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Nº 6 | DEZ | 2012 www.pessoacomdeficiencia.gov.br Pauta Inclusiva Viver sem Limite é o objetivo maior do ser humano, diz presidenta Dilma Rousseff V amos cada vez mais garantir direitos e instrumentos para via- bilizar o que é essencial para o Brasil: oportunidades iguais para todos”, disse a Presidenta da República, Dilma Rousseff, aos participantes da 3ª Confe- rência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na terça-feira (4). Ao início da solenidade Dilma afir- mou estar comovida ao ver o Hino Nacional “cantado” em Libras. Para a presidenta, as oportunidades são a pa- lavra-chave quando se fala em pessoas com deficiência. “As pessoas com defi- ciência têm um extraordinário potencial. Precisamos nos preparar para oferecer oportunidades iguais a todos os nossos cidadãos e para conviver com a diversi- dade, até porque nosso país é baseado na diversidade”. Dilma citou o exemplo do desempe- nho dos atletas paraolímpicos brasilei- ros, que tiveram resultados melhores do que os atletas olímpicos. “Com o ade- quado apoio, oportunidade e também com a dedicação de cada um, é possível superar obstáculos”, reforça. A presidenta enfatizou ainda a im- portância da participação dos diferentes segmentos nas discussões que afetam a todos. Dito isso, ela concluiu que é fun- damental promover a participação efeti- va nas conferências. “A contrapartida da verdadeira inclusão é o diálogo. Temos que nos envolver em conjunto para me- lhorar o que achamos injusto”, orienta. Dilma falou também sobre a importân- cia que as instituições de ensino especial têm no país, pois trouxeram um grande conhecimento na área para que a edu- cação inclusiva fosse efetivada. “Somos a favor da educação inclusiva pra valer e também das instituições especializadas. Uma coisa não exclui a outra”, ponderou. De acordo com Dilma, as deficiências não devem ser limitadoras da qualidade de vida e de acesso aos serviços públicos. Ela ainda citou a importância que a área do turismo tem no desenvolvimento do país: “Temos que assegurar acessibilida- de e condições especiais para as pessoas com deficiência. É sinal de civilidade.” A presidenta destacou ainda o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite, lançado por ela no final de 2011. “Viver sem Li- mite é o objetivo maior do ser humano, e não poderia ser diferente no caso das pessoas com deficiência.” O investimento para que todas as crianças e adolescentes com defici- ência estejam na escola é, segundo a presidenta, um dos principais objeti- vos do plano: “Todos ganham quando as crianças com deficiência frequen- tam escolas regulares junto com as demais crianças”. Ao destacar o comprometimento do Governo Federal em investir R$ 7,6 bi- lhões em ações voltadas para a educa- ção, saúde, inclusão social e acessibilida- de, Dilma fez um balanço do Plano Viver sem Limite. “O nosso compromisso é de garantir cidadania plena e autonomia aos bra- sileiros com deficiência, promovendo a sua inserção completa na sociedade e a sua capacidade de Viver sem Limite”. Dilma concluiu seu discurso lem- brando do ribeirinho que conheceu na Amazônia, que disse a ela o que significa uma conferência. “Conferência é para conferir se tudo está nos conformes”, e é para isso que serve a participação popu- lar, disse a presidenta. Censo 2010 – Trabalho – Ocupação e Rendimento | 2 VOCÊ SABIA? | 3 ENTREVISTA: Com a banda Tribo de Jah | 3 ARTIGO: Um Amazonas de diversidade, democracia e participação pelos direitos das pessoas com deficiência | 4 Leia também Dilma Rousseff participa da abertura dos trabalhos da Conferência com outras autoridades edição especial Foto: Plínio Xavier

Pauta Inclusiva - Secretaria Nacional de Promoção dos ... · rência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na terça-feira (4). Ao início da solenidade Dilma afir -

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Nº 6 | DEZ | 2012

www.pessoacomdeficiencia.gov.br

PautaInclusiva

Viver sem Limite é o objetivo maior doser humano, diz presidenta Dilma Rousseff

“V amos cada vez mais garantir direitos e instrumentos para via-bilizar o que é essencial para o

Brasil: oportunidades iguais para todos”, disse a Presidenta da República, Dilma Rousseff, aos participantes da 3ª Confe-rência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na terça-feira (4).

Ao início da solenidade Dilma afir-mou estar comovida ao ver o Hino Nacional “cantado” em Libras. Para a presidenta, as oportunidades são a pa-lavra-chave quando se fala em pessoas com deficiência. “As pessoas com defi-ciência têm um extraordinário potencial. Precisamos nos preparar para oferecer oportunidades iguais a todos os nossos cidadãos e para conviver com a diversi-dade, até porque nosso país é baseado na diversidade”.

Dilma citou o exemplo do desempe-nho dos atletas paraolímpicos brasilei-ros, que tiveram resultados melhores do que os atletas olímpicos. “Com o ade-quado apoio, oportunidade e também com a dedicação de cada um, é possível superar obstáculos”, reforça.

A presidenta enfatizou ainda a im-portância da participação dos diferentes

segmentos nas discussões que afetam a todos. Dito isso, ela concluiu que é fun-damental promover a participação efeti-va nas conferências. “A contrapartida da verdadeira inclusão é o diálogo. Temos que nos envolver em conjunto para me-lhorar o que achamos injusto”, orienta.

Dilma falou também sobre a importân-cia que as instituições de ensino especial têm no país, pois trouxeram um grande conhecimento na área para que a edu-cação inclusiva fosse efetivada. “Somos a favor da educação inclusiva pra valer e também das instituições especializadas. Uma coisa não exclui a outra”, ponderou.

De acordo com Dilma, as deficiências não devem ser limitadoras da qualidade de vida e de acesso aos serviços públicos. Ela ainda citou a importância que a área do turismo tem no desenvolvimento do país: “Temos que assegurar acessibilida-de e condições especiais para as pessoas com deficiência. É sinal de civilidade.”

A presidenta destacou ainda o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com

Deficiência – Viver sem Limite, lançado por ela no final de 2011. “Viver sem Li-mite é o objetivo maior do ser humano, e não poderia ser diferente no caso das pessoas com deficiência.”

O investimento para que todas as crianças e adolescentes com defici-ência estejam na escola é, segundo a presidenta, um dos principais objeti-vos do plano: “Todos ganham quando as crianças com deficiência frequen-tam escolas regulares junto com as demais crianças”.

Ao destacar o comprometimento do Governo Federal em investir R$ 7,6 bi-lhões em ações voltadas para a educa-ção, saúde, inclusão social e acessibilida-de, Dilma fez um balanço do Plano Viver sem Limite.

“O nosso compromisso é de garantir cidadania plena e autonomia aos bra-sileiros com deficiência, promovendo a sua inserção completa na sociedade e a sua capacidade de Viver sem Limite”.

Dilma concluiu seu discurso lem-brando do ribeirinho que conheceu na Amazônia, que disse a ela o que significa uma conferência. “Conferência é para conferir se tudo está nos conformes”, e é para isso que serve a participação popu-lar, disse a presidenta.

Censo 2010 – Trabalho – Ocupação e Rendimento | 2

VOCÊ SABIA? | 3

ENTREVISTA: Com a banda Tribo de Jah | 3

ARTIGO: Um Amazonas de diversidade, democracia e participação pelos direitos das pessoas com deficiência | 4

Leia também

Dilma Rousseff participa da abertura dos trabalhos da Conferência com outras autoridades

edição especial

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2 Indicadores Pauta Inclusiva

mental ou intelectual, 19,4%, não auferiu nenhum rendimento do trabalho, mostrando a restrição do mercado a essas pessoas.

Rendimento nominal de

todos os trabalhos

(em salários mínimos)

Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,

por condições de deficiência (%) Brasil 2010

Deficiência Visual

Deficiência Auditiva

Deficiência Motora

Deficiência Mental ou Intelectual

Até 1/2 10,6 11,3 14,2 16,7

Mais de 1/2 a 1 26,2 25,7 28,7 27,6

Mais de 1 a 2 29,0 28,4 24,9 22,4

Mais de 2 a 3 9,4 9,0 7,1 5,7

Mais de 3 a 5 7,3 6,7 5,2 4,2

Mais de 5 a 10 5,5 4,7 3,4 2,8

Mais de 10 a 20 1,9 1,6 1,1 0,9

Mais de 20 a 30 0,5 0,4 0,3 0,2

Mais de 30 0,3 0,3 0,2 0,2

Sem rendimento 9,5 12,0 14,9 19,4

Gênero

As condições de trabalho das pessoas com deficiência nem sempre são devidas às suas características, mas podem refle-tir tendências encontradas na população total brasileira. Con-siderando a inserção de homens e mulheres no mercado de trabalho, as mulheres estavam em desvantagem, como mostra o gráfico. O indicador usado é a taxa de atividade, que é o per-centual de pessoas economicamente ativas na população de 10 ou mais anos de idade, na semana da realização da pesquisa.

Verifica-se que a taxa de atividade das mulheres foi me-nor do que a dos homens para todos os tipos de deficiên-cia. Para ambos os sexos, a deficiência mental ou intelectual apresentou a menor taxa e a visual, a maior.

Os dados mostram que os problemas que as pessoas com de-ficiência encontram no mercado de trabalho são complexos e ne-cessitam de ações que eliminem os entraves a uma participação plena e satisfatória. Aplicando-se a todos os direitos econômicos, a obrigação do estado de respeitar, proteger e realizar direitos deve ser cumprida fazendo uso do máximo de seus recursos disponíveis. Os programas e ações da Secretaria de Direitos Humanos com-provam os esforços do país na realização dos direitos das pessoas com deficiência.

Luiza Maria Borges Oliveira Coordenação do Sistema de Informação da Pessoa com Deficiência

(Os dados são da publicação do IBGE: Censo Demográfico 2010: Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência).

N o dia 03 de dezembro, foi comemorado o Dia Interna-cional das Pessoas com Deficiência, o que nos leva a refletir sobre as barreiras impostas a esse segmento po-

pulacional. O Artigo 6º do Pacto Internacional dos Direitos Eco-nômicos, Sociais e Culturais – PIDESC – proclama que o direito ao trabalho é o direito que toda pessoa tem de sustentar-se por meio do seu trabalho. Ele não garante apenas um emprego em qualquer tipo de atividade, mas em atividades de sua livre esco-lha. Esse direito é, ao mesmo tempo, individual e coletivo. A sua dimensão coletiva é dada pelo Artigo 8º do Pacto que outorga aos trabalhadores de todos os países o direito de participar de associações de classes, que devem funcionar livremente.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência trata do direito ao trabalho em seu Artigo 27. Nele estão contidos os princípios do PIDESC, ressaltando-se a realização do direito das pessoas com deficiência em condições de igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Proíbe a discriminação no recrutamento, na contratação, permanência no emprego, ascensão profissional e nas condições de trabalho. O Artigo 9º garante a acessibilidade nos locais de trabalho.

As pessoas com deficiência foram, ao longo de muitos anos, consideradas incapazes de trabalhar para sua subsistência e de escolher atividades de acordo com suas vocações. Felizmente, essa percepção mudou e atualmente sabe-se que a população com deficiência pode desenvolver qualquer atividade no mer-cado, desde que se mantenha uma estrutura totalmente acessí-vel nos meios de transporte e locais de trabalho.

Ocupação

O impacto das barreiras ainda existentes se reflete nos indicadores que medem a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. O Censo 2010 mostrou que há uma diferença na proporção de pessoas ocupadas entre a população com e sem deficiência. Observa-se, no gráfico abaixo, que essa desigualdade é mantida ao longo de toda a sua extensão, havendo um aumento mais acentuado, de 15 pontos percentuais, no grupo de 25 a 29 anos de idade. Essa divergência quase desaparece nas duas extremidades, para o grupo de 10 a 14 anos e para o de 80 anos ou mais de idade, levando-se em conta que o número de pessoas nesses grupos extremos é muito pequeno.

Renda do trabalho

Quanto ao rendimento do trabalho, a tabela mostra que a renda das pessoas com deficiência estava concentrada nas classes de menor valor nominal, de 0 a mais de 1 a 2 salários mínimos. Os valores caíram acentuadamente a partir dessa classe, sem apresentar diferenças significativas entre os tipos de deficiência. Grande parte das pessoas com deficiência

Censo 2010 – Trabalho – Ocupação e Rendimento

Pauta Inclusiva edição especial 3

E N T R E V I S T A com Tribo de JahCriada em 1986, a banda “Tribo

de Jah” é formada por músicos com deficiência visual, toca o estilo reag-ge e conquista fãs por todo o mundo. Convidados para se apresentarem na 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília, os integrantes Fauzi Beydoun (cantor e compositor), Frazão (Teclado), Aquiles Rabelo (Baixo), João Rodrigues (Bate-ria) e Neto Enes (Guitarra) conversam com o Pauta Inclusiva (PI), resgatam a trajetória do grupo e fazem crítica ao preconceito social.

PI – Como vocês começaram a banda?

Fauzi Beydoun – Nos conhecemos por uma casualidade. Quando perce-bi que eles eram deficientes visuais e que tocavam reagge, foi ótimo porque era o que eu queria: uma banda de reagge! Tínhamos que nos encontrar mesmo. Com isso fiz o convite.

PI – Quais foram as primeiras dificuldades que sentiram para entrar no mercado fonográfico?

Fauzi Beydoun – Houve muito pre-conceito. Primeiro porque nos éramos muito despojados. Pela condição so-cial, nos vestíamos de forma muito

simples, não tínhamos nenhuma vaida-de. Éramos um protótipo de banda que fugia à regra. Rolou muita piada. Uma gravadora tentou separar a banda.

PI – A deficiência visual impediu a realização de algum sonho?

Fauzi Beydoun – Fomos muito além. A banda gravou 14 CD, 2 DVD e viajamos o mundo todo. Tocamos nos maiores fes-tivais de reagge do mundo: na Jamaica, nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países da Europa, como França, Itália e também no Japão. Temos público fora do Brasil. E o mais engraçado é que nem todo mundo sabe que é uma ban-da de deficientes visuais. Nós não usamos isso como elemento operativo. Óbvio que a gente faz questão de assumir porque é uma característica da banda. Temos orgu-lho disso, porém nós não estamos preocu-pados, pois a banda tem um talento único, uma proposta muito original e simples.

PI – Você conhece outra banda similar à Tribo de Jah?

Fauzi Beydoun – Não. Existia uma banda com algumas pessoas com de-ficiência na Jamaica, mas não igual a nossa. Havia também outra banda com músicos com deficiência física, porém, nenhuma semelhante a nossa.

PI – Vocês acham que a banda ajuda a mostrar o potencial da pessoa com deficiência?

Fauzi Beydoun – Ajuda sim. A legis-lação, além de abrir espaço para incluir as pessoas com deficiência, é muito atual. Eu acho que os governos deve-riam investir mais na arte e na cultura para esse público. Muitos têm potencial para pintar, cantar ou dançar. A arte, em geral, é um instrumento muito efeti-vo para proporcionar a inclusão social.

PI – Como é a receptividade da banda fora do Brasil?

Aquiles Rabelo – Nos outros países existe também a preocupação de fazer com que nós, que temos deficiência, nos sintamos iguais. Normalmente, as cida-des têm estrutura, assim como os hotéis.

PI – Como vocês veem a acessi-bilidade hoje?

João Rodrigues – Obviamente que a acessibilidade melhorou muito. Quan-do eu estudava quase não conseguia um livro atualizado. Na biblioteca da escola só tinham livros antigos e hoje é diferente. Com o acesso à internet, a tecnologia possibilita ter praticamente a mesma acessibilidade de uma pes-soa que é dita como “normal”.

V O C Ê * S A B I A * ?

A o término da 3ª Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, na

quinta-feira (6), foram aprovadas 391 propostas dos nove grupos de trabalho. Tais propostas nortearão as políticas pú-blicas de todos os brasileiros com defici-ência para os próximos quatro anos.

As propostas aprovadas serão en-caminhadas à Secretaria de Direitos Humanos, que tem o papel de articular essas políticas públicas. Por sua vez, o Conselho Nacional dos Direitos da Pes-

soa com Deficiência (Conade) atuará no controle social.

No último dia da Conferência, foram também apresentadas à mesa 35 mo-ções, das quais cinco eram de apoio em agradecimento à presença da presidenta Dilma Rousseff na Conferência.

Moções são manifestações específi-cas sobre determinado assunto e devem ser subscritas por um número mínimo de participantes, conforme previsto no Regimento Interno da Conferência.

Geralmente as moções servem para ex-pressar apoio, repúdio, recomendação ou congratulação. Elas são lidas e vota-das na Plenária Final e, ao término da conferência, cada uma é encaminhada à instância devida.

Para que ocorresse a Conferência Nacional, foram realizadas 371 eventos, entre conferências e fóruns estaduais e municipais. No total, 10.328 brasileiros e brasileiras tiveram participação direta nesse processo pré-conferência.

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4 Pauta Inclusiva edição especial

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PRSecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência – SNPD

Setor Comercial Sul – B, Quadra 9, Lote C, Edifício Parque Cidade Corporate, Torre “A”, 8º andarCEP: 70308-200, Brasília, Distrito Federal, BrasilTelefones: +55 (61) 2025-3684 / 9221, Fax: +55 (61) 2025-9747 E-mail: [email protected]

Expediente

A R T I G O O O O ODe: Luis Fernando Astorga Gatjens*

E u tive o privilégio de assistir à culmi-nação de um belo processo no qual cerca de mil homens e mulheres de

todo o Brasil analisaram, discutiram e defi-niram as melhores formas de avançar nos direitos das pessoas com deficiência nos próximos quatro anos.

Entre 3 e 6 de dezembro deste ano, no Centro de Convenções Brasil 21, localizado numa Brasília sempre surpreendente, foi re-alizada a Terceira Conferência Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência.

Como se fosse o vasto delta do Amazo-nas, esta conferência reuniu as idéias e pro-postas de todos os seus afluentes, locais e estaduais. Em todos os municípios dos 26 estados e o Distrito Federal que compõem este vasto continente, reverberaram idéias que se traduziram em moções e propostas.

Como destacado no sítio eletrônico (3cndpd.sdh.gov.br) que relata este monu-mental evento, as conferências municipais e estaduais, fóruns que precederam a Terceira Conferência, alcançaram uma participação recorde, que mobilizou 10.328 pessoas, que estiveram presentes em 371 atividades, entre novembro de 2011 e setembro deste ano.

Reunião para a advocacia política

Como fui informado, a Conferência Na-cional reúne em igualdade de condições, de maneira paritária, os delegados prove-nientes de organizações de pessoas com deficiência e ONGs envolvidas com o tema da deficiência, e representantes de órgãos governamentais diretamente relacionados com os direitos das pessoas com deficiência.

Esta situação transforma cada conferên-cia em um fórum onde a sociedade civil e os agentes públicos governamentais inte-ragem e constroem soluções para os diver-sos problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência no Brasil.

Ao observar em detalhe este processo, pude verificar que à conferência chegaram 554 propostas, consolidadas em nove áre-as temáticas.

Assim, a conferência nacional torna-se um fórum de construção comum de pro-postas para incidir politicamente sobre as políticas públicas desenvolvidas pelo go-verno da presidente Dilma Rousseff que se expressam no plano de governo para pro-moção dos direitos das pessoas com defici-ência, intitulado “Viver sem Limite”. Cabe

destacar como algo vital para contextualizar esta conferência – em que eu era observador internacional – que os direitos das pessoas com deficiência são um dos três temas priori-zados pelo atual governo brasileiro.

A Convenção da ONU como tema central

A terceira conferência teve como tema “Um olhar através da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU: novas perspectivas e desafios”.

Ao testemunhar vários momentos do con-clave: cerimônia de abertura, painéis, grupos de trabalho e plenária de conclusão, pude ver como o tratado internacional tornou-se a bússola e ferramenta de navegação para avançar na implementação dos direitos das pessoas com deficiência.

E não é de admirar, já que, no caso do Bra-sil, se deve considerar que, pela forma como foi ratificada esta Convenção pelo parlamento bicameral (maioria qualificada de pelo menos três quintos dos membros), ela se tornou par-te da Constituição do país. Com isso, as pes-soas com deficiência e seus parceiros, tanto em instituições públicas como na sociedade civil, contam com um poderoso instrumento jurídico para a promoção e desenvolvimento de políticas públicas inclusivas.

Pude observar como em sua fala, na ses-são inaugural, a ministra dos Direitos Hu-manos, Maria do Rosário Nunes, desenhou uma clara perspectiva comprometida com o paradigma social e de direitos humanos, que se afasta das políticas assistencialistas e ca-ritativas, que todavia ainda prevalecem em muitos países latino-americanos, mesmo que eles já tenham ratificado a Convenção.

Igualmente, na rica e extensa conversa que tive com o Secretário Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Antonio José Ferreira, pude constatar que a orientação para a im-plementação do tratado por meio de políticas públicas, inclusivas e transversais, envolvendo todos os ministérios e áreas de interesse, é uma preocupação tão inteligente quanto sincera. Também notei que essa preocupação e pers-pectiva é claramente compartilhada por Moisés Bauer, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade).

Um grande exemplo, boas práticas

No Brasil, vivem 45 milhões de pesso-as com deficiência, como evidenciado pelo último censo nacional em 2010. Esse mon-

tante é tão grande quanto os problemas enfrentados pelo país nessa área, muitos dos quais foram acumulados ao longo do tempo, com a prevalência da discrimina-ção e exclusão social.

Trata-se de uma dívida social enorme, que requer um tremendo esforço público, conscientização e investimento social. E também tempo. Pensar que os problemas acumulados e a visão depreciativa da defi-ciência, presentes na sociedade brasileira, possam ser resolvidos em poucos anos, não é realista e pode levar à frustração.

No entanto, pelo que pude ver nesta ter-ceira conferência, concluo que o Brasil está seguindo um roteiro tão necessário como correto. Esta conferência, que mobilizou mais de duas mil pessoas entre delegados, convidados, assistentes pessoais e várias equipes de apoio, constitui um exemplo notável de promoção efetiva da participa-ção dos atores sociais e institucionais, de construção da democracia e de respeito a uma diversidade multicolorida.

Nunca havia visto uma participação como neste fórum brasileiro.

Saúdo – finalmente – o fato notável de que, com este evento significativo, mani-festa-se o firme compromisso de um país latino-americano em estabelecer bases estáveis e robustas para atender às aspi-rações e aos problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência em toda a sua extensa geografia. Eu só espero que essas bases se tornem irreversíveis e que as pro-postas aprovadas pela Terceira Conferên-cia se convertam, passo a passo, em uma melhoria efetiva das condições de vida das pessoas com deficiência.

Só o fato de realizar um evento desta di-mensão e natureza constitui uma boa prá-tica, digna de ser imitada por outros países. E se dele derivam avanços constantes, não só podemos falar de uma melhor prática, mas podemos proclamar que, em matéria de direitos das pessoas com deficiência, o norte está a emergir no sul.

San Jose, Costa Rica, 08 de dezembro de 2012

*Diretor Executivo do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo (IIDI) / convidado como observador internacional da Terceira Conferência

Tradução: Fernando De Campos Ribeiro

Um Amazonas de diversidade, democracia e participação pelos direitos das pessoas com deficiência