Património e acção educativa no programa gulbenkian educação para a cultura (2010)

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  • 8/14/2019 Patrimnio e aco educativa no programa gulbenkian educao para a cultura (2010)

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    Patrimnio e acoeducativa no ProgramaGulbenkian Educaopara a Cultura

    Tema de Capa

    A referncia do patrimnio estpresente em todos esses projectos,

    mas abordada de uma forma queo encara como desafio a uma leitu-ra contextual, crtica e criativa porparte dos participantes, desde a pri-meira idade escolar. Os dois teste-munhos seguintes reflectem algunsaspectos dessa actividade nos dom-nios, respectivamente do Centro deArte Moderna e do Museu CalousteGulbenkian.

    PATRIMNIO E PATRIMNIOSO Museu Calouste Gulbenkian alber-

    ga uma notvel coleco, que ilustra5 000 anos de Histria da Arte, desdea Antiguidade at ao incio do scu-lo XX, com mais de 7 000 objectosde diferentes pocas, proveninciase materiais. O Museu, inauguradoh quarenta anos, contou, desdesempre, com um elevado nmero decrianas como participantes nas suasiniciativas educativas, quer integra-das em grupos escolares, quer emgrupos de famlias. Estas iniciativas

    permitem uma abordagem globaldo patrimnio, no s do Museu,como da Fundao Gulbenkian, noseu todo, e at projectos em que o

    patrimnio se converte num impor-tante instrumento de incluso social.

    A ttulo de exemplo, podemos refe-rir um projecto de parceria coma Escola EB 2.3, Professor PedroDOrey da Cunha, cujos alunos inte-gram comunidades atingidas porgraves problemas sociais e econmi-cos e com a qual, na sequncia dumasimples visita orientada ao Museu,surgiu a ideia de uma colaboraomais estreita a partir da recriao deaspectos da vida quotidiana, cultu-ral e artstica do Egipto faranico,com base na coleco de arte egpcia.

    O entusiasmo dos alunos estendeu-se s suas famlias, que participaramnas exposies e espectculos que seorganizaram neste mbito, propor-cionando um conjunto de experin-cias gratificantes que estimularamo sentido de responsabilidade, decooperao e de respeito, promo-vendo simultaneamente o exerccioda cidadania.Algumas das actividades programa-das tm o objectivo de promover a

    valorizao e a fruio do patrim-nio, incentivando o esprito crticoindividual, o sentido de criatividadee a capacidade efabulatria. Esto,

    neste caso, a visita-jogo O que ummuseu?, ou a visita-oficina Os ga-

    binetes de curiosidades e os museus.Atravs de jogos de observao, dodilogo activo e participativo e deoficinas de experimentao plstica,vivencia-se o patrimnio como umaherana do passado que se projectano presente e nas geraes futuras.Mas o patrimnio, dada a sua natu-reza multifacetada, permite tambmestruturar projectos que potenciem ainterdisciplinaridade e a transversa-lidade, estabelecendo e articulandosinergias vrias com outros campos

    artsticos e culturais. O patrimnioconstitui-se, assim, como um instru-mento de aprendizagens significa-tivas que propiciam o desenvolvi-mento integral da criana.

    PATRIMNIO E CRIANASNos programas educativos do Centrode Arte Moderna (CAM) concebemoso patrimnio como um conceito vivo,em mutao, capaz de ir responden-do aos desafios que o passar do tem-

    po e a sociedade que o define e aplicalhe vo colocando. Na esfera da cria-o artstica contempornea, esta ques-to assume contornos particularmente

    O Descobrir Programa Gulbenkian Educao para a Cultura, coordena e articula, de forma trans-versal, os vrios projectos educativos oferecidos pela Fundao Calouste Gulbenkian, procurandodesenvolver modelos inovadores e interdisciplinares de actividades de formao dirigidas a pbli-cos de todas as idades e nos vrios campos artsticos.

    24 Pedra & Cal n. 44 Outubro . Novembro . Dezembro 2009

    PATRIMNIO PARA MIDOS

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    Tema de CapaPATRIMNIO PARA MIDOS

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    interessantes com o permanente es-

    bater de fronteiras entre o real e ovirtual, entre o conceito e a matria,entre o perene e o efmero, entre aobra e o documento, entre a ideia, aspalavras e as coisas. Lidar com umacoleco e uma programao expo-sitiva de obras e artistas do sculoXX e XXI levanta, permanentemen-te, questes que rompem necessa-riamente com uma viso mais tra-dicional de patrimnio como legadomaterial. Ao longo do ltimo sculo,os artistas criaram obras que fran-

    quearam fronteiras ao nvel dos ma-teriais, tcnicas e conceitos que obri-garam a um reequacionamento dasua fruio, entendimento, patrimo-nializao e preservao.Como lidar com obras que no tmcorpo ou com materiais cuja vida intencionalmente efmera? Como pro-mover a preservao patrimonial pe-rante obras meramente virtuais? Co-mo tornar mais elstico um conceitoque a maioria dos nossos visitantes

    ainda associa directamente aos ob-jectos mas no s ideias? Como pen-sar um patrimnio que criado to-dos os dias e ainda no tem o peso

    do tempo para lhe conferir legitimi-

    dade e aceitao?Tendo em considerao estes desa-fios, os projectos educativos desen-volvidos no CAM assumem um en-foque crtico e questionador do ob- jecto e patrimnio artsticos e pro-curam envolver todos os pblicos,desde a mais tenra idade, em visitase oficinas com temas muito varia-dos, de forma a proporcionar dife-rentes portas de acesso criaocontempornea e sua riqueza.As crianas assumem aqui, natu-

    ralmente, um destaque especial e,para elas, a programao desmulti-plica-se em propostas que explorama coleco e as exposies, querdo ponto de vista museolgico emVamos fazer um museu?, quer doponto de vista da construo e parti-lha de memrias em Caixas de me-mrias e outras histrias, quer doponto de vista das ideias e conceitospor trs das coisas em a rvore dasideias e Olhar, Ver, Interpretar.

    Exposies como as que actualmentealbergam as nossas galerias Anos70: atravessar fronteiras, so palcosde excelncia para este questionamen-

    mento. Aqui, grande parte das obras

    desafia as regras do espao museo-lgico, uma vez que foi preciso re-constituir objectos que j no exis-tiam 30 anos depois de terem sido fei-tos e apresentados pela primeira oultima vez (nestes casos o que a o-bra? O que o patrimnio? A obraoriginal que j no existe ou a recons-tituio? A memria sobre a obra? Anova obra?). Aqui, os documentosque permitiram reconstituir a obraso expostos com a mesma impor-tncia que o objecto artstico, dei-

    xando que os pequenos (e grandes)visitantes se apercebam das vriasdimenses por trs de uma obra dearte.

    RUI VIEIRA NERY,Director do PGEC ProgramaGulbenkian Educao para a CulturaROSRIO AZEVEDO,

    Museu GulbenkianSUSANA GOMES DA SILVA,Centro de Arte Moderna

    NOTACrditos fotogrficos: Adriana Pardal, CarlosCarrilho, Emlia Rosa, Francisco Amorim Fer-reira e Margarida Botelho.