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1 CURSO DE TEOLOGIA PASTORAL URBANA: INCLUSÃO ÉTNICO CULTURAL por MARIA DA FÉ SILVA VIANA Trabalho acadêmico apresentado ao Prof. Odi- lon Massolar Chaves da Disciplina Monogra- fia II, como exigência parcial para a conclusão do Curso de Teologia do Centro Universitário Metodista Bennett. Rio de Janeiro — Dezembro de 2006

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CURSO DE TEOLOGIA

PASTORAL URBANA:

INCLUSÃO ÉTNICO CULTURAL

por

MARIA DA FÉ SILVA VIANA

Trabalho acadêmico apresentado ao Prof. Odi-lon Massolar Chaves da Disciplina Monogra-fia II, como exigência parcial para a conclusãodo Curso de Teologia do Centro UniversitárioMetodista Bennett.

Rio de Janeiro — Dezembro de 2006

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PASTORAL URBANA: INCLUSÃO ÉTNICO CULTURAL

MARIA DA FÉ DA SILVAVIANA

Monografia submetida ao corpo docente do Curso de Teologia do Centro Uni-

versitário Metodista Bennett como parte dos requisitos necessários para obtenção

do grau de bacharel em teologia.

Aprovado em ........./12/2006

_________________________________________________

José Magalhães Furtado – Professor-Orientador do aluno

_________________________________________________

Odilon Massolar Chaves - Professor da disciplina Monografia II

Rio de Janeiro, Dezembro de 2006

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SUMÁRIO

Agradecimentos ________________________________________________ 04

I - Introdução __________________________________________________ 06

1. Sobre a inclusão étnica e cultural_____________________________ 06

II – As dificuldades da conscientização da pobreza_____________________ 09

III – Identidade étnico-cultural nas camadas pobres ____________________ 15

IV - Recomeçar ________________________________________________ 22

V - Conclusão__________________________________________________ 30

VI - Bibliografia_________________________________________________ 33

ANEXO ____________________________________________________ 35

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AGRADECIMENTOS

“Bendize oh minha alma ao Senhor! E não te esqueças de nenhum de seus benefícios.”

Salmos 103,1

Quero com esse versículo iniciar os agradecimentos com cuidado ao mencionar no-

mes pois corro o risco de esquecer alguém, o que seria imperdoável.

Agradeço primeiramente a Deus, que em todo o tempo tem caminhado comigo, me

conservando com saúde, me protegendo e livrando de todos os males, provendo os recursos

necessários para que eu conseguisse chegar até aqui.

Agradeço também a Igreja Metodista na 1ª Região, que na pessoa do Revmo. Bispo

Paulo Lockmann, assumiu o compromisso de encaminhar meus pedidos de bolsa, e em fa-

zendo-o com grande alegria para mim, foram atendidos em sua maioria.

Em todo o curso apenas duas mulheres estiveram a frente da turma e só agora no

finalzinho uma terceira vem para completar minha alegria em poder agradecê-las, por serem

tão competentes nesse universo ainda tão masculino da Teologia.

Aos Professores que foram tão amigos e compreensivos com minhas limitações, a-

trasos na entrega de trabalhos, faltas em conseqüência das viagens e até alguns cochilos

durante as aulas, perdoem-me, e muito obrigada.

Em especial quero agradecer ao Professor José Magalhães, meu orientador, por ter

aceitado mais esta tarefa, pois durante todo o curso grandes coisas foram feitas por ele, a

meu favor,meus sinceros agradecimentos.

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A Sociedade de Mulheres da Igreja Metodista do Catete, através da Bolsa Maria

Bomfim, que nos primeiros períodos me ajudou com uma verba para as passagens.

A toda a turma que caminhou junto e aos/as já exercendo o pastorado, e também a

quem parou no caminho, sou grata por nosso bom relacionamento e carinho a mim dispen-

sado. Ao Fabio e ao Sandro, pelas caronas que me poupavam o bolso e diminuíam o cansa-

ço.

Finalmente agradeço aos meus familiares, amigos, igreja e destaco entre estes, pastor

Otavio, pelas aulas praticas no estagio, Psicóloga Vera, do Lar Maria de Lurdes, bem como

todos e todas que fazem parte da sua equipe de trabalho, onde fiz o estagio institucional , aos

meus filhos,que muito tem me ajudado nas minhas dificuldades com a informática, ao meu

irmão, noras e netas por me apoiarem e incentivarem orando sempre e clamando as bênçãos

de Deus, em mais essa etapa da minha vida

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I – INTRODUÇÃO

1. Sobre a Inclusão étnica e cultural

“Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados eu me levantarei

agora, diz o Senhor; e porei a salvo a quem por isso suspira”

Salmos 12,5

A partir desta afirmação bíblica, e com a certeza de que o compromisso cristão deve

estar presente onde existam causas injustas, trazendo infelicidade é que inicio a apresenta-

ção do texto que, norteará o trabalho, sonhado por todos e todas que anseiam pela trans-

formação da sociedade, entre os quais me incluo.

Sabendo ser a Inclusão Étnica e Cultural, uma necessidade que pode reverter o qua-

dro de preconceitos existentes entre nós, e entendendo que poucas são as pessoas conhece-

doras dos motivos que as levaram a ter uma vida difícil, sem perspectiva de mudança em

alguns casos, outras vezes as lutas se sobrepõem as forças, sem resultado satisfatório. Luga-

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res específicos e suas populações são vitimas preferenciais nesta situação, quais poderão ser

as razões destes acontecimentos?

A narrativa se inicia com a responsabilidade de conscientizar , trazendo uma parte da

história, que mostra alguns fatos causadores do empobrecimento e das formas como acon-

tecem, algumas ações opressoras e suas conseqüência s maléficas, fatos acontecidos no ini-

cio da história e que ainda estão presentes na realidade atual perpetuando a dor e o sofri-

mento que visamos diminuir, com nossas ações e atitudes. A dificuldade encontrada fica por

conta da desinformação, só os não pobres sabem os porquês da pobreza.

No segundo capitulo conhecemos a realidade e a identidade étnica das pessoas com-

ponentes prioritárias da nossa pesquisa, bem como pensamentos, opiniões e ações de institu-

ições sociais, religiosas, de literaturas libertárias e depoimentos pessoais de quem de al-

guma forma têm marcado presença nesse contexto da sociedade que cresce cada vez mais, e

precisa ter ações mais concretas impulsionando para a cidadania, única forma de mudá-lo.

Usamos inclusive palavras de Jesus, para direcionar as possíveis ações transformadoras que

o texto nos sugere , como meta e serviço cristão.

O terceiro capítulo fala em recomeçar, mas como? Recomeçar a pensar no que se

pode fazer para que as mudanças aconteçam. Para tal precisamos ter exemplos, tomar co-

nhecimento de que situações parecidas aconteceram e de que Deus ofereceu e continua ofe-

recendo os recursos necessários para a solução das causas pendentes. Mostramos as ques-

tões bíblicas para que as pessoas entendam, compreendam e façam das suas dificuldades,

ferramentas ou instrumentos de libertação.

Queremos ser construtores de uma nova realidade de vida para um grande número de

pessoas que, desprezadas e renegadas pela sociedade perderam inclusive o direito de falar,

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pedir ou reivindicar, mas para que isto aconteça, além de criar uma, ou melhor dizendo,

mais uma Pastoral de serviço precisamos ter em mente: o reconhecimento dos trabalhos já

desenvolvidos pelas comunidades religiosas em geral, destacando-se as igrejas cristãs que

têm sido observad as pelas secretarias de governo, e convidadas a serem parceiras, e no mo-

mento as atividades pró-saúde da população negra que é um programa especifico, direcio-

nado, e está sendo desenvolvido pelas comunidades de terreiro mas, que atende aos/as ne-

gros/as em geral.

Nossa conclusão visa mostrar, que a presença das igrejas, nas comunidades como

agencias de justiça, testemunho de fé e esperança de salvação em Jesus Cristo, deve ser

sempre vista com simpatia e em uma troca salutar desenvolver ações que justifiquem essa

nova construção dos direitos humanos que para nós são direitos divinos.

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II – AS DIFICULDADES DA CONSCIENTIZAÇÃO DA

POBREZA

Se fizermos um brevíssimo e superficial panorama da história da humanidade vere-

mos diversos fatores que, por determinação do poder vigente ou em conseqüência dos mais

variados acontecimentos, levam alguns povos a sofrer grandes perdas caracterizando assim

o empobrecimento. Observamos também que este fato está sempre ligado ao enriquecimen-

to de outros, gerando assim uma divisão de classes sociais diferenciada e com tendências a

injustiça.

Podemos citar alguns casos para o enriquecimento da pesquisa, e também para

que possamos entender de alguma forma o que nos leva a abordar tal assunto, visto que, em

meio a esta realidade de muitos, compartilhando sua falta de perspectiva de mudança, mas

conservando sempre um espírito de luta, e de resistência ao caos.

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Citamos inicialmente a África, que ocupa o 4º lugar em população, tem predo-

minância da raça negra e suas riquezas foram impedidas de melhor se expandir, por fatores

naturais e acidentais, ou seja: vastas regiões áridas, solos pobres, o tráfico dos escravos ne-

gros que atingiu, conforme informações, cerca de 13.000.000 a 40.000.000;1 ocasionando

assim dificuldades em número para mão de obra na agricultura, exploração do solo e etc.

Invasão Européia e desqualificação social, perda da nobreza existente em suas origens.

Diferentemente da forma que o povo africano foi retirado da sua terra, despo-

jado de suas riquezas materiais, culturais e humanas, pois a escravização é a pior das formas

de empobrecimento que existe, os asiáticos são alcançados por um processo de diminuição

dos seus reais valores a partir da menção de algumas áreas, como incapazes economicamen-

te, por possuir uma superpopulação e conseqüentemente o gasto das riquezas naturais e

materiais se torna acima do que é produzido.

A América Latina torna-se um enorme bolsão de pobreza, com suas riquezas na-

turais exploradas por invasores oriundos de todas as partes do mundo, dificultando o rela-

cionamento interno, pois somente uma pequena parte da população consegue se empregar,

adquirir propriedades, estudar e ter vida digna, enquanto a massa que é maioria empobrece a

cada dia, pela falta dos recursos básicos em todos os setores da vida.

Nesta linha, poderíamos apresentar quadros informativos de cada país, com su-

as diferenças culturais, políticas e econômicas, no entanto, entendemos ser melhor nos refe-

rir aos continentes, onde estão mais sinalizadas algumas evidencias.

1 Grande Enciclopédia Continental, pg.51,Edição exclusiva para Pronae[Programa Nacional de Assistência a Educação]

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Destacamos neste quadro, as fortes tendências religiosas, que predomina em

todos os povos empobrecidos, pois de acordo com a opinião de grandes pesquisadores , a fé

minimiza as perdas e ainda fortalece a esperança a resistir, quando tudo parece estar perd i-

do, cria substitutivos para as situações embaraçosas e com isso, a cada dia aumentam os

grupos religiosos em todas as formas de praticas.

Todas as palavras escritas neste inicio de capitulo, tem como principal finali-

dade ter uma visão geral da pobreza, para então trabalhar a dificuldade da conscientização

da mesma.

O que nos pode ajudar a ter consciência de que somos pobres,ou empobrec i-

dos? Poderíamos buscar respostas concretas, em fontes que estão a serviço do desenvolv i-

mento humano, presente nos mais variados espaços de pesquisa social existentes. Porém,

por dificuldade de acesso e também, pelo interesse que temos da criação de uma Pastoral

que atenda questões relacionadas a essa parcela da população marginalizada e excluída, to-

mamos por fonte de consulta materiais produzidos e publicados por Órgãos governamentais

ou populares cujos serviços podemos acompanhar, nos envolvendo com “Ong’s” compro-

metidas com a causa no seu modo de agir, seja na busca de soluções; promovendo capacita-

ções diversas, realizando ações através de pequenos projetos ou simplesmente fazendo todo

tipo de denuncias, para despertar a atenção das autoridades competentes.

Geralmente ao nos envolver, com os movimentos populares estamos buscando enten-

dimento, e compreensão para as situações diferenciadas que nos envolvem.

Tomamos conhecimento de que existem diferentes fóruns de debate, e que nós deve-

mos conhecer as realidades que nos cercam, para então podermos entender o que nos torna

empobrecidos/as.

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Entendendo que a fé, deve ser um instrumento para nos mover em direção a inclusão,

seja étnica, cultural ou social, damos prioridade às afirmações que estão no Evangelho de

Jesus, escrito por Lucas (Lc 4:18): O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu

para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração

da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos.2

Jesus lê estas palavras na sinagoga, em um dia de sábado, quando todos iam lá,

para estudar a palavra de Deus (TORÁ)3. A sinagoga, além de possuir um papel religioso,

era também um importante centro cultural do judaísmo.4 - Entendemos então a inserção cul-

tural na forma de propagação do Evangelho, como uma marca que se faz presente através

dos tempos. Também se torna mais fácil entender certas situações acontecidas nas vidas das

pessoas que escolhemos como sujeito desta pesquisa e na construção de mais um meio al-

ternativo, para sua inclusão na sociedade.

Escolhemos para nossa pesquisa a área denominada Baixada Fluminense, por

ser o lugar onde na década de 50, a minha família encontrou condições pra morar, sendo a

partir daí, espaço de convivência com toda sorte de dificuldades, pois se hoje a baixada tem

grandes carências, o que dizer de uma época em que luz elétrica e água encanada só existi-

am nos grandes centros, isto é, no asfalto, pois nos morros e comunidades de favela do Rio

de Janeiro também não havia. Mas as dificuldades não eram apenas com o que faltava, mas

o que chegava para seus moradores como informação, tornava sua esperança de melhora,

tão pequena que muitos desistiram da espera. Venderam seus terrenos e foram tentar a sorte

2 Biblia Sagrada, Almeida Revista e atualizada, 2ª Edição3 Torá (do hebraico ,ּתֹורָה significando instrução, apontamento, lei) é o nome dado aos cinco primeiros livros do

Tanakh (também chamados de Hamisha Humshei Torah, - הרות ישמוח השמח as cinco partes da Torá) e queconstituem o texto central do judaísmo.

4A BIBLIA: INTRODUÇÃO HISTORIOGRAFICA E LITERÁRIA, Carlos Frederico Schlaepfer_ FranciscoRodrigues Orofino_ Isidoro Mazzarolo, 2ª Edição Editora Vozes - Petrópolis 2005]

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em outros lugares. Mas, que tem isso a ver com conscientização da pobreza ou empobreci-

mento?

“Os homens e mulheres que enfrentam diariamente uma situação de miséria e opres-

são pensam muitas vezes como se rebelar contra ela. As ideologias das frações da classe

dominante exercem, então, um papel importante, oprimem a consciência dos pobres com

elementos justificativos da situação presente. A religião tem estado presente, e segue per-

manecendo, nestas ocasiões como um dos elementos de explicação e justificação.

Contudo o próprio fato de viver numa tal condição de pobreza e sofrimento dá lugar

a um atuar histórico próprio dos pobres. A partir dessa vivência real do/a oprimido/a nascem

também expressões populares originais; existem assim, culturas, mentalidades, ideologias e

visão de mundo dos/as dominados de múltiplos matizes , de forma espontânea ou organiza-

da, individual ou coletiva. Aqui também, a religião exerce e segue exercendo uns papéis

importantes, alimentando uma esperança e uma fé num mundo melhor, de onde se realize

plenamente a fraternidade baseada na justiça e na verdade. Cabe ainda a possibilidade de

que seja uma falsa esperança, uma fuga para fora da história; porém,se se liga á ação histó-

rica dos/as oprimidos/as,o fator religioso chega a ser um fator libertador.”

Diante destas considerações de um pesquisador brasileiro contemporâneo 5 e que

possui larga experiência nas questões relacionadas a Baixada Fluminense, local onde con-

viveu e trabalhou por muitos anos, sinto-me confiante ao trabalhar na perspectiva de mais

5 Claudio de Oliveira Ribeiro pastor metodista, Mestre em Teologia, lecionando na UMESP, Rudge Ramos, SãoPaulo e pastoreando também na mesma área

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um serviço, ser criado para atender as necessidades de uma grande parcela da população

residente nesta área, que certamente o receberá como resposta de Deus, a suas preces.

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III - IDENTIDADE ÉTNICO-CULTURAL NAS CAMADAS

POBRES

Nas muitas leituras que temos feito sobre as questões étnico-culturais brasileiras, en-

contramos sempre a pobreza como parte integrante destas e como não poderia deixar de ser,

a maior parcela está entre os/as de etnia negra (pretos e pardos).

Mesmo sabendo de alguns expedientes geradores desta realidade em nossos dias, não

seria correto mencioná-los sem antes buscar explicações na história, naquela que é ensinada

nas escolas e também em outros grupos formadores de opinião e entendimentos,nestas e

outras questões em publicações, e documentos de circulação interna entre militantes.

Procuramos uma explicação que nos trouxesse esclarecimentos para tão desoladora

associação e tivemos que fazer uma viagem através da leitura ao século XV, ano 1454

quando Sua Santidade o Papa Nicolau V, dá exclusividade aos Portugueses para aprisionar

negros para o Reino, pois lá eles eram batizados.6 Isto explica a invasão européia no conti-

6 Sete Atos Oficiais que decretam a marginalização do Povo Negro no Brasil, Boletim publicado pela Comissão

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nente africano para de lá arrancar a força um povo que, por ser considerado inferior, perdia

o direito sequer de pensar, quanto mais decidir. Podemos então dizer que a escravidão foi

determinada por uma religião? Ou pela representação do Cristianismo da época, visto que

estes fatos antecedem a Reforma Protestante? Pensemos bem.

Continuando, em um outro documento Papal de 1888, desta vez assinado pelo Papa

Leão XIII,(Carta Encíclica ”In Murtaus” de 5 de maio de 1888), a metade dos aprisi onados

era barbaramente assassinada ao resistir à captura. Da viagem do navio negreiro, de cada 10

irmãos embarcados, 4 morriam ao longo da viagem pelos maus tratos e eram jogados no

mar. Como podemos ver e saber nessa viagem ao passado, os nossos ancestrais, que são

também os iniciadores desta grande parcela da população que povoa a região da baixada e

adjacências, têm em sua bagagem todos os elementos necessários para a concretização de

uma vivencia marcada pelas injustiças, com pouquíssimos sinais de mudança.

E o Governo, como interfere na situação ainda naquele tempo? Como já dissemos, es-

tamos comentando “Sete Atos Oficiais”a parte governamental é uma sucessão de injustiças

que por estar no cumprimento de leis elaboradas de forma que pudesse trazer benefícios aos

detentores do poder, quem iria questionar? E os interesses precisavam estar alinhados, para

que a barbárie7 fosse completa.

A Constituição de 1824 proíbe o negro de aprender a ler e escrever. Os poderosos do

Brasil sabiam que o acesso ao saber era uma alavanca de promoção social, econômica e po-

lítica de um povo. Com o decreto nº 1331, artigo 69, o grupo do poder encurralava a popu-

lação negra nos porões da sociedade. As conseqüências deste decreto vêm até nossos dias.

de Religiosos, Publicado pela Comissão de Padres, Seminaristas e Religiosos/as Negros/as do Estado do Riode Janeiro (boletim)

7 Barbárie, Estado ou condição de Bárbaro

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Temos ainda a Lei da Terra, de 1850, quando todo o território brasileiro estava povo-

ado por quilombos. Os quilombos eram formados por negros que através de diversas formas

conquistavam a liberdade. Lá viviam uma alternativa de sociedade, tendo tudo em comum.

As grandes sobras de produção eram vendidas aos brancos nas vilas da redondeza. Os pode-

rosos do sistema percebendo que os negros estavam se dando bem, e que os brancos das

Vilas estavam sem mão de obra para o trabalho, sendo uma ameaça a estabilidade de suas

economias, decretam a Lei da Terra. A partir desta lei era proibido ocupar terras no Brasil.

Para ter a terra teria que comprá-la do governo.8

Continuando nossa viagem no tempo e na história, mostramos agora um outro meio

de ilusão do povo negro, isto é dos homens negros jovens:O Exercito Brasileiro, que de

propósito criou expectativas de liberdade para os negros que fossem lutar na guerra do Pa-

raguai, que acontece do ano de 1860 até 1875.

Esta, foi um dos instrumentos usados pelo poder para reduzir a população negra no

Brasil. Foi difundido que os negros que fossem lutar na guerra, ao retornar receberiam a

liberdade e os já livres receberiam a terra. Alem do mais, quando chegava a convocação

para o filho do fazendeiro, ele o escondia e no lugar do filho enviava de 5 a 10 negros.

Antes da guerra do Paraguai a população negra do Brasil era de 2.500.000 pessoas

(45% do total da população brasileira).Depois da guerra, em 1875, a população negra do

Brasil se reduz para 1.500.000 pessoas(15%do total da população brasileira).

No fim da guerra o Comandante Duque de Caxias escreveu ao Imperador uma

carta, comunicando-o que era grande o número de negros vivos. Dizia que o negro era mui-

8 Idem, transcrição de parte do texto

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to ágil e desenvolvia grande habilidade no manejo das armas. Ele estava com medo de que,

retornando com eles ao Brasil, poderiam tomar o poder, como fizeram outros negros no

Haiti. Aqui vemos como era visível o medo de uma possível reação dos negros, que poderia

mudar de verdade a situação.

Outras Leis que penalizaram o povo de etnia negra, e que a historia aponta co-

mo beneficio, são as que foram dedicadas às crianças e idosos:

Lei do Ventre Livre (1871)

Esta lei é ensinada nas escolas como uma lei boa: “Toda criança que nascesse a partir

daquela data nasceria livre”.Na prática,esta lei separava as crianças de seus pais, desestrutu-

rando a família negra. O governo abriu uma casa para acolher estas crianças. E de cada 100

crianças que lá entravam 80 morriam antes de completar um ano de idade. O objetivo desta

lei foi tirar a obrigação dos senhores de fazendas de criar nossas crianças negras, pois já

com 12 anos de idade as crianças saiam a procura da liberdade negada nas senzalas.Com

essa lei surgem os primeiros menores abandonados do Brasil. Nosso povo empobrecido, faz

parte desta linhagem que vem de muito mais longe do que se pode prever.

Lei do Sexagenário (1885)

Também é ensinado nas escolas como sendo um premio do “coração bom” do Senhor

para com o escravo que muito trabalhou. Na verdade esta lei foi a forma mais eficiente en-

contrada pelos opressores para jogar na rua os velhos doentes e impossibilitados de continu-

ar gerando riquezas para os senhores de fazendas, surgindo assim os primeiros mendigos

nas ruas do Brasil.

2.3 - Quando iniciamos este texto decidimos conhecer ,pelo menos em parte explic a-

ções cientificas para o fenômeno da desigualdade que acompanha de tal forma nosso publi-

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co alvo, e devo dizer que foi difícil encontrar autores que tenham feito a delimitação do

mesmo. Mas, considerando de modo global, podemos mostrar algumas coisas:

Ao buscar informações condizentes com a proposta, que vai além da informação mas

sim comprovar que a realidade de hoje teve uma construção maléfica e se nada for feito pra

mudar, ela se perpetuará e as gerações atuais e as vindouras vão continuar se sentindo infe-

riores, incapazes, impotentes e obviamente infelizes. Pois embora já se tenha percorrido boa

parte do caminho para a igualdade, é preciso conhecer as forças que de maneiras bem dis-

farçadas e sutis, tentam manipular o processo para que pensemos que tudo vai bem, en-

quanto isso, continuamos a vivenciar o descaso na saúde da população negra, não havendo

atenção para as doenças que são mais freqüentes em afros-descendentes, péssimo atendi-

mento nas unidades de Saúde Publica,onde nosso povo tem acesso, falta de recursos finan-

ceiros para um atendimento que vise a prevenção,portadores das mais variadas necessidades

e patologias, com dificuldade de inclusão nos serviços básicos, idosos perecendo nas pró-

prias casas sem assistência, nem mesmo de Agentes Comunitários de Saúde, que possam

dar instruções sobre como cuidar de coisas mínimas, próprias da idade e as crianças, que

tem apenas as campanhas de vacinação, regras de alimentação, nem pensar, nas proximida-

des das escolas, embora proibido continua o comércio de produtos que comprovadamente

são nocivos a saúde, mas, as Autoridades Sanitárias são inoperantes nesta questão. Direto-

res/as dizem que esta é a única forma de colaborar com quem mora na circunvizinhança,

disponibilizando a calçada da escola para o trabalho e garantindo assim que nos fins de

semana a escola seja bem guardada.

Por todas essas distorções sociais,nos propomos conhecer e mostrar:

As noções de raça, etnia e nação têm sido usadas de maneiras diversas para clas-

sificar, ordenar hierarquicamente, indivíduos e grupos socialmente desqualificados. Sua

alotropia deriva da natureza particularista dos enunciados biológicos e culturais, usados

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para marcar ou impor pertencimentos étnicos e nacionais inconciliáveis com Estado-

nação e indicativos da situação de minoria. Na forma ideológica dos nacionalismos,

desde o século XIX, o Estado-nação é imaginado idealmente,para reconhecer como ci-

dadãos apenas aqueles classificáveis como nacionais. A situação ideal supõe a congru-

ência entre nação, Estado e povo - raramente concretizada na prática. As minorias,

quaisquer que sejam seus elementos de identificação (raça, cultura, religião, etc.)ou de

formação(migração, escravidão,colonialismo, alteração de fronteiras etc.),perturbam a

ordem natural imaginada para o Estado-nação, conforme assinalou Arendt (1976). De

fato,as diferenças (culturais e/ou fenotípicas) foram assinaladas com a sinonímia da de-

sigualdade,e os sentimentos e práticas próprias do etnocentrismo e do racismo configu-

ram-se no pensamento ocidental muito antes da invenção do conceito de raça e do evo-

lucionismo cultural no século XIX.

Assim, se a idéia de raça surgiu de modo mais ou menos elaborado no século

XVIII, antecedida por formulações vagas das metáforas de sangue e das vinculações

bíblicas, os conteúdos a ela associados vêm de muito mais longe na história humana,

encapsulados por outros rótulos não menos indicativos de suposições de inferioridade.

As muitas consultas nos estimulam na busca de maior conhecimento das inúme-

ras teorias apresentadas pelos estudiosos para justificar ou mesmo entender as diferen-

ças, nos seres que aparentemente são iguais na formação corpórea,mas que na realidade

por sofrer influências mil se torna objeto de estudos antropológicos, científicos com

base na anatomia e sociais em todos os recantos do mundo.

Ensaístas como Gobineau, pensadores e cientistas de diferentes áreas do conhe-

cimento sucumbiram aos determinismos raciais, dividindo a humanidade em tipos supe-

riores e inferiores e condenando a miscigenação –pedra angular das teses de Gobineau

e dos darwinistas9 sociais.

Não cabe aqui esmiuçar as principais teorias raciais, surgidas desde o início

do século XIX, quando Cuvier, em busca das características físicas permanentes que

distinguem as raças humanas, instituiu o método de analise anatômica comparativa dos

crânios. Enfim, para determinar os limites da variabilidade sugerida pelas numerosas

medidas do crânio, pela cor da pele, olhos, cabelos etc., o foco da analise passou a ser a

9 Darwinismo, sistema de História Natural que reconhece uma origem comum na multiplicidade dos seres orga-nizados, a formação de novas espécies por um processo de seleção natural. [NOVA ENCICLOPÉDIA BRA-SILEIRA DE CONSULTAS E PESQUISAS]

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raça- isto é, as características imaginadas permanentes, que distinguem os diferentes

grupos humanos, tendo como ponto de partida (e de finalização) a aparência física ele-

vada à condição de elemento determinante da cultura e da civilização.

Na virada para o século XIX, o preceito da desigualdade das raças humanas a-

dentrava a modernidade. Afinal, embora a maioria dos iluministas pensasse que a civi-

lização (ou a cultura) se sobrepunha a natureza(a unidade do homem como ser natural

era incontestável e a variedade social era considerada produto da cultura), não hesita-

ram em associar razão e civilização, com a suposição de inferioridade social e cultural

articulada á idéia de progresso. De qualquer modo, a idéia de igualdade presente no i-

luminismo foi substituída pela idéia de raça, num contexto em que raça não dá lugar à

desigualdade, mas é a desigualdade que dá lugar à raça – isto é, as diferenças sociais o-

riginaram a idéia de hierarquização racial, conforme observação de Malik10 (1996). O

próprio iluminismo segundo essa proposição impôs a noção de que os seres humanos

são naturalmente iguais e a desigualdade é produto da sociedade 11.

Temos caminhado e ainda falta bastante para chegarmos ao ponto, de onde com todo

o cuidado e atenção estaremos nos colocando a serviço de toda uma população que já não

acredita na possibilidade de vislumbrar ações que demonstrem ser possível vivenciar, no

lugar onde está, o respeito, a seriedade e a justiça que são as bases da igualdade.

10 MALIK,Kenan.The meaning of race. Londres :Macmillan,1996.11 Idem... Transcrição de texto, pgs 23,24,26-Racismo no Brasil

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IV - RECOMEÇAR

De acordo com o que aprendemos até aqui, toda a história de opressão do povo que

nos propusemos incluir em nossa trama, e posteriormente na pastoral que esperamos venha

surgir a partir desta idéia, tem como objetivo principal, tornar conhecidos fatos , atitudes,

ações e todo o envolvimento benéfico, oferecido por um povo que chegou neste lugar sem

grandes expectativas , mas, com o decorrer do tempo, entendeu que nosso lugar não é onde

queremos, mais sim, onde estamos.

A reflexão precisa estar de acordo com a palavra de Deus e torná-la instrumento ou

ferramenta de ação.

Começaremos com textos que animam a comunidade a construir:Gênesis 13,1-14,

nos mostra a história da escolha de Ló, pelas terras melhores,ou seja ,Abrão e Ló partem do

Egito para o Neguebe, caminham até onde tinha feito anteriormente um altar e na sua ansie-

dade da aprovação de Deus, Abrão ora, invocando o nome do Senhor. E a resposta vem de

maneira difícil de ser compreendida, pois logo na seqüência, os pastores de ambos se desen-

tendem. Os rebanhos são grandes e não tem como abrigar todos em um mesmo lugar,daí ter

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que haver a escolha. De um lado estão as campinas verdejantes do Jordão, terras boas e bem

regadas, certamente propicias à plantação e conseqüentemente com promessa de uma boa

colheita. Ló tendo escolhido este lado, só restou a Abrão o que sobrou, ou seja, terras menos

aparentes. Mas Deus que tem propósitos a serem cumpridos naquela vida, mostra a imensi-

dade das terras restantes e reforça a promessa que já tinha feito anteriormente. 12

Voltando ao nosso povo e tendo sido constatado que sua religiosidade é forte e mar-

cante, ao olhar para estes, vejo alguma semelhança com a trajetória de vida dos dois perso-

nagens destacados aqui. Ló quando escolhe as campinas verdejantes, não poderia imaginar

qual seria o desenvolvimento de sua história naquele lugar, é certo que alguns fatores con-

tribuíram para os acontecimentos , no texto bíblico a seguir está a narrativa da guerra dos

quatro reis, da tomada dos bens das cidades de Sodoma e de Gomorra e do cativeiro a que

Ló é submetido, bem como o seqüestro de seus bens.

Enquanto isto, Abraão pela obediência, consegue se manter bem na terra que Deus

lhe ordenou habitar, e ao saber da situação adversa do sobrinho se lança na luta para que

seja resgatado, bem como seus bens devolvidos. E é claro tudo acontece com a ajuda de

Deus, provando mais uma vez, a importância da obediência e confiança na ação de Deus.

Houve momentos em que algumas pessoas, que vieram pra baixada também se senti-

ram abandonadas por Deus e sua fé, parecia estar muito fraca, mas, ao se lembrar da ação de

Deus na vida daqueles que esperaram em obediência, conseguindo assim vencer as dificul-

dades, colocaram sua religiosidade a serviço e tiveram suas forças renovadas. Ignoraram as

12Gênesis 12,1- Disse o Senhor a Abraão: sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para aterra que te mostrarei . [Segundo estudo de personagens, uma seção especifica contida na Bíblia de ReferenciaThompson, Abraão, o Peregrino Espiritual, por ter sua chamada relacionada com suas viagens em uma rela-ção de ordem e obediência, o que na sua vida foi sempre e sempre uma condição. Buscar, ouvir, obedecer eesperar o resultado em Deus.]

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dificuldades , venceram os obstáculos e continuam na busca do que idealizaram na sua vin-

da pra esse lugar

Na tarefa de continuar procurando trechos da bíblia que exemplifiquem ou tenham

algo semelhante na história, trazemos para o conhecimento dos/as leitores/as, uma causa de

direito: causa esta pleiteada por mulheres, lembram-se das injustiçadas?

Números 27,1-10, nos conta como cinco moças da descendência de Manasés13, che-

fe de uma das doze tribos de Israel, se apresentaram diante dos lideres religiosos da época,

para reclamar da herança que por tradição naquele tempo, não podia ser delas e sim dos ir-

mãos do pai falecido,por este ter morrido sem deixar herdeiros homens para dar continuida-

de ao nome de família. Isto mostra que algumas injustiças vem de muito longe e são usadas

para oprimir ainda nos dias de hoje, quando as leis já tiveram, ao longo dos tempos inúme-

ras modificações. Mas, o importante da menção é o resultado obtido; Moisés o Líder ouviu-

as em companhia do Sacerdote Elieazar, dos Príncipes e de todo o Povo, á porta da tenda da

congregação.

Esta é uma boa estratégia, quem reclama ou reivindica direitos tem que fazer baru-

lho, incomodar bastante, para sensibilizar . Depois de escutá-las Moisés levou a causa delas

perante o Senhor, e disse o Senhor a Moisés: “As filhas de Zelofeade 14 falam o que é justo,

certamente lhes darás possessão de herança entre os irmãos de seu pai e farás passar a elas

a herança de seu pai.” Com isso, houve uma mudança na lei e Moisés recebe a incumbência

de transmitir a todo o povo de Israel o seguinte: Quando alguém morrer e não tiver filhos,

então fareis passar a sua herança a sua filha. Recomendando ainda que só no caso de não ter

pela certeza do cumprimento da promessa.]13 Manasés, filho de José,filho de Jacó que recebeu por herança meia tribo, das doze tribos de Israel. Conf.Josué 13,7

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filhas também é que a herança irá para os irmãos. Deus em todo o tempo, vem corrigindo

injustiças, porém, alguém encontra sempre razões para trazê-las de volta e cada dia mais

pessoas são vitimadas por elas.

Mas, mesmo sendo vitimas da lei, a mesma deve ser obedecida por nós, mas também

se percebemos que nos ofende, prejudica, fragiliza ou decepciona, devemos questioná-la, e

sugerir alternativas para sua implementação. As formas certamente surgirão a partir das dis-

cussões que o assunto trará entre as pessoas interessadas, pois sabemos que se algo não está

de acordo com nossa opinião é só procurar que logo encontramos outras pessoas pensando

como nós.

Esta foi a tática usada por aquelas moças. Moisés, que devia ter a mesma opinião de-

las a respeito do caso, não teve duvidas em levar o assunto ao conhecimento do Senhor, que

prontamente mudou sua proposta de lei bem como a forma de execução, para satisfação de

todo o grupo.

Continuando com os exemplos de situações adversas, encontradas nos textos bíbl i-

cos, mostraremos outro caso que representa bem os casos com os quais nos deparamos sem-

pre. Está no Evangelho de Lucas 18,1-815 este texto refere-se a situação de uma mulher viú-

va, com uma causa nas mãos de um juiz, que propositalmente tardava em atendê-la, mas, ela

insistia tanto que o mesmo já não suportando sua insistência, prometeu julgar logo sua cau-

sa. Assim agimos quando se apresenta um descaso seja ele qual for, ou que situação esteja

em jogo, acionamos todo o grupo de referencia e começamos a gritar, de todas as formas até

que algo aconteça e ainda que não resolva, pelo menos nos dão atenção.

14 Zelofeade filho de Heber, filho de Gileade, filho de Maquir, filho de Manasés (Biblia Sagrada, A.T).Números 27,115 A Parabola do Juiz Iniquo.N.T., Jesus usa esta parabola para incentivar os discipulos na oração.

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Assim acontece com a maioria dos/as moradores/as da Baixada. Sofrem toda sorte de

privações em suas necessidades básicas e quando têm oportunidade reclamam, organizam

protestos, fazem todo o barulho possível para resolver o problema. Algumas vezes as con-

seqüências são desastrosas, pois a baixada ainda é uma terra com muitos donos (tráfico de

influencia) e aos políticos são reservados alguns serviços que possam garantir votos nas

eleições, sejam estas em quaisquer dos níveis; os candidatos só mudam o cargo ao qual con-

correm e as promessas e privilégios relativos ao domínio das diversas pendências relaciona-

das ao povo, mas que devem passar pelas mãos de algum político, ou de um serviço que o

mesmo ofereça e que conta com recursos garantidos em seu projeto de ações planejadas

durante a campanha.

Em cada município sabemos haver um nome de maior peso político e de grande re-

presentatividade, que não pode ser citado sem autorização do/a mesmo/a ou da legenda

partidária representada por ele/ela.

Assim, mesmo sendo este é um assunto que faz parte de nosso domínio temático, não

é aconselhável colocar fontes, nomes e nem endereços dos referidos “centros sociais”, em-

bora os conheçamos.

A imprensa (mídia) não poupa comentários acerca destes na época das campanhas

eleitorais, ou quando acontece um escândalo com envolvimento dos seus nomes.

Sabemos, e isto é por termos envolvimento político partidário na região que está

sendo citada nesta pesquisa, ser as Igrejas ou quaisquer outros Espaços de Culto, fortes alia-

dos, ou alvo preferencial para o exercício de ações desta natureza.

Da mesma forma que a viúva insistiu e conseguiu, orando constantemente Deus agirá com justiça em resposta asorações.

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São comuns doações, empréstimo de palcos moveis, ônibus, facilitação na documen-

tação para conseguir emprego, tratamentos de saúde, viagens e sepultamentos.

Se coisas desta natureza acontecem e toda a sociedade sabe, mas não pode alardear

até mesmo por questão de segurança, a Igreja silencia, pelos mesmos motivos, então a cria-

ção de uma “Pastoral” inclusiva e abrangente deve ser uma válvula de escape, para quem

faz a leitura do “Evangelho de Jesus” voltado realmente para a integralidade dos seres hu-

manos, a busca da justiça, que aliada a fé produz resultados sociais positivos e concretos.

Isto é, chamando a atenção para a práxis recomendada por aqueles que nos antece-

deram, na divulgação e cumprimento do ministério (serviço) representado pelas religiões,

em sua formação ou criação de estatutos, carta de princípios, ou qualquer outro documento

doutrinário e norteador.

A práxis ou forma de colocar em pratica, ensinamentos, ética, zelo doutrinário,es tilo

e mandamentos a serem cumpridos com grandes possibilidades de acerto e ótima repercus-

são.

Julio de Santa Ana16 nos fala que o fato dos pobres irromperem(surgirem) em nosso

desenvolvimento histórico, não significa que sejam estes a conduzi-lo, mas que, não lhes

faltam forças para o fazer, e sim oportunidade e recursos inexistentes tem sido o grande

problema para quem quer conduzir ações que lhes digam respeito, na construção de uma

nova ordem social.

16 Pelas Trilhas do Mundo, A Caminho do Reino, no capitulo IV,página 94, no trecho que tem por titulo:[Opção pela Utopia dos Pobres]

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Vimos através do Autor que esse não é um problema só de algumas pessoas, ou de

um lugar apenas, mas a América Latina toda vivencia casos do mesmo porte. Basta acom-

panharmos os noticiários e diariamente teremos informações de grupos e povoados onde a

pobreza está sendo vitimada por situações de opressão, sendo injustiçados pelos baixos

salários e ainda com alguns outros complicadores políticos e sociais que influenciam sua

vida e modo de agir.

As lutas populares no presente latino-americano tendem justamente a forjar

uma sociedade democrática na qual se concretiza a participação popular com vistas a que

todos/as possam desfrutar do bem-estar que resulta da satisfação de suas necessidades bási-

cas: alimentação, saúde, educação, trabalho e segurança social.

As igrejas cada vez menos auto-suficientes, unem suas vozes às do povo.

Falamos anteriormente ser os espaços religiosos facilitadores de ações que legitimam

a dependência dos pobres aos detentores de certos poderes de dominação e até mesmo de

escravização, e o texto do autor escolhido para comparação de outros povos e lugares só nos

trouxe a constatação de ser uma realidade histórica, e uma necessidade urgente de mudança

na maneira de se ver e organizar meios para tal.

Se pudermos pensar baseados em todas as informações e nas dimensões práticas de

uma fé estruturada no serviço ao próximo, certamente encontraremos a forma correta da

ação cidadã transformadora e capaz de enfrentar com coragem os obstáculos e empecilhos a

medida em que surgirem.

Participar da construção de algo renovador e inovador de valores desgastados pela

nossa própria condição de vida, dificuldades enfrentadas, descrédito de alguns/as que prefe-

rem deixar as coisas como estão ou esperar soluções vindas de qualquer projeto criado por

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alguém, não importa quem, pode ser cômodo, mas, se temos no coração uma chama ardente

e nossa vontade de participar na construção do Reino de Deus fala mais alto dentro de nós,

arregacemos as mangas e coloquemos mãos à obra, pois o trabalho está diante de nós, e de

tantos/as dispostos/as a ajudar seja com seu trabalho braçal, intelectual, espiritual, idéias ou

contribuição financeira. Não importa a forma, desde que estejamos trabalhando incessante-

mente para que haja mudanças em tudo que tem escravizado e maltratado a principal criação

de Deus.

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V – CONCLUSÃO

Conscientizamos, conhecemos e recomeçamos, agora estamos concluindo, e para tal

buscamos um autor (Barros)17, que trabalhou algo bem parecido em seu livro, e que usou o

evangelho de Lucas como base. Repetiremos alguns tópicos, por serem idênticos aos que

devem fazer parte da metodologia de trabalho e da teologia a ser adotada nesta fase.

Barros cita Comblin18 que tem linhas de pensamento parecidas e tantas vezes men-

cionados em seus escritos que pensamos ser um só, por se completarem perfeitamente. Para

Barros, citando Comblin , Lucas “... escreve para uma comunidade ou um conjunto homo-

gêneo de comunidades em que convivem...cristãos judeus e não judeus. Estes eram essenci-

almente prosélitos ou pelo menos “adoradores de Deus”, isto é, pagãos que já tinham deixa-

do a idolatria e praticavam parcialmente as religiões judaicas, adorando o Deus de Israel”.

17 Jorge Henrique Barros, De Cidade Em Cidade - Elementos para uma Teologia Bíblica de missão Urbana emLucas – Atos Descoberta Editora - Londrina- PR.

18 José Comblin, Teologia da Cidade - Edições Paulinas.

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Na baixada além de termos pessoas de um sem número de procedência, tem ainda a

questão relacionada a religiosidade. Muitas são as práticas, mas temos consciência do nosso

compromisso de lhes apresentar Cristo através do trabalho social oferecido.

Cremos a exemplo do Autor, ser Lucas, quem pesquisando as caminhadas de Jesus,

encontra respostas satisfatórias para uma série de indagações que temos de como lidar com

as dificuldades das pessoas de tradições religiosas diferentes e mostrar-lhes Jesus, como

impulsionador da ação. Entendemos então que nossa atuação nesse caso terá que ter uma

dinâmica de aproximação, compreensão e, nos primeiros passos, aceitação, pois era dessa

forma que Jesus agia, segundo narração do evangelho de Lucas.

Podemos encontrar nas parábolas formas diferenciadas de resgate: a) de vida familiar

- o filho pródigo (Lc 15, 24-32); b) de bens materiais e afetivos - a ovelha (Lc 15, 4-6); c) a

moeda (Lc 15, 9). Nestes exemplos trabalhados por Jesus em sua caminhada para Jerusalém,

podemos ver um pouco além das palavras, ou seja, se queremos incluir temos que antes res-

gatar, e essa é uma tarefa bem difícil. Quem se perde, nem sempre encontra compreensão

para o reingresso, mas também se às vezes o perdido nunca conheceu o caminho e se deixou

levar ou conduzir, por qualquer atração momentânea fica difícil recusar-lhe ajuda.

Queremos com esse trabalho unir forças ao desenvolvimento da missão,que tem sido

constante em nosso meio, com a evangelização sempre na mesma ordem; ou seja, a compo-

sição principal da missão, mais que os serviços prestados em grande escala, são os ensina-

mentos da palavra ministrada de forma diferenciada para todo tipo de pessoas.

Para Barros, ao analisar o que diz Lucas, em Atos dos Apóstolos: “os apóstolos en-

cheram Jerusalém de sinais e maravilhas”. Segundo ele a passagem que segue é muito im-

portante para a compreensão do conceito de missão na cidade: “Muitos sinais e prodígios

eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos. E costumavam todos reunir-se, de co-

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mum acordo no pórtico de Salomão. Mas,dos restantes, ninguém ousava ajuntar-se a eles;

porém o povo lhes tributava grande admiração. E crescia mais e mais a multidão de crentes,

tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor, a ponto de levarem os enfermos até

pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos sua

sombra se projetasse nalguns deles. Afluía também muita gente das cidades vizinhas a Jeru-

salém, levando doentes e atormentados de espíritos imundos, e todos eram curados (A

t.5,12-16)”.

Na parceria de idéias que procuramos fazer ao ler a obra citada, vimos que não basta

simplesmente colocar mais um serviço à disposição da sociedade fazendo divulgação destes,

mas sim, de uma forma bastante consciente da ação unificada em Espiritual -Social-

Missionária sair ao encontro daqueles/as mencionados/as ao longo deste projeto, tratar ou

encaminhar para o devido tratamento, de acordo com a necessidade, e em tudo ser testemu-

nha de que somos parte da comissão colocada por Jesus para levar o evangelho (boa nova)

até os confins da terra.

Para nós, teólogos e teólogas metodistas, a missão tem prioridade e é fundamental

estarmos em constante prática de louvor e adoração a Deus, (vida devocional) em busca de

renovo espiritual, (orações permanentes) em comunhão com o próximo (participando e con-

tribuindo nas atividades da igreja) e aprofundando conhecimentos que nos possibilitem atu-

ar no entorno das nossas igrejas influenciando nas políticas públicas, e transformando reali-

dades em o Nome de Jesus.

Esse é, ou acreditamos que deva ser, o papel de uma PASTORAL URBANA COM

INCLUSÃO ÉTNICO CULTURAL.

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VI - BIBLIOGRAFIA

1. Livros

BARROS, Jorge Henrique. De Cidade em Cidade: Elementos para uma Teologia Bíblica de

Missão Urbana em Lucas. Londrina: Atos Descoberta Editora.

Bíblia Sagrada. Almeida. Revista e Atualizada

COMBLIN, José. Teologia da Cidade. São Paulo: Edições Paulinas.

Grande Enciclopédia Continental – PRONAE – Programa Nacional de Assistência à Educa-

ção.

MALIK,Kenan.The meaning of race. Londres :Macmillan,1996.

MONTEIRO, Marcos e outros. Pastoral Urbana: A co-responsabilidade das igrejas no Nor-

deste PAADI: Programa de apoio a Ação Diaconal das Igrejas.

Nova enciclopédia Brasileira de Consultas e Pesquisas - M E C

SCHLAPFER, Carlos Frederico, OROFINO, Francisco Rodrigues & MAZZAROLO, Isidoro.

A Bíblia: introdução historiográfica e literária. 2a ed., Petrópolis: Ed. Vozes, 2005.

SEYFERTH, Giralda e outros. Racismo no Brasil. Abong – Ação Educativa. Ed. Fundação

Petrópolis.

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TORRES, Gênesis. Em busca da memória.

2. Periódicos

COMISSÃO DE RELIGIOSOS, PADRES E SEMINARISTAS NEGROS DO RIO DE JA-

NEIRO. Sete atos oficiais que decretam a marginalização do povo negro no Brasil. Bo-

letim.

FERNANDES, Miliana. Violência invade lares evangélicos. Enfoque Gospel. Rio de Janeiro,

pp. 28 e 29. Janeiro de 2005.

GARCIA, Paulo Roberto. Ação de grupos construindo a libertação. Aconteceu no Mundo E-

vangélico. Rio de Janeiro, no. 86. Julho de 1990.

3. Escritos mimeografados

RIBEIRO, Cláudio de Oliveira. Direito a pensar a partir e pelas classes populares (Texto inse-

rido em “Notas Introdutórias (a Tarefa Teológica & sua relação com a Teologia Con-

temporânea), de Tokihiro Kudó). História da Tarefa Teológica Latino-Americana (A-

postila). São Bernardo do Campo, Faculdade de Teologia Rudge Ramos (Fateo).

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ANEXO

BAIXADA FLUMINENSE: RESUMO HISTORICO

Após a expulsão dos Franceses e o conseqüente aniquilamento dos índios Tupinam-

bás é fundada em 1565 a Cidade do Rio de Janeiro. Iniciava a partir desta data a distribuição

de sesmarias em todo o recôncavo da Baia de Guanabara. Liberada a terra dos perigos que

poderiam oferecer as comunidades indígenas, é dado inicio á penetração no seu interior atra-

vés de seus principais rios. Nascia no seu entorno dezenas de engenhos de açúcar, constru-

ções de igrejas e pequenas povoações, muitas delas origem dos municípios de hoje19.

Em nosso entendimento, a Baixada merece realmente uma atenção maior, em virtude

de suas características peculiares. Ao falarmos sobre esta região do nosso Estado, devemos

19 TORRES, Gênesis. Em Busca da Memória:Crônicas, Registros e Poesia. WAK Editora, 2003

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usar sua história como exemplo de transformação urbana, com o propósito de abrigar os/as

que vieram e nela se instalaram pelos mais variados motivos.

As bacias dos rios Meriti, Sarapuí, Iguaçu, Inhomirim, Estrela e Magé foram as pri-

meiras a serem ocupadas. Em suas margens nascem os portos de embarque bastante movi-

mentados, com a presença de tropeiros e de embarcações que subiam e desciam levando

mercadorias da Europa para os engenhos e destes com seus produtos para a Cidade do Rio

de Janeiro, além dos excedentes para o Reino. Os próprios portos eram transformados em

importantes celeiros.

Quem conhece a Baixada hoje e vê seus rios transformados em valões sujos e fétidos,

não pode imaginar que estes foram responsáveis pelo escoamento de mercadorias que abas-

teciam a cidade então mais importante e posterior capital do Império.

Os Engenhos de Cristóvão Barros em Magé no ano de 1567 e o de Salvador Correia

de Sá, na Ilha do Governador, foram os primeiros a fumegar no atual território fluminense,

após o fracasso da Capitania de São Tomé, de Pêro de Góis, com suas fabricas de açúcar da

Vila da Rainha e das margens do Itabapoana. Em 1584, menciona Anchieta “muitas fazen-

das pela baía dentro” e no ano seguinte diz ele ser a “terra rica, abastada de dados e farinas e

outros mantimentos, tem três engenhos”...

No século XVII o número de engenhos rapidamente crescia e o açúcar iria absorver

quase toda a iniciativa dos fazendeiros do recôncavo da Guanabara. Cerca de 120 engenhos

são levantados em torno da baia e é o açúcar do recôncavo que vai afinal, como nos demais

portos primitivos, erguer a economia da noviça cidade Rio de Janeiro. É também o açúcar o

grande impulsionador do índice demográfico com a crescente entrada de africanos para as

lavouras.

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Vimos, a partir destas informações, que a Baixada embora não conste nos livros que

trazem rotas do tráfico de escravos com números e cidades para onde eram levados, também

recebeu um grande quantitativo destes, pois se assim não fosse suas lavouras não alcançari-

am os altos índices de produção, a ponto de suprir necessidades de cidades localizadas em

outras áreas como vimos no trecho que se refere ao abastecimento.

O marco inicial da colonização no Vale do Rio Iguaçu, segundo o mesmo autor, foi a

fazenda São Bento, que teve sua origem nas terras doadas pela Marquesa Ferreira ao Mostei-

ro de São Bento, em 1596. Esta herdeira era viúva de Cristóvão Monteiro, primeiro proprie-

tário das sesmarias ofertadas por Estácio de Sá no ano de 1565, em terras hoje pertencentes a

Duque de Caxias.

Nesse local, os monges beneditinos fizeram erguer inicialmente uma capela dedicada

a Nossa Senhora das Candeias, No seculo XVIII, as terras passaram para as mãos da irman-

dade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.

Era também sede de grande fazenda de São Bento, cuja atividade econômica basea-

va-se na produção de farinha de mandioca e na fabricação de tijolos..

Esta penetração teve inicio também com a fundação das primeiras igrejas e capelas.

Uma das regiões exploradas logo no início foi a das bacias do Meriti, do Sarapuí e do Igua-

çu.

É improvável, no entanto de fácil compreensão, que os primeiros núcleos de povoa-

ção não surgiram em torno de uma atividade puramente econômica, o colonizador era um

homem extremamente devoto ou, quando não, demonstrava a sua religiosidade como forma

de justificar o aquinhoamento de longas extensões de terras em nome da fé católica.

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A presença das capelas e igrejas numa determinada região, demonstrava a importân-

cia que aquele território representava perante o poder secular e o poder eclesiástico. Essa

célula inicialmente embrionária daria o surgimento de uma aldeia, uma vila e mais tarde uma

cidade.

Conhecemos assim um pouco da história da criação desta Baixada, local tantas vezes

mostrado como sendo cenário de injustiças em relação aos seus moradores, por ser formada

por cidades dormitórios, não tendo assim os cuidados próprios das áreas urbanas centrais,

habitadas por populações com maior poder econômico e que possui meios e modos de influ-

enciar no social.

Visto que as povoações surgem, a partir da religiosidade exacerbada dos colonizadores ,

e que seu comportamento em relação aos seres que lhes proporcionavam condições de enri-

quecimento e crescimento social, achamos ser importante tentar saber um pouco mais sobre

o efeito que a religião provoca em determinados grupos, ou suas formas de enganar através

dela.

O Povo Negro, por sua vez é mais fiel em suas convicções religiosas, ao sair de sua

terra nas condições miseráveis em que saíram, buscaram forças na fé e na ação dos seus deu-

ses (Orixás e Divindades) para serem abençoados com a diminuição dos castigos a eles des-

tinados. Também sabemos que negros e negras não eram insensíveis e que em meio ao so-

frimento o amor encontrava lugar. Por esse motivo as vezes contrariando a vontade dos seus

donos escravos e escravas ao ver as crianças doentes ou qualquer membro da família em

situação desfavorável usavam sua crença para tentar resolver. Entretanto, vamos buscar mais

informações em autores, ou melhor em uma autora que ao lado de um grupo de estudiosos

das questões étnicas, organizaram um livro do qual temos extraído inúmeras informações.

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No texto “Imaginário social brasileiro e ancestralidade africana”20, o imaginário social

brasileiro é marcado por uma forte presença da ancestralidade africana, que se reelabora e se

reconstrói com base na herança legada pelos primeiros descendentes da África negra que

aqui desembarcaram no âmbito do sistema colonial escravista, entre os séculos XVI e XIX,

como comentamos anteriormente.

Os africanos mesclavam-se sob as determinações do sistema que os dominava. Ora

combinavam sistemas jeje-nagô ora combinavam sistemas originários do Congo, Angola

Moçambique, entre outros.

Em meio às tradições de diferentes civilizações africanas, há núcleos que marcam mais

fortemente sua presença na sociedade brasileira, desde os primeiros tempos de sua chegada

ao país. Por exemplo, em 1830, os iorubas já se organizavam em terreiros de candomblé. Os

jejes criaram irmandades religiosas, vinculadas a Igreja Católica por circunstancias históri-

cas, com objetivos estruturais e conjunturais a exemplo de comprar alforrias, realizar empre-

gos, sustentar viúvas de africanos escravizados . Os malês organizaram lutas e revoltas, poli-

ticamente significativas, das quais a mais importante de que se tem noticia é a chamada Re-

volta dos Malês, em 1835, na Bahia.

No país, há outras importantes expressões de lutas organizadas por africanos, de dife-

rentes etnias, em diferentes momentos da história, em lugares específicos, o que comprova a

sua presença e participação como povo organizado, em permanente atitude de resistência à

colonização, escravidão e aos desdobramentos contemporâneos dos diferentes sistemas de

opressão, dominação, desigualdades e exclusões.

20 SIQUEIRA, Maria de Lurdes. Racismo no Brasil. Anped. 2002. pp75-76.

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Fazemos aqui um comentário, que entendemos se faz necessário. As religiões cristãs

por muito tempo calaram toda e qualquer participação efetiva dos povos negros em sua ca-

minhada, omitindo inclusive a presença destes na Bíblia com seus feitos tão importantes

para a história da caminhada do “Povo de Deus”.

Hoje, inúmeras pesquisas têm sido realizadas e atitudes mais condizentes com a graça

proveniente de Deus, que não faz acepção de pessoas têm sido trabalhadas em algumas de-

nominações de forma que seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus sejam

vistos, amados e respeitados sem precisar negar ou mascarar sua raça ou etnia.