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TERÇA-FEIRA, 15 de Novembro de 2011 Diário do Minho www.diariodominho.pt Religião 18 Reitor na abertura dos Seminários de Braga Seminaristas são «mãos de Deus» para construir a Igreja Família e paróquia são o primeiro lugar para a experiência da fé O director do Seminário de Nossa Senhora da Con- ceição em Braga, na sua comunicação na abertura dos Seminários, disse que o Seminário não é o único contexto possível para a experiência da fé. A família e a paróquia «são o lugar primeiro, e de certo modo, mais comum e natural, do encontro com Cristo», salientou o padre Avelino Amorim. O sacerdote, que falava sobre as razões da voca- ção, explicou que na família e na paróquia «a relação estabelece-se a partir dos laços da carne, do sangue, da origem e da simpatia» e o Seminário não pretende «cortar relação com estas duas comunidades de proveniência, mas estabelecer partilha e colaboração, que permita até uma comunhão mais profunda, porque redimensionada e iluminada a partir de Deus». Nesse sentido, considerou necessária a colaboração «estreita e continuada» do Seminário com as famílias dos formandos. O ano passado, houve seis encontros com os pais dos seminaristas, que continuam este ano. Contudo, o Seminário Menor de Braga quer ir mais longe, pois entende que o acompanhamento dos filhos pelos pais «pode ser uma ocasião oportuna para lhes favorecer uma melhor compreensão, pessoal e enquanto casal, da vocação fundamental que receberam no Baptismo e Matrimónio». Assim, está definido realizar um encontro mensal para os “esposos com filhos no seminário”, para aprofunda- mento da sua vocação esponsal. O padre Vítor Novais deu conta ainda, nesta sessão em que apresentou o relatório 2010/2011 do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, que a formação intelectual dos seminaristas ocupou grande parte do tempo e das preocupações da comunidade de formadores. Dos 21 seminaristas que iniciaram o ano, nove esta- vam pela primeira vez em comunidade do Seminário e denotavam faltas de hábitos de estudo e de com- petências básicas no domínio da Língua Portuguesa e da Matemática. Mas, graças ao reforço de cuidados e tempo de estudo, sobretudo aos fins-de-semana, «todos concluíram com êxito o ano escolar, e com boas classificações», disse. Este ano, o Seminário Menor, que conta com 20 semi- naristas, continua com o apoio a Matemática e Inglês e introduziu um tempo específico com um professor de Português para trabalhar as bases da leitura, escrita e interpretação de textos. «Não nos preocupa apenas a questão imediata de transitar de ano, mas que cada um desenvolva os dons que Deus lhe concede», frisou o sacerdote, lembrando que a ocupação principal do seminarista é o estudo, porque «o conhecimento de si próprio, da história e do mundo onde se situa, são fundamentais para o crescimento na fé e para o aprofundamento vocacional». O director do Seminário Menor não escondeu algumas carências em termos de espaços físicos, revelando que, depois de um candidatura para recuperar os espaços de utilização comum, há necessidade de uma sala exclusiva para o estudo, de uma sala de estar para os tempos livres e de um espaço celebrativo que favoreça o ambiente de oração. O Seminário Menor acompanhou, em pré-seminário, no último ano, cerca de 25 adolescentes. Destes, sete propuseram-se a estágio e cinco pediram a admissão ao Seminário. Jorge Oliveira «Ajudar o jovem a descobrir o projecto de Deus para a sua vida é um grande desafio para a pastoral vocacional da Igre- ja, ao qual os Seminários de- vem atender, no cumprimen- to da sua missão». A ideia foi deixada pelo reitor dos Seminários de Bra- ga, o cónego Vítor Novais, na abertura dos Seminários, no fi- nal da tarde de domingo, em sessão presidida pelo Arcebis- po de Braga e na qual esteve presente o Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins. O cónego Vítor Novais, que articulou a sua reflexão em quatro pontos (“Uma propos- ta de amor e sentido”, “A ‘mara- tona’ de Elias”, “Viver em Deus o momento presente”, “Semi- nário, a memória agradecida pelo caminho agraciado”), re- feriu que o Seminário, mais do que edifício ou espaço, deve ser compreendido como «tem- po de caminho, de busca de sentido e de descoberta de Jesus Cristo». Além disso, continuou, «é o tempo destinado ao aprofun- damento e ao discernimento do amor criador de Deus que chama, que fecunda a vida e lhe dá sentido», acrescentan- do que o Seminário «deve ajudar os jovens a conscien- cializarem-se que são hoje as mãos de Deus para construir a Igreja num mundo em cons- tante devir». O reitor dos Seminários de Braga admitiu que os tempos que se vivem hoje no plano vocacional «não são de faci- lidade», mas, citando o pre- sidente da Comissão Episco- pal das Vocação e Ministérios, D. Virgílio Antunes, disse que «não adianta o discurso da cri- se», é preciso «lançar mãos à obra, com uma linguagem e métodos adequados, que pas- sam pelo aprofundamento da fé e por proporcionar aos jo- vens possibilidades de encon- tro interior com Jesus Cristo, “o único capaz de suscitar vo- cações sacerdotais”». Considerou, por isso, que o papel da vocação sacerdo- tal «é mais importante do que nunca, no sentido de transmi- tir esperança e confiança ao nosso tempo». «Precisamos de fazer cons- tantemente a experiência do êxodo, de caminho e de ca- rência para compreendermos a essência da nossa missão. Uma experiência que não per- mitirá que fiquemos imobiliza- dos e estatizados na situação actual», acrescentou. Embora a vida sacerdotal seja chamada a ser portadora de esperança e de alegria para a humanidade, o cónego Vítor Novais referiu, porém, que os sacerdotes só podem ser sinais de esperança se forem capa- zes de enfrentar as suas crises com «alegria e serenidade, as- sumindo-as como tempos de graça e de vida nova». «Como fez Jesus Cristo na Quinta-feira Santa, este é o momento de olhar para o que está a acontecer, na confiança que trará fruto. Isto faz parte do testemunho de esperan- ça que a nossa vocação ofe- rece», indicou. Na Diocese de Braga, e concretamente nos Seminá- rios diocesanos, disse o rei- tor, o momento está a ser vi- vido com a «confiança evan- gélica, pois o Bom Pastor en- via sempre os operários ne- cessários para a messe». Segundo o cónego Vítor No- vais, nos últimos dois anos, os jovens que passaram a ingres- sar a comunidade «dão a ale- gria para uma esperança sus- tentada no Evangelho». Do mesmo modo, o Pré-Seminário «tem assumido horizontes de esperança, pelo modo como é dinamizado e pelos jovens que o frequentam». Referindo-se às actividades realizadas no último ano no Seminário, e foram várias, des- de encontros com famílias ao retiro anual e recolecções tri- mestrais, passando pelas or- denações diaconais e presbi- terais, o reitor assinalou que todas elas foram programas para oferecerem aos semi- naristas um «estímulo ade- quado em busca de verda- de, espiritualidade e auten- ticidade nesta fase de dis- cernimento». O Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, que apre- sentou uma reflexão intitula- da “Serviço e radicalidade na vida sacerdotal”, traçou algu- mas características que de- vem fazer parte dos sacerdo- tes como ser sempre «teste- munho e construtor de paz» ou «exemplo privilegiado de justiça». A educação, o respeito, a ca- pacidade para ver, ouvir e res- ponder ao mundo são outras marcas que devem distinguir os padres, disse. O reitor admitiu que os tempos que se vivem hoje no plano vocacional «não são de facilidade»

Pastoral Vocacional | Braga

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«Ajudar o jovem a descobrir o projecto de Deus para a sua vida é um grande desafio para a pastoral vocacional da Igreja, ao qual os Seminários devem atender, no cumprimentoda sua missão». in DIário do Minho [15-11-2011]

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TERÇA-FEIRA, 15 de Novembro de 2011Diário do Minho

www.diariodominho.pt Religião18

Reitor na abertura dos Seminários de Braga

Seminaristas são «mãos de Deus» para construir a Igreja

Família e paróquia são o primeiro lugarpara a experiência da fé

O director do Seminário de Nossa Senhora da Con-ceição em Braga, na sua comunicação na abertura dos Seminários, disse que o Seminário não é o único contexto possível para a experiência da fé. A família e a paróquia «são o lugar primeiro, e de certo modo, mais comum e natural, do encontro com Cristo», salientou o padre Avelino Amorim.

O sacerdote, que falava sobre as razões da voca-ção, explicou que na família e na paróquia «a relação estabelece-se a partir dos laços da carne, do sangue, da origem e da simpatia» e o Seminário não pretende «cortar relação com estas duas comunidades de proveniência, mas estabelecer partilha e colaboração, que permita até uma comunhão mais profunda, porque redimensionada e iluminada a partir de Deus».

Nesse sentido, considerou necessária a colaboração «estreita e continuada» do Seminário com as famílias dos formandos.

O ano passado, houve seis encontros com os pais dos seminaristas, que continuam este ano. Contudo, o Seminário Menor de Braga quer ir mais longe, pois entende que o acompanhamento dos filhos pelos pais «pode ser uma ocasião oportuna para lhes favorecer uma melhor compreensão, pessoal e enquanto casal, da vocação fundamental que receberam no Baptismo e Matrimónio».

Assim, está definido realizar um encontro mensal para os “esposos com filhos no seminário”, para aprofunda-mento da sua vocação esponsal.

O padre Vítor Novais deu conta ainda, nesta sessão em que apresentou o relatório 2010/2011 do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, que a formação intelectual dos seminaristas ocupou grande parte do tempo e das preocupações da comunidade de formadores.

Dos 21 seminaristas que iniciaram o ano, nove esta-vam pela primeira vez em comunidade do Seminário e denotavam faltas de hábitos de estudo e de com-petências básicas no domínio da Língua Portuguesa e da Matemática. Mas, graças ao reforço de cuidados e tempo de estudo, sobretudo aos fins-de-semana, «todos concluíram com êxito o ano escolar, e com boas classificações», disse.

Este ano, o Seminário Menor, que conta com 20 semi-naristas, continua com o apoio a Matemática e Inglês e introduziu um tempo específico com um professor de Português para trabalhar as bases da leitura, escrita e interpretação de textos.

«Não nos preocupa apenas a questão imediata de transitar de ano, mas que cada um desenvolva os dons que Deus lhe concede», frisou o sacerdote, lembrando que a ocupação principal do seminarista é o estudo, porque «o conhecimento de si próprio, da história e do mundo onde se situa, são fundamentais para o crescimento na fé e para o aprofundamento vocacional».

O director do Seminário Menor não escondeu algumas carências em termos de espaços físicos, revelando que, depois de um candidatura para recuperar os espaços de utilização comum, há necessidade de uma sala exclusiva para o estudo, de uma sala de estar para os tempos livres e de um espaço celebrativo que favoreça o ambiente de oração.

O Seminário Menor acompanhou, em pré-seminário, no último ano, cerca de 25 adolescentes. Destes, sete propuseram-se a estágio e cinco pediram a admissão ao Seminário.

�� Jorge Oliveira

«Ajudar o jovem a descobrir o projecto de Deus para a sua vida é um grande desafio para a pastoral vocacional da Igre-ja, ao qual os Seminários de-vem atender, no cumprimen-to da sua missão».

A ideia foi deixada pelo reitor dos Seminários de Bra-ga, o cónego Vítor Novais, na abertura dos Seminários, no fi-nal da tarde de domingo, em sessão presidida pelo Arcebis-po de Braga e na qual esteve presente o Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins.

O cónego Vítor Novais, que articulou a sua reflexão em quatro pontos (“Uma propos-ta de amor e sentido”, “A ‘mara-tona’ de Elias”, “Viver em Deus o momento presente”, “Semi-nário, a memória agradecida pelo caminho agraciado”), re-feriu que o Seminário, mais do que edifício ou espaço, deve ser compreendido como «tem-po de caminho, de busca de sentido e de descoberta de Jesus Cristo».

Além disso, continuou, «é o tempo destinado ao aprofun-damento e ao discernimento do amor criador de Deus que chama, que fecunda a vida e lhe dá sentido», acrescentan-do que o Seminário «deve ajudar os jovens a conscien-cializarem-se que são hoje as mãos de Deus para construir a Igreja num mundo em cons-tante devir».

O reitor dos Seminários de Braga admitiu que os tempos que se vivem hoje no plano vocacional «não são de faci-lidade», mas, citando o pre-sidente da Comissão Episco-pal das Vocação e Ministérios, D. Virgílio Antunes, disse que «não adianta o discurso da cri-

se», é preciso «lançar mãos à obra, com uma linguagem e métodos adequados, que pas-sam pelo aprofundamento da fé e por proporcionar aos jo-vens possibilidades de encon-tro interior com Jesus Cristo, “o único capaz de suscitar vo-cações sacerdotais”».

Considerou, por isso, que o papel da vocação sacerdo-tal «é mais importante do que nunca, no sentido de transmi-tir esperança e confiança ao nosso tempo».

«Precisamos de fazer cons-tantemente a experiência do êxodo, de caminho e de ca-rência para compreendermos a essência da nossa missão. Uma experiência que não per-mitirá que fiquemos imobiliza-dos e estatizados na situação actual», acrescentou.

Embora a vida sacerdotal seja chamada a ser portadora de esperança e de alegria para a humanidade, o cónego Vítor Novais referiu, porém, que os sacerdotes só podem ser sinais de esperança se forem capa-

zes de enfrentar as suas crises com «alegria e serenidade, as-sumindo-as como tempos de graça e de vida nova».

«Como fez Jesus Cristo na Quinta-feira Santa, este é o momento de olhar para o que está a acontecer, na confiança que trará fruto. Isto faz parte do testemunho de esperan-ça que a nossa vocação ofe-rece», indicou.

Na Diocese de Braga, e concretamente nos Seminá-rios diocesanos, disse o rei-tor, o momento está a ser vi-vido com a «confiança evan-gélica, pois o Bom Pastor en-via sempre os operários ne-cessários para a messe».

Segundo o cónego Vítor No-vais, nos últimos dois anos, os jovens que passaram a ingres-sar a comunidade «dão a ale-gria para uma esperança sus-tentada no Evangelho». Do mesmo modo, o Pré-Seminário «tem assumido horizontes de esperança, pelo modo como é dinamizado e pelos jovens que o frequentam».

Referindo-se às actividades realizadas no último ano no Seminário, e foram várias, des-de encontros com famílias ao retiro anual e recolecções tri-mestrais, passando pelas or-denações diaconais e presbi-terais, o reitor assinalou que todas elas foram programas para oferecerem aos semi-naristas um «estímulo ade-quado em busca de verda-de, espiritualidade e auten-ticidade nesta fase de dis-cernimento».

O Bispo Emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, que apre-sentou uma reflexão intitula-da “Serviço e radicalidade na vida sacerdotal”, traçou algu-mas características que de-vem fazer parte dos sacerdo-tes como ser sempre «teste-munho e construtor de paz» ou «exemplo privilegiado de justiça».

A educação, o respeito, a ca-pacidade para ver, ouvir e res-ponder ao mundo são outras marcas que devem distinguir os padres, disse.

O reitor admitiu que os tempos que se vivem hoje no plano vocacional «não são de facilidade»