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MUSEU VIVO: A CIÊNCIA ITINERANTE NA REGIÃO DE
PRESIDENTE PRUDENTE
Kauê Cabrera Rosalem 1, Marylaine Rebeca D. da Silva 2, Angel Fidel Vilche Peña 2
1,2 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Faculdade de Ciências e Tecnologia – Campus de Presidente Prudente
Departamento de Física, Química e Biologia / Centro de Ciências
Presidente Prudente, SP, 19060-900, Brasil
Resumo
As exposições de ciências aumentam o nível de conhecimento e capacitação do
cidadão, no campo da ciência e tecnologia. O ensino de ciências exatas é considerado pela
maioria dos alunos e pesquisadores uma das áreas mais sistemáticas devido ao formalismo
da estrutura curricular e ao tradicional método de educação, com tendências indesejáveis
em motivar os alunos em seu aprendizado. O Museu Vivo tem entre seus objetivos,
estimular a apropriação do método científico, a curiosidade e a observação da realidade por
meio da experimentação interativa e lúdica. Além de contribuir para a divulgação do
conhecimento científico e tecnológico à população, o projeto motiva as escolas a utilizar a
experimentação no ensino de ciências exatas. Os autores e colaboradores propõem-se a
realizar e a debater os experimentos científicos no ensino formal, desenvolvendo e
transportando-os às instituições de ensino.
Palavras-chave: Centro de Ciências; Ensino de Ciências Exatas; Divulgação Científica;
Popularização da Ciência.
1. Introdução
Em 1903, surgiu na Alemanha, o Museu Deutsche, com aparências antagônicas as
que já existiam, e foi considerado o precursor dos museus contemporâneos de ciências e
tecnologia introduzindo estratégias de interatividade, e dessa forma criando uma nova
forma de comunicação com o público (CAZELLI, 2002 e GASPAR, 1993). Outros museus
de ciências seguindo esse modelo foram criados com o objetivo de introduzir discussões
sociais referentes ao desenvolvimento da ciência e tecnologia. Nessa época, existia grande
analfabetismo científico por parte da população mais carente e menos favorecida. No final
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da década de 60, nos Estados Unidos e no Canadá, apareceram novos modelos de
museus de ciências, os centros de ciências (PADILLA, 2001) que eram espaços dedicados
aos fenômenos e conceitos científicos, que mostravam a existências de outras imagens de
museus, além das tradicionais. Essa época foi marcada pelo lúdico, pela interatividade,
com o objetivo de levar a ciência ao conhecimento de toda sociedade, como estratégia de
um rompimento com a exclusividade intelectual, ideológica e cultural que regulava e resistia
a informação.
A divulgação científica é importante para a democratização da sociedade, tornando-
a mais livre, responsável e mais culta cientificamente, diminuindo o desequilíbrio existente
entre o cultural e o intelectual. Na década de 80, apareceram no Brasil e em outros países,
atividades relevantes com finalidade de divulgação pública da ciência (PADILLA, 2001),
assim como os centros de ciências e museus de ciências contemporâneos, aumentando o
nível de conhecimento e capacitação do cidadão, no campo da ciência e tecnologia, através
de exposições (SCHALL, 2002).
O Centro de Ciências da UNESP (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho) de Presidente Prudente, apoiado pelo MEC (Ministério da Educação), foi fundado em
fevereiro de 1994 em parceria ao CDCC (Coordenadoria de Divulgação Cientifica e
Cultural) da USP (Universidade de São Paulo) do Campus de São Carlos, pela rede SINEC
(Sistema Integrado de Núcleos de Ensino).
Esses centros de ciências são coadjuvantes no processo de inclusão social, porque
fornecem condições para ampliar a alfabetização científica e a busca da sociedade pelo
conhecimento. Entretanto as camadas mais baixas da população têm dificuldade de acesso
à informação e transporte, o que tem limitado seu acesso aos centros e museus de
ciências.
O Museu Vivo é uma reprodução itinerante do Centro de Ciências da UNESP de
Presidente Prudente tendo como objetivos: difundir a ciência, a tecnologia e a cultura, em
sintonia com as ações da extensão universitária e do programa Núcleo de Ensino da
UNESP, vinculado atualmente à PROGRAD (Pró-Reitoria de Graduação); articular e
promover conhecimento científico; estimular a apropriação do método científico, a
curiosidade e a observação da realidade por meio da experimentação interativa e lúdica,
transportando os equipamentos e experimentos às instituições de ensino; enriquecer o
ensino multidisciplinar; desenvolver, organizar e manter exposições, mostras e eventos em
prol da educação científica de crianças, jovens e adultos, difundindo preceitos de cidadania.
Os museus e centros de ciências contemporâneos desenvolveram características
para distingui-los dos museus tradicionais, como atividades itinerantes, ou seja, levar a
ciência ao conhecimento do público por meio que facilitem a reflexão e o acesso, de forma
experimental, participativa e criativa.
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2. Metodologia
A metodologia em aulas práticas e uso de recursos interativos por um docente,
como notícias jornalísticas, vídeos, computadores e experimentos, contribui
qualitativamente ao ensino de Física, conforme citado por MENEZES et. al. (2005),
facilitando a interpretação e a compreensão de fenômenos abordados no conteúdo,
presente no cotidiano e na tecnologia, permitindo uma proximidade com a realidade. Os
PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) apresentam uma excelente estruturação do
conteúdo e as competências a serem discutidas nas disciplinas de exatas, sugerindo o uso
de trabalhos experimentais que explorem o cotidiano, contendo preocupações com as
diferentes realidades escolares, e compatibilidade com os diversos sistemas educacionais.
Os autores e colaboradores propõem-se a realizar e a debater os experimentos
científicos no ensino formal, desenvolvendo e transportando-os às instituições de ensino, e
exposições de módulo interativo com as quais se podem aprender ciências e compreender
fenômenos físicos. Essa iniciativa estabelece uma oportunidade de formação continuada
para os professores das escolas atendidas, aproximando os conhecimentos científicos aos
conhecimentos escolares e oferecendo amplas possibilidades para a abordagem
interdisciplinar de temas científicos de interesse social, de modo a instrumentar alunos, e
profissionais do ensino para o desempenho consciente da cidadania. Este método
experimental torna o ensino estimulante e significativo, promovendo uma maior participação
dos alunos, bem como o aprendizado com o tratamento estatístico de dados e o
questionamento da validade dos modelos físicos (ALMEIDA, 2001). Estas atividades
também minimizam as dificuldades no aprendizado e no ensino de ciências exatas, pois
ilustram um determinado fenômeno, podendo contribuir para análise de diversos aspectos
relacionados ao mesmo, podendo ser realizadas como encerramento, ou como ponto de
partida de uma aula. Assim o experimento desperta o interesse do aluno ao tema abordado,
de modo que seja permitido o questionamento por parte dos alunos, e a formulação de
hipóteses para a validade de um modelo matemático que descreve o fenômeno físico.
O Museu Vivo explica como a ciência e a tecnologia afetam a vida das pessoas,
reforçando o raciocínio científico, e apresentando os fenômenos físicos. São mais de 40
experimentos, sendo a maioria elaborados através de materiais de baixo custo, como tubos
de PVC, madeira e bolinhas de vidro, conforme a Figura 1.
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Figura 1: Museu Vivo leva experimentos científicos, produzidos com materiais de baixo
custo, aos alunos de escolas públicas.
Nas escolas os experimentos são apresentados em laboratórios de ciências ou em
salas de aula, de forma que os alunos façam explorações visuais, auditivas e táteis dos
equipamentos, e livres em ligar e desligar os mesmos, valorizando as possíveis deduções
de seu princípio de funcionamento. Posteriormente as explicações relacionadas aos
fenômenos físicos de cada experimento são expostas aos alunos e professores, fazendo-se
associações ao cotidiano e à abordagem teórica desenvolvida em sala de aula.
Muitas das concepções do cotidiano que os estudantes trazem para a sala de aula
podem não fazer sentido com os princípios físicos, atuando como obstáculos no
entendimento do conteúdo, assim o docente deve debater e analisar estas questões
através dos conceitos físicos, da dedução experimental, e posteriormente de ferramentas
matemáticas já conhecidas pelos alunos. De acordo com os conceitos piagetianos, a
reformulação conceitual pode ser facilitada se o aluno for colocado diante de uma situação
de conflito, e essas situações podem freqüentemente ser criadas pela evidencia
experimental (ALMEIDA, 2001).
3. Resultados e Discussões
Esse projeto é realizado na rede de ensino público, com a duração média, de
quarenta minutos de interatividade com os experimentos, para cada turma de
aproximadamente 30 alunos. Aproximadamente quinze mil pessoas, entre estudantes e
professores, já conheceram os experimentos do Museu Vivo desde o ano de 2005. O
projeto atende a rede de ensino público de Presidente Prudente e região. Além de contribuir
para a divulgação do conhecimento científico e tecnológico à população, o projeto estimula
as escolas a utilizar a experimentação no ensino de ciências exatas.
O movimento de elétrons em um condutor, por exemplo, é simulado com bolinhas de
vidro em uma rampa com pregos colocados aleatoriamente. Outra rampa de madeira, onde
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se movimentam dois cilindros, com mesmo peso e diferente distribuição de massa, são
utilizados para demonstrar a lei da gravidade. Um dos experimentos simula as órbitas em
um modelo sol, terra e lua. Conceitos de propagação de ondas sonoras são transmitidos
por uma estrutura montada com tubos de PVC de diferentes tamanhos, conforme a Figura
2. Um sistema de roldanas apresenta a decomposição da força peso, conforme a Figura 3.
A eletricidade e magnetismo são demonstrados por meio de um freio magnético, descargas
elétricas de alta tensão, e por correntes de um sistema elétrico em série e em paralelo,
conforme a Figura 4. Alguns experimentos relacionam-se à transformação de energia,
dentre estes a obtenção de energia elétrica através de energia eólica e o corpo humano
permitindo reações químicas similares à de uma bateria elétrica, conforme a Figura 5.
Figura 2: Propagação de ondas sonoras através de estrutura montada com tubos de PVC.
Figura 3: Sistema de roldanas acoplado em corpos de mesma massa.
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Figura 4: Associação de resistores e efeitos magnéticos produzidos pela corrente numa
bobina.
Figura 5: Transformação de energia eólica em energia elétrica e atuação do corpo
humano como bateria elétrica.
O Museu Vivo consiste em um espaço de ensino e de aprendizagem, onde são
transmitidos conceitos de Física, Química, Matemática e Astronomia, de forma lúdica à
alunos de escolas públicas de ensino fundamental e médio. O projeto também oferece
apoio às feiras de ciências realizadas na rede de ensino público, por meio de elaboração de
projetos, sugestões de experimentos, visitas técnicas e auxílio na montagem, subsídios em
equipamentos e guias de montagens, apoio logístico e consultoria para desenvolver os
problemas que vão surgindo na montagem de cada centro de ciências.
O projeto capacita professores do ensino fundamental e médio, promovendo a
melhoria do conhecimento científico, e diversifica a temática conceitual das exposições
permanentes, promovendo a articulação entre aspectos da ciência, obtendo a ampliação do
número de exposições itinerantes.
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4. Conclusões
Os museus e centros de ciências da atualidade abarcam diversas responsabilidades
com a sociedade. O Museu Vivo facilita o contato direto dos jovens com os trabalhos
científicos. Os alunos são induzidos a mexer nos experimentos, e após essa interação
podem debater os assuntos em sala de aula, o que ajuda a aguçar a imaginação e a
desmistificar a ciência, encorajando-os a seguirem carreiras em ciências e tecnologia. Ao
terminar o ensino médio um aluno deve ser capaz de compreender que a medida de uma
grandeza física tem sempre um grau de incerteza, podendo estimar margens de erro em
situações simples. Reconhecer que modelos simplificados podem simular e permitir
análises de situações complexas, e que teorias científicas quando possíveis, devem ser
avaliadas através de evidências experimentais. Através dos cuidados e métodos sugeridos
ao ensino de ciências exatas, é atribuído um novo significado às aulas, que exprime uma
maior preocupação com a qualidade, e privilegia o aluno no processo educativo.
5. Agradecimentos
Agradeço ao orientador Prof. Dr. Angel Fidel Vilche Peña pela oportunidade deste
projeto de extensão universitária e ao apoio do programa Núcleo de Ensino da UNESP,
vinculado à PROGRAD.
6. Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Maria José P.M., BARRETO, B. F. Um Diálogo Com Trabalhos Sobre
Experimentação Nas Ciências Do Ensino Fundamental. Anais: 3º ENPEC, 2001.
CAZELLI, S. et al. Tendências Pedagógicas das Exposições de um museu de ciências. In:
Guimarães, Vanessa; Silva, Gilson Antunes, (coods.). Implantação de Centros e Museus de
Ciências. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002, p. 208 - 218.
GASPAR, A. Museus e Centros de Ciências: Conceituação e Proposta de um Referencial
Teórico. São Paulo: USP, Pós – Graduação em Educação, 1993. (Tese de Doutorado).
MENEZES, L. C. De Corpo Inteiro e Viva, a Física. Física na Escola, v.6, n.1, 2005.
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PADILLA, J. Conceptos de Museos y Centros Interactivos. In: Crestana, Silvestre, (coord.),
Educação para a Ciência: Curso para Treinamento em Centros e Museus de Ciências. São
Paulo: Livraria da Física, 2001, p.113 – 142.
SCHALL, V. T. Pedagogia e Didática/Pesquisa e Avaliação. In: Guimarães, Vanessa; Silva,
Gilson Antunes. (coods.). Implantação de Centros e Museus de Ciências. Rio de Janeiro:
UFRJ, 2002, p. 313 – 318.