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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE DEMOGRAFIA E CIÊNCIAS ATUARIAIS CURSO DE CIÊNCIAS ATUARIAIS ANA BRASILINA SIMPLÍCIO KITAYAMA PENSÃO POR MORTE NO BRASIL: EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E CUSTEIO DESDE A MONARQUIA Natal (RN) 2019

PENSÃO POR MORTE NO BRASIL: EVOLUÇÃO DOS DIREITOS …...DESDE A MONARQUIA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade

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Page 1: PENSÃO POR MORTE NO BRASIL: EVOLUÇÃO DOS DIREITOS …...DESDE A MONARQUIA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE DEMOGRAFIA E CIÊNCIAS ATUARIAIS

CURSO DE CIÊNCIAS ATUARIAIS

ANA BRASILINA SIMPLÍCIO KITAYAMA

PENSÃO POR MORTE NO BRASIL: EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E

CUSTEIO DESDE A MONARQUIA

Natal (RN)

2019

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ANA BRASILINA SIMPLÍCIO KITAYAMA

PENSÃO POR MORTE NO BRASIL: EVOLUÇÃO DOS DIREITOS E CUSTEIO

DESDE A MONARQUIA.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como

requisito parcial à conclusão do Curso Bacharelado em

Ciências Atuariais.

Orientado (a): Prof.ª Cristiane Silva Correa

Natal (RN)

2019

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As pessoas que fizeram a diferenças contribuindo com a realização desse trabalho,

especialmente, a Professora Cristiane Silva Corrêa.

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“A história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do

presente, advertência do futuro.”

Dom Quixote

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar as mudanças das pensões por morte no Brasil a

partir da evolução histórica ocorridas na legislação, destacando os direitos adquiridos desde a

monarquia, bem como as perdas, limitações e ganhos gerados a partir das reformas

previdenciárias, possibilitando dessa forma observar se o ordenamento jurídico decorrido das

reformas previdenciárias trouxeram de fato ganhos ou perdas aos dependentes dos segurados.

Dentro da metodologia de pesquisa adotou-se o método histórico, o qual consiste em analisar a

evolução histórica das mudanças ocorridas na Seguridade Social, especialmente na área da

Previdência Social, com ênfase nas pensões por morte. Dessa forma, esse trabalho além de

despertar a curiosidade sobre essa temática serve como parâmetro no sentido de perceber o que

foi feito e o que poderá ainda ser feito nos planos de políticas públicas voltadas a pensão por

morte. Espera-se, ao final da análise, perceber que revisões nas literaturas e estudos acadêmicos

relacionadas a pensão por morte da Previdência Social no Brasil poderão despertar o interesse

dos gestores públicos em terem como premissa dados fundamentados em históricos e, assim,

agregar ainda mais valor aos estudos de sustentabilidade do sistema de proteção previdenciária.

Palavras-chave: Benefício. Direito. Monarquia. Pensão. Previdência. Reforma.

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ABSTRACT

This paper aims to presente the chages in pensions due to death in Brazil from the historical

evolution that occurred in the legislation, highlighting the rights acquired since the monarchy,

as well as the losses, limitations and gains generated from social security reforms, thus allwing

to observe if the legal system resulting from social security reforms actually brought gains or

losses to the insured’s dependentes. Within the research methodology, the historical method

was adopted, which consists of analyzing the historical evolution of changes in Social Security,

especially in the área os Social Security, with emphasis on pensions for death. Thus, this work,

besides arousing curiosity about this theme, serves as a parameter in order to understand what

has been done and what can still be done in public policy plans aimed at death pensions. It is

expected, at the end of the analysis, that revisions in the leterature and academic studies related

to the pension for death os Social Security in Brazil may arouse the interest of public managers

to have data based on historical premise and thus add even more value to sustainability studies

of the social security protection system.

Key-words: Benefit. Right. Monarchy. Pension. Social security. Reform.

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LISTAS DE QUADROS

QUADRO 1 – CONSTRUÇÃO DA PREVIDÊNCIA NO BRASIL, DE 1824 A 2009 .......... 15

QUADRO 2 – FORMAÇÃO DOS REGIMES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ...................... 22

QUADRO 3 – FORMAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DOS REGIMES

PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ............................................................................. 23

QUADRO 4 - TIPOS DE SERVIDORES PÚBLICOS ........................................................... 23

QUADRO 5 – TIPOS DE SERVIDORES OCUPANTE DE CARGO EFETIVO ................. 23

QUADRO 6 – PENSÕES POR MORTE NO BRASIL, DE 1860 A 2019 ............................. 28

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9

2 REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................... 11

2.1. Breve contexto histórico das práticas de proteção coletiva no mundo, da Idade Média

as primeiras décadas do século XIX ................................................................................. 11

2.2. Breve contexto histórico das práticas de prevenção coletiva no Brasil nas primeiras

décadas do século XIX ..................................................................................................... 13

2. 3. A construção da Previdência Social no Brasil, de 1824 a 2009 .................................. 15

2. 4. Previdência Social no Brasil: Natureza, Princípios e Dispositivos Constitucionais .... 18

2.5. Diferenças entre os Regimes Básicos e Complementar da Previdência Social no Brasil

........................................................................................................................................ 22

2.6. Função social das pensões por morte no Brasil: mudanças ocorridas com a Lei Eloy

Chaves (1923) a Nova Previdência (2019)........................................................................ 24

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 29

4 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 30

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1 INTRODUÇÃO

Pensão por morte consiste em um benefício pecuniário, ou seja, de disponibilidade

imediata concedido aos dependentes dos indivíduos que vierem a falecer na condição de

segurados na Previdência Social.

Esse estudo consiste em apresentar as mudanças nas pensões por morte no Brasil,

destacando os direitos adquiridos desde a monarquia, bem como as perdas, limitações e ganhos

decorrentes das reformas previdenciárias.

Dentro dessa perspectiva, remete-se ao Brasil Imperial ou Brasil sob a regência da

monarquia, de 1822 a 1889, quando ainda não tinha Previdência Social. Porém, em 1889, a

Alemanha já registrava as primeiras iniciativas legais de prevenção coletiva através do

chanceler Otto von Bismarck (SENADO FEDERAL, 2017).

Contudo, fazer referência a Previdência Social no Brasil é considerar incialmente a

definição de ordem social geral que, segundo a Constituição Federal (1988), tem como base o

primado do trabalho e como objetivo, o bem-estar e a justiça social. Desse modo, temos na

definição de Seguridade Social um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes

públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à

assistência social.

Assim, por ocasião da promulgação da Constituição Federal em 1988 foi assegurado o

direito a benefícios de aposentadoria, pensão e benefícios assistenciais. No entanto, no início

do século XX o povo brasileiro já tinha entrado para a história no momento em que registrou

os primeiros passos para a institucionalizar a Previdência Social através da Lei Eloy Chaves em

1923 (GOES, 2014).

Todavia, mais recentemente e já aprovada através da Emenda Constitucional nº

103/2019, temos a Proposta de Emenda à Constituição nº 6 (PEC nº 06/2019) que trata sobre o

sistema de previdência social, estabelecendo alterações de regras de aposentadoria e pensão

aplicáveis aos trabalhadores segurados do Regime Geral de Previdência Social, aos servidores

públicos civis e aos detentores de mandato eletivo (SENADO FEDERAL, 2019).

Assim, diante desse cenário, um fator que permanece em evidência é a importância de

observar se o ordenamento jurídico decorrido das reformas previdenciárias trouxeram de fato

ganhos ou perdas aos dependentes dos segurados falecidos.

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Então, por ser esta a inquietação motivadora a escolha do objeto de pesquisa temos a

seguinte problematização: o ordenamento jurídico decorrido das reformas previdenciárias nas

pensões por morte no Brasil desde a monarquia trouxeram ganhos ou perdas aos dependentes

dos segurados?

A partir dessas considerações o trabalho visa apresentar conceitos, contextos históricos

e legislações os quais dentro da metodologia de pesquisa adotou-se o método histórico que

consiste em direcionar a análise na evolução histórica das reformas previdenciárias

direcionadas às pensões por morte.

Esse trabalho está organizado em três seções, além dessa introdução. A seção 02

apresenta a revisão bibliográfica na seguinte sequência: a) Breve contexto histórico das práticas

de proteção coletiva no mundo, da Idade Média as primeiras décadas do século XIX; b) Breve

contexto das práticas de prevenção coletiva no Brasil nas primeiras décadas do século XIX; c)

A construção da Previdência Social no Brasil, de 1824 a 2009; d) Previdência Social no Brasil:

Natureza, Princípios e Dispositivos Constitucionais; e) Diferenças entre os Regimes Básicos e

Complementar da Previdência Social no Brasil e, f) Função social das pensões por morte no

Brasil: mudanças ocorridas com a Lei Eloy Chaves (1923) a Nova Previdência (2019). Na seção

03 apresenta-se as Considerações finais e na seção 04 as referências bibliográficas.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Breve contexto histórico das práticas de proteção coletiva no mundo, da Idade Média

as primeiras décadas do século XIX

Segundo Nogueira, (2012, p. 24) as primeiras práticas de proteção coletiva podem ser

observadas sob o aspecto de luta pela sobrevivência quando o homem primitivo passou a se

preocupar em prolongar a vida dos alimentos para assim saciar a fome em outro momento.

Entretanto, essa ideia estava restrita a necessidades individuais ou a pequenos grupos afins sem

que ainda pudesse ser vista como uma preocupação de natureza social.

Já na Idade Média, período compreendido entre os séculos V e XV, o autor aponta as

primeiras formas de proteção coletiva com características de mutualismo onde a partir da

organização do trabalho formadas por pessoas que exerciam o mesmo ofício ou profissão se

reuniam em grupos com objetivos e interesses comuns cujas práticas eram inspiradas e

influenciadas pela Igreja Católica e dessa forma ajudavam as pessoas que faziam parte desses

grupos.

Assim, as práticas coletivas de assistencialismos passaram a possuir características de

mutualismo que, segundo Tsutiya, apud Júnior (2013) consiste em:

O segundo sistema de proteção social conhecido foi mutualismo. Consistia na

contribuição financeira de um grupo de pessoas visando à proteção recíproca.

Formavam-se fundos para socorrer membros do grupo em momentos de dificuldade.

Como exemplo desse sistema, citem-se os sodalitates romanos, os coleggia e heterias,

as confradias, as guildas ou ligas (Na Idade Média). No Brasil, foram exemplo as

antigas organizações operárias e os montepios de servidores públicos.

Essas práticas, no decorrer do tempo, foram sendo substituídas por medida de ordem

pública percebida na Idade Moderna, séculos XV e XVIII, mais precisamente na Europa, onde

o contexto em que estava inserida a sociedade era de alta concentração de indigentes nos centros

urbanos os quais foram amparados pelas primeiras leis voltadas à arrecadação e distribuição de

recursos, caracterizando dessa forma medida de ordem pública ao invés de práticas com

características de ação de beneficência (NOGUEIRA, 2012, p. 24).

Dentre outras práticas observadas por Nogueira (2012, p. 25) destaca-se a Lei dos

Pobres (Poor Law), de 1601, na Inglaterra, onde a assistência do Estado aos pobres alcançou

seu ápice através da arrecadação de tributos em cada paróquia com o objetivo de conceder

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pequenos auxílios aos desprovidos de recursos. Com mais de 50 anos de atraso, desde o início

da sua aplicação, por motivo de instabilidade da política inglesa e ausência de critérios na

cobrança dos tributos, a Lei perdurou por quase dois séculos sob significativas transformações

aprovadas pelo Parlamento Inglês em 1834.

Sobre essa Lei o autor ressalta a visão do economista Thomas H. Marshall (1893 –

1981) cuja análise consistiu em concluir que “as pessoas alcançadas pela assistência pública

não eram beneficiadas com a inclusão no terreno da cidadania, mas, sim sofriam a sua definitiva

exclusão, uma vez que a Poor Law:

Oferecia assistência somente àqueles que, devido à idade e à doença, eram incapazes

de continuar a luta e àqueles outros fracos que desistiam da luta, admitiam a derrota e

clamavam por misericórdia [...] os direitos sociais mínimos que restaram foram

desligados do status da cidadania. A Poor Law tratava as reivindicações dos pobres

não como uma parte integrante de seus direitos de cidadão, mas como uma alternativa

deles – como reinvindicações que poderiam ser atendidas somente se deixassem

inteiramente de ser cidadãos. Pois os indigentes abriam mão, na prática, do direito

civil da liberdade pessoal devido ao internamento na casa de trabalho, e eram

obrigados por lei a abrir mão de quaisquer direitos políticos que possuíssem [...] O

estigma associado à assistência aos pobres exprimia os sentimentos profundos de um

povo que entendia que aqueles que aceitavam assistência deviam cruzar a estrada que

separava a comunidade de cidadãos da companhia de indigentes.”

Por fim, sob esse contexto de assistência pública o destaque recai no território alemão

nas bases do Segundo Império ou 2º Reich (1871 a 1918), sob a gestão de Otto von

Bismarck, estadista no século XIX.

Segundo Júnior (2012, p. 22), com o surgimento da Revolução Industrial em

1883 a atual Alemanha passou a demandar mão de obra em sua produção em larga escala

o que por sua vez gerou grande massa de trabalhadores que, sob condições precárias de

trabalho, o cenário contribuiu com a implementação do modelo de proteção social o qual

passou a ser conhecido por modelo bismarckiano através da Lei do seguro-doença. Essa

Lei consistia em dividir os custos entre os empregados, empregadores e Estado e a partir

dessa tríplice aliança garantia a sustentabilidade do sistema de proteção social alemão.

Por outro lado, segundo Nogueira (2012, p. 26), esse modelo se desenvolveu sob as

chamadas Leis Socialistas que basicamente consistia na ideia forçada de solidariedade

caracterizada pela distribuição dos riscos sociais ao conjunto de segurados, como por exemplo:

idosos e jovens, ou acidentados e não-acidentados, tendo cada um deles que assumir sua parte

através de contribuições para o fundo de risco (seguro).

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As Leis Socialistas idealizadas de Bismarck, segundo Meirelles (2017), são: a Lei do

seguro-doença custeada pelo empregado, empregador e Estado de 1883; a Lei do Acidente de

trabalho custeada pelos empregados de 1884 e a Lei do seguro invalidez e idade, custeada pelos

trabalhadores, empregados e Estado de 1889.

Assim, através dessas Leis se consolidava a relação entre Estado e Sociedade Civil o

que pressupõe liberdade sob limitações do poder do Estado, segundo a lógica da concepção

liberal. Essa relação deixava livre o orçamento público, pois os segurados por terem a sensação

de pertencimento social tentavam a todo custo se manter no trabalho mesmo sob condições de

riscos de acidentes, de doença e de desemprego o qual em parte tinha origem nas crises

econômicas, mas que dessa forma poderiam conquistar a aposentadoria por velhice após os 70

anos de idade e 30 de contribuição correspondendo a 2/3 do salário recebido nos últimos cinco

anos de atividade laboral ou pensões por morte do segurado para assim ser destinado aos

dependentes cerca de 20% do salário (NOGUEIRA, 2012).

Outrossim, segundo Meirelles (2017) com o advento da tríade de contribuições

(empregados-empregadores-Estado) a partir das concepções de Bismarck as expectativas eram

em torno da busca por medidas que promovessem o equilíbrio financeiro, tendo em vista ser

essencial na materialização das práticas coletivas de prevenção social.

2.2. Breve contexto histórico das práticas de prevenção coletiva no Brasil nas primeiras

décadas do século XIX

Conforme apresentado na seção anterior, o processo de proteção coletiva foi percebida

nas rotinas do homem primitivo sob a concepção de práticas individuais ou em grupos afins,

seguida de ações assistencialistas a indigentes com a influência da igreja, bem como através de

associações formadas por grupos de pessoas com objetivos e interesses comuns onde a ajuda

ocorria entre os participantes até o momento em que na Alemanha Otto von Bismarck

implementou ao longo de sua gestão uma série de Leis Socialistas custeadas pelo Estado e

Sociedade Civil.

No Brasil, após a independência, entre 1822 e 1889, o governo brasileiro foi

representado por dois monarcas em períodos distintos: D. Pedro I, que governou de 1822 a 1831

e D. Pedro II, que governara de 1831 a 1889.

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Nesse período, entre 1850 e 1870, o cenário social e econômico partia de uma

economia agrária escravista gerada por uma política de gestão que provocava variação dos

salários e dos preços dos alimentos refletindo na instabilidade e crise nas condições de vida o

que consequentemente aumentava o número de pessoas nos centros urbanos. Desse modo, havia

as entidades de socorro mútuo sem fins lucrativos que abrigavam, especialmente, escravos

libertos e trabalhadores livres, nacionais e imigrantes aos quais tinham seus trabalhos

normatizados através da Lei 1.083, de 22 de agosto de 1860 e pelo Decreto 2.711, 19 de

dezembro de 1860 (JESUS, 2013).

Através dessa legislação estava também normatizado a formação de Montepios, cujo

objetivo consistia em arrecadar contribuições dos participantes e repassa-las em tempo futuro,

custeando aposentadorias e pensões.

Segundo Westin (2019, 32 p.), os Montepios tinham alcance local, restrito às maiores

cidades e eram representados por classes conforme ofício exercido pelo participante, ou seja,

havia Montepio dos alfaiates, ourives, cocheiros, maquinistas, tipógrafos de jornais e músicos,

e só tornou-se assunto de Estado por causa do tamanho e qualidade da carteira de clientes.

Por esse motivo o autor destaca as palavras do senador Visconde de Muritiba (BA):

“é de toda evidência que o encolhimento de aposentadorias e pensões não tira direitos

adquiridos”, seguida da fala do conde d’Eu, marido da princesa Isabel: “uma liquidação

imediata traria para muitas pessoas prejuízos mais consideráveis do que a projetada redução de

pensões.”.

O autor também aponta a preocupação do ex-deputado Martim Francisco na reunião

do Conselho de Estado quando adverte que a liquidação do Montepio seria uma verdadeira

calamidade. Desse modo, vale a pena ressaltar que a partir da assinatura do contrato havia um

compromisso entre o participante e a administração do Montepio.

Esse compromisso estava condicionado às Normas vigentes (Lei 1.083, de 22 de

agosto de 1860 e Decreto 2.711, 19 de dezembro de 1860) o qual assegurava ao participante

receber o benefício a partir da data em que pararia de trabalhar ou seria revertido aos

dependentes conforme condições definidas no momento do pagamento da taxa de adesão e

assinatura do contrato, como por exemplo: a viúva poderia receber 60% (até o fim da vida) e

40% os filhos receberiam até determinada idade. Já em relação a forma de rendimento o autor

destaca que era através da compra de apólices da dívida pública e imóveis do tipo para alugar,

além de concessão de empréstimos a juros.

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Portanto, nas primeiras décadas do século XIX o que se tinha no Brasil em termos de

práticas de prevenção coletiva eram entidades assistencialistas e Montepios que favoreciam

apenas os participantes através de taxas de adesão e pagamento de contribuições.

2. 3. A construção da Previdência Social no Brasil, de 1824 a 2009

De acordo com a Secretaria de Previdência (2016), Previdência Social é o seguro do

trabalhador brasileiro, pois lhe garante reposição de renda para seu sustento e de sua família,

por ocasião de sua inatividade, em casos de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice.

Todavia, os direitos que foram instituídos ao povo brasileiro partiram do processo de

construção da Previdência Social através de atos constitucionais, Leis e Decretos, dentre os

quais, de acordo com dados do Senado Federal, das sete Constituições, quatro foram

promulgadas por assembleias constituintes, duas foram impostas – uma por D. Pedro I e outra

por Getúlio Vargas – e uma aprovada pelo Congresso por exigência do regime militar.

Partindo desse princípio e de acordo com os trabalhos realizados por Corrêa (2018) apud

Nogueira (2019) e Meirelles (2009), segue ordem cronológicas dos documentos supracitados

acrescido das Leis, Decretos, Emendas Constitucionais e Medidas provisórias expedidos pelo

governo brasileiro no período de 1824 a 2009 conforme mostra o QUADRO 1:

QUADRO 1 – CONSTRUÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL, DE 1824 A 2009

Monarquia - Aposentadoria dos servidores públicos era vista como

parte do contrato de trabalho. Benefícios familiares pagos

a parte, por caixas de pensões ou convênios com algum

Instituto de Previdência.

Constituição de 25/03/1824 - Não dispunha de cláusulas específicas sobre seguridade

social, apenas no art. 179 trata dos socorros públicos para

assistência da população carente.

Lei nº 3.397, de 24/11/1888 Criação de caixa de socorro para os trabalhadores das

estradas de ferro.

Decreto nº 9.212-1, de 1889 Montepio obrigatório para os empregados dos Correios.

Decreto nº 221, de 26/02/1890 Institui aposentadoria para os empregados da Estrada de

Ferro Central do Brasil.

Constituição de 24/02/1891 Institui socorro público em caso de invalidez no serviço

da Nação.

Decreto nº 4.682, de 24/01/1923

– Lei Eloy Chaves

Institui a criação de Caixas de Aposentadorias e Pensões

para os empregados ferroviários de nível Nacional.

Decreto nº 5.109, de 26/12/1926 Estende o benefício da Lei Eloy Chaves aos empregados

portuários e marítimos.

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Decreto nº 24.615, de 09/06/1934 Institui a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensões

dos Bancários.

A partir da década de 30 o sistema previdenciário deixou

de ser estruturado por empresa, passando a abranger

categorias profissionais.

Constituição de 16/07/1934 - Faz a primeira menção expressa aos Direitos

Previdenciários. Em seu art. 121, § 1º alínea “h”, previa

o custeio tripartite entre trabalhadores, empregadores e

Estado, vinculação obrigatória aos sistema com gestão

estatal.

- Aposentadoria compulsória aos 68 anos de idade dos

servidores públicos, também havia a possibilidade de

cumulação de benefícios, desde que houvesse previsão

legal, para pensões de Montepio e vantagens de

inatividade, ou se resultassem de cargos legalmente

acumuláveis.

Lei nº 367, de 31/12/1936 Criação do Instituto de Aposentadoria e pensões dos

industriários (IAPI) com vinculação obrigatória para os

empregados e facultativa para os patrões.

Decreto-Lei nº 288, de

23/02/1938

Unificação dos Montepios e instituições menores de

funcionários federais no Instituto de Previdência e

Assistência dos Servidores do Estado (IPASE) para

oferecer “benefício família”.

Decreto-Lei nº 3.070, de

20/02/1941

Definiu regras para a aposentadoria dos funcionários

públicos estaduais e municipais. Estabeleceu prazos para

que Estados e municípios estabelecessem estatutos para

seus funcionários para assim assegurar o benefício de

aposentadoria.

Constituição de 18/09/1946 Pela primeira a expressão “previdência social” é

mencionada ao invés de “seguro social”. O inciso XVI do

art. 157 consagra a previdência mediante contribuição da

União, do empregado e do empregador, em prol da

maternidade e para remediar as consequências da velhice,

da invalidez, da doença e da morte.

Lei nº 1.711, de 28/10/1952 Paridade dos proventos da inatividade com os reajustes

concedidos aos funcionários públicos em atividade.

Lei nº 3.807, de 26/08/1960 Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), unificou a

legislação previdenciária entre todos os institutos

previdenciários. Promoveu a igualdade no sistema de

custeio com a unificação das alíquotas de contribuição

incidentes sobre a remuneração do trabalhador (entre 6%

e 8%).

Decreto-Lei nº 66, de 21/11/1966 Modificações na LOPS principalmente quanto a

sistemática dos segurados autônomos, prevendo a

contribuição da empresa que utiliza o trabalho autônomo.

Decreto-Lei nº 72, de 21/11/1966 Extingui os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP)

os reuni no Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS).

Constituição de 15/03/1967 Não inovou em matéria previdenciária, repetindo as

disposições da Constituição de 1946, reproduzindo no

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art. 158 as mesmas disposições do art. 157 da Carta

Magna de 1946.

Decreto-Lei nº 367, de

19/12/1968

Institui a contagem do tempo de serviço dos funcionários

públicos da União e autarquias.

Lei Complementar nº 11, de

25/05/1971

Institui o PRORURAL, regulamentando a proteção aos

trabalhadores rurais, sendo alterada pela Lei

Complementar nº 16, de 30/10/1973.

Lei nº 6.179, de 11/12/1974 e Lei

nº 6.243, de 24/09/1975

Institui amparo previdenciário para maiores de 70 anos

ou inválidos, no valor de um salário mínimo e a

concessão de pecúlio ao aposentado que retornava à

atividade ou que ingressava na Previdência Social após

complementar 60 anos de idade, respectivamente.

Lei nº 6.439, de 01/09/1977 Institui o Sistema Nacional de Previdência Social

(SINPAS), integrando as atividades da Previdência

Social, da assistência médica, da assistência social e da

gestão administrativa, financeira e patrimonial, entre as

entidades vinculadas ao Ministério da Previdência e da

Assistência Social.

Constituição de 05/10/1988 - Institui um capítulo para tratar da Seguridade Social,

estendendo-se do artigo 194 a 204.

- Passou a ser reconhecida por Constituição da

solidariedade e do Bem Estar Social, manteve o custeio

tripartite entre a União, Estados, Municípios e Distrito

Federal; e entre Trabalhadores e Empregadores.

- Apresenta três áreas de atuação: assistência social,

assistência à saúde e previdência social.

- Institui a composição do Sistema de previdência social

composto através de dois regimes, Regime Geral de

Previdência Social (RGPS) e Regime Próprio de

Previdência Social (RPPS).

Decreto nº 99.350, de 27/06/1990 - Reforma administrativa. Extinção do SINPAS.

Unificação do Ministério do Trabalho e Previdência

social (MTPS). Vinculação do MTPS a Autarquia

Federal: DATAPREV (Empresa de processamento de

dados da Previdência Social) e o INSS (Instituto

Nacional do Seguro Social)

- Fusão do IAPAS (Instituto de Administração Financeira

de Previdência Social) e do INPS (Instituto Nacional de

Previdência Social) a partir da criação do INSS que passa

a ter a finalidade de cobrar contribuições e pagar

benefícios.

Lei nº 8.212, de 24/07/1991 - Dispõe sobre a organização da seguridade social.

Institui o plano de custeio.

- Transferência dos recursos do Fundo de Participação

dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e do Fundo de

Participação dos Municípios (FPM) condicionada à

inexistência de débitos ao INSS.

Lei nº 8.213, de 24/07/1991 - Dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência

Social.

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18

- A partir das Leis nº 8.212 e nº 8.213 unificação dos

regimes urbano e rural em apenas RGPS.

Emenda Constitucional nº 3, de

17/03/1993

Institui a exigência do caráter contributivo para todos os

benefícios RPPS.

Emenda Constitucional nº 20, de

15/12/1993

- Dispõe sobre reforma previdenciária, estabelecendo

aposentadoria por tempo de contribuição e não mais por

tempo de serviço, exigindo trinta e cinco anos de

contribuição para homens e trinta para mulheres. O

salário família e o auxílio-reclusão passaram a ser

destinados apenas ao dependente do segurado de baixa

renda.

- Institui a exigência do equilíbrio financeiro e atuarial

dos RPPS.

Lei nº 9.876, de 26/11/1999 Institui o fator previdenciário. Considera a expectativa de

vida do segurado no cálculo do benefício, tendo em vista

alcançar equilíbrio financeiro.

Emenda Constitucional nº 41, de

19/12/2003

Institui a obrigatoriedade da contribuição dos servidores

sobre os benefícios recebidos acima do teto do RGPS.

Institui média dos 80% dos maiores salários, e não mais

o valor da última remuneração.

Decreto nº 6.765, de 10/02/2009 Institui reajuste do teto dos benefícios do RGPS para R$

3.218,90, porém o valor mínimo não poderá ser inferior

ao salário mínimo (art. 29, § 2º da Lei 8.213/1991. FONTE: Elaboração própria com base nos trabalhos de Corrêa (2018), apud Nogueira (2012) e Meirelles (2009)

Assim, a partir da Constituição de 1988, a proteção social no Brasil foi estendida a

todos os integrantes da sociedade, fazendo, desta forma, os direitos previdenciários, não mais

exclusividade de trabalhadores, mas de todos os integrantes da sociedade brasileira

(MEIRELLES, 2009).

2. 4. Previdência Social no Brasil: Natureza, Princípios e Dispositivos Constitucionais

De acordo com o art. 194 da Constituição Federal de 1988, Seguridade Social

compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,

destinados a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Assim, por tratar-se de direitos constitucionais vale a pena ressaltar os princípios que

norteiam a Seguridade Social, os quais esse estudo aponta o trabalho realizado por Goes apud

Bandeira (2014) que os define como sendo o “verdadeiro alicerce” da Seguridade Social.

Desse modo, os alicerces da Seguridade Social segundo Goes (2014) são:

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I. Universalidade da cobertura e do atendimento (CF, art. 194, parágrafo único, I) - A

universalidade torna a Seguridade Social acessível a todas as pessoas residentes no país,

inclusive estrangeiros;

II. Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços entre as populações urbanas e

rurais (CF, art. 194, parágrafo único, II) – Refere-se ao aspecto pecuniário dos

benefícios ou à qualidade dos serviços, que não serão necessariamente iguais, mas

equivalentes;

III. Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços (CF, art. 194,

parágrafo único, III) – Com base em critérios equitativos de solidariedade e justiça

social e segundo as possibilidades econômico-financeiras do sistema define quais

benefícios serão concedidos a determinados grupos de pessoas, em razão de

especificidades que as particularizem;

IV. Irredutibilidade do valor dos benefícios (CF, art. 194, parágrafo único, IV) – Assegura

que o benefício legalmente concedido pela Previdência Social ou pela Assistência

Social não tenha seu valor nominal reduzido. Assim, uma vez definido este não pode

ser reduzido nominalmente, salvo se houver erro na sua concessão;

V. Equidade na forma de participação no custeio (CF, art. 194, parágrafo único, V) – É um

desdobramento do princípio da igualdade, contudo, em relação a custeio significa dizer

que quem tem maior capacidade econômica irá contribuir com mais e quem tem menor

capacidade econômica contribuirá com menos;

VI. Diversidade da base de financiamento (CF, art. 194, parágrafo único, VI) – Por

considerar que a Seguridade Social possui diversas fontes de custeio esse princípio

assegura que dessa forma há maior segurança para o sistema, ou seja, em caso de

dificuldade na arrecadação de determinadas contribuições haverá outras para lhes suprir

a falta;

VII. Caráter democrático e descentralizado da administração – gestão quadripartite (CF, art.

194, parágrafo único, VII) – De acordo com esse princípio a gestão dos recursos,

programas, planos, serviços e ações, nas três áreas da Seguridade Social, em todas as

suas esferas de poder, deve ser realizada mediante discussão com a sociedade;

VIII. Preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço (CF, art. 195, §5º) – Esse

princípio tem por objetivo assegurar o equilíbrio financeiro da Seguridade Social, ou

seja, o benefício será pago se existir disponibilidade de recurso financeiro;

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IX. Anterioridade nonagesimal (CF, art. 195, §6º) – Esse princípio tem por objetivo proteger

o contribuinte contra o fator surpresa. A noventena é o tempo necessário para que o

contribuinte ajuste seu planejamento financeiro, visando o pagamento da contribuição.

X. Solidariedade (CF, art. 3º, I, e caput do art. 195) – Esse princípio permite que as pessoas

portadoras de deficiência e os idosos com mais de 65 anos, quando não possuem meio

s de prover a própria manutenção e nem tê-la provida por sua família, sejam amparados

pela assistência social através do benefício de prestação continuada, que corresponde a

uma renda mensal de um salário mínimo, mesmo sem nunca terem contribuído para a

Seguridade Social.

Por outro lado, o autor destaca os Dispositivos Constitucionais (art. 201 da CF/88)

que são aplicados de forma restrita a Previdência Social os quais são apresentados nesse

trabalho de forma resumida, são eles:

I. Caráter contributivo, ou seja, para fazer jus aos benefícios previdenciários é

necessário que o segurado contribua financeiramente para o regime;

II. Filiação obrigatória garantida no momento em que o trabalhador passa a exercer

alguma atividade remunerada no âmbito do Regime Geral de Previdência Social;

III. Equilíbrio financeiro e atuarial em que determina observar critérios formas de

preservar o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, garantindo a equivalência

entre receitas auferidas e as obrigações do regime previdenciário em cada exercício

financeiro;

IV. Garantia do benefício mínimo, ou seja, garante que nenhum benefício que substitua

o salário de contribuição ou rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal

inferior ao salário mínimo;

V. Atualização monetária dos salários de contribuição, sobre esse dispositivo

constitucional a Lei nº 8.213/91, art. 29-B determina que os salários de contribuição

considerados no cálculo do valor do benefício serão corrigidos mês a mês de acordo

com a variação integral do Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC,

calculado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);

VI. Preservação do valor real dos benefícios, em relação a Previdência Social, além da

irredutibilidade do valor dos benefícios (CF, art. 194), a Constituição Federal

também assegura o reajustamento dos benefícios para preserva-lhes, em caráter

permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei;

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VII. Contagem recíproca do tempo de contribuição, sobre esse dispositivo constitucional

temos para efeito de aposentadoria assegurado a contagem recíproca do tempo de

contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana,

hipótese em que os diversos regimes de previdência social se compensarão

financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei (CF, art. 201, § 9º).

VIII. Proibição de critérios diferenciados para concessão de aposentadoria esse

dispositivo proíbe o legislador ordinário de adotar regras diferenciadas para

concessão de aposentadorias para os beneficiários.

IX. Sistema especial de inclusão previdenciária, o § 12º do art. 201 da CF (na redação

dada pela EC 47) permite a criação, mediante lei, de um sistema especial de inclusão

previdenciária para atender trabalhadores de baixa renda e àqueles sem renda

própria que se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua

residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda, garantindo-lhes acesso

a benefícios de valor igual a um salário mínimo.

X. Previdência Complementar facultativa, como o Regime Geral de Previdência Social

(RGPS) possui um limite máximo para a renda mensal dos benefícios, aqueles que

desejam complementar seus rendimentos deverão, facultativamente aderir a alguma

entidade de Previdência Complementar aberta ou fechada, custeada por

contribuições adicionais (CF/88, art. 202).

Dessa forma, a Previdência Social no Brasil apresenta-se sob as bases de dois regimes

financeiros distintos, capitalização e repartição. O primeiro parte do princípio de que a

formação de reserva é de responsabilidade do segurado, ou seja, está condicionada a recursos

próprios. Já o segundo consiste em recursos de trabalhadores ativos custear as aposentadorias

e pensões dos inativos, inclusive seus dependentes em caso de pensão por morte.

Os sistemas de repartição funcionam como um mecanismo de transferência de renda,

com inexoráveis conflitos distributivos de duas naturezas distintas (GIAMBIAGI, 2010):

a) Intergeracionais, ou seja, entre indivíduos de uma mesma geração, por exemplo,

entre homens e mulheres, pobres e ricos, entre indivíduos mais e menos escolarizados, entre

saudáveis e doentes, que trabalham e que não trabalham, que poupam e que não poupam, etc.;

b) Intergeracionais, isto é, entre jovens e velhos que disputam entre si os recursos e os

custos de transferências, bem como os que ainda não nasceram

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Nesses termos, a Previdência Social se sustenta para assim ser considerada o seguro

do trabalhador brasileiro, pois lhe garante reposição de renda para seu sustento e de sua família,

por ocasião de sua inatividade, em caso de doença, acidente, gravidez, prisão, morte e velhice

(SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA, 2018).

2.5. Diferenças entre os Regimes Básicos e Complementar da Previdência Social no Brasil

Segundo Goes (2014) a Previdência Social brasileira é formada por dois regimes

básicos obrigatórios, o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os Regimes Próprios de

Previdência Social (RPPS) dos servidores públicos e militares, e mais o Regime de Previdência

Complementar cuja adesão é de forma facultativa, os quais sistematicamente possuem a

seguinte configuração conforme mostra o QUADRO 2.

QUADRO 2 – FORMAÇÃO DOS REGIMES DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

Reg

imes

de

Pre

vid

ênci

a

Regimes Básicos (filiação

obrigatória)

Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS)

Regime de Previdência

Complementar (facultativo)

Quanto à natureza jurídica Pública

Privada

Quanto à possibilidade de acesso Aberta

Fechada

FONTE: Adaptado de Goes (2014)

Assim, em relação aos Regimes Básicos, temos o Regime Geral de Previdência Social

(RGPS), que é do tipo filiação obrigatória e também de caráter contributivo, sendo responsável

pela proteção da maioria dos trabalhadores brasileiros. Já o Regime Próprio de Previdência

Social (RPPS), os beneficiários são os magistrados, ministros e conselheiros dos Tribunais de

Contas, membros do Ministério Público, militares e servidores públicos ocupantes de cargo

efetivo de quaisquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,

incluídas suas autarquias e fundações (GOES, 2014).

O autor ressalta ainda que nem todos os servidores públicos civis são amparados por

regime próprio, pois é necessário verificar a forma de organização administrativa conforme

mostra o QUADRO 3.

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QUADRO 3 – FORMAÇÃO DA ADMISNISTRAÇÃO PÚBLICA DOS REGIEMS PRÓPRIOS DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL

FONTE: Adaptado de Goes (2014)

Sendo assim, as pessoas físicas que trabalham em empresas públicas e em sociedades

de economia mista são seguradas pelo RGPS.

Já a forma de organização dos servidores da administração direta, das autarquias e das

fundações públicas apresenta-se conforme mostra o QUADRO 4.

QUADRO 4 – TIPOS DE SERVIDORES PÚBLICOS

Servidor Público

Ocupante de cargo efetivo

Ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em

lei de livre nomeação e exoneração.

Contratado por tempo determinado.

Ocupante de emprego público FONTE: Adaptado de Goes (2014)

Dentre esses, apenas os servidores ocupantes de cargo efetivo podem ser amparados

por RPPS, os demais pelo RGPS conforme mostra o QUADRO 5.

QUADRO 5 – TIPOS DE SERVIDORES OCUPANTE DE CARGO EFETIVO

Servidor ocupante de cargo efetivo

Da União

Dos Estados e do Distrito Federal

Dos Municípios FONTE: Adaptado de Goes (2014)

Para Goes (2014), os municípios que não possuem Regime Próprio de Previdência

Social podem ou não ser amparados por Regime Geral de Previdência Social, ou seja, se o

município possuir RPPS os seus servidores ocupantes de cargo efetivo serão amparados por

este regime e, por conseguinte, ficam excluídos do RGPS. Mas se o município não possuir

RPPS, os seus servidores ocupantes de cargos efetivos serão segurados obrigatoriamente do

RGPS.

Ressalta ainda que caso a pessoa amparada por RPPS venha a exercer,

concomitantemente, uma ou mais atividades abrangidas pelo RGPS, tornar-se-á segurada

obrigatoriamente do RGPS em relação a estas atividades. Nesta situação, esta pessoa será

Administração Pública

Direta

Indireta

Autarquias

Fundações Públicas

Empresas Públicas

Sociedade de Economia Mista

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segurada dos dois regimes (RPPS e RGPS) e, caso cumpra os requisitos previstos em lei, poderá

vir a ter duas aposentadorias: uma concedida pelo RGPS e outra pelo RPPS.

Em relação as diferenças entre RGPS e RPPS, verifica-se em Corrêa (2018) que a

primeira grande diferença entre os dois regimes previdenciários se deve aos regimes financeiros

adotados porque enquanto o RGPS e o RPPS da União são baseados na repartição simples, os

RPPS de Estados e Municípios são capitalizados, embora muitos ainda não tenham passados

pelo processo de capitalização.

O estudo da autora aponta também a limitação do valor do benefício o qual consiste

em teto máximo para os benefícios do RGPS e para o RPPS esse teto só é adotado se for

instituída a Previdência Complementar para os servidores que pague benefícios sobre os valores

que excederem o teto do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Corrêa (2018) observa outra diferença a qual incide sobre as regras distintas de

elegibilidade do RGPS e do RPPS. Entretanto, uma das vantagens do RPPS em relação ao

RGPS para o servidor é que no RPPS não há carência de número de contribuições ou de tempo

de vinculação para o recebimento dos benefícios.

No entanto, constata-se por fim que as premissas que alicerçam a construção das

diferenças entre RGPS e RPPS tem como base estratégias políticas sociais capazes de assegurar

aos trabalhadores vinculados a um desses regimes benefícios que possam oferecer sustentação

material em momentos de incapacidade produtiva, inclusive em caso de óbito do segurado.

2.6. Função social das pensões por morte no Brasil: mudanças ocorridas com a Lei Eloy

Chaves (1923) a Nova Previdência (2019)

Segundo Araújo (2004, p. 88) uma das hipóteses sobre o surgimento dos sistemas

estatais de proteção social consiste nas relações de causalidade, dentre elas o processo de

industrialização e urbanização como responsáveis pela generalização dos riscos sociais como

acidente de trabalho, desemprego, doenças, velhice e morte.

Partindo desse pressuposto, segundo Nogueira (2012), a Lei Eloy Chaves através de

seu Decreto nº 4.682 de 24 de janeiro de 1923, definiu as bases legais e conceitos do sistema

previdenciário, porém a partir de uma noção abstrata de classe ou cidadania adotou o princípio

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de que a previdência social não deveria ser estendida a amplas categorias sociais, mas concedida

a grupos específicos que exerciam uma determinada atividade.

Desse modo, o autor aponta que a escolha das primeiras categorias de trabalhadores

urbanos incluídos no sistema de previdência social a partir da Lei Eloy Chaves e proporcionado

pelas Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) se justificava por duas razões: a importância

que desempenhavam para o modelo capitalista e, a capacidade de mobilização e organização

dessas categorias, tornando necessário buscar a sua cooperação por meio da proteção social que

lhes era concedida.

No entanto, segundo Nogueira (2012) em 1930, no governo de Getúlio Vargas, um

novo acordo político culminou na distribuição de benefícios a diferentes setores da sociedade,

como por exemplo: as velhas elites rurais, a burguesia industrial, a classe média urbana e as

massas urbanas; e, também, na criação do Ministério do Trabalho. Na sequência, o autor destaca

o instrumento de modernização do sistema de previdência social considerado por Vargas e

implementado a partir de 1933 com a criação de sucessivos Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPs) os quais não mais vinculavam empresas, mas categorias de profissionais,

tornando assim modelo diferenciado de gestão o qual não aplicava ao propósito das CAPs.

Contudo, no decorrer do tempo tanto os IAPs quanto as CAPs foram sendo alvo de má

gestão, especialmente em relação a aplicação dos recursos o que por sua vez induziu a novas

estratégias por parte do governo, dentre as quais Nogueira (2012) destaca a Constituição de

1934 quando pela primeira vez são expressos os Direitos Previdenciários, especialmente em

relação ao custeio tripartite entre trabalhadores, empregadores e Estado.

Todavia, entre os anos de 1966 e 1970 o autor aponta que, o governo militar adotou

medidas significativas para a estruturação da previdência social brasileira, dentre as quais a

ocupação de cargos políticos por técnicos formados nos Institutos de Aposentadorias e Pensões

(IAPs) para assim levar adiante propostas de reformas por eles formuladas.

Assim, segundo Araújo (2004), a Previdência Social adquiriu o formato que iria

perdurar até o final da década seguinte, formato este baseado em um princípio de especialização

funcional: o seguro obrigatório por conta do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS);

a assistência à saúde, por conta do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência

Social (INAMPS); a arrecadação das contribuições e a gestão patrimonial e financeira, por

conta do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS);

as políticas assistenciais, por conta da Legião Brasileira de Assistência (LBA), Fundação

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Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e da Fundação Abrigo Cristo Redentor

(FACR). Além dessas entidades, também a Central de Medicamentos (CEME), com a função

de distribuição de remédios gratuitos ou a baixo custo à população e a Empresa de Tecnologia

e Informação da Previdência (DATAPREV) faziam parte do complexo previdenciário.

Dessa forma, foram constituídas as bases da atual Previdência Social as quais foram

consolidadas na Constituição de 1988 com capítulo específico para tratar da Seguridade Social

em suas três áreas de atuação: assistência social, assistência à saúde e previdência social.

Contudo, apesar de considerar o fato de que outras reformas previdenciárias foram

realizadas durante os governos que sucederam a promulgação da Constituição Federal de 1988,

conforme foi apresentado nesse trabalho em seção anterior através da cronologia da construção

da Previdência Social, ressalta-se, que, o direito à pensão por morte, objeto desse estudo,

estipulado no Brasil em 1923 (Decreto nº 4.6, Lei Eloy Chaves) a partir da Caixa de

Aposentadoria e Pensões (CAPs) para os empregados das estradas de ferro consistia em

reversão aos dependentes no falecimento do empregado aposentado ou ativo que contasse mais

de dez anos de serviço efetivo na empresa quando a viúva recebia 50% da aposentadoria do

marido ou a que ele tinha direito e não era permitido acumular duas ou mais pensões ou

aposentadorias, ou seja, a viúva perdia o direito à pensão quando contraísse novas nupciais e

em caso específico previsto na legislação (GIAMBIAGI, 2010).

Com a Constituição de 1988 esse benefício passou a ser 100% do valor da

aposentadoria o qual é pago sem necessidade de carência contributiva e a pensão não exige

casamento, como ainda permite o acúmulo com o benefício de aposentadoria, assim, sob essas

condições o autor destaca o fato de que até a publicação de sua pesquisa não consta registro de

legislação que considerasse qualquer condição de qualificação para o recebimento de pensão

por morte.

Desse modo, torna-se importante apontar o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada (IPEA) em 2006 quando, em relação a pensão por morte, destacou a

importância de regras de dependência econômica dos cônjuges e filhos, bem como patamares

de renda socialmente aceitáveis para conceder o benefício, tendo em vista não se justificar

conceder pensões por morte para todos os cônjuges sem exceção pois a proteção deve

considerar que a transferência envolve todos os serviços sociais, e não enfatiza unicamente a

transferência direta de renda.

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Assim, diante desse contexto, em termos de reforma previdenciária, temos hoje a

Emenda Constitucional nº 103, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional no dia 12 de

novembro de 2019 e consolidada através da publicação no Diário Oficial em 13 de novembro

de 2019.

A Emenda Constitucional nº 103, surgiu a partir da Proposta de Emenda à Constituição

nº 06 de 2019 (PEC 06/19), cujo teor consistia em alterar as regras de aposentadoria e pensões

aplicáveis aos trabalhadores segurados do Regime Geral de Previdência Social, aos servidores

públicos civis e aos detentores de mandato eletivo, ou seja, dispõe sobre a contribuição

previdenciária extraordinária e a fixação de alíquotas progressivas para a contribuição

previdenciária ordinária dos servidores; sobre a contribuição previdenciária devida pelo

segurado empregado e pelo trabalhador avulso, bem como sobre o salário-família e o auxílio-

reclusão além de retirar da Constituição a possibilidade de ser aplicada a sanção de

aposentadoria a membros do Poder Judiciário e do Ministério Público (SENADO FEDERAL,

2019).

Por consequência, segundo a Secretaria de Previdência Social (2019), de forma

compactada, em relação a pensão por morte, temos as seguintes condições:

Pensão por morte

A Nova Previdência muda as regras para quem vai receber pensão por morte. O

pagamento será de 50% do valor da aposentadoria acrescido de 10% para cada

dependente:

1 dependente: 60% da aposentadoria do (a) falecido (a)

2 dependentes: 70%

3 dependentes: 80%

4 dependentes: 90%

5 ou mais dependentes: 100%

Para os dependentes inválidos ou com deficiência grave, o pagamento será de 100%

do valor da aposentadoria no Regime Geral, sem exceder o teto. No caso de servidores

públicos da União, do valor que exceder o teto será pago 50% mais 10% por

dependente.

Cônjuges ou companheiros de policiais e de agentes penitenciários que morrerem por

agressão sofrida em decorrência do trabalho terão direito à pensão integral – valor

correspondente à remuneração do cargo

Limite e acúmulo de benefício

Nos casos em que a lei permitir acúmulo de benefício, serão pagos 100% do benefício

de maior valor a que a pessoa tem direito, mais um percentual da soma dos demais.

Esse percentual vai variar de acordo com o valor do benefício: 100% do valor até um

salário mínimo; 60% do valor que estiver entre um e dois salários mínimos; 40% do

que estiver entre dois e três salários; 20% entre três e quatro salários mínimos; e 10%

do que ultrapassar quatro salários mínimos. (SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA

SOCIAL, 2019).

Contudo, para fins de observar o ornamento jurídico decorrido das reformas

previdenciárias, assim como perceber os ganhos e perdas das pensões por morte destinadas aos

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dependentes, não apenas a partir da Lei Eloy Claves (1923), mas também desde a Monarquia

com a Lei nº 1.083/1860 até a Emenda Constitucional nº 103/2019 segue QUADRO 6:

QUADRO 6 – PENSÕES POR MORTE NO BRASIL, DE 1860 A 2019

Monarquia, século XIX

Lei nº 1083 de 22/08/1860)

e Decreto nº 2.711 de

19/12/1860

Montepio Geral Aposentadorias ou pensões por

morte do segurado sob condições

prévias e conforme idade e o

tempo de contribuição

Entidades de socorro

mútuo sem fins lucrativos

Função assistencialista que

abrigavam pessoas à margem da

sociedade

Lei Eloy Chaves, Decreto

nº 4.462, de 14/01/1923

Caixas de Aposentadoria e

Pensões (organizadas por

empresas e empregados de

algumas categorias)

Destinado a aposentados e inativos

que contasse mais de dez anos de

serviço efetivo na empresa

Década de 60 sob cenário

econômico desfavorável -

unificação das CAPs em

IAP,s

Institutos de

Aposentadorias e Pensões

(atuaram como autarquias

em várias categorias

profissionais)

Intervenção do Estado. Regras

para aposentadorias e pensões com

base no tempo de serviço e

contribuições pagas

Década de 70 a Previdência

Social adquiri formato

baseado em especialização

funcional

Formação das bases da

atual Previdência Social

Regras para aposentadorias e

pensões com base no tempo de

serviço e contribuições pagas

Constituição Federal de

1988

Cobertura universal a toda

população brasileira

Seção III – Da Previdência Social

(organização, regime, critérios de

equilíbrio financeiro)

Lei nº 8.213/1991 Institui critérios para

concessão de pensão por

morte

100% em partes iguais do valor da

aposentadoria que o segurado teria

recebido ou 100% dos 80% da

média entre os maiores salários

daquela a que teria direito se

estivesse aposentado por invalidez

na data do falecimento

Emenda Constitucional nº

103/2019

Altera critérios para

concessão de pensão por

morte

Cota familiar de 50% do valor da

aposentadoria acrescido de cotas

10% por dependente, até o máximo

de 100%. FONTE: Elaboração própria com dados obtidos em: Secretaria da Previdência Social (2019), Goes (2014),

Giambiagi (2010), e Araújo (2004),

Desse modo, a pensão por morte no Brasil a partir do final de 2019 segue uma nova

trajetória a qual espera-se evolução no âmbito da gestão governamental, inclusive atuarial, a

fim de poder contar com mudanças significativas nas condições de elegibilidade, especialmente

através de cálculos atuariais, tendo por fim obter valores de benefícios que possam gerar

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economia aos cofres públicos e ao mesmo tempo atendam as funções sociais na medida em que

a sociedade passa por transformações.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho veio por expor sucintamente o contexto histórico da Seguridade Social,

dando ênfase a Previdência Social, especialmente em relação às pensões por morte, desde o

Brasil monárquico para chegar a Constituição Federal (1988) que acabou por transformar o

sistema de proteção social brasileiro.

Contudo, foi exposto uma breve contextura dos períodos desse benefício no país,

entendendo de forma agrupada as características evolucionistas deste instituto que surgiu com

a finalidade de assegurar um benefício aos dependentes do segurado.

O estudo evolutivo do rol de dependentes do benefício pensão por morte apresentado

através da exposição cronológica da construção da Previdência Social no Brasil e das mudanças

na sociedade de modo geral, especialmente nos governos que sucederam a Lei Eloy Chaves

(1923) mostra uma tendência em ampliar o benefício para abranger pessoas em situação de

vulnerabilidade social, fato que não pode e nem deve ser ignorado nas discurssões que irão

suceder a Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019.

Assim como, considerar a contínua revisão nas literaturas acadêmicas, especialmente

as relacionadas ao ordenamento jurídico e custeio gerados a partir das reformas previdenciárias,

as quais poderão refletir nos valores das pensões por morte destinadas aos dependentes do

segurado, gerando com isso discussões sob o ponto de vista de ter ocorrido ganhos ou perdas.

De modo geral, estudos como esse, além de despertar a curiosidade sobre essa

temática, servem como parâmetro na percepção do que foi feito e o que poderá ainda ser feito

nos planos de políticas públicas voltadas à pensão por morte, valorizando ainda mais o conjunto

de normas que regulam a vida social dos indivíduos, como por exemplo, as relacionadas a

aspectos atuariais, econômicos e financeiros.

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4 REFERÊNCIAS

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