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PÉ TORCIDO A experiência sempre nos ensina. É o que se ouve por ai. E com a experiência de um pé torcido não poderia ser diferente. Já estamos carecas de saber sobre a correria dos tempos atuais com relação a tudo: trabalho, escola e, por mais estranho que pareça, o lazer. Sim, até o lazer de hoje também se tornou uma correria, perceba-se! O tempo ganhou vida própria, habilidades esplêndidas: o tempo é curto, o tempo corre, o tempo voa... Eu, demasiadamente humano, não poderia fugir dessa loucura toda. Por isso que a experiência do pé torcido foi interessante. Fui obrigado a fazer o mesmo percurso para o trabalho com o dobro do tempo ou mais. Com isso, fui obrigado a observar momentos IMPERCEPTÍVEIS na rua, um deles foi um casal de mendigos dormindo abraçados de uma forma tão romântica que faria inveja a qualquer casal de costas um pro outro em sua cama quentinha. Fui obrigado a parar e esperar o sinal de pedestre, daãnnn!!! não precisei sair igual um louco para atravessar a rua. Se tentasse atravessar, na minha lentidão forçada, certamente não teria a mesma habilidade de um cão quando corre com três patas. Fui obrigado a perceber o quanto meu peso interfere no meu desempenho, pois ao forçar o pé torcido era como se ele gritasse: “tá pesado demais cara!”. Fui obrigado a perceber a correria alheia: gente, carros, motos disputando o mesmo espaço e quase liquidando com a famosa lei dos corpos. Quase! Uma senhora deu uma trombada em um rapaz que o obrigou a mudar o percurso, involuntariamente. A experiência nos ensina mesmo, porque fui obrigado a constatar que com o pé torcido eu pude aproveitar muito mais e, mesmo levando o dobro do tempo, não perdi tempo algum. Então, pude experienciar, de certo modo, o poema de Fernando Moreira Salles: cada dia

Pé Torcido

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Flávio Hastenreiter

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P TORCIDOA experincia sempre nos ensina. o que se ouve por ai. E com a experincia de um p torcido no poderia ser diferente. J estamos carecas de saber sobre a correria dos tempos atuais com relao a tudo: trabalho, escola e, por mais estranho que parea, o lazer. Sim, at o lazer de hoje tambm se tornou uma correria, perceba-se!O tempo ganhou vida prpria, habilidades esplndidas: o tempo curto, o tempo corre, o tempo voa...Eu, demasiadamente humano, no poderia fugir dessa loucura toda. Por isso que a experincia do p torcido foi interessante. Fui obrigado a fazer o mesmo percurso para o trabalho com o dobro do tempo ou mais. Com isso, fui obrigado a observar momentos IMPERCEPTVEIS na rua, um deles foi um casal de mendigos dormindo abraados de uma forma to romntica que faria inveja a qualquer casal de costas um pro outro em sua cama quentinha. Fui obrigado a parar e esperar o sinal de pedestre, dannn!!! no precisei sair igual um louco para atravessar a rua. Se tentasse atravessar, na minha lentido forada, certamente no teria a mesma habilidade de um co quando corre com trs patas.Fui obrigado a perceber o quanto meu peso interfere no meu desempenho, pois ao forar o p torcido era como se ele gritasse: t pesado demais cara!.Fui obrigado a perceber a correria alheia: gente, carros, motos disputando o mesmo espao e quase liquidando com a famosa lei dos corpos. Quase! Uma senhora deu uma trombada em um rapaz que o obrigou a mudar o percurso, involuntariamente.A experincia nos ensina mesmo, porque fui obrigado a constatar que com o p torcido eu pude aproveitar muito mais e, mesmo levando o dobro do tempo, no perdi tempo algum. Ento, pude experienciar, de certo modo, o poema de Fernando Moreira Salles:cada diaresmungono ter tempo

sei o tempo que me tem

E ento vi que o tempo nem voa, nem corre, nem... nem... a gente que adora sacanear com ele.