos, incidentes sobre o salário-de-contri-buição dos empregados domésticos a seu serviço, art. 24 da Lei nº 8.212;III – dos trabalhadores, incidentes sobre seu salário-de-contribuição, arts. 20 e 21 da Lei nº 8.212;IV – das associações desportivas que mantêm equipe de futebol profissional, in-cidentes sobre a receita bruta decorrente dos espetáculos desportivos de que par-ticipem em todo território nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos despor-tivos, art. 22, §§ 6º ao 9º, da Lei nº 8.212;V – incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural, artigos 25 e 25-A da Lei nº 8.212;VI – de Seguro de Acidentes do Trabalho – SAT (GILRAT), art. 22, II, da Lei nº 8.212/1991;VI – o adicional destinado ao custeio da aposentadoria especial (GILRAT), art. 22, II, da Lei nº 8.212/1991 e art. 57, §§ 6º e 7º, da Lei nº 8.213/1991.De ver, contudo, que o produto da arrecadação das contribuições especificadas anteriormente citadas e os acréscimos legais incidentes (juros e multa) serão des-tinados, em caráter exclusivo, ao pagamento de benefícios do RGPS e credita-dos diretamente ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social, de que trata o art. 68 da Lei Complementar nº 101, de 2000.Em suma, todas as contribuições consagradas constitucionalmente à Seguridade Social são arrecadadas e fiscalizadas pela SRFB (verbi gratia: Contribuição sobre o Lucro; Contribuição sobre a receita ou o faturamento; Receita decorrente de Concurso de Prognósticos).Neste esboço, vamos lançar luzes à denominada cota patronal substitutiva pre-vista no § 6º do art. 22 da Lei nº 8.212/1991. A contribuição empresarial da associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional destinada à Se-guridade Social, em substituição à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei nº 8.212/1991, corresponde a 5% da receita bruta, decorrente dos espetáculos desportivos de que participem em todo território nacional em qualquer modalidade

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desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licen-ciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e de transmissão de espetáculos desportivos.Primeira observação: a associação desportiva que mantém equipe de futebol pro-fissional não paga contribuição previdenciária sobre a remuneração de seus em-pregados e trabalhadores avulsos. O motivo é que essa contribuição foi substituída por outra forma de incidência.Segunda informação: considera-se clube de futebol profissional a associação des-portiva que mantenha equipe de futebol profissional, filiada à federação de futebol do respectivo Estado, ainda que mantenha outras modalidades desportivas, e que seja organizada na forma da Lei nº 9.615, de 1998.A cota patronal substitutiva da associação que mantém equipe de futebol profis-sional é de 5%, a incidir sobre:a) receita bruta, decorrente dos espetáculos desportivos de que participem em todo território nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos inter-nacionais;b) de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e de transmissão de espetáculos desportivos.O dever de recolher essa contribuição não é da associação desportiva. A lei atribui o dever de reter e recolher:a) à entidade promotora, considerada como tal a federação, a confederação ou a liga responsável pela organização do evento, assim entendido o jogo ou a partida, isoladamente considerado;b) à empresa ou entidade patrocinadora, assim considerada aquela que destinar recursos à associação desportiva que mantém equipe de futebol profissional a título de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, pro-paganda e transmissão de espetáculos desportivos.Desta feita, cabe à entidade promotora do espetáculo a responsabilidade de efe-tuar o desconto de 5% da receita bruta decorrente dos espetáculos desportivos e o respectivo recolhimento à Previdência Social, no prazo de até dois dias úteis após a realização do evento.Sendo, por igual, obrigação da empresa ou entidade patrocinadora proceder à retenção da contribuição previdenciária (5%) no momento de destinar recursos à associação desportiva e repassar o valor retido à Previdência na mesma data de recolhimento normal de suas contribuições.Exemplificando. A associação desportiva Santos Futebol Clube mantém equipe de futebol profissional. Essa associação desportiva possui empregados: atletas (do fu-tebol masculino e feminino e de outras modalidades: vôlei, basquete, etc.), treina-dores, médicos, auxiliares, pessoal próprio da limpeza, da segurança, etc. No final do mês, ao remunerar seus empregados, não irá pagar nada à Previdência a título de cota patronal sobre a remuneração de seus empregados. Deverá, obviamente, reter a contribuição devida pelos seus empregados à Previdência e recolhê-la ao Fisco. Especificamente no que pertine à cota patronal, em todo e qualquer jogo de futebol em que participar o Santos Futebol Clube (tanto a equipe de futebol, como a de vôlei, basquete, etc.) sobre o resultado da bilheteria se fará incidir 5%, sendo o responsável tributário a entidade promotora do evento desportivo, que deverá recolher esse valor retido ao Fisco Previdenciário no prazo máximo de dois dias úteis após o evento. A Associação Desportiva Santos possui patrocinadores, que estampam, por exemplo, o nome de suas marca nas camisas dos atletas. Muitos jogos nos quais o “peixe” participa são televisionados. A empresa patrocinadora, bem como a que adquire os direitos de transmissão, devem reter e recolher ao Fisco a contribuição equivalente a 5% do valor ajustado a título de patrocínio ou de transmissão.

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Merece relevo o fato de essa sistemática contributiva não ser nova, antes prevista na Lei nº 5.939, de 19 de novembro de 1973, que, em seu art. 2º, assim pre-conizava:“Art. 2º Em substituição à contribuição empresarial prevista no item III, do art. 69, da Lei nº 3.807, 26 de agosto de 1960, incidirá sobre a renda líquida dos espe-táculos realizados em todo o território nacional entre associações desportivas, uma percentagem de cinco por cento devida pelos clubes como contribuição previden-ciária, global e exclusiva, e que será recolhida diretamente ao Instituto Nacional de Previdência Social pela Federação promotora da partida, até quarenta e oito horas após a realização do espetáculo.§ 1º As associações desportivas, que mantenham departamentos amadoristas de-dicados à prática de, pelo menos, três modalidades de esportes olímpicos, estão incluídas no regime deste artigo.§ 2º Os clubes de futebol profissional e as associações desportivas estão obrigados ao recolhimento das contribuições descontadas de seus empregados, atletas ou não, e do prêmio do Seguro de Acidentes de Trabalho.§ 3º As federações promotoras de jogos serão responsáveis, individualmente, pelo recolhimento da contribuição a que se refere este artigo, respondendo as Confe-derações respectivas, subsidiariamente, pela inobservância das presentes dispo-sições.”A Lei nº 5.939, de 1973, contém destaque histórico (não mais vigente), referimo--nos à forma de cálculo diferenciada de aposentadoria por tempo de serviço ao atleta profissional de futebol:“Art. 1º O valor mensal do benefício, devido pelo Instituto Nacional de Previdência Social, ao segurado que venha a comprovar, devidamente, a condição de joga-dor profissional de futebol, será calculado na base da medida ponderada entre o salário-de-contribuição apurado na época do evento, na forma da legislação então vigente e o salário-de-contribuição correspondente ao período de exercício da ati-vidade de jogador profissional de futebol, respeitado o teto máximo fixado em lei.”Dispunha o art. 148, redação original, da Lei nº 8.213, de 1991, que seriam regidas pela respectiva legislação específica a aposentadoria do aeronauta, do jor-nalista profissional, do ex-combatente e do jogador profissional de futebol, até que sejam revistas pelo Congresso Nacional. Essa redação vigeu até 14.10.1996, quando então foi alterada pela MP 1.523/1996, reeditada até a MP 1.523-2/1996 e da MP 1.523-3 até a MP 1.523-8.Logo, o cálculo diferenciado de aposentadoria do atleta profissional de futebol foi extinto desde 14 de outubro de 1996, data da publicação da MP 1.523, conver-tida na Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997. A cota patronal substitutiva, por outro lado, permanece no cenário jurídico previdenciário, com ajustes trazidos pela Lei de Custeio, Lei nº 8.212/1991 (Por Hermes Arrais Alencar. Procurador Federal, Mestre em Direito Previdenciário pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUCSP. Autor de obras jurídicas).

950 – Contribuição previdenciária – base de cálculo – atividade urbana ou rural de-sempenhada pelo empregado – exegese

“Tributário. Embargos à execução fiscal. Contribuição previdenciária. Empresa agroin-dustrial/agrocomercial. Contribuição devida de acordo com a atividade urbana ou rural desempenhada pelo empregado. Salário-educação. Contribuição ao Incra. Mandado de segurança. Coisa julgada em relação às CDAs sobre contribuição ao Funrural. Remessa oficial e apelação parcialmente providas. Recurso adesivo da embargante prejudicado. 1. Recurso adesivo: prejudicado, nos termos abaixo. 2. Apelação: A discussão em foco diz respeito à contribuição previdenciária de empresa agroindustrial. São 4 (quatro) as

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Certidões de Dívida Ativa: A 31.503.675-3 é de exigência de contribuições previdências relativas à Previdência Urbana no período de 01/1986 a 10/1991. As 31.503.707-5, 31.503.708-3 e 31.503.709-1 são de contribuição ao Funrural no período de 06/1991 a 10/1991. 3. Sobre a primeira, defende a embargante ser empresa exclusivamente rural, que ‘todos os que trabalham na sua linha de produção, dos diretores executivos ao con-tínuo ou servente, trabalhando no escritório ou nas granjas, plantando, colhendo ou fa-zendo análise do café, tratando das galinhas, colhendo ou classificando ovos, são traba-lhadores rurais, porque trabalham para uma empregadora rural, ou empresa rural’. 4. Pela sentença, entendeu-se pela descaracterização de trabalhadores urbanos, conside-rando-os como rural, vez que ‘os trabalhadores prestam serviços essenciais à atividade de comercialização de produtos da empresa – atividade que não desnatura a sua condi-ção de empresa rural’. E que ‘sem os entregadores de ovos, sem os classificadores, sem a elaboração de documentos contáveis e fiscais que propiciem a manutenção da empre-sa sob o ponto de vista jurídico, não como ser viabilizada a sua existência, resultando daí que tais empregados, que desempenham essas atribuições, são essenciais à consecução dos fins da empresa, e portanto, são empregados rurais’. 5. Todavia, merece reparo a sentença, no particular, a jurisprudência formou-se em sentido contrário, deixando claro que as empresas mistas, agroindustriais ou agrocomerciais, antes da edição da Lei nº 8.212/1991, que unificou os sistemas previdenciários, estavam sujeitas à contribui-ção, conforme a atividade desempenhada por seus empregados. 6. Com efeito, assim deixou assentado o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do REsp 200500807970, Recurso Especial nº 750790, Rel. Luiz Fux, 1ª Turma, Fonte DJe data: 02.03.2009: ‘1. As empresas rurais que contavam com empregados urbanos, no regime anterior à vigência da Lei nº 8.212/1991, sujeitavam-se ao pagamento da contribuição previdenciária rural e urbana, porquanto a unificação da Previdência Rural e Urbana só ocorreu com a edi-ção de referido diploma legal (art. 12). 2. A tese que vigorava no regime anterior era a de que ‘a empresa agroindustrial sujeita-se à incidência das contribuições previdenciárias urbana e rural, uma vez que, a par de atividade agrícola, também industrializa e comer-cializa produtos rurais. A contribuição para o Funrural tem por base de cálculo o valor comercial dos produtos rurais por ela industrializados, enquanto a outra (contribuição para a previdência urbana) incide sobre a folha de salário dos empregados não classifica-dos como rurícolas. Distintas as hipóteses de incidência e respectivas bases de cálculo, não há falar em bis in idem ou bitributação’ (REsp 13.797/MG, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, DJ de 15.05.1995). Precedentes das 1ª e 2ª Turmas do STJ: AgRg-REsp 475.042/SC, Rel. Min. Francisco Falcão, DJU 23.06.2003; AgRg-REsp 299.200/SC, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJU 23.09.2002; REsp 301.933/PE, Relª Min. Eliana Calmon, DJU 04.02.2002; REsp 193.368/GO, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU 12.03.2001; REsp 227.598/PR, Rel. Min. Garcia Vieira, DJU 07.02.2000; REsp 202.999/RJ, Rel. Min. José Delgado, DJU 30.08.1999; REsp 82.776/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 17.06.1996; REsp 74.956/MG, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJU 01.04.1996 [...]’. 7. No mesmo julgamento, ainda assim se expressou aquela Corte Superior, no particular: ‘3. Deveras, somente com a edição da Lei nº 8.212/1991, houve a unificação das Previ-dências Urbana e Rural, a teor do disposto em seu art. 12, verbis: ‘Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I – como empregado: a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empre-gado; [...]’; antes da nova regulamentação, porém, a empresa agroindustrial deveria ob-servar a natureza do labor desempenhado pelo empregado, para verificar quais contri-buições de custeio deveriam ser, respectivamente aos seus funcionários, adimplidas,

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inexistindo a contribuição unificada em razão da atividade da empresa. 4. In casu, a ação foi movida por empresa agrourbana objetivando a repetição de tributos recolhidos à Previdência Urbana, antes da Lei nº 8.213/1991, no período de 1986 a 1991, época em que se sujeitava ao pagamento da contribuição previdenciária rural e urbana, por-quanto mantinha funcionários em funções diversas, como assentado pela Corte a quo, fato insindicável pelo eg. STJ (Súmula nº 7) e EDcl-REsp 325.585/AL, desta relatoria (DJU 25.09.2006). 5. Apesar de a recorrente sustentar que, em razão de sua atividade eminente, constituiria-se em empresa rural, nos termos dos arts. 3º da Lei nº 4.214/1963 e 3º da Lei nº 5.889/1973 e, por isso, deteria somente empregados rurais, classificados consoante os arts. 3º, § 1º, da LC 11/1971, 2º da Lei nº 4.214/1963 e 2º da Lei nº 5.889/1973, daí deveria apenas contribuir para a Previdência Rural, com fulcro nos arts. 27, § 3º, da LC 11/1971 e 4º, II, do Decreto nº 89.312/1984, o TRF da 4ª Região, analisando as provas dos autos, inclusive a perícia, verificou que os trabalhadores que exerciam atividades rurais tiveram sua contribuição recolhida à Previdência Rural e os de atividade urbana, à respectiva previdência, pontuando aquela Corte, ainda, que não houve contribuição para a Previdência Urbana incidente sobre a folha de salários dos empregados que desempenhavam atividade rural, situação sobre a qual resta inadmissí-vel a apreciação do STJ ante ao óbice de seu enunciado sumular. Importante ressaltar que as únicas parcelas ainda discutidas referiam-se ao período de 22.03.1991 a outubro de 1991, segundo sentença, no qual se reconheceu a decadência das parcelas anteriores, visto que a ação foi ajuizada em 22.03.2001 e nenhum recurso impugnou esse mister. 6. Recurso especial desprovido’. 8. Na espécie, a apuração decorreu de exame de folhas de pagamento, livros de Registro de Empregados de nºs 01 a 03, Recibos de Férias, Res-cisões de Contrato de Trabalho e Livros Diários de nºs 24 a 30 (fls. 51), em cujos docu-mentos constatou-se tratar de empregados em atividades diversas, ‘inclusive computa-dor, transporte de ovos em caminhões para diversas capitais do país e tratoristas (fls. 50)’ o que não foi ilidido pela embargante com prova idônea, inequívoca, certo que, inclusi-ve, sequer manifestou-se quando do despacho sobre produção de provas (fls. 145). Na verdade, ela, a embargante, limita-se a afirmar que transferiu a sua classificadora de ovos para a zona urbana e que as atividades ali desempenhadas destinavam-se à comerciali-zação, fazendo parte de sua linha de produção, o que seria suficiente para sua caracte-rização como empresa rural, o que, entretanto, é suficiente para infirmar a presunção de certeza e liquidez da certidão de dívida ativa (art. 3º da LEF e 204, e seu parágrafo único, do CTN). 9. Sobre o salário-educação, é desnecessária maiores considerações, pois que pacífica a sua recepção pela Constituição Federal de 1988, legítima, portanto, sua exi-gência, na linha do entendimento jurisprudencial a respeito, como se pode ver abaixo, exemplificativamente: AC 199838000242037, Apelação Cível nº 199838000242037, Rel. Juiz Fed. Wilson Alves de Souza, TRF1, Órgão Julgador 5ª Turma Suplementar, e--DJF1 data: 21.09.2012, p. 1508: ‘[...]. 3. A contribuição ao salário-educação, prevista na Lei nº 9.424/1996, é compatível com a Constituição Federal, a teor do decidido pelo eg. STF no julgamento da ADC 03 [...]’. 10. A respeito da Contribuição ao Incra, ela não foi extinta, permanecendo exigível, entendimento que também é pacífico na jurispru-dência: A propósito, o seguinte aresto deste TRF1: ‘[...] Recurso submetido à sistemática do art. 543-C do CPC. 1. A Contribuição ao Incra não foi extinta, permanecendo exigível até os dias atuais como contribuição de intervenção no domínio econômico (EREsp 724.789/RS, 1ª Seção, Relª Min. Eliana Calmon, DJ de 28.05.2007). A 1ª Seção do STJ também firmou jurisprudência no sentido da possibilidade da cobrança da contribuição destinada ao Incra de empresas vinculadas à previdência urbana, mesmo que não exer-çam atividade rural. Precedente do STJ, com fulcro no inciso II do § 7º do art. 543-C do

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CPC. 2. Apelação desprovida. Embargos de declaração prejudicados (AC 0040027-38.2002.4.01.3800/MG, Rel. Juiz Fed. Wilson Alves de Souza, 5ª Turma Suplementar, e-DJF1 de 14.12.2012, p. 1715)’. 11. Dá-se provimento à apelação e à remessa oficial, para manter a cobrança relativa à CDA 31.503.675-3. 12. Sobre as CDAs 31.503.707-5, 31.503.708-3 e 31.503.709-1, todas elas já foram objeto do mandado de segurança 91.0021657-7, que transitou em julgado 13.04.1998 (fls. 105), excluindo a apelada do rol de contribuinte da contribuição nelas veiculadas, de forma que se mantém a senten-ça, no ponto, anulando-se as referidas CDAs pela ocorrência da coisa julgada. 13. Te-nham-se como ocorrida a sucumbência recíproca em proporção igual, considerando a pluralidade de teses desenvolvidas pelas partes e que os valores constantes da CDA 31.503.675-3 (fls. 49) não são expressivamente distantes das outras 31.503.707-5 (fls. 80), 31.503.708-3 (fls. 84) e 31.503.709-1 (fls. 87), de forma que uma parte não pagará honorários à outra. 14. Remessa oficial e apelação parcialmente providas, recur-so adesivo prejudicado.” (TRF 1ª R. – AC 1998.38.00.044253-4/MG – Rel. Juiz Fed. Grigorio Carlos dos Santos – DJe 06.06.2013 – p. 151)

951 – Contribuição previdenciária – férias indenizadas – não incidência“Processual civil. Tributário. Contribuições previdenciárias. Férias indenizadas. Adicio-nal de férias. Afastamento. Doença. Acidente. Primeiros 15 (quinze) dias. Aviso-prévio indenizado. Não incidência. Décimo terceiro salário proporcional ao aviso-prévio inde-nizado. Incidência. Compensação. Critérios. 1. Não integram o salário de contribuição os pagamentos efetuados a título de férias indenizadas, tendo em vista o disposto no art. 28, § 9º, d, da Lei nº 8.212/1991. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça de-cidiu que têm natureza indenizatória os valores pagos a título de conversão em pecúnia das férias vencidas e não gozadas, bem como das férias proporcionais, em razão da res-cisão do contrato de trabalho (STJ, REsp 2018422, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 23.04.2009; TRF da 3ª Região, AMS 2009.61.19.00.0944-9, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 24.05.2010). 2. O STF firmou entendimento no sentido de que ‘somente as parcelas incorporáveis ao salário do servidor sofrem a incidência da contribuição pre-videnciária’ (STF, AgRg-Ag 727.958-7, Rel. Min. Eros Grau, J. 16.12.2008), não incidin-do no adicional de férias (STF, AgRg-Ag 712.880-6, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, J. 26.05.2009). O Superior Tribunal de Justiça (STJ, EREsp 956.289, Relª Min. Eliana Calmon, J. 28.10.2009) e a 5ª Turma do TRF da 3ª Região (TRF da 3ª Região, AC 0000687-31.2009.4.03.6114, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 02.08.2010) passaram a adotar o entendimento do STF, no sentido de que não incide contribuição social sobre o terço constitucional de férias. 3. Nos termos do art. 59 da Lei nº 8.213/1991, ‘o auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de ca-rência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos’. Esse benefício é devido no caso de doença, profissional ou não, ou de acidente de trabalho (Lei nº 8.213/1991, art. 61), de modo que, ‘durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da ativi-dade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral’ (Lei nº 8.213/1991, art. 60, § 3º). Como se percebe, os valores recebidos pelo empregado durante o período em que fica afastado da atividade laboral em razão de doença ou de acidente têm natureza previdenciária e não salarial, pois visam com-pensá-lo pelo período em que ele não pode trabalhar, não tendo a finalidade de remu-nerá-lo pelos serviços prestados. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (REsp 1.217.686, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 07.12.2010; EEREsp 1.098.102, Rel. Min. Benedito Gonçalves, J. 10.11.2009) e a deste Tribunal (AMS 2008.61.03.000673-9,

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Rel. Des. Fed. Luiz Stefanini, J. 17.01.2011; AI 2010.03.00.027441-3, Relª Desª Fed. Cecília Mello, J. 07.12.2010) são no sentido de que, efetivamente, não incide contri-buição previdenciária sobre os valores pagos nos primeiros 15 (quinze) dias de afasta-mento do empregado doente ou acidentado. 4. O aviso-prévio indenizado tem natu-reza indenizatória, uma vez que visa reparar o dano causado ao trabalhador que não foi alertado sobre a futura rescisão contratual com a antecedência mínima estipulada por lei, bem como não pôde usufruir da redução de jornada a que fazia jus (CLT, arts. 487 e 488). A circunstância da Lei nº 9.528/1997 e do Decreto nº 6.727/2009 terem alterado, respectivamente, as redações da alínea e do § 9º da Lei nº 8.212/1991 e da alínea f do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048/1999, as quais excluíam o aviso-prévio indenizado do salário de contribuição, não oblitera a natureza indenizatória de referida verba, na medida em que a definição da base de cálculo precede à análise do rol de exceção de incidência da contribuição previdenciária (STJ, REsp 1.198.964, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, J. 02.09.2010; TRF da 3ª Região, AI 2010.03.00.021064-2, Rel. Des. Fed. José Lunardelli, J. 05.10.2010; AI 2010.03.00.019086-2, Relª Desª Fed. Cecília Mello, J. 21.09.2010; AMS 2009.61.00.011260-8, Rel. Des. Fed. Henrique Herkenhoff, J. 27.07.2010; AMS 2009.61.00.002725-3, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 24.05.2010; AI 2009.03.00.009392-1, Rel. Des. Fed. Carlos Muta, J. 20.05.2010). 5. Os valores referentes ao décimo terceiro salário proporcional ao aviso-prévio inde-nizado sujeitam-se à incidência da contribuição previdenciária, por terem natureza re-muneratória (TRF da 3ª Região, Ap-Reex 2010.61.05.008017-4, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 08.10.2012; Ap-Reex 2011.61.00.008090-0, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 17.09.2012; AMS 2010.61.09.006993-1, Rel. Des. Fed. Peixoto Júnior, J. 11.09.2012; AMS 2011.61.07.000584-8, Rel. Des. Fed. José Lunardelli, J. 29.05.2012). 6. A com-pensação de contribuições previdenciárias sujeita-se à restrição instituída pela Lei nº 8.383/1991, art. 66, § 1º, isto é, somente pode ser efetuada entre contribuições de mesma espécie, não obstante a superveniência da Lei nº 9.430/1996, cujo art. 74 não re-produziu regra semelhante: a Lei nº 11.457/2007, que criou a Secretaria da Receita Fede-ral do Brasil, atualmente responsável pela administração tributária dessas contribuições, dispôs no seu art. 26 que o valor correspondente à compensação de débitos relativos às contribuições previdenciárias (Lei nº 8.212/1991) será repassado ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social, acrescentando o parágrafo único: ‘O disposto no art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 2996, não se aplica às contribuições a que se refere o art. 2º desta Lei’, vale dizer, as previdenciárias. A 5ª Turma deste Tribunal entende não ser aplicável às contribuições previdenciárias o REsp 1137738, Rel. Min. Luiz Fux, J. 09.12.2009, segundo o qual não haveria mais essa restrição, dado que o caso versava sobre PIS e Cofins (QO-Ap e Reex 2000.61.19.026663-7, Rel. Des. Fed. Ramza Tartu-ce, J. 14.02.2011; QO-Ap e Reex 2001.03.99.047289-0, Rel. Des. Fed. Ramza Tartuce, J. 14.02.2011). 7. Reexame necessário, reputado interposto, e apelação parcialmente providos.” (TRF 3ª R. – AC 0001085-80.2010.4.03.6004/MS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. André Nekatschalow – DJe 19.06.2013 – p. 285)

Transcrição Editorial SÍNTESELei nº 8.212/1991:“Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição:I – para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos

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serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.1997)II – para o empregado doméstico: a remuneração registrada na Carteira de Traba-lho e Previdência Social, observadas as normas a serem estabelecidas em regu-lamento para comprovação do vínculo empregatício e do valor da remuneração;III – para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais em-presas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, obser-vado o limite máximo a que se refere o § 5º; (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 1999)IV – para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observado o limite máximo a que se refere o § 5º.[...]§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei, exclusivamente:[...]d) as importâncias recebidas a título de férias indenizadas e respectivo adicional constitucional, inclusive o valor correspondente à dobra da remuneração de férias de que trata o art. 137 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10.12.97)[...].”

952 – Contribuição previdenciária – participação nos lucros e resultados – não incidência“Contribuições previdenciárias. Nulidade das NFLDS. Decadência. Pagamento parcial. Salário de contribuição. Pagamento de prêmios de forma não habitual. Participação nos lucros. Auxílio-creche. Honorários. 1. O prazo decadencial a ser utilizado em relação a débitos concernentes às contribuições para a seguridade social é aquele estabelecido pelo Código Tributário Nacional, que, com status de lei complementar, constitui o veí-culo normativo adequado, não sendo cabível a aplicação do prazo decadencial previsto em lei ordinária. 2. Aplica-se a regra prevista no art. 150, § 4º, do CTN, ao lançamento por homologação em sua forma típica, quando houver uma antecipação de pagamen-to. 3. O pagamento extingue o crédito tributário, nos termos do art. 156, I, do CTN. 4. Não incide contribuição previdenciária sobre prêmios pagos de forma não-habitual, bem como sobre a verba paga a título de participação nos lucros e resultados das em-presas, desde que realizadas na forma da lei. 5. O auxílio-creche possui natureza inde-nizatória e não integra o salário de contribuição. Súmula nº 310 do STJ e precedentes desta Corte. 6. A jurisprudência deste Tribunal firmou entendimento no sentido de que a fixação da verba honorária deverá ser observada mediante apreciação equitativa do juiz, conforme prevê o art. 20, § 4º, do CPC, desvinculada a fixação dos percentuais estabe-lecidos no § 3º do mesmo artigo. 7. Honorários de advogado mantidos. 8. Apelação e remessa oficial a que se nega provimento.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 1997.34.00.030448-3/DF – Rel. Juiz Fed. Carlos Eduardo Castro Martins – DJe 28.06.2013)

Comentário Editorial SÍNTESEA participação nos lucros e resultados é regulamentada pela Lei nº 10.101/2000 e, em seu art. 3º, temos:“Art. 3º A participação de que trata o art. 2º não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade.[...].”

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A corroborar a redação anterior, encontramos no § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/1991, o seguinte:“Art. 28. [...][...]§ 9º Não integram o salário-de-contribuição para os fins desta Lei, exclusiva-mente: (Redação dada ao parágrafo pela Lei nº 9.528, de 10.12.1997, DOU 11.12.1997)[...]j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica;[...].”Fernanda Della Rosa complementa:“Essa regulamentação vem eliminar os temores de algumas empresas, que já de-sejavam adotar a prática da participação nos lucros, mas temiam a incidência de encargos trabalhistas ou previdenciários, devido à inexistência, até então, de uma regulamentação em forma de lei. A lei, porém, em seu art. 3º, trata desse item: [...]Assim, a empresa que praticar a distribuição dos lucros ficará desobrigada de recolher, sobre esses valores, os encargos trabalhistas e previdenciários que nor-malmente pagaria, tal como ocorre com os salários.Para as empresas que há anos pagavam a PLR, essa regulamentação foi muito bem-vinda, porque, antes da lei, eram obrigadas a recolher todos os encargos so-ciais, tornando-se dessa forma uma operação mais onerosa para a empresa. Mes-mo assim, essas empresas já adotavam o programa, o que só vem reforçar a ideia de que o princípio é eficiente e traz resultados adicionais altamente favoráveis, des-de que bem estruturado e dimensionado.” (Participação nos lucros ou resultados. A grande vantagem competitiva. 3. ed. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 78)Por fim, importante destacar a recente publicação da Lei nº 12.832/2013 no DO de 21.06.2013, alterando dispositivos das Leis nºs 10.101/2000, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, e 9.250/1995, que altera a legislação do Imposto de Renda das pessoas físicas.

953 – Contribuição previdenciária – SAT – decadência quinquenal – observação“Processual civil e previdenciário. Ação ordinária. Contribuição previdenciária patronal e do empregado e SAT. Decadência quinquenal (Súmula Vinculante nº 8). Responsa-bilidade da Administração Pública pelo débito previdenciário de seus contratados. Lei nº 9.032/1995. 1. A decadência do crédito previdenciário é quinquenal (Súmula Vincu-lante nº 8). 2. Lançados os créditos previdenciários, de ofício, em 7 de outubro de 2000, estão decadentes os créditos com fatos geradores anteriores a dezembro de 1994. 3. A legislação vigente até 28 de abril de 1995 expressamente afastava a possibilidade de a Administração Pública responder por débitos de seus contratados, situação alterada pela Lei nº 9.032/1995, que passou a autorizar a responsabilização do ente público pelo inadimplemento da contribuição previdenciária de seus contratados. 4. A sentença que determina a revisão dos débitos previdenciários para expurgar as ilegalidades merece ser mantida no ponto se fundada em perícia técnica que apurou tais equívocos no lan-çamento. 5. Apelação do Município provida. Apelação do INSS e remessa oficial não providas. 6. Peças liberadas pelo Relator, Brasília, 23 de abril de 2013, para publicação do acórdão.” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2001.38.00.016138-0/MG – Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral – DJe 03.05.2013 – p. 310)

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954 – Dano moral – reparação civil em razão de erro de ato administrativo – não con-figuração

“Administrativo e previdenciário. Ação de reparação civil em razão de ato administra-tivo, em face do INSS. Pedido de pagamento de indenização por danos morais que não está justificada. Ocorrência de culpa concorrente. Improcedência do pedido. Manuten-ção da sentença. 1. Peça exordial que faz referência ao fato de que, em função da faixa etária do autor, o seu último vínculo empregatício foi rescindido em outubro de 2000, quando ele tinha completado 22 (vinte e dois) anos de contribuição, mas não tinha a idade mínima para se aposentar, precisando esperar até 2008, tendo que se sustentar, no período, fazendo bicos e mediante a ajuda de familiares. 2. Relevante destacar que a exigência da idade mínima para se aposentar é imposta pela legislação específica. Culpa pela dificuldade de obtenção de emprego noticiada na peça vestibular que não pode ser atribuída ao réu. Demanda que diz respeito, tão-somente, ao período de 21 de janeiro a 28 de agosto de 2008, em que tramitou o processo administrativo, de concessão da aposentadoria. 3. Efetiva implantação do benefício que teve como data de início do pagamento – DIP, o dia do requerimento administrativo, tendo sido pagos os proventos correspondentes ao período entre o protocolo e a aludida implantação. Concessão do benefício que se deu em 19 de junho de 2008. 4. Motivo da demora, que está justificado. Com o objetivo de obter a aposentadoria, o interessado juntou cópias não autenticadas dos documentos necessários. Lançadas a rubrica e o carimbo de servidor da autarquia previdenciária, juntamente com o registro abreviado de que aquelas cópias foram con-feridas, na ocasião, com os originais. Em cada uma das cópias, foi anotada, ainda, a data de 19 de junho de 2008. Como elas não estavam autenticadas, era perfeitamente legítimo que o réu exigisse a conferência com os originais, antes de deferir o benefício. 5. Concessão da aposentadoria, havendo o pagamento após razoável lapso temporal, em agosto daquele ano. Inocorrência, antes de junho de 2008, de contato dos servidores do réu com o interessado, para que ele levasse os originais dos documentos, para confe-rência, à agência responsável. 6. Falha de atendimento que não justifica a condenação do demandado ao pagamento de indenização por danos morais. Culpa concorrente, a afastar o dever de indenizar. Se, por um lado, não houve a informação precisa sobre as providências a serem tomadas pelo segurado, para viabilizar a concessão do benefício, por outro, o mesmo não juntou cópias autenticadas dos documentos, nem apresentou os originais, anteriormente, para que fossem cotejados, por parte do servidor, com as cópias colacionadas. Manutenção da sentença. Apelação cível improvida.” (TRF 5ª R. – AC 0020153-24.2011.4.05.8300/PE – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Geraldo Apoliano – DJe 05.06.2013)

Destaque Editorial SÍNTESEAcerca do tema: “O erro consiste basicamente no engano do agente quando da sua declaração de vontade num negócio jurídico. A ocorrência dele pressupõe, por-tanto, que o agente tenha apreendido uma idéia falsa da realidade na celebração do negócio.No entanto, para se revestir de anulabilidade, o erro deve conter duas caracterís-ticas fundamentais, segundo o art. 138 do Código Civil: ser substancial e justifi-cável. A doutrina, por sua vez, acrescenta ainda que ele deve ser real. Portanto, a anulação de um negócio jurídico por erro pressupõe a ocorrência cumulativa dessas três características. Erro substancial é aquele que incide sobre circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Trata-se, pois, de um erro cuja natureza é de tal importância que, se fosse conhecido pelo agente, o negócio não se realizaria. Desta forma, para gerar anula-

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ção, o erro não pode se referir a circunstâncias meramente secundárias do negócio, eis que a natureza acidental destas não impediria a sua celebração.O erro justificável (ou escusável), por sua vez, é aquele que decorre mesmo com o emprego da diligência e da prudência comuns. Ele é justificável no sentido de que é capaz de levar a erro mesmo o agente atento às circunstâncias e aspectos relevantes do negócio. Portanto, para ser considerado escusável e assim tornar o negócio passível de anulação, o erro não pode ser grosseiro.Neste sentido, comentando a opção do Código Civil pelo critério do homo medius para aferição da escusabilidade, Carlos Roberto Gonçalves faz importantíssima observação crítica quanto à importância de se adotar o critério do caso concreto, de construção jurisprudencial, afirmando:‘Assim, pode-se considerar escusável, pelo referido critério, a alegação de erro quanto à natureza do negócio (celebração de contrato de compra e venda julgando tratar-se de doação, p. ex.) feita por uma pessoa rústica e analfabeta e, por outro lado, considerá-la inescusável, injustificável, quando feita por um advogado.’A observação crítica do civilista é de valiosa aplicação para a tese do artigo, pois a falta de instrução e o desconhecimento de regras jurídicas mais complexas, pelo agente, constituem um critério objetivo para definir a característica da escusabi-lidade no erro, mormente quando as circunstâncias do negócio exigem um certo grau de instrução e de conhecimento do objeto do negócio. Se a doutrina entende que tais circunstâncias tornam justificável um erro quanto à natureza do negócio, com mais razão ainda justificam o erro em relação a suas qualidades essenciais.Por fim, segundo a noção doutrinária de erro real, para permitir a anulação do ne-gócio, o erro deve ser causador de efetivo prejuízo para o agente. Em verdade, esta última característica apontada pela doutrina nada mais é do que uma decorrência das duas primeiras. De qualquer maneira, ela reforça a idéia de que as conseqüên-cias do erro para o agente devem ser-lhe danosas.[...]Após fazer o cotejo entre as características legais e doutrinárias do erro, extraídas da teoria geral do negócio jurídico, e as características das aposentadorias por idade e tempo de contribuição, concedidas na forma estipulada na hipótese da introdução, impossível não se reconhecer aí a ocorrência de vício na manifestação da vontade do segurado em requerer o benefício em data desfavorável.Com efeito, (1) se a concessão traz prejuízo efetivo ao segurado (erro real), (2) se incide sobre uma qualidade essencial do negócio, como é o caso da RMI (erro substancial), e, por fim, (3) se a concessão é feita a segurado sem instrução ou mesmo analfabeto, e sem qualquer orientação do INSS (erro justificável), não resta dúvida de que a aposentadoria nestas condições carece de validade parcial, dada a ocorrência de vício de consentimento por erro.Desta forma, considerando que o erro sobre algumas das qualidades essenciais da aposentadoria não invalida o ato concessório como um todo (posto que o direito à aposentadoria em si é matéria jurídica separável do direito a uma RMI maior ou menor), entendemos ser possível a anulação parcial da concessão do benefício, para fins de reparação na fixação da DIB, reafirmando-se esta para data posterior com a conseqüente majoração na RMI.” (Vício de consentimento por erro e a revi-são de DIB nas aposentadorias por idade e tempo de contribuição. Disponível em: online.sintese.com. Acesso em: 13 jun. 2013)

955 – Estelionato previdenciário – delito praticado pelo próprio beneficiário – writ denegado

“Direito penal. Estelionato previdenciário. Natureza jurídica. Crime permanente. Delito praticado pelo próprio beneficiário da vantagem indevida. Prescrição. Não ocorrência.

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Writ denegado. 1. O crime de estelionato previdenciário (CP, art. 171, § 3º), quando praticado pelo próprio beneficiário das prestações, assume caráter permanente, cessan-do a atividade delitiva apenas com o fim da percepção das prestações. Precedentes da Corte (HCs 102.774, 107.209, 102.491, 104.880 e RHC 105.183). 2. O prazo prescri-cional nos delitos de estelionato previdenciário, quando praticado pelo beneficiário da vantagem indevida, se inicia da cessação da atividade delitiva. 3. In casu, o paciente foi condenado à pena de 2 (dois) anos, 1 (um) mês e 10 (dez) dias de reclusão, razão por que o prazo prescricional, mercê do art. 109, IV e V, do CP, é de 8 (oito) anos. 4. In casu, é irrelevante a ciência do termo a quo sobre se é a data do primeiro recebimento do benefício previdenciário indevido, em novembro de 2000, ou a data em que foi inter-rompida a concessão da verba de seguridade social em maio de 2003, porquanto entre as respectivas datas e o recebimento da denúncia (29.06.2006) não transcorreu o lapso temporal de 8 (oito) anos, indispensáveis à configuração da prescrição. 5. Impossibilida-de de reconhecimento da extinção da punibilidade no caso concreto. 6. Habeas corpus denegado.” (STF – HC 115.678 – Rel. Min. Luiz Fux – DJe 27.06.2013 – p. 69)

956 – Execução de sentença – habilitação – viúvo – filhos maiores de idade – pensão por morte – benefício devido

“Agravo de instrumento. Previdenciário. Execução de sentença. Habilitação. Viúvo. Fi-lhos maiores de idade. Art. 112 da Lei nº 8.213/1991. 1. Nos termos do art. 112 da Lei nº 8.213/1991, o valor não recebido em vida pelo segurado só será pago aos seus depen-dentes habilitados à pensão por morte, ou, na falta deles, aos seus sucessores na forma da lei civil, independentemente de inventário ou arrolamento. 2. Hipótese em que todos os filhos conhecidos são maiores e, portanto, não habilitados à pensão por morte.” (TRF 4ª R. – AI 0001568-48.2013.404.0000/PR – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – DJe 11.06.2013 – p. 441)

957 – Execução fiscal – contribuição previdenciária – prescrição – efeitos“Previdenciário e processual civil. Execução fiscal em vara federal. Contribuição previ-denciária. Exceção de pré-executividade. Prescrição. Citação. Causa que de interrupção que faz retroagir o prazo à data de propositura da ação (CPC, art. 219, § 1º). Agravo de instrumento não provido. 1. Aos agravantes é vedado inovar no seu recurso, alegando ilegitimidade passiva, pois tema não examinado pela decisão recorrida, não podendo – per saltum – ascender à Corte revisora (princípio do duplo grau de jurisdição). 2. O STJ, em acórdão submetido ao regime dos recursos repetitivos, de especial eficácia vincula-tiva, entendeu incoerente a interpretação segundo a qual o fluxo do prazo prescricional continua a escoar-se, desde a constituição definitiva do crédito tributário, até a data em que se der o despacho ordenador da citação do devedor (ou até a data em que se der a citação válida do devedor, consoante a anterior redação do inciso I do parágrafo único do art. 174 do CTN), pois também aplicável às execuções fiscais a norma contida no § 1º do art. 219 do CPC (‘a interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da ação’). Para aquela Corte uniformizadora, ‘a propositura da ação constitui o dies ad quem do prazo prescricional e, simultaneamente, o termo inicial para sua recontagem sujeita às causas interruptivas previstas no art. 174, parágrafo único, do CTN’ (REsp 1.120.295, Rel. Min. Luiz Fux, S1/STJ, DJe 21.05.2010). 3. Se constituído o crédito tribu-tário em 30.08.2003 e ajuizada a EF antes do qüinqüênio (14.03.2007), não há falar em prescrição ordinária. 4. Alegações genéricas e desprovidas de qualquer prova, não apon-tando, concretamente, qualquer ato ou fato corroborando com elas, são insubsistentes

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para o reconhecimento de inércia da exeqüente na condução da execução. 5. Agravo de instrumento não provido. 6. Peças liberadas pelo Relator, em Brasília, 18 de junho de 2013, para publicação do acórdão.” (TRF 1ª R. – AI 0020674-77.2013.4.01.0000 – Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral – DJe 28.06.2013)

958 – Fraude – sistema previdenciário – inserção de dados falsos em sistema de infor-mação – ônus da prova – incumbência do órgão acusador – alcance

“Penal. Processual penal. Fraude contra o sistema previdenciário. Inserção de dados fal-sos em sistema de informação. CP, art. 313-A. Ônus da prova dos fatos. Incumbência do órgão acusador. Pedido de condenação baseada somente em documentos administrati-vos. Impossibilidade. Sentença absolutória mantida. 1. O Ministério Público não trouxe aos autos provas indispensáveis para um édito condenatório, capazes de elidir as alega-ções do acusado no curso do processo. O ônus da prova dos fatos, que dá suporte à acu-sação, é incumbência do órgão ministerial. 2. No processo penal, ‘as provas constantes, quer do inquérito policial, quer de procedimentos ou sindicâncias administrativas em geral, não se prestam senão à formação da opinio delicti, para efeito de oferecimento da denúncia, cabe ao Ministério Público provar o que alega, sendo inaceitável que alguém seja condenado apenas com base nos elementos do inquérito policial ou de quaisquer outros procedimentos administrativos prévios’ (GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNAN-DES, Antônio Scarance; GOMES FILHO, Antônio Magalhães. As nulidades no processo penal. 6. ed. RT, 1996. p. 120/127). 3. Meros indícios ou conjecturas não bastam para um decreto condenatório, visto que no processo penal a busca é pela verdade real. 4. Apelação do réu provida. Prejudicado o recurso ministerial.” (TRF 1ª R. – ACr 0005167-32.2007.4.01.3801 – Rel. Des. Fed. Hilton Queiroz – DJe 15.07.2013 – p. 64)

959 – Funrural – receita bruta – comercialização da produção rural – legitimidade ativa – produtor rural – prova material – prescrição

“Processual civil. Tributário. Contribuição previdenciária (Funrural). Receita bruta da comercialização da produção rural. Legitimidade ativa. Produtor rural. Prova material. Prescrição. Declaração pelo STF da inexigibilidade da exação. 1. O produtor rural detém legitimidade para discutir judicialmente a exigibilidade da contribuição social incidente sobre a receita bruta da comercialização da sua produção rural, assim como para recla-mar a repetição de contribuições que, no momento oportuno, comprovar que recolheu indevidamente. 2. É assente na jurisprudência desta Corte que para mera discussão judi-cial sobre possível repetição de tributos dispensa-se prova dos recolhimentos, que se fará, se o caso, quando das eventuais compensação (na esfera administrativa, sob o crivo da administração) ou restituição (na liquidação da sentença) (AC 2002.34.00.000166-5/DF, Rel. Juiz Fed. Rafael Paulo Soares Pinto (conv.), 7ª Turma, e-DJF1 de 11.04.2008, p. 291). Basta a comprovação de estar o contribuinte na situação jurídica que lhe garanta o di-reito. 3. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 566.621/RS, sob o regime de repercussão geral, reconheceu a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/2005, considerando ‘válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão-somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de ju-nho de 2005’. 4. A repetição dos valores recolhidos deve observar a data do ajuizamento da ação. Para as ações ajuizadas até 08.06.2005, segue a tese dos cinco mais cinco, limi-tado o prazo prescricional a 5 (cinco) anos após 09.06.2005. Para as ações ajuizadas a partir de 09.06.2005, o prazo prescricional de 5 anos deve ser contado do recolhimento indevido, o que é o caso dos autos. 5. O STF consolidou entendimento quanto à incons-titucionalidade da incidência tributária sobre a comercialização da produção rural do

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produtor pessoa física (Lei nº 8.212/1991 com a redação dada pela Lei nº 9.527/1997), uma vez que a respectiva incidência sobre a comercialização de produtos agrícolas pelo produtor rural, pessoa natural, configura bitributação, ofensa ao princípio da isonomia e criação de nova fonte de custeio sem lei complementar. 6. Esta Corte pela 7ª e 8ª Turmas tem estendido a interpretação à alteração feita pela Lei nº 10.256/2001, editada após a Emenda à Constituição nº 20/1998. 7. Correção do indébito estabelecida em conformi-dade com o Manual de Cálculos da Justiça Federal, pela Taxa Selic. 8. Condenação da União no reembolso das custas antecipadas pela parte autora, assim como no pagamen-to de honorários de sucumbência, fixados em R$ 2.000,00, na forma dos §§ 3º e 4º do art. 20 do CPC. 9. Apelação da União e remessa oficial, tida por interposta, parcialmente providas para declarar a prescrição das parcelas retidas antes do quinquênio que ante-cedeu o ajuizamento da ação. 10. Apelação da parte autora parcialmente provida para, reformando a sentença, julgar procedente o pedido de declaração de inexigibilidade do recolhimento da contribuição para o Funrural, estabelecendo os critérios firmados na ju-risprudência para a repetição dos valores recolhidos desde o quinquênio que antecedeu a propositura da demanda.” (TRF 1ª R. – AC 0002159-18.2010.4.01.3809/MG – Rel. Juiz Fed. Clodomir Sebastião Reis – DJe 12.07.2013 – p. 720)

960 – Imunidade tributária – entidade de previdência privada – descabimento“Agravo regimental no agravo de instrumento. Imunidade tributária. Entidade de previ-dência privada. Súmula nº 730 do STF. Impossibilidade de concluir pela gratuidade das prestações assistenciais sem reexaminar fatos e provas. Incidência da Súmula nº 279 desta Corte na espécie. 1. A Súmula nº 730 pacificou o entendimento de que somente as entidades custeadas exclusivamente pelos patrocinadores podem ser contempladas com o beneplácito constitucional da imunidade. 2. O acórdão recorrido solucionou a lide sem abordar a forma de custeio da entidade, de modo que não é possível concluir pela ausência de contribuições por parte dos beneficiários. 3. Agravo regimental não provido.” (STF – AgRg-AI 796.529 – Rel. Min. Dias Toffoli – DJe 28.06.2013 – p. 19)

961 – IR – aposentadoria complementar – previdência privada – isenção“Tributário. Agravo de instrumento. Aposentadoria complementar. Previdência priva-da. Imposto de Renda. Isenção no período de vigência da Lei nº 7.713/1988. 1. Agra-vo de instrumento manejado em face da decisão que determinou à Petros. Fundação Petrobras de Seguridade Social, que não retenha Imposto de Renda sobre os valores da aposentadoria complementar dos autores/agravados, em razão da isenção tributária. 2. Na hipótese, o acórdão transitado em julgado deixou claro que a isenção pretendida compreende, apenas, o período de 01.01.1989 a 31.12.1995 (fls. 76/84), não sendo ad eternum, como faz crer a decisão atacada. 3. É pacífica a jurisprudência no sentido de que a isenção tributária relativamente ao Imposto de Renda incidente sobre os valores da aposentadoria complementar somente é devida durante a vigência da Lei nº 7.713/1988, ou seja, no período de 01.01.1989 a 31.12.1995. Agravo de instrumento provido.” (TRF 5ª R. – AGTR 0013459-73.2012.4.05.0000 – (129017/SE) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Geraldo Apoliano – DJe 18.06.2013 – p. 375)

Remissão Editorial SÍNTESEVide ementa nº 1/30751 do TRF 1ª R.

Destaque Editorial SÍNTESEDestacamos a seguinte ementa:

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“IR – COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA – ISENÇÃO – CABIMENTO – PERÍODO – ANÁLISE – Processo civil. Tributário. Imposto de Renda. Complemen-tação de aposentadoria. Lei nº 7.713/1988 (art. 6º, VII, b), Lei nº 9.250/1995 (art. 33). 1. O agravante pleiteia a reforma do aresto recorrido, na parte que de-terminou a dedução da base de cálculo do Imposto de Renda sobre valores cor-respondentes às contribuições efetivadas entre janeiro de 1989 e dezembro de 1995, atualizadas a partir de cada aporte efetivado pelo autor ao fundo previ-denciário. 2. No julgamento do REsp 1.012.903/RJ, submetido ao regime do art. 543-C do CPC, de relatoria do Ministro Teori Zavascki, restou reconhecido que é ‘indevida a incidência do Imposto de Renda sobre os benefícios de previ-dência privada auferidos pelos autores a partir de janeiro de 1996 até o limite do que foi recolhido pelos beneficiários, a título desse tributo, sob a égide da Lei nº 7.713/1988, atualizado monetariamente’. Agravo regimental provido.” (STJ, AgRg-REsp 1.251.818, (2011/0105007-3), 2ª T., Rel. Min. Humberto Martins, DJe 13.02.2012) (Disponível em: online.sintese.com, sob o nº 250600009970. Acesso em: 25 jun. 2013)

962 – Pensão especial – portadores de hanseníase – segregação compulsória – com-provação – benefício devido

“Previdenciário. Pensão especial. Lei nº 11.520/2007. Portadores de hanseníase. Se-gregação compulsória. Comprovação. Benefício devido. Manutenção da sentença. 1. Pretende-se nesta ação a concessão de pensão especial vitalícia de que trata a Lei nº 11.520, de 18 de setembro de 2007. 2. De acordo com o art. 1º da referida lei, a pessoa atingida pela hanseníase e que foi submetida a isolamento e internação compul-sórios em hospitais-colônia, até 31 de dezembro de 1986, faz jus ao benefício. 3. Os documentos acostados aos autos revelam, de forma inconteste, que o autor foi portador de hanseníase, tendo ocorrido sua primeira internação no Hospital Dr. Pedro Fontes em 13 de dezembro de 1978, e outras várias, até 25.05.1990, quando ocorreu a sua última alta hospitalar. 4. Relativamente ao isolamento e à compulsoriedade da internação, hou-ve reconhecimento, pela diretoria do Hospital Pedro Fontes, que o regime de internação ou isolamento naquele hospital era compulsório até o ano de 1980. 5. O depoimento das testemunhas é uníssono no sentido de que as internações ocorridas no período em que o autor ingressou no Hospital Pedro Fontes (‘hospital-colônia’), ocorriam de forma compulsória, acarretando o manifesto isolamento do paciente do mundo exterior, o que se assemelhava a uma verdadeira ‘prisão’, muitas vezes com destruição do patrimônio e da vida pessoal do interno. 6. O autor faz jus ao benefício pleiteado. Não há na Lei nº 11.520/2007 qualquer previsão a respeito de um prazo mínimo de internação para que o paciente faça jus à pensão especial nela prevista. Não cabe ao intérprete da norma fazer distinções e/ou restrições onde a mesma não o faz de forma expressa. Assim, não merece acolhida a alegação de que as internações ocorreram por períodos curtos e espaçados, retirando-lhes o caráter de compulsoriedade e isolamento. 7. Mantido o critério de corre-ção monetária e de juros estabelecido pela sentença, bem como a condenação em hono-rários advocatícios. 8. Apelações e remessa necessária desprovidas.” (TRF 2ª R. – Ap-RN 2012.50.01.001984-2 – 2ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Messod Azulay Neto – DJe 10.07.2013)

963 – Pensão por morte – beneficiária que contrai novo casamento – alteração da situação econômica – ausência – manutenção do benefício

“Previdenciário. Morte presumida. Pensão por morte provisória. Novo matrimônio não alterou situação econômica anterior. Direito ao benefício pretendido. Filhos maiores no momento da declaração judicial da ausência não fazem jus à pensão requerida. Apelos improvidos. O novo matrimônio contraído pela primeira autora não afasta seu direito ao

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percebimento da pensão, pois esta logrou êxito em demonstrar que sua situação econô-mica não restou alterada com o novo casamento. A autora é doente, tem baixa renda e seu novo cônjuge é vigilante. Restou comprovado que não houve alteração positiva na situação econômica da primeira autora. Proposta a ação apenas em 2009, quando am-bos os filhos já eram maiores, não há que se falar em direito destes ao benefício pleiteado (art. 74, inciso III, da Lei nº 8.213/1991). A decisão declaratória proferida no âmbito da Justiça Estadual repercute apenas na esfera cível, para fins de sucessão provisória, mas, não tem o condão de vincular a Autarquia previdenciária, o que requer o trâmite de ação na esfera da Justiça Federal para declaração da morte presumida. Apelos improvidos.” (TRF 2ª R. – AC 2009.51.01.814636-4 – 1ª T.Esp. – Rel. Des. Fed. Paulo Espirito Santo – DJe 10.07.2013)

964 – Pensão por morte – companheiro e pai – dependência econômica presumida – comprovação – pagamento devido

“Previdenciário. Concessão de pensão por morte de companheiro e pai. Comprova-ção da união estável. Dependência econômica presumida. Cumprimento imediato do acórdão. 1. Para a obtenção do benefício de pensão por morte deve a parte interes-sada preencher os requisitos estabelecidos na legislação previdenciária vigente à data do óbito, consoante iterativa jurisprudência dos Tribunais Superiores e desta Corte. 2. Comprovada a união estável, presume-se a dependência econômica (art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991), impondo-se à Previdência Social demonstrar que esta não existia. In casu, a autora comprovou a existência de união estável com o de cujus, fazendo jus, por-tanto, à pensão por morte do companheiro. 3. Determinado o cumprimento imediato do acórdão no tocante à implantação do benefício, a ser efetivada em 45 dias, nos termos do art. 461 do CPC.” (TRF 4ª R. – AC 0019064-37.2011.404.9999/PR – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Celso Kipper – DJe 10.07.2013 – p. 326)

965 – Pensão por morte – concubinato – cancelamento – ação de nulidade – efeitos“Ação nulidade de ato jurídico e pedido de restabelecimento de benefício previden-ciário. Pensão por morte. Cancelamento. Concubinato comprovado no processo admi-nistrativo instaurado. Inexistência de contra prova no processo judicial. 1. A GoiasPrev é competente para a concessão, pagamento e manutenção da pensão por morte aos dependentes dos membros ou servidores do Poder Executivo, Judiciário, Legislativo, do Ministério Público, do Tribunal de Contas do Estado, e do Tribunal de Contas do Mu-nicípio, devendo, portanto, figurar no polo passivo das ações que visam tal benefício. 2. Tratando-se de norma previdenciária, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou seu entendimento no sentido de que a lei do tempo da concessão do benefício há de reger o ato (Súmula nº 359 do STF). 3. Restando comprovada a perda de condição de dependente do beneficiário de pensão por morte em razão de concubinato/união estável, apurado em processo administrativo, para tal fim, aliada a ausência de provas em sentido contrário no processo judicial, mantém-se a improcedência da ação visando o restabelecimento do benefício respectivo. Apelo conhecido, mas improvido.” (TJGO – AC 201092643877 – 1ª C.Cív. – Rel. Des. Orloff Neves Rocha – DJe 18.07.2013 – p. 95)

966 – Pensão por morte – condição de dependente – união estável – não comprovação – benefício indevido

“Previdenciário. Pensão por morte. Condição de dependente. União estável. Não com-provação à data do óbito. 1. São requisitos para a concessão do amparo: (a) a qualidade de segurado do instituidor da pensão; e (b) a dependência econômica do beneficiário, que, na hipótese de companheiros é presumida (art. 16, § 4º, da Lei nº 8.213/1991).

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2. Não estando comprovada a existência de união estável entre a parte autora e o segu-rado falecido, é de ser mantida a sentença de improcedência.” (TRF 4ª R. – AC 0008663-08.2013.404.9999/RS – 6ª T. – Rel. Des. Fed. Néfi Cordeiro – DJe 10.07.2013 – p. 343)

967 – Pensão por morte – ex-combatente – legislação vigente ao tempo do óbito – ob-servação

“Previdenciário. Ex-combatente. Pensão por morte. Legislação vigente ao tempo do óbi-to. Lei nº 1.756/1952. Decreto nº 22.872 de 1933. Reversão à filha solteira e inváli-da. Possibilidade. Súmula nº 111 do STJ. Omissão. Existência. Rediscussão do mérito. Impossibilidade. 1. A 1ª Seção, do col. STJ firmou entendimento, em sede de recurso repetitivo, no sentido de que ‘não viola o art. 535 do CPC, tampouco nega a prestação jurisdicional, o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de modo in-tegral a controvérsia’ (REsp 1.111.175/SP, Min. Denise Arruda, DJe 01.07.2009). 2. A alegação de existência de omissão acerca da comprovação da preexistência de incapaci-dade configura ‘erro de julgamento’, sendo impossível sua discussão em sede de embar-gos de declaração, instrumento processual adequado para sanar tão somente omissão, contradição ou obscuridade na decisão judicial. 3. Acórdão omisso no tocante à apli-cação da Súmula nº 111 do STJ. 4. Mantidos os honorários advocatícios estipulados no Juízo de 1º Grau, apenas, com incidência sobre as prestações vencidas, nos termos da Súmula nº 111 do STJ, concedendo-lhes efeitos infringentes. 5. Embargos de declaração conhecidos e parcialmente providos, concedendo-lhes efeitos infringentes.” (TRF 5ª R. – AC 0000118-91.2012.4.05.8402/01 – (551734/RN) – 3ª T. – Rel. Des. Fed. Marcelo Navarro Ribeiro Dantas – DJe 03.06.2013 – p. 204)

968 – Pensão por morte – período de graça – observação“Agravo legal. Pensão por morte. Segurado desempregado por ocasião do óbito. Prorro-gação do período de graça. Requisitos preenchidos. Agravo improvido. 1. A decisão agra-vada foi proferida em consonância com o entendimento jurisprudencial desta eg. Corte, com supedâneo no art. 557 do CPC, inexistindo qualquer ilegalidade ou abuso de poder. 2. Segundo estabelece o § 2º do art. 15 da Lei nº 8.213/1991, os prazos do inciso I ou do § 1º serão acrescidos de 12 meses para o segurado desempregado. 3. Tendo em vista o término do vínculo empregatício em abril de 2006, o chamado ‘período de graça’, com extensão do art. 15, § 2º, da Lei nº 8.213/1991, permaneceu até 15.04.2008. Assim, por ocasião do óbito (05.07.2007), o falecido mantinha a condição de segurado. 4. Apesar do registro junto ao Ministério do Trabalho e da Previdência Social constituir prova absoluta da situação de desemprego, tal fato também poderá ser comprovado por outros meios de prova, nos termos da Súmula nº 27 da Turma de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais, que dispõe: ‘A ausência de registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a comprovação de desemprego por outros meios admitidos em Di-reito’. 5. Agravo improvido.” (TRF 3ª R. – Ap-RN 0019758-96.2012.4.03.9999/SP – 7ª T. – Rel. Des. Fed. Roberto Haddad – DJe 15.07.2013 – p. 1290)

969 – Pensão por morte – servidor público federal – relação homossexual – união estável – comprovação – benefício devido

“Administrativo. Servidor público federal. Pensão por morte. Relação homossexual. Be-nefício devido. Agravo retido não provido. Juros moratórios. 1. É considerada família do servidor, além do cônjuge e filhos, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e constem do seu assentamento individual, equiparando-se ao cônjuge a companheira ou companheiro que demonstre união estável como entidade familiar, nos termos do art. 241 da Lei nº 8.112/1990. 2. Malgrado o art. 226, § 3º, da Constituição da Repú-

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blica não considere como entidade familiar a união estável de homossexuais, no caso de pensão por morte, com fundamento nos princípios constitucionais da igualdade, da dignidade da pessoa humana e da promoção do bem de todos sem preconceito ou dis-criminação, tutela-se o dependente economicamente do servidor com a concessão do benefício, mitigando eventuais impedimentos puramente civis, desde que presentes os requisitos exigidos nos arts. 217 e seguintes da Lei nº 8.112/1990 para as hipóteses de parceiros de sexos opostos (STF, RE-AgRg 687432, Rel. Min. Luiz Fux, J. 18.09.2012; RE-AgRg 477554, Rel. Min. Celso de Mello, J. 16.08.11; STJ, REsp 932653, Rel. Min. Celso Limongi, J. 16.08.2011; REsp 827962, Rel. Min. João Otávio de Noronha, J. 21.06.2011). 3. Tendo em vista a repercussão geral reconhecida no AI 842063, bem como o julgamento, nos termos do art. 543-C do Código de Processo Civil, do REsp 1.205.946, reformulo parcialmente meu entendimento acerca da incidência dos ju-ros moratórios nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias a servidores e empregados públicos, que deverão incidir da seguinte for-ma: a) até a vigência da Medida Provisória nº 2.180-35, de 24.08.2001, que acrescentou o art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, percentual de 12% a.a.; b) de 27.08.2001, data da vi-gência da Medida Provisória nº 2.180-35/01, a 29.06.2009, data da Lei nº 11.960/2001, percentual de 6% a.a.; c) a partir de 30.06.2009, data da vigência da Lei nº 11.960/2009, a remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança (STF, AI 842063, Rel. Min. Cezar Peluso, J. 16.06.2011; STJ, REsp 1.205.946, Rel. Min. Benedito Gonçalves, J. 19.10.2011, TRF da 3ª Região, 1ª Seção, AR 97.03.026538-3, Rel. Des. Fed. Antonio Cedenho, J. 16.08.2012). 4. Os convites e mensagens sociais recebidos e enviados em nome do autor e do servidor, bem como os boletos bancários e contas do FGTS e da Embratel, constando o endereço comum, somados às declarações das testemunhas re-sultam em conjunto probatório suficiente a demonstrar que o autor e o servidor público conviviam de forma duradoura, pública, estável e contínua. 4. Quanto à apuração de eventual crime de discriminação sexual por parte da ré, não prospera a insurgência do autor. Como assinalado na decisão agravada, limitou-se a Autarquia a impugnar juri-dicamente a pretensão do autor, sem emissão de juízo de valor. De fato, do exercício das faculdades inerentes ao contraditório e à ampla defesa, não se pode concluir o ilí-cito referido, à míngua de manifestação de caráter preconceituoso ou discriminatório. 5. Reexame necessário parcialmente provido. Recurso de apelação do INSS e agravo retido do autor não providos.” (TRF 3ª R. – AC 0002103-55.2005.4.03.6120/SP – 5ª T. – Rel. Des. Fed. André Nekatschalow – DJe 02.05.2013 – p. 535)

970 – Responsabilidade civil – cancelamento indevido de benefício previdenciário – inobservância do contraditório e ampla defesa – dano moral – configuração

“Responsabilidade civil. Recurso adesivo. Julgamento extra petita inocorrente. Cance-lamento indevido de benefício previdenciário. Inobservância do contraditório e ampla defesa. Dano moral configurado. Lucros cessantes e danos materiais não comprovados. Juros de mora. I – No exame da demanda judicial o julgador não está vinculado aos fun-damentos oferecidos pela parte, devendo ser privilegiado os princípios Da Mihi factum dabo tibi ius e jura novit curia. Assim, não configura julgamento extra petita quando o juiz examina o pedido e aplica o direito com fundamentos diversos dos fornecidos na petição inicial, porém coerentes com a causa de pedir. Máxime na hipótese em que a decisão aponta irregularidade no ato administrativo que cancelou a aposentadoria da autora, dada a inexistência de oportunidade de defesa, violando o princípio da ampla defesa e do contraditório constitucionalmente garantidos no inciso LV do art. 5º da Carta Política de 1988. II – Caso em que ficou configurado o dano moral em razão da inobser-vância do direito constitucional da autora em exercer o contraditório e a ampla defesa

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diante do ato administrativo que cancelou seu benefício previdenciário de aposentado-ria proporcional. Por essa razão, não merece amparo judicial a pretensão do INSS em reformar a sentença ao fundamento de que observou as previsões legais na instauração do Procedimento Administrativo Disciplinar para apurar a ocorrência de falta grave da autora, posto que não há decisão apontando irregularidade do procedimento disciplinar e sim no ato anterior que cancelou o benefício previdenciário sem oportunidade de de-fesa. III – A iminência de iniciar empreendimento empresarial não justifica indenização decorrente de lucros cessantes, tendo presente que estes consistem naquilo que o lesado deixou razoavelmente de lucrar como consequência direta do evento danoso (CC, art. 422), e a inexistência de atividade empresarial concreta impede que se tenha em con-sideração qualquer expectativa razoável de lucro. Ou seja, ‘a indenização por lucros cessantes não pode ter por base o lucro imaginário, simplesmente hipotético ou dano remoto, que seria apenas a consequência indireta ou mediata do ato ilícito, mas deve representar o que a vítima efetivamente perdeu e o que razoavelmente deixou de ganhar, em decorrência direta e imediata do ilícito’ (REsp 1129538/PA). IV – No caso dos autos, para a comprovação de dano material é necessário a comprovação efetiva do prejuízo, tendo presente que ‘o dano material consiste na redução da esfera patrimonial de um sujeito, propiciando a sua supressão ou a diminuição do valor econômico de seus bens ou direitos que integram ou poderiam vir a integrar a sua titularidade’ (JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. 4. ed. São Paulo. Saraiva, 2009. p. 1077). Assim, é inviável aferir dano material a partir de requerimento de matrícula em estabelecimento de ensino ou de cópia de parte do contrato social. Não fora isso, a sentença de primeiro grau reconheceu o dano moral em decorrência da inobservância do direito da autora em exercer o contraditório e a ampla defesa no tocante ao ato que cancelou sua apo-sentadoria, objeto da Portaria/INSS/BA/DRH nº 370, e não em razão da instauração e desenvolvimento do procedimento administrativo disciplinar que teria ocasionado os prejuízos alegados pela parte. V – Conforme orientação do STJ ‘nas indenizações por danos morais, decorrentes da responsabilidade objetiva do Estado, incidem juros mora-tórios de 0,5% ao mês, nos termos do art. 1.062 do Código Civil de 1916 até a entrada em vigor do novo Código Civil (Lei nº 10.406/2001), a partir do qual, conforme disposto em seu art. 406, deverão observar a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional, qual seja, a Selic, ex vi Lei nº 9.250/1995. Tal sistemática prevalecerá até a entrada em vigor da Lei nº 11.960/2009, que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997’ (REsp 763.983/RJ). VI – Apelação do INSS e recurso adesivo a que se nega provimento e remessa oficial parcialmente provida para fixar os juros moratórios e correção monetária consoante Súmulas nºs 54/STJ e 362/STJ, pela Taxa Selic até a vigência da Lei nº 11.960/2009, quando fluirão pelos índices ofi-ciais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança (art.1º-F da Lei nº 9.494/1997).” (TRF 1ª R. – Ap-RN 2007.33.03.000005-8/BA – Rel. Des. Fed. Jirair Aram Meguerian – DJe 03.06.2013 – p. 100)

971 – Servidor público – aposentadoria em regime previdenciário – efeitos“Agravo regimental no agravo de instrumento. Administrativo. Servidora designada para o exercício de função pública. Aposentadoria. Regime previdenciário. Preenchimen-to dos requisitos. Legislação local. Reexame de fatos e provas. Impossibilidade. Pre-cedentes. 1. Inadmissível, em recurso extraordinário, a análise da legislação local e o reexame dos fatos e das provas dos autos. Incidência das Súmulas nºs 280 e 279/STF. 2. Agravo regimental não provido.” (STF – AgRg-AI 799.335 – Rel. Min. Dias Toffoli – DJe 27.06.2013 – p. 59)

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972 – Servidor público – pensão por morte – rateio entre viúva e ex-mulher beneficiá-ria de pensão alimentícia – cotas iguais – observação

“Apelação cível. Direito constitucional e previdenciário. Pensão por morte de servidor. Art. 331, II, a, da Constituição do Estado do Ceará. Rateio entre viúva e ex-mulher bene-ficiária de pensão alimentícia. Cotas iguais. 1. Lide na qual a autora objetivava receber 80% da pensão por morte de servidor estadual, na qualidade de viúva, mantendo-se a cota de 20% a título de pensão alimentícia para a ex-mulher, como determinado por sen-tença judicial. 2. A separada judicialmente ou divorciada, titular do direito a alimentos, tem direito à pensão vitalícia deixada por servidor público civil, nos exatos termos do art. 331, II, a, da Constituição Estadual. E esta pensão é diversa da pensão alimentícia de-finida na decisão judicial respectiva. A norma referida é clara, e o rateio da pensão vitalí-cia, em partes iguais é medida que se impõe, devido ao farto manancial jurisprudencial a respeito. 3. Apelação conhecida e desprovida.” (TJCE – AC 0513649-33.2000.8.06.0001 – Rel. Francisco Bezerra Cavalcante – DJe 10.07.2013 – p. 104)

973 – Tempo de serviço – rurícola – contribuição previdenciária – prova material – valoração

“Previdenciário. Labor rural. Regime de economia familiar. Tempo de serviço como ti-tular de firma individual. Recolhimento de contribuições. Responsabilidade do próprio empresário. Inviabilidade de reconhecimento. Compensação. Impossibilidade. Aposen-tadoria por tempo de serviço/contribuição. Averbação. Carência. Não preenchimento. 1. O tempo de serviço rural pode ser comprovado mediante a produção de prova material suficiente, ainda que inicial, complementada por prova testemunhal idônea. 2. Os docu-mentos em nome de terceiros (pais/cônjuge) consubstanciam início de prova material do trabalho rural desenvolvido em regime de economia familiar. 3. Pretendendo computar tempo de serviço perante a Previdência, o titular de firma individual deve comprovar, além do efetivo exercício de atividade empresarial, o recolhimento das respectivas con-tribuições sociais. 4. É vedada a compensação das parcelas de futuro benefício previden-ciário com o montante devido pela parte autora a título de contribuições previdenciárias. 5. Comprovado o exercício de atividades rurais, tem a parte autora direito à averbação dos respectivos períodos, os quais valerão para todos os fins junto ao Regime Geral de Previdência Social, exceto carência, independentemente de indenização das contribui-ções correspondentes, ressalvada apenas para efeito de contagem recíproca do perío-do rural perante o serviço público.” (TRF 4ª R. – AC 0004685-57.2012.404.9999/RS – 5ª T. – Rel. Des. Fed. Ricardo Teixeira do Valle Pereira – DJe 18.06.2013 – p. 217)

974 – Tempo de serviço especial – cozinheiro de plataforma petrolífera – reconheci-mento

“Processual civil. Previdenciário. Embargos de declaração. Comprovação de tempo de serviço prestado sob condições especiais. Cozinheiro de plataforma petrolífera. Preen-chimento do lapso temporal exigido pelo art. 57 da Lei nº 8.213/1991. Aclaratórios opostos intempestivamente. 1. A certidão que repousa às fls. dá conta da interposição intempestiva desses aclaratórios, portando, opostos em contrariedade aos art. 536 com art. 188 do Código de Processo Civil. Embargos declaratórios não conhecidos.” (TRF 5ª R. – Ap-Reex 2009.81.00.016050-6/02 – (17402/CE) – 1ª T. – Rel. Des. Fed. José Maria de Oliveira Lucena – DJe 14.06.2013 – p. 115)