Penal Processo Penal Acao Penal Originaria Ameaca Lei Maria Da Penha Juiz de Direito Competencia Do Tribunal Audiencia Pr

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    Ao Penal Originria N. 2010.000265-8Relator: Des. Sebastio Costa FilhoAutor : Ministrio PblicoRu : Jos Carlos RemgioAdvogados : Fernando Antnio Barbosa Maciel (4690/AL) e outros

    ACRDO N 5.0275/2010

    PENAL. PROCESSO PENAL. AO PENAL ORIGINRIA. AMEAA. LEIMARIADAPENHA. JUIZ DE DIREITO. COMPETNCIA DO TRIBUNAL. AUDINCIA PRVIAPARA RETRATAO. NO OBRIGATRIA. INICIATIVA EXCLUSIVA DA VTIMA.OITIVA DAS TESTEMUNHAS. PRESENA DO ACUSADO. DESNECESSIDADE. FASEINQUISITORIAL. INEXISTNCIA DE CONTRADITRIO PLENO. JUSTA CAUSA PARAAO PENAL. EXISTNCIA. INDCIOS DE AMEAAS POR PARTE DO OFENSOR.TESTEMUNHAS. DENNCIA RECEBIDA.I - O art. 16 da Lein. 11.340/06 apenas estabelece os procedimentos que ho de ser adotadospara conferir legitimidade retratao da ofendida, contudo, a audincia s se tornaobrigatria quando h manifestao da vtima no sentido de v-la realizada, no sendopossvel sua designao automtica. Preliminar rejeitada.II desnecessria a presena do acusado na oitiva de testemunhas realizada em fasepr-processual, porquanto se trate de momento em que apenas se investigam fatos paraembasar a pea acusatria, devendo, todas as provas, serem oportunamente reiteradas em sede

    judicial. Preliminar rejeitada.III No mais, h de se receber a presente denncia, vez que presentes as condies da ao eos pressupostos processuais demonstrados extrados de petio inicial, j que a palavra davtima e o depoimento das testemunhas expe uma situao merecedora de aprofundadaanlise instrutria.IV Denncia recebida.

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Ao Penal Originria, tombado sob o n. 2010.000265-8,

    em que figura como autor o Ministrio Pblico; e, como ru, Jos Carlos Remgio, representado por seus advogados

    Fernando Antnio Barbosa Maciel (4690/AL) e outros.

    ACORDAMos Desembargadores integrantes do Pleno do Egrgio Tribunal de Justia, unanimidade

    de votos, em rejeitar as preliminares, e no mrito, por igual votao, em receber a denncia. Impedido de votar o Des.

    Mrio Casado Ramalho, art. 136, CPC.

    Participaram deste julgamento os Excelentssimo Senhores Desembargadores, Des. Elisabeth Carvalho

    Nascimento, Des. Sebastio Costa Filho Relator, Des. Orlando Monteiro Cavalcanti Manso, Des. Estcio Luiz

    Gama de Lima, Des. Washington Luiz D. Freitas, Des. Jos Carlos Malta Marques, Des. Pedro Augusto Mendona

    de Arajo, Des. James Magalhes de Medeiros, Des. Nelma Torres Padilha, Des. Eduardo Jos de Andrade, Des.

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    Otvio Leo Praxedes, Des. Tutms Airan de Albuquerque Melo, Des Maria Catarina Ramalho de Moraes.

    Presidiu a sesso a Exma. Senhora Des. Elisabeth Carvalho Nascimento.

    Macei, 11 de Maio de 2010.

    Des. Elisabeth Carvalho Nascimento

    Presidente

    Des. Sebastio Costa Filho

    Relator

    Ao Penal Originria N. 2010.000265-8Relator: Des. Sebastio Costa FilhoAutor : Ministrio PblicoRu : Jos Carlos RemgioAdvogados : Fernando Antnio Barbosa Maciel (4690/AL) e outros

    RELATRIO

    Trata-se de ao penal originria proposta pelo Ministrio Pblico em face de Jos Carlos Remgio, Juiz de

    Direito, imputando-lhe a prtica do crime descrito no art. 147, do Cdigo Penal, qual seja, Ameaa.

    O presente feito iniciou-se com representao da vtima, Sra. MariaLuza dos Santos Messias, na qual

    alega ter sido ameaada pelo denunciado, seu ex-marido, o Juiz de Direito Jos Carlos Remgio, o qual teria se

    dirigido ao 4 Juizado de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher, local de trabalho da vtima, para agred-la

    fisicamente.

    Remetido o feito Douta Procuradoria Geral de Justia, esta, inicialmente, opinou pela designao de

    audincia preliminar para composio de danos civis, nos termos da Lei9.099/95.

    Todavia, consoante assentamos s fls. 33/35, a Lein. 11.340/06 (Lei Mariada Penha), aplicvel aos

    casos em que ocorra violncia domstica e familiar contra a mulher, veda, expressamente, a aplicao dos institutos

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    da Lein. 9.099/95 para os acusados de praticar qualquer crime com as caractersticas descritas naquele diploma

    legal.

    Novamente remetidos os autos Douta Procuradoria, esta, se retratando, opinou pela converso do feito em

    diligncias, para que fossem ouvidas as testemunhas do fato, Francisco de Assis Pedro (ouvido s fls. 46) e Benita

    MariaTavares Brito (ouvida s fls. 47).

    Retornados os autos a este Tribunal, fora oferecida a competente denncia que neste momento se analisa.

    Na inicial acusatria (fls. 54/60), o Ministrio Pblico narra que, "no dia 30 de Julho de 2008, a vtima

    MariaLuiza dos Santos, servidora pblica, encontrava-se em seu local de trabalho, no 4 Juizado de Violncia

    Domstica e Familiar contra a Mulher, quando foi surpreendida e ameaada por seu ex-marido, o Sr. Jos Carlos

    Remgio, Juiz de Direito.".

    Denunciado e vtima estavam em processo de separao judicial, havendo desavenas entre ambos acerca do

    valor a ser estipulado a ttulo de penso alimentcia, em favor do filho do casal.

    Colacionando depoimentos, alm das declaraes da prpria vtima, a Procuradoria Geral de Justiaentendeu presentes os indcios suficientes a justificar uma denncia pelo crime de Ameaa, consoante previsto no art.

    147 c/c art. 61, II, "f", do Cdigo Penal, c/c art. 7, II, da Lein. 11.340/06 (Lei Mariada Penha).

    Oferecida a denncia, foi o acusado citado pessoalmente para responder por escrito s acusaes do

    Ministrio Pblico.

    Em resposta de fls. 73/81, o denunciado suscitou duas preliminares de nulidade da denncia:

    Inicialmente, afirmou que a LeiMariada Penha(Lei n. 11.340/06) preveria a possibilidade da realizao

    de uma audincia, antes do recebimento da denncia, quando ento a ofendida poderia se retratar da representao

    antes oferecida.

    Assim, sustenta que a denncia seria nula por ter sido formulada sem a realizao da referida audincia.

    Em outra preliminar, o denunciado alega nulidade da denncia por violao ampla defesa do ru,

    porquanto as testemunhas Francisco de Assis Pedro e Benita Maria Tavares Brito tenham sido ouvidos, pela

    Autoridade Policial, sem sua presena, ou de seu advogado.

    No mrito, pede a absolvio sumria do denunciado por ausncia de justa causa para o prosseguimento do

    feito porquanto sustente que as testemunhas no relatam qualquer agresso fsica praticada por ele, chegando a

    afirmar que as palavras da vtima so fruto de um "sentimento de mgoa".

    Junto com a defesa, o denunciado fez juntar, aos autos, os depoimentos que as testemunhas prestaram nos

    autos do Processo Administrativo Disciplinar n. 03866-7.2009.001, quando estavam presentes denunciado e seu

    advogado.

    Vieram-me, ento, os autos conclusos, pelo que os trago anlise do Plenrio deste Tribunal de Justia para

    juzo de recebimento da denncia formulada.

    o relatrio.

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    VOTO

    O presente feito iniciou-se com representao da vtima, Sra. MariaLuza dos Santos Messias, na qual

    alega ter sido ameaada pelo denunciado, seu ex-marido, o Juiz de Direito Jos Carlos Remgio, o qual teria se

    dirigido ao 4 Juizado de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher, local de trabalho da vtima, para agred-la

    fisicamente.

    Por terem sido suscitadas, na defesa do acusado, duas preliminares de nulidade da denncia, imperioso que

    sejam tecidas consideraes prvias acerca das mesmas antes que se passe ao juzo de recebimento da acusao

    propriamente dito.

    I Preliminar de nulidade da denncia por ausncia de realizao de audincia prvia

    O denunciado, em sua defesa, suscitou a citada preliminar de nulidade por inobservncia do seguinte

    dispositivo da LeiMariada Penha:

    "Art. 16. Nas aes penais pblicas condicionadas representao da ofendida de quetrata esta Lei, s ser admitida a renncia representao perante o juiz, em audinciaespecialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denncia e ouvidoo Ministrio Pblico",

    A despeito do entendimento exposado pelo denunciado, percebe-se que no h qualquer dispositivo na lei

    que obrigue o Magistrado a, de ofcio, designar a referida audincia, especialmente quando no h qualquer

    manifestao da vtima no sentido de v-la realizada.

    Em todas as oportunidades que teve de se manifestar nos autos, a vtima narrou todas as circunstncias

    fticas que circundam o presente caso, exarando, em mais de uma oportunidade, o desejo de v-lo sujeito aos ditames

    das normas penais, conforme Termo de Representao acostado s fls. 06.

    Qualquer retratao que possa existir h de se originar por iniciativa exclusiva da vtima. No cabe aoEstado designar audincia especialmente designada para este fim, quando a vtima no expressa desejo na realizao

    da mesma, sob o risco de exercer-se indevida influncia em seu convencimento.

    Guilherme de Souza Nucci tambm defende que a designao de audincia h de ser precedida por

    manifestao da vtima, quando diz que "o encaminhamento do pedido de desistncia pode ser feito pela autoridade

    policial, que, provavelmente, ser procurada pela mulher-vtima, podendo esta comparecer diretamente ao frum,

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    solicitando que seja designada data para tanto"[1]

    .

    Embora no seja tema exaustivamente debatido na jurisprudncia, o Tribunal de Justia do Distrito Federal e

    Territrios j decidiu da mesma forma, consoante pode se abstrair do seguinte julgado:

    RECLAMAO. LEI N 11.343/2006. VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR

    CONTRA A MULHER. DECISO DO JUIZ PELA QUAL, OFERECIDA A DENNCIAPELO MINISTRIO PBLICO, DETERMINA O SEU ARQUIVAMENTO EM PASTAPRPRIA, EM CARTRIO, AGUARDANDO-SE O INQURITO POLICIAL.INEXISTNCIA DE RECURSO PRPRIO. CABIMENTO DA RECLAMAO.PROCEDNCIA DO PEDIDO.(...)COM O ARTIGO 16 DA LEI N 11.343/2006 COLIMA-SE FISCALIZE O JUIZ ARENNCIA, NA VERDADE A RETRATAO DA REPRESENTAO DAOFENDIDA PARA EVITAR QUE ELA OCORRA POR INGERNCIA E FORADO AGRESSOR. NADA MAIS. EM NENHUM MOMENTO, COGITOU-SE DEIMPOR REALIZAO DE AUDINCIA PARA A OFENDIDA RATIFICAR AREPRESENTAO OU CONFIRMAR O SEU INTERESSE NO PROSSEGUIMENTO.SOMENTE HAVENDO PEDIDO EXPRESSO DA OFENDIDA OU EVIDNCIA DASUA INTENO DE RETRATAR-SE, E DESDE QUE ANTES DO RECEBIMENTO

    DA DENNCIA, QUE DESIGNAR O JUIZ AUDINCIA PARA, OUVIDO OMINISTRIO PBLICO, ADMITIR, SE O CASO, A RETRATAO DAREPRESENTAO.(...)PEDIDO JULGADO PROCEDENTE, PROCLAMADA DESNECESSRIA PRVIAAUDINCIA DA VTIMA PARA RATIFICAR A REPRESENTAO OUCONFIRMAR O SEU INTERESSE NO PROSSEGUIMENTO, DETERMINADA AIMEDIATA APRECIAO DA DENNCIA OFERECIDA, COMO DE DIREITO,PROSSEGUINDO-SE NA FORMA DA LEI.

    (TJDFT, RCL 20070020010016, Relator Des. Mrio Machado, 1 Turma Criminal, j.19.03.2007, DJ 09.05.2007)

    Como dito, o supracitado art. 16 apenas estabelece os procedimentos que ho de ser adotados para conferirlegitimidade retratao, bem como fiscalizar as circunstncias em que esta est sendo exercida mas, de nenhuma

    forma, estabelece-se a audincia como obrigatria quando no h expresso da vontade da vtima nesse sentido.

    Assim, rejeito a preliminarde nulidade da denncia por ausncia de realizao de audincia prvia.

    II Preliminar de nulidade da denncia por violao ampla defesa

    Em despacho de fls. 41, essa Relatoria determinou a remessa dos autos 1 Delegacia Especial de Defesa

    dos Direitos da Mulher da Capital para que fossem ouvidas, pela autoridade policial, as testemunhas Francisco de

    Assis Pedro e Benita MariaTavares Brito, conforme requerido peloparquetde segundo grau.

    Tais diligncias foram realizadas (fls. 46/47) e serviram de base informativa para a formulao da pea

    acusatria, a qual restou impugnada pelo denunciado justamente neste mister.

    Preliminarmente, alegou-se a nulidade da denncia por violao ampla defesa e ao contraditrio, j que o

    acusado no teria sido notificado para que se fizesse presente na produo das provas testemunhais, o que

    configuraria uma violao aos seus direitos fundamentais constitucionalmente garantidos.

    Esse pleito no deve prosperar, seno vejamos.

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    Importante ressaltar que o presente caso, por ser de pouca complexidade, no ensejou a instaurao de um

    inqurito policial, propriamente dito. Em conjunto com a representao da vtima, houve a necessidade, apenas, de

    oitiva de duas testemunhas, procedimento este que foi delegado Autoridade Policial que primeiro teve contato com

    a ofendida.

    Todavia, todas os procedimentos pr-processuais que visem fornecer subsdios fticos instaurao da ao

    penal, sendo o inqurito policial a expresso formal mais comum deles, esto sujeitos ao sistema inquisitivo, quando

    no se encontra presente o contraditrio justamente por no haver, neste momento, qualquer acusao formal em

    desfavor do representado.

    Existem doutrinadores, como Fernando da Costa Tourinho Filho, que defendem a inexistncia de

    contraditrio na fase pr-processual, tendo este chegado a afirmar que "o indiciado, na verdade, no passa de

    simples objeto de investigao"[2]

    , assegurando, ainda, que, a despeito da Constituio ter lhe assegurado uma srie

    de direitos na investigao, o contraditrio no est entre eles.

    Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal j decidiu, consoante pode se abstrair do seguinte julgado:

    DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. HOMICDIO. PRISOPREVENTIVA. FUGA DO DISTRITO DA CULPA. APLICAO DA LEIPENAL.DECISO FUNDAMENTADA. PRIMARIEDADE E BONS ANTECEDENTES.EXCESSO DE PRAZO. INQURITO POLICIAL. CARTER MERAMENTEINFORMATIVO. DENNCIA QUE ATENDE AOS REQUISITOS DO ART. 41 DOCPP. DENEGAO DA ORDEM. (...) 6. A jurisprudncia desse Supremo TribunalFederal firmou o entendimento no sentido de que "o inqurito policial peameramente informativa, no suscetvel de contraditrio, e sua eventual irregularidadeno motivo para decretao da nulidade da ao penal" (HC 83.233/RJ, rel. Min.Nelson Jobim, 2 Turma, DJ 19 .03.2004) . 7. Ao contrrio do que sustenta o impetrante,a descrio dos fatos cumpriu, suficientemente, o comando normativo contido no art. 41do Cdigo de Processo Penal, estabelecendo a correlao entre a conduta do paciente e aimputao da prtica do crime narrado na denncia. 8. Habeas corpus denegado.(STF, HC 99.936/CE, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, Julgado em

    24.11.2009)Outro setor da doutrina processualista penal, numa anlise mais garantista e democrtica do tema, defende a

    existncia do contraditrio neste momento, porquanto haja previso, na Constituio Federal de 1988, de extenso de

    tal garantia aos "acusados em geral"(Art. 5, LV, CF), entre eles o representado.

    Todavia, mesmo tal setor minoritrio da doutrina defende que a natureza inquisitiva do inqurito policial

    impe restries ao exerccio da ampla defesa e do contraditrio, porquanto, segundo Aury Lopes Jr., "em sentido

    estrito, no pode existir contraditrio pleno no inqurito porque no existe uma relao jurdico-processual, no

    est presente a estrutura dialtica que caracteriza o processo. No h o exerccio de uma pretenso acusatria"[3]

    .

    inegvel que o acusado possui, durante o procedimento apurativo, diversos direitos e garantias,

    decorrentes de sua condio de objeto de investigao, entre eles o de ser assistido por defesa tcnica, o desilenciar-se, o de possuir acesso pleno aos autos, bem como de participar da produo de provas imprescindveis e

    que, por qualquer motivo, no sejam passveis de reiterao em sede instrutria.

    Para alm, o Juiz de Direito, cargo que o denunciado ainda ostenta, possui a possibilidade de oferecer

    defesa preliminar antes do recebimento da denncia, garantia esta regularmente oportunizada e aproveitada.

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    Entretanto, v-se que as provas impugnadas pelo denunciado em sua defesa so os depoimentos de duas

    testemunhas (Francisco de Assis Pedro e Benita MariaTavares Brito), os quais sero oportunamente repetidos

    perante o Magistrado presidente da instruo, oportunidade em que operar-se-o plenamente os direitos ampla

    defesa e ao contraditrio.

    Assim,rejeito a preliminar de nulidade da denncia por violao ao contraditrio e ampla defesa.

    III Do Recebimento da Denncia

    Cuida o caso de receber ou no a denncia oferecida pelo Ministrio Pblico Estadual em face de Jos

    Carlos Remgio, Juiz de Direito, acusado de ter ameaado sua ex-esposa, MariaLuiza dos Santos Messias.

    Superadas todas as preliminares suscitadas pela defesa, cabe verificar se a inicial acusatria cumpre os

    requisitos do art. 41 e do art. 395 do CPP, no cabendo, nesse momento processual, antecipar juzo sobre o mrito da

    causa.

    Nesse diapaso, verifica-se que o acusado foi devidamente qualificado, com adequado apontamento de seus

    dados identificadores, bem como de seu domiclio, onde foi devidamente citado por oficial de Justia (fl. 72). Houve

    exposio do fato criminoso, com todas as suas circunstncias com o oportuno arrolamento de testemunhas deacusao, com sua completa qualificao.

    Presentes, portanto, todos os requisitos formais da denncia, a caracteriz-la como apta, na forma do art. 41

    do CPP.

    Passa-se anlise, ento, dos pressupostos processuais e condies da ao.

    Como a presente lide penal se desenvolve em face de Juiz de Direito, o conhecimento da causa deslocado

    das instncias ordinrias para este Tribunal de Justia, com competncia fixada pelo art. 133, IX, a, da Constituio

    Estadual:

    "Art. 133. Compete ao Tribunal de Justia, precipuamente, a guarda da Constituio do

    Estado de Alagoas, cabendo-lhe, privativamente:IX - processar e julgar, originariamente:

    a) os juzes estaduaise o s membros do Ministrio Pblico, bem como os Procuradoresdo Estado e os Defensores Pblicos, nos crimes comuns e de responsabilidade,ressalvada a competncia da Justia Eleitoral; ".

    Alm de contar com juiz competente para o feito, de se ver que o presente processo no enfrenta coisa

    julgada ou litispendncia, gozando de todos os seus pressupostos de existncia e validade.

    Quanto s condies da ao, tambm elas restam demonstradas na espcie.

    O crime imputado ao denunciado (Ameaa art. 147, CP) de ao penal pblica condicionada, sendo o

    Ministrio Pblico o rgo responsvel pela sua persecuo, tendo a representao sido regular e tempestivamente

    ofertada s fls. 06.

    Para alm, o fato de no ter sido instaurado inqurito policial no bice para receber-se a presente

    denncia, j que o art. 39, 5, do Cdigo de Processo Penal, prev a dispensabilidade do inqurito quando, com a

    representao, existirem elementos suficientes para a formao de seu opinio delicti.

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    Quanto ao interesse de agir, criminalmente identificado na justa causa, patente est a sua caracterizao. A

    acusao trouxe suficientes indcios de materialidade e de autoria, com comeo de prova testemunhal a amparar o

    recebimento da causa e desenvolvimento da pretenso penal.

    O denunciado alega inexistir justa causa para a ao penal porquanto as testemunhas neguem ter

    presenciado qualquer agresso ou ameaa vtima, tendo, inclusive, tentado descaracterizar as alegaes da ofendida,

    ao argumento de que estas seriam fruto de um "sentimento de mgoa, pois a mesma no aceita a separao".

    Todavia, analisando as peas colacionas at ento, verifica-se que, de fato, h subsdios a justificar mais

    aprofundado juzo sobre a conduta do acusado. Se configura crime ou no, esta uma questo a ser fixada ao final

    do processo. Desde j, entretanto, a causa merece ateno do Judicirio, que poder, sob o signo do contraditrio,

    aferir se assiste razo pretenso veiculada na denncia.

    Como indcios que justificam o recebimento da denncia, por esta Corte de Justia, est o depoimento da

    prpria vtima, que assim narra o fato, acontecido na sede do 4 Juizado Especial da Violncia Domstica e Familiar

    contra a Mulher, onde trabalha como escriv:

    "Que o noticiadoficou enfurecido e disse que se ela o chamasse de feio ele iria quebrar

    a cara dela; QUE a vtima pegou o telefone e interfonou para o cartrio do referidoJuizado, para pedir auxlio pois a sala estava fechada; QUE o noticiado tomou otelefone da mo dela e ameaou agred-la fisicamente; QUE a vtima gritou, momentoeste em que uma funcionria, BENITA, entrou na sala e pediu para ele parar; QUE avtima saiu da sala e o noticiado a acompanhou; QUE o noticiado ainda tentou agred-lanovamente mas foi impedido por um policial militar, saindo do local em seguida" (fls.04)

    O Policial Militar Francisco de Assis Pedro, em servio no referido Juizado, tambm afirma ter presenciado

    o comportamento hostil do denunciado:

    "QUE, em seguida, ouviu quando a sra. Benita, tambm funcionria do referido Juizado,aproximou-se e gritou; Que foi ento que o depoente se aproximou para verificar o queestava acontecendo, tendo o autor tentado sair da sala de atendimento; QUE inicialmente

    o depoente tentou impedir a sada do autor do delito do local, e ao perguntar o quehavia acontecido, o mesmo respondeu: "Saia da frente que eu no lhe dousatisfaes"; QUE, a vtima teria dito ao depoente que deixasse que o autor fosseembora, pois ele era um juiz; QUE o depoente acompanhou o autor enquanto o mesmose dirigia sada do prdio e como o mesmo estava muito exaltado, pediu que o mesmotivesse calma; QUE o autorapesar de alegar estar tranquilo, saiu ainda agitado , e nomeio do caminho, antes de sair do prdio, decidiu retornar; QUE, naquela ocasio odepoente ergueu os braos e afirmou incisivamente "V embora!", j que temia que oautor retornasse para agredir a vtima" (Francisco de Assis Pedro, Sgt. PM, fls. 46)

    A testemunha Benita Maria Tavares, nos autos do Processo Administrativo Disciplinar n.

    03866-7.2009.001, na presena do Desembargador Relator Otvio Leo Praxedes, tambm afirmou que as atitudes

    do denunciado lhe deram a impresso de que poderia agredir a ofendida:

    "Que o Dr. Carlos Remgio estava bastante nervosoe se no tivesse outras pessoas nolocal ele poderia ter agido pior; (...) Que o senhor Assis (Policial Militar) evitou quehouvesse agresso; (...) Que para a depoente o fato do representado estar segurando otelefone na sala da escriv, aquilo foi uma agresso" (Benita MariaTavares, fls. 83)

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    Necessrio transcrever outro trecho das declaraes da ofendida, o qual causa perplexidade pela postura de

    completo deboche em relao as leis adotada pelo denunciado, Juiz de Direito:

    "Que o representado naquela ocasio ficou enfurecido e chegou a fechar o punho, como objetivo de agredir a ofendida; Que a declarante chegou a dizer ao representado queno acreditava que o mesmo procedesse daquela forma, eis que ali era justamente oJuizado que lidava com os ilcitos da Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher;Que o representado chegou a dizerna sala em que estava a declarante, que no seria aLei Maria da Penha que iria impedir do mesmo quebrar a cara da declarante " (MariaLuiza dos Santos Messias, fls. 86)

    Inegvel que o caso merece maior aprofundamento em sede de instruo criminal, nem que seja para apurar

    a credibilidade das provas testemunhais ento produzidas, ou ainda seu enquadramento na hiptese tpica imputada:

    Ameaa

    Art. 147 - Ameaar algum, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meiosimblico, de causar-lhe mal injusto e grave:

    Pena - deteno, de um a seis meses, ou multa

    O que no se pode ignorar que, se a verso dos fatos contada pela vtima, e fortalecida pelas

    testemunhas, se mostrar verdadeira, alm de uma ofensa sua honra e sua dignidade, a postura do ofensor

    configura um grave atentado contra a prpria Justia alagoana, porquanto ele tenha invadido a sede do Juizado

    Especial da Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher para l ameaar sua esposa, demonstrando completo

    deboche pelas leis e pela prpria instituio que representa.

    Assim sendo, VOTO pelo recebimento da denncia ofertada contra Jos Carlos Remgio, com a instaurao

    da Ao Penal em seu desfavor, devendo a mesma prosseguir segundo os ditames da Lein. 11.340/06.

    como voto.

    Macei, 11 de Maio de 2010.

    Des. Sebastio Costa Filho

    Relator

    [1]NUCCI, Guilherme de Souza.Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 4 Ed. So Paulo: RT, 2009, P. 1176.

    [2]TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal 1. 32 Ed. So Paulo: Saraiva, 2010, p. 258

    [3]LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional. Vol. 1. 3 Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

    Deciso http://www2.tj.al.gov.br/cjosg/pcjoDecisao.jsp?

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  • 7/22/2019 Penal Processo Penal Acao Penal Originaria Ameaca Lei Maria Da Penha Juiz de Direito Competencia Do Tribunal A

    10/10

    2008, p. 303.

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    Deciso http://www2.tj.al.gov.br/cjosg/pcjoDecisao.jsp?

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