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PEQUENO GLOSSÁRIO DE TERMOS UTILIZADOS NO CURSO DE METODOLOGIA VERBETES RETIRADOS DO SKEPTICAL DICTIONARY (WWW.SKEPDIC.COM ) hipóteses ad hoc Hipótese ad hoc é aquela criada para dar uma explicação para fatos que pareçam refutar a teoria de alguém. As hipóteses ad hoc são comuns nas pesquisas do paranormal e nos trabalhos de pseudocientistas . Por exemplo, os pesquisadores da PES têm fama de culpar os pensamentos hostis dos observadores por influenciarem inconscientemente as leituras de ponteiros de instrumentos. As vibrações hostis, dizem eles, os impossibilitam de duplicar uma experiência positiva de PES. A possibilidade de se duplicar uma experiência é essencial para a confirmação de sua validade. Naturalmente, se essa objeção for levada a sério, nenhuma experiência em PES jamais poderá falhar. Quaisquer que forem os resultados, sempre se poderá dizer que foram causados por forças psíquicas paranormais, sejam as que estão sendo testadas ou outras que não estão sendo testadas. Martin Gardner relata sobre esse tipo de formulação de hipóteses ad hoc alcançando o cúmulo do ridículo com o parafísico Helmut Schmidt, que colocou baratas numa caixa onde poderiam dar choques elétricos em si mesmas. Poder-se-ia assumir que as baratas não gostam de levar choques e os aplicariam em si mesmas a uma taxa compatível com o acaso ou menos, se pudessem aprender com a experiência. As baratas aplicaram-se mais choques elétricos do que o previsto pelo acaso. Schmidt concluiu que "como odiava baratas, talvez fosse a sua psicocinese que tivesse influenciado o randomizador!" (Gardner, p. 59) Hipóteses ad hoc são comuns na defesa da teoria pseudocientífica conhecida como teoria do biorritmo . Por exemplo, há muitas e muitas pessoas que não se encaixam nos padrões previstos pela teoria do biorritmo. Ao invés de aceitar esse fato como prova da refutação da teoria, cria-se uma nova categoria de pessoas: a arrítmica. Em resumo, sempre que a teoria pareça não funcionar, as provas em contrário são sistematicamente desprezadas. Defensores da teoria do

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PEQUENO GLOSSÁRIO DE TERMOS UTILIZADOS NO CURSO DE METODOLOGIAVERBETES RETIRADOS DO SKEPTICAL DICTIONARY (WWW.SKEPDIC.COM )

hipóteses ad hoc

Hipótese ad hoc é aquela criada para dar uma explicação para fatos que pareçam refutar a teoria de alguém. As hipóteses ad hoc são comuns nas pesquisas do paranormal e nos trabalhos de pseudocientistas. Por exemplo, os pesquisadores da PES têm fama de culpar os pensamentos hostis dos observadores por influenciarem inconscientemente as leituras de ponteiros de instrumentos. As vibrações hostis, dizem eles, os impossibilitam de duplicar uma experiência positiva de PES. A possibilidade de se duplicar uma experiência é essencial para a confirmação de sua validade. Naturalmente, se essa objeção for levada a sério, nenhuma experiência em PES jamais poderá falhar. Quaisquer que forem os resultados, sempre se poderá dizer que foram causados por forças psíquicas paranormais, sejam as que estão sendo testadas ou outras que não estão sendo testadas.Martin Gardner relata sobre esse tipo de formulação de hipóteses ad hoc alcançando o cúmulo do ridículo com o parafísico Helmut Schmidt, que colocou baratas numa caixa onde poderiam dar choques elétricos em si mesmas. Poder-se-ia assumir que as baratas não gostam de levar choques e os aplicariam em si mesmas a uma taxa compatível com o acaso ou menos, se pudessem aprender com a experiência. As baratas aplicaram-se mais choques elétricos do que o previsto pelo acaso. Schmidt concluiu que "como odiava baratas, talvez fosse a sua psicocinese que tivesse influenciado o randomizador!" (Gardner, p. 59) Hipóteses ad hoc são comuns na defesa da teoria pseudocientífica conhecida como teoria do biorritmo. Por exemplo, há muitas e muitas pessoas que não se encaixam nos padrões previstos pela teoria do biorritmo. Ao invés de aceitar esse fato como prova da refutação da teoria, cria-se uma nova categoria de pessoas: a arrítmica. Em resumo, sempre que a teoria pareça não funcionar, as provas em contrário são sistematicamente desprezadas. Defensores da teoria do biorritmo afirmaram que ela poderia ser usada para prever com precisão o sexo de crianças antes do nascimento. No entanto, W.S. Bainbridge, professor de sociologia da Universidade de Washington, demonstrou que as chances de se prever o sexo de uma criança usando biorritmos era de 50%, o mesmo de se jogar cara-ou-coroa. Um expert em biorritmos tentou sem sucesso prever com precisão o sexo das crianças no estudo de Bainbridge, baseando-se nos dados do professor. A esposa do expert sugeriu a Bainbridge uma interessante hipótese ad hoc, mais especificamente a de que os casos em que a teoria estava errada provavelmente incluiriam muitos homossexuais, com identidades sexuais indeterminadas!Os astrólogos muitas vezes adoram usar dados e análises estatísticas, tentando nos impressionar com a natureza científica da astrologia. Naturalmente, uma análise científica dos dados estatísticos nem sempre é favorável ao astrólogo. Nestes casos, ele pode fazer com que os dados se encaixem no paradigma astrológico através da hipótese ad hoc de que aqueles que não se encaixam no modelo têm outras influências desconhecidas que agem contra a influência dos planetas dominantes.O uso de hipóteses ad hoc não se limita aos pseudocientistas. Outro tipo de hipótese ad hoc ocorre na ciência quando é proposta uma nova teoria científica que conflita com uma teoria estabelecida, e que não possui um mecanismo explicativo essencial. Propõe-se uma hipótese ad hoc para explicar o que a nova teoria não consegue explicar. Por exemplo,

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quando Wegener propôs sua teoria do movimento dos continentes, não pôde explicar como eles se moviam. Sugeriu-se que a gravidade fosse a força que estava por trás do movimento, embora não houvesse nenhuma prova científica dessa idéia. De fato, os cientistas puderam demonstrar que a gravidade era uma força fraca demais para ser responsável pelo movimento dos continentes. Alexis du Toit, defensor da teoria de Wegener, sugeriu o derretimento radioativo do leito do oceano, nas orlas dos continentes, como o mecanismo pelos quais eles poderiam se mover. Stephen Jay Gould observou que "esse tipo de hipótese ad hoc não acrescentou nenhum degrau na plausibilidade da especulação de Wegener." (Gould, p. 160) Por fim, a rejeição de explições que requerem a crença em forças ocultas, sobrenaturais ou paranormais, em favor de explicações mais simples e plausíveis é chamada de aplicação da navalha de Occam. Não é o mesmo que formular hipóteses ad hoc. Por exemplo, digamos que eu pegue você roubando um relógio numa loja. Você diz que não o roubou. Eu peço que você esvazie seus bolsos. Você concorda e tira um relógio. Eu digo, "Ahá! Eu estava certo. Você roubou o relógio." Você responde que não o roubou , mas admite que ele não estava no seu bolso quando entrou na loja. Peço que você explique como é que o relógio foi parar no seu bolso, e você diz que usou telecinese: usou o pensamento para transportar o relógio de uma caixa de vidro para o seu bolso. Peço que você repita com outro relógio e você diz "ok". Por mais que tente, no entanto, você não consegue fazer com que um relógio magicamente apareça no seu bolso. Você afirma que há pressão demais sobre você para que o faça, ou que há excesso de más vibrações no ar para que consiga operar seus poderes. Você ofereceu uma hipótese ad hoc para explicar o que pareceria ser uma boa refutação da sua alegação. A minha hipótese de que o relógio estava no seu bolso porque você o roubou não é ad hoc. Escolhi acreditar numa explicação plausível, ao invés de uma implausível. Da mesma forma, dada a escolha entre acreditar que minha dor de cabeça passou espontaneamente ou que passou porque uma enfermeira agitou as mãos sobre a minha mão enquanto cantava um mantra, eu sempre optarei pela primeira alternativa.É sempre mais razoável aplicar a navalha de Occam do que oferecer hipóteses ad hoc especulativas apenas para preservar a posssibilidade de alguma coisa sobrenatural ou paranormal.

leitura adicionalGardner, Martin. The Whys of a Philosophical Scrivener [Os Porquês de Um Escrevente Filosófico] (New York: Quill, 1983).Gould, Stephen Jay. Ever Since Darwin [Desde Darwin] (New York: W.W. Norton & Company, 1979).

Apelo à Autoridade

Apelos irrelevantes são muito populares entre crentes religiosos, ocultistas e paranormais. O apelo irrevelante à autoridade pode ser a falácia do chefe cometida por crentes, mas esta raramente ocorre isolada de outras.

O apelo irrelevante à autoridade pode ser definido como a tentativa de dar suporte a uma crença controversa apelando ao facto de que partilhamos a crença com uma pessoa importante como Einstein ou Jesus. A pessoa importante é tida como dando autoridade à crença. Pelo menos, o apelo à autoridade estabelece que estamos em boa companhia. Este

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apelo é geralmente combinado com evidência suprimida nomeadamente o não mencionar pessoas importantes que defendem a opinião oposta, como Epicuro, Hobbes, Spinoza, Diderot ou Bertrand Russell. Pelo contrário, o apelo irrelevante à autoridade é muitas vezes acompanhado por ataques ad hominem. Tentamos dar suporte contra um contrário notando que pessoas más ou diabólicas compartilham o seu ponto de vista. Por exemplo, notamos que Nietzsche, que enlouqueceu, era um ateu.

O apelo irrelevante à autoridade é muitas vezes um tipo de falácia genética, tentando julgar uma crença pelas suas origens em vez dos argumentos a favor ou contra a crença. Se a crença se originou numa pessoa com autoridade como Jesus ou Einstein, então a crença é sustentada contra uma contrário que não provem de uma fonte nobre ou prestigiada. Quer o apelo irrelevante à autoridade e os ataques ad hominem são baseados na noção errónea de que uma ideia é boa se uma pessoa boa acredita nela, e não deve ser acreditada se a pessoa que a defende não é de confiança. Esta noção falaciosa pode por vezes ser exprimida como: não podes confiar na mensagem se não podes confiar no mensageiro.

Um pensador critico compreende que as pessoas boas por vezes teem crenças falsas e pessoas más teem boas. Pode ser verdade que Nietzsche tenha enlouquecido e que fosse gordo mas mesmo loucos gordos podem ter bons argumentos. São os argumentos que devem ser avaliados, não a sanidade ou a gordura. Por outro lado, mesmo pessoas magras e sãs podem ter crenças irrazoáveis.

Aos apelos irrelevantes mencionados até agora junta-se um outro: o apelo irrelevante à popularidade. Aqui citamos não uma, mas várias autoridades como partilhando um ponto de vista. Um critico reconhece que uma crença não se torna mais razoável por mais pessoas acreditarem. Mesmo se há uma correlação significativa entre pessoas razoáveis e crenças razoáveis, não se segue que há necessáriamente uma relação causal entre os dois. Afirmar que há uma ligação causal entre dois pontos só porque há uma correlação entre eles é cometer outra falácia, a falácia do raciocinio de falsa causa. Se existe uma correlação entre crenças razoáveis e pessoas desejáveis é altamente provável, bem como desejável, que são as razões para uma crença que os levam a aceitar a crença. Não é muito provável, nem desejável, que o facto de pessoas razoáveis acreditarem em algo torne isso razoável.

A verdade ou falsidade de uma crença deve sustentar-se independentemente de quem aceita ou rejeita a crença. De igual modo, não depende do numero de pessoas que a partilham. Mais, devemos examinar o carácter dos argumentos, não o carácter da pessoa que argumenta.

Para os que não veem o óbvio destas afirmações considerem o facto de em cada periodo da história haver um grande numero de respeitados, decentes, inteligentes, autoridades que acreditaram em coisas que sabemos hoje serem erros. Considerem, tambem, que um numero infinito de infaliveis papas não fazem 2 + 2 igual a 5 apenas pelo facto de tantas fontes seguras acreditarem nisso. Nem um numero infinito de doutorados em psicologia, todos acreditando que o conservadorismo politico é uma doença mental, tornam isso verdade.

Oponentes teistas muita vezes atacam oponentes ateus completando os seus argumentos irrelevantes fazendo ataques a homens de palha, isto é, atacam pontos que não são

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realmente defendidos pelos ateus. Os pontos são escolhidos porque parecem próximos dos pontos de vista do oponente e fáceis de refutar.

Por exemplo, afirmei que a crença em Deus é uma ilusão. Nunca afirmei que estar iludido significa ser estupido, ignorante, não ducado, não inteligente ou iliterato. Contudo, uma critica afirmava:

Presumo que Mr. Tolkien é intelectualmente pobre. Presumo que podemos dizer que todos os filosofo teístas de Oxford estavam/estão "iludidos". Pobre C.S. Lewis, que se graduou em filosofia em Oxford, ou Father Copleston que se graduou com mérito em Oxford... Oh, e os mais "iludidos" de todos? Hmmm, vejamos, Newton, Leibniz, Pascal, Descartes, ...

Como notei antes, nunca afirmei que estar iludido e ser estupido era o mesmo ou estavam ligados. Nunca afirmei que os teistas fossem estupidos. Alguns são, claro, mas os nome referidos são brilhantes. Mas fazendo parecer que tinha defendido que estes brilhantes homens eram estupidos, tenta fazer-me parecer ridiculo. Mas o que ele ataca é um espantalho, não a minha posição. Notem o apelo do oponente à autoridade. Finalmente, notem como ele subentende que visto não ensinar numa universidade prestigiada como Oxford, não devo ser de confiança. Aparentemente, como ele tambem não, o argumento dele tambem é de rejeitar? Isto é um ataque ad hominem, tipico de teistas desesperados que não sabem soletrar piedade. (É desesperadamente doloroso resistir à tentação ad hominem e deliciosamente agradável cair nela.)

Argumento da ignorância (argumentum ad ignorantiam)

A falácia do argumento da ignorância ocorre quando alguem tenta argumentar que algo é verdadeiro porque se não provou ser falso, ou argumentar que algo é falso por não se ter provado ser verdade. Esta falácia seria melhor designada por "falácia da falta de prova suficiente do contrário". Porque a falácia não pretende afirmar que a pessoa é ignorante. A sua irrelevância baseia-se no facto de que a falsidade de uma afirmação deve ser mostrada refutando provas dela, não apontando o facto de que o seu proponente não provou que era verdadeira. Não posso provar que a teoria de Einstein da relatividade é verdadeira, mas isso não é relevante para a verdade ou falsidade da teoria. Não posso provar que extraterrestres visitaram este planeta e invadiram o corpo de Rush Limbaugh, mas isso não tem relevância para a questão de tal afirmação ser verdadeira. Se pensar em ignorância como sem conhecimento, o nome desta falácia não é tão enganador como pode parecer. A falácia ocorre quando a falta de conhecimento de que uma posição é verdadeira leva à conclusão de que a posição oposta é verdadeira. O argumento da ignorância parece ser mais sedutor quando usado para apoiar o que os americanos chamam "wishful thinking" (pensamento voluntarioso?). Pessoas que querem acreditar em projeção astral, por exemplo, são susceptiveis de pensar que a falta de provas do contrário das suas crenças é de algum modo relevante para as suportar.

Links Stephen's Guide to Fallacies

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associação forçada

Associação forçada é o processo de se encaixar forçosamente algum acontecimento corrente na ideologia política e religiosa de algum grupo.Um exemplo de associação forçada ocorreu após os ataques terroristas ao World Trade Center e ao Pentágono em 11 de setembro de 2001, quando os evangélicos fundamentalistas cristãos Jerry Falwell e Pat Robertson afirmaram que "grupos liberais de liberdades civis, feministas, homossexuais e defensores dos direitos ao aborto têm responsabilidade parcial... porque suas ações voltaram a ira de Deus contra a América."* Segundo Falwell, Deus permitiu que "os inimigos da América... nos dessem o que provavelmente merecíamos." Robertson concordou. A União Americana das Liberdades Civis (ACLU) "tem que receber boa parte da culpa por isso," disse Falwell, com o que concordou Robertson. Os tribunais federais também têm sua parte na culpa, disse ainda, porque têm "expulsado Deus da praça pública." Além disso, "os aborcionistas têm que receber parte da culpa por isso pois Deus não se deixa escarnecer," disse Falwell, com a concordância de Robertson.Nem Falwell nem Robertson têm qualquer modo de provar nenhuma de suas afirmações, já que elas são incomprováveis por natureza. Por outro lado, também não podem ser refutadas. O propósito delas é apenas chamar a atenção para uma plataforma política e/ou religiosa.Se eles estiverem certos, Deus deve estar contente com a tirania e a opressão dos estados religiosos fundamentalistas. Esses auto-proclamados pilares da virtude cristã deveriam abandonar imediatamente o cristianismo, converter-se ao islamismo e mudar-se para o Afeganistão. Homens gentis, decentes e amáveis que pensam ser, estou certo de que seriam bem recebidos.A associação forçada é uma maneira barata de se chamar a atenção para a plataforma de alguém e de se obter publicidade gratuita para ela na imprensa. É um modo de se tirar vantagem do medo e da tristeza das pessoas, sem medo de ser revelado como impostor. É uma tática de atacar e se esconder, já que nenhuma réplica é possível, exceto para se dizer que se existir um ser onisciente, todo-poderoso que governa o universo, a probabilidade de que esse ser seja aliado de pessoas como Falwell, Robertson ou assassinos suicidas parece absurda e indigna de discussão séria por pessoas que chamam a si próprias seres humanos. A não ser, é claro, que o Todo-poderoso seja Todo-maligno, o que é possível de acordo com a lógica de Falwell, já que do contrário ele e os de sua laia já teriam sido mortos há muito tempo. Pelo menos em alguns círculos demonstrar e incitar o ódio não é considerado bom.Depois de terem sido duramente criticados por quase todo mundo por uma associação forçada grave do tipo Falwell/Robertson, é típico dos hipócritas fazer declarações negando tudo e alegando que suas falas foram retiradas do contexto. Falwell emitiu a seguinte declaração: "Lamento sinceramente que os comentários que fiz durante uma longa discussão teológica ontem num programa cristão de televisão tenham sido tirados do contexto e publicados, e que meus pensamentos --reduzidos a curtas frases-- tenham destoado do espírito desse dia de luto."* Robertson, porém, não se arrependeu e acrescentou a pornografia na Internet à lista de coisas que têm entristecido tanto a seu Deus que Ele teve que assassinar milhares de pessoas inocentes para expressar seu Todo-poderoso descontentamento. Se não mudarmos nossos caminhos, afirma, Deus matará

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muitos mais entre nós. Logo, quando a carnificina crescer nos anos que virão, enquanto os EUA e seus aliados tentam eliminar o terrorismo e os terroristas continuam matando inocentes, poderemos olhar para trás e dizer que Pat Robertson tinha predito isso.Outros exemplos de associação forçada podem ser encontrados examinando-se várias "profecias" forjadas de Nostradamus que foram postadas na Internet. É preciso bastante associação forçada para fazer com que as "profecias" se encaixem nos eventos. Os assim-denominados paranormais freqüentemente forçam eventos a se encaixar em declarações vagas que fizeram no passado. Este é um procedimento seguríssimo, já que não se pode provar que estavam errados e muitas pessoas não têm consciência do quão fácil é fazer algo parecer confirmar uma alegação depois do fato acontecer, especialmente se tivermos ampla latitude para encaixá-lo.Veja verbetes relacionados sobre predisposição para a confirmação, paranormais e  clarividência retroativa.

Desvio para a Confirmação

"É o erro peculiar e perpétuo da compreensão humana ser mais tocado e excitado pelas afirmativas que pelas negativas." --Francis Bacon

Desvio para a confirmação refere-se a um tipo de pensamento selectivo em que tendemos a notar e ver o que confirma as nossas crenças e a ignorar ou diminuir o que a contradiz. Por exemplo, se acreditamos que durante a  lua cheia existe um aumento de acidentes, reparamos nos acidentes que ocorrem na lua cheia, mas não registamos os mesmos dados se não está lua cheia. A tendencia para isto ao longo do tempo reforça a nossa crença numa relação entre lua cheia e acidentes.Esta tendencia dá mais atenção e peso a dados que suportem os nossos preconceitos e crenças do que aos dados contrários. Se as nossas crenças estão firmemente estabelecidas sobre bases sólidas e experiencias confirmatórias, esta tendencia não é grave. Se nos tornamos cegos a provas que refutam uma hipótese, atravessamos a linha entre o razoável e a mente fechada..Numerosos estudos demonstraram que as pessoas dão valor excessivo a informação confirmatória, que é positiva ou suporta uma posição (Gilovich, ch. 3). Thomas Gilovich especula que a "mais provavel razão para a excessiva influencia da informação confirmatória é que é mais facil tratá-la cognitivamente." É mais facil ver como um dado suporta uma posição do que ver como ele conta contra a posição. Considere uma experiencia tipica de PES ou algo como um sonho clarividente: os sucesso não são ambiguos ou os dados são facilmente tratados para contar como sucessos, enquanto os negativos requerem esforço intelectual para os ver como negativos ou para os considerar como significantes. Tem sido demonstrado que a tendencia para dar mais atenção e peso ao positivo e ao confirmatório influencia a memória. Quando procuramos nas nossas memórias por dados relevantes a uma posição, é mais provável que nos lembremos de dados que confirmam essa posição (Gilovich).Investigadores são muitas vezes culpados de desvio para a confirmação quando desenham as experiências ou apresentam os seus dados de modo que tendem a confirmar as suas hipóteses. Procedem de modo a evitar tratar dados que contradizem a sua hipótese. Por exemplo, os parapsicólogos são célebres por usarem o inicio e fim opcionais nas suas investigações de PES. Muitos cientistas sociais são culpados do mesmo erro, especialmente

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quando procuram estabelecer relações entre variáveis ambiguas, como a ordem de nascimento de irmãos e as "ideias radicais", durante periodos históricos definidos arbitrariamente. Se define os pontos de inicio e fim da recolha de dados em relação à teoria da evolução do modo que Frank Sulloway fez em Born to Rebel, chega a correlações significantes entre a ordem de nascimento e a tendencia para aceitar ou rejeitar a teoria da evolução. Contudo, se começar com Anaximandro e parar com St. Agostinho, pode obter diferentes resultados, visto que a ideia foi universalmente rejeitada durante este periodo. Ou se usa como exemplo de "ideia radical" algo como a de Philip Henry Gosse em Creation (Omphalos): an attempt to untie the geological knot (1857), não tem apoio para a sua hipótese. Gosse era mais radical que Darwin na sua tentativa de reconciliar os dados geologicos com o criacionismo, mas Gosse está quase esquecido porque a sua ideia radical de que Deus criou tudo, incluindo fósseis, num dado momento, foi universalmente rejeitada. Gosse tentou reconciliar os dados cientificos, que indicam uma terra muito antiga, com a visão ortodoxa de que Deus criou tudo em 4004 a.C., como calculada pelo Arcebispo Ussher. Quer os primeiros filhos a nascer, quer os outros, não parecem ter sido impressionados por esta ideia radical.Experimentadores podem evitar ou reduzir o desvio para a confirmação colaborando no desenho das experiencias com colegas que manteem hipóteses contrárias. As pessoas teem de se lembrar constantemente desta tendencia e procurar activamente dados contrários às suas crenças. Visto ser antinatural, parece que as pessoas vulgares estão condenadas ao desvio.

Evans, B. Bias in Human Reasoning: Causes and Consequences (Psychology Press, 1990). Gilovich, Thomas. How We Know What Isn't' So: The Fallibility of Human Reason in Everyday Life (New York: The Free Press, 1993) Gould, Stephen Jay. The Flamingo's Smile (New York: W.W. Norton & Company, 1987). (contem um ensaio sobre Omphalos)

dissonância cognitiva

"Não há sucesso melhor que o fracasso...." -- Bob Dylan, Love Minus Zero

Dissonância cognitiva é uma teoria sobre a motivação humana que afirma ser psicologicamente desconfortável manter cognições contraditórias. A teoria prevê que a dissonância, por ser desagradável, motiva a pessoa a substituir sua cognição, atitude ou comportamento. Foi explorada detalhadamente pela primeira vez pelo psicólogo social Leon Festinger, que assim a descreveu:

Dissonância e consonância são relações entre cognições, ou seja, entre opiniões, crenças, conhecimentos sobre o ambiente e conhecimentos sobre as próprias ações e sentimentos. Duas opiniões, ou crenças, ou itens de conhecimento são dissonantes entre si quando não se encaixam um com o outro, isto é, são incompatíveis. Ou quando, considerando-se apenas os dois itens especificamente, um não decorrer do outro (Festinger 1956: 25).

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Festinger argumenta que existem três maneiras de se lidar com a dissonância cognitiva, não considerando-os mutuamente exclusivos.

1. Pode-se tentar substituir uma ou mais crenças, opiniões ou comportamentos envolvidos na dissonância;

2. Pode-se tentar adquirir novas informações ou crenças que irão aumentar a consonância existente, fazendo assim com que a dissonância total seja reduzida;

3. Pode-se tentar esquecer ou reduzir a importância daquelas cognições que mantêm um relacionamento dissonante (Festinger 1956: 25-26).

Por exemplo, as pessoas que fumam sabem que fumar é um mau hábito. Algumas justificam seu comportamento olhando para o lado bom: dizem a si mesmas que fumar ajuda-as a manter o peso e que o excesso de peso representaria um perigo maior para a saúde do que o fumo. Outras param de fumar. A maioria de nós é inteligente o bastante para inventar hipóteses ad hoc ou justificativas para salvar idéias que nos são caras. O fato de sermos levados a racionalizar por estarmos tentando reduzir ou eliminar a dissonância cognitiva não explica por que não podemos aplicar essa inteligência de uma forma mais competente. Pessoas diferentes lidam com o desconforto psicológico de formas diferentes. Algumas dessas formas são claramente mais razoáveis que outras. Portanto, por que algumas pessoas reagem à dissonância com competência cognitiva, enquanto que outras respondem com incompetência? A dissonância cognitiva já foi chamada de "o melhor amigo do controlador de mentes" (Levine 2003: 202). Assim mesmo, um exame superficial revela que não é ela, mas sim a forma como as pessoas lidam com ela, que seria objeto do interesse de um indivíduo que tentasse controlar os outros quando as evidências parecessem estar contra ele.Por exemplo, Marian Keech era a líder de uma seita OVNI nos anos 1950. Alegava receber mensagens de extraterrestres conhecidos como Os Guardiães através de escrita automática. Assim como os membros da seita Heaven's Gate fizeram quarenta anos mais tarde, Keech e seus seguidores, conhecidos como Os Buscadores da Irmandade dos Sete Raios, esperavam ser recolhidos por discos voadores. Segundo as profecias de Keech, seu grupo de 11 pessoas seria salvo pouco antes que a Terra fosse destruída por um dilúvio maciço em 21 de dezembro de 1954. Quando se tornou evidente que não haveria nenhum dilúvio e que os Guardiães não passaríam para apanhá-los, Keech

ficou exultante. Disse ter acabado de receber uma mensagem telepática dos Guardiães, dizendo que seu grupo de seguidores havia espalhado tanta luz com sua inabalável fé que Deus havia poupado o mundo do cataclismo (Levine 2003: 206).

Mais importante é o fato de que os Buscadores não a abandonaram. A maioria se tornou mais devota após a falha da profecia. (Apenas dois deixaram a seita quando o mundo não acabou.) "A maioria dos discípulos não só permaneceu como, após tomar essa decisão, estavam então ainda mais convencidos que antes de que Keech estava certa o tempo todo.... O fato de estarem errados os transformou em crentes fanáticos (ibid.)." Algumas pessoas são capazes de ir longe para evitar a incompatibilidade entre suas crenças mais caras e os fatos. Mas por que as pessoas interpretam as mesmas evidências de formas contrárias?

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Os Buscadores não teriam esperado pelo disco voador se achassem que ele poderia não vir. Assim, quando ele não veio, seria de se esperar que alguém que pensasse de forma competente teria visto isso como uma refutação da alegação de Keech de que ele viria. No entanto, os maus pensadores foram feitos incompetentes pela devoção a Keech. Sua crença de que um disco voador os apanharia era baseada em fé, não em evidências. Da mesma forma, a crença de que o fracasso da profecia não deveria ser levado em conta contra suas crenças foi mais um ato de fé. Com esse tipo de pensamento irracional, poderia parecer inútil apresentar evidências para tentar convencer as pessoas de seus erros. Sua crença não é baseada em evidências, mas na devoção a uma pessoa. Essa devoção pode ser tão grande que mesmo o mais condenável comportamento de um profeta pode ser racionalizado. Há muitos exemplos de pessoas tão devotas a alguém que poderiam racionalizar ou ignorar abusos físicos e mentais extremos de seu líder de seita (ou cônjuge, ou namorado). Se a base da crença de uma pessoa é fé irracional, fundamentada na devoção a uma personalidade poderosa, a única opção que essa pessoa tem ao ser confrontada com evidências que poderiam minar sua fé seria continuar a ser irracional, a não ser que essa fé não fosse mesmo tão grande. A questão interessante, então, não é de dissonância cognitiva e sim de fé. O que havia em Keech que teria levado algumas pessoas a terem fé em sua pessoa, e o que havia nessas pessoas que as teria tornado vulneráveis a Keech? E o que havia de diferente nos dois que abandonaram a seita?"Pesquisas mostram que há três características relacionadas à capacidade de persuasão: a atratividade, a honestidade e a autoridade percebida" (ibid. 31). Assim, se uma pessoa é fisicamente atraente, tendemos a gostar dela. E quanto mais gostamos dessa pessoa, mais tendemos a confiar nela (ibid. 57). As pesquisas também mostram que "percebem-se as pessoas como mais confiáveis quando fazem contato com os olhos e falam com confiança, não importa o que tenham a dizer" (ibid. 33).Segundo Robert Levine, "os estudos encontraram uma surpreendentemente falta de traços em comum nos tipos de personalidade das pessoas que se unem a seitas: não há um tipo único de personalidade propenso ao culto" (ibid. 144). Esse fato surpreendeu Levine. Quando começou sua investigação sobre as seitas, "compartilhava o estereótipo comum de que a maioria dos adeptos era composta de desajustados psicológicos ou fanáticos religiosos" (ibid. 81). O que descobriu, porém, foi que a maioria dos membros de seitas era atraída pelo que parecia ser uma comunidade amorosa. "Uma das ironias sobre as seitas é que os grupos mais extravagantes são freqüentemente compostos pelas pessoas que mais se importam com as outras (ibid. 83)." Levine diz que o líder de seita Jim Jones era "um super-vendedor que exercia todas as regras da persuasão" (ibid. 213). Possuía autoridade, honestidade aparente e atratividade. É provável que o mesmo pudesse ser dito sobre Marian Keech. Também parece provável que muitos dos seguidores de seitas tenham encontrado nelas uma família substituta, ou no líder da seita uma mãe ou pai substituto.É importante lembrar também que, na maioria dos casos, as pessoas não chegaram a suas crenças irracionais da noite para o dia, mas sim ao longo de um período de tempo, com crescimento gradual do comprometimento (ibid. cap. 7). Ninguém entraria para uma seita se o tom do convite fosse: "Siga-me. Beba esse Kool-Aid envenenado e cometa suicídio." Mesmo assim, nem todos na seita beberam o veneno e dois dos seguidores de Keech abandonaram a seita quando a profecia falhou. Em que eles diferiam dos outros? A explicação parece simples: a fé que tinham no líder era fraca. Segundo Festinger, os dois que abandonaram Keech -- Kurt Freund e Arthur Bergen -- já eram pouco comprometidos desde o início (Festinger 1956: 208).Mesmo as pessoas que erroneamente acham que suas crenças são científicas podem chegar a essas idéias gradualmente, e seu comprometimento pode crescer até atingir o ponto da

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irracionalidade. O psicólogo Ray Hyman oferece um exemplo muito interessante de dissonância cognitiva e de como um quiroprático lidou com ela:

Há alguns anos, participei de um teste da cinesiologia aplicada no consultório do Dr. Wallace Sampson em Mountain View, na Califórnia. Uma equipe de quiropráticos veio para demonstrar o procedimento. Vários observadores médicos e os quiropráticos haviam concordado que estes primeiramente ficariam livres para demonstrar a cinesiologia aplicada da maneira que quisessem. Depois disso, tentaríamos alguns testes duplo-cegos de suas alegações.

Os quiropráticos apresentaram como seu principal exemplo uma demonstração que acreditavam mostrar que o corpo humano seria capaz de reagir à diferença entre a glucose (um açúcar "ruim") e a frutose (um açúcar "bom"). A sensibilidade diferenciada era aceita como verdade entre os "curandeiros alternativos", embora não houvesse nenhum respaldo científico. Fizeram com que voluntários se deitassem de costas e levantassem um dos braços verticalmente. Colocavam então uma gota de glucose (diluída em água) na língua do voluntário. O quiroprático então tentava forçar o braço levantado para que voltasse à posição horizontal, enquanto o voluntário tentava resistir. Em quase todos os casos, este não conseguia resistir. Os quiropráticos afirmaram que o corpo do voluntário reconhecia a glucose como um açúcar "ruim". Depois que a boca do voluntário era enxaguada e uma gota de frutose era depositada em sua língua, conseguia resistir ao movimento para a posição horizontal em quase todos as tentativas. O organismo teria reconhecido a frutose como um açúcar "bom".

Após o almoço, uma enfermeira nos trouxe um grande número de tubos de ensaio, cada qual codificado com um número secreto, de forma que não pudéssemos saber quais os que continham frutose e quais os que continham glucose. Ela então saiu da sala, para que ninguém no teste subseqüente soubesse conscientemente quais os tubos que continham glucose ou sacarose. Os testes dos braços foram repetidos, mas desta vez eram duplo-cegos -- nem o voluntário, nem os quiropráticos, nem os observadores sabiam se a solução aplicada na língua do voluntário era glucose ou frutose. Assim como na sessão feita pela manhã, às vezes os voluntários conseguiam resistir, e em outra vezes não. Registramos os número de código da solução em cada tentativa. Então, a enfermeira retornou com a chave do código. Quando determinamos quais das tentativas usaram glucose e quais usaram sacarose, não houve nenhuma conexão entre a capacidade de resistir e o fato do voluntário ter recebido o açúcar "bom" ou o "ruim".

Quando os resultados foram anunciados, o líder dos quiropráticos se voltou para mim e disse, "Está vendo? É por isso que nunca mais fizemos testes duplo-cegos. Nunca funciona!" Inicialmente pensei que ele estivesse brincando. Mas ele falava sério. Como ele "sabia" que a

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cinesiologia aplicada funcionava, e o melhor método científico mostrava que não funcionava, então -- pensava ele -- tinha que haver algo errado com o método científico. (Hyman 1999)

O que diferencia a racionalização do quiroprático da do membro de seita é que esta última se baseia em pura fé e devoção a um guru ou profeta, enquanto que a primeira é baseada em evidências decorrentes da experiência. Nenhuma dessas crenças pode ser refutada porque os crentes não permitiram que o sejam: nada pode contar contra elas. Aqueles que baseiam suas crenças na experiência e naquilo que assumem ser evidência empírica ou científica (por ex., astrólogos, quiromantes, médiuns, paranormais, defensores do design inteligente, e o quiroprático) apenas fingem estar dispostos a testar suas crenças. Só se dão ao trabalho de se submeterem a testes de suas idéias a fim de obter provas para apresentar a outras pessoas. É por isso que nos referimos a suas crenças como pseudociências. Não nos referimos às crenças de membros de seitas como pseudocientíficas, mas como irracionalidade baseada em fé.

leitura adicionalFestinger, Leon. A Theory of Cognitive Dissonance (Stanford University Press 1957). Festinger Leon. When Prophecy Fails: A Social and Psychological Study (Harpercollins 1964). (Publicado originalmente em 1956 pela University of Minnesota Press.)Harmon-Jones, Eddie e Judson Mills, editores. Cognitive Dissonance: Progress on a Pivotal Theory in Social Psychology (American Psychological Association 1999). Hyman, Ray. "The Mischief-Making of Ideomotor Action," em Scientific Review of Alternative Medicine 3(2):34-43, 1999.Levine, Robert. The Power of Persuasion - How We're Bought and Sold   (John Wiley & Sons 2003).

o efeito placebo

Efeito placebo é o efeito mensurável ou observável sobre uma pessoa ou grupo, ao qual tenha sido dado um tratamento placebo.Um placebo é uma substância inerte, ou cirurgia ou terapia "de mentira", usada como controle em uma experiência, ou dada a um paciente pelo seu possível ou provável efeito benéfico. O por quê de uma substância inerte, uma assim chamada "pílula de açúcar," ou falsa cirurgia ou terapia fazerem efeito, não está completamente esclarecido.a teoria psicológica: está tudo na sua cabeçaMuitos acreditam que o efeito placebo seja psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva. Se eu acreditar que a pílula ajuda, ela vai ajudar. Ou a minha condição física não muda, mas eu sinto que ela mudou. Por exemplo, Irving Kirsch, um psicólogo da Universidade de Connecticut, acredita que a eficácia do Prozac e drogas similares pode ser atribuída quase que inteiramente ao efeito placebo.

Em um estudo publicado [em junho de 1999], Kirsch e... Guy Sapirstein... analisaram 19 testes clínicos de antidepressivos e concluíram que a expectativa de melhora, e não ajustes na química do cérebro, foram responsáveis por 75 por cento da eficácia das drogas.*

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"O fator crítico," afirma Kirsch, "são nossas crenças a respeito do que irá acontecer conosco. Você não precisa confiar nas drogas para ver uma profunda transformação." Em um estudo anterior, Sapirstein analisou 39 estudos, feitos entre 1974 e 1995, de pacientes depressivos tratados com drogas, psicoterapia, ou uma combinação de ambos. Ele descobriu que 50 por cento do efeito das drogas se deve à resposta placebo.As crenças e esperanças de uma pessoa sobre um tratamento, combinadas com sua sugestibilidade, podem ter um efeito bioquímico significativo. Sabemos que a experiências sensoriais e pensamentos podem afetar a neuroquímica, e que o sistema neuroquímico do corpo afeta e é afetado por outros sistemas bioquímicos, inclusive o hormonal e o imunológico. Assim, há provavelmente uma boa dose de verdade na afirmação de que a atitude esperançosa e as crenças de uma pessoa são muito importantes para o seu bem estar físico e sua recuperação de lesões ou doenças.Entretanto, pode ser que muito do efeito placebo não seja uma questão da mente controlando moléculas, mas sim controlando o comportamento. Uma parte do comportamento de uma pessoa "doente" é aprendida. Assim como o é parte do comportamento de uma pessoa que sente dor. Em resumo, há uma certa quantidade de representação de papéis pelas pessoas doentes ou feridas. Representação de papéis não é o mesmo que falsidade, é claro. Não estamos falando de fingimento. O comportamento de pessoas doentes ou com lesões tem bases, até certo ponto, sociais e culturais. O efeito placebo pode ser uma medida da alteração do comportamento, afetado por uma crença no tratamento. A mudança no comportamento inclui uma mudança na atitude, na qual uma pessoa diz como se sente, ou como esta pessoa age. Ela também pode afetar a química do corpo da pessoa.A explicação psicológica parece ser aquela em que as pessoas mais acreditam. Talvez seja por isso que muitas pessoas fiquem consternadas quando são informadas de que a droga eficiente que estão tomando é um placebo. Isso a faz pensar que o problema está "todo em sua cabeça" e que não há nada realmente errado com elas. Além disso, há muitos estudos que descobriram melhoras objetivas na saúde com o uso de placebos para apoiar a noção de que o efeito placebo é inteiramente psicológico.

Médicos em um estudo eliminaram verrugas com sucesso, pintando-as com uma tinta colorida e inerte, e prometendo aos pacientes que as verrugas desapareceriam quando a cor se desgastasse. Em um estudo de asmáticos, pesquisadores descobriram que podiam produzir a dilatação das vias aéreas simplesmente dizendo às pessoas que elas estavam inalando um broncodilatador, mesmo quando não estavam. Pacientes sofrendo dores após a extração dos dentes sisos tiveram exatamente tanto alívio com uma falsa aplicação de ultrassom quanto com uma verdadeira, quando tanto o paciente quanto o terapeuta pensavam que a máquina estava ligada. Cinqüenta e dois por cento dos pacientes com colite tratados com placebos em 11 diferentes testes, relataram sentir-se melhor -- e 50 por cento dos intestinos inflamados realmente pareciam melhores quando avaliados com um sigmoidoscópio.*

Claramente, tais efeitos não são puramente psicológicos.a teoria da natureza-seguindo-seu-cursoAlguns acreditam que pelo menos parte do efeito placebo se deve a uma doença ou lesão seguindo seu curso natural. Nós muitas vezes nos curamos com o tempo, mesmo se não

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fizermos nada para tratar uma doença ou lesão. O placebo é às vezes erroneamente considerado como eficaz quando, na verdade, o corpo está se curando espontaneamente.Entretanto, curas espontâneas e remissão espontânea de doenças não podem explicar todas as curas ou melhoras que ocorrem devido a placebos, ou devido a medicamentos ou tratamentos ativos, por sinal. As pessoas a quem não é dado nenhum tratamento freqüentemente não se saem tão bem quanto aquelas a quem são dados placebos ou remédios e tratamento reais.a teoria do processo-de-tratamentoOutra teoria que está ganhando popularidade é a de que um processo de tratamento que envolva atenção, cuidado, afeição, etc. para o paciente, um processo que seja encorajador e que alimente esperanças, pode por si só disparar reações físicas no corpo, que promovem a cura.

Certamente há dados que sugerem que o simples fato de estar em situação de tratamento consegue alguma coisa. Pacientes deprimidos que são puramente colocados em uma lista de espera por tratamento não se saem tão bem quanto aqueles a quem são dados placebos. E -- isto é muito sugestivo, eu acho -- quando os placebos são dados para controle da dor, o curso do alívio da dor segue o mesmo que se teria com uma droga ativa. O pico do alívio vem aproximadamente uma hora após eles serem administrados, assim como vem com a droga real, e assim por diante. Se a analgesia por placebo fosse o equivalente a não dar nada, seria de se esperar um padrão mais aleatório. (Dr. Walter A. Brown, psiquiatra, Brown University)

Dr. Brown e outros acreditam que o efeito placebo é principalmente ou puramente físico e se deve a mudanças físicas que promovem a cura ou o bem estar.As mudanças físicas obviamente não são causadas pela substância inerte em si, então qual é o mecanismo que explicaria o efeito placebo? Alguns pensam que é o processo de administrá-lo. Pensa-se que o toque, o cuidado, a atenção e outras comunicações interpessoais que fazem parte do processo do estudo controlado (ou das característica terapêuticas), além da esperança e encorajamento dados pelo experimentador/terapeuta, afetam o humor da pessoa testada, que por sua vez dispara mudanças físicas, como a liberação de endorfinas. O processo reduz o stress por dar esperanças ou reduzir a incerteza sobre que tratamento adotar ou qual será o resultado. A redução no stress previne, ou desacelera a ocorrência de futuras mudanças físicas prejudiciais.A hipótese do processo-de-tratamento explicaria como remédios homeopáticos inertes e as terapias questionáveis de muitos dos praticantes da saúde "alternativa" são muitas vezes eficazes, ou tidos como eficazes. Ela explicaria também por quê pílulas ou procedimentos usados pela medicina tradicional funcionam, até que seja demonstrado que não possuem valor.

Há quarenta anos atrás, um jovem cardiologista de Seattle chamado Leonard Cobb, conduziu um teste singular de um procedimento então comumente usado para a angina, no qual os médicos faziam pequenas incisões no peito e atavam nós em duas artérias para tentar aumentar o fluxo do sangue para o coração. Era uma técnica popular -- 90 por cento dos pacientes relatavam melhoras -- mas quando Cobb a

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comparou com a cirurgia placebo, na qual se fazia incisões mas não atava as artérias, as operações falsas se mostravam igualmente bem sucedidas. O procedimento, conhecido como ligação mamária interna, foi logo abandonado.*

Se o efeito placebo é principalmente psicológico, ou cura espontânea mal interpretada, ou devido a um processo caracterizado por demonstrar cuidado e atenção, ou devido a alguma combinação dos três, pode não ser conhecido com completa confiança. Mas não há dúvidas sobre o poderoso efeito do placebo.eficácia do placebo H. K. Beecher avaliou duas dúzias de estudos e calculou que aproximadamente um terço dos pacientes nos estudos melhorou devido ao efeito placebo ("The Powerful Placebo," O Poderoso Placebo, 1955). Outros estudos calculam que o efeito seja ainda maior do que afirmou Beecher. Por exemplo, estudos demonstraram que os placebos são eficazes em 50 a 60 por cento dos pacientes com determinadas condições, por exemplo, "dores, depressão, algumas indisposições cardíacas, úlceras gástricas e outras queixas estomacais."* E tão eficazes como as novas drogas psicotrópicas parecem ser, no tratamento de vários distúrbios mentais. Alguns pesquisadores sustentam que não há evidências adequadas a partir de estudos que provem que as novas drogas sejam mais eficazes que os placebos.Os placebos já chegaram a ser mostrados causando efeitos colaterais desagradáveis. Existem até relatos de pessoas se tornando viciadas em placebos. o dilema éticoO poder do efeito placebo levou a um dilema ético. Um médico não deve enganar as pessoas, mas deve aliviar a dor e sofrimento dos seus pacientes. Deveria alguém usar a enganação para o benefício de seus pacientes? Seria anti-ético para um médico conscientemente prescrever um placebo sem informar ao paciente? Se informar ao paciente reduz a eficácia do placebo, seria justificável algum tipo de mentira com o objetivo de beneficiá-lo? Alguns médicos acham justo usar o placebo nos casos em que foi demonstrado um forte efeito placebo, e onde o sofrimento é um fator agravante.* Outros acham que é sempre errado enganar o paciente, e que o consentimento informado exige que se conte ao paciente que o tratamento é um tratamento placebo. Outros, especialmente os praticantes da medicina "alternativa", nem sequer querem saber se um tratamento é um placebo ou não. Sua atitude é a de que, contanto que o tratamento seja eficaz, quem se importa se ele é um placebo?os placebos são perigosos?Ao mesmo tempo em que os céticos talvez rejeitem a fé, a oração e as práticas médicas "alternativas" como bioharmônicos, quiroprática e homeopatia, estas práticas talvez não deixem de ter seus efeitos benéficos. Claramente, elas não curam o câncer ou reparam um pulmão perfurado, mas poderiam prolongar a vida ao dar esperanças e aliviar o sofrimento, e pela interação com o paciente em uma forma cuidadosa e atenciosa. No entanto, para aqueles que dizem "que diferença faz por que alguma coisa funciona, contanto que funcione" eu respondo que é provável que haja algo que funcione ainda melhor, algo para os outros dois terços ou metade da humanidade que, por uma razão qualquer, não podem ser curadas ou ajudadas por placebos. Além disso, placebos podem nem sempre ser benéficos ou inofensivos. Em acréscimo aos efeitos colaterais adversos, mencionados acima, John Dodes observa que

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Pacientes podem se tornar dependentes de praticantes não científicos que empregam terapias de placebos. Tais pacientes podem ser levados a acreditar que estão sofrendo de uma hipoglicemia "reativa" imaginária, alergias ou micoses inexistentes, "intoxicação" por amálgama de restaurações dentais, ou que estão sob os poderes do Qi ou de extraterrestres. E os pacientes podem ser levados a acreditar que as doenças respondem somente a um tipo específico de tratamento feito por um praticante específico.*

Em outras palavras, o placebo pode ser uma porta aberta para o charlatanismo.Para finalizar, a esperança dada por muitos praticantes "alternativos" é uma esperança falsa. É verdade que o tratamento cuidadoso e humano de uma pessoa que está morrendo pode prolongar a sua vida e pode melhorar a qualidade do que restar de vida para o paciente. Mas dar aos pais esperanças de que sua garotinha com um tumor no cérebro "poderia" responder ao tratamento com antineoplastos, sobreviver e crescer para se tornar uma adolescente e adulta saudável, quando se sabe que a probabilidade disto acontecer é praticamente zero, parece cruel e desumano. A atenção e o tratamento constante poderiam ajudar a criança a viver e sofrer por mais tempo, e os pais poderiam ficar eternamente gratos pelo tempo extra que tiveram com sua criança amada, mas no fim das contas estes tratamentos são como um abuso dos indefesos.Por outro lado, se um adulto que está morrendo de alguma coisa como câncer pancreático, e não recebeu nenhuma esperança de recuperação por parte dos praticantes da medicina tradicional, quisesse tratar-se com antineoplastos em um procedimento clínico onde a esperança e o cuidado são mais abundantes que o sucesso ou o conhecimento, pareceria cruel e desumano negar-lhe isso. Nós não temos nenhuma obrigação de oferecer tal tratamento, mas se ele estiver disponível e o paciente puder pagar por ele, será que é da nossa conta interferir? Podemos achar que este homem é tolo e está apenas desperdiçando seu dinheiro porque está desesperado. Podemos achar que aqueles que fornecem tais tratamentos questionáveis são charlatães e estão cruelmente enchendo as pessoas com falsas esperanças. Podemos achar que não é nada além do efeito placebo que é responsável pelo apoio do paciente a continuar o tratamento. Mas até que possa ser demonstrado sem sombra de dúvidas que o tratamento é fraudulento, potencialmente prejudicial ou completamente e absolutamente inútil, será que temos o direito de evitar que ele seja fornecido?Nas segundas, quartas e sextas eu digo "sim". Nas terças, quintas e sábados eu digo "não". Nos domingos eu digo "eu não sei".Veja verbetes relacionados sobre hipótese ad hoc, leitura fria, vício da confirmação, estudos de controle, reforço comunal, navalha de Occam, a falácia post hoc, pensamento seletivo, auto ilusão, validação subjetiva, testemunhos, e wishful thinking.Para exemplos de crenças profundamente afetadas pelo efeito placebo, veja os seguintes:

acupuntura práticas de saúde "alternativas" aromaterapia bioharmônicos poder dos cristais homeopatia reflexologia

leitura adicional A Prescrição de Placebos - New York Times Magazine 1/09/2000

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O Misterioso Placebo by John E. Dodes O efeito placebo é a força curativa da natureza por G. Zajicek Página do Placebo do Dr. Rentzman "O Efeito Placebo É Responsável Por Cinqüenta Por Cento Da Melhora Em

Pacientes Deprimidos Tomando Antidepressivos" pela American Psychological Association

"Placebo como Sugestão" por Charles Henderson, Ph.D. (interessante experiência em anúncios subliminares.)

estatística oculta

A estatística oculta é aquela que vem sendo usada como serviçal da teorização das "ciências ocultas" da mesma forma que a filosofia foi usada pela teologia nos tempos medievais. Mais especificamente, para justificar a crença em seres sobrenaturais e forças ocultas.Hoje em dia, parapsicólogos, astrólogos, teólogos e outros que procuram por anomalias para guiá-los no caminho da sabedoria transpessoal e da descoberta da verdadeira natureza do universo podem usar computadores para fazer análises estatísticas extremamente complexas de monumentais massas de dados. Quando encontram uma correlação estatisticamente significativa entre duas ou mais variáveis ficam impressionadíssimos e consideram a descoberta uma prova da existência do oculto ou do sobrenatural. Para o estatístico oculto, não existe uma coisa chamada correlação espúria.Por exemplo, afirma-se que The Design Inference: Eliminating Chance through Small Probabilities [A Inferência do Design: Eliminando o Acaso Através das Pequenas Probabilidades], de William Dembski, "oferece fundamentação matemática para os tipos de inferências estatísticas que os parapsicólogos usam para identificar fenômenos paranormais. Particularmontmente, o livro mostra como lidar com experiências estatísticas cujos valores de "p" são extremamente pequenos (como os que aparecem regularmente nos experimentos parapsicológicos). Esta obra é claramente relevante para a idéia de sincronicidade de Carl Jung. [Ela] promete colocar a sincronicidade sobre uma base científica sólida" (Rabi Gupta, correspondência pessoal).De forma semelhante, o projeto de pesquisa de anomalias da Escola de Engenharia de Princeton, liderado por Robert Jahn, reitor da Escola de Engenharia e Ciência Aplicada, alega que, em suas experiências, quando operadores humanos tentam usar a mente para influenciar variados dispositivos mecânicos, ópticos, acústicos e de fluidos, têm-se obtido resultados que não podem ser creditados ao acaso, e que "somente podem ser atribuídos à influência dos operadores humanos."Legiões de parapsicólogos, lideradas por generais como Charles Tart e Dean Radin, também têm apelado para as anomalias estatísticas como prova da Percepção Extra-Sensorial. A estatística Jessica Utts, da Universidade da Califórnia em Davis, deu seu aval aos estudos do governo dos EUA sobre PES e visão remota. Muitos ocultistas têm alegado que determinados sonhos devem ser clarividentes e não podem ser explicados pela coincidência, por desafiarem as leis da probabilidade.Não faz muito tempo, astrólogos alegavam que Gauquelin teria encontrado o Santo Graal com suas estatísticas demonstrando o assim denominado "efeito Marte". Mais recentemente, o playboy milionário Gunter Sachs publicou Die Akte Astrologie, que utiliza

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dados analisados por professores de estatística da Universidade de Munique para provar que a astrologia é verdadeira.Obviamente, a lista poderia ir mais e mais além, e incluir o Código da Bíblia e diversas provas da existência de Deus com base na improbabilidade de que o acaso pudesse explicar a natureza do universo, ou algum aspecto complexo dele, como o código genético.os céticos não se deixam impressionarOs céticos não se impressionam com argumentos que atribuam improbabilidade para o que já aconteceu. Qualquer coisa que já tenha acontecido não é, obviamente, um evento impossível. Calcular com precisão as probabilidades de que o código genético ou o universo surjam por "acaso", ou seja, puramente pelas leis naturais, sem terem sido planejados por um ser divino, é impossível. Analogias com um macaco datilografando Hamlet por acaso, ou uma Mona Lisa sendo "criada" pela natureza, são irrelevantes e claramente destituídas de impacto sobre céticos.Estes também não se impressionam muito com anomalias estatísticas geradas pelos que estão na busca das forças ocultas. Em alguns casos, os céticos descobriram que as estatísticas foram criadas por meio de incompetência ou fraude, como por exemplo nos trabalhos de Walter J. Levy, no Rhine's Institute of Parapsychology (Williams 191, 319). A história da pesquisa da PES é um paradigma da desonestidade e da incompetência (Rawcliffe, Randi). Os céticos observaram várias vezes, ao investigar alegações estatísticas de pesquisadores da paranormalidade, que freqüentemente há problemas de validação subjetiva, predisposição para a confirmação, início e fim opcionais, ilusão de agrupamento, falácia regressiva, etc.Às vezes, as variáveis que estão sendo correlacionadas são definidas de forma vaga ou ambígua, isso quando são definidas, de forma que praticamente qualquer coisa pode servir como apoio à hipótese do oculto. O que é um "grande" atleta ou um "rebelde"? Às vezes, os métodos usados para encontrar padrões são enganosos e inadequados, como, por exemplo, quando se encontram mensagens ocultas em textos. Como observa John Ruscio, "Se você procurar num número fantástico de lugares e contar com qualquer coisa com que se deparar como indício confirmativo, pode-se garantir que irá encontrar algum sentido onde não existe nenhum" (45).Os céticos notaram que, muitas vezes, algo parece ser estatisticamente improvável quando na verdade não o é. Algumas correlações espúrias se devem à falta de definição clara das variáveis, outras ao cálculo incorreto das probabilidades. Ambos os erros são ocorrências comuns em se tratando dos chamados sonhos premonitórios. Concluindo, os céticos não se impressionam com anomalias estatísticas artificialmente evocadas porque é normalmente esperado que elas ocorram com alguma freqüência, dado o grande número de tentativas que são feitas.

O correlacionamento de apenas duas dúzias de variáveis umas com as outras produz uma matriz contendo quase 300 coeficientes de correlação. Por convenção, resultados que ocorram num nível esperado pelo acaso em apenas 5% das vezes são chamados de "estatisticamente significativos". Assim, podemos esperar cerca de quinze correlações espuriamente significativas em toda matriz de 300 (Ruscio, 45).

Cada uma dessas correlações espúrias representa uma tentação para que se enxerguem conexões causais onde não há nenhuma, e para que a pessoa se envolva em teorizações post-hoc para explicar forças misteriosas inexistentes.

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Veja verbetes relacionados sobre O Código da Bíblia, ilusão de agrupamento, predisposição para a confirmação, PES, Efeito Forer, lei dos grandes números, "Efeito Marte", numerologia, início e fim opcionais, falácia post hoc , falácia regressiva, visão remota e pensamento seletivo.

leitura adicional STATS - A Estatística e a Mídia As Evidências de Atividades Psíquicas: Alegações vs. Realidade de Ray Hyman Number Watch - Tudo sobre ameaças, farsas, lixo, pânicos e bobagens criadas pela mídia,

políticos, burocratas, supostos cientistas e outros que tentam confundí-lo com números enganosos.

Coincidências: Impressionantes ou Casuais? de Bruce Martin

falácia regressiva

A falácia regressiva ocorre quando se deixa de levar em conta as flutuações naturais e inevitáveis das coisas quando tentamos verificar suas causas [Gilovich, p. 26]. Coisas como preços de ações na bolsa, pontuações no golfe e dores crônicas nas costas inevitavelmente flutuam. Períodos de preços em baixa, pontuações baixas e pouca ou nenhuma dor são, cedo ou tarde, seguidos por períodos de preços e pontuações altas, e dores mais fortes. A ignorância dessas flutuações e tendências naturais muitas vezes leva à auto-ilusão a respeito de causas e ao raciocínio post hoc .Por exemplo, um golfista profissional com dores crônicas nas costas ou artrite poderia experimentar um bracelete de cobre no pulso ou palmilhas magnéticas nos sapatos. É provável que ele tente essas engenhocas quando não estiver jogando ou se sentindo bem. Percebe então que suas pontuações estão melhorando e as dores estão diminuindo ou sumindo. Conclui então que o bracelete de cobre ou a palmilha magnética são a causa. Nunca ocorre a ele que as pontuações e a dor provavelmente estão melhorando devido a flutuações naturais e esperadas. Nem ocorre a ele que poderia verificar os registros de todos as suas pontuações no golfe antes de ter usado a bugiganga e conferir se o mesmo tipo de padrão tinha ocorrido freqüentemente no passado. Se tomasse sua pontuação média como base, muito provavelmente descobriria que após uma pontuação muito baixa ele tenderia a atingir não uma pontuação mais baixa, e sim uma mais alta na direção da média. Da mesma forma, descobriria que após uma pontuação muito alta não tenderia a atingir outra ainda mais alta, mas sim uma menor na direção da média.Essa tendência de se mover afastando-se dos extremos em direção à média foi chamada de "regressão" por Sir Francis Galton num estudo das alturas médias dos filhos de pais muito altos e muito baixos. (O estudo foi publicado em 1885 e chamou-se "Regressão em Direção à Mediocridade na Estatura Hereditária.") Ele descobriu que filhos de pais muito altos ou muito baixos tendiam a ser altos ou baixos, respectivamente, mas não tão altos ou baixos quanto seus pais.O golfista profissional poderia conferir suas pontuações porque se guardam registros de cada partida jogada. Esses jogadores são freqüentemente apresentados em testemunhos de alguma geringonça que garantidamente irá melhorar sua pontuação no golfe. Quem é que já ouviu algum deles citar um estudo adequado (que não use início e fim opcionais) sobre

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pontuações no golfe que demonstre que a melhora, se houver, não se deve a flutuação natural e regressão?Muitas pessoas são levadas pela falácia regressiva a acreditar na eficácia causal de remédios sem valor. A intensidade e a duração das dores da artrite, dores crônicas das costas, gota, etc., naturalmente flutuam. É mais provável que se recorra a um tratamento como a manipulação espinhal quiroprática ou um cinto magnético quando a pessoa está num extremo da flutuação. Esse extremo naturalmente será seguido por uma diminuição da dor. É fácil iludirmos a nós mesmos achando de que o tratamento a que recorremos causou a redução da dor. É pela facilidade com que nos iludimos a respeito da causalidade nesses assuntos que os cientistas fazem experiências controladas para testar alegações de causa.Mesmo se um remédio charlatanesco não funcionar, muitas vezes não leva a culpa por sua ineficácia. Por exemplo, quando o comediante Pat Paulsen recorreu a um tratamento médico "alternativo" para o câncer em Tijuana, sua filha não criticou o tratamento pela sua inutilidade quanto o pai morreu. Paulsen, segundo relatos, esteve bem por alguns dias, o que seria esperado como efeito de flutuação natural. Sua filha afirmou que o tratamento funcionava, mas falhou no caso dele porque teriam procurado pelo tratamento tarde demais. Quando recebeu o diagnóstico de câncer no cérebro e no cólon, sua esposa Noma foi citada em reportagens dizendo que o médico de Tijuana "está confiante de que [o câncer] pode ser curado. Os médicos daqui dizem que não. Nós gostamos muito mais dos de lá." Um boletim oficial sobre sua morte afirmou que ele morreu de pneumonia, não de câncer. Um porta-voz da família foi citado dizendo: "O câncer estava sob controle após a passagem por um tratamento alternativo no México. Faleceu às 14 h na quinta-feira, após complicações desencadeadas pela pneumonia e insuficiência renal após uma cirurgia recente, não relacionada ao câncer." Sua esposa não achou que a terapia alternativa fosse inócua. Disse: "Queremos agradecer à nossa equipe de médicos no México que tratou meu marido humanamente e com respeito, e que esteve com ele 24 horas por dia tentando salvar sua vida."*Veja verbetes relacionados sobre hipóteses ad hoc, leitura fria, reforço comunitário, estudos controlados, navalha de Occam, início e fim opcionais, ciência patológica, efeito placebo, falácia post hoc , pensamento seletivo, auto-ilusão,  validação subjetiva, testemunhos  e wishful thinking .

leitura adicionalGilovich, Thomas. How We Know What Isn't So: The Fallibility of Human Reason in Everyday Life [Como Sabermos o Que Não é Bem Assim: A Falibilidade do Raciocínio Humana no Dia a Dia] (New York: The Free Press, 1993)  

Lei dos Numeros Muito Grandes

A lei dos números muito grandes diz que, com uma amostra suficientemente grande, muitas coisas estranhas demais para parecerem coincidências, são, na verdade, prováveis e nada estranhas.Por exemplo, pode achar estranho que uma pessoa ganhe duas vezes a lotaria, pensando que as probabilidades são astronómicas. O New York Times fez uma história sobre uma mulher de New Jersey que ganhou duas vezes a lotaria americana, dizendo que as probabilidades eram de "1 em 17 triliões." Contudo, os estatísticos Stephen Samuels e George McCabe da Universidade de Purdue calcularam a probabilidade de alguem ganhar a lotaria duas vezes

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num periodo de 4 meses como de 1 para 30. Porquê? Porque os jogadores não compram um bilhete para cada uma das duas lotarias, compram vários bilhetes multiplos por semana (Persi e Mosteller).Algumas pessoas acham surpreendente que existam mais de 16 milhões de pessoas no planeta que partilham o seu dia de aniversário. Num jogo de futebol com 50.000 espectadores, devem partilhar o seu dia de anos com cerca de 135 outros. (A excepção é os que nasceram a 29 de Fevereiro. Há apenas cerca de 34 espectadores nascidos nesse dia.)Por outro lado pode dizer que as probabilidades de algo acontecer são de 1 milhão para um. Tal valor parece tão grande que elimina a possibilidade de coincidências. Contudo, com cerca de 6 biliões de pessoas na terra, um milhão é algo que deve ocorrer frequentemente. Digamos que a possibilidade de uma pessoa sonhar com a queda de um avião e no dia seguinte um cair é de 1 para 1 milhão. Com 6 biliões de pessoas tendo uma média de 250 sonhos por noite, devem existir 1,5 milhões de pessoas por dia tendo sonhos que parecem clarividência. O numero deve ser superior, visto termos tendencia a sonhar com coisas que nos preocupam  ou interessam.

Links Diaconis, Persi and Frederick Mosteller, "Coincidences," em The Encyclopedia of the Paranormal, ed. G. Stein (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1996). Hines, Terence. Pseudoscience and the Paranormal (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1990). 

Leitura Fria

Manipuladores profissionais --vendedores, hipnotistas, publicitários, evangelizadores, aldrabões e alguns terapeutas--dedicam-se a encontrar mais significados numa situação do que realmente ela tem. O desejo de dar sentido às nossas experiências levou-nos a maravilhosas descobertas, mas tambem nos levou a loucuras. O manipulator sabe que tentamos dar sentido a tudo o que ele disser, por mais improvável ou rebuscado. Tambem sabe que somos egocêntricos, e que tendemos a ter uma visão de nós irrealista, e aceitamos afirmações que refletem o que pensamos de nós e não o que realmente somos. Sabe ainda que das várias afirmações que fizer acerca de si, fará alguma ou algumas com as quais concordará; e sabe que se lembrará das acertadas e esquecerá as falhadas. Um bom manipulador consegue dar uma leitura de um estranho fazendo sentir a este que o manipulador possui um dom especial. Por exemplo, Bertram Forer nunca se encontrou consigo, mas veja o que ele diz de si:

Algumas das suas aspirações tendem a ser irrealistas. Umas vezes sente-se extrovertido, afável e sociável, embora, por vezes, se torne introvertido e reservado. Descobriu que não deve ser muito franco e revelar-se aos outros. Orgulha-se do seu pensamento e não aceita as opiniões de outros sem as examinar. Gosta de alguma mudança e variedade e sente-se preso por limitações e restrições. Por vezes tem duvidas se agiu bem ou tomou a decisão correcta. Disciplinado e controlado para os outros, tende a ser no fundo, inseguro.

Apesar das suas fraquezas, normalmente conseguer compensá-las. Tem capacidades não usadas, que ainda não aproveitou a seu favor. Tem tendencia a ser muito auto

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critico. Tem grande necessidade de que as outras pessoas gostem de si e que o admirem.

Eis outra leitura:

Pessoas próximas  aproveitaram-se de si. A sua honestidade tem-no prejudicado. Muitas oportunidades que teve, recusou-as devido à sua incapacidade de se aproveitar dos outros. Gosta de livros e revistas que o melhorem espiritualmente. De facto, se não está num trabalho que envolva pessoas, devia estar. Tem grande capacidade de compreender os problemas dos outros e simpatizar com elas. Mas é firme quando confrontado com teimosia e estupidez. A Lei tambem poderia ser uma área onde se sentiria bem. O seu sentido de justiça é grande.

Esta ultima é do astrólogo Sidney Omarr. Ele nunca o encontrou mas sabe muito sobre si. [Flim-Flam!, p. 61.] O primeiro era tirado por Forer de um livro de astrologia. A selectividade do espirito humano não pára. Escolhemos os dados que recordaremos e que teem significado para nós. Em parte fazemos isso porque já acreditamos ou queremos acreditar. Por outro lado fazemos isso para pôr ordem naquilo que experimentamos. Não somos manipuláveis por sermos sugestionáveis, ou porque os dados são ambíguos. Mesmo com dados claros e sendo cépticos podemos ser manipulados. De facto, pode-se dar o caso de pessoas particularmente inteligentes serem mais facilmente manipuladas quando a linguagem é clara e eles estão a pensar logicamente. Para fazer os raciocínios que o manipulador pretende, tem de pensar logicamente. Devemos lembrar que tal como os cientistas podem estar errados nas suas predições, tambem os psiquicos podem estar algumas vezes certos nas suas. Há três factores comuns neste tipo de leituras. Um é pescar detalhes. O psiquico diz algo vago e sugestivo como "Estou a ter uma ideia de Janeiro." Se o sujeito responde, positiva ou negativamente, o psiquico acompanha a resposta. Se o sujeito diz "Nasci em Janeiro" ou "a minha mãe morreu em Janeiro" o psiquico diz qualquer coisa como "sim, estou a ver isso," reforçando a ideia de que tinha sido mais preciso do que realmente foi. Se o sujeito responde negativamente, "Não me lembro de nada em Janeiro" o psiquico responde, "Sim, vejo que está a reprimir a recordação, não se quer lembrar... algo doloroso em Janeiro... sim, sinto-o. Nas costas (à pesca)... na cabeça agora...  (à pesca)...". Se o sujeito não responde, o psiquico pode passar a outra área, tendo implantado a ideia de que ele "viu" algo mas a supressão pelo sujeito impede-o de especificar mais pormenores. Se há uma resposta positiva a este pescar, o psiquico segue-a com " Sim, vejo claramente agora... A sensação nas costas está a ficar mais forte." Esta pesca é uma arte e é mais bem feita por quem acredite que tem poderes reais do que por uma fraude. A resposta forçada de um aldrabão é reconhecida por uma pessoa inteligente, mas mesmo essas podem ser traidas por um psiquico sincero mas iludido. Outra característica destas leituras é que todas as afirmações iniciais são vagas ("estou a ter uma sensação na área da perna") ou em forma de pergunta ("Sinto que pensa em alguem que está ausente. Estou certo?") Muitas das respostas são dadas pelo próprio sujeito. Finalmente, as ocasiões em que o psiquico errou acerca do sujeito serão esquecidas por ele e pela audiência. O que será recordado são os hits aparentes, dando a sensação global de que "como é que ele podia adivinhar se não fosse psiquico." Este fenómemo de supressão da evidência contrária é tão predominante nas demonstrações psiquicas que parece estar relacionado com o velho principio psicológico: uma pessoa só vê o que quer ver.

Leituras

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Dickson, D.H., & Kelly, I.W. "The 'Barnum effect' in personality assessment: A review of the literature," Psychological Reports, 57, 367-382, (1985). Hyman, Ray. "'Cold Reading': How to Convince Strangers That You Know All About Them" in The Skeptical Inquirer Spring/Summer 1977.

Navalha de Occam

"Pluralitas non est ponenda sine neccesitate" ou "pluralidade não deve ser colocada sem necessidade." As palavras são de um filósofo inglês medieval e monge Franciscano, William of Ockham (ca. 1285-1349). Como muitos Franciscanos, William era um minimalista na sua vida, idealizando uma vida de pobreza, e como S. Francisco, batendo-se com o Papa a esse propósito. William foi excomungado pelo Papa João XXII. Respondeu escrevendo um tratado demonstrando que o Papa era um herético. O que é conhecido como navalha de Occam era um principio comum na filosofia medieval e não foi originado por William of Ockham mas devido ao seu frequente uso do principio, o seu nome ficou indelevelmente ligado a ele. É pouco provável que William apreciasse o que alguns de nós fizeram com o seu nome. Por exemplo, ateistas muitas vezes aplicam a navalha de Occam argumentando contra a existência de Deus na base de que Deus é uma hipótese desnecessária. Podemos explicar tudo sem assumir o peso metafisico extra de um Ser Divino. O uso por William do principio da pluralidade desnecessária ocorre em debates sobre o equivalente medieval do psi. Por exemplo, no Livro II dos seus Commentary on the Sentences de Pedro Abelardo, ele debruça-se sobre a questão de saber se "Um Anjo mais Elevado sabe graças a menos espécies que um Inferior." Usando o principio de que a "pluralidade não deve ser colocada sem necessidade" ele argumenta que a resposta é afirmativa. Tambem cita Aristoteles quando afirma que "quanto mais perfeita uma natureza, menos meios necessita para a sua operação." Este principio tem sido usado por ateistas para rejeitar a hipótese de um Deus-Criador a favor da evolução natural: se um Deus Perfeito tivesse criado o Universo, quer o Universo quer as suas partes seriam mais simples. William não teria apreciado. Contudo, argumentou que a teologia natural é impossivel. Teologia natural usa a razão para compreender Deus, em contraste com a teologia revelada que se baseia nas revelações das escrituras. De acordo com William of Ockham, a ideia de Deus não é estabelecida por evidências experimentais ou de raciocínio. Tudo o que sabemos de Deus é-nos dado pela revelação. Os fundamentos de toda a teologia é, portanto a fé. Deve-se notar que enquanto uns usaram a navalha para eliminar todo o mundo espiritual, Ockham não aplicou o principio da parcimónia aos artigos da fé. Tivesse-o feito, poderia tornar-se um Sociniano como John Toland (Christianity not Mysterious, 1696) e reduzido a Trindade a uma Unidade e a natureza dual de Cristo a uma. William foi uma espécie de minimalista em filosofia, advogando nominalismo contra a visão mais popular do realismo. Ou seja, argumentou que os universais não têm existência foram da mente; universais são apenas nomes que usamos para referir grupos de individuos e as propriedades de individuos. Os realistas afirmam que não só há objectos individuais e os nossos conceitos desses objectos, tambem há universais. Ockham pensava que eram demasiadas pluralidades. Não necessitamos de universais para explicar qualquer coisa. Para nominalistas e realistas existe Sócrates o individuo e o nosso conceito de Sócrates. Para os realistas existem tambem realidades como a humanidade de Sócrates, a animalidade de Sócrates, etc. Ou seja, qualquer qualidade que possamos atribuir a Sócrates tem uma

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correspondente "realidade", um "universal" ou eidos, como Platão chamou a tais seres. William pode ser considerado céptico em relação a estes universais. Não são necessários para a lógica, a epistemologia ou metafisica, portanto para quê assumir esta pluralidade desnecessária? Platão e os realistas podiam ter razão. Talvez haja um eidos, de realidades universais que sejam eternos, imutáveis modelos para objectos individuais. Mas não necessitamos de postular tal para explicarmos individuos, os nossos conceitos ou o nosso conhecimento. O Eidos de Platão (Formas) são um peso metafisico e epistemológico desnecessário. Pode ser argumentado que o Bispo George Berkeley aplicou a navalha de Occam para eliminar a substância material como uma pluralidade desnecessária. Apenas precisamos da nossa mente e das nossas ideias para explicar tudo. Contudo, Berkeley era um pouco selectivo no seu uso da navalha. Lembrem-se, ele precisou de postular Deus como a Mente que ouve a árvore cair na floresta quando ninguem está presente. Os Idealistas Subjectivos podem usar a navalha para se livrarem de Deus. Tudo pode ser explicado pelas nossas mentes e ideias. Claro que isto leva ao solipsismo, a ideia que só eu e as minhas ideias existem, ou pelo menos é tudo o que sei que existe. Os Materialistas, por outro lado, usam a navalha para eliminar a mente. Não necessitamos de postular uma pluralidade de mentes E uma pluralidade de cérebros. A navalha de Occam é tambem chamada o principio da parcimónia. Hoje em dia é interpretada como "a explicação mais simples é a melhor" ou "não multiplique hipóteses desnecessariamente." Em qualquer caso, a navalha de Occam é o principio que é frequentemente usado fora da ontologia, isto é, por filósofos da ciência num esforço de estabelecer critérios para escolher entre várias teorias com igual valor explicatório. Quando dando razões explicativas para algo, não postule mais que o necessário. Von Daniken podia estar certo: talvez extraterrestres tenham ensinado antigos povos na arte e na engenharia, mas não precisamos de postular visitantes extraterrestres para explicar os feitos desses povos. Porquê postular pluralidades desnecessariamente? Ou, como diriamos hoje, não faça mais assunções do que precisa. Podemos postular o éter para explicar acção à distância, mas não precisamos do éter para o explicar, portanto para quê assumir um etéreo éter? Pode-se dizer que Oliver W. Holmes e Jerome Frank aplicaram a navalha de Occam ao afirmarem que não existe uma coisa chamada "Lei". Há apenas decisões judiciais, julgamentos individuais e a soma deles fazem a lei. Para confundir mais a questão, estes iminentes juristas chamaram ao seu ponto de vista realismo legal, em vez de nominalismo legal. Lá se vai a simplicidade. Porque a navalha de Occam é algumas vezes chamado o principio da simplicidade algumas mentes criacionistas argumentaram que ela podia ser usada para apoiar o criacionismo sobre a evolução. Ter Deus a criar tudo é muito mais simples que a evolução, que é um mecanismo muito mais complexo. Mas Occam não diz que quanto mais simplória a hipótese, melhor. Alguns até usaram a navalha de Occam para justificar cortes orçamentais, argumentando que "o que pode ser feito com menos é feito em vão com mais." Esta aproximação parece aplicar a navalha de Occam ao próprio principio, eliminando a palavra "hipótese". Occam estava preocupado com menos hipóteses, não com menos dinheiro. O principio original parece ter sido invocado num contexto de uma crença na noção de que a perfeição é a própria simplicidade. Isto é um principio metafisico que partilhamos com os medievais e os gregos antigos. Pois, como eles, a maior parte das nossas disputas não são acerca do principio mas do que conta como necessário. Para os materialistas, os dualistas multiplicam pluralidades desnecessariamente. Para os dualistas, postular uma mente bem como um corpo, é necessário. Para os ateistas, postular Deus e algo sobrenatural é uma pluralidade desnecessária. Para os teistas, postular Deus é uma necessidade. E por aí fora.

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Para von Daniken, talvez, os factos tornam necessário postular extraterrestres. Para outros, estes extraterrestres são pluralidades desnecessárias. Em resumo, talvez a navalha de Occam diga pouco mais do que para os ateístas Deus é desnecessário mas para os teistas isso não é verdade. Se é assim, o principio não é muito util. Por outro lado, se a navalha de Occam significa que quando confrontados com duas explicações, uma implausivel e uma provável, uma pessoa racional deve escolher a provável, então o principio parece desnecessário, pois é óbvio. Mas se o principio é verdadeiramente minimalista, então parece implicar que quanto mais reducionismo, melhor. Se sim, então o principio da parcimónia deveria chamar-se a Serra Eléctrica de Occam, pois o seu principal uso parece ser cortar a eito na ontologia.

Links Internet Encyclopedia of Philosophy "William of Ockham" Hyman, Arthur and James J. Walsh, Philosophy in the Middle Ages 2nd ed. (Indianapolis: Hackett Publishing Co., 1973). W.M. Thorburn, "The Myth of Occam's Razor," Mind 27:345-353 (1918).

pensamento mágico

“O verdadeiro pensador crítico aceita o que poucas pessoas aceitam -- que não se possa confiar rotineiramente em percepções e lembranças," -- James Alcock, “The Belief Engine”

Segundo o Dr. Phillips Stevens Jr., antropólogo, o pensamento mágico envolve vários elementos, entre os quais uma crença na interconexão de todas as coisas através de forças e poderes que transcendem conexões tanto físicas quanto espirituais. O pensamento mágico investe de poderes e forças especiais muitas coisas que são vistas como símbolos. Segundo Phillips, "a grande maioria das pessoas do mundo... crê que existam conexões reais entre o símbolo e aquilo que ele representa, e que um poder real e potencialmente mensurável flui entre eles." Ele acredita existir uma base neurobiológica para isso, embora o conteúdo específico de qualquer símbolo seja culturalmente determinado. (Não que alguns símbolos não sejam universais, como por exemplo, o ovo.)Um dos princípios guias do pensamento mágico é a idéia de que coisas que se parecem com outras são conectadas causalmente de alguma maneira que desafia o teste científico. Outro princípio guia é a crença de que "coisas que estiveram em contato físico ou em associação espacial ou temporal com outras coisas retêm uma conexão mesmo após serem separadas" (Phillips). Pense nos detetives paranormais alegando poder obter informações sobre uma pessoa desaparecida ao tocar um de seus pertences. Ou pense na paranormal de animais que alega poder ler a mente do seu cão olhando para uma foto dele.Segundo o psicólogo James Alcock, "'Pensamento Mágico' é interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por exemplo, se você acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte você associou o ato do cruzamento de dedos com o evento favorável subseqüente e imputou um nexo causal entre os dois." Alcock observa que, devido à nossa conformação neurobiológica, somos propensos ao pensamento mágico e assim o pensamento crítico fica freqüentemente em desvantagem. Pense na falácia do jogador.

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Dois dos exemplos mais óbvios de pensamento mágico são a idéia da sincronicidade de Jung e a da homeopatia de Hahnemann (Phillips). Outros exemplos seriam a grafologia (Beyerstein) e a quiromancia.Veja verbete relacionado sobre magia simpática.

leitura adicional

Por Que Terapias Espúrias Freqüentemente Parecem Funcionar de Barry L. Beyerstein (Quackwatch em português)

Pensamento selectivo

Pensamento selectivo é o termo usado para descrever o processo pelo qual selecionamos os dados favoráveis a uma hipótese, enquanto ignoramos os dados desfavoráveis. Este tipo de pensamento é a base de muitas crenças nos poderes psiquicos. É a base para muitas, se não todas, as crenças, incluindo astrologia, grafologia e testes de personalidade como Myers-Briggs. James Randi dá o seguinte exemplo. Peter Hurkos espantava as pessoas ao descrever as suas casas e as suas vidas. Duas dessas pessoas convidaram Randi a ver uma cassete das leituras. Descobriram então que "este pseudo psiquico acertara em média, uma afirmação em catorze!...O pensamento selectivo tinha-os levado a ignorar todas as falhas e a recordar apenas o correcto. Eram crentes que precisavam de acreditar que este homem era genuino, e apesar dos resultados continuam fans deste charlatão." [Flim-Flam! p. 7]

Leituras Randi, James. Flim-Flam! (Buffalo, New York: Prometheus Books,1982).

teorias

O termo 'teoria' pode ser compreendido tanto numa acepção 'forte' como numa acepção 'fraca'. Na acepção 'forte', uma teoria é um princípio ou conjunto de princípios para explicar, organizar, unificar, e/ou compreender o sentido de um conjunto de fenômenos. Na acepção 'fraca', uma teoria é uma crença ou especulação. Não-cientistas comumente usam o termo 'teoria' na acepção fraca para se referir a uma crença ou a uma especulação ou palpite baseados em informações ou conhecimento limitado, por exemplo, minha teoria sobre o sexo antes do casamento é... ou, minha teoria sobre por que os Yankees vencem tantos campeonatos é... Nós nos preocuparemos aqui apenas com teorias na acepção forte.Poderíamos dividir as teorias em científicas e não-científicas. As últimas poderiam ser ainda divididas em empíricas e conceituais.teorias científicasUma teoria científica é empírica, falseável e possui poder preditivo, por exemplo, a teoria ondulatória da luz, a teoria da evolução e a teoria do Big Bang. Teorias científicas são voltadas essencialmente para a descoberta dos mecanismos pelos quais a Natureza funciona.As teorias científicas tentam entender o mundo da observação e da experiência. Elas tentam explicar como o mundo natural funciona. Uma teoria científica deve possuir algumas

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conseqüências lógicas que nós possamos testar na Natureza, fazendo predições ou retrodições baseadas na teoria. A exata natureza do relacionamento entre fazer predições ou retrodições, e como elas servem como testes para uma teoria científica, é um assunto sobre o qual os filósofos da ciência amplamente divergem (Kourany, 1997).teorias empíricas não-científicasUma teoria empírica não-científica tenta explicar um certo conjunto de fenômenos empíricos, mas não é falseável e não tem nenhum poder preditivo, por exemplo, as teorias da repressão e do complexo de Édipo de Freud.teorias conceituaisUma teoria conceitual é não-científica e não-empírica. Algumas teorias conceituais são explanatórias, por exemplo, teorias metafísicas como criacionismo, materialismo ou dualismo. Como todas as teorias conceituais, criacionismo, materialismo e dualismo não podem ser testadas empiricamente. Elas não são falseáveis nem tem nenhum valor preditivo. Cada teoria é logicamente coerente, isto é, não há nenhuma contradição lógica em acreditar que tudo o que é real é físico, nem há nada de contraditório em acreditar que existem duas realidades, uma física e outra espiritual. Não há nada de contraditório em acreditar que o universo teve um Criador, nem o ateísmo é inerentemente auto-contraditório. Cada teoria é consistente com o que nós sabemos sobre o mundo. Tudo o que pode ser explicado por espíritos ou realidades não-físicas, pode ser explicado pelo materialismo. Apesar de tudo, nem o materialismo nem o dualismo podem ser testados empiricamente; logo, nenhum pode ser confirmado empiricamente de nenhuma maneira significativa. Não há nada no universo que possa ser explicado por um Criador que não possa também ser explicado sem referência a um Criador. Por outro lado, teorias conceituais também não podem ser refutadas. Não há nenhuma forma de alguém provar que o teísmo ou o ateísmo, ou o materialismo ou o dualismo são falsos apelando para evidências empíricas. Além disso, tudo o que puder ser dito a respeito do valor e da validade do materialismo ou do ateísmo se aplicam igualmente às teorias do dualismo e do teísmo.Algumas teorias conceituais são prescritivas, por exemplo, teorias éticas como o utilitarianismo. Elas declaram o que deve ser, ao invés de tentar explicar o que é.testando as teoriasGenericamente falando, uma teoria não-científica é testada por sua utilidade, sua coerência lógica (ou seja, a compatibilidade dos conceitos que compõem a teoria), e sua consistência com o que nós sabemos sobre o mundo e com outras crenças.Teorias não-científicas, quando são coerentes, são consistentes com qualquer coisa imaginável no universo. Não é surpresa, portanto, que muitas teorias não-científicas sejam divulgadas dogmaticamente. Elas não são oferecidas para serem testadas, mas para serem aceitas como infalivelmente verdadeiras.Observações empíricas podem ser usadas para testar teorias científicas, mas não para teorias não-científicas. Fatos empíricos podem ser consistentes com ambos os tipos de teorias, mas como não podem refutar uma teoria não-científica coerente, estes fatos não podem ser usados para testá-las.fatos e teorias científicasPara o público desinformado, os fatos contrastam com as teorias. Entretanto, teorias científicas variam em seu grau de certeza desde o altamente improvável até o altamente provável, isto é, existem graus variáveis de evidência e apoio para diferentes teorias, ou sejam algumas são mais razoavelmente aceitáveis que outras. Mas mesmo a teoria científica mais razoável não é absolutamente certa. Por outro lado, os assim chamados 'fatos' também não são absolutamente certos. Os fatos não envolvem apenas elementos

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perceptuais facilmente testáveis; eles também envolvem interpretação. Um sinal de que uma idéia não é empírica ou científica é a afirmação de que a idéia é infalivelmente certa e irrefutável. Alegações de infalibilidade e a exigência da certeza absoluta, não caracterizam a ciência, e sim a metafísica e a pseudociência.A história da ciência, entretanto, claramente mostra que teorias científicas não permanecem eternamente inalteradas. A história da ciência não é a história de uma verdade absoluta sendo construída sobre outras verdades absolutas. Em lugar disso ela é, entre outras coisas, a história da teorização, teste, discussão, refinamento, rejeição, substituição, mais teorização, mais teste, etc. Ela é a história de teorias funcionando bem por algum tempo, a ocorrência de anomalias (ou seja, descoberta de novos fatos que não se encaixam nas teorias estabelecidas), e novas teorias sendo propostas e acabando por substituir as antigas, parcialmente ou completamente.Uma teoria assuma que ela mesma não possui erros não é uma teoria científica. Deveríamos nos lembrar que a ciência, como definiu Jacob Bronowski, "é uma forma bem humana de conhecimento.... Cada julgamento na ciência se apoia na fronteira do erro... A ciência é um tributo ao que nós podemos saber embora sejamos falíveis"(Bronowski, 374). "Um dos objetivos das ciências físicas," ele diz. "tem sido fazer um retrato exato do mundo material. Uma das conquistas da física no século vinte foi provar que este objetivo é inatingível" (353). Bronowski expressou seu ponto de vista sobre a qualidade humana do conhecimento científico de uma maneira quase pungente. Para a versão televisiva do seu livro Ascent of Man, ele foi para o campo de concentração e crematório de Auschwitz. Milhões de Judeus, homossexuais e outros 'indesejáveis' foram assassinados e cremados ali pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns desses executados eram parentes de Bronowski. De pé em um lago onde as cinzas eram despejadas, e segurando um punhado de sujeira, ele disse

Dizem que a ciência vai desumanizar as pessoas e transformá-las em números. Isso é falso, tragicamente falso. Este é o campo de concentração e crematório de Auschwitz. É aqui que pessoas eram transformadas em números. Neste lago foram descarregadas as cinzas de uns 4 milhões de pessoas. E isso não foi feito pelo gás. Isso foi feito pela ignorância. Quando as pessoas acreditam ter o conhecimento absoluto é assim que elas se comportam. É isto que os homens fazem quando eles aspiram ao conhecimento de deuses (374).

O conhecimento científico é um conhecimento humano e os cientistas são seres humanos. Eles não são deuses e a ciência não é infalível. Ainda assim, o público em geral muitas vezes pensa em afirmações científicas como verdades absolutas. Acham que se algo não é uma certeza, não é científico e se não é científico então qualquer outra visão não-científica é de igual valor. Esta conceito errado parece estar, pelo menos em parte, por trás da falta de entendimento generalizada sobre a natureza das teorias científicas.teorias científicas e pós-modernismoOutra concepção errônea comum é a de que, como as teorias científicas são baseadas na percepção humana, elas são necessariamente relativas, e logo não nos dizem realmente nada sobre o mundo real. A ciência, de acordo com certos "pós-modernistas", não pode afirmar que nos dá uma imagem real de como é realmente o mundo empírico; ela pode apenas nos dizer como ele se apresenta para os cientistas. Não existe esta coisa chamada verdade científica. Todas as teorias científicas são meras ficções. Entretanto, só porque não

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há uma única, final, divina maneira de se ver a realidade, não significa que todo ponto de vista seja tão bom quanto qualquer outro. Só porque a ciência pode nos dar apenas uma perspectiva humana, não significa que não exista uma coisa chamada verdade científica. Quando a primeira bomba atômica explodiu exatamente como alguns cientistas previram que explodiria, mais um pouco de verdade sobre o mundo empírico foi revelada. Pouco a pouco, nós estamos descobrindo o que é verdadeiro e o que é falso testando empiricamente teorias científicas. Afirmar que as teorias que tornam possível explorar o espaço são "apenas relativas" e "representam apenas uma perspectiva" da realidade, é compreender profundamente mal a natureza da ciência, do conhecimento científico e das teorias científicas.teorias do comportamento humanoHá ampla divergência sobre o que pode ser assunto de teorização científica. O comportamento de gases ou partículas pode ser assunto para a ciência, mas poderia o comportamento humano também ser? Há muita divergência entre filósofos e praticantes das ciências sociais, como a psicologia, sociologia, história, e campos relacionados. Seria o comportamento humano redutível a um conjunto de princípios ou leis, exatamente como é o comportamento de partículas ou ondas? Seria o comportamento humano redutível a fenômenos observáveis, ou aos efeitos observáveis de fenômenos regidos por leis e regulares? Se for, o comportamento humano pode ser assunto de teorização científica. Se não for, então não importa quão empírico o estudo do comportamento humano seja, ele não pode ser científico. Se a vontade, o desejo e a motivação humana não puderem ser reduzidas a princípios de regularidade, então o comportamento humano é essencialmente diferente do comportamento de tudo o mais na natureza, e não pode ser assunto de teorização científica. Mas mesmo se não puder haver nenhuma ciência do comportamento humano, ainda podem haver explicações e teorias do comportamento humano, sejam elas psicológicas, sociológicas ou históricas. Essas explicações podem ser bem pesadamente empíricas, mas como tais teorias não são falseáveis, elas são não-científicas.teorias pseudocientíficasAs teorias pseudocientíficas não são mais um tipo de teoria, a ser avaliada juntamente com as científicas e as conceituais. Teorias pseudocientíficas, como o assim chamado criacionismo científico, são as que não são científicas mas alegam ser. Elas alegam ser baseadas em evidências empíricas, e podem até mesmo utilizar métodos científicos, mas ou elas são essencialmente não falseáveis, ou seus adeptos se recusam a aceitar evidências que refutem a teoria. Os pseudocientistas se gabam de ser capazes de mostrar a consistência das suas teorias com os fatos conhecidos ou com conseqüências previstas, mas não reconhecem que tal consistência não prova nada. Por exemplo, "a veracidade da hipótese de que a peste é causada pelos maus espíritos não é baseada na exatidão da dedução de que se pode evitar a doença se mantendo fora do alcance dos maus espíritos" (Beveridge, 118). Da mesma forma, o fato se que um rabdomante às vezes encontre água não prova que ele esteja usando poderes paranormais quando o faz.Veja verbetes relacionados sobre estudos de controle, criacionismo, dualismo, empirismo, materialismo, positivismo, pseudociência, e cientismo.

Testemunhos

Testemunhos são uma das mais populares e convincentes formas de "evidências" apresentadas para crenças no transcendente, paranormal e pseudocientifico. Contudo,

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testemunhos são de quase nulo valor para estabelecer a probabilidade das afirmações que pretendem suportar. Um relato sincero de um encontro com um anjo, um ET, um fantasma, auras a envolver moribundos, um guru em levitação, é de muito fraco valor para o estabelecimento da veracidade de tais assuntos. Porquê? Por um lado, esses relatos não são de confiança. Teem tanto valor como os clientes satisfeitos que aparecem na televisão a defender o nosso método de emagrecimento. De facto, os testemunhos dos publicitários teem mais valor que os testemunhos de visões de anjos: podemos pensar num meio de testar as afirmações da publicidade. Não há testes para observações de anjos. O testemunho da "experiencia pessoal " não tem valor cientifico. Se outros não podem experimentar o mesmo, não há meio de determinar a fiabilidade da experiencia. Se não há meio de testar a afirmação. não é possivel dizer se foi interpretada correctamente, se não foi uma ilusão, ou se foi uma fraude. Se outros podem testar o mesmo, então pode-se averiguar o testemunho e determinar se a pretenção é digna de crédito. Por exemplo, temos o seguinte exemplo do efeito placebo:

Quando criança vomitava sempre que entrava num avião, até que a hospedeira me disse para beber alka-selzer antes do voo. Funcionou! Infortunadamente, tambem sabia horrivelmente, pelo que experimentei meio copo. Tambem funcionou. Passados uns tempos apenas pôr o alka-selzer no copo era suficiente...[Delano DuGarm]

Este relato mostra que, embora relatos da maravilha da alka-seltzer não tivessem valor cientifico, era possivel testar o efeito do produto. Por outro lado, testemunhos de ser transportado aos céus e dançado com anjos, nunca poderão ser testados. Tais testemunhos são nulos cientificamente, não apenas por serem testemunhos mas porque não são testáveis. Se os testemunhos são inúteis, porque são tão populares e convincentes? Há várias razões. Os testemunhos são muitas vezes detalhados e vivos, fazendo-os aparecer crediveis. São feitos por pessoas entusiastas que parecem honestas, sem razão para querer enganar-nos. São muitas vezes feitos por pessoas identificadas com autoridade, como médicos, fisicos, psicólogos. Finalmente, testemunhos são crediveis porque as pessoas querem acreditar neles. De qualquer modo, testemunhos que não são testáveis não teem valor. E testemunhos testáveis não teem valor até serem testados.

Links How to Think Straight About Psychology, 3rd ed., Keith E. Stanovich (New York: Harper Collins, 1992).