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LIVRAMENTO CONDICIONAL Conceito: Livramento condicional é a concessão, pelo poder jurisdicional, de liberdade antecipada, utilizada em casos que a imposição da sanção restritiva de liberdade não se mostre mais necessária, haja vista a comprovada ‘regeneração’ do indivíduo. Pressupostos: i) objetivos: - a pena aplicada deve ser igual ou superior a 2 anos; - ter cumprido mais de 1/3 (um terço), se não for reincidente em crime doloso. - ter cumprido mais de 1/2 (metade), se for reincidente em crime doloso. - ter cumprido mais de 2/3 (dois terços), se condenado por crime hediondo ou equiparado e não for reincidente específico em crime desta natureza. - ter o agente reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo. - Obs.: não constitui requisito objetivo ter o agente cumprido pena em todos os regimes (fechado, semi-aberto e aberto) para pleitear o benefício. ii) subjetivos: bons antecedentes, comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que tenha realizado, aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto (ou até mesmo estudo). Obs. I: para os condenados por crime cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, deve o juiz verificar, ainda, se as condições pessoais são favoráveis (segundo o art. 83) (d) Condições: ao conceder o benefício, deve o juiz impor as certas condições as beneficiado (art. 85, CP): i) legais (obrigatórias): a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua

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LIVRAMENTO CONDICIONAL

Conceito: Livramento condicional é a concessão, pelo poder

jurisdicional, de liberdade antecipada, utilizada em casos que a imposição da

sanção restritiva de liberdade não se mostre mais necessária, haja vista a

comprovada ‘regeneração’ do indivíduo.

Pressupostos:

i) objetivos: - a pena aplicada deve ser igual ou superior a 2 anos;

- ter cumprido mais de 1/3 (um terço), se não for reincidente em

crime doloso.

- ter cumprido mais de 1/2 (metade), se for reincidente em crime

doloso.

- ter cumprido mais de 2/3 (dois terços), se condenado por crime

hediondo ou equiparado e não for reincidente específico em crime desta

natureza.

- ter o agente reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo.

- Obs.: não constitui requisito objetivo ter o agente cumprido pena

em todos os regimes (fechado, semi-aberto e aberto) para pleitear o benefício.

ii) subjetivos: bons antecedentes, comportamento satisfatório

durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que tenha

realizado, aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho

honesto (ou até mesmo estudo).

Obs. I: para os condenados por crime cometido com violência ou

grave ameaça à pessoa, deve o juiz verificar, ainda, se as condições pessoais

são favoráveis (segundo o art. 83)

(d) Condições: ao conceder o benefício, deve o juiz impor as certas condições

as beneficiado (art. 85, CP):

i) legais (obrigatórias): a) obter ocupação lícita, dentro de prazo

razoável se for apto para o trabalho; b) comunicar periodicamente ao Juiz sua

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ocupação; c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem

prévia autorização deste (art. 132, § 1º da LEP);

ii) facultativas: a) não mudar de residência sem comunicação ao

Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção; b)

recolher-se à habitação em hora fixada; c) não freqüentar determinados lugares

(art. 132, § 2º, da LEP).

(e) Revogação:

i) obrigatória: revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser

condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível por crime

cometido durante a vigência do benefício ou mesmo por crime anterior (art. 86

do CP).

Obs.: se revogado em razão da prática de crime durante o

benefício, não se desconta o período cumprido; se a revogação ocorreu por

crime praticado antes do benefício, o período em livramento é abatido (art. 88

do CP).

ii) facultativa: o juiz poderá, também, revogar o livramento, se o

liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou

for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não

seja privativa de liberdade (art. 87 do CP).

Obs. I: nas hipóteses de revogação facultativa, pode o juiz

simplesmente advertir o condenado ou agravar-lhe as condições (art. 140, §

único, da LEP).

Obs. II: uma vez revogado o benefício, não poderá ser novamente

concedido, exceto se se tratar de crime anterior à concessão do benefício (art.

88 do CP c/c art. 141 da LEP).

9. EFEITOS DA CONDENAÇÃO

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(a) Natureza Jurídica: tais efeitos constituem efeitos secundários

da condenação, pois o efeito principal é a própria imposição da sanção penal.

(b) Efeitos Genéricos: são automáticos, prescindindo da declaração expressa

na sentença (art. 91 do CP).

i) obrigação de reparar o dano;

ii) confisco dos instrumentos e produtos do crime.

(c) Efeitos Específicos: não são automáticos, devendo o juiz, de

forma expressa, declará-los na sentença1. (Art 92 do CP)

10. REABILITAÇÃO

(a) Conceito: segundo CAPEZ, “trata-se de causa suspensiva de

alguns efeitos secundários da condenação (CP, art. 92) e dos registros criminais”. Para

MIRABETE, consiste na “declaração judicial de que estão cumpridas ou extintas as

penas impostas ao sentenciado, que assegura o sigilo dos registros sobre o processo e

atinge outros efeitos da condenação”.

(b) Efeitos: a reabilitação impõe sigilo dos registros criminais do

indivíduo (salvo quando requisitadas por Juiz Criminal), bem como revoga os

efeitos secundários da condenação (exceto quanto ao cargo público e ao poder

familiar) – art. 93, CP c/c art. 748, CPP.

(c) Requisitos: para requerer a reabilitação deve o sentenciado: i)

ter domicílio no Brasil; ii) demonstrar bom comportamento na vida pública e

privada; e iii) ter ressarcido o dano, salvo impossibilidade de o fazê-lo (art. 94,

CP)i.

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(d) Prazo: o condenado pode requerer a reabilitação no prazo de 2

anos após a extinção da sua pena, contando, para essa finalidade, o período de

prova do sursis ou do livramento (art. 94, caput, CP).

(e) Competência: o pedido deve ser formulado perante o Juízo do

processo de conhecimento, ou seja, do Juízo da condenação (art. 743, CPP)ii.

(f) Recurso de ofício (ex officio): a decisão que concede a

reabilitação está sujeita à confirmação pelo próprio Tribunal2. Caso o pedido

tenha sido indeferido, cabe apelação (art. 746, CPP).

Obs.: o sentenciado pode a qualquer momento renovar o pedido,

uma vez satisfeitos os requisitos (art. 94, § único, CP).

g) Revogação: a reabilitação será revogada, de ofício ou a

requerimento do MP, se o beneficiado vem a ser condenado definitivamente

(art. 95, CP).

11. MEDIDA DE SEGURANÇA

(a) Natureza jurídica: sanção penal. Segundo o STF, “a absolvição

criminal não prejudica a medida de segurança, quando couber, ainda que importe

privação da liberdade” (Súmula nº 422, STF). Trata-se da denominada “sentença

absolutória imprópria”, ou seja, apesar da absolvição, poderá haver aplicação

de uma sanção penal.

(b) Fundamento: periculosidade do réu. A pena, por sua vez, tem por fundamento a culpabilidade.

(c) Sistemas:

i) duplo-binário: pena + medida de segurança;

ii) vicariante ou unitário: medida de segurança.

- Obs.: segundo NUCCI, “antes da Reforma Penal de 1984,

prevalecia o sistema do duplo binário, vale dizer, o juiz podia aplicar pena mais

medida de segurança. Quando o réu praticava delito grave e violento, sendo

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considerado perigoso, recebia pena e medida de segurança. Assim, terminada a pena

privativa de liberdade, continuava detido até que houvesse o exame de cessação de

periculosidade. (...) Atualmente, prevalecendo o sistema vicariante, o juiz somente pode

aplicar pena ou medida de segurança”i.

(d) Pressupostos: i) prática de fato definido como crime;

ii) periculosidade

(e) Competência:

i) se a doença mental é anterior à execução da pena: Juízo do

processo de conhecimento.

ii) se a doença mental é superveniente à execução da pena: Juízo

do processo de execução.

(f) Inaplicabilidade:

i) se o crime sequer foi tentado (em direito penal não se punem, em

regra, os atos preparatórios).

ii) se se tratar de crime impossível.

iii) se houver causa que exclua o crime (ex.: legítima defesa).

iv) se já estiver extinta a punibilidade do crime (ex.: prescrição).

(g) Espécies de Medida de Segurança:

i) internação: é medida detentiva executada em hospital de

custódia.

ii) tratamento ambulatorial: é medida não-detentiva (ou seja,

restritiva), devendo o paciente comparecer ao hospital ou à clínica

indicados pelo juiz nos dias previamente marcados para consulta

ou tratamento.

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- Obs. I: o STF já concedeu o direito de internação em hospital

psiquiátrico particular à falta de local adequado na comarca. O STJ já

considerou que há constrangimento ilegal na manutenção do indivíduo em

penitenciária quando aplicada a medida de segurança. Nestas hipóteses, à

falta de vaga em hospital psiquiátrico, deve-se impor ao agente o tratamento

ambulatoriali.

- Obs. II: a qualquer momento pode ser decretada a internação

caso se mostre tal medida adequada, não sendo exigível nesta hipótese um

laudo psiquiátrico prévio (art. 97, § 4º, CP)i.

h) Aplicabilidade:

i) inimputáveis: aplica-se a medida de segurança.

ii) semi-imputáveis: duas hipóteses:

I - aplica-se a pena com a redução determinada pelo art. 26, §

único, CP (1/3 a 2/3); ou

II – aplica-se a substituição da pena fixada por medida de

segurança, se o agente necessitar de tratamento curativo

(internação ou tratamento ambulatorial) - art. 98 do CP.

- Obs. I: diz o art. 97 do CP que a internação é a medida cabível aos

apenados com reclusão e o tratamento ambulatorial àqueles apenados com

detenção. Há, contudo, precedente isolado no STJ flexibilizando tal regra

legali.

- Obs. II: é vedada a reformatio in pejus também na medida de

segurançai. Aplica-se, ainda hoje, a Súmula nº 525 do STF, embora editada à

época em que vigia o sistema do duplo-binário: “a medida de segurança não será

aplicada em segunda instância, quando só o réu tenha recorrido”.

(i) Duração: prazo mínimo, de 1 a 3 anos. O prazo máximo é, segundo o

art. 97, § 1º, do CP indeterminadoi. Há precedente isolado do STF, contudo, no

sentido de que a duração da medida de segurança não pode ultrapassar 30

anos, limite das sanções penais em geral, especialmente diante da proibição de

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penas perpétuasi. Nesta hipótese, não cessada sua periculosidade, deve-se

proceder à sua interdição civil, aplicando-se, por analogia, o art. 682, § 2º, do

CPP. O STJ, contudo, decidiu recentemente que o prazo máximo da medida

de segurança deve ser o máximo em abstrato do crime, em tese, praticadoi.

Obs. I: o cômputo do prazo prescricional, contudo, está sujeito a

limites: se a medida de segurança foi aplicada na sentença absolutória ao

inimputável, conta-se a prescrição pela pena máxima em abstratoi; se a medida de

segurança foi aplicada na sentença condenatória ao semi-imputável, ou seja, em

substituição, conta-se a prescrição pela pena efetivamente aplicada.

- Obs. II: se aplicada em substituição à pena em razão de

superveniência de doença mental no decorrer da execução ou na própria

sentença condenatória ao semi-imputável (art. 98, CP), seu limite é o restante

de pena a cumpriri.

- Obs. III: a perícia é realizada ao final do prazo fixado pelo juiz e,

após, é realizada “ano a ano” (art. 97, § 2º, primeira parte, CP).

- Obs. IV: pode o juiz, ainda, determinar novo exame a qualquer

momento que julgar necessário (art. 97, § 2º, segunda parte, CP).

- Obs. V: deve-se aplicar à medida de segurança a regra da

detração, ou seja, desconta-se do prazo mínimo da medida de segurança o

tempo de prisão provisória cumprido no decorrer do processo (art. 42 do CP).

(j) Execução e Revogação da Medida de Segurança:

- realizada a perícia e verificada a cessação da periculosidade, deve

o juiz suspender a execução da medida de segurança, por 1 ano, aplicando ao

indivíduo as condições dos arts. 132 e 133 da Lei nº 7.210/84 (art. 178 da

LEP)i.

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- se o indivíduo, durante a suspensão, praticar fato que indique

periculosidade (não precisa, necessariamente, ser um fato criminoso), ocorrerá

o restabelecimento da medida (art. 97, § 3º, CP)i.

- se após 1 ano não ocorrer o restabelecimento da medida de

segurança, deve o juiz declará-la extinta.

AÇÃO PENAL

a) Conceito: segundo TOURINHO FILHO, pode-se definir ação penal “como

sendo o direito de pedir ao Estado (representado pelos seus juízes) a aplicação do Direito Penal

objetivo. Ou o direito de pedir ao Estado-Juiz uma decisão sobre um fato penalmente relevante”i.

b) Espécies: quanto ao sujeito que a promove, a ação penal pode ser

classificada como pública ou privada.

b.1) ação penal pública: é iniciada pelo “Estado-Acusação” (Ministério

Público – estadual ou federal), com apresentação de uma petição inicial denominada

“denúncia”. Pode ser:

– incondicionada: é a regra (art. 24 do CPP c/c art. 100, § 1º, CP).

– condicionada:

i) à representação do ofendido ou seu representante legal: é condição de

procedibilidade e tem como prazo decadencial os 6 meses posteriores ao

dia em que se descobriu a identidade do agente (art. 38 do CPP c/c art.

103, CP). Não se exige forma especial. A representação é retratável até o

oferecimento da denúncia (sendo possível, portanto, a retratação da

retratação, desde que dentro do prazo decadencial – art. 25 do CPP c/c art.

102, CP). A representação não obriga o MP ao oferecimento da denúncia. Se

o ofendido for declarado ausente ou morrer, o direito de representação

passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, § 1º, CPP);

ii) à requisição do Ministro da Justiça: também é condição de

procedibilidade, mas não tem prazo decadencial (pode o Ministro

requisitar a qualquer tempo, desde que não tenha ocorrido a prescrição). É

exigida nos casos de crime contra a honra do Presidente da República ou

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Chefe de Governo estrangeiro. Segundo a doutrina majoritária, é

irretratável e, por se tratar de “requisição” obriga o MP ao oferecimento da

denúncia.

b.2) ação penal privada: é iniciada pelo próprio ofendido ou seu

representante legal, com apresentação de uma petição inicial denominada “queixa”. É

exceção ao sistema legal, pois a regra é a ação penal ser pública (art. 30 do CPP c/c

art. 100, caput, CP). Pode ser:

i) exclusiva: é a hipótese mais comum, em que a iniciativa é do próprio

ofendido ou de seu representante legal. O prazo decadencial para o seu

oferecimento é de 6 meses a contar da data em que se descobriu o autor

(art. 38 do CPP). Em caso de morte ou ausência declarada (judicialmente)

do ofendido, o direito de ingressar com a queixa ou de prosseguir na ação

passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31 do CPP c/c

art. 100, § 4º, CP);

ii) subsidiária: diz respeito à possibilidade do ofendido ou seu representante

legal iniciarem a persecução penal, em casos de ação penal pública, por

força da inércia do órgão ministerial. Tem assento infraconstitucional (art.

100, § 3º, CP e 29 do CPP) e constitucional (art. 5º, LIV, CRFB). O particular

tem 6 meses para ingressar com a ação penal subsidiária, sob pena de

decair do direito (art. 103, CP). O Ministério Público, contudo, pode oferecer

a denúncia a qualquer tempo, desde que não tenha ocorrido a prescrição.

- Obs. I: alguns doutrinadores citam, ainda, a existência da ação penal

privada personalíssima, naquelas hipóteses em que somente o ofendido poderia

movê-la (na ação penal privada exclusiva, estando impossibilitado o ofendido, pode

propô-la o seu representante legal; na falta do ofendido - ausência ou morte -, podem

propô-la o cônjuge, os ascendentes, os descendentes ou os irmãos. Segundo CAPEZ,

“há entre nós apenas um caso dessa espécie de ação penal: crime de induzimento a erro essencial

ou ocultação de impedimento, previsto no Código Penal, no Capítulo ‘Dos Crimes contra o

Casamento’, art. 236, parágrafo único. O crime de adultério (antigo art. 240, CP), atualmente

revogado pela Lei nº 11.106/2005, também estava sujeito a essa espécie de ação penal”i.

- Obs. II: o MP nestes casos pode aditar a queixa, repudiá-la (oferecendo

denúncia substitutiva), bem como intervir em todos os termos do processo, inclusive

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recorrendo. E, em havendo negligência do particular, deve retomar a ação como parte

principal (art. 29, CPP).

- Obs. III: se o ofendido for menor de 18 anos e não tiver representante legal

ou se colidirem os seus interesses, deverá o juiz nomear curador especial (art. 33,

CPP).

- Obs. IV: o MP não pode desistir da ação penal, mas poderá pedir a

absolvição do acusado (princípio da indisponibilidade - art. 42, CPP).

- Obs. V; não enseja ação penal subsidiária a atuação do MP em

desconformidade com a vontade do ofendido (ex.: pedido de arquivamento, pedido de

diligências, etc).

- Obs. VI: houve mudança recente quanto à natureza da ação penal nos

crimes contra os costumes:

REGRA ANTERIOR

- pública condicionada a representação:

“se a vítima ou seus pais não podem prover às despesas do processo, sem privar-se de

recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família” (art. 225, § 1º, I, CP);

- pública incondicionada:

i) “se o crime é cometido com abuso do pátrio poder, ou da qualidade de padrasto,

tutor ou curador” (art. 225, § 1º, II, CP); e

ii) “no crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública

incondicionada” (Súmula nº 608, STF).

REGRA NOVA

Segundo a lei nº 12.015/2009, a ação penal nos crimes contra a liberdade

sexual é, em regra, condicionada a representação, exceto quando a vítima é menor

de 18 anos ou vulnerável (menor de 14 anosi, doente mental, enfermo ou que não

possa resistir):

“Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I (CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL - arts. 213, 215 e 216-A) e II (CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL - arts. 217-A,

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218, 218-A e 218-B) deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável”

- Obs. VII: nos crimes de lesão corporal leve contra a mulher no âmbito

das relações domésticas, não cabe aplicação dos benefícios previstos na Lei nº

9.099/95 (art. 41, Lei nº 11.340/2006). Este crime continua sendo de ação penal

pública condicionada à representação, embora tenha havido restrição ao direito de

retrataçãoi (arts. 16 e 17, Lei nº 11.340/2006). Essa era a posição do STJi e do

TJDFTi. Nada obstante, o STF pacificou a questão em sentido diverso:

c) Princípios da Ação Penal.

i) Pública: obrigatoriedade, indisponibilidade e indivisibilidade;

ii) Privada: conveniência, disponibilidade e indivisibilidadeii.

- Obs. I: o oferecimento da queixa exige procuração com poderes especiais

(art. 44, CPP).

- Obs. II: nos crimes de ação penal privada, “o perdão poderá ser aceito por

procurador com poderes especiais” (art. 55, CPP).

- Obs. III: conquanto disponível a ação penal privada, seu oferecimento

contra um dos autores do crime obriga a imputação aos demais, sob pena de ser

reconhecida a renúnciaii.

- Obs. IV: o perdão a um dos agentes a todos se estende, exceto se for

recusadoii.

- Obs. V: em qualquer fase do processo pode o juiz declarar extinta a

punibilidade do crime (art. 61, CPP) em face das hipóteses previstas no art. 107 do

CPii.

- Obs. III: conquanto disponível a ação penal privada, seu oferecimento

contra um dos autores do crime obriga a imputação aos demais, sob pena de ser

reconhecida a renúnciaii.

- Obs. IV: o perdão a um dos agentes a todos se estende, exceto se for

recusadoii.

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- Obs. V: em qualquer fase do processo pode o juiz declarar extinta a

punibilidade do crime (art. 61, CPP) em face das hipóteses previstas no art. 107 do

CPii.

i) morte do agente (art. 107, I, CP): a própria CRFB estabelece que “a pena não passará da pessoa do criminoso” (art. 5 XLV). É imprescindível a certidão de óbito para atestar o evento;

ii) Anistia (art. 107, II, CP): a anistia pode ser anterior ou posterior ao trânsito em julgado. Quando anterior, diz-se “anistia própria”; quando posterior, “anistia imprópria”. Destina-se a fatos e, não, a pessoas. Compete ao Congresso Nacional a concessão de anistia. A anistia

desconstitui os efeitos penais, mas, não, os civis. Não pode ser revogada;

iii) Graça (art. 107, II, CP): é também conhecida como “indulto individual”. Trata-se de uma espécie perdão concedido pelo Presidente da República. Pode ser total ou parcial. Quando total, extingue a punibilidade; quando parcial, recebe a denominação de “comutação” e apenas diminui ou substitui a pena aplicada. É sempre posterior ao trânsito em julgado. A graça diz respeito sempre a um condenado em especial;

iv) Indulto (art. 107, II, CP): é também conhecido como “indulto coletivo”. Trata-se de uma espécie perdão concedido pelo Presidente da República. Pode ser total ou parcial. Quando total, extingue a punibilidade; quando parcial, recebe a denominação de “comutação” e apenas diminui ou substitui a pena aplicada. É sempre posterior ao trânsito em julgado. O indulto coletivo diz respeito sempre a um grupo de condenados.

- Obs. I: a anistia, a graça e o indulto podem ser condicionais, ou seja, podem ser estabelecidas condições para o condenado. Nesta hipótese, deve-se ouvir o beneficiado previamente; - Obs. II: a CF proíbe a concessão de anistia e graça aos condenados por crime hediondo e equiparado (art. 5, inciso XLIII); a Lei nº 8.072/90, por sua vez, proíbe a concessão também de indulto (art. 2º, inciso I).

v) abolitio criminis (art. 107, III, CP): nesta hipótese ocorre a própria descriminalização da

conduta, apagando os efeitos penais da condenação (art. 2º, CP);

vi) Decadência (art. 107, IV, CP): diz respeito à perda do direito de se ingressar com a ação penal privada ou de representar nos casos de ação penal pública condicionada. Tal prazo é de seis meses (art. 100, § 3º, CP).

vii) Perempção (art. 107, IV, CP): trata-se de sanção processual ante a inércia do particular. É instituto exclusivo da ação penal privada. Ocorre nas seguintes hipóteses (art. 60, CPP): a)

deixar o querelante de promover o andamento do processo por mais de 30 dias, após intimado para tanto; b) se, falecendo o querelante ou ficando incapaz, não se proceder à sua substituição no prazo de 60 dias; c) se o querelante não comparecer injustificadamente a qualquer ato processual; d) se o querelante deixar de formular pedido de condenação nas alegações finais; e e) se o querelante for pessoa jurídica e esta se extinguir não deixando sucessor. viii) Renúncia e perdão (art. 107, V, CP): a renúncia é a desistência da propositura da ação penal privada (art. 104, CP); o perdão é a desistência no prosseguimento da ação penal (art. 105, CP). Características: a) momento processual: renúncia (antes da propositura); perdão (após a propositura); b) forma: expressa ou tácita (ambos os casos); c) natureza do ato: renúncia (unilateral); perdão (bilateral – art. 106, III, CP). Somente ocorrem na ação penal

privada. - Obs. I: segundo o princípio da indivisibilidade da ação penal, a renúncia e o perdão quanto a um dos agentes, a todos aproveita (art. 49, CPP c/c art. 106, I, CP). Se concedido, contudo, por apenas um dos ofendidos, não prejudica o direito dos demais (art. 106, II, CP).

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- Obs. II: só se admite o perdão até o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 106, § 2º, CP).

ix) Retratação (art. 107, VI, CP): é o ato pelo qual o agente do crime volta atrás em sua atitude criminosa. Pode ocorrer em duas hipóteses: a) nos crimes de calúnia e difamação (art. 143, CP); e b) nos crimes de falso testemunho ou falsa perícia (art. 342, § 2º, CP). Em qualquer hipótese, somente se admite a retratação até a sentença. No segundo caso, entretanto, a retratação deve ocorrer nos autos do processo em que se prestou o falso testemunho ou a falsa perícia.

x) Perdão judicial (art. 107, IX, CP): é o instituto pelo qual o juiz deixa de aplicar uma pena ao sujeito culpado, uma vez preenchidos certos requisitos. Segundo o STJ, a sentença que o concede é meramente declaratória de extinção da punibilidade, não gerando qualquer efeito

condenatório (Súmula 18). Deve estar expressamente prevista esta possibilidade (ex.: art.

121, § 5º, CP).

xi) Prescrição (art. 107, IV, c/c art. 109 do CP).

(d) Prazo para Oferecimento da Peça Acusatória:

- na ação penal pública: i) se o acusado está preso: 05 dias;

ii) se o acusado está solto: 15 dias.

- na ação penal privada: 06 meses contados do dia em que se

descobriu o autor da infração (art. 38, CPP).

- Obs.: se o ofendido é menor de 18 anos, há dois prazos decadenciais, só

correndo o prazo contra o respectivo representante legalii. NUCCI esclarece que “se o

prazo de decadência iniciou-se e terminou quando a vítima tinha menos de 18 anos, não

sendo legitimada a agir, mas somente o seu representante, que ficou inerte, há que se

computar o seu prazo integral de seis meses, a contar da data que atingir a capacidade

processual penal. Isto porque os prazos são independentes: um para o representante e

outro para o menos ofendido. Assim, ao completar 18 anos, tem reavivado o prazo

decadencial finalizado para o seu representante”ii.